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CONHECIMENTOS DECLARADOS POR TREINADORES DE BOCHA PARALÍMPICA PARA A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL

KNOWLEDGE DECLARED BY PARALYMPIC BOCCIA COACHES FOR PROFESSIONAL INTERVENTION

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar os conhecimentos de treinadores de Bocha Paralímpica de Santa Catarina para sua intervenção profissional. Foram adotados procedimentos de pesquisa qualitativa, a partir de estudos de caso múltiplos, com quatro treinadores com reconhecida competência na formação de atletas de bocha. A coleta foi realizada através de entrevista semiestruturada e a análise dos dados por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados evidenciaram que os treinadores valorizaram um conjunto de conhecimentos para sua intervenção, destacando os conhecimentos profissionais sobre as características dos atletas, os medicamentos e a funcionalidade dos equipamentos. Além dos conhecimentos interpessoais para estabelecer relações com staffs, auxiliares, pais dos atletas e demais atores do contexto esportivo, os conhecimentos intrapessoais para assumir os papéis de amigo, psicólogo e familiar dos atletas, foram também indicados como conhecimentos importantes para a sua intervenção profissional. Conclui-se que a valorização desse conjunto de conhecimentos pelos treinadores de Bocha Paralímpica está evidentemente relacionada ao elevado grau de deficiência dos atletas.

Palavras-chave:
Educação Física e Esporte; Intervenção Profissional; Treinador Esportivo; Bocha Paralímpica

ABSTRACT

The aim of this study was to analyze Paralympic Boccia coaches’ knowledge. A multiple case study was conducted with four coaches from Santa Catarina state of recognized competence in Boccia coaching. Data were obtained by a semistructured interview, and the analyzed using Content Analysis technique. The findings showed that coaches valued a set of knowledge for their coaching, highlighted a professional knowledge about the athletes’ characteristics, theirs medicines and, equipment’s functionality for each athlete. These coaches mentioned an interpersonal knowledge to establish relationships with staffs, auxiliaries, athletes’ parents and other professional in the sport context. Furthmore, was also indicated by the coaches an intrapersonal knowledge to assume roles as a friend, psychologist and, athletes’ family. The evidences addressed that knowledge domains valued by the Paralympic Boccia coaches is linked to athletes’ high level disability.

Keywords:
Physical Education and Sport; Professional Intervention; Sports Coach; Paralympic Boccia

Introdução

Conceitualmente, a intervenção do treinador esportivo tem sido compreendida como um sistema social complexo11 Bowes I, Jones R. Working at the edge of chaos: understanding coaching as a complex, interpersonal system. Sport Psychol 2006;20(2):235-45. DOI:10.1123/tsp.20.2.235.
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que envolve uma atividade interacional dinâmica, com engajamento profundo, do treinador e do atleta22 Jones R, Edwards C, Viotto Filho I. Activity theory, complexity and sports coaching: an epistemology for a discipline. Sport Educ Soc 2014;21(2):200-16. DOI:10.1080/13573322.2014.895713.
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. No caso do treinador de paradesporto, há uma demanda adicional típica que inclui a compreensão sobre a deficiência dos atletas e questões de acessibilidade33 Depauw KP, Gavron SJ. Disability sport. 2.ed. Champaign: Human Kinetics; 2005.

4 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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-55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
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e a capacidade comunicativa do treinador para estabelecer vínculos de confiança e criar um ambiente de treinamento favorável ao desenvolvimento esportivo e pessoal dos atletas66 McMaster S, Culver D, Werthner P. Coaches of athletes with a physical disability: a look at their learning experiences. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):226-43. DOI:10.1080/2159676X.2012.686060.
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7 Duarte T, Culver D. Becoming a coach in developmental adaptive sailing: a lifelong learning perspective. J Appl Sport Psychol 2014;26(4):441-56. DOI:10.1080/10413200.2014.920935.
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-88 Townsend RC, Smith B, Cushion CJ. Disability sports coaching: towards a critical understanding. Sports Coach Rev 2015;4(2):80-98. DOI:10.1080/21640629.2016.1157324.
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.

A prática da Bocha Paralímpica se destaca pelo elevado grau de comprometimento motor e/ou múltiplas dimensões dos atletas (paralisia cerebral e deficiências severas)99 Campeão M. Proposta de ensino de bocha para pessoas com paralisia cerebral [Dissertação de Mestrado em Educação Física]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2002.,1010 Boccia International Sports Federation [Internet]. BISFed International boccia rules 2017 [acesso em 29 mar. 2018]. Disponível em: www.bisfed.com/wp content/uploads/2014/01/PORTUGUESE_BRA-v2.pdf., distribuídos em quatro classes (BC1 à BC4), de acordo com o nível de sua deficiência comprovado em avaliação funcional1111 Comitê Paralímpico Brasileiro [Internet]. [acesso em 29 mar. 2018]. Disponível em: www.cpb.org.br
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. A obtenção de resultados expressivos nos últimos anos, com destaque para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, tem impulsionado a intervenção profissional nessa modalidade em todo o território brasileiro. Nos diferentes cenários esportivos (educacional/inclusivo e competitivo), a atuação do treinador de bocha paralímpica já apresenta relevância social, devido à demanda de qualidade dessa atividade profissional para o desenvolvimento esportivo de pessoas com deficiência88 Townsend RC, Smith B, Cushion CJ. Disability sports coaching: towards a critical understanding. Sports Coach Rev 2015;4(2):80-98. DOI:10.1080/21640629.2016.1157324.
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,1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
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.

Os conhecimentos do treinador esportivo têm sido analisados a partir da intervenção de treinadores experts, sob a perspectiva conceitual dos Models of Coach1313 Cushion C, Armour K, Jones R. Locating the coaching process in practice: models 'for' and 'of' coaching. Phys Educ Sport Pedag 2006;11(1):83-99. DOI:10.1080/17408980500466995.
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, que apresenta influências do paradigma investigativo do “pensamento e ação de professores” o qual contribuiu para o estabelecimento de um conjunto de conhecimentos de base para o ensino da Educação Física1414 Ramos V, Silva R, Brasil VZ, Vargas CR, Gutierres Filho PJB. Estudos sobre o pensamento do professor e a educação física: uma análise sinóptica. Pensar prát 2011;14(3):1-18. DOI:10.5216/rpp.v14i3.13584.
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e também relevantes implicações no estudo do conhecimento do treinador1515 Abraham A, Collins D, Martindale R. The coaching schematic: validation through expert coach consensus. J Sports Sci 2006;24(6):549-64. DOI:10.1080/02640410500189173.
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16 Côté J, Gilbert W. An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. Int J Sports Sci Coach 2009;4(3):307-23. DOI:10.1260/174795409789623892.
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-1717 Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVdo. Propostas conceituais a respeito do conhecimento profissional do treinador esportivo. J Phys Educ 2015;26(3):483-493. DOI:10.4025/reveducfis.v26i3.24225.
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. No contexto brasileiro, investigações com treinadores de diferentes modalidades1818 Ramos V, Brasil VZ, Goda C. O conhecimento pedagógico para o ensino do surf. J Phys Educ 2013;24(3):381-392. DOI: 10.4025/reveducfis.v24.3.18730.
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19 Mesquita I, Borges M, Rosado A, Souza Ad. Handball coaches' perceptions about the value of working competences according to their coaching background. J Sports Sci Med 2011;10(1):193-202.

20 Rodrigues J, Andrade R, Graça A, Mesquita I. Importance awarded to knowledge for coaching and self-perception of competence manifested by portuguese basketball coaches. Rev Psicol Deporte 2009;18:451-455.

21 Engerland EM, Nascimento JV, Both J. Nível de associação entre a importância atribuída e a competência percebida de treinadores esportivos. Pensar prát 2009;12(3):1-13. DOI:10.5216/rpp.v12i3.7621.
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-2222 Santos SFMd, Mesquita I, Graça A, Rosado AFB. What coaches value about coaching knowledge: a comparative study aqcross a range of domains. Int J Appl Sports Sci 2010;22(2):96-112. DOI: 10.24985/ijass.2010.22.2.96.
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têm evidenciado a valorização de conhecimentos específicos do esporte (técnica-tática), didático-pedagógicos, além de auxiliar na comunicação com os atletas. No paradesporto, embora se verifique escassa investigação sobre os conhecimentos de intervenção nessa área, alguns estudos44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
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,1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
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,2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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,2424 Wareham Y, Burkett B, Innes P, Lovell G. Coaching athletes with disability: preconceptions and reality. Sport Soc 2017;20(9):1185-1202. DOI:10.1080/17430437.2016.1269084.
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ressaltam a necessidade de o treinador criar um ambiente esportivo acessível e receptivo aos atletas, assim como estabelecer relações com eles, seus pais e outros profissionais envolvidos.

A proposta Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise1616 Côté J, Gilbert W. An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. Int J Sports Sci Coach 2009;4(3):307-23. DOI:10.1260/174795409789623892.
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indica três áreas do conhecimento, a saber: profissional, interpessoal e intrapessoal, que dão base à eficácia do treinador esportivo. Desta forma, enquanto o conhecimento profissional contempla os conhecimentos específicos do esporte, dos atletas, das ciências do esporte, da teoria e metodologia do treino, acompanhados de um conhecimento didático/procedimental, o interpessoal abrange conhecimentos para o treinador estabelecer relações sociais e o intrapessoal os conhecimentos do treinador sobre seus valores, filosofias e papéis, e também, para a reflexão acerca de sua própria prática. Além de auxiliar na definição de conhecimentos e competências indicados no Quadro de Referência Internacional para a Formação de Treinadores (versão 1.2), do International Council for Coaching Excellence (ICCE), a proposta tem potencial em orientar as práticas pedagógicas nos cursos de bacharelado em Educação Física no contexto brasileiro2525 Milistetd M, Galatti LR, Collet C, Tozetto AVB, Nascimento JV. Sports coach education: guidelines for the systematization of pedagogical prectices in bachelor program in physical education. J Phys Educ 2017;28(1): e2849. DOI:10.4025/jphyseduc.v28i1.2849.
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.

Embora haja evidências que contribuam para o estabelecimento de uma estrutura conceitual sobre os conhecimentos do treinador esportivo, inclusive no país1717 Brasil VZ, Ramos V, Nascimento JVdo. Propostas conceituais a respeito do conhecimento profissional do treinador esportivo. J Phys Educ 2015;26(3):483-493. DOI:10.4025/reveducfis.v26i3.24225.
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, verifica-se uma lacuna referente à constatação das semelhanças e especificidades dos conhecimentos do treinador de paradesporto44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,2626 Banack H, Sabiston C, Bloom G. Coach autonomy support, basic need satisfaction, and intrinsic motivation of paralympic athletes. Res Q Exerc Sport 2011;82(4):722-730. DOI:10.1080/02701367.2011.10599809.
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27 Taylor S, Werthner P, Culver D, Callary B. The importance of reflection for coaches in parasport. Reflective Practice 2015;16(2):269-284. DOI:10.1080/14623943.2015.1023274.
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-2828 Caron J, Bloom G, Loughead T, Hoffmann M. Paralympic athlete leaders' perceptions of leadership and cohesion. J Sport Behav 2016;39(3):219-238., em particular, do treinador de bocha paralímpica. Assim sendo, este estudo analisa os conhecimentos de treinadores de Bocha Paralímpica de Santa Catarina para sua intervenção profissional.

Métodos

Participantes

Adotou-se abordagem de pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo2929 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas; 2008., com procedimentos de estudo de casos múltiplos3030 Yin R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4.ed. Porto Alegre: Bookman; 2011.. Por meio de consulta à classificação geral das equipes de Bocha Paralímpica nos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (PARAJASC), identificaram-se os cinco treinadores das equipes melhores classificadas nessa competição, no período de 2010 a 2015, os quais foram consultados sobre os seguintes critérios de inclusão: a) estar atuando como treinador de Bocha Paralímpica; b) estar participando de competições oficiais no estado de Santa Catarina; c) ter experiência como treinador de Bocha Paralímpica; d) apresentar disponibilidade e motivação para participar do estudo. Destes, quatro foram selecionados (Tabela 1).

Tabela 1
Características dos treinadores de Bocha Paralímpica

Procedimentos

Para a obtenção dos dados, foram utilizados um roteiro estruturado com questões para caracterização dos treinadores (Tabela 1) e também, um roteiro de entrevista semiestruturada abrangendo perguntas sobre os conhecimentos dos treinadores de Bocha Paralímpica cujas questões norteadoras compreenderam: “Quais os conhecimentos você julga necessário para atuar como treinador de Bocha Paralímpica?”, “Você poderia indicar os papéis que você acredita exercer como treinador de Bocha Paralímpica?”; “Quais os conhecimentos sobre a Bocha Paralímpica você julga relevantes para sua intervenção? ”; “Quais os conhecimentos são importantes para o seu dia a dia de trabalho e para o convívio com outras pessoas neste contexto?”. Ambos os roteiros utilizados foram elaborados com base em estudo com treinadores de basquetebol3131 Ramos V. O treino de basquetebol na formação desportiva de jovens: Estudo do conhecimento pedagógico de treinadores [Tese de Doutorado em Ciências do Desporto]. Porto: Universidade do Porto; 2008. e na proposta do Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise1616 Côté J, Gilbert W. An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. Int J Sports Sci Coach 2009;4(3):307-23. DOI:10.1260/174795409789623892.
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.

As entrevistas foram realizadas pelo mesmo pesquisador, individualmente, com cada treinador em local e horário determinados conforme a disponibilidade de cada um deles. Durante as entrevistas, quando necessário, o pesquisador solicitou detalhes e realizou novos questionamentos, a partir das declarações dos treinadores. As informações foram captadas por meio de gravador digital Panasonic RR-US550 e armazenadas em microcomputador institucional e pessoal do pesquisador. As entrevistas tiveram a duração aproximada de 1 hora e 36 minutos. Os áudios foram transcritos literalmente, com o auxílio do editor de texto Microsoft Office Word e do programa Express Scribe Transcription.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de uma Universidade Pública (Parecer de nº. 2.339.580/2017). Os treinadores foram informados sobre os objetivos e os procedimentos da investigação, tendo assinado voluntariamente os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a gravação e a divulgação das informações. Para preservar o anonimato dos treinadores, utilizou-se a combinação de letras e números (T1, T2, T3 e T4) para identificá-los no texto.

Análise dos dados

A técnica da Análise de Conteúdo3232 Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2016. foi empregada no exame dos dados com o auxílio do programa QSR Nvivo (versão 11.0.). Na primeira etapa, organizaram-se as informações relativas às transcrições das entrevistas. Na segunda, as transcrições brutas foram codificadas em representações de conteúdo, mediante a identificação das unidades de significado que representavam as categorias de conhecimento previamente definidas (profissional, interpessoal e intrapessoal)1616 Côté J, Gilbert W. An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. Int J Sports Sci Coach 2009;4(3):307-23. DOI:10.1260/174795409789623892.
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. Ainda nessa etapa, um conjunto de dados codificados fez emergir subcategorias específicas em cada categoria de conhecimento. Na terceira, verificou-se a frequência das unidades de significado.

Para assegurar a garantia científica dos dados3333 Culver D, Gilbert W, Sparkes A. Qualitative research in sport psychology journals: the next decade 2000-2009 and beyond. Sport Psychol 2012;26(2):261-281. DOI:10.1123/tsp.26.2.261.
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, adotaram-se os seguintes procedimentos: checagem pelos participantes, que compreendeu a análise das transcrições das entrevistas pelos próprios treinadores para verificação se as descrições do investigador estavam de acordo com as descrições do pesquisador, em que todos confirmaram a exatidão dos dados. A checagem interpesquisador, realizada por investigadores com experiência no tema e em pesquisa qualitativa, que compararam suas interpretações a respeito dos dados, não havendo discordância entre as análises. E ainda, a checagem intrapesquisador que consistiu na análise de cada pesquisador sobre suas próprias descrições e interpretações dos dados.

Resultados

Os conhecimentos mencionados pelos treinadores de Bocha Paralímpica são apresentados na Figura 1 por meio de um Mapa Conceitual3434 Novak JD. Learning, creating, and using knowledge: concept maps as facilitative tools in schools and corporations. New York: Routledge; 2010., elaborado com o auxílio da ferramenta digital CmapTools3535 Institute for Human & Machine Cognition [Internet]. Cmap Tools software. [acesso em 17 nov. 2017]. Disponível em: https://cmap.ihmc.us/products/.
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.

Figura 1
Mapa conceitual dos conhecimentos dos treinadores de Bocha Paralímpica

No centro do mapa está o conceito geral “Conhecimentos dos treinadores de Bocha Paralímpica”, em seguida, encontram-se as áreas de conhecimentos segundo a proposta de Côté e Gilbert (2009), e na extremidade do mapa estão as subcategorias emergentes (frequência), advindas das declarações dos treinadores.

Conhecimento profissional

No que diz respeito aos conhecimentos sobre os atletas, os treinadores mencionaram os aspectos sociais e psicológicos (T1, T3 e T4), as implicações da deficiência no comportamento do atleta (T1, T2 e T3) e as condições físicas e capacidades funcionais (T1 e T2). O treinador T1 relatou que conhecer as características da vida do atleta é muito importante para compreender sua motivação e desempenho, pois:

[...] o principal é conhecer como eles se motivam, de como levantar a moral deles... às vezes, o cara joga bem, mas está com um problema familiar, não tem namorada... eu tenho que saber o que está acontecendo para entender a situação do jogo e conseguir ajudar ele.

Para T4 é relevante entender como seu atleta reage a determinadas circunstâncias do treino, de modo que é preciso “[...] compreender suas limitações e ter bastante cuidado de como ele reage diante de críticas ou sugestões... isso vai determinar até que ponto esse atleta vai avançar ou não... se ele é resistente às sugestões, ele não se abre para a modalidade [...]”. Com relação às situações e competições, T1 mencionou que precisa “[...] saber por que ele ganhou ou perdeu... essa questão psicológica de como eles funcionam para superar os seus limites, de aceitação, frustação [...]”.

Os conhecimentos acerca das implicações da deficiência no comportamento do atleta, segundo T2, compreendem “[...] conhecer o tipo da deficiência que ele tem, a característica histórica e pessoal dele [...]”. Esse entendimento parece influenciar na relação de T2 com os atletas, porque “[...] no momento que tu conheceste a deficiência, a característica histórica dele, tens uma conversa com ele, ele trouxe um diagnóstico, o restante vai vir, aí tu vais começar a agregar outras coisas”. De modo semelhante, T3 relatou que “[...] saber se ele é muito apressado, se em casa ele é comunicativo, extrovertido, ou se ele não gosta de brincadeira... isso faz eu tomar cuidado com o que eu falo com ele, para não perder ele”.

Quanto aos aspectos físicos e funcionais dos atletas, a perspectiva de T1 é de que: “[...] saber a funcionalidade e a questão física do atleta é fundamental para saber até que ponto você pode exigir dele um determinado movimento”. Na prática desse treinador, isso implica em questionar “[...] se o atleta domina a cadeira? Se ele tem amplitude legal para pegar uma bola? Equilíbrio? Se cai o tempo todo? Se tem sustentação?”. No caso de T2, esses conhecimentos são relevantes na escolha dos equipamentos para a prática, uma vez que:

[...] os equipamentos na Bocha são muito específicos. É diferente quando tu compras uma bola de futebol que é a mesma bola para todos... se você comprar uma bola que não é adequada para um BC3 ou BC4, você não vai tirar o melhor rendimento do teu atleta. Então, você tem que saber como ele vai funcionar para o teu atleta.

Dentre os objetivos estabelecidos para seus atletas, os treinadores investigados priorizam o desempenho esportivo (T1, T3 e T4), os valores humanos (T3 e T4) e o reconhecimento social dos atletas (T1 e T3). A ênfase no desempenho esportivo é estabelecida em vista do nível das competições e dos resultados que estabelecem para seus atletas, como comentou T3:

[...] são as competições em sequência, o regional sul da sequência para o brasileiro, brasileiro individual, brasileiro de pares e equipes. Então, a gente tem que traçar um objetivo... eles têm que ficar entre os três ou quatro primeiros conforme está no regulamento na questão de competição.

Os objetivos de desempenho necessitam estar de acordo com a classificação funcional de cada atleta, como mencionou T4, ao dizer que “[...] o objetivo para um BC1 é diferente do BC4... todos eles têm objetivos, de acordo com a competição ou a meta para o ano”. T1 relatou também que deseja que seu “[...] atleta seja campeão do circuito, mas tem que ser uma coisa natural”.

A ênfase no desenvolvimento de valores humanos está vinculada à vida social dos atletas, pois, conforme ressaltou T4, “[...] o objetivo é de formação do cidadão... eu não consigo ser simplesmente só uma treinadora, não tem como ser assim aqui, tem que ter um lado humano”. Já a disciplina, a responsabilidade e o respeito são alguns dos objetivos estabelecidos por T3 para seus atletas de iniciação à Bocha: “[...] em relação aos pequeninhos é de forma mais lúdica... eu posso cobrar é que eles tenham o mesmo compromisso de chegar no horário dos treinos, terem responsabilidade com os materiais, que eles sigam as instruções que eu passo”.

A busca de reconhecimento social dos atletas, para T1, é fazer com que “[...] a família acredite no filho deficiente, ver que ele é capaz de trazer uma medalha, um troféu... assim ele passa a ser reconhecido”. Além disso, T3 procura oportunizar aos seus atletas “[...] a socialização e a interação com outras pessoas e com outras deficiências” para “[...] tirar eles de dentro de casa, da ociosidade, de ficarem fechados em uma sala, num quarto, e vir para fora, mostrar que aquele cidadão que está sentado numa cadeira de rodas tem vida”.

Quanto à medicação dos atletas, os treinadores mencionaram os conhecimentos sobre os tipos de medicamento e seus efeitos (T1, T2, T3 e T4) e o dopping esportivo (T1, T2 e T3). O treinador T1 justificou a importância de conhecer os tipos de medicamento e, sobretudo, os efeitos de sua ingestão ou não, esclarecendo que “[...] o atleta que toma anticonvulsivo, antidepressivo, diurético, todo o seu organismo está trabalhando em função disso”. Para T3, dominar conhecimentos sobre os medicamentos e questões clínicas do atleta é uma forma de prevenção, porque “[...] em viagem com os atletas, eu preciso saber quem toma medicamento de uso contínuo... para que ele não venha ter alguma crise convulsiva [...]”.

Ao comentar sobre o dopping esportivo, T1 esclareceu que isso não é uma demanda exigida pelas entidades nacionais da Bocha Paralímpica e que eles não têm “[...] essa lógica do dopping”. No entanto, T4 relatou que esta é uma exigência nas competições de nível internacional, pois, nomeadamente, “[...] no Parapan juvenil tinha um atleta BC4 que tomava mais de nove comprimidos e o principal deles estava no dopping... aí foi toda aquela questão de mudar ou não a medicação, de verificar com o médico se vai mudar ou não”.

Com relação aos equipamentos para a prática de Bocha Paralímpica, os treinadores mencionaram os conhecimentos sobre a funcionalidade dos equipamentos (T1, T2, T3 e T4), a confecção dos equipamentos (T3) e o ambiente de jogo (T2). No que concerne à funcionalidade, T2 mencionou que a utilidade de cada equipamento depende da condição motora do atleta:

[...] se o atleta não tem uma alavanca legal, uma empunhadura legal, para poder soltar a bola, ele vai usar que tipo de capacete? Com uma ponteira só? Rígida ou a flexível? O que é mais fácil para ele? Só uma pontinha que vai bater na bola? Então, o equipamento tem que ser funcionar bem para o atleta.

Um aspecto ressaltado por T1 é que determinadas características dos equipamentos podem facilitar o desempenho dos atletas, pois quando “[...] você adequa para cada um, talvez a espessura do equipamento tenha que ser maior porque a pegada dele é diferente”, enquanto que, para o outro, “tem que ser menor porque ele não aguenta peso na cabeça [...]”. T2 acrescentou que se “[...] tiver equipamentos adequados, com certeza o atleta pode ser bom, se não vai chegar num ponto que ele vai estabilizar, porque tem alguma coisa que inibe, está desgastante para ele”. Em situações de competição, enquanto T4 mencionou que “[...] saber se os equipamentos estão bem adequados ao atleta é importante para definir as estratégias utilizadas para cada jogo, para cada jogador [...]”, T3 destacou a importância de se utilizar equipamentos que atendam às regras das competições, porque “[...] se chegar na competição e o atleta tiver que trocar de kit... aí não é o kit que ele treinou, ele vai ser prejudicado”.

Ao abordar os conhecimentos necessários para a construção de equipamentos, T3 relatou que “[...] é importante porque, uma cidade humilde onde eu tenho poucas condições financeiras para comprar o material, a gente tem que ir improvisando, mas para que ele tenha uma funcionalidade técnica [...]”. Além disso, conhecer as características e as circunstâncias que permeiam o ambiente de jogo foi mencionado por T2, ao argumentar que: “[...] quando você pega um dia que está muito quente ou frio com chuva, a bola é diferenciada, a textura vai mudar... o chão, as quadras de madeira, as quadras de cimento, também influenciam”.

No que concerne aos conhecimentos teóricos, T1 destaca que “[...] a Bocha não é uma modalidade diferente das outras, [pois] os princípios do treinamento são os mesmos, você tem que ver questões de valências físicas, periodicidade do treinamento [...]”. Para ele, há alguns fundamentos de iniciação esportiva que são úteis à sua prática, já que “[...] não tem um livro que fale sobre Bocha Paralímpica, mas eu vejo os fundamentos... o voleibol tem os exercícios de iniciação, eu uso isso e crio exercícios de iniciação da Bocha”. Esse mesmo treinador comentou também que é preciso “[...] ter conhecimento de matemática, de física, saber como usar isso na hora de preparar um equipamento”. Já no caso de T2, “[...] saber sobre biomecânica é fundamental para saber o que eu posso aprofundar e explorar... um pouco mais de força, de amplitude”. Nestas circunstâncias, “explorar”, segundo T2, significa “[...] se ele trabalhar com o cotovelo mais semiflexionado vai ganhar mais força, se ele abrir mais ele vai ganhar menos, então, é todo um trabalho das alavancas [...]”.

Conhecimento interpessoal

Quanto aos conhecimentos para estabelecer relações interpessoais, os treinadores mencionaram as relações com profissionais e entidades fora do contexto de treino (T1, T2, T3 e T4), profissionais envolvidos no treino (T1, T2 e T3) e os pais dos atletas (T2 e T4). O treinador T2 comentou a necessidade de estabelecer relações com profissionais de outras áreas para acompanhar os atletas em atividades fora do ambiente de treino, porque “[...] eles têm a natação, fisioterapia, psicologia, que eles fazem fora [...]”, o que também foi relatado por T3, quando menciona “[...] as parcerias com a universidade na parte de fisioterapia e a parte de equoterapia [...]”. Esse tipo de relação auxilia na intervenção do próprio treinador e na dos outros profissionais envolvidos, conforme mencionou T4:

[...] eu tento fazer um trabalho em equipe... uma fisio direcionada, não adianta fazer só um clínico, porque nem eles gostam...aí eu converso com a psicóloga, eu levo para ela o que eu sei, para que elas saibam o que está acontecendo, que me ajudem e que depois eu possa tratar direto com os atletas [...].

Há a necessidade de dominar conhecimentos para interagir e se comunicar com outros profissionais, especialmente para T1 na construção dos equipamentos, porque “[...] tu encontras um serralheiro, mas de repente ele não tem a capacidade criativa de fazer um equipamento, de te dar uma ideia, de discutir contigo como é que funciona [...]”.

Sobre as relações profissionais em situações de treinamento e competição, T3 destacou as interações “[...] com os próprios staffs dos BC3 e BC1 e os estagiários que vêm no horário da manhã... a relação com eles é boa, é uma troca também [...]”. T2 mencionou a importância de conversar com os auxiliares durante os treinamentos, porque, “[...] quando as coisas não estão indo certo a gente conversa, discute... como foi hoje? Como foi de manhã? Então, a gente tem essa troca [...]”. Um aspecto positivo das relações com os auxiliares é estabelecer maior coerência nas orientações fornecidas aos atletas, conforme T1 comentou:

[...] uma coisa que é legal no treino é que tu vais ali e fala uma coisa para o atleta e no outro dia você não está lá e um outro colega fala a mesma coisa...isso mostra para o atleta que nós observamos aquilo. Então, quando eles veem que outra pessoa também veio dar o mesmo toque, aí a consciência é maior, o valor da informação é maior.

Alguns treinadores investigados também mencionaram as relações com os pais nas sessões de treino, principalmente pela falta de autonomia dos atletas (T2) e pela necessidade de buscar maior consenso com os pais sobre a implicação das orientações fornecidas nas decisões dos próprios atletas (T4). Desta forma, enquanto T2 relatou que quando “[...] os pais chegam, eu já digo para pegarem todo equipamento, fazer um aquecimento... eles já direcionam cada atleta no seu box [...]”, T4 comentou que “[...] eu mostro para os pais que temos que caminhar juntos para a gente se ajudar...senão, eu falo uma coisa no treino, e chega em casa, o pai manda fazer outra, aí o atleta vai fazer o que o pai falou”.

Conhecimento intrapessoal

Os treinadores relataram assumir frequentemente os papéis de amigo (T1, T2, T3 e T4), de psicólogo (T1, T2, T3 e T4) e de familiar (T1, T3 e T4). O papel de amigo emerge dos relacionamentos estabelecidos com seus atletas em situações para além do contexto de treinamento da Bocha, conforme destacou T2, ao dizer que “[...] além da função de treinador, você tem que ser esse outro lado, porque a gente vê a dificuldade que eles têm, as suas limitações”. Já T1 comentou que se percebe como amigo de seus atletas quando “[...] eu tenho que escutar o cara, porque levou um fora de alguém, levou um ponta pé no facebook”. Para T4, esse papel se concretiza na relação de confiança com seus atletas, influenciando em sua motivação e engajamento nos treinamentos, porque “[...] primeiro tu tem que conquistar eles, ser amiga deles, muitas vezes eles querem parar... aí eu converso sobre o que que está acontecendo”.

Sobre o papel de psicólogo, T3 mencionou que “[...] eu sou um psicólogo para os próprios pais e mães que chegam com dificuldades de casa e eu procuro auxiliar”. De modo similar, T1 relatou que “[...] eu tenho que ser bastante psicólogo, porque trabalho com famílias, não só com o atleta... quando é com BC3 e BC1 têm ainda os auxiliares ou os assistentes”. T4, por sua vez, ressaltou que “[...] nós temos que passar por psicólogos, porque para mim é terrível quando eles perdem e você fica sem entender onde falhou, porque falhou e o que faltou”.

Quanto ao papel de membro familiar, T1 comentou a necessidade emergente de auxiliar seus atletas em tarefas cotidianas:

[...] o Gustavo é um menino que quando a gente leva para competições tem que dar banho, fazer a higienização dele. Então, eu assumo o papel da família. Isso acontece na Bocha em específico, o nosso público é muito específico, muito carente em termos de condições motoras. Então, eu tenho que apoiar e ajudar de qualquer forma.

A preocupação de assumir esse papel está associada ao comprometimento pessoal de T3 ao seu contexto de intervenção, porque acredita que “[...] aqui é a extensão da minha família, a mesma responsabilidade que eu tenho para manter organizada a minha família e procurar dar uma estrutura [...]”. No caso de T4, ver-se como familiar concretiza-se em situações que “[...] o atleta já chega brabo... eu tenho que investigar o que está acontecendo... perguntar, conversar, aí eu vou agir como uma mãezona, chamando a atenção mesmo [...]”.

Discussão

As evidências destacaram os conhecimentos profissionais acerca das características dos atletas, dos medicamentos e da funcionalidade dos equipamentos utilizados. Destacaram-se também os conhecimentos interpessoais para estabelecer relações com profissionais e entidades ligadas à sua intervenção e os conhecimentos intrapessoais para exercer os papéis de amigo, psicólogo e familiar dos atletas. A similaridade desses achados com os de treinadores de modalidades convencionais se dá na valorização dos conhecimentos para auxiliar os atletas no alcance de objetivos, desenvolver habilidades esportivas, motivar e fornecer instrução efetiva1515 Abraham A, Collins D, Martindale R. The coaching schematic: validation through expert coach consensus. J Sports Sci 2006;24(6):549-64. DOI:10.1080/02640410500189173.
https://doi.org/10.1080/0264041050018917...
,1818 Ramos V, Brasil VZ, Goda C. O conhecimento pedagógico para o ensino do surf. J Phys Educ 2013;24(3):381-392. DOI: 10.4025/reveducfis.v24.3.18730.
https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.3...
,2222 Santos SFMd, Mesquita I, Graça A, Rosado AFB. What coaches value about coaching knowledge: a comparative study aqcross a range of domains. Int J Appl Sports Sci 2010;22(2):96-112. DOI: 10.24985/ijass.2010.22.2.96.
https://doi.org/10.24985/ijass.2010.22.2...
,3636 Blumenstein B, Orbach I, Bar-Eli M, Dreshman R, Weinstein Y. High-level coaches' perceptions of their professional knowledge, skills, and characteristics. Sport Sci Rev 2012;21(5-6):5-27. DOI:10.2478/v10237-012-0016-4.
https://doi.org/10.2478/v10237-012-0016-...
. Os conhecimentos sobre a deficiência e a medicação dos atletas, bem como para estabelecer vínculos de confiança em um contexto de intervenção multidisciplinar, compreendem algumas das demandas adicionais mencionadas pelos treinadores de Bocha, igualmente verificadas em estudos com treinadores de outras modalidades paradesportivas33 Depauw KP, Gavron SJ. Disability sport. 2.ed. Champaign: Human Kinetics; 2005.

4 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
https://doi.org/10.1080/02701367.2007.10...
-55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
https://doi.org/10.5507/euj.2014.007...
,1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
https://doi.org/10.1080/2159676X.2012.68...
,2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
https://doi.org/10.1123/apaq.2014-0122...
,2424 Wareham Y, Burkett B, Innes P, Lovell G. Coaching athletes with disability: preconceptions and reality. Sport Soc 2017;20(9):1185-1202. DOI:10.1080/17430437.2016.1269084.
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.

Os conhecimentos profissionais sobre as características pessoais, a trajetória de vida e os tipos de medicação utilizados pelos atletas possibilitam aos treinadores uma compreensão detalhada para lidar e se relacionar com eles, e para entender suas reações no desempenho esportivo e ao receber instruções de treinamento. De fato, o tipo de deficiência e as características, necessidades e preferências de cada atleta são determinantes na abordagem adotada pelos treinadores44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
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. No caso de alguns treinadores de paradesporto, a ausência de experiência prévia com indivíduos portadores de deficiência pode justificar a importância atribuída a esses conhecimentos55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
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.

O desempenho esportivo, o reconhecimento social e o desenvolvimento de valores humanos são metas enfatizadas pelos treinadores investigados, as quais podem ser facilitadas a partir da compreensão das especificidades e funcionalidades dos equipamentos utilizados. Treinadores de natação paralímpica44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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e de outras modalidades paradesportivas2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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destacam os objetivos em função do potencial esportivo dos atletas, da criação de um ambiente de treinamento receptivo e da priorização da autonomia dos atletas.

A capacidade para a adequação dos objetivos de treinamento é fundamental aos treinadores paradesportivos para o desenvolvimento de aspectos psicossociais44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
https://doi.org/10.5507/euj.2014.007...
,1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
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,2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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, tais como os mencionados pelos treinadores de Bocha (motivação, disciplina, comprometimento e superação), que geram, além disso, implicações nas percepções de boa saúde, controle da dor e na manutenção da funcionalidade corporal dos atletas1212 Tawse H, Bloom G, Sabiston C, Reid G. The role of coaches of wheelchair rugby in the development of athletes with a spinal cord injury. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):206-225. DOI:10.1080/2159676X.2012.685104.
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,2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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. Destaca-se ainda que princípios gerais de treinamento e iniciação esportiva, assim como de biomecânica, física e matemática, auxiliam alguns dos treinadores de Bocha a compreender o desempenho esportivo dos atletas1515 Abraham A, Collins D, Martindale R. The coaching schematic: validation through expert coach consensus. J Sports Sci 2006;24(6):549-64. DOI:10.1080/02640410500189173.
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,2222 Santos SFMd, Mesquita I, Graça A, Rosado AFB. What coaches value about coaching knowledge: a comparative study aqcross a range of domains. Int J Appl Sports Sci 2010;22(2):96-112. DOI: 10.24985/ijass.2010.22.2.96.
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,3737 Demers G, Woodburn A, Savard C. The development of an undergraduate competency-based coach education program. Sport Psychol 2006;20(2):162-173. DOI:10.1123/tsp.20.2.162.
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e como eles aprendem de modo efetivo1818 Ramos V, Brasil VZ, Goda C. O conhecimento pedagógico para o ensino do surf. J Phys Educ 2013;24(3):381-392. DOI: 10.4025/reveducfis.v24.3.18730.
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, e também, a construir equipamentos adequados à deficiência de cada um deles.

Com relação aos conhecimentos interpessoais, a condição de deficiência dos atletas exige dos treinadores a capacidade de estabelecer uma rede de trabalho com outros profissionais, tanto para atender às necessidades do atleta quanto para auxiliar na intervenção de cada profissional envolvido. Nesse contexto multidisciplinar de intervenção, o treinador paradesportivo, ao estabelecer relações de confiança com outros profissionais (terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo e nutricionista), assume o papel de mediador das relações desses profissionais com o atleta e com os pais44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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. De fato, isso favorece o desenvolvimento integral dos atletas, permitindo ao treinador uma compreensão abrangente acerca deles e da família2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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.

No ambiente de treinamento, as relações dos treinadores de Bocha com os staffs, estagiários e demais auxiliares proporcionam maior efetividade nas instruções fornecidas aos atletas e no redirecionamento das estratégias de treinamento, conforme verificado em estudos anteriores44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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. A falta de autonomia dos atletas para se comunicar, deslocar e estabelecer relações sociais exige dos treinadores de Bocha uma relação mais direta com os pais dos atletas. Apesar de apontarem determinada interferência nas instruções fornecidas aos atletas, reconhecem a confiança e auxílio deles no dia a dia dos treinamentos, tal como apontam outros estudos66 McMaster S, Culver D, Werthner P. Coaches of athletes with a physical disability: a look at their learning experiences. Qual Res Sport Exerc Health 2012;4(2):226-43. DOI:10.1080/2159676X.2012.686060.
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,2424 Wareham Y, Burkett B, Innes P, Lovell G. Coaching athletes with disability: preconceptions and reality. Sport Soc 2017;20(9):1185-1202. DOI:10.1080/17430437.2016.1269084.
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, o que permite ao treinador capturar a especificidade das necessidades dos atletas. De fato, os atletas, seus pais e demais profissionais envolvidos compreendem importantes fontes de conhecimento aos treinadores no intuito de auxiliar seus atletas a alcançarem autonomia de vida e sucesso no esporte44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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.

Quanto aos conhecimentos intrapessoais, os resultados destacaram que o convívio próximo dos treinadores com os atletas em situações de treinamento e viagens para competições, bem como o envolvimento em aspectos pessoais dos atletas, fortalecem os laços de amizade. Estudos indicam que o suporte social do treinador contribui para que os atletas atinjam um forte senso de identificação com a modalidade que praticam2626 Banack H, Sabiston C, Bloom G. Coach autonomy support, basic need satisfaction, and intrinsic motivation of paralympic athletes. Res Q Exerc Sport 2011;82(4):722-730. DOI:10.1080/02701367.2011.10599809.
https://doi.org/10.1080/02701367.2011.10...
, níveis mais elevados de motivação intrínseca e uma maior satisfação com seu próprio desempenho esportivo3838 Hatamleh MR, Ruz HA-HA, Hindawi OS. Coach's leadership behavior as a predictor of satisfaction with leadership: perceptions of athletes with physical disabilities. Int J Appl Educ Stud 2009;4(1):14-33.. Particularmente, a confiança, o respeito, a afinidade, as expectativas, os valores e os objetivos compartilhados, mencionados pelos treinadores de Bocha, dando sentido ao papel de amigo assumido por eles, foram igualmente verificados no convívio de treinadores paradesportivos de rúgbi com seus atletas2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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.

O papel de psicólogo, na percepção de alguns treinadores, parece emergir da complexidade do contexto de intervenção, envolvendo os atletas, os pais e os auxiliares. O uso de medicamentos, a falta de acessibilidade e as dificuldades de interagir com outros indivíduos compreendem desafios adicionais à rotina dos atletas paralímpicos2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
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, podendo resultar na tensão psicológica e emocional de todos os indivíduos envolvidos no processo de treino3838 Hatamleh MR, Ruz HA-HA, Hindawi OS. Coach's leadership behavior as a predictor of satisfaction with leadership: perceptions of athletes with physical disabilities. Int J Appl Educ Stud 2009;4(1):14-33.. O elevado comprometimento com a intervenção - auxílio que se estende, inclusive, a situações de higiene pessoal, deslocamento e alimentação −, desperta em alguns treinadores de Bocha a identificação familiar com os atletas. Por certo, o envolvimento do treinador em situações para além do ambiente de treino55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
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, em viagens para competições e em atividades sociais com os atletas, é uma particularidade da intervenção profissional no paradesporto2323 Falcao WR, Bloom GA, Loughead TM. Coaches' perceptions of team cohesion in paralympic sports. Adapt Phys Activ 2015;32(3):206-222. DOI:10.1123/apaq.2014-0122.
https://doi.org/10.1123/apaq.2014-0122...
.

O elevado grau de deficiência dos atletas de Bocha parece justificar a ausência de menção pelos treinadores de conhecimentos específicos sobre a bocha e pedagógicos para ensinar essa modalidade, e por outro lado, a centralidade de conhecimentos sobre os atletas. De fato, o grau elevado de deficiência do atleta exige do treinador uma intervenção mais individualizada44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
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,55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
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. Os conhecimentos para relacionar-se com os atletas não foram mencionados pelos treinadores investigados, embora tenham priorizado a proximidade, a confiança e a familiaridade com os mesmos.

Apesar de o conhecimento profissional representar um corpo de conhecimentos típicos do treinador esportivo, a qualidade de sua intervenção se fundamenta também em sua capacidade de introspecção e revisão dos papéis assumidos, nas estratégias desenvolvidas e em sua abordagem de intervenção. E, além disso, em sua competência para estabelecer relações sociais1616 Côté J, Gilbert W. An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. Int J Sports Sci Coach 2009;4(3):307-23. DOI:10.1260/174795409789623892.
https://doi.org/10.1260/1747954097896238...
, que são a essência da intervenção do treinador esportivo11 Bowes I, Jones R. Working at the edge of chaos: understanding coaching as a complex, interpersonal system. Sport Psychol 2006;20(2):235-45. DOI:10.1123/tsp.20.2.235.
https://doi.org/10.1123/tsp.20.2.235...
,22 Jones R, Edwards C, Viotto Filho I. Activity theory, complexity and sports coaching: an epistemology for a discipline. Sport Educ Soc 2014;21(2):200-16. DOI:10.1080/13573322.2014.895713.
https://doi.org/10.1080/13573322.2014.89...
e que, no caso dos treinadores de Bocha, indicam uma complexidade adicional3939 Turnnidge J, Vierimaa M, Coté J. An in-depth investigation of a model sport program for athletes with a physical disability. Psyc 2012;3(12):1131-1141. DOI:10.4236/psych.2012.312A167.
https://doi.org/10.4236/psych.2012.312A1...
.

A compreensão das nuances das deficiências de seus atletas, lidar com problemas de acessibilidade e logística, bem como considerar os estados psicológicos de seus atletas (satisfação, motivação e confiança) são alguns dos aspectos determinantes na eficácia do treinador de paradesporto55 Martin JJ, Whalen L. Effective practices of coaching disability sport. Eur J Adapt Phys Activ 2014;7(2):13-23. DOI:10.5507/euj.2014.007.
https://doi.org/10.5507/euj.2014.007...
. De fato, há a necessidade de explorar as concepções dos treinadores a respeito do treinamento paradesportivo e as consequências disso em suas abordagens de intervenção e desenvolvimento profissional88 Townsend RC, Smith B, Cushion CJ. Disability sports coaching: towards a critical understanding. Sports Coach Rev 2015;4(2):80-98. DOI:10.1080/21640629.2016.1157324.
https://doi.org/10.1080/21640629.2016.11...
. Suas perspectivas individuais sobre deficiência e treinamento são balizadores de sua filosofia, ações, do que prioriza para seus atletas, e também dos conhecimentos que valorizam para a intervenção44 Cregan K, Bloom G, Reid G. Career evolution and knowledge of elite coaches of swimmers with a physical disability. Res Quart Exerc Sport 2007;78(4):339-50. DOI:10.1080/02701367.2007.10599431.
https://doi.org/10.1080/02701367.2007.10...
.

Conclusões

A partir dos resultados, conclui-se que os treinadores valorizaram um conjunto variado de conhecimentos para a sua intervenção. Os conhecimentos profissionais acerca das características dos atletas, dos medicamentos e da funcionalidade dos equipamentos utilizados para a prática Bocha Paralímpica, auxiliam os treinadores a alcançar uma compreensão detalhada sobre seu atleta, com implicações em suas estratégias de treino, bem como na motivação dos atletas. Os conhecimentos interpessoais para estabelecer relações com staffs, auxiliares, pais e demais profissionais, contribuem para que os treinadores promovam um ambiente de treinamento familiar e de confiança para os atletas favorecendo ao engajamento dos mesmos nas atividades de treino. A indicação dos papéis de amigo e psicólogo, impulsionados pela proximidade e confiança entre os treinadores e seus atletas, representa o conhecimento intrapessoal desses profissionais fundamentais ao comprometimento e responsabilidades assumidas por estes treinadores. De fato, a valorização de tais conhecimentos, no caso desses treinadores, é balizada pelo elevado grau de deficiência dos atletas, bem como pelas circunstâncias que permeiam o contexto de treinamento da Bocha Paralímpica.

O estudo limitou-se a analisar os conhecimentos declarativos dos treinadores, não contemplando o modo como esses conhecimentos são operacionalizados na prática (conhecimento tácito). Além disso, os conhecimentos mencionados pelos treinadores não foram analisados em função das classes (BC1 à BC2) de seus atletas, podendo, assim, ter limitado a identificação de alguma especificidade dos conhecimentos declarados pelos treinadores. Sugere-se a realização de investigações que combinem procedimentos de observação e entrevista para obter evidências sobre como os conhecimentos desses treinadores são operacionalizados na prática e quais suas justificativas pessoais para a escolha de tais procedimentos. No caso da Bocha Paralímpica, a análise contextual da interação dos treinadores com os atletas, pais e demais profissionais e as estratégias de ensino/treino empregadas nessa modalidade são aspectos a serem investigados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    12 Maio 2018
  • Revisado
    26 Out 2018
  • Aceito
    25 Dez 2018
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