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Os Argonautas como um clássico da Sociologia: Malinowski e a história recente da Nova Sociologia Econômica

Resumo

Este ensaio foi apresentado em homenagem a Bronislaw Malinowski, cem anos após a publicação de Os Argonautas do Pacífico Ocidental, organizado pelo Departamento de Antropologia Social da London School of Economics. Seu objetivo é refletir sobre as trocas entre a sociologia e a antropologia econômica em diferentes contextos acadêmicos e como essas dinâmicas geram distintas condições para que o campo da "nova" sociologia econômica reconheça Os Argonautas como um clássico. Diferentemente das academias centrais, a interpretação que se apresenta ilumina as condições favoráveis ocorridas no Cone Sul - particularmente a partir da influência da antropologia do Brasil e, principalmente, do papel do Núcleo de Estudos em Cultura e Economia do Museu Nacional - para gerar esse reconhecimento.

Palavras-chave:
Malinowski; Argonautas; Sociologia; Antropologia; Brasil; Argentina

Abstract

This essay was presented at the tribute to Bronislaw Malinowski, 100 years after the publication of The Argonauts of the Western Pacific organized by the Department of Social Anthropology of the London School of Economics. Its objective is to reflect on the exchanges between sociology and economic anthropology in different academic contexts and how these dynamics generate different conditions for the field of the "new" economic sociology to recognize The Argonauts as a classic. Unlike the academies of the center of the global anthropological system, the interpretation that is presented here illuminates the favorable conditions that occurred in the Southern Cone - particularly through the influence of Brazilian anthropology and, especially, the role played by the Nucleus of Culture and Economy of the National Museum - in generating this recognition.

Keywords:
Malinowski; Argonauts; Sociology; Anthropology; Brazil; Argentina

Resumen

Este ensayo fue presentado en el homenaje a Bronislaw Malinowski, a 100 años de la publicación de Los Argonautas del Pacifico Ocidental, organizado por el Departamento de Antropología Social de London School of Economics. Su objetivo es reflexionar sobre los intercambios entre la sociología y la antropología económica en diferentes contextos académicos y cómo estas dinámicas generaron diferentes condiciones para que el campo de la “nueva” sociología económica reconozca a Los Argonautas como un clásico. A diferencia de las academias centrales, la interpretación que se presenta ilumina las condiciones favorables que se dieron en el Cono Sur -en particular a partir de la influencia de la antropología de Brasil, y, en especial, al rol de Núcleo de Estudios de Cultura y Economía del Museo Nacional- para que se genere este reconocimiento.

Palabras clave:
Malinowski; Argonautas; Sociología; Antropología; Brasil; Argentina

Introdução

No final de 2021, recebi um e-mail de Deborah James, diretora do Departamento de Antropologia na London School of Economics and Political Science (LSE). Ela me convidou para participar de um evento, que estava organizando junto com Chris Hann do Max Planck Institute for Social Anthropology, para comemorar o centésimo aniversário da célebre obra de Bronislaw Malinowski Os Argonautas do Pacífico Ocidental ( Malinowski 1922MALINOWSKI, Bronislaw. 1922. Argonauts of The Western Pacific: An Account of Native Enterprise and Adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. London: Routledge and Kegan Paul, Enhanced Edition Reissued Long Grove, Il/ Waveland Press.). Tratava-se de um workshop a ser realizado na instituição onde o antropólogo polonês lecionou por muitos anos. Em seu generoso convite, Deborah acrescentou: “Bom, eu sei que você não é tecnicamente um antropólogo, mas…”. Era, afinal de contas, paradoxal convidar um sociólogo da economia - ainda por cima da Argentina - para homenagear uma das mais importantes obras da antropologia econômica. Ao observar a lista de participantes do evento, o paradoxo se tornou ainda mais significativo, já que eu era o único sociólogo da economia convidado. Neste artigo, eu quero abordar esse paradoxo, explorando como a “nova’ sociologia econômica tornou-se um campo. 1 1 O rótulo de “nova” sociologia econômica começou a ser usado pela academia nos Estados Unidos nos anos 1980. Estou particularmente interessado aqui no intercâmbio entre sociologia e antropologia, em diferentes contextos acadêmicos, e em como essas dinâmicas criaram condições distintas para o reconhecimento dos Argonautas como um clássico para esse campo.

O convite que recebi para participar do workshop em homenagem ao centenário dos Argonautas na LSE é um indicativo de intercâmbios institucionais e intelectuais - frequentes e intensos - entre a sociologia e a antropologia. Eles são particularmente importantes para mim, já que marcaram grande parte da minha carreira enquanto sociólogo da economia. Para entender essa conexão, é necessário reconstruir a relação entre a nova sociologia econômica nos Estados Unidos e na França e a antropologia econômica, com foco especial na pouca atenção dada aos Argonautas nesses intercâmbios. Por outro lado, os intercâmbios entre esses dois subcampos em outra região geográfica e em outro arcabouço institucional, e desde dentro de outra tradição acadêmica, se provaram especialmente relevantes. Estou me referindo, especificamente, ao contexto no qual se desenvolveu a nova sociologia econômica no Cone Sul, particularmente na Argentina e em seus laços com a antropologia brasileira.

Diferente da experiência na academia dos países centrais - “core academia’ ( Beigel 2016BEIGEL, Fernanda. 2016. “El nuevo carácter de la dependencia intellectual”. Cuestiones de Sociología, 14, e004. Disponível em: Disponível em: http://www.cuestionessociologia.fahce.unlp.edu.ar/article/view/CSn14a04 . Acesso em 09/04/2021.
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) -, a consolidação da sociologia econômica nesses países desde os anos 2000 criou condições mais favoráveis para o intercâmbio entre sociólogos e antropólogos da economia. Isto permitiu que obras menos canônicas - consideradas como menos canônicas desde o ponto de vista da “core academia’ - fossem consideradas como parte do repertório intelectual dos sociólogos da economia do Cone Sul. Nesta perspectiva, existe um traço estrutural na nova sociologia econômica na Argentina evidente no modo como ela se conecta às produções intelectuais da academia central. Devido à sua posição periférica, a Argentina deu maior atenção às tendências intelectuais nos Estados Unidos e na Europa e, ao mesmo tempo, construiu uma abordagem mais “eclética’ - e menos condicionada - em relação aos cânones lá estabelecidos. Esse traço estrutural, presente desde as origens da sociologia argentina ( Blanco 2006BLANCO, Alejandro. 2006. Razón Y Modernidad. Gino Germani y La Sociología en la Argentina. Buenos Aires: Siglo XXI.), pode também ser encontrado na configuração única da nova sociologia econômica no Cone Sul em comparação com os Estados Unidos ou com a Europa.

Este artigo se inicia reconstituindo os caminhos variados dos Argonautas na nova sociologia econômica de três contextos acadêmicos, dois “centrais” (os Estados Unidos e a França) e um “periférico” (a Argentina). 2 2 A editora espanhola Peninsula lançou a primeira versão em espanhol dos Argonautas em 1973, mais de cinquenta anos depois de sua publicação original em 1922. Esta segunda reconstituição permite explorar como a sociologia argentina tem se relacionado com a obra de Malinowski desde os anos 1940, e como a nova geração de sociólogos da economia revisitou essa conexão depois de anos de clivagem. A retomada foi acompanhada por transformações locais da antropologia na Argentina e intensos intercâmbios com o campo no Brasil. Esse panorama produzirá insights a respeito de por que Os Argonautas figuram mais proeminentemente como cânone da nova sociologia econômica em países como a Argentina, quando comparados a contextos como o dos Estados Unidos ou o da França. Na conclusão, eu apresento algumas ideias sobre o estado da arte da sociologia econômica e explico por que Os Arganautas deve ser considerado como um clássico para o campo hoje, três décadas depois do ressurgimento da disciplina.

A Nova Sociologia Econômica nos Estados Unidos e o lugar dos Argonautas

A atribuição do rótulo “nova” à sociologia econômica nos Estados Unidos durante os anos 1980 denotou como o conhecimento sobre o mundo econômico passou a ocupar um novo lugar para a sociologia. Como Richard Swedberg escreveu: “sociologia econômica era um termo raramente ouvido há uma década atrás, mas se tornou muito popular novamente. Hoje departamentos de sociologia são ranqueados de acordo com sua proeminência nesse campo, e um respeitável número de artigos e livros classificados como ‘sociologia econômica’ aparece a cada ano ( Swedberg 2006:2SWEDBERG, Richard. 2006. "The Cultural Entrepreneur and the Creative Industries". Journal of Cultural Economics, 30:243-261.).

De acordo com a narrativa dominante sobre a história do campo (Swedberg & Granovetter 1992; Smelser & Swedber 1994), durante o período “clássico”, os grandes nomes da sociologia escreveram trabalhos fundamentais que enfocaram diretamente o mundo da economia. Os “pais fundadores” da disciplina - Emilie Durkheim, Karl Marx, Max Weber e Georg Simmel - elaboraram suas teorias com base no conhecimento sobre um mundo econômico forjado pelo capitalismo ou pela modernidade. Na segunda fase da história da disciplina, a sociologia econômica passou a ser fortemente associada a Talcott Parsons. Para ele, existia uma divisão a ser estabelecida entre os esforços intelectuais: dos economistas, era esperado que lidassem com “valor”, e dos sociólogos, com ”valores” ( Stark 2011STARK, David. 2011. The Sense of Dissonance: Accounts of Worth in Economic Life. Princenton: Princenton University Press). Desta perspectiva, a sociologia econômica seria uma espécie de oximoro, dado que as fronteiras entre ambas as disciplinas seriam intransponíveis. A nova sociologia econômica, que começou a se constituir nos departamentos de grandes universidades norte-americanas durante os anos 1980, deu fim ao ostracismo, permitindo sua expansão enquanto uma subdisciplina vigorosa.

Nesse novo enquadramento, o desenvolvimento de temas, autores e de uma história da subdisciplina que formou o cânone oficial está refletido na publicação de manuais e programas de cursos de sociologia econômica ( Convert & Heilbron 2007CONVERT, Bernard & HEILBRON, Johan. 2007. "Where Did The New Economic Sociology Come From?". Theory And Society, 36:31-54.). Um breve panorama dos manuais que tiveram maior impacto sobre a subdisciplina revela a importância da obra que a LSE está celebrando. Os trabalhos que estabeleceram o cânone do campo não fazem menção ao significativo clássico da antropologia econômica, Os Argonautas, tampouco a seu autor, Bronislaw Malinowski. Da mesma maneira, Os Argonautas não é encontrado nos programas de curso sobre a nova sociologia econômica do mundo anglófono. Na segunda edição do Handbook of Economic Sociology, editado por Neil Smelser e Richard Swedberg (2005SMELSER, Neil & SWEDBERG, Richard. 2005 [1994]). The Handbook of Economic Sociology. Second Edition. New York and Princeton: Russell Sage Foundation and Princeton University Press. [1994]), é paradoxalmente um sociólogo - Pierre Bourdieu - que representa a voz da antropologia. Como consta no prefácio do livro, Bourdieu concordara em contribuir com a escrita de um capítulo sobre “antropologia econômica”, mas depois de sua morte inesperada em 2002, os autores decidiram incluir o texto “Principles of an Economic Anthropology” que, até o momento, não havia sido publicado em inglês e tinha sido originalmente publicado em francês no livro Les structures sociales de l’économie ( 2000BOURDIEU, Pierre. 2000. “Principes d’une Anthropologie Économique”. In: P. Bourdieu (org.), Les Structures Sociales de L’économie. Paris: Le Seuil.. pp. 289.).

O sociólogo francês havia se baseado nos Argonautas para erigir seu principal argumento em Outline of a Theory of Practice (1972), ao usar a referência de Malinowski ao chefe como um banqueiro da tribo, a fim de contrastar a posição do professor da LSE com aquela de Marshall Sahlins e Karl Polanyi . Para Bourdieu, Malinowski se destaca destes dois autores em sua leitura sobre a conexão íntima entre as trocas econômicas desiguais e o reconhecimento simbólico, a base para a teoria do sociólogo francês sobre a dominação. Bourdieu emprega Os Argonautas para desenvolver o argumento segundo o qual o capital econômico se converte em capital simbólico, um processo que nem Sahlins, tampouco Polanyi exploraram. Na visão de Bourdieu, essa omissão pode ser atribuída ao fato de que nenhum dos dois autores focou na conexão entre reciprocidade e distribuição na análise da troca econômica:

O chefe é de fato, para Malinowski, um “banqueiro da tribo”, acumula comida para ser generoso com os outros, a fim de construir um capital de obrigações e dívidas que serão retribuídas na forma de homenagem, respeito, lealdade e, quando oportuno, de trabalho e serviços, o que pode ser a base para uma nova acumulação de bens materiais ( Bourdieu 1972:195BOURDIEU, Pierre. 1972. Outline of a Theory of Practice. Cambridge: Cambridge University Press.).

Nos cursos oferecidos por ele no College de France em 1985 ( Bourdieu 2016BOURDIEU, Pierre. 2016. Sociologie Generale. Vol. 2. Cours au Collège de France (1983-1986). Paris: Editions du Seuil.), Bourdieu citou Os Argonautas para ilustrar o papel da magia enquanto técnica social durante os rituais de construção de canoas nas Ilhas Trobriand.

Os Argonautas à sombra do “Embeddedness”

Principles of an Economic Anthropology, entretanto, é menos sobre a teoria da violência simbólica de Bourdieu - na qual ele encontrou em Malinowski um aliado - e mais uma abordagem crítica da tendência dominante no subcampo da nova sociologia econômica. A teoria de Bourdieu sobre o campo consiste num modo mais radical de questionar a economia neoclássica do que a proposta de Mark Granovetter em torno da ideia de “embeddedness” (1985GRANOVETTER, Mark. 1985. “Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness.”. American Journal of Sociology, 91:481-510.), o que o sociólogo francês vê como uma tentativa de “compensar” as fragilidades e os buracos deixados por esse paradigma sem efetivamente questioná-lo.

O argumento de Bourdieu revela como a visão de Granovetter foi predominante na formação do subcampo. Como notou Swedberg: “ o conceito mais famoso hoje na sociologia econômica é, sem dúvidas, o de embeddedness” (2006:3). Greta Krippner elaborou um argumento similar: “A noção de embeddedness ocupa uma posição privilegiada - e até agora incontestada - enquanto princípio organizador central da sociologia econômica […] [de fato] o termo tem ganhado uma aceitação abrangente, ao representar o núcleo unificador dos temas do subcampo (Krippner 2001:775).

A antropologia econômica claramente contribuiu para tornar Granovetter um líder intelectual do campo. Enquanto na nova sociologia econômica Karl Polanyi foi considerado o “criador” do conceito de “embeddedness” ( Polanyi 1957POLANYI, Karl. 1957. “The Economy as Instituted Process”. In: K. Polanyi (org.), Trade and Market in the Early Empires. pp. 243-270.), ele também possibilitou a formação de duas escolas de pensamento dentro do campo da antropologia econômica (substantivista e formalista), e se tornou parte do cânone da nova sociologia econômica ( Granovetter 1993GRANOVETTER, Mark. 1993. "The Nature of Economic". In: Richard Swedberg (ed.), Explorations in Economic Sociology, Vol. 3.). O debate central do período considerado como “anos dourados” da antropologia econômica ( Hart & Hann 2011HART, Keith & HANN, Chris. 2011. Economic Anthropology: History, Ethnography, Critique. Cambridge: Polity Press.) foi reinterpretado a fim de forjar uma perspectiva apropriada para acolher Granovetter na nova sociologia econômica.

Ele se encontra a meio caminho entre o extremo da antropologia substantivista e o outro extremo da antropologia formalista:

Tenho me distanciado do que eu chamo da posição da “strong embeddedness” - aquela concepção com maior adesão que reivindica que a análise econômica moderna não nos ajuda a compreender o comportamento em sociedades tribais ou camponesas, porque as motivações econômicas são completamente soterradas por motivações sociais outras; mas eu também tenho evitado a posição menos reivindicada de antropólogos formalistas, segundo a qual a análise dos economistas consiste no principal caminho para o conhecimento nesses contextos ( Gravonetter 1993:38GRANOVETTER, Mark. 1993. "The Nature of Economic". In: Richard Swedberg (ed.), Explorations in Economic Sociology, Vol. 3.).

Em The Sociology of Economic Life (1992), organizado por Granovetter e Richard Swedberg, o peso da antropologia econômica é claro, dado o destaque atribuído a Polanyi e Clifford Geertz, pilares das ideias de Granovetter. A primeira seção do livro Sociological Approaches to the Economy é composta por artigos de Polanyi (“The Economy as Instituted Process”) e de Granovetter (“Economic Action and Social Structure”). Neste texto, Granovetter se apresenta como herdeiro de Polanyi, particularmente da teoria segundo a qual “a ação econômica é sempre social, e que ela é sempre ancorada no social (“embedded”). A terceira seção (The Sociology of Economic Institutions) afina o texto de Granovetter ( “The Sociological and Economic Approaches to Labor Market Analysis”) com as ideias de Clifford Geertz em The Bazaar EconomyGEERTZ, Clifford. 1978. "The Bazaar Economy: Information and Searchin Peasant Marketing." American Economic Review, 68:28-32.. De acordo com os editores, ambos os autores apreenderam “a necessidade de se basear em uma abordagem econômica e, ao mesmo tempo, em uma abordagem social na análise do fenômeno econômico” (Swedberg & Granovetter 1992:21).

As críticas aos usos de Granovetter do conceito de “embeddedness” serão proporcionais à sua ambição de liderar intelectualmente o campo da nova sociologia econômica. Além dos exemplos já citados em relação a Pierre Bourdieu, outras figuras importantes do campo, como Greta Krippner (2002KRIPPNER, Greta. 2002. "The Elusive Market: Embeddedness and the Paradigm of Economic Sociology". Theory And Society, 30:775-810.), Jens Beckert (2007BECKERT, Jens. 2007. "The Great Transformation of Embeddedness: Karl Polanyi and The New Economic Sociology". Mpifg Discussion Paper, n. 07/1, Max Planck Institute for The Study of Societies.) e VivianaZelizer ( 2012ZELIZER, Viviana. 2012. "How I Became a Relational Economic Sociologist and What Does That Mean? ". Politics & Society, v. 40, n. 2:145-174.), se ocuparam deste tema. Além de ressaltarem a versão enviesada de Granovetter do conceito de Polanyi, essas críticas localizam o conceito de Granovetter em uma proposta reducionista sobre a ação econômica, principalmente por não ser apropriada a realidades mais amplas e mais complexas. Em última instância, Granovetter associa a ideia de “embeddedness” à teoria das redes sociais. É possível encaixar a complexidade e a riqueza dos Argonautas nesse movimento? Granovetter entende que não, atribuindo à grande obra de Malinowski um lugar secundário. Na visão do sociólogo norte-americano, Os Argonautas é um exemplo da perspectiva hegemônica sobre a ação econômica ( Granovetter 1993GRANOVETTER, Mark. 1993. "The Nature of Economic". In: Richard Swedberg (ed.), Explorations in Economic Sociology, Vol. 3.), inadequada a uma sociologia econômica que aspire ocupar um lugar dominante na academia e se reconciliar com as ideias da economia neoclássica.

A Nova Sociologia Econômica na França, o boom de Marcel Mauss e o lugar dos Argonautas

O rótulo “nova sociologia econômica” foi empregado na academia norte-americana e, posteriormente, foi exportado por meio de esforços que visaram estabelecer o campo em outras esferas universitárias ao redor do mundo. Esse diálogo também envolveu dinâmicas endógenas, como foi visto na configuração da subdisciplina em outros países centrais, como a França. De acordo com a narrativa mais difundida a respeito da história da subdisciplina na França, a nova sociologia econômica foi dominada pela escola durkheimiana (Marcel Mauss, Francois Simiand e Maurice Halbwachs) durante o período entreguerras ( Steiner 2010STEINER, Philippe. 2011. Durkheim and the Birth of Economic Sociology. Princeton: Princeton University Press); de 1950 a 1980, ela recebeu menor atenção ( Steiner & Vatin 2013STEINER, Philippe & VATIN, François. 2013. Traité de Sociologie Économique. París: Presses Universitaires De France.). A partir de 1990, fontes primárias na sociologia econômica começaram a tratar a subdisciplina como um tema central, enquanto livros, artigos e teses sobre isto se multiplicaram. Trabalhos críticos da nova sociologia econômica (Swedberg, Granovetter, Zelizer) também foram traduzidos para o francês.

Enquanto a nova sociologia econômica na França foi menos definida como disciplina, em comparação com o mundo anglófono ( Heredia & Roig 2008HEREDIA, Mariana & ROIG, Alexandre. 2008. “ ¿Franceses contra Anglosajones? La Problemática Recepción de la Sociología Económica en Francia”. Apuntes de Investigación del Cecyp.), ela incorporou variantes da economia heterodoxa, como a Escola da Regulação, e teorias relativas à economia social e a um certo tipo de ativismo intelectual (como o Movement Anti-Utilitaire des Sciences Sociales - MAUSS - impulsionado por Alain Caillé). Em 2009, o primeiro manual sobre sociologia econômica, Traite de Sociologie Economique, foi publicado na França. Os Argonautas e seu autor são poucas vezes mencionados neste ambicioso livro de 790 páginas, 19 capítulos e 23 autores, organizado por Philippe Steiner e François Vatin. Em contraste, Marcel Mauss é citado inúmeras vezes ao longo do livro. A nova sociologia econômica na França se erigiu, então, a partir do autor de The Gift: forms and functions of exchange in archaic societies (2006), construindo uma conexão direta e importante com a antropologia econômica clássica, especialmente no caso de algumas escolas, como a Escola da Regulação e o grupo MAUSS.

Nos últimos vinte e cinco anos, o interesse pela obra de Marcel Mauss tem crescido, especialmente no mundo francófono, mas também no contexto anglófono. Ocorreram conferências acadêmicas dedicadas à obra de Mauss; edições especiais de periódicos focadas no seu trabalho; uma monumental biografia; um volume com seus textos políticos (considerado o quarto e último volume de seus trabalhos completos, um esforço que deve ter se iniciado trinta anos antes); um novo periódico que reúne intelectuais francófonos inspirados em suas ideias; outra edição em francês do seu célebre Ensaio sobre a Dádiva, com uma nova introdução que substituiu o texto original de Claude Lévi-Strauss; a publicação de cartas entre Mauss e Durkheim; e uma série de publicações que consolidam o legado de Mauss para as ciências sociais francesas. A sociologia econômica francesa cumpriu um papel crítico na retomada da obra de Mauss e no boom do qual ela desfrutou nas últimas três décadas. Como será visto, o destaque ao trabalho de Mauss vai reverberar na nova sociologia econômica argentina.

A consolidação da nova sociologia econômica nos Estados Unidos e na França demonstra a importância da tradição em ambas as disciplinas, as apostas intelectuais e mesmo as condições institucionais que transformaram os Argonautas em um “clássico”, uma referência crucial na reconstituição desse subcampo da sociologia. Nos Estados Unidos, os autores começaram por suplementar as teorias econômicas por meio da assimilação do conceito de “embeddedness” por uma teoria das redes sociais, deixando de lado apostas mais ricas e complexas sobre as ações econômicas, como a encontrada na obra de Malinowski. Por outro lado, o processo de consolidação da nova sociologia econômica na França se relacionou com a tradição antropológica por meio da “redescoberta” de Marcel Mauss, atribuindo ao autor de Os Argonautas nada além de um lugar marginal.

Malinowski e a sociologia argentina

Qualquer história da sociologia argentina enquanto disciplina científica e universitária deve começar com Gino Germani, um sociólogo italiano que fugiu do fascismo amplamente reconhecido como “pai fundador” da sociologia moderna na Argentina, Germani trouxe teorias “científicas” e conceitos das ciências sociais dos países centrais para seu país adotivo da América do Sul. A antropologia britânica - Malinowski incluído - era uma fonte-chave das teorias que Germani visava instituir como cânone da sociologia moderna. Em 1949, Germani escreveu um prólogo para os Estudios de psicología primitiva, uma compilação de três trabalhos de Malinowski ( Myth in Primitive Psychology, The Father in Primitive Psychology) , e o outro com trechos de um trabalho em alemão, Mutterrechtlich Familie und Oedipus-Komplex), publicado pela editora Paidós. Baseado na antropologia polonesa e em outros autores como Margaret Mead, 3 3 Foram esforços alemães que levaram à publicação dos seguintes trabalhos de Margaret Mead: Coming of Age in Samoa (lançado em espanhol em 1945) e dois anos depois, Sex and Temperament in Three Primitive Societies. Em 1952, a editora Paidós lançou uma compilação dos trabalhos de Mead, intitulada Educación y Cultura (Blanco 2006). Germani estabeleceu um corpus de trabalhos que chamavam a atenção para as dinâmicas culturais no intercâmbio social, seu principal foco durante sua carreira na sociologia, como apontado pelo biógrafo de Germani, o sociólogo argentino Alejandro Blanco:

Essa abordagem deu a Germani acesso a um tema que estava no coração de suas preocupações: como a transição da vida rural para a vida urbana poderia provocar um arranjo de “distúrbios” de personalidade, associado com a incapacidade de alguns de se adaptar ao entorno. Em resumo, ao abarcar o conceito de cultura, a incorporação da antropologia às ciências sociais permitiu a exploração dos laços entre cultura e política ( Blanco 2005:222BLANCO, Alejandro. 2005. “ Razón y modernidad. Gino Germani y la sociología en la Argentina”. Tesis de Doctorado, Universidad de Buenos Aires, Facultad de Filosofía y Letras.).

Talcott Parsons foi uma clara influência na leitura de Germani da obra de Malinowski. Parsons, é preciso destacar, encontrou Malinowski durante sua estadia na LSE antes de ir para Alemanha, onde finalizou seu doutorado, conforme ele mesmo reconstituiu em sua autobiografia ( Parsons 2009PARSONS, Talcott. 2009. Autobiografía Intelectual: Elaboración de Una Teoría del Sistema Social. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia.); a influência dos trabalhos de antropólogos poloneses, particularmente suas contribuições para o conceito de cultura, também pode ser vista na teoria de Parsons sobre o sistema social ( Parsons 1957PARSONS, Talcott. 1957. "Malinowski and the Theory of Social Systems". In: R. Firth (org.), Man and Culture: An Evaluation of The Work of Bronislaw Malinowski. London: Routeledge & Kegan Paul. pp. 53-70.).

Uma das infinitas contribuições de Germani ao desenvolvimento da disciplina na Argentina foi o primeiro programa de ensino superior em sociologia criado em 1958. Além de seus esforços para introduzir e construir a nova disciplina na Universidade de Buenos Aires, Germani deu cursos introdutórios e avançados de sociologia nesta instituição. Nas obras selecionadas para o currículo, os textos de Malinowski foram incluídos entre os clássicos da sociologia. A receptividade da sociologia argentina em relação à antropologia britânica pode ser notada na oferta de um curso chamado Antropologia Social, incluído como eletiva na carreira de sociologia e na nova carreira de antropologia (Visacovsky; Guber & Gurevitch 1997).

No mesmo ano, uma nova carreira em antropologia foi criada na Universidade de Buenos Aires, mas o autor dos Argonautas foi largamente negligenciado no currículo. Assim como Germani, o homem responsável por introduzir a antropologia na Argentina, Marcelo Bórmida também veio da Itália. Enquanto a oposição de Germani a Mussolini o direcionou ao exílio, Bórmida era um apoiador do fascismo. Naquele tempo, o estrutural-funcionalismo era a vertente de pensamento dominante na sociologia; a escola histórico-cultural dos círculos culturais era predominante na antropologia, com um grande foco na fenomenologia ( Guber 2007GUBER, Rosana. 2007. "Crisis de Presencia, Universidad Y Política en el Nacimiento de la Antropología Social de Buenos Aires, Argentina". Revista Colombiana de Antropología, v. 43:263-298.). No modo de pensar de Bórmida, o empiricismo e sua dependência dos temas concretos fizeram da antropologia social uma tendência deplorável, que poderia cumprir nada além de um pequeno papel nos programas de formação em antropologia (Guber 2007). O curso que Germani criou no departamento de sociologia se constituiu como único aceno à antropologia social. Enquanto a sociologia, tal como construída por Germani, reivindicava Malinowski, o grupo que conformou o programa de formação em antropologia negligenciou o antropólogo polonês.

Contudo, o meio político dos anos 1960 interrompeu o projeto de Germani. Ao ser visto com desconfiança pelos novos intelectuais de esquerda que chegavam à universidade, o sociólogo italiano renunciou à universidade pública e deixou a Argentina, dando um fim abrupto ao seu trabalho e cortando os laços entre sociologia e antropologia ( Blanco 2006BLANCO, Alejandro. 2006. Razón Y Modernidad. Gino Germani y La Sociología en la Argentina. Buenos Aires: Siglo XXI.). Essa ponte não seria reconstruída durante muitos anos. A geração de sociólogos seguinte a Germani era, em sua maioria, envolvida com o ativismo de esquerda (em alguns casos, com a guerrilha armada). Depois do golpe de Estado que colocou os militares no poder em 1976, muitos intelectuais deixaram a universidade e fugiram do país; outros que ficaram desapareceram e foram assassinados pelo regime. Após o fim da ditadura militar em 1983, a vida acadêmica foi restaurada com foco, sobretudo, na restituição das instituições democráticas ( Lesgart 2003LESGART, Cecilia. 2003. Usos de la Transición a la Democracia: Ensayo, Ciencia y Política en la Década del '80. Rosario: Homo Sapiens Ediciones.). Em outras palavras, os sociólogos desse período estavam largamente preocupados com a construção da estabilidade que possibilitasse regimes democráticos. Já nos anos 1990, o foco se direcionou aos impactos das políticas neoliberais introduzidas no país. Isto se refletiu como uma tendência em toda a região, já que o sucesso de políticas similares nos anos 80 em países como os Estados Unidos e o Reino Unido havia encorajado os governos latino-americanos a implementarem reformas pró-mercado.

Essa mudança também influenciou os estilos intelectuais da sociologia. Enquanto a geração anterior estava focada nas instituições, os sociólogos mais jovens estavam mais preocupados com a vida cotidiana em uma sociedade assolada pelo crescimento do desemprego e pelo desmantelamento do Estado de bem-estar social. Nesse período, os laços entre a sociologia e a antropologia se renovaram. As leituras antropológicas e o método etnográfico possibilitaram que essa nova geração de sociólogos forjasse uma nova identidade para a disciplina, se diferenciando dos intelectuais precedentes.

A antropologia argentina também experimentou mudanças nesse período. Até 1984, Malinowski e outros antropólogos sociais estavam ausentes das ementas dos cursos do programa de formação em antropologia na Universidade de Buenos Aires ( Visakowsky 2021VISACOVSKY, Sergio. 2021. "Lo Etnográfico y la Génesis de una Matriz Disciplinaria en la Antropología Social Argentina". Revista Del Museo De Antropología, v. 14:197-216.). Durante os primeiros anos de democracia, surgiram inúmeras críticas à antropologia clássica e o interesse pela filosofia política e pela teoria social despertou, enquanto o trabalho de campo passou a ser visto com maus olhos ( Visakowsky 2017VISACOVSKY, Sergio. 2017. "Etnografía y Antropología en Argentina: Propuestas para la Reconstrucción de un Programa de Investigación de lo Universal ". Antípoda: Revista de Antropología y Arqueología, v. 27:65-91.). Em 1990, ocorreu uma retomada da tradição da antropologia social, do método etnográfico e do trabalho de campo. Nesse período, Os Argonautas se tornou uma referência essencial ( Guber 1991GUBER, Rosana. 1991. El Salvaje Metropolitano. Buenos Aires: Editorial Legasa.).

Os Argonautas e a Nova Sociologia Econômica na Argentina

Apesar de Os Argonautas ser raramente incluído nos programas de curso de sociologia econômica nos Estados Unidos, o livro tem sido considerado como leitura obrigatória nos “estudos sociais da economia” na Argentina nos últimos dez anos. Outros “clássicos” da perspectiva da nova sociologia econômica (como Granovetter) incluem The Gift; temas de interesse nos últimos anos relacionados à sociologia dos mercados, do dinheiro e das finanças se destacam nos currículos dos cursos. Programas de formação em sociologia criados nos anos 2000 em novas universidades, como a Universidade Nacional de San Martín e a Universidade de Villa Maria, formam o quadro institucional desses cursos.

Os Argonautas consiste numa referência, implícita ou explícita, para os sociólogos da nova sociologia econômica na Argentina, cujas obras se baseiam, frequentemente, em pesquisas etnográficas ( Figueiro 2013FIGUEIRO, Pablo. 2013. Lógicas Sociales del Consumo: El Gasto Improductivo en un Asentamiento Bonaerense. Buenos Aires: UNSAM Edita.; Wilkis 2017WILKIS, Ariel. 2017. The Moral Power of Money. Moral and Economy in the Life of the Poor. Redwood City, California: Stanford University Press.; Hornes 2020HORNES, Martín. 2020. Las Tramas Del Dinero Estatal. Buenos Aires: Tesseo Press.). Com isso, o cânone construído sobre a validação do trabalho de campo no clássico de Malinowski foi abraçado pela nova sociologia econômica na Argentina. Em termos gerais, o conhecimento sobre o trabalho de Malinowski e o reconhecimento de seu status de “clássico” construíram uma ponte intelectual essencial entre a sociologia e a antropologia econômica, seguindo seus debates centrais e atuais desenvolvimentos. Mas quais foram as condições que permitiram que Os Argonautas cumprisse esse papel? Como essas condições se relacionam com intercâmbios mais amplos com a antropologia e suas tradições?

Na Argentina, a sociologia econômica foi reconhecida como uma subdisciplina nos anos 1990. Apesar de a economia ter sido sempre importante para a sociologia local, as gerações anteriores de sociólogos costumavam subordinar suas análises de objetos econômicos a temas maiores, como o desenvolvimento, a pobreza, a participação política e a democracia. Muitos deles trabalharam segundo uma forte tradição marxista latino-americana ou se vincularam intensamente à teoria da dependência - uma das inovações teóricas originais da América Latina para compreender a relação entre o econômico, o social e os sistemas políticos. O desenvolvimento intelectual da sociologia argentina, em geral, foi marcado pela repressão e uma consequente dispersão dos intelectuais durante a ditadura de 1976, o que levou à dizimação de uma geração de cientistas sociais. A reconstituição da sociologia argentina por intelectuais que se mantiveram no exílio ou clandestinos - ou em outras condições desfavoráveis para a produção intelectual ( Benzecry & Heredia 2017BENZECRY, Claudio & HEREDIA, Mariana. 2017. "Sociology in Argentina”. Contemporary Sociology, 46:10-17.) - não começou até que se estabelecesse a democracia em 1983.

A partir dos anos 2000, uma “nova sociologia econômica” cresceu com a expansão de programas de mestrado e doutorado locais, com o aumento dos recursos públicos destinados às ciências sociais e com o aumento do número de cientistas sociais que viajaram para o exterior a fim de se graduar, especialmente nos Estados Unidos e na França. Como resultado desse intercâmbio, novos espaços institucionais, agendas temáticas, publicações e redes internacionais abriram caminhos para o desenvolvimento da sociologia econômica na Argentina.

Uma nova geração de tópicos de pesquisa demonstra a influência do treinamento doutoral no exterior e sua síntese com preocupações locais. Entre outros, esses temas são a performatividade da economia, a construção social de mercados específicos, os usos sociais e os significados do dinheiro, as práticas financeiras de setores de renda baixa e média, as instituições monetárias e financeiras, a expertise dos economistas, mercados ilegais, consumo, subjetividades econômicas e processos de valoração. As linhas de pesquisa refletem uma nova geração de sociólogos comprometida com um trabalho empírico detalhado, menos reducionista que as tradições sociológicas anteriores na Argentina, e que busca produzir inovações teóricas cumulativas ( Benzecry & Heredia 2017BENZECRY, Claudio & HEREDIA, Mariana. 2017. "Sociology in Argentina”. Contemporary Sociology, 46:10-17.).

Esses temas não foram importados dos Estados Unidos ou da Europa; eles expressam preocupações e estilos intelectuais próprios da Argentina. Por exemplo, disciplinas e subdisciplinas não são divididas rigidamente na América do Sul, como ocorre nos Estados Unidos, criando um diálogo constante de temas e conceitos entre a sociologia econômica, a política econômica, a economia política, a antropologia da economia e outros campos (todos cobertos pelo grande guarda-chuva dos “estudos sociais da economia”). Inovações conceituais da sociologia norte-americana e europeia também foram integradas a tradições intelectuais na Argentina. Para dar alguns exemplos, a sociologia do dinheiro tem se desenvolvido em diálogo com teorias tradicionais, tais como a da marginalidade e da pobreza ( Wilkis 2017WILKIS, Ariel. 2017. The Moral Power of Money. Moral and Economy in the Life of the Poor. Redwood City, California: Stanford University Press.; Hormes 2020); a análise das instituições financeiras vem se relacionando com a sociologia dos protestos e da ação coletiva ( Luzzi 2015LUZZI, Mariana. 2015. “Socialisation économique et hiérarchies monétaires dans un contexte de crise: Argentine, 2001-2003”. Critique Internationale, 21-37.); e trabalhos sobre consumo e crédito nos domicílios têm se baseado em tradições de pesquisas etnográficas localizadas em bairros populares ( Figueiro 2013FIGUEIRO, Pablo. 2013. Lógicas Sociales del Consumo: El Gasto Improductivo en un Asentamiento Bonaerense. Buenos Aires: UNSAM Edita.; Roig 2015).

Uma característica importante da nova geração de sociólogos da economia é o nível de colaboração e intercâmbio com redes internacionais. Muitos intelectuais argentinos que se doutoraram no exterior retornaram à Argentina, enquanto outros ficaram (nos Estados Unidos, na França, na Alemanha), mas se mantêm em contato e fazendo pesquisas sobre a Argentina. Sociólogos de outros países da América Latina, como Chile e Brasil, construíram redes similares que são mais geracionais que nacionais, o que torna possível falar de um crescimento da “sociologia econômica latino-americana”. Mais do que vangloriar sua própria identidade, essa subdisciplina regional está sincronizada com inovações teóricas e empíricas de outros lugares. 4 4 Graças, em parte, ao blog coletivo Estudios de la Economía, sociólogos latino-americanos (assim como antropólogos, estudiosos da administração, intelectuais dos estudos sobre ciência e tecnologia etc.) estão conectados e trocando, constantemente, ideias, novos trabalhos, novas leituras e, ao mesmo tempo, colaborando em pesquisas e na organização de conferências (Nelms 2014).

Antropologia e a nova sociologia econômica na Argentina

Os sociólogos da economia na Argentina se somaram ao ambiente transnacional e transdisciplinar na América do Sul, com laços fortes com a academia central. Esse contexto se tornou propício a uma nova reaproximação com a antropologia após anos de clivagem. Ao mesmo tempo, a configuração da nova sociologia econômica na Argentina favoreceu intensos intercâmbios entre antropólogos e sociólogos da economia, como pode ser visto nos eventos acadêmicos, na participação em redes transnacionais e nas publicações que ocorreram nos últimos quinze anos.

À luz desse processo, tem se formado uma comunidade internacional transdisciplinar de sociólogos e antropólogos da economia. Isto tem contribuído para a integração de sociólogos argentinos ao cânone de trabalhos e autores com um alinhamento menos rígido com a sociologia, os quais têm conduzido a versão regional da nova sociologia econômica. Algumas figuras-chave têm sido centrais nesse processo, “traduzindo” os clássicos da antropologia com uma “linguagem franca” em intercâmbios com sociólogos. Desde o início dos anos 1990, os laços entre antropólogos brasileiros e argentinos se intensificaram, em parte, graças ao número de pós-graduandos argentinos da área da antropologia que viajaram ao Brasil para estudar em universidades como a Universidade Nacional de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ (Seman & Grimson 2006GRIMSON, Alejandro & SEMÁN, Pablo. 2006. “Introducción. Antropología brasileña contemporánea. Contribuciones para un diálogo latinoamericano”. Journal of the World Anthropology Network, 2: 155-165.). Muitos professores brasileiros também visitaram a Argentina nos anos 1990 ( Visakowsky 2021VISACOVSKY, Sergio. 2021. "Lo Etnográfico y la Génesis de una Matriz Disciplinaria en la Antropología Social Argentina". Revista Del Museo De Antropología, v. 14:197-216.). Programas de cooperação entre os dois países receberam fundos governamentais que foram decisivos para a expansão e a consolidação desses laços. Em 2004, foi criado o Núcleo de Estudos em Cultura e Economia (Nucec), que tem como sede a Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela reconhecida antropóloga brasileira Lygia Sigaud e pelo antropólogo argentino Federico Neiburg, o qual havia se doutorado no Museu Nacional alguns anos antes. O grupo se tornou muito ativo na construção de uma rede extensa dos “estudos sociais da economia” no Cone Sul e na disseminação de ideias e conceitos da antropologia econômica, incluindo interpretações das obras clássicas da disciplina entre os participantes dessa rede. Os esforços do grupo coincidiram com uma forte tradição de encorajar a criação de laços internacionais entre professores, característica do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional - muitos dos quais obtiveram seus títulos em instituições de países centrais e mantiveram fortes conexões com essas universidades, acompanhando seus temas e discussões mais atuais ( Isola 2018ISOLA, Nicolás José. 2018. "Argentinos à Brasileira. A Circulação de Antropólogos Argentinos pelo Museu Nacional". Mana, 24:68-108.).

Federico Neiburg, por exemplo, publicou artigos pioneiros para o campo da antropologia do dinheiro na região ( Neiburg 2006NEIBURG, Federico. 2006. “Inflation: Economists and Economic Cultures in Brazil and Argentina”. Comparative Studies in Society and History, 48:604-33.), e contribuiu para que autores - tanto sociólogos 5 5 Em 2009, Neiburg e a socióloga argentina Mariana Luzzi escreveram o prólogo do primeiro livro de Viviana Zelizer traduzido e publicado na América Latina. como antropólogos - e teorias dos países centrais circulassem pela região. Seu envolvimento e reconhecimento pela academia central (na França, nos Estados Unidos, dentre outros) fizeram dele uma figura-chave no espaço transdisciplinar dos “estudos sociais da economia”. Por esta razão, Neiburg cumpriu um importante papel na consolidação dos intercâmbios entre sociólogos e antropólogos da economia no Cone Sul.

Sigaud foi outra figura-chave do Núcleo de Estudos em Cultura e Economia (Nucec). Na sua concepção da antropologia, o modelo normativo da ação política merecia fortes críticas. Muitos antropólogos brasileiros e argentinos aderiram a esse modelo, que era associado às ideias de cidadania e direitos. Nos dois países, esses modelos das ciências sociais criaram raízes no período em que a democracia era restaurada (1983, no caso da Argentina, e 1985, no caso do Brasil). Em um de seus textos mais citados, Sigaud se pergunta como os trabalhadores tomam decisões, tais como levar seus patrões à corte em um contexto favorável a esse tipo de ação judicial. O conhecimento da lei não explica esses processos; são as normas, as coerções sociais que influenciam os intercâmbios sociais e os interesses associados a eles. Sigaud se baseia em autores como Max Weber, Marcel Mauss, Bronislaw Malinowski, Norbert Elias e Pierre Bourdieu para argumentar que uma interpretação da ação social depende das interdependências, dos constrangimentos e das obrigações que conectam as pessoas (Sigaud 1996).

Na história da antropologia delineada nesse cânone transdisciplinar, Malinowski se aproximava mais de sociólogos como Norbert Elias do que de outros antropólogos anglófonos.

A interdependência que Elias descreve como inerente às relações sociais permite um exame das trocas como reciprocamente dependentes, ao destacar as coerções e os interesses individuais em jogo nessas relações, tal como notado anteriormente por Malinowski (1935 e 1961) e por Mauss (1991). Dimensões como essas foram negligenciadas por antropólogos anglófonos, os quais, desde Lévi-Strauss, as têm tratado como provas mecânicas do princípio da reciprocidade (especialmente Sahlins, 1974SAHLINS, Marshall. 1974. Stone Age Economy. London: Routledge.) ( Sigaud 1996 :385SIGAUD, Lygia. 1996. “Direito e coerção moral no mundo dos engenhos”. Estudos Históricos, 9:361-388.).

Sigaud estabeleceu essa distinção entre autores (tanto sociólogos como antropólogos) que contribuíram para uma antropologia das trocas sociais e autores que avançaram numa antropologia da reciprocidade mecânica (incluindo antropólogos que ofereceram uma interpretação unilateral do legado, tanto da obra The Gift como dos Argonautas) ( Sigaud 1999SIGAUD, Lygia. 1999. “As Vicissitudes do ‘Ensaio dobre o Dom’”. Mana. Estudos De Antropologia Social, 5.).

Diferente dos processos ocorridos na academia dos Estados Unidos, nenhum esforço intelectual foi feito para construir alianças com a ciência da economia, enquanto a nova sociologia econômica se formava na Argentina. Do mesmo modo, não existiu na Argentina o tipo de tradição intelectual que poderia ter levado a um nome forte de referência na antropologia, assim como ocorreu na França. Ao mesmo tempo, à medida que a formação da subdisciplina na Argentina não envolveu nenhuma demanda por poder ou tradição, se criaram condições propícias a um intercâmbio vigoroso com a antropologia. Os intelectuais argentinos foram, então, capazes de propor um conjunto de trabalhos baseados tanto na sociologia como na antropologia, no qual Os Argonautas compartilhava uma herança comum com obras como The Gift, The Court Society e Practical Reason.

Considerações finais sobre Os Argonautas: Um Novo Clássico para a Sociologia Econômica

Não é neutra a consolidação de um campo adâmico e a eleição dos trabalhos e dos autores classificados como “clássicos”, estes são fontes de legitimidade intelectual. Durante o processo de formação da nova sociologia econômica, Os Argonautas não foi considerado fonte de legitimidade intelectual nem nos Estados Unidos, tampouco na França. Nem na agenda dos Estados Unidos e no conceito de “embeddedness”, nem na agenda da França e na tradição de Mauss foram criadas condições favoráveis ao reconhecimento dos Argonautas como um clássico. Contudo, como demonstrado na história reconstruída aqui sobre as trocas entre sociólogos e antropólogos da economia no Conse Sul - com conexões com a academia central, mas operando com relativa autonomia -, seu status de clássico é um resultado social e histórico.

A antologia editada pelo sociólogo sueco Patrik Aspers e pelo sociólogo inglês Nigel Dodd reúne figuras preponderantes do campo, tanto nos Estados Unidos como na Europa, e fala sobre isso. Re-imaging Economic Sociology (2015) poderia ser considerado um livro de segunda geração, que não visa consolidar um campo, mas fazer uma retrospectiva do que tem ocorrido na sociologia econômica nas últimas décadas. Neste livro, cujo objetivo explícito é “revitalizar o papel da teoria na sociologia econômica”, o nome de Malinowski e as referências aos Agonautas se transformaram levemente em comparação com os livros de fundação do campo publicados nas duas décadas anteriores. Na introdução, os autores reconhecem a apreciação, relativamente tardia, dos fundamentos teóricos da sociologia econômica e o papel de Malinowski nessa tradição:

Primeiramente, os sociólogos da economia não definem a economia como uma dimensão separada da sociedade. Um autor pioneiro que merece ser considerado entre as figuras-chave da sociologia econômica clássica foi um antropólogo, Bronislav Malinowski (1922MALINOWSKI, Bronislaw. 1922. Argonauts of The Western Pacific: An Account of Native Enterprise and Adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. London: Routledge and Kegan Paul, Enhanced Edition Reissued Long Grove, Il/ Waveland Press.). Malinowski denominou o circuito do Kula como “a sociologia econômica trobriandesa” (Malinowski 1922:129). ( Aspers: Dodd & Anderberg 2015:4ASPERS, Patrick; DODD, Nigel & ANDERBERG, Ellinor. 2015. “Introduction”. In: P. Aspers & N. Dodd (orgs.), Re-Imaging Economic Sociology. Oxford: Oxford University Press. pp. 1-33.).

Um momento diferente da nova sociologia econômica, um novo lugar para Os Argonautas. Em um trabalho anterior, Patrick Aspers destacou a contribuição do clássico de Malinowski ao ressaltar como as redes sociais facilitam as transações comerciais ( Aspers 2011ASPERS, Patrick. 2011. Markets. Cambridge: Polity.). Se Os Argonautas merece ser uma figura-chave da sociologia econômica clássica, insisto, é preciso ir um passo além do que propõe Aspers. Isto implica mais do que avaliar se Os Argonautas é comparável aos trabalhos considerados como clássicos no passado para reconhecer a dimensão social da economia. Ao contrário, suas contribuições devem ser reconhecidas a fim de iluminar o desenvolvimento da nova sociologia econômica hoje.

Neil Fligstein (2015FLIGSTEIN, Neil. 2015. “What kind of Re-imagining Does Economic Sociology Need?”. In: P. Aspers & N. Dodd(orgs.), Re-Imaging Economic Sociology. Oxford: Oxford University Press . pp. 301-316.) falou de uma “estrutura intelectual da sociologia econômica”. Os seguintes “agrupamentos” compreendem essa estrutura: os estudos sobre as redes sociais (em torno do nome de Mark Granovetter), a perspectiva da política econômica (em torno do nome de Karl Polanyi), a sociologia cultural da economia (em torno do nome de Viviana Zelizer), e os estudos científicos focados na performatividade das teorias econômicas e na comensuração (em torno do nome de Michel Callon) (Wang 2012, citado em Fligstein 2015). Na análise do circuito do Kula, Os Argonautas traz não apenas um, mas todos os assuntos associados a esses “agrupamentos”. Em primeiro lugar, como nota Aspers, o Kula é um caso exemplar de como as redes sociais são construídas para fortalecer o comércio. Em segundo lugar, para a preocupação da sociologia cultural da economia com os conteúdos e os significados da ação econômica o estudo de Malinowski sobre a dimensão ritual e moral do Kula é uma referência primordial. Posteriormente, a autoridade dos chefes tribais e as alianças políticas intertribais na Nova Guiné (Melanésia) descritas nos Argnonautas se relacionam com a literatura sobre a dimensão política dos processos econômicos. Por fim, o papel performativo da magia como problemática das equivalências entre os presentes trocados no circuito do Kula serve como precedente para os estudos sobre a performatividade das teorias econômicas e a comensuração dos bens, das pessoas, dos serviços ou das partes do corpo.

A consolidação de um campo acadêmico desencadeia processos internos de diferenciação que constroem uma estrutura, mas acarretam risco à unidade do campo e à coerência de seu programa. A lição a ser aprendida da relação que a sociologia econômica tem cultivado com a célebre obra de Malinowski no Cone Sul consiste em reconhecer Os Argonautas como um clássico, a partir do qual a unidade e a coerência da sociologia econômica podem ser reimaginadas três décadas após seu renascimento.

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Notas

  • 1
    O rótulo de “nova” sociologia econômica começou a ser usado pela academia nos Estados Unidos nos anos 1980.
  • 2
    A editora espanhola Peninsula lançou a primeira versão em espanhol dos Argonautas em 1973, mais de cinquenta anos depois de sua publicação original em 1922.
  • 3
    Foram esforços alemães que levaram à publicação dos seguintes trabalhos de Margaret Mead: Coming of Age in Samoa (lançado em espanhol em 1945) e dois anos depois, Sex and Temperament in Three Primitive Societies. Em 1952, a editora Paidós lançou uma compilação dos trabalhos de Mead, intitulada Educación y Cultura (Blanco 2006).
  • 4
    Graças, em parte, ao blog coletivo Estudios de la Economía, sociólogos latino-americanos (assim como antropólogos, estudiosos da administração, intelectuais dos estudos sobre ciência e tecnologia etc.) estão conectados e trocando, constantemente, ideias, novos trabalhos, novas leituras e, ao mesmo tempo, colaborando em pesquisas e na organização de conferências (Nelms 2014).
  • 5
    Em 2009, Neiburg e a socióloga argentina Mariana Luzzi escreveram o prólogo do primeiro livro de Viviana Zelizer traduzido e publicado na América Latina.

Editado por

Editora-Chefe:

María Elvira Díaz Benítez

Editor Associado:

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Editora Associada:

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    17 Set 2022
  • Aceito
    25 Set 2023
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