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Avaliação do autocuidado com os pés entre pacientes portadores de diabetes melito

Resumo

Contexto

O pé diabético é uma complicação do diabetes melito (DM), sendo a maior causa de amputação dos membros inferiores.

Objetivos

Avaliar a prática de medidas de autocuidado com os pés, segundo sexo e escolaridade, em pacientes portadores de DM na região nordeste no estado da Bahia.

Métodos

Estudo quantitativo, observacional, analítico, transversal, realizado com 88 pacientes portadores de DM, em consulta de rotina, de fevereiro a março de 2020. A coleta de dados foi executada através da aplicação de questionários socioeconômico e do autocuidado com os pés (conhecimento sobre pé diabético, hábitos de cuidado/inspeção dos pés e procura pela Unidade de Saúde na presença de alterações com a saúde dos pés).

Resultados

Do total, 58% dos indivíduos desconhecia o termo “pé diabético”, porém possuíam cuidados mínimos adequados com os pés, como inspecioná-los (60,2%), hidratá-los (65,9%), não andar descalço (81,8%) e cortar as unhas (92%), apesar de 90,9% não utilizar sapatos considerados adequados. Houve relação entre menor nível de escolaridade e pior desempenho nas questões referentes a andar descalço, hidratar os pés, cortar as unhas, usar calçados adequados e identificar micoses (p < 0,05), porém não houve associação da realização das medidas de autocuidado e sexo.

Conclusão

Os portadores de DM entrevistados não realizaram todas as medidas de autocuidado com os pés e desconheciam o termo “pé diabético”. Houve associação entre menor escolaridade e menor capacidade de realização dessas medidas, o que sugere que o letramento em saúde seria importante para melhoria desse autocuidado, contribuindo para diminuição de complicações e amputações dos pés.

Palavras-chave:
diabetes melito; pé diabético; autocuidado; educação em saúde

Abstract

Background

The diabetic foot is a complication of diabetes mellitus (DM) and is the most common cause of lower limb amputation.

Objectives

To assess foot self-care practices by sex and educational level in DM patients from the Northeast of Brazil, state of Bahia.

Methods

This was a quantitative, cross-sectional, observational, analytical study with 88 DM patients seen at routine consultations from February to March of 2020. Data were collected using questionnaires on socioeconomic data and self-care of feet (knowledge about the diabetic foot, habits related to care/inspection of feet, and visits to the Healthcare Center when changes to foot health are detected).

Results

58% of the sample did not know the term “diabetic foot”, but a majority did perform minimum adequate foot care practices, such as inspecting feet (60.2%), moisturizing feet (65.9%), avoiding walking barefoot (81.8%), and trimming toenails (92%), although 90.9% did not wear footwear considered appropriate. There was a relationship between lower educational level and worse performance in questions relating to walking barefoot, moisturizing feet, trimming toenails, wearing appropriate footwear, and identifying mycoses (p < 0.05), but there was no association between performing self-care activities and sex.

Conclusions

Interviewed patientswith DM did not perform all foot self-care activities and did not know what the term “diabetic foot” means. There was an association between lower educational level and reduced capacity to perform these activities, which suggests that health literacy is important to improve self-care of feet, contributing to reduce complications and foot amputations.

Keywords:
diabetes mellitus; diabetic foot; self-care; health education

INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas um dos maiores desafios da saúde pública mundial, responsáveis por cerca de 38 milhões de óbitos anualmente, ou seja, 70% das mortes no mundo. No Brasil, 56,9% das mortes ocorridas no ano de 2017 foram em razão das DCNT11 Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Panorama da vigilância de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, 2018. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2019.,22 Confortin SC, Andrade SR, Draeger VM, Meneghini V, Schneider IJC, Barbosa AR. Premature mortality caused by the main chronic noncommunicable diseases in the Brazilian states. Rev Bras Enferm. 2019;72(6):1588-94. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0701. PMid:31644748.
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.

O diabetes melito (DM), caracterizado por quadro de hiperglicemia persistente, é uma das DCNT mais prevalentes33 Hai AA, Iftikhar S, Latif S, Herekar F, Patel MJ. Diabetes self-care activities and their relation with glycemic control in patients presenting to The Indus Hospital, Karachi. Cureus. 2019;11(12):e6297. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.6297. PMid:31938590.
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,44 Tripathy JP, Sagili KD, Kathirvel S, et al. Diabetes care in public health facilities in India: a situational analysis using a mixed methods approach. Diabetes Metab Syndr Obes. 2019;12:1189-99. http://dx.doi.org/10.2147/DMSO.S192336. PMid:31410044.
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. As duas principais classificações da doença correspondem ao DM tipo 1, associado a fatores autoimunes, e o DM tipo 2, correlacionado com a resistência periférica à insulina e com a insuficiência gradual das células beta pancreáticas55 Göke B. Die behandlung des diabetes mellitus: mythen und evidenz. Bundesgesundheitsbl. 2020;63(5):512-20. http://dx.doi.org/10.1007/s00103-020-03124-9. PMid:32211938.
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.

A ausência de controle glicêmico adequado ocasiona diversas complicações de caráter agudo (hipoglicemia, estado hiperglicêmico hiperosmolar e cetoacidose diabética) e também de condição crônica (pé diabético, retinopatia, cardiopatia, nefropatia, neuropatias, doença cerebrovascular e vascular periférica)66 Cortez DN, Reis IA, Souza DAS, Macedo MML, Torres HC. Complicações e o tempo de diagnóstico do diabetes mellitus na atenção primária. Acta Paul Enferm. 2015;28(3):250-5. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201500042.
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, sendo o pé diabético uma das principais complicações do DM e uma importante causa de morbidade que pode ser evitada com medidas de educação em saúde que estimulem o autocuidado com os pés77 Karadağ FY, Saltoğlu N, Ak Ö, et al. Foot self-care in diabetes mellitus: evaluation of patient awareness. Prim Care Diabetes. 2019;13(6):515-20. http://dx.doi.org/10.1016/j.pcd.2019.06.003. PMid:31307915.
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.

O pé diabético é definido como infecções, ulcerações e/ou destruição dos tecidos profundos, associados a anormalidades neurológicas, vários graus de doença vascular periférica nos membros inferiores e controle glicêmico deficiente77 Karadağ FY, Saltoğlu N, Ak Ö, et al. Foot self-care in diabetes mellitus: evaluation of patient awareness. Prim Care Diabetes. 2019;13(6):515-20. http://dx.doi.org/10.1016/j.pcd.2019.06.003. PMid:31307915.
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,88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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. O risco do paciente portador de DM de desenvolver úlcera nos pés gira em torno de 25%, com taxa de mortalidade após quadro de ulceração de 43 a 55% após 5 anos do acontecimento77 Karadağ FY, Saltoğlu N, Ak Ö, et al. Foot self-care in diabetes mellitus: evaluation of patient awareness. Prim Care Diabetes. 2019;13(6):515-20. http://dx.doi.org/10.1016/j.pcd.2019.06.003. PMid:31307915.
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,88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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.

O pé diabético possui aspecto mutilador e constitui a maior causa de amputação não traumática em membros inferiores, principalmente associado com osteomielite e infecção da ferida88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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. No Brasil, entre 2011 e 2016, ocorreram 102.056 cirurgias de amputação pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 94% do membro inferior, 70% em pacientes com DM e 85% antecedidas de úlcera não evitada99 Santos KPB, Luz SCT, Mochizuki L, d’Orsi E. Carga da doença para as amputações de membros inferiores atribuíveis ao diabetes mellitus no Estado de Santa Catarina, Brasil, 2008-2013. Cad Saude Publica. 2018;34(1):e00013116. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00013116. PMid:29412312.
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,1010 Lucoveis MLS, Gamba MA, Paula MAB, Morita ABPS. Degree of risk for foot ulcer due to diabetes: nursing assessment. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3041-7. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0189. PMid:30517410.
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. O pé diabético gera consequências drásticas para o paciente, pois ocasiona baixa qualidade de vida1111 Pereira MG, Pedras S, Ferreira G. Self-reported adherence to foot care in type 2 diabetes patients: do illness representations and distress matter? Prim Health Care Res Dev. 2018;20:e40. http://dx.doi.org/10.1017/S1463423618000531. PMid:30095065.
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12 Messenger G, Taha N, Sabau S, AlHubail A, Aldibbiat AM. Is there a role for informal caregivers in the management of diabetic foot ulcers? A narrative review. Diabetes Ther. 2019;10(6):2025-33. http://dx.doi.org/10.1007/s13300-019-00694-z. PMid:31559530.
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13 van Netten JJ, Price PE, Lavery L, et al. Prevention of foot ulcers in the at‐risk patient with diabetes: a systematic review. Diabetes Metab Res Rev. 2016;32(Suppl.1):84-98. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.2701. PMid:26340966.
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-1414 van Netten JJ, Sacco IC, Lavery LA, et al. Treatment of modifiable risk factors for foot ulceration in persons with diabetes: a systematic review. Diabetes Metab Res Rev. 2020;36(S1, Suppl.1):e3271. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.3271. PMid:31957306.
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.

Verifica-se que o pé diabético associa-se com gastos no sistema de saúde, relacionados essencialmente com internação e amputação1515 Carlesso GP, Gonçalves MHB, Moreschi D Jr. Evaluation of diabetic patients’ knowledge about preventive care of the diabetic foot, in Maringá, PR, Brazil. J Vasc Bras. 2017;16(2):113-8. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.006416. PMid:29930635.
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. A presença de úlcera nos pés representa 15% do custo total estimado de DM nos países desenvolvidos e 40% dos gastos nos países em desenvolvimento1616 Solan YM, Kheir HM, Mahfouz MS, et al. Diabetic foot care: knowledge and practice. J Endocrinol Metab. 2016;6(6):172-7. http://dx.doi.org/10.14740/jem388e.
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; entretanto, as complicações do pé diabético caracterizam-se por serem altamente evitáveis com a prática regular do autocuidado proveniente de uma educação em saúde que conscientiza os indivíduos acerca das complicações do pé diabético1717 Singh S, Jajoo S, Shukla S, Acharya S. Educating patients of diabetes mellitus for diabetic foot care. J Family Med Prim Care. 2020;9(1):367-73. http://dx.doi.org/10.4103/jfmpc.jfmpc_861_19. PMid:32110620.
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.

A prática habitual do autocuidado é fundamental para prevenir e/ou detectar precocemente lesões que podem levar a ulceração, sendo a forma mais econômica para gerar saúde88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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. O cuidado com o pé diabético é um dos pilares do autocuidado no DM1818 Rezende DS Na, Silva ARV, Silva GRF. Adherence to foot self-care in diabetes mellitus patients. Rev Bras Enferm. 2015;68(1):103-8, 111-6. PMid:25946502., e, por isso, são necessários treinamentos educativos de autocuidado com os pés, principalmente na atenção primária à saúde (APS)88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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. Portanto, este estudo objetiva avaliar a prática de medidas de autocuidado com os pés, segundo sexo e escolaridade, em portadores de DM.

MÉTODOS

Tratou-se de estudo quantitativo, observacional, analítico e transversal realizado no município de Paulo Afonso, no estado da Bahia, com pacientes portadores de DM atendidos pelo SUS e selecionados por amostragem a esmo, não probabilística, ou seja, por conveniência. A coleta de dados foi tipo sala de espera, realizada com pacientes em consulta médica de rotina, desenvolvida semanalmente no Centro de Especialidades Médicas do município no período de fevereiro a março de 2020.

A cidade de Paulo Afonso é localizada na região nordeste do Brasil e conta com um número estimado de 118.516 habitantes, o salário médio mensal dos trabalhadores formais é de 2,2 salários-mínimos, e 43,6% da população tem rendimento per capita de até 0,5 salário-mínimo. O município conta com taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade de 96,4% e rede de serviços de saúde estruturada com todos os níveis de atenção1919 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Panorama das cidades brasileiras: Paulo Afonso/Bahia [Internet]. 2020. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [atualizado 2019; citado 2020 ago 21]. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/paulo-afonso/panorama
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/pa...
.

Os indivíduos foram selecionados para a pesquisa seguindo-se os critérios de inclusão de ter idade igual ou superior a 18 anos, ser portador de DM e ser usuário cadastrado da atenção básica do município. Os critérios de exclusão foram a presença de distúrbios do sistema neurológico ou de audição deficientes que impedissem os indivíduos de responderem aos questionários.

Os pacientes foram convocados durante o tempo de espera antes da consulta médica, priorizando os últimos indivíduos da fila de espera, para otimizar o tempo e incentivar a adesão à pesquisa. Não foi feito o registro de perdas e recusas.

O desfecho consistiu no conhecimento/realização das medidas de autocuidado com os pés. As variáveis independentes foram sexo (masculino; feminino); escolaridade (ensino fundamental; ensino médio; ensino superior completo ou incompleto); e acesso ao serviço privado de saúde (sim; não).

As entrevistas foram realizadas por uma das pesquisadoras do estudo, previamente treinada, e ocorreram em lugar reservado, na sala de espera, para garantir sigilo aos pacientes. A duração foi de 30 minutos para cada entrevistado. Após a aplicação dos questionários, foram realizadas orientações em saúde e entrega de panfletos sobre o autocuidado com o pé diabético.

Foram realizadas entrevistas com a aplicação de questionários distintos para avaliar as seguintes variáveis:

  1. a

    Sociodemográficas (elaborado pelos pesquisadores do estudo); e

  2. b

    Autocuidado com o pé diabético (elaborado pelos pesquisadores do estudo).

O questionário para o autocuidado com o pé diabético avalia medidas de autocuidado, com perguntas relacionadas ao conhecimento sobre o que é o pé diabético, o hábito de inspecionar os pés e cuidado com os mesmos, além da procura pela Unidade Básica de Saúde (UBS) na presença de alguma alteração com a saúde dos pés. Por meio da análise dos dados obtidos, foi possível avaliar os hábitos menos realizados pelos portadores de DM.

O banco de dados foi elaborado no software Excel. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e teste qui-quadrado (testar a hipótese da relação entre a realização de medidas de cuidados com os pés com o sexo e a escolaridade dos pacientes), com o auxílio do software SPSS for Windows, versão 21.0. Foi adotado nível de significância de 5%.

O estudo recebeu a anuência da Secretaria Municipal de Saúde e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 21944919.6.0000.5196, sob parecer número 3.830.587 de 10 de fevereiro de 2020). Todos os participantes foram convidados a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido após explicação sobre a pesquisa e os objetivos do estudo. Apenas os pesquisadores diretamente envolvidos com as entrevistas tiveram acesso aos dados, e esses pesquisadores assinaram termo assumindo o compromisso de manter confidencialidade e sigilo sobre todas as informações.

RESULTADOS

Foram entrevistados 88 pacientes portadores de DM, com idade média de 57,6±13,2 anos. Verificou-se prevalência do sexo feminino (77,3%). A maior parte dos indivíduos apresentou de 8 a 11 anos de estudo, e cerca de 15% dos portadores de DM relataram ser analfabetos. Aproximadamente 70% dos pacientes relataram ter acesso somente ao serviço público de saúde (Tabela 1).

Tabela 1
Perfil socioeconômico dos pacientes portadores de diabetes melito.

A maioria dos pacientes portadores de DM relatou ser “do lar”, aposentados e desempregados, com valores de 31,8%, 33% e 9,1%, respectivamente. O tempo de diagnóstico do DM apresentou mediana de 8 anos, mínimo de 1 mês e máximo de 30 anos.

A renda mensal das famílias apresentou mediana de R$ 1.045,00, e o número de membros, por famílias, que dependiam dessa renda variou entre um a oito indivíduos, com mediana de três membros.

A maioria dos entrevistados desconhecia a complicação do pé diabético. As atividades mais realizadas foram relacionadas ao cuidado de não andar descalço e o cuidado ao cortar as unhas dos pés. Os resultados dos cuidados relacionados à inspeção e hidratação dos pés diariamente mostra que, apesar de realizados pela maioria dos pacientes, ainda necessita de reforço por parte da equipe de saúde que atua na APS. Foi visto que 90,9% dos portadores de DM não utilizavam sapatos adequados. Além disso, secar os espaços interdigitais após a lavagem dos pés é um hábito de autocuidado ainda pouco realizado. Cerca de 49% dos entrevistados relataram que não procuravam pela UBS na presença de lesões e/ou alterações no pé antes de realizarem procedimentos caseiros (Tabela 2).

Tabela 2
Avaliação do conhecimento sobre medidas de autocuidado com o pé em portadores de diabetes melito.

Quando as medidas de cuidado foram analisadas pelos anos de estudo dos portadores de diabetes entre os pacientes declarados analfabetos e com ensino fundamental incompleto, 84,6% e 64,7%, respectivamente, desconheciam o pé diabético. De acordo com a questão acerca do hábito de inspecionar os pés, 76,9% dos analfabetos e 41,2% dos pacientes com ensino fundamental incompleto não realizavam essa atividade. Quando questionados acerca de procurar a UBS diante da presença de lesões nos pés, 58,3% dos analfabetos responderam “não”. Constatou-se relação entre menor nível de escolaridade com pior desempenho nas questões referentes aos costumes de andar descalço, hidratar os pés, cortar as unhas, usar calçados adequados e identificar micoses (p < 0,05) (Tabela 3).

Tabela 3
Análise sobre a realização de medidas de cuidados com os pés em portadores de diabetes melito, segundo a escolaridade.

Em relação ao sexo, 10,2% dos homens e 31,8% das mulheres afirmaram conhecer acerca do pé diabético. Quanto às questões relacionadas às atividades de autocuidado, houve algumas diferenças nas porcentagens de respostas entre as mulheres e os homens, com destaque para o hábito de andar descalço, o costume de hidratar os pés, o cuidado ao cortar as unhas dos pés e o uso de sapatos adequados para o DM, porém, sem diferença estatística entre os grupos (Tabela 4).

Tabela 4
Análise sobre a realização de medidas de cuidados com os pés em portadores de diabetes melito, de acordo com o sexo.

DISCUSSÃO

A média da idade foi de 57,6 anos, resultado corroborado por outros trabalhos científicos que evidenciam a associação proporcional entre a idade e o aparecimento das DCNT2020 Araujo ACA Fo, Almeida PD, Araujo AKL, Sales IMM, Araújo TME, Rocha SS. Epidemiological profile of Diabetes Mellitus in a northeastern brazilian state. Rev Fund Care Online. 2017;9(3):641-7.,2121 Sousa CT No, Almeida ANG. Perfil socioeconômico e epidemiológico de portadores de hipertensão e diabetes do Riacho Fundo II–DF. Comun Cienc Saude. 2019;29(1):15-22.. Observou-se maior número de participantes do sexo feminino, na medida em que mulheres possuem maior preocupação com a doença e procuram com mais frequência os serviços de saúde comparadas a homens2222 Menezes LCG, Moura NS, Vieira LA, Barros AA, Araújo ESS, Guedes MVC. Action research: self-care practices of people with diabetic foot. Rev Enferm UFPE. 2017;11(Suppl. 9):3558-66..

Houve maior prevalência de indivíduos com menor nível de escolaridade. É descrito que as pessoas com baixa escolaridade possuem maior probabilidade de desenvolver DCNT, devido às desvantagens socioeconômicas, maior vulnerabilidade e, consequentemente, menor acesso aos serviços de saúde2323 Melo SPSC, Cesse EAP, Lira PIC, Rissin A, Cruz RSBLC, Batista M Fo. Doenças crônicas não transmissíveis e fatores associados em adultos numa área urbana de pobreza do nordeste brasileiro. Cien Saude Colet. 2019;24(8):3159-68. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018248.30742017. PMid:31389562.
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,2424 Malta DC, Bernal RTI, Lima MG, et al. Noncommunicable diseases and the use of health services: analysis of the National Health Survey in Brazil. Rev Saude Publica. 2017;51(Suppl 1):4s. http://dx.doi.org/10.1590/s1518-8787.2017051000090. PMid:28591353.
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. A população de baixa renda é mais acometida por DCNT, pois está sujeita a fatores de risco e apresenta menor acesso às medidas de promoção de saúde e prevenção de agravos oferecidas pelos serviços de saúde2525 Williams J, Allen L, Wickramasinghe K, Mikkelsen B, Roberts N, Townsend N. A systematic review of associations between non-communicable diseases and socioeconomic status within low-and lower-middle-income countries. J Glob Health. 2018;8(2):020409. http://dx.doi.org/10.7189/jogh.08.020409. PMid:30140435.
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. Aproximadamente 82% dos entrevistados neste estudo recebiam até dois salários-mínimos mensais, fato similar a outros estudos realizados com pacientes portadores de DM2121 Sousa CT No, Almeida ANG. Perfil socioeconômico e epidemiológico de portadores de hipertensão e diabetes do Riacho Fundo II–DF. Comun Cienc Saude. 2019;29(1):15-22.,2626 Lima LR, Funghetto SS, Volpe CRG, Santos WS, Funez MI, Stival MM. Quality of life and time since diagnosis of Diabetes Mellitus among the elderly. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2018;21(2):176-85. http://dx.doi.org/10.1590/1981-22562018021.170187.
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.

Observou-se que quase 70% dos entrevistados não tinham acesso ao sistema privado de saúde. Os usuários exclusivos do SUS têm chance 60% maior de terem empecilhos para obtenção de atendimento médico em relação aos pacientes com acesso ao serviço privado2727 Silva SS, Mambrini JVM, Turci MA, Macinko J, Lima-Costa MF. Uso de serviços de saúde por diabéticos cobertos por plano privado em comparação aos usuários do Sistema Único de Saúde no Município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2016;32(10):e00014615. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00014615. PMid:27783751.
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.

Nesta pesquisa, mais da metade dos pacientes relataram não conhecer o termo “pé diabético”, fato que pode aumentar a incidência dessa complicação, pois estudos evidenciam a correlação do desconhecimento do assunto com o aumento da incidência da enfermidade2828 Padilha AP, Rosa LM, Schoeller SD, Junkes C, Mendez CB, Martins MMFPS. Care manual for diabetic people with diabetic foot: Construction by Scoping Study. Texto contexto – Enferm. 2017 [citado 2020 jul 7];26(4):e2190017. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-07072017000400322&script=sci_arttext&tlng=en.
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01...
. A educação em saúde é o eixo fundamental do tratamento não medicamentoso do DM, pois proporciona a capacitação dos indivíduos para realizar o autogerenciamento da sua doença2929 Iquize RCC, Theodoro FCET, Carvalho KA, Oliveira MA, Barros JF, Silva AR. Educational practices in diabetic patient and perspective of health professional: a systematic review. J Bras Nefrol. 2017;39(2):196-204. http://dx.doi.org/10.5935/0101-2800.20170034. PMid:29069244.
http://dx.doi.org/10.5935/0101-2800.2017...
. Assim, as estratégias educativas permitem que o indivíduo possua autonomia e desenvolva habilidades para lidar com o DM, o que resulta em controle glicêmico adequado e menores riscos de complicações3030 Azami G, Soh KL, Sazlina SG, et al. Effect of a nurse-led diabetes self-management education program on glycosylated hemoglobin among adults with type 2 diabetes. J Diabetes Res. 2018;2018:4930157. http://dx.doi.org/10.1155/2018/4930157. PMid:30225268.
http://dx.doi.org/10.1155/2018/4930157...
,3131 Chatterjee S, Davies MJ, Heller S, Speight J, Snoek FJ, Khunti K. Diabetes structured self-management education programmes: a narrative review and current innovations. Lancet Diabetes Endocrinol. 2018;6(2):130-42. http://dx.doi.org/10.1016/S2213-8587(17)30239-5. PMid:28970034.
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.

Pacientes que recebem orientações dos profissionais de saúde e são estimulados a cuidar do pé diabético adquirem melhores hábitos de autocuidado. Dessa forma, programas de educação baseados em diretrizes da prática clínica, tanto no ambiente das UBS como no ambiente hospitalar, devem ser estimulados e colocados em prática1616 Solan YM, Kheir HM, Mahfouz MS, et al. Diabetic foot care: knowledge and practice. J Endocrinol Metab. 2016;6(6):172-7. http://dx.doi.org/10.14740/jem388e.
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. As atividades educacionais podem ser realizadas por meio de medidas criativas e atrativas, com uso da linguagem verbal apropriada ao paciente, vídeos, desenhos animados, imagens descritivas e discussões em grupo3232 Bus SA, Lavery LA, Monteiro‐Soares M, et al. Guidelines on the prevention of foot ulcers in persons with diabetes (IWGDF 2019 update). Diabetes Metab Res Rev. 2020;36(S1, Supl Suppl. 1):e3269. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.3269. PMid:32176451.
http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.3269...
,3333 Santos KLA, Xavier TS, Siqueira RSV, Duarte APRS, Ladislau AFL. Prevenção do pé diabético: uma revisão integrativa. Diversitas J. 2019;4(1):73-90. http://dx.doi.org/10.17648/diversitas-journal-v4i1.716.
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.

Além disso, as ações educativas devem ser dialógicas para estimular a participação ativa dos pacientes e contextualizadas com simulações para o treino e a realização adequada do autocuidado3333 Santos KLA, Xavier TS, Siqueira RSV, Duarte APRS, Ladislau AFL. Prevenção do pé diabético: uma revisão integrativa. Diversitas J. 2019;4(1):73-90. http://dx.doi.org/10.17648/diversitas-journal-v4i1.716.
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. Essas atitudes são relevantes para reduzir complicações, pois estudos evidenciam que 49 a 85% das úlceras podem ser evitadas com a educação em saúde que estimula a adesão do paciente ao plano terapêutico e, consequentemente, ao autocuidado1616 Solan YM, Kheir HM, Mahfouz MS, et al. Diabetic foot care: knowledge and practice. J Endocrinol Metab. 2016;6(6):172-7. http://dx.doi.org/10.14740/jem388e.
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,2222 Menezes LCG, Moura NS, Vieira LA, Barros AA, Araújo ESS, Guedes MVC. Action research: self-care practices of people with diabetic foot. Rev Enferm UFPE. 2017;11(Suppl. 9):3558-66..

A maioria dos entrevistados afirmou possuir o hábito de inspecionar os pés, medida importante para detectar sinais precoces de ulceração, como a presença de edema, eritema, ressecamento excessivo, descoloração e lesões, como calosidades, feridas, perfurações e cortes3232 Bus SA, Lavery LA, Monteiro‐Soares M, et al. Guidelines on the prevention of foot ulcers in persons with diabetes (IWGDF 2019 update). Diabetes Metab Res Rev. 2020;36(S1, Supl Suppl. 1):e3269. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.3269. PMid:32176451.
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,3434 Cubas MR, Santos OM, Retzlaff EMA, et al. Pé diabético: orientações e conhecimento sobre cuidados preventivos. Fisioter Mov. 2013;26(3):647-55. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-51502013000300019.
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.

Mais de 65% dos pacientes portadores de DM entrevistados hidratavam os pés, resultado compatível com outros estudos1515 Carlesso GP, Gonçalves MHB, Moreschi D Jr. Evaluation of diabetic patients’ knowledge about preventive care of the diabetic foot, in Maringá, PR, Brazil. J Vasc Bras. 2017;16(2):113-8. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.006416. PMid:29930635.
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,3434 Cubas MR, Santos OM, Retzlaff EMA, et al. Pé diabético: orientações e conhecimento sobre cuidados preventivos. Fisioter Mov. 2013;26(3):647-55. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-51502013000300019.
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. O ressecamento da pele é comum no DM em razão das alterações sudomotoras causadas pela neuropatia autonômica. Assim, a hidratação deve ser realizada três vezes ao dia e possui o objetivo de evitar a presença de pele ressecada, que constitui meio susceptível para o desenvolvimento de rachaduras e calosidades3535 Silva JMTS, Haddad MCFL, Rossaneis MA, Vannuchi MTO, Marcon SS. Factors associated with foot ulceration of people with diabetes mellitus living in rural areas. Rev Gaucha Enferm. 2017;38(3):e68767. PMid:29641685.. Muitos pacientes afirmaram já ter tido rachaduras e/ou calos. Essas lesões são pré-ulcerativas, facilitadoras da entrada de microrganismos e precursoras do surgimento de infecções e ulcerações1010 Lucoveis MLS, Gamba MA, Paula MAB, Morita ABPS. Degree of risk for foot ulcer due to diabetes: nursing assessment. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3041-7. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0189. PMid:30517410.
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,3535 Silva JMTS, Haddad MCFL, Rossaneis MA, Vannuchi MTO, Marcon SS. Factors associated with foot ulceration of people with diabetes mellitus living in rural areas. Rev Gaucha Enferm. 2017;38(3):e68767. PMid:29641685.. As micoses também constituem porta de entrada para o surgimento de quadros infecciosos, principalmente de natureza polimicrobiana, sendo relatada a presença desse problema em cerca de 30% dos pacientes avaliados3434 Cubas MR, Santos OM, Retzlaff EMA, et al. Pé diabético: orientações e conhecimento sobre cuidados preventivos. Fisioter Mov. 2013;26(3):647-55. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-51502013000300019.
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,3535 Silva JMTS, Haddad MCFL, Rossaneis MA, Vannuchi MTO, Marcon SS. Factors associated with foot ulceration of people with diabetes mellitus living in rural areas. Rev Gaucha Enferm. 2017;38(3):e68767. PMid:29641685.. Uma maneira para evitar o surgimento das micoses é o hábito de secar os espaços interdigitais após a lavagem dos pés3434 Cubas MR, Santos OM, Retzlaff EMA, et al. Pé diabético: orientações e conhecimento sobre cuidados preventivos. Fisioter Mov. 2013;26(3):647-55. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-51502013000300019.
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, prática realizada por 54,5% dos pacientes.

Quase 82% dos entrevistados relataram não ter o hábito de andar descalço, resultado semelhante a outros estudos3636 Rossaneis MA, Haddad MCFL, Mathias TAF, Marcon SS. Differences in foot self-care and lifestyle between men and women with diabetes mellitus. Rev Lat Am Enfermagem. 2016;24(0):e2761. http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1203.2761. PMid:27533270.
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, sendo fator essencial no autocuidado para evitar traumas externos imperceptíveis e elevados estresses mecânicos em portadores de DM. Em relação ao corte das unhas, 92% dos indivíduos avaliados afirmaram ter cuidado ao cortá-las, mas não foi questionado o modo de corte, que deve ser reto, com os cantos das unhas lixados e redondos para prevenir o desenvolvimento de lesões e unhas encravadas3333 Santos KLA, Xavier TS, Siqueira RSV, Duarte APRS, Ladislau AFL. Prevenção do pé diabético: uma revisão integrativa. Diversitas J. 2019;4(1):73-90. http://dx.doi.org/10.17648/diversitas-journal-v4i1.716.
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.

Aproximadamente 91% dos pacientes não utilizavam sapatos adequados para o DM, atitude encontrada em outros estudos, em que mais de 90% das pessoas diabéticas também tinham esse hábito. O calçado ideal não apresenta costura no interior, é macio, é regulável com cadarços ou velcro, proporciona proteção total dos dedos, o solado pode ter até 3 centímetros, preserva os pés de traumas mecânicos, é adequado ao tamanho do pé e distribui as áreas de pressão1010 Lucoveis MLS, Gamba MA, Paula MAB, Morita ABPS. Degree of risk for foot ulcer due to diabetes: nursing assessment. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3041-7. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0189. PMid:30517410.
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017...
,1515 Carlesso GP, Gonçalves MHB, Moreschi D Jr. Evaluation of diabetic patients’ knowledge about preventive care of the diabetic foot, in Maringá, PR, Brazil. J Vasc Bras. 2017;16(2):113-8. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.006416. PMid:29930635.
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.

O uso de sapatos adequados é uma orientação que o profissional de saúde deve fornecer aos pacientes, pois reduz os riscos de desenvolvimento do primeiro quadro de úlceras, como também diminui a recorrência de ulceração em pessoas com alteração da pressão plantar decorrente de cicatrizes ulcerativas1313 van Netten JJ, Price PE, Lavery L, et al. Prevention of foot ulcers in the at‐risk patient with diabetes: a systematic review. Diabetes Metab Res Rev. 2016;32(Suppl.1):84-98. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.2701. PMid:26340966.
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,3232 Bus SA, Lavery LA, Monteiro‐Soares M, et al. Guidelines on the prevention of foot ulcers in persons with diabetes (IWGDF 2019 update). Diabetes Metab Res Rev. 2020;36(S1, Supl Suppl. 1):e3269. http://dx.doi.org/10.1002/dmrr.3269. PMid:32176451.
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. A não adesão ao uso dos sapatos terapêuticos pode estar correlacionada com o alto valor desses calçados, podendo impossibilitar a aquisição em razão da baixa renda de muitos pacientes. Outra questão refere-se à estética, pois vários indivíduos consideram os calçados feios e dão preferência a sapatos comuns, que ocasionam lesões2222 Menezes LCG, Moura NS, Vieira LA, Barros AA, Araújo ESS, Guedes MVC. Action research: self-care practices of people with diabetic foot. Rev Enferm UFPE. 2017;11(Suppl. 9):3558-66..

Evidenciou-se que 48,9% dos entrevistados não procurariam a UBS na presença de lesões nos pés antes de realizarem procedimentos caseiros, medida distante do autocuidado, pois os pacientes devem ser orientados a procurarem um profissional de saúde na presença de alterações e/ou lesões1010 Lucoveis MLS, Gamba MA, Paula MAB, Morita ABPS. Degree of risk for foot ulcer due to diabetes: nursing assessment. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3041-7. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0189. PMid:30517410.
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antes de realizarem práticas caseiras que podem ocasionar infecções e ulcerações no pé. Exemplos de métodos inadequados são o aquecimento dos pés com ferro e bolsa de água quente, bem como uso de ferramentas inapropriadas para cortar calos e tratar rachaduras88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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.

A escolaridade dos portadores de DM influencia positivamente na capacidade de realização do autocuidado com os pés3737 Fassina G, Coelho GP, Zinezi NS, Silva BA, Bramante CN, Costa JA. Avaliação do autocuidado em pacientes portadores do pé diabético. RFCMS. 2018;20(4):200-6.. Espera-se que os indivíduos com graus de estudo mais avançados apresentem maior compreensão de leituras sobre a doença e o seu tratamento, bem como das informações fornecidas pelos profissionais de saúde, e, assim, tenham comportamentos preventivos adequados88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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,1616 Solan YM, Kheir HM, Mahfouz MS, et al. Diabetic foot care: knowledge and practice. J Endocrinol Metab. 2016;6(6):172-7. http://dx.doi.org/10.14740/jem388e.
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,3737 Fassina G, Coelho GP, Zinezi NS, Silva BA, Bramante CN, Costa JA. Avaliação do autocuidado em pacientes portadores do pé diabético. RFCMS. 2018;20(4):200-6.. Isso coincide com algumas medidas de autocuidado expostas, em que 75% dos analfabetos não inspecionam os pés diariamente, e 58,3% desse mesmo grupo não procuram a UBS em casos de lesões e alterações nos pés. Nesse estudo, houve diferença estatística nas questões referentes ao costume de andar descalço, hidratar os pés, cortar as unhas, usar calçados adequados e identificar micoses, apresentando associação dessas medidas de autocuidado com a baixa escolaridade dos portadores de DM. Os profissionais de saúde devem produzir ações educacionais particularizadas para ajudar essa população, com orientações expostas de forma simples e objetiva, com linguagem compatível ao seu grau de escolaridade para, desse modo, proporcionar o conhecimento e estimular a realização do autocuidado88 Fraga GHWS, Ferreira LV, Silveira DM, Sousa IS, Costa MB. Pé Diabético: onde podemos intervir? HU Rev. 2017;43(1):13-8. http://dx.doi.org/10.34019/1982-8047.2017.v43.2589.
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,3737 Fassina G, Coelho GP, Zinezi NS, Silva BA, Bramante CN, Costa JA. Avaliação do autocuidado em pacientes portadores do pé diabético. RFCMS. 2018;20(4):200-6..

Quanto às respostas sobre a realização do autocuidado de acordo com o sexo, não houve diferença estatística no nosso estudo. Foi visto que cerca de 54,5% das mulheres tinham o hábito de hidratar os pés, enquanto apenas 11,4% dos homens exerciam esse hábito. Outras práticas encontradas que são mais realizadas pelo sexo feminino referem-se ao maior cuidado em secar os pés após lavagem e ao corte correto das unhas; já os homens possuíam maior porcentagem no hábito de uso dos sapatos adequados para o DM, resultados compatíveis com um estudo realizado na região Sul do Brasil3636 Rossaneis MA, Haddad MCFL, Mathias TAF, Marcon SS. Differences in foot self-care and lifestyle between men and women with diabetes mellitus. Rev Lat Am Enfermagem. 2016;24(0):e2761. http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1203.2761. PMid:27533270.
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. O maior uso de sapatos adequados pelo sexo masculino relaciona-se a grande variedade de calçados utilizados pela população feminina, com saltos altos, aberturas e maior exposição dos dedos3838 Navarro-Peternella FM, Lopes APAT, Arruda GO, Teston EF, Marcon SS. Differences between genders in relation to factors associated with risk of diabetic foot in elderly persons: a cross-sectional trial. J Clin Transl Endocrinol. 2016;6:30-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.jcte.2016.10.001. PMid:29067239.
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. Desse modo, é importante que os serviços de saúde considerem as diferenças de gênero para construção de abordagens educativas e planos de cuidado mais eficientes3838 Navarro-Peternella FM, Lopes APAT, Arruda GO, Teston EF, Marcon SS. Differences between genders in relation to factors associated with risk of diabetic foot in elderly persons: a cross-sectional trial. J Clin Transl Endocrinol. 2016;6:30-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.jcte.2016.10.001. PMid:29067239.
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.

A úlcera do pé diabético é uma das complicações mais prevalentes em longo prazo, e cerca de 20% dos pacientes que vivem com DM têm alto risco de desenvolverem essa complicação nos pés em razão da presença de neuropatia1212 Messenger G, Taha N, Sabau S, AlHubail A, Aldibbiat AM. Is there a role for informal caregivers in the management of diabetic foot ulcers? A narrative review. Diabetes Ther. 2019;10(6):2025-33. http://dx.doi.org/10.1007/s13300-019-00694-z. PMid:31559530.
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,3939 Cruz-Vega I, Hernandez-Contreras D, Peregrina-Barreto H, Rangel-Magdaleno JJ, Ramirez-Cortes JM. Deep learning classification for diabetic foot thermograms. Sensors (Basel). 2020;20(6):1762. http://dx.doi.org/10.3390/s20061762. PMid:32235780.
http://dx.doi.org/10.3390/s20061762...
. A existência de úlcera é uma das principais causas de hospitalizações, sendo de difícil tratamento, com cerca de 40% de úlceras que não curam com medidas específicas nos 6 primeiros meses1212 Messenger G, Taha N, Sabau S, AlHubail A, Aldibbiat AM. Is there a role for informal caregivers in the management of diabetic foot ulcers? A narrative review. Diabetes Ther. 2019;10(6):2025-33. http://dx.doi.org/10.1007/s13300-019-00694-z. PMid:31559530.
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.

Assim, as complicações do pé diabético correlacionam-se com baixa produtividade, custos individuais com a saúde, dificuldades para praticar exercícios físicos e problemas relacionados a ansiedade, depressão e estresse, bem como aqueles que intensificam sentimentos de isolamento social. Essas condições contribuem para a redução na qualidade de vida dos pacientes portadores de DM1212 Messenger G, Taha N, Sabau S, AlHubail A, Aldibbiat AM. Is there a role for informal caregivers in the management of diabetic foot ulcers? A narrative review. Diabetes Ther. 2019;10(6):2025-33. http://dx.doi.org/10.1007/s13300-019-00694-z. PMid:31559530.
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.

É importante destacar as limitações presentes neste estudo. O número total de pacientes portadores de DM avaliados no estudo pode ter sido fator limitante por não ter alcançado o tamanho amostral calculado (considerando-se a prevalência do diagnóstico médico de DM de 7,4% no estudo do VIGITEL 2019, a população de Paulo Afonso de 118.516 habitantes, a margem aceitável de erro de 5% e o nível de significância de 95%, resultando em um tamanho amostral de 105 indivíduos). No entanto, essa amostra ainda permite inferências e extrapolação dos resultados, pois é representativa da população com DM. Também não foi quantificado o número de pessoas que se recusaram a participar da pesquisa e que foram excluídas; contudo, essas limitações não interferem na importância do estudo na medida em que esse tema é fundamental para a organização de ações educativas nos serviços de saúde.

CONCLUSÃO

Evidenciou-se que os portadores de DM entrevistados não realizaram todas as medidas consideradas de autocuidado com os pés, como inspeção diária, hidratação, corte das unhas, secagem dos espaços interdigitais e uso de calçado adequado, além de desconhecerem o termo “pé diabético”. Houve associação entre menor escolaridade e menor capacidade de realização de medidas de autocuidado com os pés; não houve, porém, relação entre essas medidas de autocuidado e o sexo.

Nesse contexto, infere-se que a educação e o letramento em saúde, realizados e/ou reforçados pelos profissionais de saúde da APS de forma adaptada a cada perfil de paciente, são importantes para a melhoria do autocuidado com os pés e podem contribuir para a diminuição de complicações, hospitalizações e amputações nos pacientes portadores de DM.

  • Como citar: Lima LJL, Lopes MR, Botelho Filho CAL, Cecon RS. Avaliação do autocuidado com os pés entre pacientes portadores de diabetes melito. J Vasc Bras. 2022;21:e20210011. https://doi.org/10.1590/1677-5449.210011
  • Fonte de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • O estudo foi realizado no Centro de Especialidades Médicas da Secretaria de Saúde, Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, Paulo Afonso, BA, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2021
  • Aceito
    19 Nov 2021
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