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Sergio Buarque de Holanda e as palavras: uma polêmica

Sérgio Buarque de Holanda and the words: a polemic

Resumos

Discute a importância das palavras no trabalho de historiadores e cientistas sociais. A partir de uma polêmica entre alguns historiadores brasileiros nos anos setenta, a questão da significação vem à tona e é avaliada, na tentativa de se compreender a reconstrução e interpretação de sentidos subjacente à lida com os documentos históricos. A discussão recai sobre o papel do leitor e sobre a relação necessariamente tensa entre o texto do historiador e suas fontes.


The importance of words in the work of historians and social scientists is discussed. On the basis of a polemic involving Brazilian historians in the seventies, the issue of signification is reviewed in an attempt to understand the reconstruction and interpretation of meaning when dealing with historical documents. The discussion focuses on the role of the reader and on the tense relationship between the text of the historian and the original sources.


IDÉIAS E DEBATES

Sergio Buarque de Holanda e as palavras: uma polêmica

Sérgio Buarque de Holanda and the words: a polemic

Pedro Meira Monteiro

Mestre em Sociologia pela UNICAMP, com dissertação da qual resultou este artigo e o livro A queda do aventureiro (Ed. UNICAMP, 1999)

RESUMO

Discute a importância das palavras no trabalho de historiadores e cientistas sociais. A partir de uma polêmica entre alguns historiadores brasileiros nos anos setenta, a questão da significação vem à tona e é avaliada, na tentativa de se compreender a reconstrução e interpretação de sentidos subjacente à lida com os documentos históricos. A discussão recai sobre o papel do leitor e sobre a relação necessariamente tensa entre o texto do historiador e suas fontes.

ABSTRACT

The importance of words in the work of historians and social scientists is discussed. On the basis of a polemic involving Brazilian historians in the seventies, the issue of signification is reviewed in an attempt to understand the reconstruction and interpretation of meaning when dealing with historical documents. The discussion focuses on the role of the reader and on the tense relationship between the text of the historian and the original sources.

Há poucos anos, Umberto Eco fazia notar que sua Obra Aberta, escrita na década de 1960, suscitara então interpretações que privilegiavam o lado aberto de toda a leitura, em detrimento do que se encerra sob o próprio texto. Exageraram-se os "direitos dos intérpretes" - dizia - e, desta maneira, subestimaram-se os " direitos dos textos" (Eco 1993). Enfim, o semioticista reclamava a devida atenção à dialética entre texto e leitor. O autor, ainda pregando a abertura do texto, ralhava com seus leitores, porque não souberam interpretá-lo.

Espero sinceramente que se compreenda minha intenção com este trabalho: não se trata de reavivar fantasmas, ou de fazer renascer desavenças que já tiveram seu tempo e lugar. Hoje, apenas interessa às novas gerações de historiadores, cientistas sociais ou teóricos da literatura rever aquilo que se encerra sob as polêmicas do passado. Este o meu intento, quando procuro reavivar textos esquecidos em arquivos pessoais.

O leitor deste artigo (ele também livre para interpretar a seu talante as palavras que redijo) poderá já de início perguntar-se se não será excessivo o título escolhido. Seguramente, propor-se a escrever sobre "Sergio Buarque de Holanda e as palavras" anuncia uma empresa gigantesca. Talvez haja então um descompasso entre o que diz o título e o que traz o texto. Existirá porventura um intervalo muito largo entre o nome do artigo e a expectativa que ele pode criar. Restará talvez um vazio entre o nome e as coisas de que se quer falar.

De qualquer forma, temos já aqui um fascinante problema de linguagem. A distância do nome coisa, ou do nome àquilo que se quer expressar, traz às vistas uma questão como o nascimento da linguagem e das próprias palavras. A palavra afinal designa, ou pretende significar, aquilo que não está necessariamente presente, mas que, ainda ausente, eu posso conceber, porque sou capaz de inteligir. Trata-se de um problema importante, pois parece ser nas palavras, naquilo que elas permitem conceber e também em sua própria composição, isto é, no texto, que se encontra em grande medida o valor da contribuição que nos dá o autor de Raízes do Brasil, no terreno da história das idéias.

Ao sugerir que a contribuição de Sergio Buarque de Holanda venha sobretudo do campo da linguagem, não pretendo que se relegue o conteúdo de suas reflexões a um segundo plano. Não se trata contudo de ressuscitar a velha cisão entre o conteúdo e a forma. Antes deve-se perceber que, para o escritor, aquilo que se diz está radicalmente ligado ao como se diz aquilo. A palavra afinal não é límpida e, como já se observou, tampouco desdobra-se num único plano. Ela não retrata as coisas, nem diz exatamente aquilo que está ali. Bem ao contrário, a palavra pode iluminar porque é capaz de se desdobrar em sentidos, dizendo mais ou menos sobre a condição do homem na história. Seguindo a tradição hermenêutica, não se compreende a história senão nas palavras e pelas palavras.

Acompanhar a aventura da linguagem na obra de Sergio Buarque de Holanda pode logo lembrar Montaigne, para quem importava sobretudo a maneira por que algo é discutido, mais do que aquilo que se elege para discutir. "Não se preste atenção à escolha das matérias que discuto, mas tão-somente à maneira por que as trato", diz o filósofo no capítulo "Dos Livros", em seus Ensaios (Montaigne 1996).

Talvez tudo pareça mero jogo retórico. Mas é justamente o sentido deste jogo que deve nos interessar. Atentar para a "maneira por que trato" a matéria é mergulhar no fundo da própria significação. Seguir a sugestão de Montaigne é lançar-se na tentativa de acompanhar o movimento do texto, indissociável dos movimentos do autor e do leitor. Atentar para a forma, neste caso, é buscar as razões pelas quais este leitor se sente envolvido pelas palavras, pelos argumentos e pelos conceitos. No limite, é buscar entender como ele é seduzido pelas palavras, convencido pelos argumentos e esclarecido através dos conceitos.

A preocupação com a linguagem ganha então peso muito especial na análise da obra de Sergio Buarque de Holanda. Há que se precaver, porém, contra os encantamentos do texto. Qualquer estudioso debutante, por exemplo, aventurando-se a ler um ensaio como Raízes do Brasil, perceberá que análise e fruição são dois aspectos indissociáveis na apreciação desse texto. Se isto por um lado torna agradável a leitura, pode por outro envolvê-lo num perigoso jogo em que ele é convidado a baixar sua guarda crítica, para deleitar-se com as palavras e as imagens que elas criam. É notável o jogo imagético, inventivo e perigosamente sedutor.

A invenção é de toda forma um dado fundante na escrita desse historiador. Invenção constante, de quem toma para si certas fontes e dialoga com elas, conversando com os documentos. Assim referido, o trabalho do historiador poderá parecer uma atividade amena, quase prosaica: uma simples conversa com as fontes, isto é, uma conversa com outros textos. Porém, aqui se estabelece, mais que um amigável encontro, uma verdadeira batalha com os outros textos. Um diálogo, de fato. Lembrando a etimologia da expressão, o diálogo pretende rasgar o próprio lógos. Decididamente, não se trata de tarefa simples, menos ainda fruto de um contato despreocupado e ameno com o texto.

O que então se estabelece é fundamentalmente uma tensão entre dois pólos: de um lado, o texto que se quer interpretar e com o qual se pretende dialogar; de outro, o texto do próprio escritor, do historiador. Mas é curioso que o texto com que lida o historiador - a crônica da época colonial, por exemplo - tenha a pretensão de narrar ou descrever fidedignamente o que se viu. É inevitável, porém, que ao narrar fidedignamente o que viu, o cronista dê um testemunho veraz não tanto do que viu, mas do como viu, terminando por fornecer o testemunho de uma certa sensibilidade passada. E a menos que se acredite na descrição do "fato puro", ou na superstição do "fato puro", torna-se impossível imaginar que o historiador vá entregar ao leitor um material textual completamente isento, imparcial. Isto é quase óbvio, tratando-se, como se trata, de um autor marcadamente antipositivista, como Sergio Buarque de Holanda.

Pois então o testemunho dos cronistas - atendo-me aqui a um só exemplo - não é uma fonte isenta. O terreno em que se movimentam as palavras desses escritores coloniais, isto é, o campo da linguagem na crônica colonial, é já um campo de batalha. Porque não é exatamente o campo da pura descrição. Nem é um campo onde os nomes correspondam exatamente às coisas, para retornar uma vez mais a este problema tão antigo. A questão da significação é fundamental, se o historiador quiser adentrar o terreno do testemunho passado.

O historiador deverá então realizar um trabalho hermenêutico sobre os documentos com que lida. Afinal, não são dados isolados, ou variáveis discretas, segundo uma linguagem matemática, que se encontram no texto. Pelo contrário, o texto é a própria significação em curso, em movimento. O texto, qualquer seja, lida com um estoque de palavras que não são isentas de significados múltiplos. Não há univocidade nos vocábulos. Não há sequer uma linguagem "científica" unívoca. Há - e sempre haverá - a batalha dos sentidos.

Quando o historiador entra no reino das palavras alheias, passa a lidar com um estoque semântico muitas vezes riquíssimo, somente acessível através da compreensão do texto, que na prática o obriga a promover um reordenamento das palavras, encontrando conexões de sentido -para utilizar uma expressão de fundo weberiano - que possam esclarecê-las1 1 Não à toa, a idéia da "cultura" como "texto" será desenvolvida por um antropólogo contemporâneo como Geertz exatamente a partir de uma crença weberiana. Cf. Geertz 1978, p.15. . Encontrar ou reencontrar conexões de sentido é um desafio semiótico a que todos os que freqüentamos os arquivos estamos fadados.

Na intenção de sugerir o alcance destes problemas, sem contudo explorá-los a fundo, retomo aqui uma interessante polêmica que envolveu, a partir do início da década de 1970, os historiadores Carlos Guilherme Mota, Giselda Mota e o próprio Sergio Buarque de Holanda2 2 Alfredo Bosi participa literalmente sem querer desta polêmica, já que seu nome foi lembrado por Carlos Guilherme Mota, num dos artigos que compõem o corpo das discussões. Uma carta de Bosi endereçada a Sergio Buarque de Holanda, datada de 1980 e hoje acessível nos arquivos pessoais do historiador, procura desfazer qualquer mal-entendido quanto à postura pessoal do crítico literário em relação ao autor de Raízes do Brasil, sua obra e suas posições ideológicas. Sendo sua participação na polêmica de fato periférica, abstenho-me de inclui-lo em minhas considerações. . Pauto-me sobretudo nas considerações deste último, pois foi por esta ocasião que o tema das palavras veio à tona, em escritos seus, de forma particularmente curiosa. Sua documentação pessoal, guardada hoje pela Universidade Estadual de Campinas, revela-se neste aspecto bastante esclarecedora3 3 As correspondências passiva e ativa de Sergio Buarque de Holanda podem ser consultadas junto ao Arquivo Central do Sistema de Arquivos (Siarq) da UNICAMP, Fundo Privado SBH, pastas 5 a 11 (Sub-séries Ca e Cp). .

Aparentemente tudo se inicia, ao menos publicamente, com uma crítica mordaz que faz o autor de Raízes do Brasil a certo trecho de um texto de Carlos Guilherme Mota. Acontece que, referindo-se a Luís dos Santos Vilhena, o autor de Atitudes de Inovação no Brasil, 1789-18014 4 O título do livro de Carlos Guilherme Mota foi alterado em edições mais recentes e o texto, segundo nota do autor, ligeiramente modificado. O capítulo em que se situa a passagem comentada por Sergio Buarque de Holanda chama-se "Formas de pensamento intermediárias. O caso típico: Vilhena, colono ilustrado". Cf. Mota 1989. afirmara que o velho professor de grego não parecia possuir "boa visão do fenômeno geral de desenvolvimento do militarismo na Colônia". Não obstante, ainda segundo Mota, revelava-se o ilustrado um arguto observador deste desenvolvimento do militarismo na Salvador do fim do século XVIII. Ocorre que o historiador corrobora sua opinião com uma breve citação de Vilhena, quando este se refere à muita "gente policiada" que havia então na Bahia. Exatamente este termo - "policiada" - enseja o comentário de Sergio Buarque de Holanda, para quem seu colega teria se enganado, ao atribuir àquela palavra seu significado contemporâneo, lendo "policiada" como referente a "polícia", no sentido militar do termo.

Se dermos ouvidos a tal crítica, concluiremos que Carlos Guilherme Mota não fez mais do que a maioria de nós faria hoje, associando o termo "policiada" à guarda militarizada. Mas, de acordo com o autor de Raízes do Brasil, o vocábulo carrega, no século XVIII, bem mais o sentido de "civilizada", "cultivada" ou "refinada", do que o sentido militar que lhe emprestara Mota (Holanda 1973). Trata-se da armadilha das "multivocidades diacrônicas", segundo a empolada expressão que Sergio Buarque de Holanda utiliza, não sem ironia.

Mas a própria palavra "civilização", a que se refere o historiador ao questionar a leitura de Mota, é um termo que ganharia a rua com o sucesso da Revolução Francesa, sendo introduzida no Brasil, segundo suas observações preliminares, por José da Silva Lisboa ainda em 1798, vindo a fixar-se no vocabulário local somente vários anos depois. O problema todo reside no fato de que se se quisesse destrinçar os significados múltiplos e sobretudo mutáveis das palavras, procurando cercar o campo semântico de expressões como aquelas, seriam descobertos caminhos intermináveis e seguramente tortuosos. Assim como a história dos homens é viva, sendo movimento e processo, a história das palavras é também viva, sendo igualmente processo e movimento. Assim como a história dos homens não é feita somente pelos donos da política oficial, também a história das palavras não se faz pela mão dos donos das letras. Não há donos das palavras.

Pois a crítica a Carlos Guilherme Mota vai exatamente nessa direção: para Sergio Buarque de Holanda, haveria uma espécie de "petrificação" da palavra no texto daquele historiador, ou em sua postura diante de certas palavras. Não à toa, as severas críticas de Mota aos "explicadores" do Brasil recairiam especialmente sobre o ecletismo de sua terminologia, que por sua feita denunciaria uma percepção generalizante da cultura brasileira, desapegada da dinâmica social das classes5 5 Para acompanhar o desenrolar das críticas de uma parte a outra, vejam-se, além do já referido artigo de Sergio Buarque de Holanda (Holanda 1973), os artigos de Carlos Guilherme Mota (Mota 1975, 1976, 1980) e o artigo de Antonio Candido, respondendo ao último e mais virulento artigo de Mota (Souza 1980). .

Avançando o raciocínio de Sergio Buarque de Holanda e misturando um pouco de minhas palavras às dele, o excesso de zelo com uma linguagem "científica" acabaria imobilizando os vocábulos e sufocando seus sentidos latentes. Como se um universo totalmente turbulento, em que os sentidos se compõem, se confrontam e contraditam, fosse "domado" de forma completamente tirânica, para se chegar ao porto seguro da univocidade, ou da pretensa "cientificidade".

A crença absoluta nos vocábulos seria então uma espécie de entrega ao conteúdo inequívoco e inquestionável do sentido único. O medo da imprecisão vocabular terminaria por esterilizar o pensamento e a imaginação. A linguagem científica pode ser uma prisão, se houver a crença incondicional no rótulo do "científico". Se o historiador acredita unicamente naquilo que o estatuto científico permite, ele talvez se tranque num universo semântico completamente limitado, porque definitivamente estabelecido.

A relação dos homens com as palavras, se esses homens e essas palavras não quiserem se acomodar completamente, deverá necessariamente ser tensa. O bem escrever, como se sabe, nunca é uma atividade completamente prazerosa ou amena. É antes uma guerra com as palavras. Aqui se vai revelando com progressiva clareza a encruzilhada em que nos encontramos: nosso problema, como foi o dos modernistas, é a linguagem.

Isto pode nos lembrar as palavras do jovem Sergio Buarque de Holanda, com seus 22 anos de idade, escrevendo na revista Estética: "As palavras depositaram tamanha confiança no espírito crédulo dos homens, que estes acabaram por lhes voltar as costas" (Holanda 1996, p.214). Isto é, toda a tensão entre o mundo e a expressão do mundo, de que nasce toda a arte (e toda a ciência, por que não?), termina por ser elidida se os homens se acreditarem donos das palavras, ou donos dos sentidos das palavras.

Mas o que seria então "voltar as costas" às palavras? Seria justamente acreditar plenamente que o seu sentido já está estabelecido. Acreditar que não há o que discutir, que não há guerra a ser deflagrada. Pois os modernistas teimaram em deflagrar uma guerra. E neste ponto - da "guerra" com as palavras - o historiador, o crítico literário e o militante modernista se encontram.

No artigo em que parece iniciar-se essa polêmica com Carlos Guilherme Mota, intitulado "Sobre uma doença infantil da historiografia" e publicado no Suplemento Literário d' O Estado de S. Paulo em 1973, Sergio Buarque de Holanda chega a comparar essa crença absurda e incondicional nas palavras, que permite afinal que lhes voltemos as costas, à crença nos fatos. Crença que antigamente (?) pautava o trabalho de muitos historiadores. Então, diz ele,

...não há como negar que a superstição do fato, o fato puro, ante o qual um historiador se omitia tanto quanto possível, provinha de um afã louvável, mas falacioso, de objetividade. Ora, precisamente o mesmo se pode dizer do tipo de historiografia que, com modos parecidos, procura preencher a lacuna alargada com o declínio da história simplesmente fatual. A diferença entre uma e outra é grande: à velha superstição do fato puro substitui-se a nova superstição do vocábulo puro ou seja perfeitamente unívoco, petrificado, e válido para todo o sempre. Resultado: em vez daquelas coleções de fatos e datas rigorosamente obtidas por métodos críticos conduzidos até a última perfeição, estaríamos para assistir ao surto de uma desinteria torrencial de palavras expurgadas e palavras-chave, próprias para balizar o fluxo dos acontecimentos. Como sucede a todos os simplificadores, os vassalos desses critérios põem neles uma inexpugnável confiança e voltam-se contra os mais céticos com uma suficiência e um glorioso azedume, parente daquela acidez de mulher feia de que falava, se não me engano, o célebre Dr. Johnson há coisa de dois séculos. (Holanda 1973)

Acidez, aliás, devidamente retornada à origem, já que essa crítica é, ela mesma, uma torrente de palavras ácidas. Só que, diferentemente das "palavras expurgadas e palavras-chave", essas palavras do historiador pretendem justamente exorcizar a magia do "vocábulo puro". É de toda forma muito interessante: conclama-se o léxico para exorcizar o próprio léxico.

Exorcizar era a tarefa própria do historiador, no entender de Sergio Buarque de Holanda. A crítica a Giselda Mota, que acompanha a crítica a Carlos Guilherme Mota, vai também nessa direção, procurando exorcizar as palavras, subtraindo delas qualquer conteúdo mágico. Daí as palavras muito duras dirigidas à historiadora, que preparara e comentara uma "Bibliografia Crítica" da Independência brasileira, no livro 1822: Dimensões, organizado pelo mesmo Carlos Guilherme (Mota 1972).

A simples utilização da palavra "fatal", numa frase de um trabalho de Sergio Buarque de Holanda e em alguns outros textos, pareceu suficiente a Giselda Mota para detectar, naqueles autores, alguma "fatalidade" na análise da história. Há, nos arquivos pessoais do autor de Raízes do Brasil, uma longa carta escrita por ele a Carlos Guilherme Mota, que serviu largamente para a feitura daquele artigo publicado n'0 Estado de S. Paulo (Holanda 1973) e mesmo para a composição de um ensaio sobre Leopold von Ranke, publicado um ano depois (Holanda 1974). Em tal carta, há um tom sarcástico que aparece também no artigo, embora um pouco atenuado. Por exemplo, no que se refere a essa utilização da palavra "fatal", diz o historiador:

Na aversão de G. M. [Giselda Mota] pela palavra 'fatal', aversão que não revela por inúmeras outras que podem ser entendidas ainda mais arbitrariamente (...) é possível que tivesse em mente o latim fatum, que apesar de várias acepções toleráveis numa proposição científica, admite outras bastante misteriosas e naturalmente condenáveis. Porque aquele que só se quisesse valer de vocábulos perfeitamente 'neutros' e 'unívocos', apelando para a etimologia, acabaria sem poder avançar nem recuar no seu trabalho. Sobretudo recuar não lhe seria lícito, se fosse imaculado decoro, pois quem não sabe que 'recuar' pela origem é gesto pouco decente e só explicável por meio de palavrão? Mas 'palavrão'? Trata-se do aumentativo de palavra, que vem de parábola, e cientista não pode falar por meio de parábolas, senão cai em literatura. (Siarq/Unicamp, Fundo Privado SBH, P.11, Cp.349.)

É interessante como a "brincadeira" com as palavras, embora num tom algo deselegante, possa trazer, através desse documento privado, um problema fundamental da filosofia da linguagem, de extrema importância para Sergio Buarque de Holanda. Recuar até a origem das palavras significa porventura refazer algumas daquelas cadeias com que os lingüistas procuram, por vezes, iluminar os deslocamentos constantes entre o significado e o objeto. Recuar, neste caso, é tentar trilhar o caminho da própria significação, reencontrando o mundo da historia na história da linguagem.

Lembrando um filósofo muito caro ao historiador, cuja teoria seria inclusive empunhada contra Giselda Mota, suponho que nessa "brincadeira" deliberada com os vocábulos se recupere o sentido original da própria linguagem e o aspecto lúdico, enfim, do falar e do comunicar. Recuemos então a Wittgenstein para esclarecer, através de algumas de suas "Investigações Filosóficas", o sentido daquilo que ele denomina "jogos de linguagem". Diz o filósofo vienense:

Na práxis do uso da linguagem (...), um parceiro enuncia as palavras, o outro age de acordo com elas; na lição de linguagem, porém, encontrar-se-á este processo: o que aprende denomina os objetos. (...)Podemos também imaginar que todo o processo do uso das palavras (...)é um daqueles jogos por meio dos quais as crianças aprendem sua língua materna. Chamarei esses jogos de 'jogos de linguagem', e falarei muitas vezes de uma linguagem primitiva como de um jogo de linguagem. E poder-se-iam chamar também de jogos de linguagem os processos de denominação das pedras e da repetição da palavra pronunciada. Pense os vários usos das palavras ao se brincar de roda. Chamarei também de 'jogos de linguagem' o conjunto da linguagem e das atividades com as quais está interligada. (Wittgenstein 1996, p.29-30.)

A proposição do jogo é fundamental. Mas onde se dá o jogo? Onde ele se apóia? Como se estabelecem as regras, o alcance e os limites do jogo de linguagem, em que se movimentam as palavras, os signos? Apoiando-se em Wittgenstein, Sergio Buarque de Holanda dirá que o signo ganha sentido apenas no seu uso. Aqui retomo o trecho das Investigações Filosóficas de que o historiador se utiliza em sua carta, alargando porém a sua citação. Referindo-se portanto àquele parceiro que age de acordo com as regras ditadas por determinada pessoa, diz o filósofo:

'Entre a ordem e sua execução há um abismo. Este deve ser preenchido pela compreensão.'

'Apenas compreendendo é que sabemos que temos de fazer isto. A ordem — na verdade, são apenas sons, traços de tinta.'

(...) Todo signo sozinho parece morto. O que lhe dá vida? - No uso, ele vive. Tem então a viva respiração em si? - Ou o uso é sua respiração? (Idem, p. 129.)

Esvaziam-se de sentido o puro som, as palavras sozinhas, os "traços de tinta", a mera imagem (o significante, no termo de outro lingüista), para se encontrar a significação no uso dos signos. Por isto essa bonita imagem: o signo respira no uso. Ele deve contudo ser proposto para que tenha algum sentido. Mas a quem se propõe o jogo de sinais, senão ao leitor? O signo, afinal, requer do leitor sua respiração. A palavra precisa do leitor para viver.

Creio que o que nos resta de mais importante seja essa espécie de "guerra", ou "batalha" a que está fadado (esse o verdadeiro fatum...) todo o escritor, todo o crítico, historiador ou sociólogo. Uma batalha com as palavras, contra o enfeitiçamento de nossa inteligência (idéia de Wittgenstein), buscando, no fim de tudo, recuperar a palavra no seio do texto e do contexto.

O que Sergio Buarque de Holanda critica em Giselda Mota, além de alguns erros algo grosseiros que a historiadora parece cometer em sua listagem bibliográfica, é sua excessiva preocupação com o vocábulo, em detrimento da sintaxe. Porque é na sintaxe que se articulam afinal os sentidos do texto. É na sintaxe, ou seja, na composição, na semeadura das palavras, que vive o vocábulo, que respira o signo:

Sua despreocupação com a sintaxe, que procura compensar com um interesse falacioso pela magia das palavras destacadas do contexto, explica não poucas imprecisões e confusões de Da. Giselda. Já não me refiro aqui à sintaxe gramatical, pois é assunto que muitas vezes foge também à minha competência, embora admita que a desgramática seja em parte responsável por isso. (Siarq/Unicamp, Fundo Privado SBH, RI 1, Cp.349.)

É o ato de destacar a palavra do texto, para considerá-la em si mesma significativa e definitiva, que parece incomodar o historiador. Haverá aí, no jogo de palavras de Sergio Buarque, uma provocação. A gramática - como técnica que originalmente é - pode converter-se em desgramática, sem que com isso se perca necessariamente o prumo do discurso. Pois o que importa não é mesmo a letra em si, ou o seu peso, destacado do conjunto, mas o conjunto todo das letras, devidamente aprumado.

Assim parece esclarecer-se a ironia reservada à zelosa utilização das aspas, como se tais sinais bastassem para resguardar a palavra de sentidos equívocos:

Bem, por causa das dúvidas não custa aspear o que possa parecer ambíguo ou multívoco. Assim convém escrever "Independência" para o leitor ficar sabendo que eu sei que, no Brasil, "Independência" não foi bem independência. Não tenho nada contra, mas acho que, no fundo, isto é provinciano. Passei uns meses, há muito tempo, em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e o diretor ali de um jornal chamado O Progresso, meio dado a humorista, abusava tanto das aspas e da caixa alta, para indicar que as palavras deveriam ser entendidas cum grano salis, que no fim o jornal tinha quase mais aspas do que palavras. Quanto a mim acho até galante isso de se enfeitarem de chifrinhos os vocábulos equívocos, mas admito com certa frustração que já não estou para tais excessos. (Siarq/Unicamp, Fundo Privado SBH, P.11,Cp.349.)

Desembaraçar-se das aspas, aqui, significaria porventura enfrentar a multivocidade das palavras, consciente e conscienciosamente estabelecendo um jogo de linguagem em que elas se compõem, de forma a descobrir sentidos que se efetivam para além, ou mesmo a despeito da autorizada técnica de escrever. Livrar-se das aspas seria sobretudo desprover-se do espírito sestroso dos que se crêem distantes de toda a imprecisão, abrigados sob o sol forte da ciência.

Não se trata porém de confundir a história a um gênero literário, embora o historiador seja também, malgrado seu, um escritor. Ocorre que a sua escrita o obriga a uma aproximação objetiva adequada, de uma adequação que não será julgada necessariamente pelo estatuto científico, mas antes e principalmente pelo próprio leitor, capaz de reviver com o escritor o movimento do texto.

Viu-se que o texto vive e respira no uso dos signos. A palavra respira na imaginação do leitor, ou até mesmo em seu ouvido (não há como desprezar a musicalidade de certos textos). O leitor é portanto quem mobiliza os vocábulos, encontrando o fio da exposição, ou criando novos fios para explicá-la, recriando a trama do texto. O leitor pode então tornar-se um interlocutor ativo e pressuroso, o verdadeiro parceiro de todo o jogo.

Mas nem por isso toda a leitura é razoável. Quando se lê um texto, não é o vazio que se encontra, como se ao leitor restasse apenas preenchê-lo com o que bem - ou mal - entenda. E nem todo texto guarda simplesmente a mensagem hermética, retratária a toda explicação. Ocorre que trilhamos sempre o caminho da compreensão, lidando com objetos que se esquivam ao pretenso asseptismo cientificista, que mesmo as ciências exatas não comportam mais, como observa Sergio Buarque de Holanda, ainda na citada carta, apoiando-se em autores "insuspeitos" como Popper ou Einstein, para quem a "empatia" - malgrado a imprecisão com que esta palavra traduz o termo alemão Einfühlung - é recurso inevitável de aproximação objetiva. Tampouco a "especulação", a que se lança o cientista social ou o historiador, equipara-se, segundo ele, "a explanações subjetivas e palavrosas, isentas de auto-crítica, estranhas a toda lógica e a toda confrontação com o real." (Siarq/Unicamp, Fundo Privado SBH, P. 11, Cp.349.) Apenas a complexidade do material com que lida, a espessura da realidade histórica, requerem deste cientista especiais dotes de escritor, de tal forma que o estilo se torna arma imprescindível, a ser manejada com rigor, no trabalho interminável de reconstrução dos nexos históricos6 6 Vejam-se, a propósito, as importantes reflexões de Maria Odila da Silva Dias, sobre o estilo e o método na obra do historiador. Cf. Dias (1988). Veja-se também o belo comentário de Flora Süssekind, buscando compreender a interação dos registros "literário" e "objetivo" na prosa de Sergio Buarque de Holanda. Cf. Süssekind (1992). .

Somos então lançados no terreno do ensaio historiográfico. Mas se a prosa ensaística é boa, não há espaço para as afirmações categóricas, ou para o texto fechado. Essa espécie de círculo de eterno retorno que todo o texto faz, que é o caminho da própria significação - do signo a nós e de nós ao signo, das palavras ao leitor e do leitor às palavras -, tem sempre o leitor como mediação. Mais que isso, tem o leitor como motor, como aquele que movimenta o texto, dando partida à caixinha de música.

No texto, todo o movimento dos sentidos, procurando resgatar ou dar a entender significados perdidos no tempo, subjaz na trama das palavras. Trata-se sempre, se o texto é bom, de um movimento arrebatador, que o leitor ativo não recusa, antes aceita como proposição e provocação, para só então, uma vez proposto e aceito o jogo, mergulhar na penumbra da própria significação. Mas restará sempre um claro-escuro, que pode revelar ou ocultar. Há que aceitar o jogo, de modo a recusar a ilusão do sentido único, completamente iluminador.

A comparação da linguagem do historiador com a pintura, posto que não se trate de uma linguagem necessariamente artística, será talvez proveitosa. Ernst Gombrich pergunta-se, em sua A História da Arte, sobre o movimento nas telas de Leonardo da Vinci. Por que nelas o movimento se estampa tão inequivocamente, ao contrário de tantas obras de pintores anteriores? Segundo ele, porque

"...só Leonardo encontrou a verdadeira solução para o problema. O pintor deve deixar ao espectador algo para adivinhar. Se os contornos não são desenhados com a maior firmeza de traços, se a forma permanece um pouco indefinida, como que desaparecendo numa sombra, essa impressão de secura e rigidez será evitada. Aí está a famosa invenção de Leonardo a que os italianos chamam sfumato - um lineamento esbatido e cores adoçadas que permitem a uma forma fundir-se com outra e deixar sempre algo para alimentar a nossa imaginação". (Gombrich 1993, p. 228.)

Pensando simultaneamente na pintura e na escritura, os espaços apenas parcialmente definidos, por conta do sfumato, abrigam o olhar imaginativo do espectador. Daí, decerto, nasce o movimento. Daí a figura desperta de seu sono de Bela Adormecida e respira.

A imagem da respiração sugere um texto vivo, capaz de movimentos e metamorfoses. Bem assim, como se sabe, pretende-se o texto ensaístico, que recusa qualquer rigidez escolástica para abandonar-se ao livre movimento do corpo ou das coisas de que se quer tratar. Se há algo lúdico aqui, não haverá contudo traço algum de irresponsabilidade. Pelo contrário, uma vez deixado o porto seguro da univocidade, lançamo-nos obrigatoriamente na aventura da linguagem multívoca, o que nos torna tanto mais responsáveis pelo movimento que o texto propõe e provoca.

A prosa de Sergio Buarque de Holanda advém de uma semeadura muito bem pensada. Dela, poderá inclusive dizer-se que é rigorosa, embora o rigor se expresse na fineza com que se penetra o universo dos documentos históricos, jamais na rigidez da linguagem. A articulação das palavras, sem que se componham geometricamente, é capaz de deixar espaços à imaginação, como se o sfumato se fizesse presente na própria escritura. Como se entre os vocábulos restassem espaços apenas parcialmente definidos, a serem preenchidos pela luz da leitura.

É próprio do ensaio, desde Montaigne, o risonho convite à leitura, com o oferecimento de um desenho sedutor para a imaginação. Adorno comparou-o a um tapete, em que se entretecem momentos diversos do pensar. "Da densidade dessa tessitura é que depende a fecundidade do pensamento." (Adorno 1986, p.177.)

Fecundidade a exigir-se, do escritor, sempre que é denso o objeto. E não há um só objeto histórico que não o seja, em profundidade. Reclamar portanto atenção à linguagem não é perder-se no vazio retórico, mas sim reencontrar a complexidade da retórica, simplificada e empobrecida nas fórmulas rígidas do pensar e do escrever. Reclamar atenção à linguagem é pô-la a serviço do esclarecimento, tornando a linguagem alvo dela mesma. Essa a lição do filósofo de Frankfurt, que o autor de Raízes do Brasil parece ecoar, quando se percebe também ele um escritor, tanto mais zeloso quanto o obriga o ofício.

No ensaio, o diálogo é duplo. De uma parte, há a busca do lógos pelo escritor e, de outra, há o reencontro do lógos pelo leitor. A mediação de tudo - o texto. O texto é então o repositório das palavras, mas caberá sempre ao leitor, depois de escrito o texto, inquiri-las. A tessitura das palavras seguirá pertencendo exclusivamente ao escritor. Mas a forma aberta do ensaio, por sua natureza, convida à leitura e reclama o deixar-se levar e encantar. No meio do caminho, percebemo-nos embalados no movimento de uma forma que se abre para a crítica da linguagem, reclamando sobre si própria o repensar e mesmo o reordenar das idéias e - por que não? - das palavras.

A sintaxe que aproxima e amalgama os vocábulos é desta forma compartilhada pelo escritor e pelo leitor. Mas é ainda o leitor quem, ao fim, dará vida aos signos, fazendo-os respirar. Talvez se exagerem assim os direitos deste leitor. Talvez se lhe dê excessiva importância, ou demasiado peso. Porém, será talvez este o espírito adequado para adentrar os caminhos que a obra de Sergio Buarque de Holanda abre a todos nós, seus leitores. Afinal, as palavras só podem despertar no momento em que nos apossamos delas. No limite, elas somente respiram no instante em que toda a reverência é perdida, toda a autoridade do vocábulo se esvai, e somos capazes de brincar com as palavras alheias.

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  • ______(1980). "Uma visão ideológica". O Escritor, 5, ago/set.
  • ______(1989). "Formas de pensamento intermediárias. O caso típico: Vilhena, colono ilustrado". In: Idéia de revolução no Brasil (1789-1801): estudo das formas de pensamento. S.Paulo: Cortez.
  • MOTA, Giselda (1972). "Historiografia. Bibliografia. Documentos". In: Mota, Carlos Guilherme (org.). 1822: Dimensões. S.Paulo: Perspectiva.
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  • SÜSSEKIND, Flora (1992). "Comentário ao texto 'Nota breve sobre Sérgio crítico', de Antonio Arnoni Prado". In: 3ş Colóquio UERJ: Sérgio Buarque de Holanda. R.Janeiro: Imago, p. 136-45.
  • WITTGENSTEIN, Ludwig (1996). Investigações Filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. Wittgenstein. Os Pensadores. S.Paulo: Nova Cultural.
  • 1
    Não à toa, a idéia da "cultura" como "texto" será desenvolvida por um antropólogo contemporâneo como Geertz exatamente a partir de uma crença weberiana. Cf. Geertz 1978, p.15.
  • 2
    Alfredo Bosi participa literalmente sem querer desta polêmica, já que seu nome foi lembrado por Carlos Guilherme Mota, num dos artigos que compõem o corpo das discussões. Uma carta de Bosi endereçada a Sergio Buarque de Holanda, datada de 1980 e hoje acessível nos arquivos pessoais do historiador, procura desfazer qualquer mal-entendido quanto à postura pessoal do crítico literário em relação ao autor de
    Raízes do Brasil, sua obra e suas posições ideológicas. Sendo sua participação na polêmica de fato periférica, abstenho-me de inclui-lo em minhas considerações.
  • 3
    As correspondências passiva e ativa de Sergio Buarque de Holanda podem ser consultadas junto ao Arquivo Central do Sistema de Arquivos (Siarq) da UNICAMP, Fundo Privado SBH, pastas 5 a 11 (Sub-séries Ca e Cp).
  • 4
    O título do livro de Carlos Guilherme Mota foi alterado em edições mais recentes e o texto, segundo nota do autor, ligeiramente modificado. O capítulo em que se situa a passagem comentada por Sergio Buarque de Holanda chama-se "Formas de pensamento intermediárias. O caso típico: Vilhena, colono ilustrado". Cf. Mota 1989.
  • 5
    Para acompanhar o desenrolar das críticas de uma parte a outra, vejam-se, além do já referido artigo de Sergio Buarque de Holanda (Holanda 1973), os artigos de Carlos Guilherme Mota (Mota 1975, 1976, 1980) e o artigo de Antonio Candido, respondendo ao último e mais virulento artigo de Mota (Souza 1980).
  • 6
    Vejam-se, a propósito, as importantes reflexões de Maria Odila da Silva Dias, sobre o estilo e o método na obra do historiador. Cf. Dias (1988). Veja-se também o belo comentário de Flora Süssekind, buscando compreender a interação dos registros "literário" e "objetivo" na prosa de Sergio Buarque de Holanda. Cf. Süssekind (1992).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 1999
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