Resumo
O objetivo foi compreender como ocorre o processo de ensino e aprendizagem dos saberes técnicos da Luta Marajoara no município de Cachoeira do Arari, Ilha de Marajó, Norte do Brasil. Em termos metodológicos, adotou-se a abordagem qualitativa e a Etnometodologia como método. Para a reunião dos dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez lutadores. Como resultado, evidenciou-se que a figura do vaqueiro contribui historicamente para a transmissão dos saberes que compõem a Luta Marajoara. Conclui-se que, em território cachoeirense, uma forma tradicional de ensinar e aprender os saberes técnicos da Luta Marajoara acontece no contexto de fazendas e por meio de uma “educação da atenção”, um processo que ocorre quando um lutador experiente mostra um saber técnico da luta ao lutador iniciante para que ele possa olhar, ouvir e imitar e, assim, aprender.
Palavras-chave
Luta Marajoara; Vaqueiros; Cachoeira do Arari; Ilha de Marajó
Abstract
The objective was to understand how the process of teaching and learning the technical knowledge of Marajoara Wrestling takes place in the municipality of Cachoeira do Arari, municipality on Marajó Island, Northern Brazil. In methodological terms, the qualitative approach and Ethnomethodology were adopted as the method. For data collection, semi-structured interviews were conducted with ten wrestlers. As a result, it was evident that the figure of the cowboy historically contributes to the transmission of the knowledge that makes up Marajoara Wrestling. It is concluded that, in the territory of Cachoeira do Arari, a traditional way of teaching and learning the technical knowledge of Marajoara Wrestling takes place in the context of farms and through an “education of attention”, a process that occurs when an experienced wrestler demonstrates a technical skill of the wrestling to a novice wrestler, allowing them to watch, listen, and imitate, and thus learn.
Keywords
Marajoara Wrestling; Cowboys; Cachoeira do Arari; Marajó Island
Resumen
El objetivo fue comprender cómo ocurre el proceso de enseñanza y aprendizaje de los saberes técnicos de la Lucha Marajoara en el municipio de Cachoeira do Arari, en la Isla de Marajó, en el norte de Brasil. En términos metodológicos, se adoptó el enfoque cualitativo y la Etnometodología como método. Para la recopilación de datos, se realizaron entrevistas semiestructuradas con diez luchadores. Como resultado, se evidenció que la figura del vaquero contribuye históricamente a la transmisión de los saberes que conforman la Lucha Marajoara. Se concluye que, en el territorio de Cachoeira do Arari, una forma tradicional de enseñar y aprender los saberes técnicos de la Lucha Marajoara tiene lugar en el contexto de las haciendas y a través de una “educación de la atención”, un proceso que ocurre cuando un luchador experimentado muestra un saber técnico de la lucha a un luchador principiante, para que éste pueda observar, escuchar y imitar, y así aprender.
Palabras clave
Lucha Marajoara; Vaqueros; Cachoeira do Arari; Isla de Marajó
1 INTRODUÇÃO1
A Luta Marajoara é uma modalidade de luta tradicional da Ilha de Marajó2, Norte do Brasil, que ocorre entre dois oponentes que devem iniciá-la de frente um para o outro, semi-agachados e usando um dos pés para tocar na lateral do pé contrário do adversário – posição denominada “Pés-Casados”. Sua forma tradicional exige, antes da posição inicial, que os lutadores cheguem a um consenso sobre quem aplicará o primeiro golpe. Seu desenvolvimento ocorre quando há uso de técnicas, força e outras habilidades para desequilibrar, carregar ou projetar o adversário de costas no solo. A finalização ocorre quando um dos lutadores suja as costas do adversário de areia, lama ou terra.
Recentemente declarada Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará3, a Luta Marajoara tem nas fazendas, quilombos, beira de rios, praias e festas populares, seus espaços mais tradicionais de prática. Estamos nos referindo a um dos principais patrimônios culturais do Marajó, com um poder capaz de atrair os olhares do mundo, como fez nos eventos de abrangência internacional do Ultimate Fighting Championship (UFC), quando os lutadores Iuri Marajó e Deivison Figueiredo, o “Deus da Guerra”, foram reconhecidos como praticantes da luta (Santos; Andrade; Freitas, 2023).
No cenário atual, a Luta Marajoara vem se difundindo principalmente por meio de torneios e campeonatos locais, que tem angariado praticantes de diferentes localidades da ilha, drenado multidões e restringido o uso de determinados golpes, como forma de beneficiar o espetáculo e os lutadores. Tais eventos esportivos deram início a uma organização e padronização das regras e técnicas da Luta Marajoara que contribuiu para a sua condução a um processo de esportivização4 (Andrade et al., 2023) que ganhou força nos últimos anos com o advento da Liga Brasil de Luta Marajoara e a gênese da Federação Paraense de Luta Marajoara (FPLM), cujo objetivo é oferecer organização estrutural à referida luta para incentivar sua ascensão (Engelhard Neto; Abrahin; Mocarzel, 2021, p. 54), a partir de propostas de trabalho que incentivam a sua esportivização (Santos; Andrade; Freitas, 2023). Propostas que, em consonância com os mencionados autores, podem desencadear o “envenenamento” da luta, isto é, uma adulteração e/ou eliminação de sua forma tradicional e histórica.
Vale destacar que, assim como outras lutas, a Luta Marajoara é permeada por múltiplos saberes. Saberes imbricados a diversos aspectos técnicos, históricos e culturais, como aqueles relacionados aos seus marcos de desenvolvimento ao longo do tempo, aos lutadores ancestrais, aos contextos tradicionais de luta, bem como aos símbolos, ações e termos da cultura marajoara associados, segundo Campos, Pinheiro e Gouveia (2019), à sua prática.
Assim sendo, em um combate tradicional de Luta Marajoara um conjunto de saberes técnicos podem ser empregados. Mas, afinal, como ocorre, nos contextos tradicionais de prática desta luta, o processo de ensino e aprendizagem de tais saberes? Essa foi uma das questões norteadoras da dissertação de mestrado intitulada “Saberes e diversão, educação e devoção: a Luta Marajoara na Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (PPGED/UEPA). A questão emergiu diante de uma lacuna de estudos em torno do processo de ensino e aprendizagem da Luta Marajoara, que pode ser justificada pela produção do conhecimento em torno desta luta ainda estar nos seus estágios iniciais (Lima; Pereira; Rufino, 2023).
A Luta Marajoara é, indubitavelmente, carente de mais pesquisas e não somente na área da Educação Física, nas diversas áreas, como forma de abranger a complexidade de sua prática. Pesquisas que contemplem suas dimensões de linguagem, educação, esporte, políticas públicas, saúde, tradição e história, cultura e identidade, técnica e estética, são urgentes e necessárias (Santos et al., 2024), incluindo as formas de ensino e aprendizagem dos seus saberes técnicos, os quais ocorrem em sua maioria em contextos não escolares.
Compreendendo, em conformidade com Brandão (2007), que educação está em tudo, em todo lugar e ninguém lhe pode escapar, uma vez que misturamos a vida com a educação, seja para aprender, para ensinar ou para aprender e ensinar, acreditamos que os contextos tradicionais da Luta Marajoara são notáveis espaços de educação. Investigá-los é uma tarefa indispensável atualmente, dada a busca por sua escolarização, isso para reconhecer os diversos aspectos que permeiam a sua prática, assegurando que não seja trabalhada na escola de maneira esvaziada, restringindo-se meramente aos seus fundamentos técnicos (Andrade; Carvalho, 2024). Nessa perspectiva, surge a presente pesquisa, cujo objetivo foi compreender como ocorre o processo de ensino e aprendizagem dos saberes técnicos da Luta Marajoara no município de Cachoeira do Arari, Ilha de Marajó.
2 INVESTIGAR A LUTA MARAJOARA EXIGE ATRAVESSAR O RIO
Para esta pesquisa, metodologicamente, adotamos uma abordagem qualitativa que, por sua vez, permite compreender profunda e detalhadamente os fenômenos sociais e as experiências das pessoas, tendo em vista que trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores, das atitudes (Minayo, 2016) e dos saberes, em suas dimensões grupais, comunitárias ou pessoais.
Em uma abordagem qualitativa, além de definir objetivos, pensar em possíveis participantes e preparar os instrumentos para a reunião dos dados, outra etapa essencial é a escolha do método. Nesta pesquisa, utilizamos como método a Etnometodologia, porém, ao adotá-la não pretendemos seguir todos os seus direcionamentos e imposições, mas sim um dos seus principais elementos: a consideração do contexto social do objeto de estudo. Isso para que conseguíssemos desenvolver uma pesquisa sem uma “camisa de força”, ao mesmo tempo sabendo que se tem a confiança de um método.
Na Etnometodologia, considerar o contexto social é fundamental. Garfinkel (2018) argumenta que as pessoas são capazes de interpretar e dar sentido às suas ações por meio da utilização de um conjunto de práticas e conhecimentos que são compartilhados dentro de um contexto social específico. Desse modo, o contexto pode ter influências significativas na maneira como as pessoas interpretam e respondem às situações em que se encontram. Ao considerar o contexto, a Etnometodologia propicia a compreensão mais completa e precisa das práticas sociais. Nesses termos, ao adotá-la como método, não podemos investigar a Luta Marajoara como um fenômeno isolado, mas como uma luta praticada dentro de um contexto específico.
Para a reunião dos dados, adotamos a entrevista semiestruturada, uma técnica de que se aplica a partir de um roteiro pré-estabelecido e, durante a sua aplicação, o entrevistador tem a possibilidade de formular outras perguntas, conforme as respostas do entrevistado e o contexto (Marcondes; Teixeira; Oliveira, 2010), ou seja, há flexibilidade na condução da entrevista, o que permite que o entrevistado exponha suas ideias de forma mais livre do que em uma entrevista estruturada.
Ao aplicarmos a entrevista semiestruturada, buscamos seguir algumas orientações de Flick (2009) que, tendo por base suas experiências, sugere que durante a entrevista não se deve tentar descobrir conceitos teóricos, mas sim a esfera de vida das pessoas, pois dependendo do entrevistado determinados conceitos são quase impossíveis de serem explorados. Esse pesquisador ainda sugere que o entrevistador precisa estar ciente de que as questões de pesquisa não são a mesma coisa que as perguntas da entrevista, e ao serem aplicadas, o entrevistador deve oferecer o máximo de espaço possível aos entrevistados para se sentirem à vontade e descobrirem suas opiniões, além de evitar a utilização de termos técnicos para se comunicar com o entrevistado.
O roteiro da entrevista foi elaborado em três momentos distintos: 1) identificação, 2) Luta Marajoara e 3) Festividade de São Sebastião, totalizando 15 perguntas abertas. No primeiro momento, foram feitas perguntas de caráter identificatório (nome, idade e endereço). No segundo momento, as questões direcionaram-se à prática da Luta Marajoara (trajetória na luta, motivações, aprendizado e relação com outros lutadores). Por fim, no terceiro momento, por ser o objeto da dissertação da qual este artigo foi extraído, investigou-se a participação na Festividade do Glorioso São Sebastião, buscando compreender a relação dos participantes com a festa, sua vivência e a presença da Luta Marajoara nesse contexto.
Nesta pesquisa, as entrevistas foram transcritas manualmente, isto é, os pesquisadores ouviram as gravações e digitaram todo o conteúdo, sem o uso de softwares automáticos de transcrição, o que garantiu que todas as falas dos participantes fossem registradas com fidelidade.
Os participantes da pesquisa são de Cachoeira do Arari, município localizado no centro da microrregião dos campos da Ilha de Marajó, à margem do rio Arari, fazendo divisa com Chaves, Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras e Santa Cruz do Arari. Cachoeira do Arari possui uma população estimada em 24.355 pessoas e uma área de 3.100,261 km², pertencente ao sistema costeiro-marinho e ao bioma da Amazônia, conforme dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Delimitamos Cachoeira do Arari por ser o lócus de pesquisa da dissertação de mestrado da qual este artigo foi extraído, cujo objeto de estudo é a Luta Marajoara praticada no contexto da Festividade do Glorioso São Sebastião do município em questão.
Para encontrar os participantes da pesquisa, utilizamos a técnica denominada bola de neve (snowball), que ocorre, segundo Vinuto (2014), quando recorre-se a informantes-chaves, nomeados como “sementes”, a fim de localizar pessoas com o perfil necessário para a pesquisa. As “sementes”, conforme o autor, ajudam o pesquisador a iniciar os seus contatos e a tatear o grupo a ser investigado. Em seguida, solicita-se que as pessoas indicadas pelas sementes forneçam novos contatos com as características desejadas e assim sucessivamente. Dessa forma, o quadro de amostragem pode crescer a cada entrevista até o objetivo da pesquisa ser alcançado ou até o quadro da amostragem tornar-se saturado. De acordo com Bernard (2005), a técnica bola de neve é particularmente útil para estudar populações cuja quantidade não é precisamente conhecida.
É pertinente destacar que para chegar até os participantes foi preciso atravessar o rio, isto é, a pesquisa nos exigiu o deslocamento até o município de Cachoeira do Arari. Durante uma viagem para Cachoeira, conhecemos o coordenador de um centro de treinamento de Luta Marajoara, que retornava do Rio de Janeiro, onde participou dos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s). Ao falarmos da pesquisa, ele prontamente se ofereceu para indicar alguns lutadores, tornando-se assim o primeiro informante-chave, a primeira “semente”. Foi ele que contribuiu para encontrarmos a maioria dos lutadores dispostos a nos conceder entrevistas. No total, tivemos a contribuição de duas “sementes”. É preciso pontuar que alguns lutadores indicados não puderam participar da pesquisa por não se encaixarem nos critérios apresentados a seguir.
Os critérios para participação na pesquisa foram os seguintes: 1) Ter praticado Luta Marajoara por pelo menos três anos; 2) Residir em Cachoeira do Arari; 3) Ter idade superior a 18 anos. Assim sendo, lutadores com tempo de experiência com a luta inferior a três anos, não residente no município em questão e/ou menor de idade não participaram do estudo. Com esses critérios, conseguimos entrevistar 10 lutadores – quantidade estabelecida em função da saturação dos dados –, cujo nome, idade, tempo de experiência com a Luta Marajoara (LM) e a data da entrevista podem ser visualizados no quadro 1.
Em relação aos nomes, foi dada a oportunidade dos participantes escolherem um pseudônimo para identificá-los no texto da pesquisa e assim alguns fizeram. Porém, outros decidiram ser reconhecidos pelo seu verdadeiro nome. Vale destacar que um dos participantes optou por incluir o título de “mestre” junto ao nome escolhido, um título atribuído àqueles lutadores mais experientes que além de dominarem muitos saberes relacionados à luta, os ensinam.
Ressaltamos que os dados analisados neste artigo integram a dissertação de mestrado da autora5, a qual adotou a técnica de Análise de Conteúdo, conforme as orientações metodológicas de Cardoso, Oliveira e Ghelli (2021), fundamentadas nos três polos cronológicos propostos por Bardin (2016): 1) pré-análise; 2) exploração do material; 3) tratamento dos resultados obtidos (inferência e interpretação). No processo analítico da dissertação, foram elaboradas categorias emergentes a partir dos dados reunidos, sendo que uma dessas (com dados sobre os processos educativos vivenciados pelos lutadores no contexto de fazendas) estruturou a construção dos resultados deste artigo.
Por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos, fez-se necessário submetê-la a um Comitê de Ética na Plataforma Brasil, que a aprovou sob o parecer n° 6.152.403. Da mesma forma, foi preciso considerar alguns outros cuidados éticos, a começar pelo que sugere Marcondes, Teixeira e Oliveira (2010), quando pontuam que os pesquisadores devem sempre informar a cada participante da sua pesquisa os objetivos, a metodologia e a forma de retorno dos resultados, bem como solicitar a assinatura de um indispensável documento: o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Assim, com o intuito de obter o consentimento em relação à participação na pesquisa, foi entregue aos participantes o TCLE. Sua aplicação permitiu situá-los sobre os objetivos e os instrumentos utilizados na pesquisa, a explicitação dos possíveis riscos e benefícios decorrentes da sua participação, o caráter voluntário, o sigilo da sua identidade, além da possibilidade de retirar o consentimento ou interromper sua participação a qualquer momento.
3 O ENSINO E APRENDIZAGEM DOS SABERES TÉCNICOS DA LUTA MARAJOARA EM FAZENDAS DE CACHOEIRA DO ARARI
No município de Cachoeira do Arari, a Luta Marajoara permeia a vida do povo de maneiras diversas e em contextos naturais/culturais variados. Nas fazendas da região, por exemplo, entretém os vaqueiros durante seus momentos de ócio, momento oportuno para compartilhar e aprender os saberes técnicos que a compõem, processo que tradicionalmente ocorre, conforme se verá adiante, de pai para filho.
Boulhosa (2016) identifica o vaqueiro como a figura humana mais conhecida no Marajó, sendo apresentado como tipo característico da região dos campos, o que decorre da importância da pecuária para a ilha e das contribuições dessas pessoas para o desenvolvimento dessa atividade econômica.
Os saberes dos vaqueiros e sua religiosidade, crenças e tradições, vale destacar, é resultado de recriações entre as populações de negros e indígenas, conclui Pacheco (2009) em sua tese que analisa as relações históricas produzidas nos encontros entre culturas de matrizes orais marajoaras, com matrizes letradas religiosas.
Dos saberes dos vaqueiros de Marajó, há uma contribuição significativa não somente para a construção e reconstrução dos saberes que permeiam a Luta Marajoara, como também, possivelmente, para a gênese desta luta, conforme será discutido adiante. A associação da luta com o búfalo, por exemplo, não tem outro endereço, a não ser o das fazendas da ilha, onde a relação com o animal acontece diariamente. É bem verdade que no Marajó muitas casas possuem búfalo de estimação, mas a relação íntima com o animal é, indubitavelmente, maior no trabalho árduo do vaqueiro, que chega até mesmo a enfrentar o animal:
Eu posso te falar da relação com o búfalo porque o vaqueiro tem esse convívio direto com esse animal. O vaqueiro luta de frente a frente com o búfalo. Tem vaqueiro que nem corre, o búfalo mete a cabeça e ele agarra mesmo o chifre, agarra na braba, já cansei de ver. O vaqueiro tem esse contato direto com o búfalo. Ele bate de frente com o búfalo. O cara agarra aqui na frente e outro já vem (segurando) no rabo e derruba (o animal). Ele (o vaqueiro) luta com o búfalo, literalmente.
(Mestre César, 2023).
A intimidade dos vaqueiros do Marajó com o búfalo é indiscutível. Em sua árdua rotina de trabalho na fazenda, despendem um tempo enorme, alimentando-os, domando-os em seus laços, curando-os, amansando-os, tirando seu leite, conversando sobre eles, ou apenas admirando-os. Uma das formas do vaqueiro marajoara expressar o seu saber-fazer está “[...] nas lançadas seguras quando disparam pelos campos a cavalos domados e inteligentes, atracando chifres curtos, no seu preciso golpe de vista, deixando ver coragem, previsão e conhecimentos dos instintos do gado” (Pacheco, 2009, p. 65). Esse conjunto de saberes e intimidade com o búfalo possivelmente deu origem ao que hoje conhecemos como Luta Marajoara, conforme sugere a versão mais compartilhada e bem aceita na tradição oral da região.
Quando um búfalo percebe que sua posição de liderança no rebanho está ameaçada, ele confronta seu rival abaixando a cabeça, emaranhando os chifres e mantendo os pés no chão. Nesse confronto, o búfalo que cair é considerado perdedor. Jesus e Assis (1997) e Assis (2010) explicam que, no contexto de Marajó, essa prática recebe o nome de “marrada”. A partir da observação desta prática, pontuam os autores com base na tradição oral e por motivos não muito bem explicados, os caboclos locais tentaram imitá-la, usando seus braços para derrubar o adversário, uma imitação que ficou conhecida como “agarrada”, termo criado para se referir a luta. Alguns lutadores cachoeirenses admitem essa inspiração e estabelecem comparação:
Dizem que a Luta Marajoara é comparada com a briga do búfalo, porque os búfalos (durante um embate) vem e ‘pá’, cabeça com cabeça. Aí (na Luta Marajoara), quando o oponente vai (atacar), ele realmente mete a cabeça e vai com a mão ali para tentar pegar a perna do oponente. Fica uma disputa como se fosse realmente dois búfalos brigando, só que não necessariamente usando somente a cabeça, mas também as mãos.
(Ademilton, 2023).
Originada da observação dos embates do búfalo ou não, é fato que a Luta Marajoara é percebida como tendo o contorno do búfalo brigando frente a frente com seu chifre, orgulhoso, difícil de ser “tombado”, com o dorso arqueado e olhando no olho. Em torneios, alguns lutadores vão além e se valem da criatividade para elaborar gestos de chifre com os dedos e cavar o chão como se estivesse avisando o oponente que está pronto para atacar, gestualidades que remetem ao búfalo.
Na Luta Marajoara, o búfalo ainda representa ampliações da personalidade do lutador, pelo menos no lado masculino. Ser comparado a um búfalo significa ser “forte”, “bravo” e “corajoso”, características que, conforme Rodrigues (2017), são as mesmas associadas ao desenho clássico da figura do vaqueiro marajoara. Um lutador cuja força está acima da sua condição, é por vezes comparado a um búfalo: “O símbolo da bandeira da nossa delegação é um homem carregando um búfalo, ou seja, é a Luta Marajoara representando a força do búfalo, uma mistura do búfalo com o homem, o homem marajoara” (Ademilton, 2023).
Como eu te falei, eu escutei ‘ih, rapaz, esse é acostumado a lutar com búfalo, esse é um búfalo na força’. Então a gente associa a força do búfalo com a força do marajoara. O búfalo é um símbolo do Marajó. Ele tem sim tudo a ver com a história da Luta Marajoara e do vaqueiro marajoara, porque o vaqueiro marajoara é aquele que pratica a Luta Marajoara. Então, não tem jeito, tu não pode tirar o búfalo dessa vivência, ele faz parte dessa história. Tirar ele é cortar um pedacinho da história. Ele pode não ser o marco principal, mas ele faz parte da história, não tem jeito.
(Mestre César, 2023).
O búfalo é, portanto, figura simbólica indissociável da prática da Luta Marajoara, assim como a figura do vaqueiro, que antes ou depois de assumir suas responsabilidades na criação, cuidado e manejo deste animal, no seu tempo de ócio, interessa-se por lutar.
Nas paisagens de areia, grama e lama das fazendas cachoeirenses, sob os olhares curiosos de búfalos, muitos vaqueiros lutam sob o crepúsculo matutino para aquecer o corpo antes de ir trabalhar: “A gente praticava sempre de manhã para esquentar o sangue. Era só por lutar mesmo, porque nesse tempo não existia federação de Luta Marajoara, como tem agora. A gente lutava mesmo para aquecer o corpo e ir para o serviço” (Antonio, 2023).
Nas fazendas de Cachoeira do Arari, a Luta Marajoara é também um meio para aquecer o corpo antes de tomar banho nas águas frias da região e uma forma de educar a criança para ser forte, ágil, resiliente e com força de vontade. Sua prática pode ainda ocorrer ao final da tarde, no tempo livre do vaqueiro, depois de passar o dia vaqueirando:
Os meus avós sempre trabalharam em fazenda e quando a gente era moleque, no finalzinho da tarde a gente sempre praticava (a Luta Marajoara), desde moleque. O mais prático era tu conseguir pegar a perna do teu adversário e tombar ele. (Mario, 2023).
Porque a gente foi criado assim. Papai sempre antes do banho mandava a gente dar uma agarrada, era a Luta Marajoara. Sem briga, sem nada. Aí a gente vai se espertando, aprendendo a se defender. A gente também não pode se criar muito mole, que se não já sabe, né? A luta ajuda, a gente tem que ter esse exercício. E deu certo. Pra mim deu certo. (José, 2023).
As fazendas de Cachoeira do Arari são, assim, espaços tradicionais de prática da Luta Marajoara, uma manifestação cultural que nesse contexto é transmitida principalmente de pai para filho, um aprendizado que ocorre então pela convivência, por vezes grupal, à medida que envolve tios, primos, avôs e vizinhos residentes em outras fazendas, uma interação comum em diversos momentos, a exemplo do período de apartação do gado6, um trabalho que, segundo Rodrigues (2017), promove interação social entre os vaqueiros de distintas fazendas, que se reúnem por semanas, constroem relações interpessoais, estabelecem laços de camaradagem e sociabilidade.
É dessa interação com os companheiros, com quem compartilham as experiências cotidianas na labuta do serviço, que os seus filhos têm a oportunidade de aprender os saberes que permeiam a Luta Marajoara: “Foi incentivo do meu pai na fazenda, aí chegava o vizinho da outra fazenda e trazia os filhos dele e chamava a gente pra lutar, a gente lutava com fulano e tinha que ir lutar cedo, pé-casado mesmo” (Cláudio, 2023).
Eu lutava com meus primos, com meus amigos de outras fazendas. A gente lutava também porque tinha filho de vaqueiro que se achava melhor lutador, aí a gente praticava, lutava contra o filho dos outros vaqueiros. (Antonio, 2023).
Eu era fã do meu pai. Ele lutou a vida toda. Ele largava um prato de comida, se o cara chamasse, e ia lutar naquela hora ali. Ele trabalhou em muitas fazendas, sempre em Cachoeira do Arari. Fazenda Anajás, Fazenda Bom Jardim, Fazenda Beleite, todas aqui na região de Cachoeira. Assim, a gente começa a aprender a lutar desde criança, porque é uma cultura dos pais. O meu pai bebia com outros vaqueiros e era aquela coisa de mandar os filhos lutarem para eles se divertirem, a ideia era essa. Então a gente lutava enquanto eles ficavam achando graça. A gente chorava e voltava para lutar, porque eles diziam que perder era normal. Então tinha isso, era cultural. E por isso que eu te digo que o marajoara ele luta, ele já tem esse dom, porque os pais já ensinam desde cinco, seis anos, a gente já começa a brincar de lutar.
(Mestre César, 2023).
Tendo por base a concepção de educação de Brandão (2007), que nos diz que a educação está em tudo, em todo lugar e ninguém lhe pode escapar, podemos dizer que as fazendas cachoeirenses são, portanto, espaços notáveis de educação para ensinar e aprender os saberes da Luta Marajoara. São “escolas” onde o saber-observar é fundamental e boa parte do ensino é coletivo, pois os pais, avôs, tios e amigos ensinam seus filhos, netos, sobrinhos e vizinhos, desempenhando papel preponderante: “Foi assistindo os adultos lutarem na fazenda. O pessoal colocava a gente para lutar. Eu lutava com meus amigos, meus vizinhos, meus primos” (Augusto, 2023); “Meu pai praticava a ‘agarrada’. A gente via ele lutar. A pessoa que mora em fazenda, a primeira coisa que aprende é lutar. Então eu aprendi vendo e venho lutando desde então” (Antonio, 2023); “Eu via meus irmãos lutarem. Quando eles iam lutar eu assistia, aí eu ia pegando. Quando eu vim da fazenda pra cá (Cachoeira do Arari) eu já sabia o que era a Luta Marajoara, aí como eu agora eu moro aqui eu continuei” (Cláudio, 2023); “Só de ver alguém (lutando) a gente já sabe. Vim morar pra cidade, continuei a praticar com os amigos no quintal de casa, na beira do campo de futebol e assim a gente foi aprendendo a Luta Marajoara” (Ademilton, 2023).
Na verdade, a Luta Marajoara a gente traz de berço. Desde criança a gente já vai aprendendo. Vem passando de geração em geração, de tios, avós, entendeu? Os meus pais lutavam, meus avós, meus tios. A gente vai vendo, vai aprendendo. Na festividade de São Sebastião eu participo desde criança. Os meus pais me traziam e a gente ia crescendo, querendo ou não, com aquela influência deles. A gente vai vendo os nossos amigos, vizinhos, os nossos pais. Inclusive eles participavam dos eventos. Aí vai passando de geração para geração e não tem como fugir.
(Mario, 2023).
A partir dos relatos, podemos dizer que uma das formas de aprender os saberes técnicos da Luta Marajoara ocorre mediante a observação e imitação dos movimentos dos lutadores mais experientes. Esta forma de educação é o que Ingold (2010) defende como “educação da atenção”, um tipo de aprendizagem que ocorre a partir da cópia das atividades, não no sentido de transcrição automática de um conteúdo mental de uma cabeça para outra, mas sim de seguir o que as outras pessoas fazem. Envolve um misto de imitação e adaptação, tendo em vista que “copiar é imitativo, na medida em que ocorre sob orientação” (Ingold, 2010, p. 21).
De acordo com o teórico supracitado, a educação da atenção não é um processo de transmissão de informação, mas de redescobrimento dirigido. Nesse processo, o aprendizado ocorre mais precisamente pela noção de “mostrar”, isto é, ocorre quando uma pessoa (tutor) mostra alguma coisa a outra pessoa (iniciante), para que ela possa olhar, ouvir ou sentir e, assim, aprender sobre aquela coisa:
O processo de aprendizado por redescobrimento dirigido é transmitido mais corretamente pela noção de mostrar. Mostrar alguma coisa a alguém é fazer esta coisa se tornar presente para esta pessoa, de modo que ela possa apreendê-la diretamente, seja olhando, ouvindo ou sentindo. Aqui, o papel do tutor é criar situações nas quais o iniciante é instruído a cuidar especialmente deste ou daquele aspecto do que pode ser visto, tocado ou ouvido, para poder assim ‘pegar o jeito’ da coisa. Aprender, neste sentido, é equivalente a uma ‘educação da atenção’.
(Ingold, 2010, p. 21).
Esta forma de educação parece desempenhar um papel significativo para a Luta Marajoara, pois contribui para perpassá-la de uma geração para a outra, um processo que auxilia na sua (re)construção, ampliando e aprimorando os seus saberes, isso porque a “educação da atenção” não ocorre apenas por meio da enculturação, isto é, da assimilação das representações culturais de uma geração anterior, mas sim por meio de um processo de habilitação, que implica em capacitar e desenvolver habilidades por parte da nova geração, permitindo que alcancem e ultrapassem a sabedoria da geração anterior:
É através de um processo de habilitação (enskilment), não de enculturação, que cada geração alcança e ultrapassa a sabedoria de suas predecessoras. Isto me leva a concluir que, no crescimento do conhecimento humano, a contribuição que cada geração dá à seguinte não é um suprimento acumulado de representações, mas uma educação da atenção.
(Ingold, 2010, p. 7).
Por meio de uma educação da atenção e possivelmente mediante outras formas de ensino e aprendizagem, a Luta Marajoara tem sido lapidada e ressignificada. Se antes era concebida como uma simples imitação do confronto entre búfalos, por exemplo, com o passar do tempo alcançou o status de luta, com seus próprios golpes e regras, construídos e reconstruídos a partir de cada geração de lutadores que a praticou. Se hoje tem sido induzida a um processo de esportivização, isso decorre dos interesses da nova geração de lutadores.
As construções e reconstruções contemporâneas da Luta Marajoara, como ser transformada em esporte, para alguns lutadores significa manter viva e disseminar a tradição de prática da Luta Marajoara, pelo menos no centro urbano onde muitos vivem atualmente: “Olha, o torneio foi criado em 2002, então têm pessoas que já conheceram a Luta Marajoara a partir do torneio” (Ademilton, 2023). De certa forma, o processo de esportivização parece, até certo ponto, ter contribuído para a Luta Marajoara ser cada vez mais vista e apreciada na grande ilha, angariando, por meio de eventos esportivos, lutadores de localidades que antes não a praticavam.
Desse cenário, é possível destacar que existe uma nova geração de lutadores urbanos que já não passa pela longa formação pela qual passava a criança da fazenda. Essa nova geração aprende a lutar a partir de centros de treinamento voltados às competições e só luta quando sente afinidade.
Em muitos casos, cabe destacar, netos de vaqueiros não demonstram mais qualquer interesse pela herança de luta dos pais e avôs, preferem se entreter e se envolver com os conteúdos transmitidos e compartilhados na televisão e na internet, possível consequência do que Hall (2003) concebe como forças dominantes de homogeneização cultural, um processo em que o desenvolvimento de hábitos e uso de símbolos de outras culturas importadas e de modernidades não-vernaculares, tornam-se mais recorrentes do que tradições da cultura local, ao ponto de esterilizá-las. Um dos lutadores admite:
Eu comecei a praticar com sete anos de idade. Quando a gente mora na fazenda [...], mesmo aqui (em Cachoeira do Arari), a gente começa a praticar bem cedo, hoje mudou um pouco porque as crianças já não são da época de antes. Hoje a criança fica mais dentro de casa, tem televisão, a televisão se tornou acessível para muita gente, tem os brinquedos, tem o celular que prende muito a criança dentro de casa, mas na minha época, eu nasci numa fazenda, de lá a gente ia visitar outras fazendas onde tinha garotos da nossa idade e aí com incentivo dos nossos pais, dos irmãos mais velhos a gente praticava a Luta Marajoara.
(Ademilton, 2023).
Tal realidade nos revela que o povo de Marajó, assim como a maioria dos povos da Amazônia, não está isolado no tempo e no espaço; ao contrário, sempre estabeleceram relações de trocas materiais e simbólicas entre si, com as comunidades vizinhas e com os agentes mediadores das culturas, tanto no mundo rural quanto urbano, e em escala global (Fraxe; Witkoski; Miguez, 2009). Em concordância com os referidos autores, é preciso considerar que as manifestações culturais do povo marajoara se expandem pelo mundo urbano e vice-versa, e mesmo que mantenham certas manifestações tradicionais em suas vidas cotidianas, não podemos afirmar que esses grupos sociais não estejam envolvidos em um processo progressivo de diferenciação e transformação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que, no contexto das fazendas de Cachoeira do Arari, a figura do vaqueiro contribui historicamente para o ensino e aprendizagem dos saberes técnicos que compõem a Luta Marajoara, principalmente por via de uma “educação da atenção”, um processo que ocorre quando um lutador experiente mostra um saber técnico da luta ao lutador iniciante para que ele possa olhar, ouvir e imitar e, assim, aprender. Assim sendo, a Luta Marajoara em Cachoeira do Arari pode ser considerada uma herança que o vaqueiro lutador deixa para o seu filho. No cenário atual do município, por outro lado, destacamos que outros ambientes também contribuem no compartilhamento e transmissão dos saberes técnicos da Luta Marajoara, como festas populares e centros de treinamento voltados às competições. Desse último cenário, é pertinente ressaltar que há uma nova geração de lutadores urbanos que não passa mais pela longa formação pela qual passavam as crianças da fazenda, o que não somente evidencia transformações no ensino e aprendizagem da Luta Marajoara e de influência de um processo de urbanização e esportivização, mas também indica a necessidade de ampliar as pesquisas em torno desta luta.
DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA
Não informado o uso de dados.
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FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
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ÉTICA DE PESQUISA
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Faculdade Integrada Brasil da Amazônia. Número na Plataforma Brasil CAAE: 6.152.403.
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COMO REFERENCIAR
ANDRADE, Welison Alan Gonçalves; CARVALHO, Nazaré Cristina. Ensino e aprendizagem da Luta Marajoara em Cachoeira do Arari. Movimento, v. 31, p. e- …. jan./dez. 2025. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.144980.
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O artigo é um recorte da dissertação de mestrado intitulada “Saberes e diversão, educação e devoção: a Luta Marajoara na Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará. Disponível em: https://propesp.uepa.br/ppged/18a-turma/ Acesso em: 18 fev. 2025.
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2
Denomina-se Marajó (do tupi mbara-yó, que significa “anteparo do mar”) tanto o arquipélago quanto a sua maior ilha (Schaan, 2009). A Ilha de Marajó é a ilha fluviomarítima de maior extensão territorial do mundo, com 48.000 km², um território maior que o da Suíça, que delimita 16 municípios. É a ilha mais habitada do Arquipélago do Marajó, um complexo flúvio-marinho composto por dezenas de ilhas localizadas na porção do litoral amazônico conhecida como golfão marajoara. Além da Ilha de Marajó, as mais habitadas do arquipélago são as ilhas de Mexiana, Caviana, dos Porcos, Mututi e Uituquara (Amaral et al., 2007).
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Em 2022, a Luta Marajoara foi declarada Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará pela Assembleia Legislativa do Pará, mediante a aprovação do projeto de lei nº 6/2021. (Pará, 2021)
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4
Entende-se por esportivização o processo de transformação de uma prática corporal, originada em contexto não competitivo, em modalidade esportiva, a partir da incorporação dos códigos do esporte de rendimento, tais como: definição de regras oficiais e institucionalização (González, 2014).
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“Saberes e diversão, educação e devoção: a Luta Marajoara na Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari”, disponível em: https://propesp.uepa.br/ppged/18a-turma/ Acesso em: 18 fev. 2025.
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Trabalho coletivo dos vaqueiros de todas as fazendas, a fim de separar o gado pertencente a uma determinada fazenda que acabou se misturando com o rebanho de outras fazendas durante o verão.
REFERÊNCIAS
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Editado por
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RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga* https://orcid.org/0000-0002-6881-1446Elisandro Schultz Wittizorecki* https://orcid.org/0000-0001-7825-0358Mauro Myskiw* https://orcid.org/0000-0003-4689-3804Raquel da Silveira* https://orcid.org/0000-0001-8632-0731* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
27 Out 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
03 Jan 2025 -
Aceito
22 Abr 2025 -
Publicado
29 Set 2025
