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PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS

PRODUCTION AND DISSEMINATION OF SCIENTIFIC JOURNALS

PRODUCCIÓN Y DIFUSIÓN DE REVISTAS CIENTÍFICAS

A divulgação científica especializada é o tema a que vamos nos dedicar nesta edição, iniciando uma discussão que deve prolongar-se nas próximas. É pensada em um momento histórico em que a digitalização de arquivos - texto, imagem, som, etc. - permite o armazenamento em “nuvens” comandadas pela linguagem binária. Neste entrelugar associando autor, editor e leitor, situa-se o dispositivo tecnológico que converte a linguagem da escrita, da revista científica, em dados que serão convertidos e reconvertidos para serem acessados, processados e compartilhados.

No século XXI, consultar uma fonte de informação passou a ser possível em múltiplas telas que determinam onde e como vai ser “consumida” a ciência. Essa convergência tecnológica, além de constituir uma realidade singular, determina, entre outras coisas, novas rotinas de produção e divulgacão científica. Se, em boa parte do século XX, divulgar ciência estava associada à prensa, temos no século XXI o computador e o celular como suportes. Do material gráfico passamos para o domínio da linguagem digital. Aqui e neste momento, interessa-nos perspectivar a revista científica especializada.

Tomamos a revista especializada como um bem social comum, responsável em divulgar ciência para leitores especializados e também para não especializados, por permitir livre acesso. Sobre a importância dos periódicos científicos, Barata (2015BARATA, R. Periódicos científicos marcam autoria, difundem conhecimento e buscam reinvenção. Cienc. Cult., São Paulo, v. 67, n.1, jan./mar. 2015.) explana que eles “interferem fortemente na produção científica das nações, são o carro-chefe da produtividade de acadêmicos e o meio pelo qual a ética na pesquisa se delineia".

De grande relevância para a produtividade e a ética, a cada dia mais periódicos são lançados, um efeito que se dá também porque servem como critério para a análise de qualidade de programas de pós-graduação. Publicar não é uma necessidade apenas no sentido de divulgar ciência, mas também de acompanhar e avaliar o desempenho de pesquisadores e grupos de pesquisa. Nesta lógica, quanto mais citações mais exposição, consequentemente mais reconhecimento de relevância da pesquisa, do pesquisador e do periódico.

O acesso livre e amplo dado aos leitores de todos os cantos do planeta, em função da grau de ocorrência de periódicos de livre acesso, constitui um grande avanço para a divulgação científica, um campo que começou a ser desenhado a partir da troca de correspondência entre cientistas, e posteriormente pela divulgação de atas dos encontros das sociedades científicas. O primeiro periódico científico data de 1665, intitulado Le Journal des Sçavants (Paris). De acordo com Stumpf (1996STUMPF, I. R. C. Passado e futuro das revistas científicas. Ciência da Informação, v. 25, n. 3, 1996., p. 2):

O periódico científico, que caracterizou uma nova forma de comunicação, no século XVII, era constituído de alguns artigos mais breves e específicos que as cartas e as atas, uma vez que possuía poucas páginas onde era resumido todo [o] processo de investigação. Além disso, eliminava qualquer conotação pessoal na forma de exposição.

No intervalo de tempo que nos separa do século XVII, houve um aumento considerável das formas, gêneros e suportes para divulgar ciência, sendo a mídia impressa de grande importância até o século XX. Com a descoberta da linguagem binária e a criação dos computadores, esta realidade começa a ser redesenhada. Um dos fatores que fizeram os períodicos científicos abandonarem o modelo impresso foram os custos de produção e de distribuição. De acesso aberto aos leitores, sem cobrança de anuidade ou assinatura, as revistas especializadas encontraram na digitalização uma forma de distribuir cada nova edição de forma mais rápida e barata.

Mas, se na transição da mídia impressa para a digital os períodicos científicos sentiram alívio nos custos de produção - eliminando a impressão e a distribuição de volumes de papel -, a digitalização, por sua vez, trouxe a pressão pela conversão para novos formatos, tal como o xml (Extended Markup Language). Neste formato a ciência chega aos leitores na tela do celular, ampliando a portabilidade da ciência. De outro lado, obriga a que editores antecipem o fechamento da edição com maior antecedência, porque a conversão, embora pareça simples, requer um técnico especialista nesta linguagem e um tempo maior no calendário de produção para realizar tal tarefa.

A revista científica de acesso aberto é ainda muito popular no Brasil, mas depende, em sua grande maioria, do apoio institucional para existir e sobreviver. As Universidades entendem que, ao investir, além de promover a distribuição de conhecimento para todos, fazem da revista científica um espaço de prestígio social, cultural e político.

A Linguagem em (Dis)curso é um periódico que existe graças ao apoio institucional da Unisul, mas pensamos que, além do apoio institucional, os períodicos científicos devam contar com políticas públicas que incentivem sua produção, circulação e excelência; e entender que, mais que uma conversa entre pares, os períodicos se constituem em espaços de legitimação da ciência extracampus, como lugar privilegiado de diálogo entre a ciência e a sociedade.

Avançaremos na discussão na primeira edição de 2020, passando a tratar, mais especificamente, do funcionamento das revistas especializadas e das de divulgação científica.

REFERÊNCIAS

  • BARATA, R. Periódicos científicos marcam autoria, difundem conhecimento e buscam reinvenção. Cienc. Cult., São Paulo, v. 67, n.1, jan./mar. 2015.
  • STUMPF, I. R. C. Passado e futuro das revistas científicas. Ciência da Informação, v. 25, n. 3, 1996.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019
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