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TEORIA DA RELEVÂNCIA E TEORIA DA LITERATURA: AS TEORIAS CIENTÍFICAS E AS TEORIAS CRÍTICAS DEVEM SER (RE)CONCILIADAS?* * Este texto consiste em uma versão prévia de pesquisa mais ampla em desenvolvimento.

Relevance Theory and Literary Theory: Should Scientific and Critical Theories Be (Re)Conciliated?

Teoría de la elevancia y teoría de la literatura: deben (re)conciliarse las teorías científicas y críticas?

Resumo

No programa da relevância, Wilson (2012; 2018; 2019) tem conduzido o estudo literário expondo duas conflitantes concepções. A primeira é a concepção dos teóricos relevantistas de que a relevância contribui para o estudo da literatura. A segunda concepção é um contraponto da teoria da literatura, especificada no nome do crítico literário Keith Green (1997), de que a relevância não contribui para o estudo literário. Analisamos ambos os pontos de vista, tais como protagonizados por Wilson e Green, e discutimos a natureza das teorias da linguagem e das teorias da literatura. Propomos que, embora compartilhem o mesmo objeto observacional, isto é, a literatura, a teoria da relevância e a teoria da literatura não compartilham o mesmo objeto teórico, sendo um equívoco a equivalência de ambas. De tal equívoco resulta um problema de incomensurabilidade teórica e um risco eminente de fracasso da pragmática em sua iniciativa de sistematização dos fenômenos literários.

Palavras-chave:
Teoria da Relevância; Teoria da Literatura; Estudos Literários; Teorias Científicas; Teorias Críticas

Abstract

Wilson (2012; 2018; 2019) has been conducting literature studies within the relevance theory program by exposing two conflicting conceptions. First is the notion held by relevance theory and its supporters that relevance can contribute to literary studies. The second conception is a counterpoint from literary theory by literary critic Keith Green (1996), that relevance has little to contribute to literary studies. We analyse both points of view, as asserted by Wilson and Green and we discuss the nature of linguistic communication theories and literary theories. We propose that, although they share the same observational object - literature - relevance theory and literary theory do not share the same theoretical object, so that the equivalence of both is a mistake. From such a mistake results a theoretical incommensurability problem and an imminent risk of pragmatics failing in its initiative to systematize literary phenomena.

Keywords:
Relevance Theory; Literary Theory; Literary Studies; Scientific Theories; Critical Theories

Resumen

En el programa de la teoria de la relevancia, Wilson (2012; 2018; 2019) realizó el estudio literario exponiendo dos concepciones en conflicto. La primera concepción es que la relevancia contribuye al estudio de la literatura. La segunda concepción es un contrapunto defendido por el teórico literario Keith Green (1997), que la relevancia no contribuye al estudio literario. Analizamos ambos puntos de vista, tal como lo llevan a cabo Wilson y Green, y discutimos la naturaleza de las teorías del lenguaje y las teorías de la literatura. Proponemos que, aunque comparten el mismo objeto observacional, es decir, la literatura, la teoría de la relevancia y la teoría de la literatura no comparten el mismo objeto teórico, siendo la equivalencia de ambas un error. De tal error resulta un problema de inconmensurabilidad teórica y un riesgo inminente de fracaso de la pragmática en su iniciativa de sistematizar los fenómenos literarios.

Palabras-clave:
Teoría de la Relevancia; Teoría de la Literatura; Estudios Literarios; Teorías Científicas; Teorías Críticas

It is not uncommon, at the end of an introductory seminar on Relevance Theory, for members of the audience to ask questions about the potential of the theory as a means of explaining literary communication or, for short, Literature (not less!) (Guijarro, 1998GUIJARRO, José Luis. The Possible Place of Relevance Theory in a Cognitive Explanation of Literature. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, v. 11, p. 117-137, 1998.).1 1 Não é raro, ao final de um seminário introdutório sobre Teoria da Relevância, que os membros da audiência façam perguntas sobre o potencial da teoria como meio de explicar a comunicação literária ou, resumindo, a Literatura (não menos!) (Guijarro, 1998).

1 PROLOGO - TEORIA DA RELEVÂNCIA E TEORIA DA LITERATURA

Perhaps surprisingly, most reactions have come not from Gricean pragmatists, whose analyses we severely criticised, but from psychologists, non-Gricean pragmatists and literary theorists (Sperber and Wilson, 1995SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. 2nd ed. Oxford: Blackwell, 1995.).2 2 Talvez surpreendentemente, a maioria das reações não vieram de pragmaticistas griceanos, cujas análises criticamos severamente, mas de psicólogos, pragmaticistas não-griceanos e teóricos literários (Sperber e Wilson, 1995).

Passados mais de 30 anos desde a postulação da teoria da relevância (SPERBER; WILSON, 1986SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986., 1995), sua aspiração de realocar o fenômeno da comunicação inferencial (GRICE, 1975GRICE, H. P. Logic and Conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. L. (eds.). Syntax and Semantics. V. 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58.) do domínio filosófico para o domínio científico parece tê-la removido de seu propósito inicial. O que outrora foi apresentado estritamente como uma teoria cognitiva para a comunicação, adquiriria agora o status de um ‘programa de pesquisa’, conforme a terminologia sugerida por Lakatos (1978LAKATOS, Imre. The Methodology of Scientific Research Programmes. Cambridge: Cambridge University Press, 1978.) e mais atentamente discutida por Allott (2013ALLOTT, Nicholas (2013). Relevance theory. In CAPONE, A.; LO PIPARO, F.; CARAPEZZA, M. (eds.). Perspectives on Linguistic Pragmatics. Cham: Springer, 2013. p. 57-98.). A teoria da relevância (doravante TR) foi direcionada aos mais diversificados fenômenos da comunicação, pela manutenção da ideia-chave do programa relevantista: o desenvolvimento de um modelo da comunicação humana psicologicamente plausível, compatível com noção de que a cognição humana é vetorial, orientada por relevância, isto é, pela busca de informações potencialmente relevantes.

Nesses últimos anos, dois desafios correlacionados parecem ter sido priorizados no interior do programa, a fim de não mais refrearem seu progresso. Ambos os desafios foram destacados em duas distintas chamadas:

  • a) a primeira, de um ponto de vista mais geral, é o que tem sido chamado de “o desafio dos efeitos não-proposicionais” (IFANTIDOU; DE SAUSSURE; WHARTON, 2021de SAUSSURE, Louis. Literary Relevance. In: Ifantidou E.; DE SAUSSURE, L.; WHARTON, T. (eds.). Beyond Meaning. Amsterdam; New York: John Benjamins, 2021.; DE SAUSSURE; WHARTON, 2019; WILSON; CARSTON 2019WILSON, Deirdre; CARSTON, Robyn. Pragmatics and the Challenge of ‘Non-propositional’ Effects. Journal of Pragmatics, v. 145, p. 31-38, May 2019.; WILSON, 2018) ou seja, o aprofundamento do estudo de aspectos que transcendem o significado linguístico em seus limites lógicos e semânticos. Em outras palavras, uma melhora na compreensão do que vai “além do significado do falante” (SPERBER; WILSON, 2015SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Beyond Speaker’s Meaning. Croatian Journal of Philosophy, v. 15, n. 44, p. 117-149, 2015.);

  • b) a segunda, de um ponto de vista mais específico ao interesse deste trabalho, é o debate acerca dos limites da contribuição que a pragmática cognitiva (SPERBER; WILSON, 1995SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. 2nd ed. Oxford: Blackwell, 1995.) tende a oferecer ao estudo literário (DE SAUSSURE, 2021de SAUSSURE, Louis. Literary Relevance. In: Ifantidou E.; DE SAUSSURE, L.; WHARTON, T. (eds.). Beyond Meaning. Amsterdam; New York: John Benjamins, 2021.; WILSON, 2018; BRIENS; DE SAUSSURE, 2018BRIENS, Sylvain; De SAUSSURE, Louis. Littérature, émotion et expressivité. Pour un nouveau champ de recherche en littérature. RLC XCII, n. 1, p. 67-82, jan./mars 2018.; CAVE; WILSON, 2018CAVE, Terence; WILSON, Deirdre. Reading Beyond the Code: Literature e Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018.).

Embora a primeira chamada, referidamente a dos fenômenos da não proposicionalidade, interesse diretamente ao estudo da comunicação literária, ao menos como proposto na perspectiva da TR, nos concentraremos exclusivamente na segunda chamada, destinada a discutir a contribuição que a TR tende a fornecer ao estudo da literatura. É válido ressaltar que propostas de enquadramento do estudo literário sob a noção de relevância têm sido apresentadas ao longo de todo o desenvolvimento da TR (PILKINGTON, 1992PILKINGTON, Adrian. Poetic effects. Lingua v. 87, p. 29-51, 1992., 1994; BLAKEMORE, 1992BLAKEMORE, Diane. Implicatures and Style. In: BLAKEMORE, D. Understanding Utterances. Oxford: Blackwell, 1992.; FURLONG, 1995FURLONG, Anne. 1995. Relevance Theory and Literary Interpretation. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1995., 2007; CLARK, 1996CLARK, Billy. Stylistic analysis and relevance theory. Language and Literature, v. 5, n. 3, p. 163-178, 1996.; GUIJARRO, 1998GUIJARRO, José Luis. The Possible Place of Relevance Theory in a Cognitive Explanation of Literature. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, v. 11, p. 117-137, 1998.; MACKENZIE, 2002MACKENZIE, Ian. Paradigms of Reading: Relevance Theory and Deconstruction. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2002.; BRIENS; DE SAUSSURE, 2018BRIENS, Sylvain; De SAUSSURE, Louis. Littérature, émotion et expressivité. Pour un nouveau champ de recherche en littérature. RLC XCII, n. 1, p. 67-82, jan./mars 2018.; CHIHAIA; RENNHAK, 2019CHIHAIA, Matei; RENNHAK, Katharina. Relevance and Narrative Research. Lanham: Lexington Books, 2019.; DE SAUSSURE; WHARTON, 2019; DE SAUSSURE, 2021). Contudo, na atualidade, a pesquisa parece ser predominantemente norteada pela posição de Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.) e, mais recentemente, pela parceria de Cave e Wilson (2018CAVE, Terence; WILSON, Deirdre. Reading Beyond the Code: Literature e Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018.), somados a um grupo interdisciplinar de pesquisadores das cátedras do Reino Unido, que executaram conjuntamente um projeto de estudo literário pelo programa relevantista, materializado na obra Reading Beyond the Code (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204).

O livro apresenta uma extensa tratativa de tópicos literários pela perspectiva da relevância e busca se apresentar como um modelo prático de como críticos literários poderiam empregar o modelo ostensivo-inferencial da comunicação para análises inovadoras, divorciadas das análises inspiradas unicamente nos códigos linguísticos. Contudo, o que nos interessa neste trabalho é que, em sua argumentação em favor do estudo da literatura na perspectiva da relevância, Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.) e Wilson (2018) tem reiteradamente eleito a postura crítica do teórico literário Keith Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) como um parâmetro desafiador. Wilson tem destacado que o debate estabelecido sobre relevância e literatura está situado entre duas diferentes posições: a posição dos adeptos da TR, entre os quais está a própria Wilson, naturalmente, de que a relevância pode contribuir para o estudo literário; e a posição dos adeptos da teoria da literatura (doravante TL), notadamente Keith Green, de que a TR tem pouco a contribuir para o estudo da literatura.

Dessa forma, consideramos que um objetivo central neste trabalho é o de apresentar o debate ainda tênue entre a TR e a TL e sugerir o modo como entendemos que a noção de relevância pode contribuir aos estudos literários. Por isso, nós buscaremos reconstituir, ainda que parcialmente, o debate entre a TR, mais centralmente representada no nome de Wilson, e TL, representada no nome de Keith Green. Para tanto, recuperaremos algumas das críticas tecidas por Green (1993GREEN, Keith. Relevance Theory and the Literary Text: Some Problems and Perspectives. Journal of Literary Semantics, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1993., 1997, 1998, 2000) à investida relevantista sobre a literatura. Logo após, também apresentaremos alguns contrapontos dos pesquisadores da TR. Por fim, apresentaremos nossa própria percepção sobre o debate entre TR e TL, introduzindo o questionamento acerca da necessidade de aproximação entre ambas, e se elas devem ser repelidas, conciliadas ou reduzidas uma ao domínio de atuação da outra.

Nossa sugestão é a de que uma maior atenção ao estatuto das teorias de ambição científica e ao estatuto das teorias de ambição literária podem auxiliar no esclarecimento de como se distinguem as teorias dedicadas à explicação e as teorias dedicadas ao exercício da crítica. Isso tenderia, em princípio, a prevenir a atribuição de tarefas equivocadas a uma e outra parte, além de antever e prevenir a indesejável incidência dos problemas de incomensurabilidade teórica, como preconizados por Kuhn (1962KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções científicas. [S.l.]: Editora Perspectiva, 1962.) e Feyerabend (1962FEYERABEND, Paul. Explanation, Reduction and Empiricism. In: FEIGL, H.; Maxwell, G. (eds.). Scientific Explanation, Space, and Time. Minneapolis:University of Minnesota Press, 1962. p. 28-97.).

Uma ideia-chave que buscaremos explicitar ao longo de nossa exposição é a de que, embora a TR e a TL compartilhem do mesmo objeto observacional, isto é, a literatura, elas não compartilham de um mesmo objeto teórico. Portanto, parece necessário que sejam distinguidas as esferas de atuação de teorias que se propõem ao escrutínio estritamente explicativo (científico) daquelas que se propõem à tarefa crítica (literária). Uma tarefa intermediária em que ambas poderiam ser conciliadas é no compartilhamento da tarefa descritiva, instância de trabalho em que estudiosos da linguagem e da literatura têm muito a se beneficiarem mutuamente.

2 CONFLITO - UM DEBATE SUBESPECIFICADO

“Colorless green ideas sleep furiously” (CHOMSKY, 1957).3 3 “Idéias verdes incolores dormem furiosamente” (CHOMSKY, 1957).

Para dimensionarmos a dificuldade em se empreender um estudo sistemático da literatura, o paradigma do Estruturalismo permanece pedagógico - passados mais de 100 anos de sua fundação, com Ferdinand de Saussure e seus discípulos, ainda hoje não foram obtidos resultados incontroversos nos estudos literários, apesar de toda a envergadura de intelectuais como Jakobson, Barthes e Todorov. Nem mesmo o esforço conjunto de duas unanimidades da tradição estruturalista, Jakobson e Lévi-Strauss (1962), foi capaz de produzir um resultado inequivocamente satisfatório. Superado o paradigma estrutural, nos restando o exemplo de seus sucessos e fracassos, eis que vem a hora, e já é chegada, em que a TR está posta à prova em sua programática ambição de se apresentar como uma alternativa viável ao estudo da literatura. À espreita, contudo, eis aí a TL.

De um lado, com Sperber e Wilson (1986SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.), a TR se candidatou à tarefa de converter o caráter misterioso atribuído à atividade da comunicação humana em um problema inteligível. Semelhantemente, de outro lado, desde sua obra fundacional com Wellek e Warren (1949WELLEK, René; WARREN, Austin. Theory of Literature. New York: Harcourt Brace, 1949.), a TL busca expelir o fantasma do impressionismo interpretativo e sistematizar o aparente caos que parece permear os fenômenos literários. Portanto, seria esperado que a aproximação desses trabalhos de sistematização tenda a ser proveitosa tanto na pragmática quanto na literatura. Exceto se tal aproximação resultar em uma obscuridade ainda maior do que aquelas já contempladas em suas atividades individuais. Por isso, na medida em que pretendem lançar luz sobre os fenômenos que desejam explicar, ainda em maior medida, TR e TL devem simultaneamente lançar luz sobre si mesmas, evitando obscurecer ainda mais um objeto de estudo excessivamente opaco, como é o caso da literatura. Em grande parte, lançar luz acerca do debate literário é lançar luz sobre um objeto a ser tratado, uma especificação, e, ao menos como apresentada até agora, a pesquisa da literatura no interior da TR não se fundamenta em um problema especificado, mas repousa sobre um conjunto de problemas, como veremos adiante.

O debate sobre o emprego da TR para o estudo literário não é tema recente e, para fins expositivos, pode ser abreviado do modo como se segue. Um ano após a publicação da primeira edição de Relevância: Cognição e Comunicação (SPERBER; WILSON, 1986SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.), o debate em torno de Précis of Relevance (SPERBER; WILSON, 1987), divulgado na Behavioral and Brain Sciences, incluiu duas posições extremamente opostas acerta da contribuição que a TR poderia oferecer ao estudo da literatura de ficção. Herbert H. Clark (1987CLARK, Herbert H. Relevance to What? Behavioral and Brain Sciences, n. 10, p. 714-715, 1987.) e Anne Reboul (1987REBOUL, Anne. The Relevance of Relevance for Fiction. Behavioral and Brain Sciences, n. 10, p. 729, 1987.) protagonizaram esse debate. Clark (1987) mostrou ceticismo sobre a possibilidade de a TR mostrar-se eficiente para o estudo do discurso ficcional, argumentando que a teoria não propunha adequadamente a observação das diferentes “camadas” que os fenômenos comunicativos geram simultaneamente em diferentes níveis. Reboul (1987) defendeu que, ao contrário do que afirmara Clark, a Relevância poderia oferecer um tratamento adequado ao discurso ficcional, sobretudo por meio da aproximação que o quadro relevantista propunha para o estudo da metáfora. Como esperado, Sperber e Wilson (1987) endossaram a posição de Reboul, reafirmando o potencial da TR para uma explanação representacional de segunda ordem para o estudo da ficção. Desde então, os esforços inaugurais para o estudo de temas relativos à literatura sob a perspectiva da relevância podem ser atribuídos aos estudos de Reboul (1986, 1987).

A passagem aos anos 90 registra alguns desenvolvimentos da TR para o estudo literário, com Adrian Pilkington (1992PILKINGTON, Adrian. Poetic effects. Lingua v. 87, p. 29-51, 1992.), David Trotter (1992TROTTER, David. Analysing Literary Prose: The Relevance of Relevance Theory. Lingua, v. 87, p. 1-27, 1992.) e Diane Blakemore (1992BLAKEMORE, Diane. Implicatures and Style. In: BLAKEMORE, D. Understanding Utterances. Oxford: Blackwell, 1992.). Esse mesmo período registra também um ganho de maior robustez com as teses de doutoramento de Pilkington (1994) e de Anne Furlong (1995FURLONG, Anne. 1995. Relevance Theory and Literary Interpretation. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1995.), além de propostas adicionais, como a de Clark (1996CLARK, Billy. Stylistic analysis and relevance theory. Language and Literature, v. 5, n. 3, p. 163-178, 1996.) e Guijarro (1998GUIJARRO, José Luis. The Possible Place of Relevance Theory in a Cognitive Explanation of Literature. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, v. 11, p. 117-137, 1998.)4 4 Para o aprofundamento dos estudos em Teoria da Relevância e estudos literários, os autores recomendam os trabalhos de Pilkington (1992), Trotter (1992) Blakemore (1992), Pilkington (1994), Furlong (1995), Clark (1996), Guijarro (1998), Wilson (2012) e Cave e Wilson (2018). . É nesse contexto, do desenvolvimento das ideias relevantistas, que Keith Green (1993GREEN, Keith. Relevance Theory and the Literary Text: Some Problems and Perspectives. Journal of Literary Semantics, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1993., 1996, 1998, 2000) apresentou uma sequência de críticas ao ainda embrionário esforço de uma análise literária inspirada na relevância, direcionadas majoritariamente às ideias desenvolvidas por Pilkington (1992, 1997).

Em contrapartida, Adrian Pilkington, Barbara MacMahon and Billy Clark (1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.) consideraram desproporcionais as críticas de Green, cujos argumentos foram respondidos como tentativas de desconfigurar suas propostas originais. Eles também reclamaram do teor não moderado com que Green conduziu seus argumentos, o que pode ter sido decisivo para a brevidade na resposta e a interrupção numa eventual extensão do debate. Ainda mais abreviada que a réplica de Pinkington, MacMahon e Clark (1997), foi a tréplica de Green (1998), afirmando que longe de ter o objetivo de “acabar com o debate”, sua polemização teve precisamente o efeito desejado, o de estimular os teóricos da relevância a apresentarem alguma defesa de seus trabalhos. Assim, a polêmica pareceu momentaneamente encerrada.

No entanto, em anos mais recentes, nos trabalhos em que buscou abordar a literatura pelo viés da relevância, Deirdre Wilson reintroduziu a crítica de Green, como uma espécie de assombro à TR. Em sua parceria com Terence Cave (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204), em trabalho anterior (WILSON, 2012) e em sua palestra magna sobre relevância e literatura (WILSON, 2019), Wilson personificou na figura de Green a hipótese de que a TR não tem contribuições a oferecer ao estudo da literatura. Assim, Wilson contrastou as duas diferentes percepções acerca da contribuição ou não da relevância ao estudo literário. Consideremos, portanto, alguns dos argumentos de ambos os lados.

2.1 GREEN IDEAS: A TEORIA DA RELEVÂNCIA PELA TEORIA DA LITERATURA

We have a simple theory elegantly articulated suggesting a revolution in thinking about communication. But then along come Peter and Mary… (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.).5 5 Temos uma teoria simples elegantemente articulada sugerindo uma revolução na forma de pensar a comunicação. Mas depois vêm Pedro e Maria... (GREEN, 1997).

Keith Green (1993GREEN, Keith. Relevance Theory and the Literary Text: Some Problems and Perspectives. Journal of Literary Semantics, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1993., 1997, 1998, 2000; GREEN; LeBIHAN, 1996) dedicou uma parcela de seus trabalhos ao comentário e crítica da TR em sua tentativa de aproximação ao estudo da literatura. Naquela que parece ser sua crítica inicial, Green (1993) apresentou o ponto de vista de que a relação entre relevância e a literatura deveria ser observada em duas dimensões, numa dimensão macrotextual e noutra microtextual. O nível macro deveria ser compreendido em termos do texto literário em si mesmo, lato sensu, como uma entidade de maior grandeza, enquanto o nível micro deveria ser entendido em termos de análise de textos literários específicos. Green avaliou que embora a TR discorresse sobre algumas noções literárias, como a dos efeitos poéticos, da ironia, da metáfora, além de uma ou outra característica formal de natureza literária, os textos literários propriamente ditos não costumavam ser empregados. Green considerou que, por ser um modelo desenvolvido fundamentalmente pelo apelo a enunciados canônicos, como as proposições, a TR seria antiquada para o estudo de enunciados não canônicos, como os que ocorrem no texto literário. Uma dificuldade adicional no cerne da relação da TR com o texto literário também poderia ser vislumbrada nas nebulosas noções de ‘mutualidade cognitiva’ e ‘mutualidade afetiva’, conceitos da TR que tendem a se tornar fortuitas durante os processos interpretativos.

Em trabalho posterior, a crítica de Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) foi dirigida contra a edição especial da Language and Literature (1996), destinada à relação entre teoria da relevância, retórica e estilo literário. Green iniciou sua argumentação recapitulando o fracasso de modelos anteriores que se propuseram ao estudo da literatura, como a semiótica de Jakobson (1960) e a pragmática literária de Sell (1991SELL, Roger D. Literary Pragmatics. London;New York: Routledge, 1991.). Retoricamente, Green elaborou a seguinte pergunta: ‘por que esses programas falharam?’ A resposta, conforme Green, é a de que ‘eles falharam porque foram, de uma só vez, muito ambiciosos e muito limitados':

Why have these programmes failed? They have, failed because they are at once too ambitious and too narrow. They are ambitious in that they seem to offer theories of textuality which range across discourses and they are narrow in that the readings produced by the application of the theories are weak and reductive. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 133).6 6 Por que esses programas falharam? Eles falharam porque são ao mesmo tempo ambiciosos demais e limitados demais. São ambiciosos na medida em que parecem oferecer teorias de textualidade que vão além dos discursos e são limitados na medida em que as leituras produzidas pela aplicação das teorias são fracas e redutoras. (GREEN, 1997, p. 133).

Com isso, Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) considerou estar evidenciando uma série de problemas sobre a natureza da comunicação literária, tanto no escopo da linguística quanto da pragmática relevantista. Ele expressou a esperança de que mais acadêmicos se envolvessem para a resolução desses problemas, e que apresentassem novas contribuições para as relações entre linguagem e literatura, ao invés de se limitarem à consideração de que a aplicação da TR aos textos literários parece pouco questionável. Empenhado em realçar a inconsistência da aproximação da relevância ao estudo literário, Green desferiu uma de suas mais controversas afirmações, ao dizer que:

Anything that a relevance theorist can say about a literary text, however, can be, and most probably has been, said by conventional literary criticism. Indeed the word ’conventional’ has an ironic edge here, for the literary readings produced by the application of relevance-theoretic approaches are of the most naive and intentionalist kind. It is as if the past thirty years or so of stunning developments in the field of literary criticism had never occurred. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 134).7 7 Qualquer coisa que um teórico da relevância possa dizer sobre um texto literário, no entanto, pode ser, e muito provavelmente já foi dito pela crítica literária convencional. De fato, a palavra "convencional" tem aqui uma vantagem irônica, pois as leituras literárias produzidas pela aplicação de abordagens teórico-relevantistas são do tipo mais ingênuo e intencionalista. É como se os últimos trinta anos, mais ou menos, de desenvolvimentos impressionantes no campo da crítica literária nunca tivessem ocorrido. (GREEN, 1997, p. 134).

Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) deu continuidade aos seus argumentos protestando contra a afirmação de que todos os textos são processados cognitivamente da mesma maneira. Esse equívoco estaria conduzindo a TR ao fracasso, e tal fracasso poderia ser explicado por uma aparente cegueira de que a pragmática da relevância sofre no tocante à teoria literária. Para ilustrar a aparente cegueira da pragmática relevantista, Green retomou seu argumento anterior sobre dimensão macro da literatura e a dimensão micro da literatura, admitindo que do ponto de vista macro, a TR oferece uma grande contribuição para o entendimento da comunicação literária. Porém em seu nível micro, para a análise de textos literários, a TR soaria como reducionista, devido ao seu modo de análise de enunciados de um diálogo entre Pedro e Maria:

The reification of textual examples has a long history, from “Socrates is mortal” and “The King of France is bald” to “Colourless green ideas sleep furiously,” and in some ways is unavoidable. But such examples present many more difficulties when used to elucidate a model of living communication. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 136).8 8 A reificação de exemplos textuais tem uma longa história, desde "Sócrates é mortal" e "O Rei da França é careca" até "Idéias verdes incolores dormem furiosamente", e de certa forma é inevitável. Mas tais exemplos apresentam muito mais dificuldades quando usados para elucidar um modelo de comunicação viva. (GREEN, 1997, p. 136).

Devido ao seu caráter reducionista para com a materialidade literária, Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) concluiu que a TR não pode oferecer melhores leituras literárias, mas somente o emprego de um metaframe, não contribuindo em nada para a extração do significado de um texto. Em outras palavras, apesar da importância de algumas de suas ideias para a compreensão da literatura como discurso, a TR nada tinha a contribuir para a análise de um texto literário. Green (1997) considerou, ainda, que algumas das ideias da relevância para o estudo literário não passavam de um conjunto de chavões interpretativos típico de velhas poéticas old fashion. Sendo assim, ainda que oferecesse a possibilidade de uma reinterpretação/reavaliação das interpretações mais tradicionais dadas aos tropos, a aproximação da TR à literatura, ao menos como foi apresentada na década de 1990, reduzia a interpretação literária a um nível muito básico:

A model of communication is produced which is then elucidated through the use of simplified and skewed examples. They are simplified because although their theory is about the mechanics of communication the examples are ossified and abstracted; they are skewed because it seems that a theory of living communication must rely on the most petrified of examples for its elucidation. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 136).9 9 Produz-se um modelo de comunicação que é então elucidado por exemplos simplificados e enviesados. Eles são simplificados porque embora sua teoria seja sobre a mecânica da comunicação, os exemplos são ossificados e abstraídos; eles são enviesados porque parece que uma teoria de comunicação viva deve contar com os exemplos mais petrificados para sua elucidação. (GREEN, 1997, p. 136).

Caricaturando os teóricos da relevância como neófitos, Green encerrou sua crítica com a afirmação de que embora a TR empregasse jargões dos anos de 1990, ela vinha apresentando uma visão dos anos de 1920, ao se concentrar somente nos esforços de processamento e nas entradas enciclopédicas da linguagem. Para Green, a ideia de que um autor criativo procura meramente tornar manifesta uma grande variedade de implicaturas fracas, submetia a TR à condição de uma teoria conservadora, sendo este tipo de proposta o que mais se distanciava das preocupações tanto daqueles que se interessam pela psicologia cognitiva quanto pela teoria literária.

2.2 WILSON’S IDEALS: A TEORIA DA LITERATURA PELA TEORIA DA RELEVÂNCIA

Keith Green commented that so far, the impact of relevance theory on literary studies had been ‘minute’ in comparison with its effect on other disciplines... (WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204).10 10 Keith Green comentou que, até agora, o impacto da teoria da relevância nos estudos literários tinha sido "minúsculo" em comparação com seu efeito em outras disciplinas... (WILSON, 2018).

A contestação de Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.), sobre a inaptidão de uma teoria proposicionalista, como a TR, para o estudo literário não era uma novidade, visto que o trabalho de Pilkington (1994PILKINGTON, Adrian. Poetic Thoughts and Poetic Effects: A Relevance Theory Account of the Literary Use of Rhetorical Tropes and Schemes. 1994. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1994.) antecipara esse problema como o argumento central para a elaboração daquela que viria a ser sua tese dedicada a uma pragmática dos efeitos poéticos. Coube exatamente a Pilkington, somado a Barbara MacMahon e Billy Clark (1997), se encarregar de responder as críticas que Green (1997) desferiu à edição especial de Language and Literature (1996) dedicada à aproximação da teoria da relevância aos estudos da literatura.

De acordo com Pilkington, MacMahon e Clark (1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.), um artigo anteior de Green (1996) deturpava sobremodo as propostas da TR e apresentava críticas descabidas aos teóricos da relevância, como que apenas visando a vilipendiar a tentativa de desenvolvimento de um debate sobre a pragmática e o estilo literário, ao invés de fomentá-lo. Pilkington e colegas reivindicaram o encorajamento para um debate mais construtivo, esclarecendo que a teoria da relevância não pode propiciar leituras mais ricas de textos literários, pelo simples fato de que não é a isso que ela se propõe. Uma vez que a teoria da relevância não suscita leituras, ela não pode ser responsável por um procedimento de descobertas textuais, mas apenas de oferecer explicações de leituras já existentes em termos pragmáticos cognitivos. Além disso, visa a abordar questões sobre a natureza da comunicação literária e a relação entre o literário e o não literário.

Pilkington e colaboradores criticaram as metodologias de análise que apresentam os textos literários como um produto repleto de “efeitos e elementos estéticos” a serem extraídos ou decodificados pelo crítico. Diferentemente, um texto literário se apresenta como um conjunto de indícios a serem interpretados e o processo interpretativo envolveria ao menos algumas etapas, como uma etapa de decodificação, uma de construção de contexto e uma de inferenciação, num intrincado procedimento psicológico. A riqueza dos processos interpretativos, bem como o processo pelo qual diferentes leitores chegam a diferentes leituras é que poderiam ser capturados em uma teoria da comunicação literária tal como a desenhada pela TR.

Sumariamente, Pilkington, MacMahon e Clark (1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.) contra-atacaram o argumento de Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.), de que os relevantistas não teriam dado a devida atenção aos últimos trinta anos de desenvolvimentos no campo da crítica literária, afirmando que Green é que não teria sido atento aos recentes desenvolvimentos na pragmática. O esperado da TR deveria ser o fornecimento de uma explicação dos efeitos poéticos em termos de representações e processos mentais, em vez de uma explicação puramente extraída de padrões linguísticos previamente fixados pelos textos literários. Para os autores, parecia ser premente que se Green aceitava a teoria da relevância em um nível teórico geral, ele deveria aceitar também os processos de leitura guiados por relevância. Eles repeliram a nulidade da teoria da relevância para o estudo literário, como sugerida por Green, enfatizando que os pesquisadores do quadro relevantista permaneceriam com suas mentes abertas para essa aproximação, com apelos para um debate mais construtivo entre teóricos da relevância e da literatura.

Também com a finalidade de responder as críticas de Green, Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.) elencou uma série de contribuições que a TR teria fornecido a uma melhor compreensão da comunicação humana e, por extensão, à uma melhor compreensão da comunicação literária. Entre elas, Wilson destacou que as principais contribuições da teoria da relevância para o estudo da comunicação verbal foram: a distinção de o novo modelo de comunicação inferencial da antiga versão do modelo de código da comunicação verbal; a explicitação do modo como a comunicação inferencial pode ser compreendida de acordo com as intenções informativas e comunicativas dos falantes; a proposição das noções de comunicação forte e comunicação fraca, dependendo do grau de manifestação das intenções comunicativas de um falante; e a defesa da tese de que a comunicação inferencial é empiricamente relegada a uma compreensão heurística de relevância.

Ainda segundo Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.), a interpretação dos trabalhos literários estaria ancorada nos mesmos princípios da comunicação ordinária e, por isso, o modelo da comunicação inferencial tende a lançar luz sobre os fenômenos prototípicos da literatura. A explicação inicial de Wilson foi a de que um autor literário pode não possuir apenas objetivos estritamente comunicativos, mas também objetivos não comunicativos, sociais, individuais ou puramente estéticos, o que situaria a literatura em um domínio que excede os efeitos cognitivos da interpretação, resultando em uma série de efeitos emocionais. Consequentemente, a comunicação literária se caracterizaria pelo compartilhamento de experiências sensoriais, troca de impressões, em vez de comunicação de informações precisas.

Desde as críticas de Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.) até o destaque oferecido a ele pela resposta de Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.), passaram-se 15 anos. Mais recentemente, em um novo trabalho dedicado ao estudo da literatura, Wilson (2018) tornou a dar destaque à crítica de Green, reavivando a polêmica 20 anos mais tarde. Na aparente tentativa de expelir um antigo fantasma, Deirdre Wilson e Terence Cave (2018CAVE, Terence; WILSON, Deirdre. Reading Beyond the Code: Literature e Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018.) se associaram interdisciplinarmente a demais pesquisadores da academia britânica para a apresentação daquela que parece ser a resposta materializada à crítica de Green sobre a não satisfatoriedade da TR para as microanálises dos textos literários:

Is important to make clear from the outset that the aim of our collaboration was not to develop some overarching 'theory' of literature, or to add another turn to the constantly shifting theoretical agenda of literary studies, but to explore a pragmatic of close reading. (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204, p viii).11 11 É importante deixar claro desde o início que o objetivo de nossa colaboração não era desenvolver alguma 'teoria' geral da literatura, ou acrescentar outra reviravolta à agenda teórica em constante mudança dos estudos literários, mas explorar uma pragmática de leitura atenta. (CAVE; WILSON, 2018, p viii).

Em adição:

At the level of close reading, it provides a powerful and highly flexible set of critical and analytic instruments. (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204, p 1).12 12 Ao nível da leitura atenta, fornece um conjunto poderoso e altamente flexível de instrumentos críticos e analíticos. (CAVE; WILSON, 2018, p 1).

Complementar à introdução da ideia de uma pragmática do ‘close reading’, duas afirmações adicionais nos chamam a atenção no modo como Cave e Wilson (2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204) elaboram sua apresentação da atual perspectiva relevantista para a literatura. A primeira delas é a definição de literatura, expressa sob a noção de algo como ‘loosetalk’, e a segunda é a admissão de que Reading Beyond the Code não sistematiza a TR em sua relação com TL. Estas afirmações nos serão proveitosas para a sugestão daquilo que poderia se adequar à tentativa de sistematização entre TR e TL, uma vez que o ponto de convergência entre a proposição a) de Wilson (advogada de defesa da utilidade da TR para o estudo literário) e a proposição b) de Green (advogado de acusação da incapacidade da TR para a crítica literária) é uma proposição c) de que TR é proveitosa na condição metateórica para a teoria literária.

3 CLÍMAX

We hope that others will be encouraged to engage in a more constructive debate... (PILKINGTON; MACMAHON; CLARK, 1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.).13 13 Esperamos que outros sejam encorajados a se engajar em um debate mais construtivo... (PILKINGTON; MACMAHON; CLARK, 1997).

Nesta seção final, nós buscaremos nos beneficiar dos pontos de vista contrastados de Green e de Wilson para apresentarmos nossa própria percepção de como a TR pode contribuir para o estudo da literatura. Consideremos, portanto, tanto as críticas e sugestões de Green, quanto a defesa e proposições dos teóricos da relevância, sobretudo de Wilson. Podemos aceitar, com Green, que a TR realmente sofre de um impasse quando se propõe como uma teoria de inspiração proposicionalista para a análise literária, e esta posição é defendida por de Saussure e Wharton (2019). Podemos também aceitar, com Wilson e demais pragmaticistas, que a TR pode contribuir para o estudo da literatura, quer em seu nível macro (WILSON, 2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.; PILKINGTON, 2000PILKINGTON, Adrian. Poetic Effects: A Relevance Theory Perspective. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2000.; GUIJARRO, 1999; FURLONG, 1995FURLONG, Anne. 1995. Relevance Theory and Literary Interpretation. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1995.; TROTTER, 1992TROTTER, David. Analysing Literary Prose: The Relevance of Relevance Theory. Lingua, v. 87, p. 1-27, 1992.), quer em seu nível micro, para análises de textos literários específicos (WILSON; CAVE, 2018CAVE, Terence; WILSON, Deirdre. Reading Beyond the Code: Literature e Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018.).

Podemos, simultaneamente, nos afastar da crítica de Green, de que a TR não produz melhores leituras das obras literárias que aquelas já oferecidas pelas escolas literárias anteriores e, como já anteriormente respondido (PILKINGTON; MacMAHON; CLARK, 1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.), refutar a atribuição à TR de que ela deveria produzir melhores leituras literárias, como instrumento para o exercício da crítica, quando ela, na verdade, se propõe como uma teoria descritiva/explicativa. De igual modo, podemos nos afastar das sugestões do reenquadramento relevantista para renovar ideias centradas na análise puramente textualista, como a de uma pragmática do close reading, tal como adotada por Cave e Wilson (2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204), em seu tributo à neocrítica. Além disso, nos afastamos também da ideia de uma estilística da relevância (CLARK, 1996), em seu tributo ao estruturalismo.

Portanto, o debate não é se a TR pode ou não contribuir para o estudo da literatura. Não apenas os partidários da TR defendem seu emprego para a pesquisa literária, como o próprio Green (1993GREEN, Keith. Relevance Theory and the Literary Text: Some Problems and Perspectives. Journal of Literary Semantics, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1993.) admite a grande contribuição da TR para a literatura desde que empregada como um metaframe. O debate é acerca de como a TR pode contribuir para a pesquisa literária e, neste aspecto, tendemos a concordar tanto com Green (1997), com a proposta de que a TR pode fornecer uma boa contribuição metateórica para a TL, como com Cave e Wilson (2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204), em sua confissão de que Reading Beyond the Code não sistematiza a relação da TR com a TL.

Assim, seguindo o encorajamento que Pilkington e colegas (1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.) nos dão na epígrafe acima, nos arriscamos a postular uma pequena contribuição, ainda que muito rudimentar, ao requerido esforço de sistematizar a relação entre TR e TL. Essa tarefa poderia se realizar pela reivindicação do estatuto das teorias científicas, em detrimento das teorias consideradas de segunda ordem. No entanto, este argumento nos pareceu minimamente já bem apresentado por Furlong (2007FURLONG, Anne. A Modest Proposal: Linguistics and Literary Studies. Canadian Journal of Applied Linguistics, v. 10, n. 3, p. 325-347, 2007.), em sua discussão sobre as teorias de inspiração linguística - comprometidas com a finalidade explicativa e com os critérios de ciência popperiana em sua busca por construírem-se em critérios de refutabilidade -em oposição à orientação das teorias de inspiração literária - comprometidas com a finalidade do esgotamento descritivo e com critérios de segunda ordem como a tarefa interpretativa. Nos absteremos, também, de comentar as teorias que se apresentam como uma empresa científica e as teorias que se apresentam como uma empresa interpretativa, para não incorrermos em outra das críticas de Green, sobre a excessiva reivindicação do status científico:

Linguistics itself has a fairly long history based on a tacit assumption of its ‘scientific credentials’. Indeed, it has constantly attempted to prove itself as a science. But as Roy Harris (1980) has shown, only a discipline which is fundamentally unsure of its status would need to constantly find it necessary to broadcast that status. Neither physics nor chemistry, for example, need to reaffirm their positions as sciences. (GRENN; LEBIHAN, 1996, p. 20).14 14 A própria lingüística tem uma história bastante longa baseada em uma suposição tácita de suas "credenciais científicas". De fato, ela tem constantemente tentado se provar como uma ciência. Mas, como Roy Harris (1980) demonstrou, apenas uma disciplina que é fundamentalmente insegura de seu status precisaria constantemente achar necessário transmitir esse status. Nem a física nem a química, por exemplo, precisam reafirmar suas posições como ciências. (GRENN; LEBIHAN, 1996, p. 20).

Ao invés de recorrer ao estatuto das teorias científicas, recorramos, portanto, ao estatuto das teorias literárias, tanto em sua corrente teorética, ou seja, aquela em favor das tentativas de construção teórica, quanto em sua corrente antiteorética (leia-se pensadores pós-modernos, ou especificamente da desconstrução), aquela assentada na assunção da impossibilidade da teorização literária.

Em um dos marcos inaugurais da TL, a clássica obra de Wallek e Warren (1949) chamava a atenção para as recorrentes tentativas de se obscurecer uma importante distinção entre literatura e estudos literários, que pressupõe duas atividades distintas: uma é a atividade criadora, é uma arte; a outra, se não for exatamente uma atividade de ciência, é uma espécie atividade de conhecimento ou saber. Em defesa da necessidade de sistematização do estudo da literatura, eles expuseram um bem difundido ceticismo de que o estudo literário possa ser racionalizado. “O problema é como lidar intelectualmente com a arte e, em especial, com a arte literária. É possível? E como é possível?” (WALLEK; WARREN, 1949). Para os autores, um estudo adequado seria aquele que distingue teoria, crítica e história literária, enfatizando a “teoria literária” como o estudo dos princípios da literatura, das suas categorias, critérios etc., e diferenciar os estudos de obras de arte concretas como “crítica literária”.

Na linha de Wallek e Warren, Compagnon (1998) também distinguiu teoria, crítica e história. Caberia à crítica literária a construção dos discursos sobre as obras literárias, os quais descrevem, interpretam, reforçam o sentido e o efeito que as obras exercem sobre os leitores. A crítica avalia, aprecia, julga; a história literária, por sua vez, é um discurso que insiste nos fatores exteriores à experiência da leitura, por exemplo, na concepção ou na transmissão das obras, sendo que enquanto a crítica literária enuncia proposições do tipo “A é mais belo que B”, a história literária afirma: “C deriva de D”. Finalmente, a teoria literária requer que os pressupostos dessas afirmações sejam explicitados. O que você chama de literatura? Quais são seus critérios de valor? A teoria se apresenta como um permanente protesto contra o implícito, relembrando que suas problemáticas perguntas podem ser respondidas de diversas maneiras, constituindo-se como uma disciplina relativista. Compagnon entende a TL como uma atitude analítica, cética (crítica), um ponto de vista metacrítico, com a finalidade de interrogar os pressupostos de todas as práticas críticas (em sentido amplo). A TL não constitui, portanto, um método, mas um procedimento de desconfiança, vigilância e ceticismo, incutindo sempre a suspeita.

Suspeita é, inclusive, a aposta central da explicação de Paul Fry (2012FRY, Paul. Theory of Literature. New Haven: Yale University Press, 2012.) para sua explanação para a o atual estado da arte da TL. Para Fry, além de definir literatura, a teoria literária também é o domínio do conhecimento em que são feitas as seguintes perguntas: o que causa a literatura e quais são os efeitos da literatura? Quanto à causa, perguntamos: o que é um autor? E qual é a natureza da autoridade literária? Da mesma forma, se a literatura tem efeitos, deve ter efeitos sobre alguém, e isso levanta a questão igualmente interessante e irritante, segundo Fry: o que é um leitor? A teoria literária estaria direcionada ao modo como a literatura é formada pela linguagem, como ela é formada pela psique humana e por forças sociais, econômicas e históricas. A teoria literária também pergunta “o que é um leitor?”, bem como “Como se faz a leitura? Como é a experiência de leitura? Como encontramos o texto face a face? Como nos colocamos em contato com o texto, que em muitos aspectos pode estar distante de nós?”.

Partindo de nomes como o de Marx, Nietzsche e Freud, em sua Theory of Literature, Fry (2012FRY, Paul. Theory of Literature. New Haven: Yale University Press, 2012.) diferencia a TL não somente das teorias científicas, mas também das teorias filosóficas, especialmente as da metafísica, que operam pela proposição de questões fundamentais e construção de sistemas. Fry apresenta a versão antiteorética do estudo literário, sendo que o estudo da literatura, ao menos como praticado no século XX, se distingue das demais formas de teorias por estar fortemente influenciado pelo ceticismo. Assim, a TL estaria permeada de uma variedade de dúvidas sobre os fundamentos acerca do que podemos pensar, sendo a dúvida sua principal característica. O argumento de Fry está intimamente vinculado àquilo que Paul Ricouer propôs como uma hermenêutica da suspeição. Os mestres da suspeita, Marx, Nietzsche e Freud, foram precursores de uma forma de pensamento que tem sido dominante na TL, uma modalidade de pensamento crítico orientado permanentemente para o trabalho do questionamento, para o exercício da crítica.

De um ponto de vista bastante contrastante com o de Fry, que partiu de Marx, Nietzsche e Freud, Wolfgang Iser (2006ISER, Wolfgang. How to do Theory. Malden: Blackwell Publishing, 2006.) apelou às ideias de Popper e Kuhn para caracterizar a TL. Ao explicar How to do Theory, Iser (2006) considerou as teorias como ‘ferramentas intelectuais’, divididas entre teorias hard-core e teorias soft-core. Enquanto as teorias científicas estão aptas à realização de previsões, as teorias soft, como praticadas nas humanidades, preconizam uma tentativa de mapeamento. Teorias, portanto, não são construídas para a observação de fenômenos, antes, elas viabilizam a observação dos fenômenos, colocando-os em sistemas, operando por um conjunto de afirmações e buscando premissas.

Iser explica que uma das motivações para o surgimento da TL foi a dificuldade em se caracterizar uma essência definível da arte, o que resultou numa série de novas questões, como “Quais são as funções da obra, quais são suas modalidades, como funcionam e o que explica suas diferenças?” Desde então, os desdobramentos da TL não estão mais em abordar a arte, mas sim em questões como a linguagem e a estrutura da obra, sua mensagem, a organização de suas relações sígnicas, seus padrões e sua comunicação, as incursões feitas em suas realidades contextuais, o processamento e a recepção de textos e a exposição de pressupostos inerentes ao trabalho.

Uma das motivações centrais no desenvolvimento da TL, como comentada por Iser, foi a de que a significação literária passou a ganhar centralidade. Até certo momento, o fato de que uma obra individual resultasse em interpretações muito diferentes não parecia constituir um problema, já que o professor arbitrava o significado das obras para fins pedagógicos. Mas no momento em que se questionou seriamente como os significados escondidos nas obras variavam de acordo com os intérpretes, tornou-se muito intrigante a constatação de que embora as letras, as palavras e as frases da obra permanecessem as mesmas, elas variavam a cada nova recepção interpretativa. Desde então, a TL tornou-se consciente de que os pressupostos que regem a interpretação eram em grande parte responsáveis pelo que a obra deveria significar. A TL tornou-se necessária para discernir entre os insights objetivos e o gosto subjetivo, tornando-se um antídoto contra a crítica impressionista. O sucesso da TL só foi possível porque vários movimentos contribuíram para o seu desenvolvimento, destacadamente a semiótica, teoria da gestalt, psicanálise, hermenêutica, teoria da informação, sociologia e pragmática, cada uma apresentando suas próprias perspectivas teóricas para o estudo da arte e da literatura.

Nesse sentido de Iser é que a TR também se apresenta como candidata a oferecer uma orientação adicional ao estudo literário. Sua inovação não está na produção de novas leituras literárias, como requerido por Green (1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., 2001), mas naquilo que Guijarro (apud BUENO, 2017BUENO, Rodrigo. A natureza pragmática do discurso ficional. 2017. X f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós Graduação em Letras, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017.) considerou um “giro copernicano no estudo da literatura e das artes”, pela introdução de uma nova compreensão sobre a comunicação humana, de base fundamentalmente cognitiva. Acreditamos que a TR pode cumprir uma dupla finalidade: contribuir para o enriquecimento do ecletismo teórico, caro à TL, e também contribuir para sua ambição de sistematização dos fenômenos literários.

Como a TR pode contribuir à sistematização literária? Uma primeira sugestão é aquela centralmente contida na discussão como posta por Green e Wilson, acima relatada. Green (1993GREEN, Keith. Relevance Theory and the Literary Text: Some Problems and Perspectives. Journal of Literary Semantics, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1993., 1997) requereu o desenvolvimento de uma abordagem relevantista mais centrada nos textos literários - a ideia de uma pragmática da microanálise literária. Wilson, em sua parceria com Cave e colaboradores, ofereceu uma pragmática do ‘close reading’, fornecendo uma série de análises avaliativas da literatura. Nós ressaltamos que enquanto a preocupação de Green era essencialmente a obtenção de um ferramental para o exercício prático da crítica literária, Wilson e colaboradores buscaram desenvolver um manual para o exercício dessas análises e críticas literárias. Desse modo não nos parece equivocado afirmar que as preocupações de Green e de Wilson e colaboradores podem ser alocadas no domínio daquilo que os manuais de TL designam como ‘crítica literária’.

O interesse da crítica literária é a valoração, a busca por uma “leitura autoral do texto literário, pela capacidade de oferecer um ponto de vista inovador”. Como definido por Pilkington (1994PILKINGTON, Adrian. Poetic Thoughts and Poetic Effects: A Relevance Theory Account of the Literary Use of Rhetorical Tropes and Schemes. 1994. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1994., p. 7), “literary criticism is centrally concerned with evalualing works of literature. The aesthetic value to be obtained from works of literature derives from a particular kind of reading experience”. Contudo, para além desse domínio do exercício das análises literárias e da práxis crítica, nós entendemos a TR como uma ferramenta também para a teorização literária.

Seguindo o entendimento de que a TL se ocupa da pesquisa por princípios, sugerimos que uma regra geral é está contida na observação de que o significado literário não está restrito ao código linguístico, e essa premissa é compartilhada tanto por teóricos literários quanto por pragmaticistas. O significado literário repousa em alguma capacidade dos intérpretes em inferir tal significado e, embora nem todos os teóricos literários se filiem a uma perspectiva inferencialista, a dimensão inferencial da interpretação literária é tacitamente bem aceita. Em outras palavras, conscientemente ou não, a TL pressupõe uma abordagem inferencial e, ao pressupor uma abordagem inferencial, a TL clama por uma teoria inferencial bem explicitada. É neste sentido que a TR pode contribuir para os estudos da Literatura.

Neste mesmo sentido, Mackenzie (2002MACKENZIE, Ian. Paradigms of Reading: Relevance Theory and Deconstruction. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2002.) observa de que se há um ponto em que as teorias dedicadas aos estudos da literatura se aproximam é o de que os significantes linguísticos raramente coincidem totalmente com os significados pretendidos ou interpretados. Apesar desse consenso, o que afasta as teorias umas das outras são as conclusões extraídas dessa premissa. Mackenzie comenta que teorias de orientação desconstrucionista, por exemplo, tendem a considerar esse tipo de fenômeno como uma chave para a afirmação da instabilidade da linguagem e da impossibilidade do entendimento. Teorias pragmáticas, de outro modo, tendem a considerar que a disparidade entre códigos linguísticos e ações comunicativas reforça a necessidade de inferência nos processos interpretativos.

Também Blakemore (1992BLAKEMORE, Diane. Implicatures and Style. In: BLAKEMORE, D. Understanding Utterances. Oxford: Blackwell, 1992.), observou aspectos de aproximação e afastamento entre ambos. Não há consenso, na medida em que é geralmente aceito entre os teóricos literários a ideia da irrecuperabilidade da intenção comunicativa de um autor literário, enquanto entre os pragmaticistas é bem-aceita a ideia de que em algum grau a intenção comunicativa expressa pela autoria literária é reconstruída pelo leitor, ainda que na esfera das suposições. Todavia, há consenso entre teóricos literários e pragmaticistas sobre a inexistência de uma linha divisória nítida entre o metafórico e o literal, diferentemente do que propunha a visão clássica (aristotélica), cujo apelo era o de que enunciados figurativos exprimiam o afastamento das normas do que se convencionava como literal.

Essas observações de Mackenzie (2002MACKENZIE, Ian. Paradigms of Reading: Relevance Theory and Deconstruction. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2002.) e Blakemore (1992BLAKEMORE, Diane. Implicatures and Style. In: BLAKEMORE, D. Understanding Utterances. Oxford: Blackwell, 1992.) não são as únicas forças centrífugas e centrípetas no modo como se relacionam os teóricos literários e os teóricos da pragmática. Contudo, não parece haver dissenso de que parte da dificuldade em se estudar literatura repousa no caráter reducionista das mensagens, se analisadas de um ponto de vista estritamente linguístico. Também não parece haver dissenso quanto ao fato de que o objeto literário projeta fenômenos extralinguísticos, como a noção de contexto, de interpretação, de estética, valoração, subjetividade, entre outros. Como explicado por Green e LeBihan (1995GREEN, Keith; LEBIHAN, Jill. Critical Theory and Practice: A Coursebook. London: Routledge, 1995., p. 6), “language is only one aspect of the literary experience, albeit an important one. Criticism would have to develop methods of integrating linguistic analysis with other aspects of texts such as context (historical, social, situational)”.

Por essas razões, os teóricos da literatura geralmente trabalham com a extensão de técnicas que superam as ferramentas tradicionais de análise linguística, tanto nas tradições intratextuais quanto nas tradições extratextuais. Como é constatável na maioria dos manuais de TL, os teóricos se apoderam de técnicas como: a) ‘close reading’, a fim de obter insights interpretativos de cada elemento do texto; b) marxismo, a fim de observar como a literatura expressa dinâmicas das relações materiais da produção humana; c) formalismo russo, em que a estrutura fornece fundamentos materiais da textualidade para a interpretação literária; d) estruturalismo, em que a noção de sistema estruturado é a base para a compreensão da literatura; e mais recentemente com as escolas contemporâneas, e) crítica social, f) feminismo, g) desconstrucionismo, h) ecocrítica, i) decolonialismo, entre outros, em que o modo de organização social é a matéria-prima da crítica.

Nós argumentamos que estes conjuntos de técnicas são fundamentalmente inferencialistas, isto é, ao perceberem as limitações de técnicas puramente fundamentadas nos códigos linguísticos, os teóricos literários apelam para suas habilidades inferenciais tanto para a construção de suas hipóteses teóricas quanto para a elaboração de suas críticas literárias. Tradições intratextualistas tendem a inferir a interpretação literária exclusivamente do texto. Tradições extratextualistas tendem a inferir a interpretação a partir do contexto - um dado contexto ad hoc - empregando ‘marxismo, feminismo, decolonisalismo’ etc. como um background de conhecimentos em que o texto literário deverá ser interpretado.

Em nossa perspectiva inferencial da pragmática, uma escola crítica (o marxismo ou o feminismo, por exemplo) não tenderia a estabelecer uma teoria rival, que compete por uma melhor interpretação do significado literário. Contrariamente, uma escola crítica projeta um contexto ad hoc (um contexto dado) em que uma dada obra deverá ser interpretada. Desse modo, a interpretação de um romance à luz do marxismo ou do feminismo evidencia quais aspectos da obra tendem a ser considerados relevantes pelo analista. Nesta perspectiva inferencialista, não apenas os aspectos da obra se tornam salientes, mas as próprias predileções do crítico, em sua busca por aquilo que considera mais relevante. Essa predileção termina por contribuir não apenas para a dimensão em que a obra está sendo interpretada, mas também indica à luz de qual contexto, além, é claro, da originalidade do próprio crítico em sua leitura autoral.

Eis, portanto, uma das contribuições que a TR tende a oferecer à TL: ela fornece um quadro geral da comunicação humana fundamentalmente inferencial e sistemático, que pode ser empregado tanto para o estudo da linguagem ordinária, como apreendida pelos pragmaticistas, como para o estudo da linguagem extraordinária da literatura, como apreendida pelos teóricos literários. Por não estar limitada ao escopo estrito das teorias linguísticas, mas ampliada em uma visão cognitiva e comunicativa do uso da linguagem, a TR está, ao menos provisoriamente, gabaritada a oferecer um esquema metodológico auxiliar aos teóricos literários em seus insights criativos - sendo a própria noção de insight entendida como uma forma prototípica de procedimento inferencial.

4 EPÍLOGO

Nós introduzimos este trabalho expondo duas agendas inter-relacionadas para o desenvolvimento da TR, uma dedicada ao dito ‘desafio dos efeitos não-proposicionais’ e uma chamada especificada para o desafio ao aprimoramento do estudo literário no programa relevantista. Tendo nos concentrado na segunda chamada, entendemos que nossa contribuição pode ser resumida em três etapas. Primeiramente, nós procuramos reconstruir o processo pelo qual os estudos literários foram introduzidos como um problema para a pesquisa relevantista. Nós tentamos elucidar que, embora TR e TL compartilhem a literatura como mesmo objeto a ser apreendido de um ponto de vista observacional, seus objetos teóricos são bastante distintos e não devem ser confundidos.

Portanto, em alguma medida, há um equívoco conceitual bidirecional no debate entre TR e TL. Enquanto teóricos literários, como Green, seduzem a TR à tentação de se lançar à mesma tarefa já delegada aos críticos literários, oficialmente encarregados da produção de leituras autorais dos textos literários, os teóricos da relevância se deixam seduzir por algumas sutilezas: a crítica literária produz impressões/interpretações (valores) sobre a literatura; a teoria literária avalia ceticamente as impressões/interpretações (valores) da crítica literária; a teoria da relevância não produz impressões/interpretações e nem as avalia, ela tão meramente as descreve e explica. Por fim, nós buscamos apresentar nossa própria perspectiva de como a TR pode contribuir não para a crítica literária, mas para a TL, afirmando que se é verdade que o significado literário não está restrito ao código linguístico, então uma TL requer uma teoria da inferência do significado. Consequentemente, a TR pode fornecer um quadro teórico auxiliar da comunicação inferencial, como requerido nos estudos da literatura.

Nossas ideias não são novas por completo, mas desfrutam da fortuna crítica que se vem estabelecendo no debate TR e TL, tendo sido prenunciadas por outros teóricos da relevância e mesmo outros teóricos da literatura, especialmente por aqueles que deram atenção aos seminais trabalhos de Paul Grice. Prevendo uma ou outra rotulação de old fashion, como as já anteriormente proferidas por Green, há que se considerar que não somente a tradição dos críticos literários tem o domínio exclusivo da reinterpretação e da criatividade autoral das leituras, mas também outras tradições têm dado ênfase a ideia de que “todo escriba, instruído no Reino (Unido), é como um homem que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos a Fábio José Rauen, Maria Isabel Bordini, Angélica Andersen e Raquel Praconi pelas preciosas leituras, revisões e críticas ao manuscrito na primeira etapa de aprovação deste artigo. Além disso, agradecem aos avaliadores da LemD que ampliaram as contribuições. Erros remanescentes são de nossa inteira responsabilidade.

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  • *
    Este texto consiste em uma versão prévia de pesquisa mais ampla em desenvolvimento.
  • 1
    Não é raro, ao final de um seminário introdutório sobre Teoria da Relevância, que os membros da audiência façam perguntas sobre o potencial da teoria como meio de explicar a comunicação literária ou, resumindo, a Literatura (não menos!) (Guijarro, 1998GUIJARRO, José Luis. The Possible Place of Relevance Theory in a Cognitive Explanation of Literature. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, v. 11, p. 117-137, 1998.).
  • 2
    Talvez surpreendentemente, a maioria das reações não vieram de pragmaticistas griceanos, cujas análises criticamos severamente, mas de psicólogos, pragmaticistas não-griceanos e teóricos literários (Sperber e Wilson, 1995SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. 2nd ed. Oxford: Blackwell, 1995.).
  • 3
    “Idéias verdes incolores dormem furiosamente” (CHOMSKY, 1957).
  • 4
    Para o aprofundamento dos estudos em Teoria da Relevância e estudos literários, os autores recomendam os trabalhos de Pilkington (1992PILKINGTON, Adrian. Poetic effects. Lingua v. 87, p. 29-51, 1992.), Trotter (1992TROTTER, David. Analysing Literary Prose: The Relevance of Relevance Theory. Lingua, v. 87, p. 1-27, 1992.) Blakemore (1992BLAKEMORE, Diane. Implicatures and Style. In: BLAKEMORE, D. Understanding Utterances. Oxford: Blackwell, 1992.), Pilkington (1994), Furlong (1995FURLONG, Anne. 1995. Relevance Theory and Literary Interpretation. Doctoral thesis (Ph.D) - University College London, 1995.), Clark (1996CLARK, Billy. Stylistic analysis and relevance theory. Language and Literature, v. 5, n. 3, p. 163-178, 1996.), Guijarro (1998GUIJARRO, José Luis. The Possible Place of Relevance Theory in a Cognitive Explanation of Literature. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, v. 11, p. 117-137, 1998.), Wilson (2012WILSON, Deirdre. Relevance and the Interpretation of Literary Works. In: YOSHIMURA, A. (ed.). Observing Linguistic Phenomena: Festschrift for Seiji Uchida. Tokyo: Eihosha, 2012. p.) e Cave e Wilson (2018CAVE, Terence; WILSON, Deirdre. Reading Beyond the Code: Literature e Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018.).
  • 5
    Temos uma teoria simples elegantemente articulada sugerindo uma revolução na forma de pensar a comunicação. Mas depois vêm Pedro e Maria... (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997.).
  • 6
    Por que esses programas falharam? Eles falharam porque são ao mesmo tempo ambiciosos demais e limitados demais. São ambiciosos na medida em que parecem oferecer teorias de textualidade que vão além dos discursos e são limitados na medida em que as leituras produzidas pela aplicação das teorias são fracas e redutoras. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 133).
  • 7
    Qualquer coisa que um teórico da relevância possa dizer sobre um texto literário, no entanto, pode ser, e muito provavelmente já foi dito pela crítica literária convencional. De fato, a palavra "convencional" tem aqui uma vantagem irônica, pois as leituras literárias produzidas pela aplicação de abordagens teórico-relevantistas são do tipo mais ingênuo e intencionalista. É como se os últimos trinta anos, mais ou menos, de desenvolvimentos impressionantes no campo da crítica literária nunca tivessem ocorrido. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 134).
  • 8
    A reificação de exemplos textuais tem uma longa história, desde "Sócrates é mortal" e "O Rei da França é careca" até "Idéias verdes incolores dormem furiosamente", e de certa forma é inevitável. Mas tais exemplos apresentam muito mais dificuldades quando usados para elucidar um modelo de comunicação viva. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 136).
  • 9
    Produz-se um modelo de comunicação que é então elucidado por exemplos simplificados e enviesados. Eles são simplificados porque embora sua teoria seja sobre a mecânica da comunicação, os exemplos são ossificados e abstraídos; eles são enviesados porque parece que uma teoria de comunicação viva deve contar com os exemplos mais petrificados para sua elucidação. (GREEN, 1997GREEN, Keith. Butterflies, Wheels and the Search for Literary Relevance. Language and Literature, v. 6, n. 2, p. 133-138, 1997., p. 136).
  • 10
    Keith Green comentou que, até agora, o impacto da teoria da relevância nos estudos literários tinha sido "minúsculo" em comparação com seu efeito em outras disciplinas... (WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204).
  • 11
    É importante deixar claro desde o início que o objetivo de nossa colaboração não era desenvolver alguma 'teoria' geral da literatura, ou acrescentar outra reviravolta à agenda teórica em constante mudança dos estudos literários, mas explorar uma pragmática de leitura atenta. (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204, p viii).
  • 12
    Ao nível da leitura atenta, fornece um conjunto poderoso e altamente flexível de instrumentos críticos e analíticos. (CAVE; WILSON, 2018WILSON, Deirdre. Relevance Theory and Literary Interpretation. In: CAVE, X.; Wilson, D. (eds.). Reading Beyond the Code: Literature and Relevance Theory. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 185-204, p 1).
  • 13
    Esperamos que outros sejam encorajados a se engajar em um debate mais construtivo... (PILKINGTON; MACMAHON; CLARK, 1997PILKINGTON, Adrian; MACMAHON, Barbara; CLARK, Billy. Looking for an Argument: A Response to Green. Language and Literature, v. 6, p. 139-148, 1997.).
  • 14
    A própria lingüística tem uma história bastante longa baseada em uma suposição tácita de suas "credenciais científicas". De fato, ela tem constantemente tentado se provar como uma ciência. Mas, como Roy Harris (1980) demonstrou, apenas uma disciplina que é fundamentalmente insegura de seu status precisaria constantemente achar necessário transmitir esse status. Nem a física nem a química, por exemplo, precisam reafirmar suas posições como ciências. (GRENN; LEBIHAN, 1996, p. 20).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    23 Jul 2022
  • Aceito
    23 Fev 2023
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