Apresentação
Há um duplo sentido no título deste número de Lua Nova. Primeiro, claro, ele designa o seu tema dominante, que se torna explícito no sumário. Mas o mesmo sumário parece desmentir isto, ao indicar que na abertura da revista, na posição mais nobre portanto, estão dois artigos que não tratam diretamente do tema. Há algo insólito nisso, ainda mais quando ocupam parcela ponderável do conjunto e, ainda por cima, são do mesmo autor. Pois bem, é aqui que entra o segundo sentido do título. Há uma específica questão de direito presente: a justa homenagem a um intelectual e companheiro de trabalho que perdemos. Estamos falando, claro, de Régis de Castro Andrade (1938-2002) quem o conheceu, aliás, reconhecerá de imediato a expressão "pois bem", acima.
Em vez de reconstruir os grandes traços da biografia de Régis como intelectual militante, ou de buscar testemunhos alheios, resolvemos ir direto à sua própria expressão daquilo que mais fundo mobilizou suas energias: a reflexão sobre os fundamentos da ação justa na sociedade em que viveu. Na sua formação e na sua atividade profissional, ele passou pelos estudos jurídicos, econômicos, sociológicos e políticos. É essa reflexão que queremos evocar aqui, mediante a publicação de dois textos seus, de períodos e temáticas diferentes. Primeiro, um artigo do início da década de 80, em que a mais severa análise econômica não consegue ocultar a fina sensibilidade social e política que a inspira. (A propósito: há quanto tempo você não lê um texto sobre matéria econômica com a elegância de expressão que se encontra logo no início do artigo que vem a seguir?). Depois, parcelas inéditas da vertente de trabalho favorita de Régis nos seus últimos anos: a reflexão sobre os fundamentos teóricos da política e a história das idéias. Vamos, então, homenageá-lo do modo como ele mais apreciaria: lendo-o reflexivamente.
O EDITOR
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
29 Jan 2004 -
Data do Fascículo
2002
