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“NO MUNDO, DE ORDINÁRIO, NÃO É ASSIM”: UMA LEITURA COMPARATIVA DE “FELICIDADE PELO CASAMENTO” E RESSURREIÇÃO, DE MACHADO DE ASSIS

“THINGS AREN’T ORDINARILY LIKE THIS”: A COMPARATIVE READING OF “HAPPINESS BY MARRIAGE” AND RESURRECTION, BY MACHADO DE ASSIS

Resumo

Propõe-se, neste artigo, uma leitura do conto “Felicidade pelo casamento”, de Machado de Assis. Embora o argumento da narrativa seja o de que os conflitos de F. se limitem a sua possibilidade de vencer obstáculos internos, e assim se casar e ser feliz, sugerimos que a solução positiva dada ao personagem depende de seu ambiente externo excepcionalmente favorável. Trazendo contraprova ao argumento, fazemos uma comparação do conto com Ressurreição, primeiro romance machadiano. Nele, Félix vivencia obstáculos similares aos de F., não os ultrapassa, não se casa, e fica infeliz. Embora o narrador insista em que esse destino seja devido ao caráter do personagem, no desfecho, acaba indicando que o meio social do herói poderia estar vinculado a seus dilemas.

Palavras-chave:
Machado de Assis; Conto; Romance

Abstract

This paper presents an interpretation of Machado de Assis’s short story “Happiness by marriage.” Although the story suggests that the conflicts experienced by F. are circumscribed to his ability to overcome his inner obstacles, i.e., marrying and being happy, we suggest that the positive solution to his destiny depends on his exceptionally positive surroundings. A comparison to Machado de Assis’s first novel, Resurrection, offers a counterpoint to this argument. In the novel Félix faces obstacles that are similar to those faced by F., but does not overcome them, does not get married, and becomes unhappy. Although the narrator states that such a fate is due the character’s nature, he indicates that Félix’s social ambience could be associated to his problems.

Keywords:
Machado de Assis; Short story; Novel

No conto “Felicidade pelo casamento”, de Machado de Assis1 1 A autoria foi atribuída por R. Magalhães Júnior em Contos esparsos (1956). (publicado no Jornal das Famílias em junho e julho de 1866, sob os pseudônimos de F. e S.), acompanhamos a narrativa de F., em primeira pessoa, sobre os acontecimentos que o teriam levado a ultrapassar obstáculos internos e se casar, obtendo, assim, a felicidade. Faremos a leitura do conto e, ao final, traremos uma aproximação entre essa obra e Ressurreição (1872), primeiro romance de Machado de Assis, em que o protagonista enfrenta empecilhos semelhantes, mas não os supera, não se casa e, como alegado pelo narrador, fica infeliz.2 2 A leitura de Ressurreição aqui proposta foi desenvolvida por mim em Memória das ilusões, dissertação de mestrado defendida em 2011. Considerando esse dado, e a forma breve do artigo, optei por expor, neste trabalho, mais minuciosamente a leitura do conto em relação à do romance. Veremos que a comparação nos ajuda a fazer emergir problemas que estão nas entrelinhas do conto.

Em “Felicidade pelo casamento”, durante a década de 1850, F. sai de sua província natal para resolver questões familiares, deixando a mãe em seu aguardo. No Rio de Janeiro, adoece, e fica aos cuidados de um médico, o Dr. Magalhães, que, passada a moléstia, convida-o para tomar ares fora da cidade. Já ao chegar à casa do médico, em Andaraí, o narrador tem um indicativo da situação benéfica que vivenciaria no lugar. Sendo apresentado como um amigo a Bento, irmão de Magalhães, F. tem a seguinte percepção: “Vi então que [...] havia entre ambos a certeza de que quando um dêles chamava amigo a um terceiro é que êste o era e merecia a afeição do outro. [...] No mundo, de ordinário, não é assim” (ASSIS, 1956ASSIS, Machado de. Contos esparsos. Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252., p. 234).

Na sequência da narrativa, Ângela, filha do Dr. Magalhães, é trazida a Andaraí, e passamos a acompanhar as observações do narrador sobre a relação entre a moça e Azevedinho, moço frívolo que a cortejava; seguimos as impressões de F. acerca de Ângela, até sua percepção de que amava a moça; e conhecemos a luta interna do protagonista para vencer o ciúme. Removido esse obstáculo, F. e Ângela se casam e têm um filho, com o que o narrador supera, ainda, um impedimento primeiro, ensejando a lição moral do conto: “Procurei por tanto tempo a felicidade na solidão; é errado; achei-a no casamento [...]” (ASSIS, 1956ASSIS, Machado de. Contos esparsos. Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252., p. 252).

Surge, ao final, um último possível empecilho para a felicidade de F.: sua mãe desejava que os recém-casados residissem com ela na província, mas isso deixaria o Dr. Magalhães e Bento sozinhos no Rio de Janeiro. O impasse é desfeito com a decisão dos dois de acompanhar o casal na mudança para a província. E mais: esse desfecho não só é uma saída, como uma vantagem, dado que, assim como Ângela atribui à sogra o papel de substituta para a mãe falecida, conforme assume em carta, pode-se presumir que o Dr. Magalhães, de quem F. era admirador, poderia tornar-se um substituto para o pai falecido do protagonista.

Obstáculos ao casamento: fantasia e ciúme

Logo no início de “Felicidade pelo casamento”, o narrador procura nos informar sobre seu comportamento antes de viajar para a corte. É possível pensarmos que o conjunto dos dados por ele oferecido nos leva a ter como sua característica central, na juventude, o pendor à fantasia, atrelado à perspectiva que possuía de si de “gênio solitário”. Tendo na prima um possível bom partido, já que se tratava de moça jovem, cuja aparência não lhe era desagradável, e sabendo que o pai da moça não oferecia empecilho ao matrimônio - algo não banal no universo de relações sociais brasileiras da época, de traços patriarcais3 3 Entre as elites, os casamentos no Brasil do século XIX comumente baseavam-se em interesses de grupos familiares, forma de união característica da organização familiar patriarcal (CANDIDO, 1951; SAMARA, 1987-1988; PRIORE, 2005). -, F. dedicava-se a uma “fantasia amorosa”, a alguém de quem não podia se aproximar e a quem no fundo não amava, podendo manter-se, assim, na solidão que ele acreditava ser um fator distintivo de si. Além disso, o narrador lia obras românticas naquele período de sua vida, visto que cita como parte de seu repertório o Atalá e Corina,4 4 Acreditamos que a primeira obra se refere ao Atala (1801), de François-René de Chateaubriand, autor que influenciou o romantismo, e a segunda ao romance francês Corinne ou l’Italie (1807), de Madame de Staël, escritora do romantismo. julgando talvez que a indicação de tais livros reforçasse a composição de seu caráter fantasista na imaginação do leitor.

Considerando os dois manuscritos escritos por F. em sua juventude e transcritos na primeira parte da narrativa, podemos argumentar que a manutenção do amor no reino da fantasia seria sustentada pela perspectiva nefasta que o personagem possuía da experiência amorosa, criada pela exageração que promovia de afetos negativos. Essa exacerbação, por sua vez, estaria ancorada nas leituras enviesadas de referências literárias utilizadas por F. para ilustrar seus sentimentos, resultando dessas leituras o que chamaremos tratamento “artificial” conferido por F. a suas vivências internas.

O primeiro manuscrito do personagem, por ele denominado “lamentação”, versa sobre seu “sentir sem eco”, enquanto o segundo, “resignação”, faz uma espécie de balanço de como F. teria saído de sua “guerra” amorosa. Acreditamos que, embora o narrador afirme haver um abismo entre os manuscritos, ambos são marcados pelo excesso e pela artificialidade mencionados. Há, porém, uma diferença significativa, a partir da qual temos uma pista sobre o processo de mudança do narrador, que o levou a aceitar uma companhia real e casar.

Entendem-se por “artificiais” as abordagens que revelam discrepância entre as vivências de F. e as expressões do repertório literário por ele escolhidas para iluminá-las. Talvez na intenção de enobrecer seus sentimentos e se passar por autor erudito, F. vale-se de um universo literário que não evoca por afinidade, disso se seguindo que, em vez de ter esse universo em sintonia com seu mundo interior, submete-o a seus conflitos.

No primeiro manuscrito, podemos flagrar o teor “artificial” descrito, por exemplo, no momento em que o narrador, buscando ter apoio para discorrer sobre sua frustração amorosa, remonta a uma passagem do Eclesiastes, da qual resgatemos: “[...] [t]ôdas as coisas têm seu tempo, e tôdas elas passam debaixo do céu segundo o têrmo que a cada uma foi prescrito” (ASSIS, 1956ASSIS, Machado de. Contos esparsos. Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252., p. 228). F. poderia ter entendido, por exemplo, que mesmo os males teriam sua finitude, mas se questiona, a partir do excerto, quando lhe viria um tempo mais positivo, e se desfaz da perspectiva de que poderia alcançá-lo. Além da negatividade exacerbada do personagem, sublinhe-se, aqui, a “artificialidade” de sua expressão, no sentido que adotamos (ou seja, do desalinhamento entre sua experiência e a obra literária que lhe serviria de ilustração), dada pela distorção que F. faz da leitura do Eclesiastes, tornando-o elemento para o descarrilar de suas “lamentações”/percepções individuais, impertinentes a esse texto bíblico.

No segundo manuscrito, encontramos procedimento similar. Fazendo uma espécie de balanço de como teria lidado com a não correspondência afetiva, o narrador se orgulha de ter resistido ao choque das paixões humanas, acreditando que raras seriam as naturezas fortes o bastante para isso. E afirma que, a partir de então, passara a compreender melhor o livro de Jó, tendo assimilado a ideia de que a miséria depois da opulência seria um mal maior do que a miséria desde o berço. Mais uma vez, portanto, F. se vale da interpretação questionável de um texto bíblico, na medida em que entende a história de Jó como a de uma competição de misérias, para produzir argumentos em favor próprio. O que ele lastima é ter tido má experiência em uma juventude sem dissabores, quer dizer, seu problema é ter vivido a “miséria depois da opulência”, ao passo que lhe parecia mais palatável alguém mais infeliz se manter em infelicidade: afinal, já no “berço” estaria, por assim expressarmos, “acostumado” à miséria.

Comparemos os manuscritos. No primeiro, F. excede o sentimento negativo que teria advindo de uma decepção amorosa e cria um texto artificial para abordá-lo, no qual evoca a literatura como parâmetro para a reflexão sobre seus afetos, ainda que adotando leitura enviesada. Nesse quadro, cria uma fantasia amorosa nefasta, que justificaria sua anunciada postura solitária. No segundo manuscrito, o personagem também distorce um trecho bíblico, além de igualmente exagerar no tratamento de sua experiência íntima, dizendo-se alma rara por ter vencido um choque de paixões que, no fundo, não teria lhe custado efeito tão impactante, pois admite que seu amor não fora tão genuíno. Contudo, se, nesse segundo momento, F. reconhece o desejo juvenil de não ter se frustrado no “meio das melhores páginas de sua vida”, é porque talvez já não se contentasse mais tanto em ser visto como gênio solitário.

Esse poderia ser um primeiro passo para que o narrador se dispusesse a adotar uma conduta mais sociável, e, portanto, vencesse o que poderia ter sido seu primeiro empecilho ao casamento, a misantropia. Mas é possível entendermos que uma maior disposição de F. à simplicidade, em contraste com o tratamento artificial dos afetos, que servia de apoio à expressão de fantasias negativas e seu derivado pendor à solidão, foi o fator que o levou a ultrapassar esse obstáculo. Tal disposição é bastante notável ao final do conto. Ao falar de sua vida após cinco anos de casamento, o relato de F. não é marcado pela desproporção dos afetos ou comentários de textos bíblicos. A vida íntima do narrador, que não se quer solitário, como faz liga entre seu estado de espírito e a existência de Ângela, é abordada a partir de uma homenagem de F. à esposa, sem que o personagem tenha medo de usar expressão simples: “Ela [Ângela] é para meu lar doméstico:/ A luz,/ A vida,/ A alma,/ A paz,/ A esperança,/ E a felicidade!/ Procurei por tanto tempo a felicidade na solidão; é errado; achei-a no casamento [...]” (ASSIS, 1956ASSIS, Machado de. Contos esparsos. Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252., p. 252).

É possível considerarmos que essa expressão simples seria mais sincera do que a dos manuscritos, no sentido de que mais próxima do afeto do narrador, porque mais proporcional a sua experiência interior e a ela mais referente. Sendo assim, teríamos um ponto comum pelo qual F. conseguira se desvencilhar de seus impedimentos para o matrimônio: a questão da sinceridade. Isso porque é também esse o elemento que permite a F. desprender-se do ciúme em relação ao rival, Azevedinho.

Antes mesmo de se apaixonar por Ângela, o narrador já intuía que Azevedinho não amava a moça, e sabemos pelo desfecho que não intuía mal, pois, assim que foi “vencido”, Azevedinho casou-se com uma tia rica. Quanto a Ângela, F., quando se torna ciente de seu sentimento pela moça, faz-lhe consulta aberta. Apesar de obter resposta negativa em relação ao adversário, e ter indícios do amor de Ângela por si, o protagonista ainda teme o rival.

F. continua engendrando ciúme porque, em seu embate interior, não coloca apenas dúvida sobre se Ângela podia genuinamente amar Azevedinho, dilema que terminaria se a resposta fosse positiva, pois F. estava decidido a não entrar em disputa com um homem que julgava tão inferior a si. O narrador também tinha reticências sobre a possibilidade de que ela o amasse (amasse F.) sinceramente. Ele resolve esses dois problemas pelo exame da sinceridade de Ângela, que busca realizar em conversa com a moça sobre os dois tópicos.

Não nos é detalhado no que consiste o “parecer sincera” de Ângela em relação a Azevedinho, mas em relação a F., sim. Perguntando se o que Ângela sentia por ele não seria apenas fantasia, o protagonista não se contenta com a resposta verbal, valendo-se também de outras expressões como instrumentos avaliativos: “Contava com o resto, com o tom das palavras, com a luz dos olhos”. É possível supormos que assim ele esperava sentir se o mundo íntimo e a expressão externa de Ângela estariam conectados. Nesse sentido, observa F. que Ângela não apenas disse acreditar ter por ele amor verdadeiro, mas “dizendo isto, os olhos úmidos de lágrimas de ventura, como chuva de primavera, abriram-se para fazer penetrar o meu olhar até o mais fundo do coração./ Era sincera.” (ASSIS, 1956ASSIS, Machado de. Contos esparsos. Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252., p. 248, grifo nosso).

Com esses elementos, podemos nos ater ao processo pelo qual F. consegue se libertar das duas principais amarras que poderiam tê-lo impedido de se casar e, assim, ser feliz, de acordo com o argumento do conto. Como procuramos desenvolver, o narrador teria encontrado antídoto para sua disposição a “gênio solitário” em uma expressão menos fantasista e mais sincera; quanto ao ciúme, teria conseguido dissipá-lo pelo estudo das expressões de Ângela, a partir das quais julgou ser capaz de ajuizar a sinceridade da moça. Estabelecida a união entre Ângela e F., a intriga está solucionada; no entanto, o narrador não deixa de indicar, no desfecho, que ainda era feliz depois de anos de matrimônio, e que tinha um filho.

Nesse ponto, caberia remetermos à epígrafe do conto. É preciso considerar que, no texto do qual ela foi extraída, figura-se o que se considera - dentro das premissas ideológicas da fonte - o matrimônio ideal. Assim, seria possível entendermos que a felicidade declarada no fechamento de “Felicidade pelo casamento”, embora apenas enunciada, teria seu teor já prefigurado pela remissão à epígrafe de Jules Simon.

Encontro de almas

A epígrafe do conto “Felicidade pelo casamento” foi extraída de La Liberté (A liberdade), obra de 1859, de Jules Simon.5 5 Não localizei tradução do livro para o português. O volume consultado da obra também pode ser encontrado por meio do serviço de armazenamento digital Google Books. De acordo com a Academia Francesa, para a qual entrou em 1875, Simon foi político, ensaísta, historiador e filósofo (ACADÉMIE FRANÇAISEACADÉMIE FRANÇAISE. Site da Academia Francesa. Disponível em: <Disponível em: http://www.academie-francaise.fr/les-immortels/jules-simon?fauteuil=8&election=16-12-1875 >. Acesso em: 13 jul. 2020.
http://www.academie-francaise.fr/les-imm...
). Durante o século XIX, o nome do autor figurou em diversas ocasiões no Diário do Rio de Janeiro, Jornal do Commercio, e Imprensa Acadêmica;6 6 Conforme verificado por meio da Hemeroteca Digital, da Fundação Biblioteca Nacional. nos dois primeiros casos, especialmente pela participação de Simon na política francesa, como liberal e republicano, e, no último, por suas ideias sobre assuntos como ensino e liberdade religiosa. La Liberté foi apreciado no Diário do Rio de Janeiro, em 1860 (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 1860DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 1860, n. 150, fl. 2. Disponível em: <Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ >. Acesso em: 22 maio 2020.
https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-d...
, n. 150, fl. 2).

O trecho selecionado para a epígrafe de “Felicidade pelo casamento” consta de trecho de La Liberté no qual Simon se propõe a examinar a família, em seus termos, “como um fato natural, estrangeiro a toda convenção social”,7 7 As traduções constantes deste artigo são de minha autoria. com o intuito de posteriormente refletir em que medida o Estado poderia adicionar ou subtrair à sociedade doméstica (SIMON, 1859SIMON, Jules. La Liberté. 2 ed. Paris: Librairie de L. Hachette et Cia., 1859. v. 1. p. 211-221., p. 212). O escritor começa a estabelecer seu quadro da família “natural” discorrendo sobre o amor.

Recorrendo à percepção de Pascal de que o amor se desenvolveria por ocasião do objeto amado, mas não dependeria dele; e ao entendimento de Platão de que o amor se apropriaria do objeto amado conforme suas necessidades; crê Simon que o amor seria um estado ideado pela alma, de modo que essa alma requisitaria outra alma correspondente a tal ideação. Nesse contexto está a epígrafe de “Felicidade pelo casamento”, transcrita abaixo com as partes que foram omitidas no conto, para fins de maior inteligibilidade (os excertos que aparecem no conto estão marcados em negrito):

Enfim, a alma amorosa é como fecundada pelo sentimento que a anima. [...] Ela não quer só amar, ela quer ser amada. É uma alma que sua alma demanda; uma alma que lhe responde, que a compreende, que simpatiza com ela, que lhe rende amor por amor, confiança por confiança, dedicação por dedicação; que se prende a ela com tanta força e que recebe com tanta alegria seu abraço, que nada poderia mais separá-las. (SIMON, 1859SIMON, Jules. La Liberté. 2 ed. Paris: Librairie de L. Hachette et Cia., 1859. v. 1. p. 211-221., p. 214-215)

Dado o conjunto do conto e a noção de Simon sobre o amor, poderíamos pensar que a epígrafe complementaria a intriga. Associando ambas, poderíamos entender que F., por ocasião do encontro com Ângela, teria entrado em estado amoroso, de modo que sua alma passara a requisitar outra alma a si correspondente (a de Ângela), de tal modo que não poderiam mais se desunir. Essa é a questão que, supomos, traria mais um elemento para “amarrarmos” a trama: é por estar com a alma nesse estado demandante, de amor, que F. adquire energia para vencer seus obstáculos (desapega-se dos excessos fantasistas, propõe-se a avaliar a sinceridade de Ângela em estado de confiança); e é pela mesma razão que o personagem já não pode mais desejar a solidão, pois só poderia ser feliz na união de sua alma com a alma que o amor lhe requisitou: daí a felicidade pelo casamento que ele encontra, prenunciada no título do conto.

É preciso pontuar, contudo, que Simon não para na ideia de que o casamento traria felicidade pela questão filosófica de que uniria duas almas que se requisitariam. Para ele, embora o amor se destine à perenidade, a maioria dos indivíduos tenderia à má disciplina das paixões, o que poderia comprometer a ligação entre os cônjuges. A presença de um filho/filhos no matrimônio, entretanto, “salvaria” esse vínculo. Ainda nessa temática, Simon entra no mérito do que julga serem os papéis “naturais” das mulheres e dos homens na união, acreditando que a natureza teria deixado como tarefa feminina o cuidado com os filhos, devido à suscetibilidade da gravidez e do aleitamento, e como tarefa masculina trabalhar e proteger a mulher. E finaliza: “Suprimam-se todos os códigos, e essas obrigações continuarão as mesmas, porque elas são fundadas na natureza das coisas e na moral” (SIMON, 1859SIMON, Jules. La Liberté. 2 ed. Paris: Librairie de L. Hachette et Cia., 1859. v. 1. p. 211-221., p. 221).

Jules Simon acredita que o quadro por ele pintado da família seria visto como ideal, tanto que o compara a uma utopia, afirmando não se tratar disso, mas sim da natureza. Nós, leitores situados no século XXI, não podemos deixar de pensar que esse quadro, composto no século XIX, seria mais uma construção do que algo do mundo natural, tratando-se de uma família nuclear constituída segundo paradigmas do mundo burguês, criada à exclusão do que foge à normatividade heterossexual, fundada em uma divisão social de papéis machista. A questão, porém, não é fazer uma crítica extemporânea de Simon.

É preciso ressaltar que a epígrafe de “Felicidade pelo casamento” nos autoriza a mobilizar o texto de Simon, relacionando-o ao conto machadiano, no que tange ao encontro das almas no casamento, mas aplicar o restante da reflexão que vimos em La Liberté à narrativa de Machado de Assis seria extrapolação (sublinhe-se, entretanto, que F. apresenta seu filho no fim da intriga). Assim, podemos assumir que “Felicidade pelo casamento” termina no ponto da felicidade sem ressalva, não se devendo colocar o problema do desgaste da ligação conjugal desenvolvido por Jules Simon.

Isso não significa que o argumento do conto não apresente problemas. O cotejo com o romance Ressurreição nos permitirá abordá-los com maior clareza, ajudando-nos a perceber que, embora F. consiga superar seus obstáculos, e obter a anunciada felicidade pelo casamento, ele o faz mediante situações de excepcionalidade.

F., Félix, (in)felicidade

Em Ressurreição, o herdeiro e médico Félix não tem impedimentos práticos para se casar com a viúva Lívia, estando ambos apaixonados, mas a união não se realiza. Conforme estabelecido no romance, o motivo central que teria rendido esse desfecho seria o ciúme infundado do protagonista - que o teria levado a romper várias vezes o relacionamento, até conduzir Lívia à desistência. Dessa maneira, guardadas as devidas diferenças, F. e Félix vivenciam um empecilho comum: o ciúme. Mesmo o problema da fantasia se coloca para os dois personagens.

Para apreendermos como esses dois elementos aparecem em Ressurreição, é necessário ter em vista, primeiramente, que a obra é narrada em terceira pessoa, e que o discurso do narrador nem sempre coincide com o do protagonista. Assim, o fato de que Félix é desconfiado é indubitável no romance, mas o personagem e o narrador divergem em relação à explicação que se dá para isso.

Félix julga que suas desconfianças derivariam de experiências nocivas do passado. É também a partir dessas experiências que o herói reflete sobre o tema da fantasia, colocado no contraste de sua personalidade em relação à do personagem Meneses. Esse contraste é feito pelo narrador, nos seguintes termos: “[...] [a]o inverso de Félix, cujo espírito só engendrava receios e dúvidas, Meneses era antes de tudo propenso às fantasias cor de rosa. Irmanavam-se no ponto de serem joguetes de sua imaginação” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 126).

Félix também crê que Meneses seria vítima da imaginação, mas julga que ele próprio, pelo contrário, evitaria fantasiar, para não sofrer decepções. Ou, valendo-nos de termos do personagem: para se precaver de uma queda (experiências similares às do passado), ele procuraria antecipar os “precipícios”, buscando indícios de futuras desilusões (suspeitando), com o que evitaria fantasias de relacionamentos (fugiria aos “enlevos”). Nesse sentido, Félix teria o temperamento oposto ao de F.. Mas, se levarmos adiante a proposição do mesmo Félix, podemos concluir, como o narrador, que o protagonista não deixaria de ser vítima de fantasias: suas antecipações de desilusão, ou suspeitas (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 91).

Quanto à origem da tendência de Félix para suspeitar e, consequentemente, ter ciúme de Lívia, defende o narrador que seria fundamentalmente fruto do caráter do herói. De acordo com o raciocínio do narrador, ao longo do romance, esse caráter incoerente tornaria Félix fraco. Sendo fraco, o personagem não teria energia para ser constante e confiante. Desse modo, tornava-se desconfiado, o que o teria conduzido a dificultar o matrimônio por duas vertentes: pelo ciúme constante; e por não ter firmeza para tomar a resolução do compromisso matrimonial, um dos aspectos pelos quais o narrador lhe imputa ser um “rapaz vadio e desambicioso” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 63).

Há, porém, outras questões, de ordem social, que aparecem no decorrer do romance e que poderiam estar associadas à dificuldade de Félix em relação ao casamento. Por exemplo, o olhar do irmão de Lívia, Viana, sobre a união da moça com Félix. Viana, um “parasita consumado” (nos termos do narrador), não deixava de insinuar que o matrimônio da irmã seria uma aliança familiar. Desse modo, deixava exposto o vínculo entre prestígio social e matrimônio, ao passo que Félix esperava do casamento, contrariamente, que promovesse um afastamento da vida social.

Outro ponto que poderia perturbar Félix era a observação do relacionamento dos casais com os quais convivia: Clara e Luís Baptista; Dona Matilde e o coronel Morais. Os casamentos de ambos os pares eram marcados pela traição masculina. Em resposta, Clara resignava-se, e Dona Matilde propalava inabalável confiança no coronel. A vivência da infidelidade marital, a propósito, não era exceção no Brasil do século XIX, como aponta Priore, baseando-se em relatos de viajantes estrangeiros sobre o país (PRIORE, 2005PRIORE, Mary Del. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005., p. 187).

Além de aguentarem a infidelidade dos maridos, Clara e Dona Matilde tiveram que reajustar suas expectativas de afeto no casamento. A primeira, conforme o narrador: “[...] havia buscado a felicidade conjugal com a ânsia de um coração que tinha fome e sede de amor. Não logrou o que sonhara. Pedira um rei e deram-lhe um cepo. Aceitou o cepo e não pediu mais” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 107). Dona Matilde, por sua vez, nas palavras do narrador: “[...] soubera substituir os fogos da paixão pela reciprocidade da confiança e da estima” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 74). Nos dois casos, no entanto, alega o narrador que os pares obtiveram a felicidade no casamento.

Félix, por seu turno, incomodava-se com as traições do coronel, como fica claro em sua provocação a Dona Matilde: “Dizia-lhe Félix às vezes que não era acertado julgar pelas aparências, e que o coronel, excelente marido em reputação, fora na realidade pecador impenitente” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 74). E também ficava aturdido com as traições de Baptista, como revela seu pensamento: “[...] a mulher do Baptista; era uma moça de vinte anos, loura, assaz bonita e digna de inspirar amores. Porque motivo, o marido, casado há pouco, queria ir queimar a um templo estranho os perfumes que a esposa merecia?” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 78).

Esses elementos não são conectados, no discurso de Félix nem no do narrador, ao conflito do protagonista acerca do casamento; contudo, no último parágrafo de Ressurreição, o narrador admite que o dilema do personagem estaria associado ao universo social: “Não se contentando com a felicidade exterior que o rodea, quer haver essa outra das afeições íntimas, duráveis e consoladoras” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 180). Ligando os problemas explorados a esse comentário, poderíamos pensar que Félix suspeitava de que o casamento poderia se tornar apenas uma “felicidade exterior”, uma prestação de contas à sociedade, no sentido de acabar se resumindo, por exemplo, a uma aliança familiar, ideia evocada por Viana. Reforçando a ideia, poderíamos entender que o personagem questionava, a partir da observação dos casais que conhecia, cujos casamentos mobilizavam práticas então socialmente comuns como a traição masculina, se a instituição matrimonial correspondia às “afeições íntimas”. Nesse sentido, o personagem teria reticências quanto ao casamento, traduzidas no ciúme em relação a Lívia, que poderiam ser atribuídas a questões de caráter ou experiências individuais, mas também a aspectos sociais.

Retomando o conto “Felicidade pelo casamento”, lembremos que F. vence a propensão à fantasia e ao ciúme, casa-se, e obtém a felicidade; enquanto o Félix de Ressurreição mantém-se até o fim joguete de sua imaginação, pois não se livra de suas suspeitas, não se casa, e fica infeliz. Destaque-se, no entanto, as condições em que viviam os dois personagens quando conheceram suas noivas.

F. estava afastado da capital, da cidade do Rio de Janeiro. Hospedava-se em Andaraí, devido à condição não cotidiana de uma enfermidade. Convivia apenas com um médico e seu irmão, mostrando-se ambos pouco usuais em suas relações, na medida em que a noção de amizade dos dois foi reconhecida como extraordinária, em sentido positivo, pelo narrador. Ao conhecer Ângela, F. encontra um rival, mas o vê como muito inferior a si, e não chega a ter que disputar com Azevedinho.

Digamos que, em situação excepcional, F. pôde estar em um cenário com elementos reduzidos, em espaço relativamente isolado, em ambiente expurgado de grandes males (ele só tem um adversário, mais fraco) e no qual encontra notável bem (dois amigos fora do ordinário, que se tornarão parte de sua família). Nesse cenário externo favorável,8 8 A ideia de que a cidade do Rio de Janeiro poderia ser um ambiente menos propício à felicidade de Ângela e F. é pontuada por Neto: “Para completar a felicidade, o casal abandona a nociva corte e retorna à cidade natal do narrador” (NETO, 2007, p. 48). seus inimigos são os impedimentos engendrados por movimentos internos (repitamos, a fantasia e o ciúme), ambos superados. Realizado o casamento, temos a declaração de F. de que era feliz, sobre a qual não temos material para especulações, pois não sabemos como ele, Ângela, o filho e os parentes dos dois passam a viver na província natal do narrador; além do mais, como já se apontou, o conto conclui a reflexão sobre a obtenção de felicidade no matrimônio com o anúncio do encontro entre duas almas que se demandariam.

Félix, por sua vez, morava nas Laranjeiras, área de feição “semi-urbana, semi-silvestre” (ASSIS, 1977______. Ressurreição. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977., p. 63), ocupada pela elite do Rio de Janeiro à época. Convivia com outros casais, tendo certo repertório sobre dinâmicas matrimoniais socialmente comuns, e que o perturbavam, como vimos. Evocando-se, ainda, as ligações do personagem com o mundo externo, Félix não chegou a enfrentar rivais: Meneses gostava de Lívia, porém, não tendo sido correspondido, casou-se com Raquel. Contudo, digamos que o protagonista não deixou de se deparar com um inimigo exterior: o imaginário social. Lívia era viúva, o que podia fazer com que Félix se sentisse em constante sensação de sua perda para um “outro”, devido à permanência do seguinte traço patriarcal, que se mantinha na sociedade brasileira do século XIX, descrito por Candido: “O senso de propriedade que o homem brasileiro de qualquer classe tem em relação à mulher é preservado quase integralmente, manifestando-se no ciúme [...] e, principalmente, por aquela importância decisiva atribuída à castidade pré-marital” (CANDIDO, 1951CANDIDO, Antonio. The Brazilian Family. In: SMITH, T.L.; MARCHANT, A. (Ed.). Brazil: portrait of half a continent. New York: The Dryden Press, 1951. p. 291-312., p. 309).

Poderíamos ter, em Ressurreição, apenas a narrativa prometida de um personagem cujo caráter singular, incongruente, é a própria ruína. O narrador procura nos convencer disso, e a situação externa auspiciosa valeria como contraprova: Félix já tinha a vantagem de ser rico, de modo que o casamento só lhe complementaria a posição, tornando-o pai de família, conforme sugerido pelo narrador; os casais conhecidos pelo protagonista seriam felizes, provando que o casamento seria benéfico; não haveria nenhum adversário “real”, no caminho do protagonista, que obstasse seu matrimônio. Nas entrelinhas do romance, no entanto, todos esses elementos mostram-se problemáticos, tal como apresentamos, e o próprio narrador acaba enunciando que o dilema de Félix estaria associado a uma oposição entre mundo interior e social, de modo que esse último não poderia ser tão positivo quanto ele enuncia.

Sugerimos que a comparação entre Ressurreição e “Felicidade pelo casamento” nos permitiria apreender melhor um problema latente no argumento do conto: F. consegue se desfazer de seus empecilhos, mas sob condições excepcionais. Acreditamos que essa percepção fica mais clara no cotejo dessas obras, na medida em que apresentam esquema de enredo semelhante, porém, com desfechos opostos.

Em ambos os casos, os protagonistas viveriam em ambientes externos supostamente propícios à felicidade, restando-lhes como empecilho a resolução de problemas internos, facultada a F., mas não a Félix. Entrevê-se em Ressurreição, porém, uma sociedade cujas instituições e convenções poderiam afigurar-se problemáticas, ainda que isso contrarie o argumento explícito do romance. Assim, o exterior conflituoso seria um fator que complicaria o desenlace do conflito de Félix. Assumindo-se que o ambiente externo concorre para o destino dos personagens, poderíamos dizer que o mundo social quase idílico de F. seria uma condição para seu final feliz.

Ressalte-se que o meio no qual Félix se insere é a elite fluminense da época, enquanto a história de felicidade de F. se desenvolve fora da corte. De modo que, se a sorte diversa dos protagonistas depende desses contextos diversos, isso reflete uma negatividade na visão de Machado de Assis sobre a vida da elite citadina, cujos aspectos problemáticos o autor não pôde subtrair aos dilemas de Félix. Não seria apropriado inferir, em contrapartida, que a província natal de F. ou Andaraí são vistos como ideais, afinal, as circunstâncias passadas pelo protagonista nesses lugares, durante e após o processo que o levou à assunção do casamento, seriam extraordinárias. Talvez, se Machado de Assis tivesse apresentado problemas no espaço não urbano configurado em “Felicidade pelo casamento”, não teria podido conceder a seu conto desfecho edificante.

Referências

  • ACADÉMIE FRANÇAISE. Site da Academia Francesa. Disponível em: <Disponível em: http://www.academie-francaise.fr/les-immortels/jules-simon?fauteuil=8&election=16-12-1875 >. Acesso em: 13 jul. 2020.
    » http://www.academie-francaise.fr/les-immortels/jules-simon?fauteuil=8&election=16-12-1875
  • ASSIS, Machado de. Contos esparsos Organização e prefácio de R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1956. p. 225-252.
  • ______. Ressurreição 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
  • CANDIDO, Antonio. The Brazilian Family. In: SMITH, T.L.; MARCHANT, A. (Ed.). Brazil: portrait of half a continent. New York: The Dryden Press, 1951. p. 291-312.
  • DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 1860, n. 150, fl. 2. Disponível em: <Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ >. Acesso em: 22 maio 2020.
    » https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
  • HERANE, Amanda Rios. Memória das ilusões: um estudo de Ressurreição, primeiro romance de Machado de Assis. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
  • NETO, José Raimundo Maia. O ceticismo na obra de Machado de Assis São Paulo: Annablume, 2007.
  • PRIORE, Mary Del. História do amor no Brasil São Paulo: Contexto, 2005.
  • SAMARA, Eni de Mesquita. Estratégias matrimoniais no Brasil do século XIX. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 8, n. 15, p. 91-105, set. 1987/fev. 1988.
  • SIMON, Jules. La Liberté 2 ed. Paris: Librairie de L. Hachette et Cia., 1859. v. 1. p. 211-221.
  • 1
    A autoria foi atribuída por R. Magalhães Júnior em Contos esparsos (1956).
  • 2
    A leitura de Ressurreição aqui proposta foi desenvolvida por mim em Memória das ilusões, dissertação de mestrado defendida em 2011HERANE, Amanda Rios. Memória das ilusões: um estudo de Ressurreição, primeiro romance de Machado de Assis. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.. Considerando esse dado, e a forma breve do artigo, optei por expor, neste trabalho, mais minuciosamente a leitura do conto em relação à do romance.
  • 3
    Entre as elites, os casamentos no Brasil do século XIX comumente baseavam-se em interesses de grupos familiares, forma de união característica da organização familiar patriarcal (CANDIDO, 1951CANDIDO, Antonio. The Brazilian Family. In: SMITH, T.L.; MARCHANT, A. (Ed.). Brazil: portrait of half a continent. New York: The Dryden Press, 1951. p. 291-312.; SAMARA, 1987-1988SAMARA, Eni de Mesquita. Estratégias matrimoniais no Brasil do século XIX. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 8, n. 15, p. 91-105, set. 1987/fev. 1988.; PRIORE, 2005PRIORE, Mary Del. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005.).
  • 4
    Acreditamos que a primeira obra se refere ao Atala (1801), de François-René de Chateaubriand, autor que influenciou o romantismo, e a segunda ao romance francês Corinne ou l’Italie (1807), de Madame de Staël, escritora do romantismo.
  • 5
    Não localizei tradução do livro para o português. O volume consultado da obra também pode ser encontrado por meio do serviço de armazenamento digital Google Books.
  • 6
    Conforme verificado por meio da Hemeroteca Digital, da Fundação Biblioteca Nacional.
  • 7
    As traduções constantes deste artigo são de minha autoria.
  • 8
    A ideia de que a cidade do Rio de Janeiro poderia ser um ambiente menos propício à felicidade de Ângela e F. é pontuada por Neto: “Para completar a felicidade, o casal abandona a nociva corte e retorna à cidade natal do narrador” (NETO, 2007NETO, José Raimundo Maia. O ceticismo na obra de Machado de Assis. São Paulo: Annablume, 2007., p. 48).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    08 Jun 2020
  • Aceito
    21 Set 2020
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