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Regulação molecular do ritmo circadiano e transtornos psiquiátricos: uma revisão sistemática

Molecular regulation of circadian rhythm and psychiatric disorders: a systematic review

RESUMO

Objetivo

O artigo possui como objetivo investigar os genes relógio que estão mais associados com os transtornos psiquiátricos, as funções e localizações desses genes, assim como investigar o principal transtorno, método e modelo considerados nas análises. O trabalho busca resumir os achados e discutir o impacto dessas pesquisas no conhecimento científico.

Métodos

Esta revisão utilizou-se de uma metodologia sistemática (Prospero; ID 152031) e seguiu as diretrizes PRISMA. A busca dos estudos foi realizada nas bases de dados PubMed/MEDLINE e Scientific Eletronic Library Online e foram utilizados os termos do Medical Subject Headings Terms . Foram selecionados estudos quantitativos com resultados conclusivos referentes à associação de transtornos psiquiátricos com a regulação molecular do ritmo circadiano. As informações úteis foram extraídas e utilizadas para a elaboração de gráficos e tabelas.

Resultados

Foram incluídos 24 artigos em nosso estudo. Observou-se que o transtorno bipolar consistiu no transtorno psiquiátrico mais abordado (40% dos estudos); a nacionalidade polonesa dos participantes também se destacou em 39% dos trabalhos. Adicionalmente, o gene PER foi o mais estudado (25%) e o córtex cerebral foi a principal região em que os genes relógio avaliados se expressam (34%). A PCR comum mostrou ser o método mais utilizado (38%) e o metabolismo da serotonina mostrou ser a principal função desempenhada pelos produtos gênicos (16%).

Conclusões

Em conjunto, os resultados sugerem que o transtorno bipolar consiste no distúrbio psiquiátrico mais prevalente entre as pesquisas relacionadas aos genes circadianos, expressos principalmente no córtex cerebral de humanos, em especial o gene PER .

Transtorno psiquiátrico; ritmo circadiano; genes relógio

ABSTRACT

Objective

The article aims to investigate the clock genes that are most associated with psychiatric disorders, the functions, and locations of these genes, as well as to investigate the main disorder, method and model in the analyzes. The paper seeks to summarize the findings and discuss the impact of this research on scientific knowledge.

Methods

This review used a systematic methodology (Prospero; ID 152031) and followed the PRISMA guidelines. The studies were searched in the PubMed/MEDLINE and Scientific Electronic Library Online databases and the terms of the Medical Subject Headings Terms were used. Quantitative studies with conclusive results regarding the association of psychiatric disorders with the molecular regulation of circadian rhythm were selected. The useful information was extracted and used for the elaboration of graphs and tables.

Results

We included 24 articles in our study. Bipolar disorder was the most commonly addressed psychiatric disorder (40% of studies); The participants’ Polish nationality also stood out in 39% of the works. Additionally, the PER gene was the most studied (25%) and the cerebral cortex was the main region in which the evaluated clock genes express themselves (34%). Finally, common PCR was the most used method (38%) and serotonin metabolism was the main function performed by gene products (16%).

Conclusions

Taken together, the results suggest that bipolar disorder is the most prevalent psychiatric disorder among research related to circadian genes, expressed mainly in the cerebral cortex of humans, especially the PER gene.

Psychiatric disorder; circadian rhythm; clock genes

INTRODUÇÃO

Os organismos vivos herdam os genes relógio, que podem se alterar de acordo com os ciclos ambientais. Esses genes interagem com diversos fatores ambientais e regulam o comportamento e a fisiologia dos organismos vivos11. DeCoursey PJ, Krulas JR. Behavior of SCN-lesioned chipmunks in natural habitat: a pilot study. J Biol Rhythms. 1998;13(3):229-44. . De acordo com o período do dia, o mecanismo dos genes envolvidos na regulação do ciclo circadiano (genes relógio) gera um ritmo sazonal, ajustando-se às mudanças no fotoperíodo22. Coomans CP, Ramkisoensing A, Meijer JH. The suprachiasmatic nuclei as a seasonal clock. Front Neuroendocrinol. 2015;37:29-42. . Diante disso, esses genes relógio exercem uma influência direta no “relógio biológico”. O termo “relógio biológico” pode ser definido como o conjunto de mecanismos intrínsecos ao organismo que conferem ritmicidade aos processos fisiológicos. Os ritmos biológicos são chamados de ritmos circadianos e podem ser eventos importantes para a sobrevivência33. Pedrazzoli M. Moléculas que marcam o tempo: implicações para os fenótipos circadianos e transtornos do humor. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1). . A geração desses ritmos no organismo é conferida pela expressão de proteínas advindas de genes relógio, sendo aquelas codificadas em intervalos bem definidos ao longo de 24 horas. Ainda que haja um caráter endógeno nos ritmos do organismo, incide também sobre eles a influência de marcadores externos/ambientais, que atuam na sincronização desses ritmos. Esses marcadores podem ser de várias naturezas, mas os que mais predominam são o ciclo claro/escuro e a disponibilidade de alimentos33. Pedrazzoli M. Moléculas que marcam o tempo: implicações para os fenótipos circadianos e transtornos do humor. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1). .

Uma região diretamente envolvida com os ritmos biológicos é o núcleo supraquiasmático (NSQ). Desde 1960, o NSQ tem sido apontado como forte candidato a marca-passo central do sistema de temporização em mamíferos44. Ralph MR, Foster RG, Davis FC, Menaker M. Transplanted suprachiasmatic nucleus determines circadian period. Science. 1990;247(4945): 975-8. . Esse achado foi confirmado em 1980, quando foi demonstrado que transplantes do NSQ fetal permitem recuperar a ritmicidade circadiana de animais tornados arrítmicos em consequência da lesão bilateral do NSQ. Localizado bilateralmente ao hipotálamo, esse núcleo recebe informação luminosa através do feixe retino-hipotalâmico e, a partir daí, passa a coordenar a expressão dos genes relógio, bem como a sincronização temporal interna do corpo. Uma harmonização bem estabelecida entre os ciclos ambientais e o sistema de temporização endógeno é de caráter fundamental para a sobrevivência do organismo, pois confere a ele a capacidade de prever e antecipar eventos como o sono e a fome44. Ralph MR, Foster RG, Davis FC, Menaker M. Transplanted suprachiasmatic nucleus determines circadian period. Science. 1990;247(4945): 975-8. .

A harmonia entre a manutenção do ritmo endógeno e a sincronização por fatores como o ciclo claro/escuro começou a ser estudada por Jean Jaques de Mairan em 1729, que observou o fenômeno periódico das folhas de Mimosa pudica 55. Krieger DT. The Clocks that Time Us: (Physiology of the Circadian Timing System). Psychosom Med. 1982;44(6):559-60. . Percebeu-se que o ritmo biológico persiste mesmo na ausência de sinais externos. Mairan condicionou a planta a um estado de iluminação constante e viu que os movimentos de suas folhas continuavam alternando ciclicamente durante o dia. Por sua vez, De Candolle conseguiu retratar, em 1835, a harmonia entre a manutenção do ritmo endógeno e a sincronização por fatores como o ciclo claro/escuro, observando que a Mimosa diminuía seu ritmo foliar às 22 horas em ausência de luz e o ajustava às 24 horas com o estímulo luminoso55. Krieger DT. The Clocks that Time Us: (Physiology of the Circadian Timing System). Psychosom Med. 1982;44(6):559-60. . Desde o século XIX, os estudos sobre ritmos biológicos e sua manutenção molecular têm avançado, mas foi especialmente nas últimas quatro décadas que eles conquistaram notório reconhecimento e espaço na pesquisa científica11. DeCoursey PJ, Krulas JR. Behavior of SCN-lesioned chipmunks in natural habitat: a pilot study. J Biol Rhythms. 1998;13(3):229-44.

2. Coomans CP, Ramkisoensing A, Meijer JH. The suprachiasmatic nuclei as a seasonal clock. Front Neuroendocrinol. 2015;37:29-42.

3. Pedrazzoli M. Moléculas que marcam o tempo: implicações para os fenótipos circadianos e transtornos do humor. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1).

4. Ralph MR, Foster RG, Davis FC, Menaker M. Transplanted suprachiasmatic nucleus determines circadian period. Science. 1990;247(4945): 975-8.

5. Krieger DT. The Clocks that Time Us: (Physiology of the Circadian Timing System). Psychosom Med. 1982;44(6):559-60.

6. DeCoursey PJ. Overview of biological timing from unicells to humans. In: Dunlap JC, Loros JJ, DeCoursey PJ, eds. Chronobiology: biological timekeeping. Massachusetts: Sinauer Associates Inc.; 2004. p. 3-24.
- 77. Dmitrzak-Węglarz M, Pawlak J, Wiłkość M, Miechowicz I, Maciukiewicz M, Ciarkowska W, et al. Chronotype and sleep quality as a subphenotype in association studies of clock genes in mood disorders. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2016;76:32-42. .

Nesse contexto, é fundamental avaliar as relações existentes entre a regulação dos ritmos biológicos e os diversos transtornos psiquiátricos. As doenças psiquiátricas são complexas e podem depender de diversos genes e de suas interações potenciais, a exemplo dos genes envolvidos no ritmo circadiano77. Dmitrzak-Węglarz M, Pawlak J, Wiłkość M, Miechowicz I, Maciukiewicz M, Ciarkowska W, et al. Chronotype and sleep quality as a subphenotype in association studies of clock genes in mood disorders. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2016;76:32-42. . Nesse contexto, distúrbios na sincronização dos ritmos biológicos podem levar a problemas de ordem fisiológica e comportamental, tais como doenças psiquiátricas88. Zhang P, Li G, Li H, Tan X, Cheng HYM. Environmental perturbation of the circadian clock during pregnancy leads to transgenerational mood disorder-like behaviors in mice. Sci Rep. 2017;7(1):12641. . Problemas de caráter social estão fortemente associados à causa da maioria dos transtornos psiquiátricos, incluindo depressão, transtorno bipolar (TB), esquizofrenia e autismo99. Zhao C, Gammie SC. The circadian gene Nr1d1 in the mouse nucleus accumbens modulates sociability and anxiety‐related behaviour. Eur J Neurosci. 2018;48(3):1924-43. . Alguns aspectos da vida moderna, como o trabalho em turnos rotativos, impõem estresse aos indivíduos ao interromper seus ritmos circadianos. O distúrbio do ritmo circadiano tem sido implicado em uma variedade de transtornos psiquiátricos, incluindo depressão e ansiedade. Acredita-se que esse distúrbio esteja subjacente aos principais sintomas do transtorno depressivo maior (TDM), a saber, alterações de humor e anedonia88. Zhang P, Li G, Li H, Tan X, Cheng HYM. Environmental perturbation of the circadian clock during pregnancy leads to transgenerational mood disorder-like behaviors in mice. Sci Rep. 2017;7(1):12641. . Um estudo associou o trabalho por turnos a desfechos adversos de saúde mental em enfermeiras, um grupo demográfico chave que realiza trabalhos por turnos. Atualmente, por não se ter esclarecido o caráter hereditário de tais alterações, não se sabe claramente se filhos de mulheres que realizam trabalhos por turnos durante a gravidez são mais suscetíveis a desenvolver transtornos mentais mais tarde na vida88. Zhang P, Li G, Li H, Tan X, Cheng HYM. Environmental perturbation of the circadian clock during pregnancy leads to transgenerational mood disorder-like behaviors in mice. Sci Rep. 2017;7(1):12641. .

Adicionalmente, os distúrbios do sono são comuns em pacientes diagnosticados com transtornos psiquiátricos77. Dmitrzak-Węglarz M, Pawlak J, Wiłkość M, Miechowicz I, Maciukiewicz M, Ciarkowska W, et al. Chronotype and sleep quality as a subphenotype in association studies of clock genes in mood disorders. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2016;76:32-42. . A prevalência de insônia ou sonolência excessiva durante o curso do transtorno sugeriu um papel fundamental do sistema circadiano no desenvolvimento dessas desordens77. Dmitrzak-Węglarz M, Pawlak J, Wiłkość M, Miechowicz I, Maciukiewicz M, Ciarkowska W, et al. Chronotype and sleep quality as a subphenotype in association studies of clock genes in mood disorders. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2016;76:32-42. . Portanto, o tratamento de distúrbios do sono deve ser paralelo à terapia dos transtornos psiquiátricos, tais como a depressão e a ansiedade. Essa abordagem terapêutica pode resultar em uma remissão mais rápida, com redução do risco de tentativas de suicídio77. Dmitrzak-Węglarz M, Pawlak J, Wiłkość M, Miechowicz I, Maciukiewicz M, Ciarkowska W, et al. Chronotype and sleep quality as a subphenotype in association studies of clock genes in mood disorders. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2016;76:32-42. . Em 2013, foi publicado o papel de fatores não genéticos agindo de forma direta e indiretamente no comportamento suicida1010. Pawlak J, Dmitrzak-Węglarz M, Skibińska M, Szczepankiewicz A, Leszczyńska-Rodziewicz A, Rajewska-Rager A, et al. Suicide attempts and clinical risk factors in patients with bipolar and unipolar affective disorders. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(4):427-32. , 1111. Pawlak J, Dmitrzak-Węglarz M, Skibińska M, Szczepankiewicz A, Leszczyńska-Rodziewicz A, Rajewska-Rager A, et al. Suicide attempts and clinical risk factors in patients with bipolar and unipolar affective disorders. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(4):309-13. . Por outro lado, Pawlak et al. relatam a relação dos polimorfismos dos genes TPH1 , TPH2 , 5HT2A , CRHR1 e ACP1 com esse comportamento1212. Pawlak J, Dmitrzak-Weglarz M, Wilkosc M, Szczepankiewicz A, Leszczynska-Rodziewicz A, Zaremba D, et al. Suicide behavior as a quantitative trait and its genetic background. J Affect Disord. 2016;206:241-50. . Adicionalmente, estudos têm relatado que fatores ambientais atrelados a contextos hereditários estão interligados à predisposição ao suicídio, sendo o diagnóstico do comportamento suicida um fator bastante complexo1313. Baldessarini RJ, Hennen J. Genetics of suicide: an overview. Harv Rev Psychiatry. 2004;12(1):1-13. . Dessa forma, análises utilizando fenótipos intermediários hereditários são estratégias promissoras para identificar associações genéticas reais1414. van Heeringen K. Stress-diathesis model of suicidal behavior. In: Dwivedi Y, ed. The neurobiological basis of suicide. Boca Raton (FL): CRC Press/Taylor & Francis; 2012. . Pesquisas mostram que o comportamento suicida e o TB podem estar interligados por uma perturbação circadiana e ritmos sazonais1515. Lester D. Morningness – eveningness, current depression, and past suicidality. Psychol Rep. 2015;116(2):331-6. , 1616. Mondin TC, de Azevedo Cardoso T, de Mattos Souza LD, Jansen K, da Silva Magalhães PV, Kapczinski F, et al. Mood disorders and biological rhythms in young adults: a large population-based study. J Psychiatr Res. 2017;84:98-104. . Além disso, foi confirmada a associação entre as variantes dos genes relógio CLOCK e TIMELESS e o número de tentativas de suicídio1010. Pawlak J, Dmitrzak-Węglarz M, Skibińska M, Szczepankiewicz A, Leszczyńska-Rodziewicz A, Rajewska-Rager A, et al. Suicide attempts and clinical risk factors in patients with bipolar and unipolar affective disorders. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(4):427-32. .

Estudos genômicos sugerem que as variações nos genes relógio estão fortemente associadas com neuropsiquiatria humana1717. Parekh PK, Becker-Krail D, Sundaravelu P, Ishigaki S, Okado H, Sobue G, et al. Altered GluA1 (Gria1) function and accumbal synaptic plasticity in the ClockΔ19 model of bipolar mania. Biol Psychiatr. 2018;84(11):817-26. . O gene PER3 faz parte da família dos genes relógio de humanos, os quais são responsáveis por codificar componentes dos ritmos circadianos, de atividade locomotora, metabolismo e comportamento. Nos últimos anos, vêm sendo realizados estudos que avaliam a associação de diferentes polimorfismos do gene PER3 com transtornos do sono e com transtornos de humor1818. Artioli P, Lorenzi C, Pirovano A, Serretti A, Benedetti F, Catalano M, et al. How do genes exert their role? Period 3 gene variants and possible influences on mood disorder phenotypes. Eur Neuropsychopharmacol. 2007;17(9):587-94. . Recentemente, o gene SIRT1 foi descrito como uma molécula importante nos mecanismos dos ritmos circadianos. Esse gene relógio forma um complexo com BMAL1 e desempenha um papel fundamental no mecanismo de feedback para a manutenção do ciclo circadiano1919. Asher G, Gatfield D, Stratmann M, Reinke H, Dibner C, Kreppel F, et al. SIRT1 regulates circadian clock gene expression through PER2 deacetylation. Cell. 2008;134(2):317-28.

20. Nakahata Y, Kaluzova M, Grimaldi B, Sahar S, Hirayama J, Chen D, et al. The NAD+-dependent deacetylase SIRT1 modulates CLOCK-mediated chromatin remodeling and circadian control. Cell. 2008;134(2):329-40.

21. Nakahata Y, Sahar S, Astarita G, Kaluzova M, Sassone-Corsi P. Circadian control of the NAD+ salvage pathway by CLOCK-SIRT1. Science. 2009;324(5927):654-7.

22. Ramsey KM, Yoshino J, Brace CS, Abrassart D, Kobayashi Y, Marcheva B, et al. Circadian clock feedback cycle through NAMPT-mediated NAD+ biosynthesis. Science. 2009;324(5927):651-4.
- 2323. Wijnen H. A circadian loop asSIRTs itself. Science. 2009;324(5927):598-9. . Adicionalmente, alguns estudos envolvendo os genes PROKR2 e CLOCK indicam uma relação deles com os transtornos psiquiátricos1919. Asher G, Gatfield D, Stratmann M, Reinke H, Dibner C, Kreppel F, et al. SIRT1 regulates circadian clock gene expression through PER2 deacetylation. Cell. 2008;134(2):317-28.

20. Nakahata Y, Kaluzova M, Grimaldi B, Sahar S, Hirayama J, Chen D, et al. The NAD+-dependent deacetylase SIRT1 modulates CLOCK-mediated chromatin remodeling and circadian control. Cell. 2008;134(2):329-40.

21. Nakahata Y, Sahar S, Astarita G, Kaluzova M, Sassone-Corsi P. Circadian control of the NAD+ salvage pathway by CLOCK-SIRT1. Science. 2009;324(5927):654-7.

22. Ramsey KM, Yoshino J, Brace CS, Abrassart D, Kobayashi Y, Marcheva B, et al. Circadian clock feedback cycle through NAMPT-mediated NAD+ biosynthesis. Science. 2009;324(5927):651-4.
- 2323. Wijnen H. A circadian loop asSIRTs itself. Science. 2009;324(5927):598-9. . Um trabalho recente relatou que a região SIRT1 desempenha um papel importante no ciclo circadiano, possuindo ainda uma relação com o metabolismo dopaminérgico2424. Kishi T, Yoshimura R, Kitajima T, Okochi T, Okumura T, Tsunoka T, et al. SIRT1 gene is associated with major depressive disorder in the Japanese population. J Affect Disord. 2010;126(1-2):167-73. . Por fim, o transtorno afetivo sazonal (TAS) consiste em uma condição de mudanças sazonais de humor caracterizadas por depressão recorrente no outono ou inverno que remitem espontaneamente na primavera ou no verão. A interação dos genes CLOCK e ARNTL contribui para a suscetibilidade ao TAS e foi inferido que esses genes podem influenciar as variações sazonais associadas com fatores metabólicos, como peso corporal e apetite2525. Kim HI, Lee HJ, Cho CH, Kang SG, Yoon HK, Park YM, et al. Association of CLOCK, ARNTL, and NPAS2 gene polymorphisms and seasonal variations in mood and behavior. Chronobiol Int. 2015;32(6):785-91. .

Nessa perspectiva, este artigo tem por finalidade revisar as pesquisas relacionadas com a regulação molecular do ritmo circadiano e com os transtornos psiquiátricos, a fim de determinar os genes relógio que estão mais associados com esses transtornos, as funções e localizações desses genes, o principal método e modelo utilizados nas pesquisas sobre o tema proposto, o transtorno mais retratado nas análises e as principais limitações e achados dos estudos. É importante destacar que revisões sistemáticas relacionadas a esse tema ainda não estão disponíveis nas bibliotecas PROSPERO e Cochrane.

MÉTODOS

Por tratar-se de uma revisão sistemática de literatura de natureza descritiva, verificou-se a existência prévia de revisões sistemáticas sobre o tema proposto na Biblioteca Cochrane ( The Cochrane Database of Systematic Reviews ) (https://www.cochranelibrary.com/) e PROSPERO ( International Prospective Register of Systematic Reviews ) (www.crd.york.ac.uk/prospero), mas não foram encontradas revisões relacionadas à regulação molecular do ritmo circadiano e sua associação com os transtornos psiquiátricos. Dessa forma, a pesquisa foi cadastrada na PROSPERO (ID 152031).

As diretrizes PRISMA foram seguidas e a busca dos estudos primários foi realizada nas bases de dados PubMed/MEDLINE ( Public MEDLINE ) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), por meio de uma estratégia de busca baseada no objeto de estudo. Para a composição da estratégia de busca, utilizaram-se os termos do MeSH – Medical Subject Headings Terms ( Tabela 1 ). Utilizaram-se operadores lógicos de busca (parênteses, trucagem e aspas), além de delimitadores booleanos ( AND , OR e NOT ). A sintaxe do PubMed serviu de base para a estratégia de pesquisa. A sintaxe consistia em dois temas de pesquisa cruzadas pelo termo booleano “ AND ”. Os termos MESH incluíam termos relacionados a transtornos psiquiátricos (“transtorno bipolar”, “transtorno depressivo maior”, “transtorno afetivo sazonal”, “distúrbios do sono”, “comportamento suicida”, “ansiedade”, “esquizofrenia” e “mudanças sazonais de humor”) e termos relacionados aos genes relógio (“ritmo circadiano”, “genes circadianos”, “genes relógio”). Utilizamos estudos randomizados controlados e excluímos outros tipos de design usando a estratégia de pesquisa altamente sensível (Cochrane e PROSPERO) para identificar ensaios randomizados em MEDLINE, versão maximizadora da sensibilidade. A estratégia não removeu artigos que tratam apenas de animais não humanos. Os termos foram pesquisados em inglês e português e o período da busca foi de janeiro de 2002 a outubro de 2018.

Tabela 1
Estratégias de busca por bases de dados

Os critérios de inclusão foram estudos: a) quantitativos ou qualiquantitativos que apresentassem resultados referentes à associação dos transtornos psiquiátricos com a regulação molecular do ritmo circadiano; b) contendo as informações de interesse utilizadas para a elaboração de gráficos e tabelas; c) utilizando modelos humanos e/ou animais; d) disponíveis na língua inglesa ou portuguesa. Foram critérios de exclusão: normas técnicas, manuais, leis, resoluções, editoriais, cartas, comentários, livros, resumo de anais e publicações duplicadas. Em relação a estratégia PICOS , a amostra incluída na presente pesquisa consistiu de indivíduos com transtornos psiquiátricos variados, e a intervenção de interesse foi diagnóstica e por meio de análises genéticas no sangue e tecido. Os indivíduos diagnosticados com transtornos psiquiátricos (grupo experimental) foram comparados com indivíduos sem esses transtornos (grupo controle) e o resultado esperado consistia na detecção de variações genéticas no grupo experimental. Portanto, neste trabalho incluímos estudos experimentais.

A seleção dos estudos e a extração dos dados foi realizada por três autores de forma independente e iniciou-se por meio da análise dos títulos dos artigos identificados a partir da estratégia de busca. Em seguida, foram realizadas a análise dos resumos e, por fim, a análise do texto na íntegra dos artigos selecionados nas etapas anteriores. As discordâncias entre os autores foram resolvidas por consenso. Diante dessa sistemática, os dados extraídos foram: a) identificação da publicação e base de dados consultada; b) método utilizado na pesquisa; c) transtorno psiquiátrico avaliado; d) gene(s) relacionado(s) ao transtorno e família à qual pertence; e) principal local de expressão do gene no sistema nervoso de humanos; f) funções do gene; g) modelos avaliados na pesquisa; h) nacionalidade; i) número amostral incluído; j) idade dos indivíduos; k) principais achados do artigo. O local de expressão dos genes analisados e suas funções foram confirmados mediante consulta em banco de dados on-line (https://www.proteinatlas.org/). Para analisar matematicamente as informações acima citadas, em nível de proporção/porcentagem, selecionamos apenas aqueles trabalhos que continham todas essas informações necessárias para as análises.

A ferramenta ROBIS ( Risk of Bias in Systematic Reviews ) foi utilizada para avaliar risco de viés de revisões sistemáticas. Quase todas as questões foram respondidas como “Sim” ou “Provavelmente Sim”, então não foi identificado potencial risco de viés sobre a especificação dos critérios de elegibilidade. A categoria “Sem Informação” foi utilizada apenas quando se dizia a respeito da idade e tamanho amostral da pesquisa. Entretanto, as informações relacionadas com a idade e tamanho amostral dos indivíduos não foram utilizadas para a elaboração dos gráficos. Os estudos “sem informações” associadas a questões utilizadas para a elaboração dos gráficos foram eliminados deste trabalho. Além disso, esforços foram realizados para deixar a pergunta e os objetivos da revisão bem definidos e para justificar que critérios de elegibilidade adequados foram preconizados na revisão. Foi utilizada uma estratégia de busca sensível e apropriada, além de serem tomadas medidas para minimizar o viés e erros na seleção dos estudos, e as características do estudo foram suficientes para que os autores fossem capazes de interpretar os resultados. Por fim, tanto o processo de seleção por títulos e resumos quanto a avaliação dos estudos na íntegra foram selecionados de forma independente por três autores, reduzindo o risco de viés do trabalho.

Os dados extraídos foram confirmados durante uma segunda análise e, após a organização desses dados, as informações relevantes foram apresentadas de forma descritiva por meio de tabelas e, subsequentemente, discutidas no corpo da revisão. As informações de interesse foram compiladas no Excel, o qual forneceu os gráficos e as proporções referentes às variáveis analisadas. Por fim, em relação ao número amostral e à idade dos indivíduos, foi calculada a média dos valores.

RESULTADOS

O método de busca empregado apontou 5.287 artigos, 2.454 resultaram da pesquisa no banco de dados SciELO e 2.833 foram provenientes do PubMed/MEDLINE. Após a primeira avaliação, 3.279 estudos foram excluídos pela análise dos títulos e resumos, em ambos os casos por não estarem condizentes com a temática e os objetivos desta revisão. Após a leitura na íntegra dos artigos selecionados, 1.923 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão ou ainda por atenderem aos critérios de exclusão, mas 61 artigos foram excluídos por estarem duplicados. Ao final, 24 artigos foram incluídos na revisão ( Tabelas 2 e 3 ).

O gene PER , o transtorno bipolar e o transtorno depressivo maior

Pesquisas relacionadas à participação do ritmo circadiano em transtornos psiquiátricos são recentes, assim, é válido considerar a importância dos resultados encontrados nesses estudos envolvendo tanto humanos quanto animais. O primeiro estudo examinou a frequência do polimorfismo S662G do gene PER2 em pacientes com TB e controles normais. Embora os resultados mostrem que o polimorfismo do gene PER2 não está associado à etiologia do TB, o polimorfismo pode estar associado a outros distúrbios relacionados ao ritmo circadiano, tal como a insônia2626. Shiino Y, Nakajima S, Ozeki Y, Isono T, Yamada N. Mutation screening of the human period 2 gene in bipolar disorder. Neurosci Lett. 2003;338(1):82-4. . Outro estudo, por sua vez, mostrou uma associação entre o TDM e um haplótipo específico composto pelos éxons 15 e 18 do gene PER3 . Além disso, variantes genéticas raras de PER3 estão significativamente associadas a uma série de características dos transtornos psiquiátricos, tais como idade de início, resposta ao tratamento, oscilações do humor circadiano e características de temperamento1818. Artioli P, Lorenzi C, Pirovano A, Serretti A, Benedetti F, Catalano M, et al. How do genes exert their role? Period 3 gene variants and possible influences on mood disorder phenotypes. Eur Neuropsychopharmacol. 2007;17(9):587-94. .

Dallaspezia et al. , por sua vez, investigaram os efeitos das variantes de PER3 no desenvolvimento do TDM em portadores de TB no pós-parto3030. Dallaspezia S, Lorenzi C, Pirovano A, Colombo C, Smeraldi E, Benedetti F. Circadian clock gene Per3 variants influence the postpartum onset of bipolar disorder. Eur Psychiatry. 2011;26(3):138-40. . Foi realizada uma PCR com primers específicos para o polimorfismo de repetição em tandem de número variável (VNTR) do gene PER3 . Esse VNTR demonstrou influenciar o padrão de secreção de citocinas, gerando um desequilíbrio nas citocinas anti-inflamatórias, que tem sido associado a um aumento no risco de depressão pós-parto. Adicionalmente, homozigotos PER3 4/4 possuíram risco aumentado de depressão no pós-parto, e o alelo PER3 5 protegeu contra o início dessa condição em portadores de TB, mas aumentou o risco de câncer de mama na pré-menopausa3030. Dallaspezia S, Lorenzi C, Pirovano A, Colombo C, Smeraldi E, Benedetti F. Circadian clock gene Per3 variants influence the postpartum onset of bipolar disorder. Eur Psychiatry. 2011;26(3):138-40. . Além de Dallaspezia et al. e outros autores, Wilkosc et al. também avaliaram associações do gene PER3 com os transtornos de humor, em especial o TDM3131. Wilkosc M, Wegalrz M, Maciukiewicz M, Pawlak J, Leszczynska-Rodziewicz A, Hauser J P.. 2. b. 019 Clock gene polymorphisms and haplotypes in mood disorder in a Polish cohort. Eur Neuropsychopharmacol. 2013;23:S329-30. . Neste trabalho foi realizada uma reação em cadeia da polimerase quantitativa em tempo real (qPCR) com primers para nove polimorfismos do PER3 , embora não tenham sido descritos quais polimorfismos foram analisados. Entretanto, não foi encontrada nenhuma relação entre os polimorfismos do PER3 e algum transtorno psiquiátrico nessa população3131. Wilkosc M, Wegalrz M, Maciukiewicz M, Pawlak J, Leszczynska-Rodziewicz A, Hauser J P.. 2. b. 019 Clock gene polymorphisms and haplotypes in mood disorder in a Polish cohort. Eur Neuropsychopharmacol. 2013;23:S329-30. .

Em um outro estudo, foi verificado que as alterações estudadas do gene PER3 são, na realidade, mutações de ganho de função, ocasionando um aumento na taxa de transcrição (previsões que devem ser verificadas experimentalmente em estudos futuros). Foi elaborado um simples modelo matemático capaz de simular essas mutações e seus efeitos no desalinhamento circadiano4242. Liberman AR, Halitjaha L, Ay A, Ingram KK. Modeling Strengthens Molecular Link between Circadian Polymorphisms and Major Mood Disorders. J Biol Rhythms. 2018;33(3):318-36. . Maglione et al. também analisaram o gene PER3 e, em resumo, sugerem que os genes PER3 e RORA podem desempenhar papéis importantes na fisiopatologia da depressão em idosos3636. Maglione JE, Nievergelt CM, Parimi N, Evans DS, Ancoli-Israel S, Stone KL, et al. Associations of PER3 and RORA circadian gene polymorphisms and depressive symptoms in older adults. Am J Geriatr Psychiatry. 2015;23(10):1075-87. . Entretanto, alguns estudos, como os realizados por Shiino, Kishi, Matsunaga e Hua, não encontraram associações significativas dos genes PER2 , SIRT1 , CSNK1D , CSNK1E e CRY2 com os marcadores de transtornos psiquiátricos, permitindo uma discussão mais abrangente a respeito de outros polimorfismos e genes relógio2424. Kishi T, Yoshimura R, Kitajima T, Okochi T, Okumura T, Tsunoka T, et al. SIRT1 gene is associated with major depressive disorder in the Japanese population. J Affect Disord. 2010;126(1-2):167-73. , 2626. Shiino Y, Nakajima S, Ozeki Y, Isono T, Yamada N. Mutation screening of the human period 2 gene in bipolar disorder. Neurosci Lett. 2003;338(1):82-4. , 3333. Hua P, Liu W, Chen D, Zhao Y, Chen L, Zhang N, et al. Cry1 and Tef gene polymorphisms are associated with major depressive disorder in the Chinese population. J Affect Disord. 2014;157:100-3. , 3939. Matsunaga S, Ikeda M, Kishi T, Fukuo Y, Aleksic B, Yoshimura R, et al. An evaluation of polymorphisms in casein kinase 1 delta and epsilon genes in major psychiatric disorders. Neurosci Lett. 2012;529(1):66-9. .

O gene TIMELESS e o transtorno bipolar

Em 2017, Pawlak et al. realizaram uma análise da relação entre os genes relógio e o desenvolvimento do TB. Nesse estudo, foram encontradas associações entre os polimorfismos dos genes TIMELESS e PER3 e o número de episódios depressivos. O número médio de episódios depressivos por ano de doença, por sua vez, esteve relacionado com polimorfismos dos genes TIMELESS e ARNTL . Já a proporção de episódios depressivos e a história familiar de tentativa(s) suicida(s) também estiveram relacionadas com o gene TIMELESS 4040. Pawlak J, Szczepankiewicz A, Kapelski P, Rajewska-Rager A, Slopien A, Skibinska M, et al. Suicidal behavior in the context of disrupted rhythmicity in bipolar disorder – Complementary research of clock genes with suicide risks factors and course of disease. Psychiatry Res. 2017;257:446-9. . Em outro trabalho, procedeu-se a uma análise investigativa compreendendo a associação entre múltiplos polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) dos genes relógio TIMELESS, CLOCK, ARNTL, PER3 e dimensões temperamentais do TEMPS-A , em pacientes diagnosticados com TB. O estudo indicou que os genes ARNTL , TIMELESS e PER3 podem estar associados a comportamentos mediados pelo TEMPS-A , enfatizando que os SNPs desses genes podem ainda estar relacionados com a predisposição ao TB3535. Rybakowski JK, Dmitrzak-Weglarz M, Dembinska-Krajewska D, Hauser J, Akiskal KK, Akiskal HH. Polymorphism of circadian clock genes and temperamental dimensions of the TEMPS-A in bipolar disorder. J Affect Disord. 2014;159:80-4. .

O gene WFS1 e o transtorno bipolar

Foi observada uma relação entre a doença de Wolfram e o TB3434. Nováková M, Praško J, Látalová K, Sládek M, Sumová A. The circadian system of patients with bipolar disorder differs in episodes of mania and depression. Bipolar Disord. 2015;17(3):303-14. . Em 2008, Kato et al. realizaram um estudo com animais knockout para o gene WFS1 e observaram que esses animais não apresentaram problemas de saúde que são observados em pacientes com a doença de Wolfram. Os resultados mostraram que os camundongos WFS1 knockout possuíram alterações em suas características comportamentais, como diminuição da interação social, o que é relevante para os fenótipos neuropsiquiátricos relatados em pacientes com doença de Wolfram. Adicionalmente, pacientes com TB apresentaram diferenças nos sistemas circadianos, dependendo se o indivíduo estava vivenciando um episódio de mania ou depressão. Os resultados inferiram que o gene relógio WFS1 pode estar envolvido em tais transtornos3434. Nováková M, Praško J, Látalová K, Sládek M, Sumová A. The circadian system of patients with bipolar disorder differs in episodes of mania and depression. Bipolar Disord. 2015;17(3):303-14. .

O gene NR1D1 , ansiedade e depressão

Posteriormente, Zhao e Gammie mostraram que a inibição do gene circadiano NR1D1 pode melhorar a sociabilidade e reduzir a ansiedade99. Zhao C, Gammie SC. The circadian gene Nr1d1 in the mouse nucleus accumbens modulates sociability and anxiety‐related behaviour. Eur J Neurosci. 2018;48(3):1924-43. . As descobertas são consistentes com trabalhos anteriores, que identificaram diminuições naturais na expressão de NR1D1 , o que esteve associado ao surgimento de comportamentos pró-sociais. O papel regulador do fator de transcrição NR1D1 é provavelmente alcançado ao desencadear ações no sistema circadiano. Futuros estudos podem avaliar as maneiras complexas pelas quais o NR1D1 contribuiu para mudanças no comportamento social99. Zhao C, Gammie SC. The circadian gene Nr1d1 in the mouse nucleus accumbens modulates sociability and anxiety‐related behaviour. Eur J Neurosci. 2018;48(3):1924-43. . O estudo de Kishi mostrou a associação entre um SNP do gene NR1D1 e o TB em mulheres. No entanto, se não houve uma associação após o teste estatístico de Bonferroni, não podemos considerar que houve inicialmente uma associação. Além disso, nenhuma associação significativa foi encontrada para o TDM, sugerindo que o gene NR1D1 provavelmente não desempenha um papel importante nos transtornos psiquiátricos na população japonesa2929. Kishi T, Kitajima T, Ikeda M, Yamanouchi Y, Kinoshita Y, Kawashima K, et al. Association analysis of nuclear receptor Rev-erb alpha gene (NR1D1) with mood disorders in the Japanese population. Neurosci Res. 2008;62(4):211-5. .

O gene CLOCK e o transtorno afetivo sazonal

Parekh et al. utilizaram a eletrofisiologia em células ex vivo de camundongos mutantes para o gene CLOCKA19 e camundongos selvagens. Nesse sentido, as alterações na transmissão sináptica excitatória e a força e excitabilidade intrínseca dos neurônios do nucleus accumbens (NAc) foram caracterizadas. Os autores procederam com a análise Western blot para examinar os níveis superficiais e intracelulares de proteínas, entre as quais estavam o receptor de glutamato, GLUA1 , no NAc. A superexpressão de GRIA1 também foi estudada, mostrando-se essencial para os efeitos do gene CLOCK em comportamentos tipo maníacos1717. Parekh PK, Becker-Krail D, Sundaravelu P, Ishigaki S, Okado H, Sobue G, et al. Altered GluA1 (Gria1) function and accumbal synaptic plasticity in the ClockΔ19 model of bipolar mania. Biol Psychiatr. 2018;84(11):817-26. . Kim et al. avaliaram a relação dos genes CLOCK , ARNTL e NPAS2 em adultos saudáveis com as variações de sazonalidade (SAD) e mostraram que a prevalência de SAD foi de 12,0% (no inverno 9,3%, e no verão 2,8%). Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos na distribuição genotípica do ARNTL rs2278749 e do NPAS2 rs2305160. Entretanto, foram observadas diferenças estatísticas nas subescalas peso corporal e apetite entre os genótipos do ARNTL rs2278749 e na subescala peso corporal entre os genótipos do NPAS2 rs2305160. Além disso, houve interação sinérgica entre CLOCK rs1801260 e ARNTL rs2278749 na sazonalidade2525. Kim HI, Lee HJ, Cho CH, Kang SG, Yoon HK, Park YM, et al. Association of CLOCK, ARNTL, and NPAS2 gene polymorphisms and seasonal variations in mood and behavior. Chronobiol Int. 2015;32(6):785-91. . Por fim, Bailer et al. investigaram se, em pacientes com depressão unipolar e TB, o SNP T3111C do gene CLOCK está associado com transtornos afetivos em comparação com os controles saudáveis. Nesse sentido, não foram encontradas diferenças nas distribuições de frequências do genótipo ou alelo do polimorfismo T3111C entre os pacientes. Assim sendo, os resultados sugerem que não há associação entre o SNP T3111C do gene CLOCK e os transtornos afetivos em geral2727. Bailer U, Wiesegger G, Leisch F, Fuchs K, Leitner I, Letmaier M, et al. No association of clock gene T3111C polymorphism and affective disorders. Eur Neuropsychopharmacol. 2005;15(1):51-5. .

Outros genes relacionados ao transtorno depressivo maior e ao comportamento suicida

Kishi et al. , em 2010, indicaram uma associação entre o polimorfismo rs10997875 do gene SIRT1 e o TDM, porém não foram registradas associações entre o gene analisado e a resposta terapêutica ao inibidor seletivo da recaptação da serotonina na fisiopatologia do TDM2424. Kishi T, Yoshimura R, Kitajima T, Okochi T, Okumura T, Tsunoka T, et al. SIRT1 gene is associated with major depressive disorder in the Japanese population. J Affect Disord. 2010;126(1-2):167-73. . Adicionalmente, Matsunaga et al. realizaram uma metanálise para relacionar quatro SNPs do gene CSNK1D e sete SNPs do gene CSNK1E com o TDM, TB e esquizofrenia. Nesse contexto, foi utilizado um banco de dados de polimorfismos da população japonesa, no entanto não foram encontradas relações significativas entre os polimorfismos dos genes CSNK1D e CSNK1E com o TDM, TB e esquizofrenia3939. Matsunaga S, Ikeda M, Kishi T, Fukuo Y, Aleksic B, Yoshimura R, et al. An evaluation of polymorphisms in casein kinase 1 delta and epsilon genes in major psychiatric disorders. Neurosci Lett. 2012;529(1):66-9. . Szczepankiewicz et al. , por sua vez, tinham o objetivo de detectar uma possível associação das variantes dos genes CRHR1 e AVPR1b com o TB e TDM. A análise da interação gene-gene conseguiu revelar uma interação epistática significativa entre os genes e a suscetibilidade ao TDM3232. Szczepankiewicz A, Leszczynska-Rodziewicz A, Pawlak J, Rajewska-Rager A, Wilkosc M, Zaremba D. Epistatic interaction between CRHR1 and AVPR1b variants as a predictor of major depressive disorder. Psychiatr Genet. 2013;23(6):239-46. . Os genes CRY1 e TEF também foram investigados quanto às suas relações com a depressão. Hua et al. visaram replicar e analisar a associação entre variantes de genes relógio e o TDM, relatando que as variantes rs2287161 de CRY1 e rs738499 de TEF estão associadas à suscetibilidade ao TDM3333. Hua P, Liu W, Chen D, Zhao Y, Chen L, Zhang N, et al. Cry1 and Tef gene polymorphisms are associated with major depressive disorder in the Chinese population. J Affect Disord. 2014;157:100-3. .

Pawlak et al. conduziram a análise de polimorfismos de genes que possuíam uma relação já estabelecida com a vulnerabilidade ao suicídio. Nesse sentido, foram selecionados 10 genes e 35 SNPs e foi utilizado o sangue de pacientes com transtornos de comportamento. A amplificação dos genes foi feita por meio de PCR em tempo real e o teste de genotipagem de polimorfismos nucleotídicos (TaqMan SNP) também foi realizado em 10% das amostras escolhidas aleatoriamente de ambos os grupos para verificar a precisão da genotipagem. Uma ampla análise de 34 SNPs da região ST8SIA2 e 15 SNPs de NCAM1 foi desenvolvida. Os resultados demonstraram uma evidência significativa e/ou sugestiva da associação entre fenótipos comportamentais que refletem o ritmo biológico humano e genes envolvidos na plasticidade da rede neuronal do sistema nervoso central. A fisiopatologia do TB ou depressivo possui características cronobiológicas importantes, de forma que a sazonalidade e a preferência circadiana são fenótipos que estão inter-relacionados4141. Yang SY, Baek JH, Cho Y, Cho EY, Choi Y, Kim Y, et al. Effects of genetic variants of ST8SIA2 and NCAM1 genes on seasonal mood changes and circadian preference in the general population. Chronobiol Int. 2018;35(3):405-15. .

Por fim, Zhang et al. revelaram que o estresse pré-natal pode levar a comportamentos semelhantes a depressão nas gerações F1 e F2. Esses comportamentos em camundongos F1 estão associados a perturbações na expressão de genes relógio no sistema nervoso central e à alteração da expressão de proteínas hipotalâmicas e de vias de sinalização relacionadas com o humor. Alterações nos níveis plasmáticos de corticosterona também podem contribuir para a patogênese dos transtornos psiquiátricos na prole F1. As perturbações comportamentais associadas ao humor induzidas por estresse pré-natal persistem na segunda geração de filhotes, mostrando os efeitos prejudiciais do estresse enfrentado por mulheres grávidas em seus filhos e netos88. Zhang P, Li G, Li H, Tan X, Cheng HYM. Environmental perturbation of the circadian clock during pregnancy leads to transgenerational mood disorder-like behaviors in mice. Sci Rep. 2017;7(1):12641. . Um trabalho constatou um aumento na predisposição genética ao abuso de álcool em pacientes com histórico familiar de transtornos afetivos3838. Banach E, Pawlak J, Kapelski P, Szczepankiewicz A, Rajewska-Rager A, Skibinska M, et al. Clock genes polymorphisms in male bipolar patients with comorbid alcohol abuse. J Affect Disord. 2018;241:142-6. . Consequentemente, foi encontrada uma associação entre genes circadianos e o risco de abuso de álcool em pacientes do sexo masculino. Os resultados obtidos podem ser úteis para determinar o grupo de pacientes com alto risco alcoólatra, com a finalidade da preparação de um programa de prevenção adequado3838. Banach E, Pawlak J, Kapelski P, Szczepankiewicz A, Rajewska-Rager A, Skibinska M, et al. Clock genes polymorphisms in male bipolar patients with comorbid alcohol abuse. J Affect Disord. 2018;241:142-6. .

DISCUSSÃO

Diante dos estudos avaliados, vale destacar os métodos e modelos utilizados, os transtornos psiquiátricos e os genes avaliados (família, funções e local de expressão desses genes), além das limitações e principais achados encontrados nos estudos. Na figura 2 abaixo, pode-se observar que o transtorno bipolar e o TDM consistiram nos distúrbios mais abordados entre as pesquisas consideradas no artigo. Esses transtornos estão relacionados e são condições neuropsiquiátricas complexas e debilitantes4343. Cui R. A systematic review of depression. Curr Neuropharmacol. 2015;13(4):480. . Ainda assim, os tratamentos recentes não são completamente efetivos e, apesar do notável progresso na compreensão da biologia neural, a etiofisiopatologia dessas condições ainda não foi totalmente esclarecida4343. Cui R. A systematic review of depression. Curr Neuropharmacol. 2015;13(4):480. . Até agora, a maioria dos estudos clínicos mostrou que pacientes com depressão e transtorno bipolar não possuem um resultado terapêutico satisfatório4343. Cui R. A systematic review of depression. Curr Neuropharmacol. 2015;13(4):480. . É importante ressaltar que a maioria dos artigos avaliou apenas um transtorno psiquiátrico, enquanto outros ampliaram as análises para dois ou três transtornos.

Figura 1
Fluxograma da busca pelos artigos.

Figura 2
Distribuição dos principais transtornos psiquiátricos considerados nos estudos sobre ritmo circadiano. TB: transtorno bipolar; TDM: transtorno depressivo maior; TAS: transtorno afetivo sazonal; DS: distúrbios do sono; CS: comportamento suicida; MSH: mudanças sazonais de humor.

Adicionalmente, pode-se constatar que o gene PER foi o mais estudado entre os artigos analisados, provavelmente devido a sua significativa influência no transtorno bipolar e no transtorno depressivo maior, doenças que estão diretamente associadas ao comportamento suicida. O gene CLOCK foi o segundo mais avaliado nas pesquisas consideradas no artigo. Esses receptores possuem uma grande associação com o estado comportamental do indivíduo e com diversas condições tais como câncer, síndrome metabólica, obesidade e distúrbios do sono ( Figura 3A ). A maior parte dos artigos (62,5%) avaliou dois ou mais genes, e apenas nove artigos (37,5%) se restringiram a um gene.

Figura 3
A) Distribuição dos principais genes considerados nos estudos sobre ritmo circadiano. B) Distribuição dos principais locais de expressão dos genes avaliados no sistema nervoso de humanos. C) Distribuição das principais famílias dos genes avaliados nos estudos sobre ritmo circadiano. D) Distribuição das principais funções dos genes avaliados nos estudos sobre ritmo circadiano.

Avaliou-se também os locais de expressão dos genes estudados ( Figura 3B ). Optamos por avaliar a localização apenas em humanos e no sistema nervoso; verificamos que o córtex cerebral foi região que mais se destacou, seguida do cerebelo. A área física compreendida pelo córtex cerebral, a sua complexidade e o seu envolvimento com diversas funções relevantes nos diversos transtornos psiquiátricos provavelmente justificam esse resultado. O córtex cerebral está principalmente envolvido com a tomada de decisões, pensamento subjetivo, avaliação das consequências de ação, percepção e atenção. Assim como o cérebro, o cerebelo também pode estar envolvido com o comportamento, cognição, humor e emoções4444. Minichino A, Bersani FS, Trabucchi G, Albano G, Primavera M, Delle Chiaie R, et al. The role of cerebellum in unipolar and bipolar depression: a review of the main neurobiological findings. Riv Psichiatr. 2014;49(3):124-31. , 4545. Camara AB. Receptores neurais e a doença de Alzheimer: uma revisão sistemática da literatura sobre as famílias de receptores mais associadas a doença, suas funções e áreas de expressão. J Bras Psiquiatr. 2019;68(3):159-74. . Adicionalmente, assim como o córtex cerebral e o núcleo supraquiasmático, o cerebelo também está envolvido com o ritmo circadiano4646. Bering T, Hertz H, Rath M. Rhythmic release of corticosterone induces circadian clock gene expression in the cerebellum. Neuroendocrinology. 2019. . De fato, resultados preliminares sugerem o envolvimento dos genes circadianos em vários aspectos dos mecanismos fisiológicos e psicopatológicos do cérebro1818. Artioli P, Lorenzi C, Pirovano A, Serretti A, Benedetti F, Catalano M, et al. How do genes exert their role? Period 3 gene variants and possible influences on mood disorder phenotypes. Eur Neuropsychopharmacol. 2007;17(9):587-94. .

A maioria dos genes avaliados é expressa como proteínas intracelulares, mas uma grande parte também é expressa como enzimas ( Figura 3C ), desempenhando funções cruciais na célula. A principal função observada foi a participação de alguns produtos gênicos no metabolismo da serotonina, incluindo o transporte, síntese e captação desse neurotransmissor essencial no sistema nervoso ( Figura 3D ). Os genes relógio SLC6A4, HTR2, ADRA2A e TPH, por exemplo, se destacaram nessas funções relacionadas com a serotonina e, portanto, podem estar envolvidos com diversos transtornos, tais como esquizofrenia, depressão, doença de Alzheimer e comportamento agressivo.

Os métodos, especialmente os ensaios de genotipagem, também foram avaliados ( Figura 4A ). Alguns artigos fizeram o uso de mais de dois métodos, por exemplo, Microarray , Western blot e RT-PCR2828. Kato T, Ishiwata M, Yamada K, Kasahara T, Kakiuchi C, Iwamoto K, et al. Behavioral and gene expression analyses of Wfs1 knockout mice as a possible animal model of mood disorder. Neurosci Res. 2008;61(2):143-58. . Pode-se perceber que a PCR consistiu no método mais utilizado entre os artigos avaliados, em seguida esteve a PCR em tempo real (PCRq). As pesquisas que utilizaram PCR comum corresponderam a mais que o dobro das pesquisas que utilizaram a PCR em tempo real, provavelmente devido ao elevado custo da PCRq. Ambas as técnicas amplificam in vitro uma determinada região do DNA para análises específicas de um ou mais genes presentes nessa região, e na PCRq o resultado é visualizado em tempo real durante a amplificação da sequência de interesse. A PCR em tempo real possui a capacidade de gerar resultados quantitativos de maneira mais rápida, com maior precisão, sensibilidade e especificidade4747. Pfaffl MW. A new mathematical model for relative quantification in real-time RT-PCR. Nucleic Acids Res. 2001;29(9):e45 . O teste de genotipagem de polimorfismos nucleotídicos TaqMan SNP também consistiu em um método de escolha entre as pesquisas analisadas. O ensaio TaqMan SNP destaca-se, uma vez que as taxas de erro de genotipagem para todos os polimorfismos podem ser menores do que 1%1010. Pawlak J, Dmitrzak-Węglarz M, Skibińska M, Szczepankiewicz A, Leszczyńska-Rodziewicz A, Rajewska-Rager A, et al. Suicide attempts and clinical risk factors in patients with bipolar and unipolar affective disorders. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(4):427-32.

11. Pawlak J, Dmitrzak-Węglarz M, Skibińska M, Szczepankiewicz A, Leszczyńska-Rodziewicz A, Rajewska-Rager A, et al. Suicide attempts and clinical risk factors in patients with bipolar and unipolar affective disorders. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(4):309-13.
- 1212. Pawlak J, Dmitrzak-Weglarz M, Wilkosc M, Szczepankiewicz A, Leszczynska-Rodziewicz A, Zaremba D, et al. Suicide behavior as a quantitative trait and its genetic background. J Affect Disord. 2016;206:241-50. .

Figura 4
A) Distribuição dos principais métodos utilizados nos estudos sobre ritmo circadiano. B) Distribuição dos principais modelos utilizados nos estudos sobre ritmo circadiano. C) Distribuição das nacionalidades dos participantes incluídos nos estudos sobre ritmo circadiano.

A maioria dos estudos relacionados com a influência dos genes relógio nos transtornos psiquiátricos incluiu humanos ( Figura 4B ). Apenas três deles incluíram camundongos, todos da linhagem C57BL/6J, os quais são ideais para a realização dos testes comportamentais e análises genéticas. Já em relação aos participantes humanos envolvidos nas pesquisas, vale destacar que as nacionalidades polonesa e japonesa se destacaram nesses estudos envolvendo transtornos psiquiátricos ( Figura 4C ). De fato, de acordo com o repositório World Life Expectancy , a Polônia, o Japão e a Coreia do Sul apresentam elevadas taxam de transtornos mentais, em especial altos índices de suicídio4848. World Health Organization. World Health Rankings: Suicide. Disponível em: https://www.worldlifeexpectancy.com/cause-of-death/suicide/by-country/. Acesso em: 28 set. 2019.
https://www.worldlifeexpectancy.com/caus...
. Vale destacar também que a média de idade dos pacientes incluídos nas pesquisas foi de 45 anos. Já a média do número amostral foi de 1.050 participantes humanos e 127 animais.

Por fim, as principais limitações dos estudos também foram avaliadas com o objetivo de detectar os principais empecilhos encontrado pelos pesquisadores do ritmo circadiano ( Material Suplementar MATERIAL SUPLEMENTAR Distribuição das principais limitações apontadas nos estudos sobre ritmo circadiano ). Considera-se que o pequeno número amostral correspondeu à principal limitação dos estudos (46%), em seguida estavam as análises limitadas de genes ou dos polimorfismos estudados, provavelmente devido ao alto custo dos métodos de genotipagem. A ausência de entrevistas também consistiu em uma limitação encontrada por alguns autores; a entrevista por si poderia fornecer algumas informações relevantes que deixaram de ser consideradas em alguns artigos. Vale ressaltar que um questionário não substitui uma entrevista diagnóstica para avaliar sintomas depressivos, por exemplo.

Em relação às limitações da nossa revisão, em especial, devemos destacar a pequena quantidade de artigos contendo todas as informações de interesse. Nesse sentido, foi necessário incluir neste trabalho apenas os 24 estudos que possuíam todos os dados utilizados para a elaboração dos gráficos e tabelas. Adicionalmente, uma análise aprofundada dos genes circadianos envolvidos com os transtornos psiquiátricos em bancos de dados específicos, tais como Kyoto Encyclopedia of Genes and Genomes (KEGG) e String Data Base , poderia ser relevante nesse contexto. Dessa forma, acreditamos que seria importante a inclusão de tais ferramentas em futuras revisões sistemáticas sobre o tema. Em resumo, esta revisão permitiu uma percepção global sobre os genes relógio envolvidos em transtornos psiquiátricos ( Figura 5 ), por meio da utilização de uma metodologia sistemática. A maioria dos estudos analisados mostrou alguma perspectiva de aplicação clínica. Os artigos apresentam diferentes métodos de genotipagem, com o objetivo comum de detectar a influência de genes e polimorfismos específicos em transtornos psiquiátricos.

Figura 5
A figura resume os genes e os transtornos de humor dos estudos avaliados. Os genes e os transtornos de humor não se correlacionam na imagem. TB: transtorno bipolar; TDM: transtorno depressivo maior; TAS: transtorno afetivo sazonal; DS: distúrbios do sono; CS: comportamento suicida; MSH: mudança sazonal de humor.

CONCLUSÃO

O presente estudo compilou pesquisas científicas relacionadas à regulação molecular dos ritmos circadianos e as suas possíveis influências em transtornos psiquiátricos. Por meio da análise dos artigos, foi possível observar que, apesar de recente, a produção científica sobre o tema tem ganhado maiores proporções, criando, assim, um campo de estudo cada vez mais consolidado, com informações relevantes para o tratamento, diagnóstico e prevenção de transtornos psiquiátricos, especialmente o transtorno depressivo e o transtorno bipolar. Este trabalho constatou que o transtorno bipolar consistiu no transtorno psiquiátrico mais abordado entre as pesquisas avaliadas. Adicionalmente, o gene PER foi o mais estudado, a PCR comum mostrou-se ser o método mais utilizado e o número amostral, a principal limitação dos estudos. Estudos experimentais e revisões relacionados ao ritmo circadiano devem ser realizados periodicamente, uma vez que o avanço nas pesquisas em cronobiologia molecular tem alto teor de aplicabilidade na medicina preventiva.

Tabela 2
Pesquisas referentes à influência do ritmo circadiano nos transtornos psiquiátricos

Tabela 3
Pesquisas referentes à influência do ritmo circadiano nos transtornos psiquiátricos

MATERIAL SUPLEMENTAR Distribuição das principais limitações apontadas nos estudos sobre ritmo circadiano

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2020

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2020
  • Aceito
    11 Fev 2020
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