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ATUAÇÃO PROFISSIONAL NOS ESPORTES DE AVENTURA: ESTUDO DE CASO COM UMA TREINADORA DE SURFE

PROFESSIONAL WORK PERFORMANCE IN ADVENTURE SPORTS: CASE STUDY WITH A SURF COACH

RESUMO

O objetivo do estudo foi analisar o contexto de atuação profissional de uma treinadora de surfe da cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Adotaram-se procedimentos de pesquisa qualitativa e estudo de caso, por meio da combinação de técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. Foi utilizada a técnica de Análise Temática para a análise dos dados. Verificou-se que o contexto de atuação profissional da treinadora investigada compreende um sistema amplo e complexo, marcado pela sua participação em diversas atividades e interações sociais, com o envolvimento pleno em seu local de atuação profissional. A intervenção pedagógica da treinadora para o ensino/treino do surfe é condicionado pela sazonalidade, pelas condições do ambiente de prática desta modalidade, assim como pelo tipo de orientação esportiva, com o propósito pessoal de transmitir o seu estilo de vida ligado ao surfe.

Palavras-chave:
Treinador esportivo; Profissão; Esportes de aventura; Surfe

ABSTRACT

The purpose of the study was to analyze the context of professional work performance of a surf coach from Florianópolis city, Santa Catarina. Qualitative research and case study procedures were adopted conbining participant observation and semi-structured interviews. Thematic Analysis was used for data analysis. It was verified that the coach’s context of professional work performance comprises a broad and complex system, marked by her participation in various activities and social interactions, with full participation in her place of professional work. The coach’s pedagogical intervention for teaching/coaching surfing is conditioned by seasonality, the environmental conditions to practice this sport, and the focus of sports instruction. Essentialy, the coach’s personal goal is to share her surfing lifestyle.

Keywords:
Sports coach; Profession; Adventure sports; Surfing

Introdução

Nas últimas décadas o surfe no Brasil se tornou um esporte com aproximadamente três milhões de praticantes11. Base LH, Alves MAF, Martins EO, Costa RFd. Lesões em surfistas profissionais. Rev Bras Med Esp 2007;13:251-253. Doi: https://doi.org/10.1590/S1517-86922007000400008.
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. Em particular, o aumento da demanda de intervenção pedagógica no âmbito da iniciação esportiva (infantil e tardia), do lazer e do treinamento esportivo no surfe, têm sido impulsionada, sobretudo, pelo desenvolvimento do turismo esportivo e da comercialização do surfe lifestyle22. Reynolds Z. Surfing as adventure travel: Motivations and lifestyles. J Tour Insights 2012;3(1):2-17. Doi: https://doi.org/ 10.9707/2328-0824.1024.
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, pela ascensão da mídia especializada33. Guimarães PCD, Fortes R. A transmissão ao vivo de campeonatos de surfe pela internet: padrões televisivos, inovação e questões para a história do esporte. RHQD2020;68(2):55-76. Doi: https://doi.org/10.5380/his.v68i2.72596.
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e ainda, pela inserção do surfe no programa dos Jogos Olímpicos de Tókio e visibilidade de atletas brasileiros em nível internacional44. Fogliatto MdSS, Marques JC. Dropando sobre as pranchas: os impactos das transformações conceituais das práticas do surfe e do skate refletidos no anúncio do comitê olímpico internacional. RHQD2020;68(2):37-54. Doi: https://doi.org/10.5380/his.v68i2.71803.
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O litoral brasileiro possui aproximadamente 10.959 quilômetros de extensão, sendo que dos seus 27 estados, 17 deles estão localizados na costa brasileira banhados pelo oceano atlântico. A maior parte das praias possui características geográficas, de maré e de ventos, que proporcionam condições adequadas à prática do surfe. Particularmente, na Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, o surfe é o esporte de aventura em meio líquido mais práticado nas praias do munícipio. Além disso, há reccorrencia de eventos competitivos e escolas especializadas no ensino desta modalidade55. Lanferdini FJ. Esportes de aventura na ilha de Santa Catarina. Braz J Dev 2021;7(4):42927-42944. Doi: https://doi.org/10.34117/bjdv.v7i5.29164
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Estudos recentes66. Britton E, Foley R. Sensing Water: Uncovering Health and Well-Being in the Sea and Surf. J Sport Soc Issues 2021;45(1):60-87. Doi: https://doi.org/10.1177/0193723520928597.
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),(77. Hignett A, White MP, Pahl S, Jenkin R, Froy ML. Evaluation of a surfing programme designed to increase personal well-being and connectedness to the natural environment among ‘at risk’ young people. J Adventure Educ Outdoor Learn 2018;18(1):53-69. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2017.1326829.
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),(88. Moreton SG, Brennan MK, Nicholls VI, Wolf ID, Muir DL. Exploring potential mechanisms underpinning the therapeutic effects of surfing. J Adventure Educ Outdoor Learn 2021:1-18. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2021.1884104.
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evidenciam as contribuições da prática do surfe na melhora do condicionamento físico, no aumento da satisfação com a aparência, atitudes positivas em relação ao desempenho escolar escola e interações sociais, assim como, maior consciência ambiental. A aprendizagem dos fundamentos técnicos do surfe, a imersão na água, a exposição à luz solar, as experiências transcendentais, são alguns dos fatores inerentes a prática do surfe, com benefícios aos praticantes.

No Brasil, algumas características típicas da atuação profissional nos esportes de aventura abrangem a intervenção em estabelecimentos especializados99. Amaral Junior AJ, Vaz JM, Correia PMdS, Manfroi MN, Figueiredo JdP, Marinho A. Formação e Atuação Profissional de Instrutores de Atividades de Aventura na Natureza em Florianópolis (SC). Licere2018;21(4):26-59. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2018.1930.
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, a sazonalidade da intervenção e a dificuldade de estabelecer fronteiras entre o que se configura como esporte, turismo, lazer e trabalho1010. Bandeira MM, Ribeiro OCF. Sobre os Profissionais da Aventura: Problemas da Atuação na Interface Esporte e Turismo. Licere2015;18(3):116-157. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2015.1131.
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, a forte ligação com os valores sociais e culturais da modalidade e do local de atuação1111. Paixão JA, Silva MP. O risco na concepção de instrutores de esporte de aventura. Psic Soc 2017;29(e149927):1-10. Doi: https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29149927.
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e a autonomia dos profissionais para estabelecerem o seu próprio campo de atuação1212. Iha T, Andrade Rodrigues Hd, Correa Tibocha CY, Almeida Marcon DT, Milistetd M. A trajetória de vida do treinador de canoagem havaiana: desafios inerentes ao estabelecimento e desenvolvimento do campo de atuação profissional. Educ Física Cien 2020;22(2):1-13. Doi: https://doi.org/10.24215/23142561e124.
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. Além disso, destacam-se as divergências conceituais e legais entre agentes do esporte e do turismo referentes à exploração comercial e regulamentação profissional da área1313. Bandeira MM, Amaral SCF. Definições oficiais para esportes de aventura e esportes radicais no Brasil. Cad Educ Fis Esp 2020;18(3):29-35. Doi: https://doi.org/10.36453/2318-5104.2020.v18.n3.p29.
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No âmbito do surfe, diversos estudos revelam que a atuação profissional de treinadores tem sido fundamentada nas experiências como surfista1414. Ramos V, Brasil VZ, Goda C. A aprendizagem profissional na percepção de treinadores de jovens surfistas. Rev Educ Fis 2012;23(3):431-442.Doi: https://doi.org/10.4025/reveducfis.v23i3.15320.
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),(1515. Ramos V, Brasil VZ, de Barros TEdS, Goda C, Godtsfriedt J. Trajetória de vida de treinadores de surf: análise dos significados de prática pessoal e profissional. Pensar a Prática 2014;17(3):815-834. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v17i3.30335.
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),(1616. Petersen AK, Bataglion GA, Mazo JZ. Da prática pessoal à atuação profissional no surfe: as atividades de preparador físico, treinador e professor. Corpoconsciência2020[acesso em mar 26 2022]; 24(1): 41-56. https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/9792
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, nos conhecimentos específicos sobre a modalidade e acerca do ambiente natural de prática desta modalidade1717. Ramos V, Brasil VZ, Goda C. O conhecimento pedagógico para o ensino do surf. J Phys Educ 2013;24(3):381-392. Doi: https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.3.18730.
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),(1818. Brasil VZ, Ramos V, Kuhn F, Souza JRd, Nascimento JVd. Os conhecimentos de base para intervenção pedagógica do treinador de surf. Rev Bras Educ Fís Esp 2017;31(4):807-817. Doi: https://doi.org/10.11606/1807-5509201700040807.
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. Destaca-se também, o caráter circunstancial e adaptativo das ações pedagógicas do treinador frente à instabilidade do ambiente e às expectativas do aprendiz1919. Brasil VZ, Ramos V, Souza JRd, Barros TEdSd, Nascimento JVd. As ações pedagógicas para a intervenção do treinador de surf. Movimento2015;22(2):403-416. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.57346.
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. Contudo, há um entendimento limitado a respeito das particularidades contextuais da atuação do treinador de surfe e de como elas condicionam a sua intervenção pedagógica para o ensino desta modalidade.

Pesquisas com foco em Treinadores de Esportes de Aventura (TEA) evidenciam que os diferentes papéis desempenhados pelos TEA refletem a dificuldade de delimitação dos conhecimentos necessários à atuação e de como desenvolvê-los em futuros profissionais2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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),(2121. Iha T, Ciampolini V, Zeilmann Brasil V, Milistetd M. As implicações do coaching science nos esportes de aventura: um estudo de revisão sistemática. Movimento2020;26(e26016):1-17. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.95536.
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. Apesar disso, um indicador relevante é de que a compreensão que o TEA possui sobre as demandas geradas pelo ambiente natural de prática, sobre as necessidades individuais dos alunos/praticantes, assim como acerca dos objetivos de intervenção pedagógica, condicionam a sua estrutura epistemológica e a sua capacidade adaptativa para planejar, conduzir e avaliar o processo de ensino-aprendizagem2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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),(2222. Christian E, Berry M, Kearney P. The identity, epistemology and developmental experiences of high-level adventure sports coaches. J Adventure Educ Outdoor Learn 2017;17(4):353-366. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2017.1341326
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Portanto, o desafio investigativo que emerge no âmbito da atuação profissional do treinador de surfe se refere a necessidade de articular os seguintes aspectos: a) características do contexto de atuação do treinador de surfe (objetivos, local, alunos, entidade em que atua, entre outros); b) as formas com que o treinador se engaja no seu ambiente de trabalho e no contexto esportivo do surfe; c) os valores que estão ligados à esta prática esportiva e também; d) os significados que permeiam a sua participação nestas atividades. Estes indicadores podem elucidar como as experiências do treinador interagem com ambientes socioculturais específicos e de que forma influenciam na sua intervenção pedagógica2323. Cassidy TG, Jones RL, Potrac P. Developing a coach philosophy. In: Cassidy TG, Jones RL, Potrac P, editors. Understanding sports coaching: The social, cultural and pedagogical foundations of coaching practice. London: Routledge; 2009. p. 55-64..

Assim sendo, o objetivo do presente estudo é analisar o contexto de atuação profissional de uma treinadora de surfe da cidade de Florianópolis, Santa Catarina. A expectativa é contribuir na delimitação da atividade profissional de treinadores de surfe e na proposição de experiências formativas que atendam às demandas reais dos treinadores. No contexto brasileiro, sugere-se uma relevância adicional devido as indefinições legais e normativas para a formação e atuação profissional nos esportes de aventura.

Métodos

Adotou-se uma abordagem de pesquisa qualitativa, com caráter descritivo e interpretativo2424. Denzin NK, Lincoln YS. The Sage handbook of qualitative research. New York: Sage; 2018.. Empregaram-se procedimentos de Estudo de Caso2525. Yin RK. Case study research and applications: design and methods. London: Sage publications; 2017., considerando a recomendação deste tipo de estudo para acessar a complexidade da atuação do treinador esportivo2626. Smith B, Sparkes AC. Routledge handbook of qualitative research in sport and exercise. New York: Taylor & Francis; 2016..

Participante

Uma treinadora de surfe foi selecionada intencionalmente, a partir dos seguintes critérios: a) possuir a atuação como treinadora como atividade profissional principal; b) possuir experiência de prática do surfe e profissional como treinadora, de 10 anos no mínimo; c) expressar disponibilidade e motivação para participar do estudo. A treinadora selecionada possuía 48 anos de idade, 39 anos de experiência como praticante de surfe, 29 anos como treinadora e 10 anos como diretora técnica na Federação Catarinense de Especialistas e Escolas de Surf e Stand Up Paddle (FECEESS). Ela era graduada em Educação Física e acumulava a certificação da National Surfing Scholastic Association (EUA), da British of Surfing Association (Inglaterra) e da Surfing Australia (Austrália). A treinadora era proprietária de uma escola de surfe e distribuía seu tempo atuando no ensino/treino do surfe (reconhecida pela World Surf League), como empresária da escola/loja, como atleta e como diretora técnica da FECEESS. Tais características justificaram a análise em profundidade do caso dessa treinadora, com repertório amplo de experiências profissionais no surf a ser compartilhado.

Procedimentos

Utilizou-se a combinação das técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. Os procedimentos de observação foram realizados na entidade (escola de surfe) e no local (praia) onde a treinadora desenvolvia suas atividades de ensino/treino do surfe. O pesquisador principal cumpriu uma rotina diária como treinador auxiliar durante um período de aproximadamente dois meses, possibilitando descrever as atividades e interações sociais da treinadora2727. Thorpe H, Olive R. Conducting observations in sport and exercise settings. In: Smith B, Sparkes A, editors. Routledge handbook of qualitative research in sport and exercise. New York: Routledge; 2016. p. 196-216.. O conteúdo das observações foi registrado por meio de notas de campo e de gravações em áudio captadas por um gravador Sony ICD-PX312. Os dados obtidos neste período foram utilizados para contextualizar e aprofundar os temas abordados na entrevista.

O roteiro de entrevista foi constituído por questões abertas, abrangendo os seguintes temas: campo de atuação; condicionantes da intervenção pedagógica de ensino/treino do surfe; e o envolvimento com o local de atuação profissional2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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. As informações foram registradas por meio de gravador digital Sony ICD-PX312, armazenadas em computador portátil e transcritas literalmente com auxílio dos programas Express Scribe Transcripition Software V7.03 e do Microsoft Word versão 2016. A entrevista teve duração de 1 hora e 37 minutos, gerando 21 laudas de transcrições, sendo realizada no local de trabalho da treinadora, de acordo com sua preferência de horário e sua motivação.

Análise dos Dados

Utilizou-se a técnica de Análise Temática para a identificação de significados e o desenvolvimento de temas e subtemas por meio dos seguintes procedimentos2828. Braun V, Clarke V, Weate P. Using thematic analysis in sport and exercise research. In: Smith B, Sparkes A, editors. Routledge handbook of qualitative research in sport and exercise. 1. London: Routledge; 2016. p. 191-205.: familiarização com os dados; desenvolvimento de códigos iniciais; desenvolvimento de temas; revisão dos temas; definição e nomeação dos temas e subtemas; e elaboração do relatório final. Os padrões temáticos identificados nos dados foram definidos pelos significados relevantes ao objetivo do estudo. Os códigos e subtemas foram desenvolvidos em um nível semântico, adotando-se uma abordagem dedutiva-indutiva, com base na literatura especializada e nos próprios significados contidos nos dados.

Para assegurar a qualidade científica dos dados2929. Smith B, Sparkes AC, Caddick N. Judging qualitative research. In: Nelson L, Groom L, Potrac P, editors. Research methods in sports coaching. New York: Routledge; 2014. p. 192-201. o pesquisador principal revisou, constantemente, suas próprias descrições e interpretações; os dados foram conferidos pela treinadora, no envio da transcrição; e realizou-se a adequação constante dos procedimentos metodológicos. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos de uma universidade pública brasileira (parecer 2.856.168). O anonimato e a confidencialidade da treinadora (pseudônimo Khloe), de entidades, instituições, pessoas e locais, foram preservados pela atribuição de nomes fictícios.

Resultados

Campo de atuação profissional da treinadora Khloe

Figura 1
Mapa conceitual do campo de atuação profissional da treinadora Khloe.

Referente ao campo de atuação profissional, evidenciou-se que o tipo de entidade em que Khloe atuava caracterizava-se como uma unidade comercial, prestadora de serviço ligada ao setor turístico e concebida pela própria treinadora como “escola de surfe” (Coral Surf School). Khloe destacou que: “[...] a prestação de serviços tem duas vertentes: o turismo e o trabalho com esporte.”. Os serviços com ênfase no turismo, correspondiam à instrução para a vivência de prática do surfe, que segundo ela contemplava: “[...] o pessoal que quer experimentar uma atividade que é muito reconhecida na ilha, o surfe.”. Por outro lado, a vertente esportiva, abrangia a orientação pedagógica com as seguintes finalidades: “[...] não só para esporte de rendimento, mas as pessoas que querem aprender a praticar um esporte e as que querem treinar o esporte.”.

Khloe atendia um conjunto de normativas e legislações para atuação profissional, incluindo a responsabilidade enquanto proprietária da sua escola: “[...] eu sou uma empresária do esporte, tenho obrigações por ter uma empresa com CNPJ...tirar nota fiscal, ter o INSS, pagar o imposto para o governo[...]”. Por ser uma unidade comercial, a treinadora mencionou a necessidade de estar em conformidade com a legislação municipal: “[...] eu preciso de um alvará de verão, de praia, que tem que ser pago e tem que respeitar uma série de regrinhas”. Além disso, Khloe mencionou a necessidade de atender as exigências para intervenção profissional no âmbito esportivo: “[...] eu preciso do diploma em Educação Física e estar registrada no Conselho Regional... pagar anuidade, respeitar as normas deles”.

Diferentes atividades desempenhadas pela treinadora Khloe foram recorrentes em seu campo de atuação profissional. Além do ensino/treino do surfe, o fato de Khloe ser proprietária da Coral Surf School lhe atribuía inúmeros outros encargos adicionais, de gestão e manutenção de seu estabelecimento: “[...] Como eu trabalho na maioria das vezes sozinha ou com alguém, muitas vezes eu sou a faxineira, sou “faz tudo” porque a gente pinta, lixa, corta...as vezes, de consertadora de prancha... de vendedora, comercial, de atendimento”.

Fora da local de sua intervenção (praia da Croa), Khloe possuía o envolvimento em atividades relacionadas a sua preparação pessoal para a intervenção como treinadora. Particularmente, a manutenção de uma condição física adequada justifica-se pelo elevado grau de exigência física da sua intervenção, como ela afirma: [...] é um trabalho estafante, eu vejo quando contrato um instrutor para trabalhar no verão e no final o cara está acabado... então, desde que você saiu eu dou duas aulas por dia, todos os dias... então eu preciso estar muito bem preparada fisicamente.”.

A treinadora Khloe mencionou ainda, a realização do que ela denominou de “surfe trips”, atividades de viagens em território nacional e internacional, para a prática pessoal de lazer do surfe e/ou para treinamento e competições com seus atletas. No entendimento de Khloe, em sua vida não há uma divisão do surfe enquanto lazer e do surfe enquanto objeto de intervenção. Para ela, todas as atividades em que se engaja, estão ligadas à sua relação pessoal com o surfe e com sua atividade profissional, como ela explica:

Eu não consigo separar a minha vida e o surfe. É uma coisa que está sempre ligado, é aquela história de que você vai viajar para o interior, mas na estrada você vai passar por uma praia, então é melhor tu levar tua prancha. Então, eu acho que assim, eu viajo para surfar, eu sei lá... para mim tudo é surfe, eu não consigo separar os dois.

Outro aspecto predominante foram as diversas interações sociais que Khloe estabelecia em seu campo de intervenção, em função das suas relações comerciais: “[...] relação de vendas com hostels, de criar grupos de alunos... com os shapers, lojas e lugares de conserto de prancha...levando equipamento o tempo todo, conversando com eles”. Khloe ainda mencionou as interações com atletas e ex-atletas colegas de competição, bem como, as relações com seus alunos, ex-alunos, e os pais. As interações mais frequentes ocorriam na praia da Croa: “[...] As relações com os atletas, os comerciantes, os fornecedores, as empresas, a associação, outros treinadores... eles estão próximos, são mais frequentes, na mesma praia que eu [...]”.

Condicionantes da intervenção pedagógica de ensino/treino do surfe

Figura 2
Mapa conceitual dos condicionantes da intervenção pedagógica da treinadora Khloe para o ensino/treino do surfe

Relativo à intervenção pedagógica da treinadora Khloe para o ensino/treino do surfe constatou-se que, predominantemente, seus alunos/atletas eram da faixa etária adulta, com idade entre 20 e 40 anos. Khloe esclareceu que a menor recorrência do público infantil e adolecente dava-se em função de que: “[...] a maioria das crianças acaba aprendendo sozinha, então se é criança ou adolescente, acaba caindo para um treinamento.”. Ela ainda mencionou uma constatação pessoal a partir da experiência enquanto treinadora para explicar o predomínio de alunas mulheres: “[...] a mulher é mais dependente e acredita que uma ajuda vai dar mais segurança e fazer ela ir mais longe e progredir com mais facilidade”. Independente dos diferentes perfis, uma característica predominante entre seus alunos/atletas era o desejo de experimentar algo não convencional:

“[...] pessoas, na verdade, que nunca tiveram acesso ao surfe [...] então a gente percebe muito que são turistas ou pessoas que vieram morar aqui e que tinham isso como um sonho, de um dia fazer isso...buscar uma coisa que não tinham aonde morava... experimentar, fazer uma aventura”.

O foco da intervenção pedagógica de Khloe apontava à orientação para uma vivência esportiva no surfe como turismo e para a iniciação e treinamento esportivo nessa modalidade. A treinadora destacou que: “[...] a minha vida está se voltando bastante para o treinamento... além de estar provado que funciona, o treinamento com vídeo análise...a procura está muito grande, por tudo o que o surfe brasileiro está vivendo”. Sua extensa trajetória enquanto atleta também justificava o seu interesse na intervenção com foco no treinamento de jovens atletas: “[...] é uma coisa que me mantém ligada ao mundo de competição que eu vivi desde os 12 anos de idade...é uma coisa que eu gosto muito, eu sempre fui muito competitiva, eu gosto muito da competição.”.

Independentemente do foco de sua intervenção, a treinadora Khloe manifestou o propósito pessoal de oferecer aos seus alunos/atletas a vivência com o seu próprio estilo de vida ligado ao surfe: “[...] meu foco transita por essas vertentes, mas na verdade, meu intuito é trazer um esporte, que seja também, um estilo de vida para a pessoa [...]”. Khloe ainda destacou o seu papel de facilitadora neste processo, “[...] eu busco estar sempre levando, facilitando e encurtando o caminho de aprendizado dessas pessoas, ao máximo, para elas viverem isso”.

Evidenciou-se que a intervenção pedagógica da treinadora Khloe ocorria, regularmente, durante o ano inteiro. Durante o período de verão, envolvia uma rotina diária de trabalho intenso em sua escola de surfe: “[...] fim de semana, feriado, férias é o período que mais trabalha... Durante o período de inverno, Khloe mencionou possuir menor frequência em sua intervenção, com implicações no seu tempo para lazer pessoal: “[...] no inverno eu costumo não vir para a escola, se está um vento sul forte, eu não tenho aula marcada, eu não venho aqui.”. Para essa treinadora, o comprometimento que possui com sua atividade profissional faz com que ela organize sua vida de uma forma particular, como ela mesma explicou:

[...] exige muito comprometimento comigo mesmo, porque se eu entrar em umas de que: ah, pô! Sexta-feira tem uma festa e talvez eu não vou no sábado. Não existe isso! Eu vou para a festa...não posso matar a minha vida social, mas com certeza eu vou ter um dia seguinte não com rendimento de 100%, vou estar cansada, preferindo ter ficado em casa, mas vou estar lá, comprometida.

Durante o verão (“alta temporada”) as aulas/treinos ocorriam, exclusivamente, na praia da Croa: “[...] durante a alta temporada o trânsito não permite o deslocamento para outras praias, gasta muito tempo e não tem um custo benefício muito favorável”. A realização das aulas/treinos em outras praias ocorria no período entre os meses de março e novembro, principalmente: “[...] pela falta de condição meteorológica na praia da Croa [...]” e pelo perfil dos alunos/atletas: “[...] eu trabalho com alunos mensalistas, então, além de não ter a questão do trânsito a maioria deles sabe transitar em Florianópolis”. O nível de prática dos alunos/atletas também era considerado por Khloe para a definição do local das aulas/treinos: “[...] para o nível intermediário e iniciantes, eu vou para praia X...para treinamento eu vou para a praia Y por ter ondas mais potentes e uma condição de surfe mesmo”.

Envolvimento da treinadora com o local de sua atuação profissional

Figura 3
Mapa conceitual sobre o envolvimento de Khloe com o local de sua atuação profissional

O envolvimento da treinadora Khloe com a praia da Croa iniciou durante a sua juventude por meio da prática do surfe e da sua participação em campeonatos como atleta: “[...] A Croa entrou na minha vida muito antes de eu morar aqui, eu vinha competir...era o sonho do ano vir para a Croa [...]”, impulsionando escolhas em sua vida: “[...] a partir disso eu criei um amor pela praia e me fez vir estudar e mudar para cá.”. O engajamento de Khloe em diferentes atividades nesta localidade foram elementos catalizadores para ela desenvolver um senso de identificação com este local:

[...] a Croa sempre foi um palco de grandes competições que eu vinha aqui como competidora, um lugar de onda, de atletas, de treinamento, e minha vida sempre foi muito voltada para isso...eu sempre competi pela ASC (Associação de Surfe da Croa). Foi um lugar que me acolheu...eu comecei vendendo sanduíche na praia.

As experiências nesta praia levaram Khloe a alcançar uma compreensão sobre as relações sociais nesse local: “[...] eu conheço a comunidade local, restaurantes, comerciantes, a associação de surfe, os surfistas, os competidores... vários nichos que se formam”. O convívio direto com outros comerciantes pela proximidade da sua escola de surfe à outros estabelecimentos, definiam suas “relações de parceria”: [...] o meu envolvimento e a parceria estão aqui do lado, no convívio básico com a mesma pessoa todo dia, com quem faz um favor eventual para mim.”. Klhoe acrescenta que: [...] ter a aceitação das pessoas da Croa engrandece o meu trabalho, torna ele fidedigno...eles sabem do meu comprometimento, do dia a dia, me veêm dentro d’água, sabem que se eu ver alguém se afogando vou lá salvar [...]”.

Dentre as atividades desenvolvidas por Khloe na praia da Croa evidenciou-se o seu engajamento voluntário em atividades da Associação de Surfe da Croa: “[...] em alguns campeonatos dou aulas gratuitas, fico como surfe repórter, como beach marshal [...]”. O reconhecimento da dos membros da ASC impulsionava a participação dessa treinadora em diversas outras atividades, manifestando um caráter de retribuição ao local em que ela atuava profissionalmente.

[...] Eles até me falaram: “você que é da praia, que surfa melhor, tem uma convivência boa com a galera do time...foram teus alunos, tem uma convivência boa com os juízes, com técnicos de outras equipes...é importante você fazer parte do nosso time.”. Então, é um dever que eu tenho...dar um retorno para o lugar de onde eu tiro meu sustento.

O envolvimento pessoal da treinadora Khloe com a praia da Croa também se dava em situações que ela conciliava momentos de lazer e trabalho: “[...] eu tenho muita sorte de poder conciliar o lazer com o trabalho… nada me impede fechar a loja, não ter aula e ir lá dar um surfe, ou me jogar na areia e tomar um sol”. Por outro lado, Khloe reconheceu a dificuldade de “estabelecer uma fronteira” entre suas atividades profissionais e de lazer, afirmando que: [...] hoje eu cheguei aqui querendo ir surfar, mas eu não pude porque apareceu um aluguel, depois outro e outro [...].

A atuação profissional de Khloe na praia da Croa expressava um significado de “viver um sonho” idealizado por ela: “Foi uma escolha...é uma satisfação muito grande ter conseguido viver essa escolha, esse sonho [...]”. A sua ligação com este local fica evidente em seu entendimento de que: “[...] a Croa é a minha casa! Eu fico muito mais tempo aqui que em casa, é uma ligação muito grande em todos os aspectos, eu conheço exatamente como funciona a praia num todo...economicamente, socialmente, meteorologicamente”.

Ser parte de uma “micro-sociedade na praia” correspondeu à outro significado do envolvimento de Khloe com a praia da Croa: “[...] eu estou intrinsicamente diluída nesta micro-sociedade”. Alcançar o reconhecimento dentro dessa estrutura social constituiu parte do processo de se perceber pertencente à mesma: [...] até chegar ao que cheguei foi um trabalho diário de comprovação do meu trabalho...hoje as pessoas me veem e falam: “Ah, a da Croa!” Isso comprova que eu faço parte do lugar!”. O reconhecimento obtido por Khloe enquanto surfista e treinadora, lhe produziu um significado de “referência” dentro dessa “micro-sociedade” e no nicho “escolas de surfe”: “[...] em um núcleo global da praia e de escolas de surfe eu me vejo como referência...estou aqui há muito tempo, sei o que acontece na praia...a minha opinião é fidedigna, é de fé”.

Discussão

A atuação profissional de Khloe estava balizada por duas estruturas distintas. Uma delas com caráter formal, correspondente às orientações legais para atuação como uma profissional autônoma, empresária e também, como treinadora esportiva. A atuação autônoma tem sido evidenciada como uma característica típica da atuação nos esportes de aventura99. Amaral Junior AJ, Vaz JM, Correia PMdS, Manfroi MN, Figueiredo JdP, Marinho A. Formação e Atuação Profissional de Instrutores de Atividades de Aventura na Natureza em Florianópolis (SC). Licere2018;21(4):26-59. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2018.1930.
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),(1010. Bandeira MM, Ribeiro OCF. Sobre os Profissionais da Aventura: Problemas da Atuação na Interface Esporte e Turismo. Licere2015;18(3):116-157. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2015.1131.
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),(2222. Christian E, Berry M, Kearney P. The identity, epistemology and developmental experiences of high-level adventure sports coaches. J Adventure Educ Outdoor Learn 2017;17(4):353-366. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2017.1341326
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, sendo que, a regulamentação, geralmente, é definida pela legislação do estado ou do município em que os profissionais atuam3030. Auricchio JR. Formação dos Profissionais da Cidade de Socorro - SP em Atividades de Aventura no Âmbito do Lazer. Licere2017;20(1):140-160. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2017.1590.
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. Embora não haja uma definição clara sobre a formação profissional para a intervenção nos esportes de aventura no Brasil99. Amaral Junior AJ, Vaz JM, Correia PMdS, Manfroi MN, Figueiredo JdP, Marinho A. Formação e Atuação Profissional de Instrutores de Atividades de Aventura na Natureza em Florianópolis (SC). Licere2018;21(4):26-59. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2018.1930.
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, no caso de Khloe, a obrigatoriedade da certificação profissional em Educação Física e do registro no CREF, compreendiam particularidades do seu contexto profissional, legitimando sua intervenção enquanto treinadora de surfe como uma profissão.

Por outro lado, a atuação profissional de Khloe estava sob influência de dois contextos sociais sobrepostos (a praia da Croa e a do surfe). Na praia da Croa, sua escola e atividades de ensino/treino integravam uma estrutura social complexa (“sociedade na praia”) de organização do comércio e de relações sociais. No contexto do surfe, a atuação de Khloe estava alinhada à um conjunto de valores ligados ao seu envolvimento com esta modalidade. A sua participação em ambos os contextos configurou-se como um processo abrangente de engajamento em práticas socias vinculadas à eles, com implicações na sua identidade3131. Wenger-Trayner E, Fenton-O'Creevy M, Hutchinson S, Kubiak C, Wenger-Trayner B. Learning in landscapes of practice: Boundaries, identity, and knowledgeability in practice-based learning. London: Routledge; 2014.. A prática, nesta perspectiva, compreende o “fazer” em um contexto histórico e social que atribui estrutura e significado ao que é feito, incluindo a linguagem, papéis assumidos, relações implícitas, sinais sutis, percepções específicas, sensibilidades ajustadas, compreensões incorporadas e visões de mundo compartilhadas3232. Wenger E. Communities of practice: Learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge university press; 1998..

As funções, atividades e interações sociais da treinadora Khloe, revelaram a demarcação ampliada do seu contexto profissional. O caráter indissociável entre suas atividades profissionais e de lazer evidenciou que o surfe possuía um significado pessoal para Khloe que perpassava as diferentes áreas de sua vida, também recorrente em estudos com instrutores de trakking3333. Lorimer R, Holland-Smith D. Why Coach? A Case Study of the Prominent Influences on a Top-Level UK Outdoor Adventure Coach. Sport Psyc 2012;26(4):571-583. Doi: https://doi.org/10.1123/tsp.26.4.571.
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, de rafting3434. Carnicelli Filho S. Rafting Guides: Leisure, work and lifestyle. Ann Leis Res 2010;13(1-2):282-297. Doi: https://doi.org/10.1080/11745398.2010.9686848.
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e de parkour3535. Greenberg E, Culver DM. How Parkour Coaches Learn to Coach: Coaches’ Sources of Learning in an Unregulated Sport. J Adventure Educ Outdoor Learn 2020;20(1):15-29. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2018.1557060.
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, em que o lazer abrangia responsabilidades relacionadas ao trabalho de instrutor. De fato, estas modalidades esportivas têm sido denominadas de “lifestyle sports” ou “action sports3636. Durán-Sánchez A, Álvarez-García J, del Río-Rama MdlC. Nature sports: state of the art of research. Ann Leis Res 2020;23(1):52-78. Doi: https://doi.org/10.1080/11745398.2019.1584535.
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, nos quais os praticantes demonstram valores e perspectivas ligadas a estas práticas, profundamente integrados às suas vidas.

Entre os condicionantes da intervenção pedagógica da treinadora Khloe para o ensino/treino do surfe, o direcionamento predominante à iniciação esportiva tardia e a busca pela prática do surfe como “lifestyle”, refletem a informalidade da aprendizagem de crianças e jovens nos action sports3737. Ellmer E, Rynne S, Enright E. Learning in action sports: A scoping review. Eur Phys Educ Rev 2019;26(1):263-283. Doi: https://doi.org/10.1177/1356336X19851535.
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, incluindo o surfe. A sazonalidade das atividades desenvolvidas por Khloe foi, igualmente, evidenciada em estudo com guias rafting de uma região turística no Brasil, a qual exigia um “malabarismo” destes profissionais para ajustarem-se à demanda irregular de intervenção1010. Bandeira MM, Ribeiro OCF. Sobre os Profissionais da Aventura: Problemas da Atuação na Interface Esporte e Turismo. Licere2015;18(3):116-157. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2015.1131.
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. As condições climáticas3838. Christian E, Hodgson CI, Berry M, Kearney P. It’s not what, but where: how the accentuated features of the adventure sports coaching environment promote the development of sophisticated epistemic beliefs. J Adventure Educ Outdoor Learn2020;20(1):68-80. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2019.1598879.
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e as situações em que ocorrem a busca por instrução nos esportes de aventura (finais de semana, feriados e férias), são condicionantes típicos da intervenção nesta área.

Os diferentes focos das atividades de ensino/treino do surfe desenvolvidas pela treinadora Khloe refletia, por um lado, a busca da prática desta modalidade como experiência vertiginosa3939. Pereira Neto GP, Abreu ESd, Nascimento JdF, Oliveira BNd, Machado AAN. Surfe é Estilo de Vida : Motivação Para a Prática em Mulheres Jovens. Licere2017;20(1):115-139. Doi: https://doi.org/10.35699/1981-3171.2017.1589.
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e como “lifestyle22. Reynolds Z. Surfing as adventure travel: Motivations and lifestyles. J Tour Insights 2012;3(1):2-17. Doi: https://doi.org/ 10.9707/2328-0824.1024.
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, em que Khloe assumia a função de “guia”2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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, conduzindo e resguardando seus alunos no mar, para uma experiência de prática do surfe segura. Por outro lado, a iniciação e treinamento do surfe parece repercutir uma demanda atual de treinamento nos esportes de aventura4040. Ellmer EMM, Rynne SB. Professionalisation of action sports in Australia. Sport Soc 2019;22(10):1742-1757. Doi: https://doi.org/10.1080/17430437.2018.1440700.
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, destacando a institucionalização e popularização do surfe no contexto ao qual a treinadora Khloe estava inserida. Neste caso, Khloe desempenhava a função típica de “treinadora”2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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, voltando sua intervenção pedagógica para o desenvolvimento das habilidades esportivas do surfe de seus alunos/atletas.

Independente dos diferentes direcionamentos, a intervenção pedagógica da treinadora Khloe possuía o propósito essencial de compartilhar com seus alunos/atletas um estilo de vida ligado ao surfe. Portanto, embora haja uma lacuna na delimitação profissional para intervenção nos esportes de aventura no contexto brasileiro2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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e no contexto internacional2222. Christian E, Berry M, Kearney P. The identity, epistemology and developmental experiences of high-level adventure sports coaches. J Adventure Educ Outdoor Learn 2017;17(4):353-366. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2017.1341326
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),(4141. Collins L, Collins D. Conceptualizing the adventure sports coach. In: Berry M, Lomax J, Hodgson C, editors. Adventure sport coaching. London: Routledge; 2015. p. 81-93., parece haver determinados propósitos característicos (ethos) da intervenção do TEA, ligados ao compartilhamento de valores, atitudes e comportamentos de determinada modalidade esportiva. No caso de Khloe, ela era a facilitadora do processo de incorporação do surfe lifestyle pelos seus alunos/atletas, no qual, o “ponto de partida” correspondia à prática dessa modalidade.

As inúmeras experiências da treinadora Khloe na praia da Croa e o seu senso de identificação com esta localidade, foram balizadores de seus vínculos sociais. A noção de participação social, proposta por Wenger3232. Wenger E. Communities of practice: Learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge university press; 1998., permite compreender o envolvimento de Khloe na praia da Croa como uma “constelação”, constituída pelas conexões entre as práticas comuns a diferentes comunidades (“nichos da Croa”). No caso da treinadora, as relações estabelecidas pela proximidade geográfica, tipo de comércio e o seu conhecimento sobre a praia, permitia com que ela transitasse entre os diferentes “nichos da Croa”. Isso traduz um tipo de competência vivenciada e manifestada por Khloe por meio do seu engajamento mútuo com os demais indivíduos da praia da Croa, em práticas sociais inerentes a esta localidade3232. Wenger E. Communities of practice: Learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge university press; 1998..

A extensa trajetória da treinadora Khloe de envolvimento com a praia da Croa fez com que desenvolvesse uma forte “conexão” com esta localidade, expressa no seu conhecimento abrangente sobre esta praia. O conhecimento sobre o ambiente tem sido considerado fundamental para a tomada de decisão de TEA experientes3838. Christian E, Hodgson CI, Berry M, Kearney P. It’s not what, but where: how the accentuated features of the adventure sports coaching environment promote the development of sophisticated epistemic beliefs. J Adventure Educ Outdoor Learn2020;20(1):68-80. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2019.1598879.
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),(4242. Eastabrook C, Collins L. What do participants perceive as the attributes of a good adventure sports coach? J Adventure EducOutdoor Learn2020;20(1):1-14. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2020.1730207.
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e para a qualidade da intervenção pedagógica de treinadores de surfe1717. Ramos V, Brasil VZ, Goda C. O conhecimento pedagógico para o ensino do surf. J Phys Educ 2013;24(3):381-392. Doi: https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.3.18730.
https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.3...
),(1818. Brasil VZ, Ramos V, Kuhn F, Souza JRd, Nascimento JVd. Os conhecimentos de base para intervenção pedagógica do treinador de surf. Rev Bras Educ Fís Esp 2017;31(4):807-817. Doi: https://doi.org/10.11606/1807-5509201700040807.
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),(1919. Brasil VZ, Ramos V, Souza JRd, Barros TEdSd, Nascimento JVd. As ações pedagógicas para a intervenção do treinador de surf. Movimento2015;22(2):403-416. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.57346.
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. O senso manifestado por Khloe de pertencer a uma “micro-sociedade” abrangeu um processo de alcançar a participação plena e o reconhecimento, dentro dessa estrutura social particular3232. Wenger E. Communities of practice: Learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge university press; 1998.. As principais implicações foram, perceber-se “modelo” no “núcleo” escolas de surfe, bem como, uma “referência”, considerando a sua partição contínua em diferentes iniciativas na praia da Croa.

O contexto profissional da treinadora Khloe sugere um escopo amplo, no que diz respeito às delimitações normativas, a abrangência de sua atuação, o caráter informal do seu ambiente de intervenção pedagógica, assim como, à complexidade do seu envolvimento na praia da Croa. Estas evidências sustentam a noção de que o “corpo de conhecimento” para a atuação profissional desta treinadora compreende uma estrutura “viva”, constituída por um complexo sistema de inter-relações entre diferentes práticas sociais e comunidades em que ela participara. Suas competências e identidade resultam do modo como participara nesta complexa “paisagem”3131. Wenger-Trayner E, Fenton-O'Creevy M, Hutchinson S, Kubiak C, Wenger-Trayner B. Learning in landscapes of practice: Boundaries, identity, and knowledgeability in practice-based learning. London: Routledge; 2014.. Esta perspectiva contempla, portanto, o caráter contextual e social da intervenção pedagógica do TEA2020. Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVd. Intervenção profissional nos esportes de aventura: uma perspectiva conceitual à formação e à investigação. Movimento2019;25(e25005):1-16. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.83842.
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),(4141. Collins L, Collins D. Conceptualizing the adventure sports coach. In: Berry M, Lomax J, Hodgson C, editors. Adventure sport coaching. London: Routledge; 2015. p. 81-93., com potencial à estruturação de oportunidades legítimas para formação e desenvolvimento profissional no âmbito dos esportes de aventura2222. Christian E, Berry M, Kearney P. The identity, epistemology and developmental experiences of high-level adventure sports coaches. J Adventure Educ Outdoor Learn 2017;17(4):353-366. Doi: https://doi.org/10.1080/14729679.2017.1341326
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),(4343. Brasil VZ, Ellmer E, Greenberg E, Ciampolini V. Coaching for Adventures Sports. In: Resende R, Gomes R, editors. Coaching for Human Development and Performance in Sports. Switzerland: Springer; 2020. p. 225-244.),(4444. Taylor B, McEwan I. Professionalism and the Adventure Sports Coach. In: Berry M, Lomax J, Hodgson C, editors. Adventure sport coaching. London: Routledge; 2015. p. 239-254..

Conclusões

O contexto profissional da treinadora de surfe investigada era constituído por diferentes normativas burocráticas formais, assim como por um conjunto de relações informais ligado ao local de sua atuação e ao surfe. A sua atuação profissional enquanto treinadora estava inserida à um modo particular de organização do comércio e das relações sociais na praia da Croa, assim como, alinhada aos valores do surfe lifestyle. A delimitação ampliada do seu contexto profissional refletia na diversidade de funções, atividades desenvolvidas, interações sociais e foco da intervenção pedagógica. A intervenção de Khloe para o ensino/treino do surfe era condicionada pela sazonalidade, pelo ambiente natural de prática do surfe e pela demanda do tipo de orientação esportiva, imbuída do propósito de transmitir o seu estilo de vida. O senso de pertencimento à praia da Croa estava vinculado à compreensão desenvolvida por Khloe sobre esta localidade e ao reconhecimento obtido dentro dessa estrutura social, refletindo no seu envolvimento pleno com o local de atuação profissional.

Limitações do presente estudo podem estar relacionadas à generalização das evidências obtidas para uma população de treinadores de surfe e para profissionais de outras modalidades

esportivas de aventura. Sugere-se para estudos futuros a análise do contexto profissional de treinadores de surfe de outras regiões do Brasil e também, de modalidades variadas, para um melhor entendimento sobre a intervenção profissional nos esportes de aventura.

Questões mais específicas a serem abordadas em pesquisas futuras são: o papel do treinador de surf na iniciação e formação esportiva de crianças e jovens; a instrução pedagógica ligada ao ambiente de prática do surf durante o processo de ensino-aprendizagem desta modalidade; assim como, a presença feminina no contexto de ensino-aprendizagem deste esporte.

Agradecimentos:

O presente estudo foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    06 Maio 2021
  • Aceito
    06 Fev 2022
  • Aceito
    21 Fev 2022
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