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Aprendizagem da dissimulação no conto machadiano" Ponto de vista (Quem desdenha)"

Learning how to dissimulate in Machado de Assis' short story" Ponto de vista (Quem desdenha)"

Resumos

Este artigo propõe uma leitura do conto "Ponto de vista (Quem desdenha)", que é o último do livro Histórias da meia-noite (1873), de Machado de Assis. A presente abordagem dialoga com críticos que consideraram como aspectos relevantes da obra machadiana o desenvolvimento das motivações morais dos personagens, a imaginação deles, a maneira como dissimulam e a forma como se constituem subjetivamente. Tem-se em mente investigar as motivações de Raquel e como elas são relevantes para a constituição subjetiva da personagem.

conto; questão moral; constituição do sujeito


This essay offers a view on the short story "Ponto de vista (Quem desdenha)", which is the last title in Machado de Assis' book Histórias da meia-noite (1873). The present approach refers to critics who have considered major aspects of Machado de Assis' works, including the ones that follow: the characters development of moral motivation; their imagination; the way they mask themselves; and how they are composed as subjects. It is aimed at investigating the motivations of the character Raquel and how they are relevant to her subjective constitution.

short story; moral issue; subject constitution


ARTIGOS

Aprendizage m da dissimulação no conto machadiano" Ponto de vista (Quem desdenha)"

Learning how to dissimulate in Machado de Assis' short story" Ponto de vista (Quem desdenha)"

Ana Carolina Sá Teles

Universidade de S‹o Paulo S‹o Paulo, S‹o Paulo, Brasil

RESUMO

Este artigo propõe uma leitura do conto "Ponto de vista (Quem desdenha)", que é o último do livro Histórias da meia-noite (1873), de Machado de Assis. A presente abordagem dialoga com críticos que consideraram como aspectos relevantes da obra machadiana o desenvolvimento das motivações morais dos personagens, a imaginação deles, a maneira como dissimulam e a forma como se constituem subjetivamente. Tem-se em mente investigar as motivações de Raquel e como elas são relevantes para a constituição subjetiva da personagem.

Palavras-chave: conto; questão moral; constituição do sujeito.

ABSTRACT

This essay offers a view on the short story "Ponto de vista (Quem desdenha)", which is the last title in Machado de Assis' book Histórias da meia-noite (1873). The present approach refers to critics who have considered major aspects of Machado de Assis' works, including the ones that follow: the characters development of moral motivation; their imagination; the way they mask themselves; and how they are composed as subjects. It is aimed at investigating the motivations of the character Raquel and how they are relevant to her subjective constitution.

Keywords: short story; moral issue; subject constitution.

Os contos da chamada primeira fase da obra machadiana foram recolhidos em dois volumes: Contos fluminenses (1870) e Hist—rias da meia-noite (1873). AlŽm desses contos reunidos em livro, h‡ tambŽm muitos t’tulos avulsos por volta dos anos 1860 e 70. Neste artigo, abordarei o conto "Ponto de vista (Quem desdenha)", de 1873, que foi publicado pela primeira vez no Jornal das Fam’lias, tendo integrado posteriormente a segunda colet‰nea de Machado de Assis.

Para desenvolver a leitura do conto, tenho em mente o problema das motiva›es dos personagens. Outra quest‹o a ser perseguida tangencia o desconhecimento que as personagens tm de si, percebendo-se, em algum ponto da narrativa, diferentes de como se declaravam. Para essa abordagem, fao referncia ˆ leitura de JosŽ Luiz Passos, que apresenta como hip—tese no primeiro argumento de seu ensaio que o objeto dos romances de Machado de Assis "Ž a composi‹o das motiva›es de her—is e narradores, a import‰ncia da sua reminiscncia e a imagem que o sujeito faz de si".1 1 PASSOS, Machado de Assis: o romance com pessoas, p. 15.

Outra ideia que tenho em perspectiva para a abordagem desse conto da dŽcada de 1870 provŽm da interpreta‹o liter‡ria e psicanal’tica desenvolvida por Cleusa Rios P. Passos a respeito de uma obra machadiana mais tardia: Dom Casmurro. Refiro-me principalmente ao momento em que Cleusa Passos defende que a fala do agregado JosŽ Dias tem desdobramentos relevantes para o romance na medida em que interpreta e revela saberes inconscientes ao menino Bento, no cap’tulo "A denœncia". Isto Ž, penso na forma como a fala de terceiros desengatilha no sujeito a busca pelo saber de seu pr—prio desejo, conforme analisou Passos.2 2 PASSOS, As armadilhas do saber, p. 32-45.

Assim, abordarei esse conto, que gira tipicamente em torno do casamento, como o fazem muitos outros contos de Machado da dŽcada 1870. Os objetivos s‹o, portanto: perceber como se desenvolvem as motiva›es da protagonista Raquel em rela‹o ao seu pretendente; como essas motiva›es se d‹o de forma contradit—ria; e como a fala de terceiros envolve-se de forma decisiva com o desejo da protagonista.

Ao analisar o conjunto de contos de Machado de Assis, Alfredo Bosi nota como um grande nœmero desses textos, em especial, os contos anteriores a PapŽis avulsos (1882), obedeceu ˆs conven›es em voga.3 3 BOSI, O enigma do olhar, p. 75. Bosi considera os primeiros contos de Machado de Assis como "hist—rias de suspeita e engano", ou seja, uma forma de "prŽ- hist—ria da m‡scara" cujo uso se tornaria corriqueiro apenas a partir das Mem—rias p—stumas de Br‡s Cubas. No entanto, o cr’tico nota que o delineamento da m‡scara como elemento narrativo machadiano j‡ ganhava subst‰ncia maior na colet‰nea Hist—rias da meia-noite4 4 "O narrador das Histórias da meia-noite já está em trânsito para um 'tempo' moral em que o que se julgaria cálculo frio ou cinismo (segundo a concepção de Alencar, por exemplo) começa a eleger-se como prática do cotidiano até mesmo no coração das relações primárias". Idem, p. 80. em compara‹o ˆ primeira colet‰nea de contos do autor, que havia sido publicada apenas trs anos antes.

Outro ponto analisado por Bosi nesses contos Ž a desigualdade do status social e como ela pode ser superada pelo matrim™nio ou pelo patrim™nio, temas que est‹o em pauta nessas narrativas e que possuem rela‹o estreita com a dissimula‹o:

Subjetivamente, o narrador acentua a composi‹o necess‡ria da m‡scara na pessoa do pretendente; e, como correlato mais prov‡vel, os sentimentos de decep‹o que o beneficiador acabar‡ experimentando quando a m‡scara j‡ n‹o for t‹o necess‡ria ao beneficiado e, por detr‡s dela, se divisar a ingratid‹o ou mesmo a trai‹o.5 5 Idem, p. 77.

Veremos, em especial, como os temas do casamento e do engano – tanto no sentido de autoengano quanto no sentido de dissimula‹o – desenvolvem-se em "Ponto de vista (Quem desdenha)". O conto se apresenta em gnero epistolar, com cartas trocadas primeiramente entre Raquel, que est‡ na corte, e Lu’sa, que est‡ em Juiz de Fora; e, mais para o fim, entre o par rom‰ntico Alberto e Raquel. N‹o existe o recurso do narrador e a enuncia‹o Ž dram‡tica e dial—gica, como no romance epistolar dos sŽculos XVIII e XIX, havendo a presena de lugares-comuns estabelecidos pelo romantismo.

Existem, contudo, momentos inusitados no conto que entremostram rupturas na protagonista Raquel em rela‹o ˆ escolha no matrim™nio. Nesses momentos de "Ponto de vista (Quem desdenha)", o logro (palavra cara ao ensaio de Bosi) Ž deslocado para conflitos internos ˆ protagonista, em vez de se desenrolar numa hist—ria de trai‹o propriamente ou de ser colocado como interesse venal apenas. Interesse h‡, mas o que est‡ nas entrelinhas das cartas Ž o interesse de Raquel em se casar e em n‹o ser enganada (embora ela engane a si mesma e dissimule em sua comunica‹o).

A primeira carta do conto, datada de 5 de outubro, Ž de Raquel para Lu’sa P. Nela, apresentam-se personagens e situa‹o. A destinat‡ria Lu’sa, que se casou e mora na prov’ncia, Ž a melhor amiga de Raquel, que Ž solteira, fala dos pais e mora na Corte. O primeiro assunto da carta s‹o as encomendas que Raquel espera de Lu’sa. Outro assunto que aparece no comeo Ž o "portador". Raquel comenta tambŽm sobre o recolhimento do pai, a doena da m‹e e tem expectativas de que a amiga esteja gr‡vida.6 6 ASSIS, Obra completa em quatro volumes, p. 223.

A segunda carta, datada de 15 de outubro, toca no tema do casamento j‡ no primeiro par‡grafo, por via indireta, ao falar sobre o marido de Lu’sa. O segundo par‡grafo retoma o tema das encomendas e do portador. J‡ no terceiro par‡grafo, a alus‹o ao casamento Ž direta.

A postura de Raquel nas cartas parece inquisit—ria e ela espera muito da parte de Lu’sa. A espera, ali‡s, surge como tema relevante no conto. Raquel pergunta ˆ amiga sobre o portador, sobre uma gravidez e sobre cartas – elementos pelos quais anseia. A partir dessa cadeia de significantes, podemos analisar as motiva›es de Raquel. A escrita trai a protagonista por revelar informa›es que fogem de seu controle, alŽm de tomar parte na constitui‹o da personagem por meio do desenvolvimento de um estilo.

Dessa forma, detalhes das cartas podem ser expandidos em significado. As primeiras frases do conto, por exemplo, est‹o em posi‹o de destaque e podem ser analisadas de forma especial: "N‹o me dir‡ a quem entregou voc as encomendas que lhe pedi? Na sua carta vem mal escrito o nome do portador, e atŽ hoje nem sombra dele, quem quer que seja. Ser‡ o Lu’s?"7 7 Ibidem.

Perguntar sobre o portador na abertura do conto significa perguntar sobre um homem de confiana. O desejo de Raquel de saber quem Ž o portador abre margem para a pergunta ser genericamente interpretada como a pergunta sobre a identidade de um homem que se quer descobrir. Em termos amplos, podemos interpretar a indaga‹o de Raquel como indicativa do desejo de um pretendente. Na segunda carta, por exemplo, podemos perceber mais uma vez a impacincia da protagonista em rela‹o ao portador, j‡ que as encomendas chegariam no dia seguinte:

Vieram as encomendas logo no dia seguinte da œltima carta. E que quer voc que eu lhe mande? Tenho aqui uns figurinos recebidos ontem, mas n‹o h‡ portador. Se puder arranjar algum por estes dias ir‡ tambŽm um romance que me trouxeram esta semana. Chama-se Ruth. Conhece?8 8 Ibidem.

Novamente a ideia do portador aparece, mas desta vez ligada aos significantes "figurino" e "romance". A ausncia do portador significa a impossibilidade de enviar tanto os figurinos, os moldes de roupas que esperam para ser executados, quanto o romance ˆ espera de ser lido. O trecho refora a possibilidade de interpreta‹o da ansiedade de Raquel quanto ao portador como indicativa da busca por um pretendente. Compreendemos que a protagonista depende do portador tanto para passar adiante os "figurinos", palavra que pode ser interpretada como status social, quanto para passar adiante o "romance", significante que alude ao amor rom‰ntico. Em suma, os dois significantes, apesar de na carta terem como significado detalhes triviais, indicam, de forma espectral, a espera de alguŽm que possibilite o matrim™nio.

O romance que Raquel cita, Ruth, de Elizabeth Gaskell,9 9 GASKELL, Ruth. trata da hist—ria de uma mulher na era vitoriana que tem um filho ileg’timo. Ademais, no emprego dos dois nomes no conto, h‡ tambŽm a referncia intertextual discreta a nomes b’blicos. Raquel Ž uma personagem b’blica geralmente relembrada por ter sido tra’da pela gan‰ncia do pai, mas tambŽm por ter sido a esposa preferida de Jac—. Em raz‹o da infertilidade, Raquel foi associada igualmente ao ciœme e ˆ impacincia.10 10 BÍBLIA, p. 35-38. Ruth, por sua vez, foi uma personagem- s’mbolo da submiss‹o e da lealdade, por ter se convertido em Israel, ao acompanhar Naomi, e por ter sido ancestral de Davi.11 11 Idem, p. 287, 288, 290. As referncias remetem, portanto, ˆ hist—ria de mulheres envolvidas com tem‡ticas como sexualidade, casamento e maternidade, de um ponto de vista patriarcal, contudo.

No terceiro par‡grafo da carta nœmero II, a quest‹o do casamento surge finalmente de forma expl’cita. Raquel escreve:

A Mariquinhas Rocha vai casar. Que pena! T‹o bonitinha, t‹o boa, t‹o criana, vai casar... com um sujeito velho! E n‹o Ž s— isto: casa-se por amor. Eu duvidei de semelhante coisa; mas todos dizem que tanto o pai como os mais parentes procuraram dissuadi-la de semelhante projeto; ela porŽm insistiu de maneira que ninguŽm mais se lhe op™s.12 12 ASSIS, cit ., p. 223.

Logo em seguida, lemos o trecho em que, pela primeira vez, Raquel menciona Alberto, seu futuro par:

Antes, mil vezes antes, casasse ela com o filho do noivo; esse sim, Ž um rapaz digno de merecer uma moa como ela. Dizem que Ž um bandoleiro dos quatro costados; mas voc sabe que eu n‹o creio em bandoleiros. Quando uma pessoa quer vence o cora‹o mais vers‡til deste mundo.13 13 Idem, p. 223-224.

A partir da carta de 15 de outubro, portanto, Lu’sa "denuncia" Raquel, ao fazer referncia sobre o assunto da paix‹o por Alberto. Na edi‹o do conto em livro, n‹o lemos as palavras da amiga Lu’sa, apenas a rea‹o de Raquel na carta de 30 de outubro:

Muito velhaca Ž voc. Ent‹o porque lhe falei duas ou trs vezes no rapaz, imagina logo que estou apaixonada por ele? Papai nestes casos costuma dizer que Ž falta de l—gica. Eu digo que Ž falta de amizade. [...] N‹o, Lu’sa, eu nada sinto por esse moo, a quem conheo de poucos dias. Falei nele algumas vezes por compara‹o com o pai; se eu estivesse disposta a casar-me, certamente que preferia o moo ao velho. Mas Ž s— isto e nada mais.14 14 Idem, p. 224.

A constru‹o discursiva de Raquel aponta no sentido da "denœncia" da amiga: os elogios a Alberto; a men‹o a ele como bandoleiro; e, logo em seguida, a men‹o ˆ possibilidade de vencer os cora›es vers‡teis como express‹o do desejo nascente de vencer um deles. TambŽm Raquel se coloca no lugar de Mariquinhas e, nessa posi‹o, escolhe Alberto. Outro dado Ž que Raquel comenta a aprova‹o de seu pai em rela‹o a Mariquinhas:

Papai muito aprovou a escolha dela; faz-lhe muitos elogios como pessoa de ju’zo, e chegou a dizer que eu devia fazer o mesmo. Que lhe parece? Eu, se tivesse de seguir algum exemplo, seguia o da minha Lu’sa; essa sim Ž que teve dedo para escolher... N‹o mostre esta carta a seu marido; Ž capaz de rebentar de vaidade.15 15 Ibidem.

A men‹o do pai traz ares de insinua‹o ed’pica.16 16 Uma das primeiras defesas do complexo de Édipo foi inserida por Freud em A interpretação dos sonhos, em 1900: "Essa suposição é confirmada, com uma certeza ue não deixa margem a dúvidas, no caso dos psiconeuróticos, quando sujeitos à análise. Com eles aprendemos que os desejos sexuais de uma criança – se é que, em seu estágio embrionário, eles mereçam ser chamados assim – despertam muito cedo, e que o primeiro amor da menina é por seu pai, enquanto os primeiros desejos infantis dos meninos são pela sua mãe. Por conseguinte, o pai se transforma num rival perturbador para o menino, e a mãe, para a menina; e já demonstrei, no caso dos irmãos e irmãs, com que facilidade esses sentimentos podem levar a um desejo de morte. Também os pais dão mostras, em geral, da parcialidade sexual: [...]". FREUD, A interpretação dos sonhos, p. 258. Ou seja, Mariquinhas Rocha, a menina caracterizada como melanc—lica, que Ž obstinada desde o sobrenome, casa-se com um homem velho, que poderia ser seu pai. Assim, Raquel deveria fazer o mesmo, segundo a fala paterna. No entanto, Ž Lu’sa que Raquel escolhe como mentora. Nessa rela‹o de amizade, portanto, a interpreta‹o que Lu’sa faz das inten›es da amiga a influencia muito e, de fato, as sugest›es que Lu’sa faz sobre Alberto ter‹o desdobramentos.

Estabelece-se, a partir de Raquel, para Lu’sa uma espŽcie de deslocamento das figuras materna e fraterna. Assim, Raquel teme ou recusa os julgamentos de Lu’sa, mas sem deixar de admir‡-la (como est‡ patente no elogio ao marido). Lembremos, por exemplo, as diversas e ansiosas demandas de Raquel a Lu’sa: que a œltima lhe diga o nome do portador; que lhe escreva cartas grandes, n‹o bilhetinhos; que pense na amiga, n‹o no marido; que lhe mande um portador; que visite a Corte; que tenha um nen etc.

As conversas com Lu’sa adquirem uma din‰mica com uma figura materna ou fraterna que Ž vic‡ria. Portanto, o di‡logo entre as personagens contŽm simultaneamente admira‹o e rivalidade. Raquel tanto recusa o que Lu’sa interpreta de suas motiva›es quanto adere ˆ leitura do desejo proposta pela amiga, noivando, no fim do conto, com o "bandoleiro dos quatro costados"17 17 ASSIS, p. 223- 224. , Alberto.

Nos "Romances familiares" (1909), Freud cita as fantasias comuns de substitui‹o de pais na vida infantil, mas antes como uma forma de vingana em rela‹o aos pais originais do que como desprezo efetivo. A vingana, no caso, alimenta-se da negligncia que alguma vez a criana sentiu ou imaginou sentir. As fantasias v‹o desde a substitui‹o por pais melhores ˆ imagina‹o de casos de trai‹o entre os pais e de ilegitimidade dos filhos e irm‹os. Freud assim conclui:

Na verdade, todo esse esforo para substituir o pai verdadeiro por um que lhe Ž superior nada mais Ž do que a express‹o da saudade que a criana tem dos dias felizes do passado, quando o pai parecia o mais nobre dos homens, e a m‹e a mais linda e am‡vel das mulheres. [...] O estudo dos sonhos nos fornece uma contribui‹o interessante ao assunto. Da interpreta‹o dos mesmos conclu’mos que mesmo em anos posteriores, se o Imperador e a Imperatriz aparecem em sonhos, tais nobres personagens representam o pai e a m‹e do sonhador. Assim, a supervaloriza‹o dos pais pela criana sobrevive tambŽm nos sonhos de adultos normais.18 18 FREUD, "Romances familiares", p. 246-247.

Raquel coloca-se, por exemplo, numa posi‹o oposta ˆ de Lu’sa, como expresso na carta de 27 de novembro, quando a amiga da prov’ncia est‡ finalmente gr‡vida. Assim, alŽm de considerar como calœnia a alus‹o que Lu’sa havia feito de que Raquel e Alberto namoravam, a protagonista afirma:

A nossa divergncia tem natural explica‹o. Eu sou uma moa solteira, cheia de caraminholas, sonhos, ambi›es e poesia; voc j‡ Ž uma dona de casa, esposa tranquila e feliz, m‹e de fam’lia dentro de pouco tempo; v a coisa por outro prisma.19 19 Idem, p. 226.

Nesse sentido, podemos recorrer justamente ˆ fonte de provŽrbios inscritos no conto como chaves de leitura. O primeiro t’tulo do texto, no Jornal das Fam’lias, era "Quem desdenha", no qual h‡, portanto, alus‹o ao provŽrbio "quem desdenha quer comprar". TambŽm Raquel, ao escrever a Lu’sa, cita outro ad‡gio: "Eu podia agora fazer- lhe uma disserta‹o a respeito do amor; mas retraio a pena por me lembrar que iria ensinar padre-nosso ao vig‡rio".20 20 Idem, p. 230.

"Ponto de vista", no conto, quer dizer divergncia de opini›es. Assim, o t’tulo adquire rela‹o com a polifonia do texto, pois no m’nimo trs vozes diferentes est‹o em evidncia nele, a partir da correspondncia trocada entre trs "pontos de vista" diferentes: o de Lu’sa, o de Raquel e o de Alberto.

Contudo, "ponto de vista" sugere, para alŽm da desigualdade entre os personagens, uma forma de acesso ˆ desigualdade dentro de uma personagem apenas, que

Ž Raquel. Ou melhor, de um ponto de vista externo, Lu’sa, numa espŽcie de triangula‹o, pode entrever as motiva›es que Raquel tenta encobrir. Lu’sa permite uma vis‹o de Raquel que vai alŽm do desdŽm superficial do amado que a protagonista expressa. Esse desdŽm, ali‡s, chama aten‹o pela nfase, assim como no ad‡gio que diz "quem desdenha quer comprar". Nesse sentido, torna-se relevante tambŽm a inscri‹o do provŽrbio do vig‡rio. Raquel desloca para a figura de Lu’sa uma fun‹o de autoridade, como se a œltima fosse sua m‹e, ou conselheira vig‡ria, que pode ajudar na interpreta‹o de si.

Lu’sa, m‹e vic‡ria (como o vig‡rio do padre-nosso), na tentativa de ler as cartas da amiga, l tambŽm suas inten›es.21 21 A ideia do olhar da mãe como uma leitura que engendra a constituição do desejo na criança foi abordada pela psicanalista e crítica literária Lucia Serrano Pereira em Um narrador incerto entre o estranho e o familiar, estudo que aborda Dom Casmurro, romance no qual o tema do olhar oblíquo é de suma importância. Pereira recorre a Bergès e Balbo: "Há certas mães, segundo Bergès, que, em relação ao corpo de seus filhos, não olhariam obliquamente, mas sim diretamente, procurando então 'adivinhar' o que se passa ali. De outra maneira, um olhar oblíquo, o que ele vai permitir é algo como uma 'leitura', relaciona-se aqui um olhar em alguma medida 'sublime' na relação com o oblíquo". PEREIRA, Um narrador incerto, entre o estranho e o familiar, p. 65. A leitura depende de uma aten‹o ˆ sele‹o dos Lucia Serrano Pereira relaciona essa interpreta‹o angulada do desejo com o mito de Perseu, no qual a Medusa representa o inconsciente, inst‰ncia ˆ qual nunca temos acesso por via direta, necessitando, portanto, sempre de algum viŽs para poder tocar-lhe: "Se lembramos o mito de Perseu e Medusa, temos a indica‹o de que se o her—i olhasse para a g—rgona diretamente, assim como todos os outros, sucumbiria, transformado em pedra. Seria o olhar de frente o que convocaria, de alguma maneira, o estranho. Esse olhar sem media‹o, que pode produzir a irrup‹o do real no imagin‡rio. Para enfrent‡-la ele precisa de um olhar de lado, v a imagem refletida, ent‹o tem algo do especular, mas Ž ao mesmo tempo angulado, o que lhe permite salvar-se". Idem, p. 67. assuntos, ao encadeamento deles e ˆ tonalidade nas cartas de Raquel. Ponto de vista, no conto, funciona como o lugar de onde vem um olhar. N‹o se trata de objetividade, mas sim de uma subjetividade formada a partir do olhar de terceiros. Trata-se de um olhar angulado porque origin‡rio de um lugar que Ž diferente ao do pr—prio sujeito.

Raquel, como boa ouvinte da missa do vig‡rio, reconhece-se diferente em rela‹o a Alberto e investe no romance, depois de ser sugestionada por Lu’sa. A partir desse primeiro engano na narrativa, que desestrutura a forma estereotipada como a protagonista se v, ela aprende a dissimula‹o que exercer‡ mais para o fim do conto tanto em rela‹o a Lu’sa quanto em rela‹o a Alberto. Assim, Raquel continua negando ˆ amiga que ama Alberto e ao pretendente finge indiferena.

Lu’sa adverte Raquel da dissimula‹o, por exemplo, quando, em carta de 15 de janeiro, avisa que vai ˆ Corte:

[...] Ver-nos-emos, enfim depois de alguns meses de separa‹o. Escrevo apenas para lhe dar esta not’cia que voc h‡ de estimar decerto.

E ao mesmo tempo o meu fim Ž preveni-la, a fim de que procure disfarar na presena aquilo que me disfara no papel.22 22 ASSIS, cit., p. 228.

Ademais, em carta de 8 de fevereiro, Alberto implora a Raquel:

Perdoe-me a aud‡cia; peo-lhe de joelhos uma resposta que os seus olhos teimam em n‹o me dar. N‹o lhe digo no papel o que sinto; n‹o o poderia exprimir cabalmente. Mas o seu esp’rito h‡ de ter compreendido o que se passa no meu cora‹o, h‡ de ter lido no meu rosto aquilo que eu nunca me atreveria a dizer de viva voz.23 23 Idem, p. 230.

Reparemos tambŽm que o discurso de Alberto toca no tema da obliquidade necess‡ria para a interpreta‹o de desejos. Ou seja, ainda que repleta do chav‹o rom‰ntico, a fala de Alberto reconhece que precisa de um desvio, uma modula‹o escrita, no caso, para ter acesso a um conteœdo que cegaria se fosse abordado diretamente. Seu amor Ž apresentado como de costume no melodrama, em que n‹o h‡ palavras para a descri‹o fiel dos sentimentos. Ainda assim, o personagem tenta revel‡-lo, contornando-o pelas bordas e pedindo ˆ amada uma interpreta‹o de seu rosto. A resposta afirmativa de Raquel Ž dada antes do dia 8 de maro (ou talvez no mesmo dia).

Portanto, h‡ dois aspectos de logro no conto relativos ˆ percep‹o de Raquel e ˆ sua constitui‹o como personagem. Num primeiro momento, Raquel deixa que suas palavras escapem-lhe e d‡ sinais para que a amiga leia nela o desejo de casamento justamente com o homem que desdenha. Num segundo momento, a personagem esconde suas motiva›es e dissimula para outros personagens.

Como mencionado, h‡ a relev‰ncia do ponto de vista (que Ž ironicamente subjetivo) no conto, pois Raquel cai em autoengano. Um terceiro que Ž pr—ximo ao sujeito v a situa‹o de outro ‰ngulo, interpretando-a. Assim, a partir de seu "ponto de vista", Lu’sa lana provoca›es ˆ amiga. Raquel Ž uma personagem que se forma, portanto, tendo em vista o desejo que o outro nela l. Ou seja, o desejo que o outro interpreta e comunica. As motiva›es da personagem est‹o em pauta e tm grande relev‰ncia para a estrutura do conto. Assim, o texto pode ser lido como uma hist—ria epistolar sobre um noivado, mas tambŽm como uma hist—ria sobre as metamorfoses que se d‹o no "ponto de vista" de Raquel.

Em momentos posteriores, Raquel, que se forma a partir do logro de si mesma, aprende a dissimular – e este Ž o segundo tipo de logro presente no conto. Assim, no fim do texto, quando se lhe prop›e o casamento, Raquel esconde na carta o nome do noivo, que era justamente o bandoleiro dos quatro costados descrito no in’cio:

XXVII

D. LUêSA A D. RAQUEL Juiz de Fora, 22 de abril

Que cabea! disse tudo menos o nome do noivo!

Luísa

XXVIII

D. RAQUEL A D. LUêSA Corte, 27 de abril

Tem raz‹o; sou uma cabea no ar. Mas a felicidade explica ou desculpa tudo. O meu noivo Ž o dr. Alberto.

Raquel

XXIX

D. LUêSA A D. RAQUEL

Juiz de fora, 1¼ de maio

?!!!

Lu’sa.24 24 Idem, p. 234.

O ad‡gio "Quem desdenha quer comprar" aponta tambŽm para o aspecto comercial do cons—rcio. No t’tulo h‡ apenas a inscri‹o da frase "quem desdenha" entre parnteses, suprimindo a caracter’stica venal do matrim™nio, deixando-a, portanto, subentendida. Raquel chega a criticar em carta de 30 de outubro outro pretendente que frequentava sua casa pelo motivo œnico de que era rica.25 25 Idem, p. 225.

Contudo, o engano articulado pelo interesse no patrim™nio por meio de casamento ou de herana, rastreado nos contos machadianos por Alfredo Bosi, ganha em "Ponto de vista (Quem desdenha)" uma espŽcie de fechamento. Ou seja, nenhum dos personagens Ž enganado dessa forma e o noivado tem final feliz. Assim, h‡ uma diferena de tratamento pela hist—ria quanto ao tema do engano, pois este Ž deslocado para operar em fun‹o das motiva›es e desejos de Raquel.

Dessa forma, o conto aborda um epis—dio sobre uma mudana na protagonista.

Ou seja, apesar de constantemente voluntariosa, a Raquel impaciente da primeira carta n‹o Ž exatamente a Raquel dissimulada das œltimas missivas. Para tanto, ela conta com o di‡logo da amiga. Assim, com a sa’da do autoengano e com a aprendizagem do uso da m‡scara nas rela›es familiares, ela passa a agir e a dissimular em fun‹o de seus desejos.

Em "Ponto de vista (Quem desdenha)", h‡ o percurso de uma personagem que se modifica orientada pelas sugest›es da amiga. A partir do que lhe escreve Lu’sa, Raquel muda sua percep‹o em rela‹o aos outros e a si mesma. O ponto de virada da narrativa d‡-se na assun‹o do romance por parte de Raquel. Ou seja, ocorre tanto uma mudana de ponto de vista da protagonista em rela‹o ao seu pretendente quanto uma conquista sua em rela‹o ˆ aprendizagem do uso da dissimula‹o. O olhar, no caso, Ž uma via tanto de express‹o das motiva›es das personagens quanto de descentramento. A partir de olhares externos, a protagonista desvia seu pr—prio olhar, seja para uma percep‹o diferente da anterior, seja para dissimular.

O olhar e o desejo da personagem Raquel s‹o aspectos relevantes no conto, assim como seu descentramento, que constitui um ponto de virada da narrativa. A protagonista n‹o termina o conto como o inicia e, no t’tulo, h‡ a indica‹o de que o assunto a ser observado ser‡ uma relativiza‹o. A edi‹o em hipertexto na base machadodeassis.net leva como t’tulo apenas "Ponto de vista" e indica em nota que o primeiro t’tulo era "Quem desdenha".26 26 ASSIS, "Ponto de vista". Romances e contos em hipertexto. Assim, os t’tulos enunciam: "reparem, leitores, na diferena de pontos de vista"; ou no caso do primeiro t’tulo, "reparem, leitores, em como Raquel desdenhava em falso". A pr—pria mudana de um t’tulo para outro sugere a necessidade de conceder um enfoque maior para a angula‹o do olhar e dos desejos.

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Referncias:

ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, volume 2.

ASSIS, Machado de. "Ponto de vista". Romances e contos em hipertexto. Dispon’vel em: <http://www.machadodeassis.net/hiperTx_romances/obras/historiasdameianoite.htm>. Acesso em: maro de 2014.

BêBLIA Sagrada. Bras’lia: Sociedade B’blica do Brasil, 1988.

BOSI, Alfredo. O enigma do olhar. S‹o Paulo: Martins Fontes, 2007. FREUD, Sigmund. A interpreta‹o dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

FREUD, Sigmund. Romances familiares. Edi‹o Standard Brasileira das Obras Psicol—gicas Completas de Sigmund Freud, v. 9, 1976.

GASKELL, Elizabeth. Ruth. Oxford University Press, 2011.

PASSOS, Cleusa Rios P. As armadilhas do saber. S‹o Paulo: Editora da Universidade de S‹o Paulo, 2009.

PASSOS, JosŽ Luiz. Machado de Assis: o romance com pessoas. S‹o Paulo: Editora da Universidade de S‹o Paulo, Nankin, 2007.

PEREIRA, Lucia Serrano. Um narrador incerto, entre o estranho e o familiar – a fic‹o machadiana na psican‡lise. Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 2004.

Recebido: 15.03.14

Aprovado: 16.04.2014

Ana Carolina Sá Teles é doutoranda na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP) com o projeto "Personagens machadianas em Ressurreição, Helena e D. Casmurro: entre caráter e diferença". Realizou mestrado em Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP) entre 2010 e 2013 sobre "Questão moral e constituição do sujeito em contos de Machado de Assis", sob orientação do Prof. Dr. Hélio de Seixas Guimarães (USP), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Graduada e Licenciada em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP) e pela Faculdade de Educação (USP). E-mail: anacarolinateles2009@gmail.com

  • ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, volume 2.
  • ASSIS, Machado de. "Ponto de vista". Romances e contos em hipertexto Disponvel em: <http://www.machadodeassis.net/hiperTx_romances/obras/historiasdameianoite.htm>. Acesso em: maro de 2014.
  • BÛBLIA Sagrada BrasÆlia: Sociedade BÆblica do Brasil, 1988.
  • BOSI, Alfredo. O enigma do olhar So Paulo: Martins Fontes, 2007.
  • FREUD, Sigmund. A interpretao dos sonhos Rio de Janeiro: Imago, 2001.
  • FREUD, Sigmund. Romances familiares. Edio Standard Brasileira das Obras Psicolgicas Completas de Sigmund Freud, v. 9, 1976.
  • GASKELL, Elizabeth. Ruth Oxford University Press, 2011.
  • PASSOS, Cleusa Rios P. As armadilhas do saber So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2009.
  • PASSOS, Jos Luiz. Machado de Assis: o romance com pessoas So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, Nankin, 2007.
  • PEREIRA, Lucia Serrano. Um narrador incerto, entre o estranho e o familiar – a fico machadiana na psicanlise Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 2004.
  • 1
    PASSOS,
    Machado de Assis: o romance com pessoas, p. 15.
  • 2
    PASSOS,
    As armadilhas do saber, p. 32-45.
  • 3
    BOSI,
    O enigma do olhar, p. 75.
  • 4
    "O narrador das
    Histórias da meia-noite já está em trânsito para um 'tempo' moral em que o que se julgaria cálculo frio ou cinismo (segundo a concepção de Alencar, por exemplo) começa a eleger-se como prática do cotidiano até mesmo no coração das relações primárias".
    Idem, p. 80.
  • 5
    Idem, p. 77.
  • 6
    ASSIS,
    Obra completa em quatro volumes, p. 223.
  • 7
    Ibidem.
  • 8
    Ibidem.
  • 9
    GASKELL,
    Ruth.
  • 10
    BÍBLIA, p. 35-38.
  • 11
    Idem, p. 287, 288, 290.
  • 12
    ASSIS, cit
    ., p. 223.
  • 13
    Idem, p. 223-224.
  • 14
    Idem, p. 224.
  • 15
    Ibidem.
  • 16
    Uma das primeiras defesas do complexo de Édipo foi inserida por Freud em
    A interpretação dos sonhos, em 1900: "Essa suposição é confirmada, com uma certeza ue não deixa margem a dúvidas, no caso dos psiconeuróticos, quando sujeitos à análise. Com eles aprendemos que os desejos sexuais de uma criança – se é que, em seu estágio embrionário, eles mereçam ser chamados assim – despertam muito cedo, e que o primeiro amor da menina é por seu pai, enquanto os primeiros desejos infantis dos meninos são pela sua mãe. Por conseguinte, o pai se transforma num rival perturbador para o menino, e a mãe, para a menina; e já demonstrei, no caso dos irmãos e irmãs, com que facilidade esses sentimentos podem levar a um desejo de morte. Também os pais dão mostras, em geral, da parcialidade sexual: [...]". FREUD,
    A interpretação dos sonhos, p. 258.
  • 17
    ASSIS, p. 223- 224.
  • 18
    FREUD, "Romances familiares", p. 246-247.
  • 19
    Idem, p. 226.
  • 20
    Idem, p. 230.
  • 21
    A ideia do olhar da mãe como uma leitura que engendra a constituição do desejo na criança foi abordada pela psicanalista e crítica literária Lucia Serrano Pereira em
    Um narrador incerto entre o estranho e o familiar, estudo que aborda
    Dom Casmurro, romance no qual o tema do olhar oblíquo é de suma importância. Pereira recorre a Bergès e Balbo: "Há certas mães, segundo Bergès, que, em relação ao corpo de seus filhos, não olhariam obliquamente, mas sim diretamente, procurando então 'adivinhar' o que se passa ali. De outra maneira, um olhar oblíquo, o que ele vai permitir é algo como uma 'leitura', relaciona-se aqui um olhar em alguma medida 'sublime' na relação com o oblíquo". PEREIRA,
    Um narrador incerto, entre o estranho e o familiar, p. 65.
  • 22
    ASSIS, cit., p. 228.
  • 23
    Idem, p. 230.
  • 24
    Idem, p. 234.
  • 25
    Idem, p. 225.
  • 26
    ASSIS, "Ponto de vista".
    Romances e contos em hipertexto.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jul 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2014

    Histórico

    • Recebido
      15 Mar 2014
    • Aceito
      16 Abr 2014
    Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 sl 38, 05508-900 São Paulo, SP Brasil - São Paulo - SP - Brazil
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