Open-access PARÁFRASES NA ESCRITA ACADÊMICA: O DILEMA DA COLCHA DE RETALHOS

PARAPHRASES IN ACADEMIC WRITING: THE PATCHWORK DILEMMA

PARÁFRASIS EN LA ESCRITURA ACADÉMICA: EL DILEMA DE UNA COLCHA DE RETAZOS

Resumo

O discurso científico fundamenta-se no diálogo entre vozes autorais e alheias, sendo a paráfrase um recurso central na escrita acadêmica. Este artigo problematiza o uso de paráfrases na produção científica da área de Letras, com o propósito de compreender como as referências consultadas são mobilizadas e reformuladas. Com base em autores como Fuchs, Ribeiro e Hilgert, a análise destaca paráfrases elaboradas por estudantes de pós-graduação a partir de enunciados teóricos disponíveis na web, revelando casos de fidelidade e de deturpação do sentido original. Os resultados apontam para a urgência de se fortalecer o ensino da escrita acadêmica no Ensino Superior, enfatizando a qualidade da interpretação e o uso ético das fontes.

Palavras-chave:
Paráfrase; Escrita acadêmica; Vozes alheias; Fidelidade interpretativa; Plágio de fonte

Abstract

Scientific discourse is grounded in the dialogue between authorial and external voices, making paraphrasing a central tool in academic writing. This article problematizes paraphrases in scientific production within the field of Language and Literature, aiming to understand how consulted references are mobilized and reformulated. Based on authors such as Fuchs, Ribeiro, and Hilgert, the analysis highlights paraphrases produced by graduate students from theoretical statements available on the web, revealing cases of fidelity and distortion of the original meaning. The results emphasize the urgency of strengthening academic writing instruction in higher education, focusing on the quality of interpretation and the ethical use of sources.

Keywords:
Paraphrase; Academic Writing; External Voices; Interpretive Fidelity; Source Plagiarism

Resumen

El discurso científico se fundamenta en el diálogo entre voces autorales y ajenas, siendo la paráfrasis un recurso central en la escritura académica. Este artículo problematiza el uso de paráfrasis en la producción científica del área de Letras, con el propósito de comprender cómo las referencias consultadas son movilizadas y reformuladas. Basado en autores como Fuchs, Ribeiro y Hilgert, el análisis destaca paráfrasis elaboradas por estudiantes de posgrado a partir de enunciados teóricos disponibles en la web, revelando casos de fidelidad y distorsión del sentido original. Los resultados apuntan a la urgencia de fortalecer la enseñanza de la escritura académica en la educación superior, enfatizando la calidad de la interpretación y el uso ético de las fuentes.

Palabras clave:
Paráfrasis; Escritura académica; Voces ajenas; Fidelidad interpretativa; Plagio de fuente

1 INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, há uma pressão exacerbada por publicação científica que mostre avanços na produção do conhecimento nas instituições de ensino superior. Decorre disso uma corrida desenfreada - que se estende aos estudantes de pós-graduação - para publicar artigos em periódicos prestigiados e, assim, obter avaliações positivas e melhorar a classificação das instituições. Esse processo, por sua vez, converte-se em benefícios financeiros oferecidos por órgãos de fomento.

Esse trabalho de produção textual acadêmico-científica nem sempre se configura como criativo, autoral. Em função das pressões exercidas sobre autores, cresce o número de publicações, que se traduzem em sensível repetição/reprodução de conteúdos, sem que se possa constatar em que sentido avançam cientificamente. Parece ter mais impacto, em alguns contextos e áreas, a quantidade de publicações do que, efetivamente, aquilo que nelas se discute. Martins-Ferreira (2017, p. 15) ressalta que esse viés quantitativo

[...] remodela os objetivos da escrita, que passa a não ter como principais funções a produção e divulgação do conhecimento científico, mas o ‘atulhamento’ do currículo Lattes, o que afasta de modo notório a escrita acadêmica de um ideal que poderia proporcionar um desenvolvimento científico mais substancial e significativo.

Esse movimento de se “produzir como moeda de troca” desencadeia, nas práticas de produção acadêmico-científica, estratégias de composição de textos. Esse aspecto se amplica quando pensamos no modo como um autor iniciante frequentemente elabora seus primeiros artigos científicos ou até mesmo sua dissertação ou tese. Corretamente, ele recorre a diversas vozes para sustentar seus pontos de vista, mas deixa visível ao leitor mais experiente que o texto é uma “colcha de retalhos” de vozes que derivam de leituras superficiais dos textos-fonte.

Como profissional da área de Letras, minha experiência na escrita e revisão de textos acadêmicos tem mostrado que a prática de citar outras citações corrobora a superficialidade das leituras realizadas por estudantes de pós-graduação. Por exemplo, um autor faz referência à Estética da Criação Verbal, de Mikhail Bakhtin (publicada originalmente no Brasil em 1979), usando diferentes citações em seu texto, como (Bakhtin, 2015 [1979]), (Bakhtin, 2003 [1979], p. 272), (Bakhtin, 1997) e (Bakhtin, 2010, p. 189). Nenhum desses textos, todavia, é listado na seção de referências do artigo. Ao solicitar que o autor complete as referências, ele responde algo como “li isso” ou “selecionei isso” de um outro texto - fato que configura um plágio de fonte. Essa prática, largamente utilizada na produção acadêmico-científica de estudantes de pós-graduação, é também visível em artigos que recebo para dar um parecer, sugerindo que a leitura dos textos originais está comprometida.

Além disso, há casos em que os autores produzem paráfrases de distintos autores, em vez de citações. Imaginemos a produção de paráfrase desse mesmo trecho de Bakhtin elaborada a partir de um trecho já parafraseado anteriormente por um outro autor, e pensemos na fidelidade à ideia original de Bakhtin. Até que ponto é possível dizer que uma paráfrase de paráfrase expressa o pensamento do teórico? Leituras superficiais de textos teóricos podem ser a causa da presença maciça de paráfrases de paráfrases, de citações de citações - plágio de fonte, portanto -, sem que se dê crédito ao autor primeiro que as elaborou. E mais: essas práticas contribuem para a disseminação de conceitos distorcidos, que, inacreditavelmente, fazem-se presentes em muitas publicações e impactam negativamente o avanço da ciência.

Diante dessas questões, este artigo se propõe a problematizar a elaboração de paráfrases na escrita acadêmica. Para isso, nas seções seguintes, apresenta conceitos fundamentais de paráfrase, com ênfase na perspectiva da reformulação; detalha os critérios metodológicos adotados para a seleção do corpus; analisa excertos selecionados, que parafraseiam um determinado texto-fonte; e, por fim, apresenta considerações críticas e, principalmente, alertas a respeito da necessidade de um ensino de escrita acadêmica que evidencie e combata problemas como os abordados neste estudo.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

A escrita acadêmica é o lugar, por excelência, para a presença das paráfrases, uma vez que (a) gêneros como resumo e resenha, especialmente, tão presentes no contexto acadêmico, exigem do autor um exercício de síntese, sem que se perca a ideia original que se pretende destacar; (b) argumentar acadêmica e cientificamente envolve a interpretação de vozes de autoridade, desenvolvida com base no dizer a partir do dizer de outrem. Simplificar, então, seria a palavra de senso comum mais indicada para esse exercício de dizer sobre o dizer - de parafrasear. No entanto, paráfrase - que nada tem de simplificar um texto! - é um conceito complexo, carregado de ambiguidades, que tem sido discutido em diferentes vertentes teóricas, ora ligado à intertextualidade (Koch; Bentes; Cavalcante, 2008), ora à argumentação (Fiorin, 2015), sempre apontando, indiretamente, para uma ideia de substituição de um texto por outro. Trata-se de algo muito frequentemente ligado às formas de citação, dado o fato de que, ao citar, o autor, muitas vezes reformula-se o trecho citado a partir de sua interpretação, corroborando ou negligenciando a ideia original.

Embora reconhecendo que um texto resulta sempre de vozes sociais que emergem, explícita ou implicitamente, do contexto em que está inserido o autor - porque tais vozes constituem esse autor -, interessa, neste artigo, discutir os enunciados parafrásticos e sua organização linguístico-discursiva, justamente por intencionar problematizar de que modo autores no contexto acadêmico usam vozes alheias na composição de seus textos.

O discurso científico é sustentado justamente pelo apoio que cada autor busca em vozes alheias, articulando-as à sua própria voz na tessitura de seu texto. Assim, pode-se dizer que essas vozes alheias entram no texto de um autor com um caráter argumentativo, uma vez que é para sustentar pontos de vista ou refutar outros, complementar ou explicar, que um autor recorre a essas vozes. E de que modo isso ocorre? Por meio de citações diretas, em que a voz alheia é recortada de um texto-fonte e reproduzida ipsis litteris no texto do autor; ou, considerando-se um texto elaborado por um autor experiente, entretecida ao longo do texto, articulada à voz desse autor. Seja qual for a forma como uma voz alheia entra em um texto, remete sempre ao exercício de parafrasear, ainda que, em seguida, para contestar de alguma forma.

Koch e Elias (2016) ressaltam que tanto a citação literal quanto a parafraseada são estratégias importantes e, no processo argumentativo, sofrem variações de sentido. As literais, recortadas exatamente como são apresentadas no texto-fonte, funcionam como um discurso de autoridade. Isso significa dizer que o autor, de certo modo, se exime da responsabilidade enunciativa, deixando que a voz alheia assuma esse lugar.

Nesse sentido, revisitando textos produzidos por pós-graduandos menos experientes, é possível perceber como o uso de citações literais é, muitas vezes, exagerado, chegando ao ponto de se perguntar ao aluno-autor “Onde está sua própria voz?”. Também nesse sentido, está aquele aluno que acredita ser muito importante mostrar ter recorrido a diversos autores teóricos e, assim, apresenta citações literais de todos esses autores sobre um mesmo conceito ou uma mesma questão. E continuamos perguntando a ele: “Como você tece sua voz à voz desses autores citados?” “Onde está a articulação entre essas tantas citações?”.

Em um caminho análogo estão aqueles textos cujos autores apresentam inúmeros recortes teóricos em forma de citação, porém todos alicerçados em um microcontexto - em seus pares no contexto acadêmico, em um mesmo grupo de pesquisa, com um mesmo foco teórico -, refletindo uma relação de endogenia, muitas vezes sem se preocupar com o significado de “produzir ciência” a partir do diálogo entre diferentes perspectivas teóricas, do debate entre ideias discutidas anteriormente, por outros autores.

Já a citação indireta - frequentemente chamada de “parafrasear um autor” - é elaborada a partir de um texto-fonte, mas sofre modificações, adaptações, dependentes do que se pretende argumentar e sempre inseridas em um dado contexto. Nesse sentido, é possível dizer que o autor busca assumir a responsabilidade enunciativa do que diz, apoiado em vozes alheias selecionadas. É preciso ressaltar, porém, a importância de se manter a ideia original presente no texto-fonte nesse texto parafraseado. Essa tarefa nem sempre é bem-sucedida, muitas vezes em decorrência da superficialidade de sua compreensão quanto àquilo que está sendo discutido (aspecto já apontado na Introdução deste artigo) e, ainda, do movimento de citar a partir de uma outra citação.

Duas sequências de orações interligadas estão aparentemente em uma relação parafrástica, segundo Ilari e Geraldi (2002, p. 42), “porque empregam palavras sinônimas”; “porque empregam as mesmas palavras, e as relações sintáticas, embora diferentes, preservam as mesmas relações de participação dos objetos no processo descrito”; ou, ainda, “não porque as palavras significam a mesma coisa, ou porque a construção sintática seja semelhante, mas porque, na situação de uso, traduzem a mesma intenção do locutor e visam obter os mesmos resultados”. Os dois primeiros casos remetem à dimensão paradigmática quanto ao léxico e às estruturas sintáticas. O terceiro caso, no entanto, leva-nos diretamente à dimensão social do uso da língua: as escolhas do autor não são aleatórias ou resultados de simples trocas lexicais e/ou sintáticas, mas da função exercida por estas na relação autor-texto-leitor.

A opção por elaborar uma paráfrase é, desse modo, sempre dependente do contexto em que esta é usada, e pode-se dizer que essa escolha “nunca é inocente”, como ressaltam Ilari e Geraldi (2002, p. 49). Ao optar por certa estrutura sintática ou por certo léxico, diferentes dos usados no texto-fonte, o autor revela intencionalidade, e pressupõe-se que faça isso visando argumentar em um sentido muitas vezes distinto daquele proposto no original, destacando algo que apresente uma relação com a discussão a que se propõe.

Nessa direção, a literatura sobre relações parafrásticas ressalta que esse é um fenômeno linguístico complexo, que se funda na semelhança de significação - lexical ou estrutural - mas não somente, haja vista que essas relações “correspondem, sempre, em alguma medida, a um apagamento de diferenças que poderiam ser colocadas em relevo em outros contextos” (Ilari; Geraldi, 2002, p. 50).

A presença de paráfrases em um texto coloca em destaque a ideia de que o autor toma para si vozes alheias e, ao tecê-las junto à sua própria voz, inscreve-se nesse discurso, tornando-o, de certo modo, seu. No entanto, essa tessitura transcende ambos os discursos - o alheio e o do próprio autor -, pois, por um lado, é construído em contexto distinto do de sua origem, e por outro, acrescenta significados ao discurso primeiro, produzidos a partir das relações entre esse trecho parafraseado e os trechos que o antecedem e o sucedem no texto.

Na escrita acadêmica, esse recurso da paráfrase pode acarretar problemas quando utilizado de modo excessivo, como já salientado. É adequado à produção científica fortalecer-se de pesquisas prévias e de vozes de autoridade na área, mostrando a transitoriedade da ciência e seu modo de avançar; no entanto, o excesso de vozes alheias, parafraseadas ou não, parece mostrar um autor que busca esconder-se, deixando que apenas essas vozes alheias assumam um lugar em seu texto, o que sugere uma acomodação do autor no sentido de que só é possível produzir se e quando apoiado em recursos externos. Tal prática também configura um texto que se caracteriza pela reprodução em detrimento da produção de ciência.

Ao discutir a paráfrase, Fuchs (1985, p. 134) ressalta que ela “oscila entre a reprodução pura e simples do conteúdo e a sua deformação”. É nesse sentido que conduzi esta investigação, justamente porque encontrei em diversos trabalhos paráfrases que reproduzem o texto-fonte sem expandir a ideia nele contida - corroborando a perspectiva da reprodução pura e simples -, assim como paráfrases que deformam o que diz o texto-fonte, seja para acrescer, subtrair ou deturpar significados. Nesse sentido, Miranda e Fabiano-Campos (2014, p. 1210) destacam que, ao escrever,

[o] pesquisador em formação precisa conhecer o estado da arte do tema estudado. Isso é essencial para que ele saiba o que já se produziu a respeito para que possa subsidiar-se do conhecimento culturalmente sistematizado, podendo fazer suas escolhas teóricas e dizer de outro modo o que já foi dito, de forma que algo de si possa se apresentar como característica explícita de sua relação com o conhecimento e ultrapasse o discurso do outro.

Nessa direção, vale destacar que a autoria de uma paráfrase a partir de conhecimentos superficiais do autor resulta em um texto, na maioria das vezes, empobrecido de novos significados e relações contextuais.

Para Hilgert (2010), paráfrase é

[...] um enunciado que reformula um enunciado anterior, mantendo com este uma relação de equivalência semântica (p. 126) [...] responsável por deslocamentos de sentidos que impulsionam a progressividade textual (p. 131). [...] retoma, com outras palavras, o sentido de um enunciado anterior [...] supõe sempre um enunciado de origem com o qual está em relação parafrástica (p. 126).

Ainda para Hilgert (2010, p. 130), uma paráfrase difere do enunciado que lhe deu origem por apresentar “variações sintáticas, lexicais, fonéticas ou suprassegmentais, nas quais se identifica, precisamente, o caráter reformulador dessas atividades”.

Tomo como orientação teórica para delinear a análise das paráfrases selecionadas os estudos clássicos de Fuchs (1985) e estudos derivados, cujo foco recai em três principais aspectos que alimentam a reflexão linguística sobre paráfrase: a perspectiva lógica da equivalência formal, a perspectiva gramatical da sinonímia e a perspectiva retórica da reformulação (p. 129). Associado a esse foco, oriento-me, também, pelos estudos de Hilgert (2010), que destaca a paráfrase nas perspectivas expansiva, de condensação e paralela; e de Ribeiro (2001), com ênfase na constituição de sentidos na atividade parafrástica.

2.1 PARÁFRASE NA PERSPECTIVA LÓGICA DA EQUIVALÊNCIA FORMAL

Equivalência, por si só, remete a um “valor de verdade”: uma proposição é equivalente a outra se e somente se esta segunda estabelecer com a primeira uma relação verdadeira. Em outras palavras, se a primeira proposição for verdadeira, a segunda também o será; se a primeira for falsa, a segunda também o será.

Quando nos referimos a uma equivalência adjetivada como formal, estamos, de certo modo, revisitando os estudos da tradução, cuja atenção está voltada à forma e ao conteúdo de uma mensagem. Ao trazer para os estudos da paráfrase essa perspectiva da equivalência formal, Fuchs (1985, p. 130), observando os princípios da lógica, destaca que “duas proposições são ditas equivalentes se elas têm o mesmo ‘valor verdade’ (isto é, se elas são conjuntamente verdadeiras ou falsas)”. No entanto, a autora questiona esse aspecto, uma vez que considerar o “valor verdade” na perspectiva linguística não é algo simples, pois há de se levar em conta as especificidades do efeito de sentido que o texto dissemina/produz. Nessa direção, Fuchs (1985, p. 130) considera que “duas paráfrases são formalmente equivalentes na medida em que elas compartilham uma propriedade comum”: é possível reconhecer o “parentesco sintático” entre os dois textos e também observar que postulam “o mesmo sentido”.

Exemplificando, consideremos os enunciados:

(1) resumo e resenha remetem a gêneros textuais distintos;

(2) constituem gêneros textuais distintos o resumo e a resenha;

(3) resenha e resumo remetem ao mesmo gênero textual;

(4) os gêneros textuais resumo e resenha são considerados distintos;

(5) resumo e resenha não podem ser considerados como um mesmo gênero textual.

Pode-se dizer que há uma equivalência formal entre os enunciados (1) e (2). Ambos estão em uma relação de verdade, pois, além de preservarem forma e conteúdo na perspectiva da lógica, apresentam um parentesco sintático, o segundo enunciado constitui um hipérbato (figura de sintaxe que se caracteriza pela inversão na ordem dos elementos presentes no enunciado, porém mantendo suas respectivas funções sintáticas), e postulam o mesmo sentido.

Já não se pode dizer o mesmo dos enunciados (1) e (3). Estes não podem ser considerados em equivalência formal, pois (a) o enunciado (3) nega o enunciado (1), o que indica que se um deles for verdadeiro, o outro será falso; e (b) (1) e (3) postulam sentidos opostos.

Ao prosseguir a discussão sobre paráfrases, Fuchs (1985) destaca que, para linguistas formais, a base da paráfrase está na “derivação de enunciados equivalentes”, sendo possível

[...] optar por operações de derivação de efeito semântico variável [paráfrases secundárias - enunciados parafrásticos não constituem senão um subconjunto dos enunciados estruturalmente equivalentes, já que da mesma fórmula se derivam tanto a afirmação quanto a negação] ou ainda sem alteração semântica ou de efeito semântico nulo [paráfrase central - operações de derivação não mudam o sentido] (p. 131).

Voltando aos exemplos, o enunciado (4) parafraseia o enunciado (1) a partir da derivação sem alteração semântica. Já entre os enunciados (1) e (5) há uma relação parafrástica marcada pela derivação de efeito semântico variável, uma vez que (5), pela presença da negação, ainda que modalizada (não podem ser considerados), constrói um significado de atenuação à oposição gêneros textuais distintos/mesmo gênero textual.

2.2 PARÁFRASE NA PERSPECTIVA GRAMATICAL SINONÍMIA

Fuchs (1985, p. 131) inicia a discussão sobre sinonímia, ressaltando duas concepções que têm prevalecido ao longo dos tempos: a quantitativa, que tem foco na “abundância” de palavras que a língua nos oferece e que têm o mesmo sentido; e a qualitativa, cujo foco está nas diferenças semânticas sutis instauradas pela língua e que nos permitem usá-las em diferentes situações.

Analogamente, há na linguística contemporânea a discussão sobre paráfrase:

[...] a abordagem estritamente sintática da paráfrase repertoria todas as estruturas parafrásticas (sem se interrogar sobre a natureza semântica do fenômeno, e se contentando com a ideia intuitiva de uma (certa) ‘identidade de sentido’), ao passo que diversas abordagens semânticas posteriores (semântica gerativa, semânticas formais) se esforçam em qualificar no plano da significação aquilo que as paráfrases têm em comum e aquilo que as diferencia (Fuchs, 1985, p. 131).

Essas reflexões culminaram na caracterização da paráfrase como um enunciado que se pauta em um “núcleo semântico de partida” sobre o qual são enxertados “semantismos diferenciais, que modulam diversamente o núcleo de partida” (Fuchs, 1985, p. 132), fazendo emergir significados variáveis, secundários.

Embora seja relevante essa abordagem da paráfrase como sinonímia, há de se pensar que também estaria sujeita a problemas, uma vez que: (a) um núcleo semântico só pode ser considerado comum quando relacionado a referentes estáveis; (b) semantismos diferenciais enxertados pelo enunciador para modular o núcleo de partida são sempre dependentes da situação de comunicação e das necessidades do enunciador.

É nesse sentido que observo paráfrases em que o enunciador “filtra” o texto-fonte a partir de suas necessidades contextuais no plano do discurso e, ao escolher um léxico sinônimo ou uma expressão semântica sinônima, abre espaço para efeitos de sentido distintos daquele do texto-fonte. Essas escolhas sinônimas, por sua característica em situação de uso, nem sempre restauram o sentido primeiro do texto referenciado.

Observemos os enunciados (6) e (7), a seguir.

(6) Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso (Bakhtin, 2015 [1979], p. 262, grifos do autor em itálico).

(7) Cada enunciado particular é, sem dúvida, singular, contudo cada comunidade discursiva formula tipos relativamente estáveis de enunciados, que são chamados de gêneros discursivos (pós-graduando, em atividade remota de escrita acadêmica, 2020).

É possível perceber, no enunciado (7), o uso da paráfrase na perspectiva gramatical da sinonímia, a partir do texto-fonte (6). Os destaques em ambos os trechos mostram essas relações: há sinonímia lexical (evidentemente por sem dúvida; individual por singular; mas por contudo; campo de utilização da língua por comunidade discursiva; elabora por formula) e sinonímia estrutural (construção sintática semelhante).

A paráfrase como sinonímia, portanto, visa retomar de modo distinto o já dito, a partir da imagem que o autor constrói de seu leitor e da interpretação que este fará do texto parafraseado, mas mantendo relação de equivalência de sentidos com o texto-fonte.

2.3 PARÁFRASE NA PERSPECTIVA DA REFORMULAÇÃO

É na tradição retórica que a paráfrase como atividade de reformulação está ancorada. Nessa direção, diz Fuchs (1985, p. 133), a paráfrase caracteriza-se,

[...] no plano do discurso, como uma atividade efetiva de reformulação pela qual o locutor restaura (bem ou mal, na totalidade ou em parte, fielmente ou não) o conteúdo de um texto-fonte sob a forma de um texto-segundo.

Ao parafrasear reformulando, o autor faz determinadas trocas, expansões, reduções do texto-fonte, a partir de sua interpretação e de suas necessidades no âmbito do contexto específico de sua pesquisa/investigação. Essa interpretação, por sua vez, será distinta da interpretação resultante do texto parafraseado por um outro autor, justamente porque esse texto é sempre produzido a partir dos conhecimentos prévios de quem o produz, de suas necessidades contextuais, daquilo que deseja enfatizar ou obscurecer, a fim de provocar em seus leitores determinado efeito de sentido. Em síntese, a atribuição de sentidos a um texto parafraseado é sempre dependente do sujeito que o produz (e para quem produz) e da situação e dos contextos de produção e de recepção desse discurso.

Nessa perspectiva, é possível dizer que dois textos guardam entre si uma relação parafrástica de reformulação quando há entre eles uma semelhança, uma proximidade, uma equivalência semântica, “na medida em que a paráfrase retoma, em maior ou menor grau, a dimensão significativa da matriz”1 (Hilgert, 2010, p. 138), e está ancorada em uma situação discursiva “aqui e agora”, de caráter “frágil, porque resultado de um apagamento de diferenças” (Oliveira, 2015, p. 11).

Na perspectiva de Fuchs (1985, p. 134), ao tratar a paráfrase como reformulação, três aspectos são essencialmente relevantes:

  • a) o texto parafraseado é resultado de uma interpretação do texto-fonte, dentre várias possíveis, que depende dos sujeitos e das situações nas quais o texto circula/está inserido;

  • b) considerando-se o momento e a situação de produção do texto parafraseado, é necessário que se identifique a significação desse texto como algo reconstruído/reformulado a partir do texto-fonte;

  • c) o texto caracteriza-se pela presença de recursos metalinguísticos, como, por exemplo, “X, isto é, Y”, “X, em outras palavras, Y” e outras expressões conectivas que indicam o uso da linguagem para explicar a própria linguagem.

O exemplo (9), a seguir, caracteriza uma paráfrase na perspectiva da reformulação, a partir do texto-fonte (8).

(8) As relações dialógicas são extralinguísticas. Ao mesmo tempo, porém, não podem ser separadas do campo do discurso, ou seja, da língua como fenômeno integral concreto (Bakhtin, 2013 [1929], p. 209).

(9) Para Bakhtin (2013 [1929]), as relações dialógicas são extralinguísticas. Isso quer dizer que elas se organizam para além do sistema linguístico, considerando elementos que não fazem parte do sistema da língua, como situação de produção dos enunciados, conhecimento de mundo dos enunciadores, e, portanto, nunca podem ser separadas do campo do discurso (pós-graduando, em atividade remota de escrita acadêmica, 2020).

A paráfrase apresentada no exemplo (9) mantém grande proximidade com o texto-fonte. A reformulação ocorre a partir do marcador metalinguístico “isso quer dizer que”, usado para explicar o que são relações extralinguísticas. Ao mesmo tempo que o autor-aluno se distancia do autor do texto-fonte (Para Bakhtin), marcando sua não responsabilidade pelo dizer, mostra entrelaçamento à voz desse autor, quando usa a expressão “Isso quer dizer que”, forma modalizada indicativa de intenção. A relevância da voz autoral, nesse caso, está em explicar o dizer de Bakhtin.

2.4 MOVIMENTOS DE CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS VIA PARÁFRASES

A discussão em torno dos sentidos provocados por construções parafrásticas remete, indiscutivelmente, à ideia de que tais construções organizam-se a partir de um texto-fonte, um texto-segundo e marcadores discursivos que possibilitam ao autor produzir, no nível semântico, esse segundo texto, deslocando os sentidos de acordo com aquilo que intenciona.

No texto acadêmico-científico, via de regra, as paráfrases são empregadas como mecanismos de organização textual para atender a um propósito argumentativo do autor, como já dito anteriormente. Assim, estabelecem uma relação coesiva entre um dizer anterior e um dizer posterior, auxiliando no estabelecimento da progressão temática. Tecer esse texto requer do autor o uso de distintos mecanismos nas construções parafrásticas. Nessa direção, tomo como embasamento os estudos de Hilgert (2010, p. 141-142), que destaca os movimentos de expansão, de condensação e de paralelismo, para explicar como os “deslocamentos de sentido se manifestam: ora do geral para o específico; ora do específico para o geral [...] ou mantendo a mesma dimensão textual da matriz”. Aponto, ainda, à luz de Ribeiro (2001), os movimentos de constituição de sentido na atividade parafrástica.

Conforme Hilgert (2010, p. 142), quando o deslocamento de sentido se dá do geral para o específico, “verifica-se uma tendência de a paráfrase, do ponto de vista sintático e lexical, ser mais expandida do que a matriz”; daí a denominação paráfrase expansiva, “cujo enunciado apresenta-se lexical e sintaticamente mais complexo do que a matriz”. Já quando o deslocamento de sentido vai do específico para o geral, “nota-se uma condensação sintático-lexical da paráfrase”, indicando a paráfrase redutora, cujo enunciado caracteriza-se como uma “unidade sintática mais simples”. As chamadas paráfrases paralelas, por sua vez, caracterizam-se por manter com a matriz uma “simetria sintática”, diferindo desta apenas por meio de “variações lexicais” (Hilgert, 2010, p. 143).

Na perspectiva de Ribeiro (2001, p. 96-139), a respeito da constituição de sentidos na atividade parafrástica, é possível considerar:

  • a) paráfrase modalizadora: organizada por operadores modais que “modificam o conteúdo semântico do enunciado, revelando o nível de engajamento do locutor com o que ele enuncia” (p. 96-97): performativos explícitos, auxiliares modais, predicados cristalizados, advérbios modalizadores, formas verbais perifrásticas, modos/tempos verbais (imperativo, subjuntivo...), verbos de atitude proposicional, operadores argumentativos;

  • b) paráfrase intensificadora ou enfática: organizada pela ênfase dada a um determinado segmento do texto-fonte;

  • c) paráfrase gradativa: organizada pela apresentação gradual do enunciado original, seguindo uma hierarquia de valores conforme a intenção do autor de gerar efeitos de sentido no leitor;

  • d) paráfrase explicativa: organizada de modo a expandir (paráfrase expansiva, no caso de Hilgert, 2010) ou especificar conceitos abstratos no texto-fonte;

  • e) paráfrase explicitadora: organizada para definir algo presente no texto-fonte;

  • f) paráfrase exemplificadora: organizada para exemplificar algo do texto-fonte, fato que expande ou restringe o significado primeiro, uma vez que aponta o foco para um determinado aspecto do texto-fonte.

A partir dos conceitos teóricos apontados nesta seção 2, analiso excertos desenvolvidos parafrasticamente a partir de um determinado texto-fonte.

3 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS E ANALÍTICOS: PARÁFRASES EM DISCUSSÃO

Como apontei em seções anteriores, o uso de paráfrases na produção/composição do texto científico atende a um propósito argumentativo do autor, na relação/interlocução com o leitor pretendido. Nessa direção, e trazendo à tona a função social do texto acadêmico-científico, enunciados parafrásticos estão presentes nesse texto a partir da intenção de seu produtor quanto à orientação argumentativa que deseja atribuir: uma tessitura textual-discursiva que articula o enunciado anterior ao parafraseado e este ao enunciado posterior, como forma de expandir uma ideia, explicá-la, confrontá-la a outras ideias, garantindo desdobramentos de sentido, progressão textual e interdiscursividade.

As paráfrases analisadas neste artigo foram selecionadas de textos científicos publicados na web, e também de atividades realizadas em disciplina com foco na escrita acadêmica2, em torno de um determinado texto-fonte. A ideia é discutir cada um dos excertos, em busca de sua organização quanto a escolhas enunciativo-discursivas; relação de sentidos entre texto-fonte e texto parafraseado; e equivalência semântica ou não da ideia apresentada no texto-fonte. A intenção é problematizar os aspectos revelados nesses excertos, de modo a impulsionar discussões e propostas de ensino a esse respeito.

Inicio selecionando paráfrases que, de algum modo, fazem referência primeira ao texto de Maingueneau (1976, p. 139) (identificado como texto-fonte 1), porém parece buscarem articulação a partir do texto de Koch (2007 [1997], p. 60) (identificado como texto-fonte 2). Koch, em seu texto, traz uma citação de Maingueneau; a partir desta, as paráfrases selecionadas para análise podem também ter sido produzidas.

Texto-fonte 1: [...] o intertexto é um componente decisivo das condições de produção de um texto, esse peso do intertexto varia consideravelmente de um discurso para outro. Um discurso não vem ao mundo numa solidão inocente, mas se constrói através de algo já-dito em relação ao qual se posiciona. Não devemos, portanto, ter uma concepção ingenuamente “realista” das condições de produção de um discurso (Maingueneau, 1976, p. 139, tradução da autora)3.

Texto-fonte 2: A intertextualidade em sentido amplo, condição de existência do próprio discurso, pode ser aproximada do que, sob a perspectiva da Análise do Discurso, se denomina interdiscursividade (ou heterogeneidade constitutiva, segundo Authier, 1982). É nesse sentido que Maingueneau (1976:39) afirma ser o intertexto um componente decisivo nas condições de produção: “um discurso não vem ao mundo numa inocente solitude, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual toma posição” (Koch, 2007 [1997], p. 60).

Nota-se, inicialmente, que Koch aponta a página 39 como sendo a página indicativa da citação de Maingueneau. No texto original de Maingueneau, no entanto, a citação encontra-se na página 139. A partir daí, já é possível apontar uma primeira característica das paráfrases selecionadas em diversos dos excertos coletados e analisados: a leitura do texto-fonte 1 parece ter sido realizada a partir de Koch (texto-fonte 2) e não a partir do texto-fonte 1, do próprio Maingueneau. Isso implica citação de citação, daí ser imprescindível a indicação de Koch como autora primeira da paráfrase. No entanto, não é o que aparece na maioria dos excertos seguintes.

Excerto 1 (Pizzato; Bini, 2017, p. 49)

Maingueneu (1976) afirma ser o intertexto um componente decisivo das condições de produção: “um discurso não vem ao mundo numa inocente solicitude, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual toma posição” (Maingueneau, 1976, p. 39).

O excerto 1 remete ao texto de Maingueneau (1976), mas, na seção de Referências do artigo, os autores indicam a obra Novas tendências em análise do discurso, com data de 1976. Nessa obra, no entanto, não há a citação apontada pelos autores, o que permite inferir que a citação partiu do texto de Koch (1997), ou de algum outro autor, e não da leitura específica de Maingueneau. Assim, pode-se presumir um plágio de fonte, uma vez que o autor primeiro a apresentar essa discussão baseada em Maingueneau teria sido Koch. Adequado seria a indicação (Maingueneau, 1976, p. 39 [sic], apud Koch, 1997, p. 60), dando, portanto, crédito a Koch; ou, no caso de os autores terem recorrido diretamente ao texto de Maingueneau, a indicação (Maingueneau, 1976, p. 139).

Também nesse excerto, há uma repetição de trecho apresentado por Koch, caracterizando uma reprodução literal do texto-fonte (Maingueneau (1976) afirma ser o intertexto um componente decisivo das condições de produção:) sem o uso de aspas. Ao leitor que desconhece Maingueneau ou mesmo Koch, fica a ideia de que essa é uma inferência ou um sentido atribuído pelos autores Pizzato e Bini ao que disse Maingueneau sobre intertexto, quando, na verdade, é um dizer do próprio Maingueneau, reproduzido no texto de Koch.

Os autores reproduzem o dizer de Maingueneau e, parecendo ter-se apoiado no texto de Koch, ressaltam que “um discurso não vem ao mundo numa inocente solicitude...”. Tal substituição impacta o significado do texto-fonte, uma vez que tanto Maingueneau quanto Koch referem-se à unidade lexical solitude para expressar a ideia de solidão (um discurso não vem ao mundo numa inocente solidão).

Excerto 2 (Cavenachi, 2011, p. 810)

Na visão de Maingueneau (1997), o intertexto é um componente decisivo das condições de produção, pois um discurso não vem ao mundo numa inocente solicitude, mas constrói-se através de um já dito em relação ao qual toma posição.

Nesse excerto, Cavenachi (2011) traz a voz de Maingueneau aparentemente parafraseada. No entanto, não há indicação de página, assim como não há trechos entre aspas. Ao recorrer aos textos-fonte 1 e 2, observo que o período completo foi elaborado a partir da reprodução literal dos autores Maingueneau e Koch, apenas com o acréscimo do conector “pois” em substituição ao uso do sinal gráfico de pontuação dois pontos (:), usado por Koch.

Também no excerto 2, há a substituição da unidade lexical solitude por solicitude, indicando um desvio de sentido quando comparado aos textos-fonte 1 e 2.

Excerto 3 (Silva; Pontes, 2021, p. 1255)

[...] os discursos nascem a partir de outros discursos já existentes. Como Maingueneau (1976apudKoch, 2008, p. 144) “um discurso [...] constrói-se através de um já dito em relação ao qual se toma posição”.

Nesse excerto, os autores referenciam Maingueneau a partir da obra de Koch (2008), atribuindo a esta o mérito da discussão (uso do apud). No entanto, a obra referenciada de Koch (2008), O texto e a construção dos sentidos, não apresenta tal citação na p.144, como indicado no texto dos autores. Além disso, estes modificam o sentido presente no texto-fonte, quando substituem “um já-dito em relação ao qual toma posição” por “um já dito em relação ao qual se toma posição”. Essa modificação interfere no significado dos textos-fonte, uma vez que - seja quando se considera o texto-fonte 1 (Maingueneau) ou quando se considera o texto-fonte 2 (Maingueneau apud Koch) - é o discurso quem toma posição, a partir de dizeres anteriores (Um discurso [...] se constrói através de algo já-dito em relação ao qual se posiciona - texto-fonte 1; Um discurso [...] constrói-se através de algo já-dito em relação ao qual toma posição).

Em Maingueneau, o dizer é sintaticamente organizado a partir do verbo posicionar-se; já em Koch, o dizer está organizado sintaticamente a partir da nominalização do verbo posicionar-se - posição. Em ambos os casos, tem-se o discurso tomando posição em relação ao já-dito. Para Silva e Pontes, no entanto, a inserção da partícula “se” - se toma posição - como índice de indeterminação do sujeito, traz ao texto um sujeito indeterminado, sendo este a tomar posição a partir de dizeres outros, anteriores (o já-dito). A citação direta acrescenta a partícula “se”, como diz Fuchs (1985), deformando o sentido original apresentado no texto-fonte 1 (Maingueneau) ou mesmo quando se considera o texto-fonte 2 (Koch). Há, desse modo, uma deturpação da ideia apresentada originalmente por Maingueneau.

Excerto 4 (Fregonezi, 2003, s. p.)

Maingueneau (1976) considera que a intertextualidade é um componente decisivo nas condições de produção e afirma que um discurso constrói-se através de um já-dito em relação ao qual toma posição, processo utilizado por Dalmo Pessoa no texto em estudo.

Fregonezi (2003) inicia o período com Maingueneau (1976), sugerindo que o que segue será uma paráfrase de trecho de Maingueneau. O que surge, no entanto, são trechos idênticos aos do autor e sem uso das aspas, caracterizando uma reprodução de trechos do texto-fonte 1. Além disso, pode-se dizer que é uma paráfrase redutora, uma vez que a unidade sintática apresentada é mais simples do que a apresentada no texto-fonte 1. Trechos são subtraídos, como, por exemplo: “produção de um texto” substituído simplesmente por “produção”; “um discurso não vem ao mundo numa solidão inocente, mas constrói-se através...” substituído por “um discurso constrói-se através...”. É possível dizer, ainda, que, embora redutora, essa paráfrase caracteriza-se como exemplificadora, uma vez que aponta o foco para determinado aspecto do texto-fonte (em relação ao qual toma posição, processo utilizado por Dalmo Pessoa no texto em estudo).

Ao substituir intertexto (texto-fonte 1) por intertextualidade, Fregonezi (2003) deforma o sentido do texto-fonte 1, uma vez que, segundo Maingueneau (1996, p. 51-52), há uma distinção entre intertextualidade e intertexto: “intertexto é o conjunto de fragmentos citados num determinado corpus, enquanto intertextualidade é o sistema de regras implícitas que fundamentam esse intertexto, o modo de citação que é considerado legítimo na formação discursiva a que pertence esse corpus”4 (tradução da autora). Dizer que um intertexto é um componente decisivo nas condições de produção de um texto implica dizer que todo texto é composto por fragmentos de outros textos. Já dizer que a intertextualidade é esse componente implicaria dizer que todo texto é composto por um sistema de regras implícitas. No entanto, um texto não é composto pelo sistema de regras em si, mas por aquilo que resulta do sistema de regras. Assim, estas apenas orientam a forma como o texto é construído.

Excerto 5 (Correa, 2016, p. 14)

Maingueneau, (apud Koch, 2003, p. 60) afirma que o intertexto (entendido como o conjunto de fragmentos que um discurso cita efetivamente) é um componente decisivo das condições de produção: “[...] um discurso não vem ao mundo numa inocente solidão, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual toma posição”.

A paráfrase elaborada por Correa ressalta a voz de Maingueneau, dando crédito a Koch (uso do apud). Caracteriza-se como paráfrase explicativa, uma vez que expande o conceito de intertexto (ao acrescentar entendido como o conjunto de fragmentos que um discurso cita efetivamente).

Excerto 6 (pós-graduando, em atividade de escrita acadêmica, 2021)

Para Maingueneau (1976), todo discurso produzido por um sujeito remete a algo que um outro sujeito disse anteriormente. Nenhum discurso caracteriza-se como único ou mesmo como solitário entre tantos outros discursos; é sempre resultante de algo já-dito, ainda que o produtor desse discurso não recupere, conscientemente, o dizer primeiro. É, assim, uma construção discursiva que passa pelas vozes constitutivas desse autor, em direção a determinadas posições que ele quer assumir.

A paráfrase apresentada no excerto 6, produzida em contexto de ensino de escrita acadêmica, caracteriza-se como paráfrase expansiva, porque parte do geral em direção ao específico. Esse movimento se dá por meio da explicação: (a) do trecho um discurso (...) se constrói através de algo já-dito (todo discurso produzido por um sujeito remete a algo que um outro sujeito disse anteriormente); (b) do trecho um discurso não vem ao mundo numa solidão inocente (nenhum discurso caracteriza-se como único ou mesmo como solitário). Além disso, a paráfrase pode ser caracterizada como intensificadora ou enfática, uma vez que ressalta e acrescenta interpretação a um trecho do texto-fonte 1 (ainda que o produtor desse discurso não recupere, conscientemente, o dizer primeiro), expandindo o significado ali presente, porém estabelecendo limites (ainda que).

Excerto 7 (pós-graduando, em atividade de escrita acadêmica, 2021)

Maingueneau (1976) ressalta que um intertexto pode ser decisivo quando produzimos um texto, ou seja, ao produzir um texto, o autor recorre a outros textos (os chamados intertextos) que circulam no contexto de produção e, portanto, variam muito de um contexto a outro porque o sujeito que o produz o articula sempre ao contexto em que está inserido. E mais: esse texto é sempre resultado de algo já-dito.

Na mesma direção, está o excerto 7, produzido em contexto de ensino da escrita acadêmica. A paráfrase expande o texto-fonte 1, além de recorrer ao recurso metalinguístico “ou seja”, para explicar/desenvolver um ponto de vista sobre a presença decisiva de um intertexto na produção de um outro texto. Tal explicação objetiva esclarecer o conceito de intertexto, uma vez que o autor, por meio de uma inversão, apresenta inicialmente o que entende por intertexto (o autor recorre a outros textos) e, entre parênteses, o termo conceitual (os chamados intertextos).

Ainda, é possível destacar, nesse excerto, a modalização imputada a Maingueneau (pode ser decisivo), quando, na verdade, esta é de responsabilidade do próprio aluno autor, pois Maingueneau (texto-fonte 1) é categórico ao afirmar que o intertexto “é” um componente decisivo das condições de produção de um texto.

Excerto 8 (pós-graduando, em atividade de escrita acadêmica, 2022)

Um discurso não nasce ‘do nada’, isoladamente. Ele sempre depende das condições de produção e sempre se constrói a partir do que já foi dito por alguém, a partir de discursos prévios. Sendo assim, um discurso nunca é produzido inocentemente. Não se pode pensar ingenuamente sobre o contexto de produção de um discurso. Ou seja: há sempre um posicionamento do autor, que o escolheu realizar de um modo ou de outro dependendo de sua intencionalidade. É o que depreendo do dizer de Maingueneau (1976) sobre intertexto e interdiscurso.

Também nessa paráfrase há uma expansão do texto-fonte 1, com modalização (não se pode pensar, quando Maingueneau diz não devemos ter), intensificação (ou seja, há sempre...), explicação (há sempre um posicionamento do autor...). A sinonímia se faz presente (solidão substituída por isoladamente, algo já-dito por discursos prévios, concepção ingenuamente “realista” por pensar ingenuamente sobre, condições de produção por contexto de produção). O aluno autor finaliza a paráfrase responsabilizando-se enunciativamente por seu dizer (É o que depreendo do dizer de Maingueneau).

Para finalizar esta subseção, escolho uma paráfrase que faz referência a Bakhtin. O excerto foi selecionado de um texto de pós-graduando em contexto de ensino de escrita acadêmica, tomando por base o texto-fonte 3, de José Luiz Fiorin (2006), quando este discute Bakhtin.

Texto-fonte 3: Com os conceitos de forças centrípetas e forças centrífugas, Bakhtin desvela o fato de que a circulação das vozes numa formação social está submetida ao poder. Não há neutralidade no jogo das vozes. Ao contrário, ele tem uma dimensão política, uma vez que as vozes não circulam fora do exercício do poder: não se diz o que se quer, quando se quer, como se quer. (...) Quando se fala em dialogismo constitutivo, pensa-se em relações com enunciados já constituídos e, portanto, anteriores e passados. No entanto, um enunciado se constitui em relação aos enunciados que o precedem e que o sucedem na cadeia de comunicação (Fiorin, 2006, p. 31-32).

Excerto 9 (pós-graduando, em atividade de escrita acadêmica, 2021)

Ainda para Bakhtin (apudFiorin, 2006, p. 31), as relações determinam de que modo as vozes circulam na sociedade. Elas são orientadas por forças centrípetas. Não há neutralidade no jogo das vozes. É um jogo político e as vozes só existem quando inseridas nesse jogo. Na discussão de dialogismo, fica claro que cada enunciado se constitui sempre a partir dos enunciados que o antecederam e dos enunciados que virão depois dele, na cadeia da fala.

O aluno autor do excerto 9 elabora a paráfrase a partir da supressão de palavras, comprometendo o sentido do texto (relações em lugar de relações de poder; forças centrípetas em lugar de forças centrípetas e forças centrífugas; é um jogo político em lugar de [o jogo] tem uma dimensão política); elimina trecho explicativo (uma vez que...), comprometendo a compreensão da ideia apresentada por Fiorin; substitui palavra (usa cadeia da fala em lugar de cadeia da comunicação), eliminando, assim, a perspectiva mais dialógica, que emerge da comunicação.

A paráfrase é realizada sem que o aluno autor revele sua real compreensão da ideia apresentada por Fiorin sobre o pensamento de Bakhtin. Preocupante é o fato de que paráfrases como essa, que modificam o sentido do texto original, podem circular livremente na internet e tornar-se fonte de estudo para outros estudantes. Na cadeia da comunicação, como bem diz Fiorin, tal texto torna-se uma voz a ser repetida, não neutra, mas distanciada da ideia original do autor.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES: ESTADO DE ALERTA

Neste artigo, problematizei o ato de parafrasear em contexto acadêmico-científico. Iniciei apresentando um alerta ao fato de que muito do que há publicado em textos científicos, em termos de paráfrases, tem reforçado a reprodução da ciência. Destaquei o fato de que a pressão exercida pelos órgãos de fomento à pesquisa funciona, muitas vezes, como um desserviço à publicação de avanços teóricos e teórico-metodológicos, uma vez que há, como bem disse Martins-Ferreira (2017), um “atulhamento” na divulgação do conhecimento científico, com foco no preenchimento do currículo Lattes. Ressaltei o problema da endogenia, cada vez mais presente nas instituições de Ensino Superior, que acaba por mascarar a produção científica, simulando um diálogo teórico quando este está, na verdade, encapsulado.

Ressaltei a atividade parafrástica, visando discutir alguns excertos que caracterizam o movimento de elaboração textual de muitos estudantes de pós-graduação: um movimento que, dada a facilidade até mesmo em se recorrer a tantos artigos depositados na web, colabora com a superficialidade da leitura dos autores de relevância para a área específica em que o texto está sendo produzido.

Nessa direção, destaquei excertos que, ao parafrasear determinado texto-fonte, seus autores tanto o fizeram para produzir um texto-segundo que, reformulado, expandiu o texto-fonte, destacando a equivalência semântica, quanto excertos que, nesse mesmo movimento de parafrasear - algumas vezes uma falsa paráfrase -, pecaram por apresentar plágio de fonte e também por deformar o texto-fonte no sentido de afastamento da equivalência semântica.

O “estado de alerta” que nomeia esta seção final do artigo reflete uma preocupação quanto aos modos de ensinar a produção do texto científico no ensino superior. Ressalto, portanto, a necessidade de organização, nas diversas comunidades discursivas, nas diferentes áreas do conhecimento, de atividades sistematizadas e regularmente oferecidas nos cursos de graduação e de pós-graduação, orientadoras da escrita acadêmica, além de maior rigor na avaliação de artigos a serem publicados em periódicos, de modo a se evitar a disseminação de conceitos que ferem o significado originalmente compartilhado por produções científicas relevantes.

REFERÊNCIAS

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  • SILVA, F. E. da; PONTES, A. L. Intertextualidade: o fenômeno do détournement em anúncios publicitários de produtos comerciais. REASE - Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 12, p. 1251-76, dez. 2021. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/3571/1403 Acesso em: 4 jun. 2024.
    » https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/3571/1403
  • 1
    Matriz, no dizer de Hilgert (2010), remete ao que venho denominando, neste artigo, de “texto-fonte”. Mantenho “matriz” sempre que citar o autor Hilgert.
  • 2
    Disciplina ministrada pela autora em contexto de Ensino Superior, com estudantes de pós-graduação stricto sensu, turmas de 2020, 2021 e 2022.
  • 3
    Do original: [...] l’intertexte est une composante décisive des conditions de production d’un texte, ce poids de l’intertexte varie considérablement d’un discours à l’autre. Un discours ne vient pas au monde dans une innocente solitude, mais se construit à travers un déjà-dit par rapport auquel il prend position. Il ne faut donc pas avoir une conception naïvement «réaliste» des conditions de production d’un discours (Maingueneau, 1976, p. 139).
  • 4
    Do original: “l’intertexte est l’ensemble des fragments cité dans un corpus donné, tandis que l’intertextualité est le système de règles implicites qui sous-tendent cet intertexte, le mode de citation qui est jugé légitime dans la *formation discursive dont relève ce corpus” (Maingueneau, 1996, p. 52).
  • Editor de Seção:
    Fábio José Rauen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    14 Dez 2024
  • Aceito
    21 Dez 2024
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