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MACHADO DE ASSIS E A INDEPENDÊNCIA LITERÁRIA BRASILEIRA: EM DIREÇÃO A UMA ESTÉTICA NACIONAL PÓS-COLONIAL

Como um mulato que era preto e branco, ou nenhum dos dois, Machado de Assis desenvolveu uma sensibilidade aguçada para o que Santiago se refere como "o entre-lugar", isto é, o limiar ou espaço-entre que molda a existência humana. Machado deu expressão artística a este fenômeno de uma forma que englobava contradições e questões de multiplicidade e ambiguidade mais amplas em termos de identidade literária nacional do Brasil. Seus escritos não apresentam uma consciência nacional ou brasilidade, expressos através do uso de tipos raciais, descrições de locais externos, flora, fauna, ou expressões idiomáticas, como foi o caso com os escritos anticoloniais de muitos de seus contemporâneos e sucessores, que fomentaram um essencialismo cultural superficial. De acordo com a conceptualização do pensamento pós-colonial de Bhabha, Machado procurou um nacionalismo radical gerado dentro de um espaço limiar que contestou os termos e territórios tanto do colonialismo como do nacionalismo anticolonial. Ele procurou conseguir isso sem pertencer a uma neocolonialidade que reduziu a produção intelectual e cultural brasileira a cópias de segunda ordem, incapazes de articular qualquer originalidade. Em vez disso, Machado elucidou uma marca de repetição diferenciada que pegou emprestada dos melhores e mais duradouros exemplares da literatura europeia e transformou isso em algo exclusivamente brasileiro.

Machado de Assis, crítica; literatura brasileira; identidade nacional na literatura; colonialismo; discurso pós-colonial


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