Resumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre a centralidade da música nos rituais do Santo Daime. Nesta vertente religiosa de origem amazônica, algumas cerimônias atravessam a noite, com adeptos entoando centenas de cânticos de louvor. Um determinado hinário (conjunto de hinos cantado nessas ocasiões) pode ser interpretado como a biografia de seu dono, seja ele um líder ou um seguidor da religião. O foco do texto encontra-se na análise do "eu" narrador, muitas vezes presente nessas canções religiosas. A investigação prioriza a relação entre as letras cantadas, quase sempre narradas na primeira pessoa do singular, e o contexto ritual no qual são praticadas, envolvendo o uso coletivo da bebida Santo Daime, assim como a performance corporal-musical e a disposição espacial dos frequentadores do culto no salão da igreja daimista, onde existe nítida separação por gênero e faixa etária.
Palavras-chave:
Ritual; Música; Eu; Psicoativos; Ayahuasca; Santo Daime