Em várias línguas não-indo-européias, categorias gramaticais como nome, verbo, numerais etc. são classificadas segundo propriedades ou características físicas de seus referentes. Apresenta-se aqui a classificação que expressa, em tapirapé (família tupi-guarani, Brasil), as propriedades de forma ("chata", "redonda", "alta") que se aliam, com restrições combinatórias, à posição ("deitado", "sentado", "de pé") do objeto referenciado. A comparação feita com sistemas de classificação de línguas sul-americanas indica que, apesar da diversidade categorial aparente, é possível detectar não só um número reduzido de componentes semânticos geométricos sempre atuantes, mas também coincidências na inclusão ou exclusão dos membros nas diferentes classes. O exame, mesmo superficial, parece contrariar os pressupostos das versões, moderada ou extremada, do relativismo lingüístico ou de uma infinidade de recortes de um mundo que lá está. No caso tapirapé, o que está em jogo não é a expressão culturalmente filtrada de um mundo preexistente, mas antes a apreensão de uma realidade que se constrói a partir da perspectiva que o falante tem de um evento, de um fato ou de uma existência, que se consubstancia através de uma geometria extremamente simples, mas altamente rentável, em que forma, espaço, tempo/aspecto são interdependentes.