Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar o desenvolvimento do futebol de mulheres no Brasil considerando as transformações nos clubes e no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino desde sua criação até os dias atuais. Utilizando uma abordagem de métodos mistos, foram coletados dados referentes à participação e desempenho dos clubes na competição, e a participação de treinadoras na liderança dessas equipes. Também foram realizadas entrevistas com cinco gestores e gestoras de equipes participantes da série A1. Os resultados mostram um aumento da competitividade do campeonato, refletindo um maior suporte para o desenvolvimento das jogadoras. Entretanto, os achados também são alarmantes em relação às disparidades regionais. Encontramos uma maior participação de mulheres em cargos de liderança, embora a igualdade numérica e melhores condições de trabalho não tenham sido alcançadas. Esse estudo possibilita compreender os avanços atuais e desafios para o futuro na promoção de um futebol com mais equidade.
Palavras-chave
Gênero; Esportes; Liderança; Desempenho
Abstract
This study aimed to analyze the development of women's football in Brazil considering the transformations in the clubs and the Brazilian Women’s Football Championship from its inception to the present day. Using a mixed-methods approach, data were collected on the participation and performance of clubs in the competition, as well as the involvement of female coaches in leading these teams. Interviews were also conducted with five male and female managers of teams participating in the A1 series. The results show an increase in the competitiveness of the championship, reflecting greater support for the development of female players. However, the findings are also alarming regarding regional disparities. A higher representation of women in leadership positions was observed, although numerical equality and better working conditions have yet to be achieved. This study provides insights into current progress and future challenges in promoting a more equitable football landscape.
Keywords
Gender; Sports; Leadership; Performance
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo analizar el desarrollo del fútbol femenino en Brasil considerando las transformaciones en los clubes y en el Campeonato Brasileño de Fútbol Femenino desde su creación hasta la actualidad. Utilizando un enfoque de métodos mixtos, se recopilaron datos relacionados con la participación y el desempeño de los clubes en la competición, así como la participación de entrenadoras em el liderazgo de estos equipos. También se realizaron entrevistas con cinco gestores y gestoras de equipos participantes en la serie A1. Los resultados muestran un aumento en la competitividad del campeonato, lo que refleja un mayor apoyo al desarrollo de las jugadoras. Sin embargo, los hallazgos también son alarmantes con respecto a las disparidades regionales. Se encontró una mayor participación de mujeres en puestos de liderazgo, aunque no se ha logrado la igualdad numérica ni mejores condiciones laborales. Este estudio permite comprender los avances actuales y los desafíos futuros para promover un fútbol más equitativo.
Palabras clave
Género; Deportes; Liderazgo; Desempeño
1 INTRODUÇÃO
A prática do futebol por meninas e mulheres têm recebido crescente atenção da mídia, cientistas e profissionais responsáveis pelo ensino e gestão do esporte no Brasil (Barreira et al., 2018; Beirith; Araldi; Folle, 2021; Januário; Knijinik, 2022; Januário; Leal, 2024; Silva; Moreira, 2024). A modalidade tem se popularizado principalmente nos últimos anos em decorrência das exigências de organizações esportivas. Entre elas, podemos destacar a regra de licenciamento da Confederação Sul-americana de Futebol (CONMEBOL), divulgada em 2016 e implementada em 2019, que exigiu que os clubes participantes de competições internacionais tivessem equipes de mulheres (Barreira et al., 2020; Januário; Knijinik, 2022; Pereira; Schimanski, 2024; Sena et al., 2024). Posteriormente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ampliou essa exigência ao Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino, mobilizando clubes de todo o país. Essas medidas regulatórias promoveram importantes avanços no futebol de mulheres no contexto brasileiro como os recordes de público em estádios (Corinthians, 2024), o aumento no número de competições para categorias adultas e de base, e a recente escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2027 (Brasil, 2024). No entanto, apesar dessas conquistas, há uma ausência de estudos que tenham investigado as transformações estruturais e organizacionais nos clubes, bem como no panorama competitivo do futebol brasileiro. Compreender como essas mudanças regulatórias têm impactado o futebol de mulheres no Brasil é fundamental para avaliar o impacto de longo prazo dessas iniciativas e garantir o crescimento sustentável da modalidade.
Analisar as mudanças ocorridas em um sistema esportivo ao longo do tempo envolve múltiplas dimensões e desafios. Isso se deve ao fato de que o esporte, especialmente o futebol no Brasil, é influenciado por uma série de fatores interconectados, como políticas esportivas, dinâmicas sociais e construções de gênero (Houlihan, 2013). Neste estudo, direcionamos nossa análise aos clubes brasileiros que se encontram no centro das transformações recentes decorrentes das políticas impostas pela CBF e pela CONMEBOL e que representam a base do sistema esportivo no país (Galatti, 2010). Ao fortalecerem e regulamentarem os clubes, essas entidades reguladoras procuram fomentar o desenvolvimento do esporte de maneira estruturada e sustentável, promovendo melhores condições de formação para as jogadoras. Nesse sentido, um dos principais pontos de análise é o crescimento do número de clubes que passaram a ter categorias adultas de mulheres competindo em campeonatos nacionais de futebol. Se as novas políticas esportivas foram eficazes, é esperado um aumento significativo nesse número nos últimos anos. No entanto, é importante destacar a preocupação com uma possível concentração de equipes da região sudeste, como já apontado por estudos anteriores, e um desfavorecimento de regiões e clubes que, historicamente, investiram no futebol de mulheres desde as primeiras edições do Campeonato Brasileiro (Accocella et al., 2023; Sena et al., 2024).
Outro aspecto importante a ser avaliado no processo de desenvolvimento esportivo é o desempenho das equipes, pois ele representa um indicador direto da eficácia do processo de formação e treinamento das jogadoras (Green, 2005). A melhora do desempenho competitivo dessas equipes possibilita que os jogos se tornem mais desafiadores e atraentes, aumentando o interesse do público e a popularização da modalidade. Isso, por sua vez, cria um ciclo virtuoso em que a maior atratividade e visibilidade pode atrair mais investimentos, melhores condições de treinamento e mais oportunidades para as atletas (Di Simone; Zanardi, 2021). Entretanto, essa melhoria está diretamente associada à possibilidade de se dedicar integralmente ao treinamento e ao oferecimento de estruturas físicas adequadas, comissões técnicas qualificadas e competições de qualidade às jogadoras (De Bosscher et al., 2006). Historicamente, as jogadoras não conseguiam se sustentar exclusivamente pela prática esportiva (Haag, 2018), uma realidade que, segundo estudos recentes, tem apresentado sinais de mudança (Martins; Delarmelina; Souza, 2023). Em relação às estruturas e suportes oferecidos, as jogadoras foram, por muito tempo, dependentes das parcerias com prefeituras devido ao desinteresse por parte dos clubes esportivos (Souza Júnior, 2013). O estudo recente de Pereira e Schimanski (2024) evidenciou que na parceria entre o Foz Cataratas e o Athletico Paranaense, as condições estruturais e o suporte técnico permaneceram precários. A pesquisa revelou que, apesar do aumento no número de times de mulheres, muitas parcerias ocorreram apenas para "cumprir o protocolo", sem garantir melhorias na infraestrutura ou na profissionalização dessas atletas de alto rendimento, o que compromete o desenvolvimento delas na modalidade (Pereira; Schimanski, 2024). Diante desse cenário, é importante analisar se esses aspectos – dedicação integral, infraestrutura e suporte técnico – estão sendo oferecidos às jogadoras possibilitando seu desenvolvimento integral.
Ao analisar especificamente as comissões técnicas, um aspecto importante é a presença de mulheres em cargos de liderança, mais especificamente no papel de treinadoras (Barreira, 2021). Esse é um dos cargos de maior desequilíbrio de gênero no futebol (Passero et al., 2020). Embora as políticas esportivas recentes possam incentivar um aumento da participação de meninas e mulheres como jogadoras, sua inserção em posições de liderança ainda gera incertezas, especialmente ao considerar as consequências de uma política esportiva similar proposta no território norte-americano. A Title IX, lei americana criada em 1972, exigiu que todo investimento realizado no esporte pelo sistema educacional do país fosse igual para homens e mulheres. Essa política impulsionou a participação de mulheres no esporte e consolidou o sucesso das atletas americanas em competições internacionais. Entretanto, ao mesmo tempo, a proporção de mulheres treinadoras diminuiu significativamente, de 90% para 43% ao longo de 35 anos após a implementação da lei (Acosta; Carpenter, 2012). Para as estudiosas do tema, esse fenômeno ocorreu porque, à medida que os esportes praticados por mulheres ganham visibilidade e recursos, homens passam a demonstrar maior interesse em desenvolver carreiras nessas modalidades (Acosta; Carpenter, 2012). Portanto, a experiência dessa política esportiva no contexto norte-americano alerta para possíveis consequências negativas na participação de mulheres em cargos de liderança no cenário brasileiro.
Dentro desse contexto, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino tem desempenhado um papel central no desenvolvimento da modalidade, sendo escolhido como objeto de análise deste estudo por representar a principal competição nacional. No entanto, sua trajetória foi marcada por descontinuidades e transformações significativas. Em 1994, foi criado o Campeonato Nacional Brasileiro de Futebol Feminino, que substituiu a Taça Brasil de Clubes. Entretanto, a competição foi descontinuada entre 2002 e 2005. Em resposta a essa lacuna, a CBF lançou, em 2007, a Copa do Brasil de Futebol Feminino, que se tornou a principal disputa do país naquele período. Somente em 2013, com o fortalecimento de parcerias econômicas e maior envolvimento da CBF, o Campeonato Brasileiro foi oficialmente estabelecido, se consolidando como a principal referência para o futebol de mulheres de alto rendimento no Brasil (Sena et al., 2024). A expansão gradual do campeonato nos anos seguintes também levou à descontinuação de outras competições nacionais, como a Copa do Brasil de Futebol Feminino, que foi encerrada em 2016. Compreender as mudanças estruturais e organizacionais do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino permite analisar o impacto das regulamentações e dos investimentos no crescimento da modalidade, na inclusão de novas equipes e no desenvolvimento das jogadoras.
Portanto, este estudo tem como objetivo analisar as transformações estruturais e organizacionais no futebol de mulheres no Brasil, considerando a participação, o desempenho esportivo e a presença de mulheres em cargos de liderança nos clubes do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Particular atenção é dada ao impacto das exigências da CBF e da CONMEBOL na estrutura da modalidade, refletindo sobre seus avanços, desafios regionais e implicações para o desenvolvimento sustentável do esporte.
2 MÉTODOS
2.1 POSICIONAMENTO
Esse estudo foi desenvolvido por um grupo de autoras engajadas em estudos e práticas que possibilitam a maior participação de meninas e mulheres no futebol e nos esportes em geral. A diversidade de papéis ocupados por elas foi importante para o debate e reflexão sobre os dados. A primeira autora é uma professora universitária e há mais de 10 anos investiga a participação e o desempenho de meninas e mulheres no futebol. A segunda autora é aluna de mestrado em Educação Física, tem experiência como jogadora de futebol no Brasil e nos Estados Unidos, e realizou pesquisas nacionais e internacionais sobre a temática. A terceira autora é graduanda em Educação Física com experiência como jogadora de futebol em categorias de base e atua atualmente como treinadora de futebol para mulheres. A quarta autora também é aluna de mestrado, investigando o desenvolvimento de carreira das jogadoras de futebol de alto rendimento no país. Ela tem uma experiência como treinadora e analista de desempenho no futebol de mulheres. A quinta autora é uma gestora do futebol de mulheres com passagem por importantes clubes e organizações esportivas no Brasil. Todas as autoras compartilham o sentimento de luta pelo desenvolvimento do futebol de mulheres dentro e fora do campo. Entendemos que a ciência é uma potente ferramenta para produção de conhecimento, desenvolvimento do pensamento crítico e interlocução com a prática considerando a promoção de um esporte mais inclusivo, diverso e equalitário.
2.2 DESENHO
Esse estudo utilizou os métodos mistos, mais especificamente a estratégia transformativa concomitante, para a coleta de dados (Creswel, 2010). Os dados quantitativos foram coletados em plataformas online e representam a quantidade de equipes com categorias adultas de futebol de mulheres participantes do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino e seu desempenho nessa competição, mensurado pelos gols durante as partidas. Também compuseram os dados quantitativos a frequência de treinadoras participantes dessa competição. Buscando analisar o impacto das recentes políticas esportivas nas variáveis apresentadas anteriormente, definimos como intervalo de análise o período de 2013 a 2023. O ano inicial corresponde à primeira edição do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino e o ano final à edição mais recente no momento de realização do presente estudo. Por fim, os dados qualitativos foram coletados a partir de entrevistas realizadas com gestores e gestoras de clubes que disputavam o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino A1 em 2023. As entrevistas possibilitaram complementar os dados qualitativos e explorar com mais profundidade as mudanças ocorridas no cenário brasileiro. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (CAAE: 82887118.3.0000.5404).
2.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS
2.3.1 EQUIPES
Para analisar as equipes que participaram do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de 2013 a 2023 foram acessadas as informações disponíveis de cada edição no site oficial da CBF (www.cbf.com.br). Para cada ano foram coletados os nomes das equipes e sua localização geográfica no país. A partir dessas informações foi possível calcular a frequência absoluta e percentual das equipes ingressantes ao longo das edições, assim como sua distribuição nas diferentes regiões do país.
2.3.1 DESEMPENHO
O desempenho esportivo das equipes foi analisado a partir da diferença de gols entre as equipes (Scelles; Andreff, 2019). Uma planilha de Excel foi criada para a tabulação dos gols realizados pelas equipes em todos os jogos de 2013 a 2023. Todos os dados foram coletados no site oficial da CBF (www.cbf.com.br). A partir dos placares, foi possível calcular a diferença de gols por partida. Essa variável foi utilizada como um indicador de competitividade, ou seja, placares mais elásticos indicariam um campeonato menos competitivo e placares mais próximos revelariam um desempenho mais equilibrado entre as equipes. Depois de 2017, a partir da criação das novas séries para a competição nacional, foram analisados somente os jogos da série A1.
A comparação da diferença de gols entre todas as edições foi realizada utilizando o teste de Kruskal-Wallis (Callegari-Jacques, 2009). A máxima diferença de gols ao longo das edições foi analisada pelo coeficiente de correlação de Spearman (Callegari-Jacques, 2009). O nível de significância foi estabelecido em p<0,05.
2.2 TREINADORAS
Para analisar a participação de mulheres nos cargos de comissão técnica e gestão, coletamos as informações disponibilizadas no site oficial dos clubes que disputaram a série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino no período de 2019 a 2023. Os dados complementaram a análise anterior realizada por Passero et al. (2020) que incluía o período de 2013 a 2018. A análise dos dados foi realizada utilizando frequências relativas e gráfico de dispersão.
2.3 ESTRUTURA DOS CLUBES
Para compreender as mudanças ocorridas nas estruturas internas dos clubes que participam do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, realizamos entrevistas com um gestor e quatro gestoras de cinco equipes da Série A1 no ano de 2023, maiores de 18 anos, convidados a partir de um processo de seleção por conveniência. A escolha dessas(es) interlocutoras(os) se deu pelo papel central que exercem na tomada de decisões estratégicas dos clubes, sendo responsáveis pela gestão financeira, administrativa e esportiva das equipes. A perspectiva dessas(os) profissionais é essencial para compreender os desafios enfrentados pelos clubes na adaptação às regulamentações da CBF e CONMEBOL, bem como os impactos dessas políticas no desenvolvimento da modalidade.
O primeiro passo foi entrar em contato com essas pessoas explicando os objetivos do estudo e, posteriormente, foram agendadas as entrevistas a serem realizadas de forma remota. Durante o contato, pedimos autorização para utilizar as falas de forma anônima, garantindo a confidencialidade das participantes e o cumprimento das normas éticas. O roteiro de entrevista englobou perguntas que possibilitassem conhecer as mudanças que ocorreram na equipe nos últimos anos, assim como sua estrutura atual e desafios enfrentados na promoção do futebol para meninas e mulheres. Após a realização das entrevistas, iniciamos o processo de análise com a transcrição completa das falas, garantindo a fidelidade ao conteúdo expressado pelas participantes. Em seguida, realizamos uma leitura cuidadosa e aprofundada para a aplicação da Análise Temática Reflexiva, conforme proposto por Braun e Clarke (2019). Essa abordagem permite identificar padrões e significados nos dados qualitativos, auxiliando na compreensão dos fenômenos investigados e na construção de interpretações alinhadas ao contexto da pesquisa.
A análise seguiu um processo estruturado em cinco etapas principais, conduzidas sequencialmente: a) familiarização com os dados - leitura atenta das transcrições para reconhecimento inicial de temas recorrentes e reflexões iniciais sobre os conteúdos abordados; b) codificação - identificação de trechos significativos nas transcrições e atribuição de códigos representativos para cada segmento relevante; c) busca por temas - agrupamento dos códigos em categorias mais amplas, correspondendo a temas que capturam aspectos centrais da experiência das participantes e que dialogam diretamente com os objetivos da pesquisa; d) revisão dos temas – refinamento dos temas identificados, verificando sua consistência interna e sua pertinência em relação aos objetivos do estudo; e) Integração com os dados quantitativos – após a definição dos temas, realizamos um cruzamento das análises qualitativas com os resultados obtidos nos dados quantitativos, buscando relações e complementaridades entre os dois conjuntos de informações.
É importante destacar que, neste estudo, não realizamos a etapa de definição e nomeação dos temas, pois, nesse momento, os achados das entrevistas foram integrados aos dados quantitativos. Para estruturar a apresentação dos resultados, optamos por organizar as análises com base nos principais eixos do estudo: participação das equipes, desempenho esportivo e liderança no campeonato. Nosso objetivo foi apresentar os achados de forma a evidenciar a evolução ocorrida no período analisado e, ao mesmo tempo, refletir sobre como esses resultados podem contribuir para o futuro da modalidade. Com essa organização, selecionamos trechos representativos das entrevistas que ilustram e explicam os achados de cada tópico, favorecendo uma articulação clara entre os dados qualitativos e quantitativos e enriquecendo a compreensão das dinâmicas do futebol de mulheres no contexto investigado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 EQUIPES
Quais foram os avanços?
A Tabela 1 apresenta a quantidade de novas equipes ingressantes ao longo das edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Notamos que, desde 2013, o ingresso de novas equipes tem seguido um padrão relativamente estável, variando entre 2 a 4 equipes por ano. Esse padrão se manteve mesmo após a implementação das exigências da CBF e da CONMEBOL, sugerindo que o número de equipes ingressantes na série A1 do campeonato não foi diretamente impactado por essas regulamentações. Entretanto, ao analisar o perfil dessas equipes após as exigências, encontramos uma mudança significativa. Antes, a competição contava com uma participação expressiva de equipes municipais e do interior dos estados (Haag, 2018; Salvini; Marchi Júnior, 2016; Sena et al., 2024; Souza Junior, 2013). Após as exigências, observamos uma maior presença de clubes tradicionalmente associados ao futebol masculino (Martins; Delarmelina; Souza, 2023; Sena et al., 2024), como Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio e São Paulo. Esse cenário contrasta com anos anteriores e reforça a importância das exigências feitas pelas organizações esportivas para promover a aproximação entre os clubes brasileiros e o futebol de mulheres.
Ingresso de novas equipes ao longo das edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de 2013 a 2023.
Os dados também indicam que 2014 foi o ano com o maior número de novas equipes ingressantes na competição, totalizando nove times — um número significativamente superior ao dos demais anos. Esse aumento ocorreu no segundo ano do campeonato, o que possivelmente incentivou a adesão de novas equipes. Além disso, é possível que a CBF tenha adotado estratégias para expandir a competição naquele período, promovendo a entrada de novos clubes e fortalecendo a estrutura do torneio. Outro ponto de destaque é a diminuição no número total de equipes de 2016 para 2017, passando de 20 para 16 times. Essa redução pode estar associada à reformulação do campeonato e à criação de novas séries na competição nacional, um movimento que pode ter levado à redistribuição das equipes entre as diferentes divisões.
Quais os desafios para o futuro?
Embora novas equipes competitivas estejam sendo formadas, é importante se atentar para a crescente predominância de equipes da região Sudeste ao longo dos anos (Accocella et al., 2023; Sena et al., 2024). Ao analisarmos a Figura 1, notamos que, em 2013, o campeonato apresentava uma distribuição mais heterogênea, com representantes de todas as regiões do Brasil. No entanto, a edição de 2023 mostra uma concentração geográfica marcante, com mais de 50% das equipes participantes oriundas do Sudeste e sem nenhuma equipe do Nordeste, evidenciando um desequilíbrio regional.
Participação de times no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de acordo com as diferentes regiões do país.
De acordo com Accocella et al. (2023), a exigência da CONMEBOL tem impulsionado o crescimento do futebol de mulheres nas regiões onde o futebol masculino já estava mais desenvolvido. Essa centralização no Sudeste pode ser explicada, em parte, pela concentração de recursos financeiros e também pela atuação intensa da Federação Paulista de Futebol (FPF), que tem promovido um desenvolvimento robusto da modalidade na região (Januário; Knijinik, 2022). Por exemplo, a gestora A reconhece essa limitação no seu estado ao dizer que “A Federação aqui ela deixa bastante a desejar, eu vejo que é algo que até, faz com que o estado não fomente tanto assim, tem escolinhas e clubes até, mas por exemplo, não tem um sub-20” (Gestora A), ao se referir ao estado de Minas Gerais. De forma similar, Pereira e Schimanski (2024) alertam à falta de incentivo da Federação Paranaense para aumentar o número de equipes no campeonato estadual.
Segundo Sena et al. (2024), essa mudança de cenário resultou em uma concentração de equipes nas regiões economicamente mais favorecidas, especialmente no Sudeste, ao mesmo tempo em que houve uma redução na presença de clubes do Norte e do Nordeste. As autoras apontam que o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino passou a refletir o modelo do masculino, com um domínio de clubes que já possuem estrutura consolidada, o que destaca as disparidades regionais e prejudica a continuidade de clubes tradicionalmente representativos do esporte. Essa disparidade faz com que equipes de outras regiões, que enfrentam limitações financeiras e falta de apoio institucional, tenham mais dificuldades para competir em igualdade de condições. Pereira e Schimanski (2024) complementaram essa análise ao mencionar que as medidas obrigatórias trouxeram mais oportunidades às mulheres, mas não garantiram condições favoráveis para que elas pudessem avançar no futebol de alto rendimento, principalmente com times de fora da região Sudeste, que possuem pouco capital econômico e social.
Esse cenário ressalta a necessidade de políticas de incentivo e distribuição de recursos mais equilibrada, para que o futebol de mulheres se desenvolva em todas as regiões do país. No entanto, é importante destacar que, embora as equipes tradicionais no futebol de mulheres não estejam presentes na Série A1 do Campeonato Brasileiro, muitas continuam ativas em divisões inferiores, como as séries A2 e A3, criadas a partir das novas exigências. Isso indica que, apesar de não competirem mais na elite do futebol de mulheres, essas equipes ainda desempenham um papel relevante no cenário esportivo e na formação de jogadoras.
3.2 DESEMPENHO
Quais foram os avanços?
O desempenho das equipes brasileiras foi analisado a partir da diferença de gols ao longo de todas as partidas do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de 2013 e 2023 (Figura 2). A diferença média de gols entre as equipes foi de 1,9 por partida e não apresentou mudança significativa ao longo das edições. Entretanto, em 2014, a maior diferença encontrada foi de 15 gols, já em 2022 e 2023 foi de 6 gols (Figura 3). Esses resultados mostram que jogos com placares elásticos têm se tornado menos frequentes ao longo da última década (r=0,79; p-valor=0,006).
Diferença média de gols por partida ao longo das edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino (2013-2023).
Maior diferença de gols por partida ao longo das edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino (2013-2023).
O desempenho esportivo das mulheres tem sido historicamente questionado por meio de argumentos baseados em limitações biológicas e estereótipos de gênero que desconsideram a influência estrutural na formação e evolução das atletas (Casey et al., 2019). No entanto, estudos indicam que a competitividade e os resultados esportivos estão diretamente relacionados às condições de suporte organizacional, infraestrutura de treinamento e estabilidade profissional oferecidas às jogadoras (De Bosscher et al., 2006). No contexto analisado, a melhora de desempenho das equipes, reflete o incentivo à profissionalização das atletas e à estruturação dos clubes ocorrido após as regulamentações.
Esse cenário positivo se deve, em grande parte, à evolução das condições de trabalho e ao apoio estrutural, como a contratação CLT das jogadoras adultas que não acontecia nos períodos históricos anteriores, comprometendo a dedicação e a estabilidade das atletas (Haag, 2018). Atualmente, as equipes relatam que as jogadoras da categoria adulta possuem contrato profissional com o clube, garantindo não apenas segurança financeira, mas também incentivos para o desenvolvimento contínuo. Por exemplo,
As atletas do profissional aí elas são contratos profissionais né. Seguindo certinho o que fala a lei. Tem a possibilidade de fazer o contrato de direito de imagem que daí é 60 a 40 você pode dividir ali até 60/40 60 em regime de CLT 40 em direito de imagem (Gestora B)
O comentário da gestora destaca que além do contrato profissional, as jogadoras adultas contam com o contrato de direito de imagem. Essas condições permitem que as atletas se concentrem em melhorar seu desempenho sem a necessidade de buscar ocupações secundárias para complementar a renda. Esses avanços na formalização do trabalho se refletem em desempenhos mais consistentes e em uma redução de disparidades nas partidas.
Outro fator citado pelas pessoas entrevistadas diz respeito à melhoria das condições de treinamento a partir da obrigatoriedade.
Antes da obrigatoriedade [...] em todo momento eu cito o quanto foi importante o Time A naquele momento e o quanto eles, era um olhar social, né? É lógico, não tinha como entender ali que o futebol ia virar um ativo. Não, não era possível imaginar isso em 2016. Era pelo viés social e foi muito legal essa experiência: assinou a carteira de todo mundo. Naquele momento ali eu tinha uma deficiência, qual era: estrutura de treino. Eu procurei a Prefeitura da cidade A e fiz uma parceria com o secretário de esportes, eles tinham uma estrutura aqui [...] e eles entregavam pra gente, emprestavam pra gente o estádio para treino, todas as manhãs e jogos aos finais de semana. Em contrapartida, o Time A dava manutenção no gramado [...] a gente usava essa estrutura da prefeitura nesse formato de parceria. (Gestora C)
A falta de estrutura para o treinamento era um dos principais entraves para a profissionalização da modalidade (Haag, 2018). Sem um suporte adequado, as equipes precisavam recorrer a parcerias com órgãos públicos ou outras instituições para garantir espaços e condições mínimas para a prática esportiva (Haag, 2018). Nesse sentido, a parceria com a Prefeitura da cidade A foi essencial para proporcionar à equipe um local de treino regular, em troca da manutenção do gramado pelo clube. Esse tipo de arranjo evidencia uma fase inicial de apoio institucional, embora ainda limitado e dependente de iniciativas pontuais.
As exigências por parte das organizações esportivas trouxeram, por sua vez, mudanças estruturais mais profundas. A aproximação dos clubes e o maior investimento impulsionaram a profissionalização da gestão e a qualificação das condições de trabalho para as atletas. O gestor D reconhece esse impacto ao afirmar:
É, o futebol feminino é um movimento que não tem mais volta, né? Para além da obrigatoriedade, é óbvio que a obrigatoriedade ela te faz, necessariamente, ter que investir e o clube no tamanho do Z, dos grandes clubes brasileiros, quando entram numa competição, entram numa modalidade, eles têm que entrar apresentando o tamanho do seu clube. Então, não dá para brincar. Então, tem que fazer um projeto sério, tem que fazer um projeto a longo prazo. (Gestor D)
A necessidade de um projeto estruturado e sólido teve impacto direto na composição das comissões técnicas, que passaram a contar com um maior número de profissionais com qualificação em diversas áreas. O desenvolvimento de equipes multidisciplinares reflete uma abordagem mais abrangente na preparação das atletas, garantindo um suporte integral às jogadoras. Por exemplo, o gestor D comenta que “na comissão do profissional nós temos: tem treinador, a preparadora, um preparador físico, uma fisioterapeuta, preparador de goleiros, o médico, né [...] eu esqueci de falar, nós temos um analista de desempenho”. Essa estrutura também é compartilhada por outras gestoras, como
Aqui no profissional, já é diferente. Tem médico, tem a fisioterapeuta, aí cada categoria (20 e profissional) tem o seu preparador físico, o seu preparador de goleiros, seu treinador, o seu auxiliar, aí tem roupeiro, tem massagista, tem a supervisão, tem coordenador, tem muito mais gente, muito mais… (Gestora A)
A gente tem treinador, auxiliar, preparador físico, preparador de goleiro, preparador físico nós temos dois: um que cuida da, da mais direcionado para preparação, o outro mais direcionado para a fisiologia e para RTP, que as atletas que voltam de lesão. E aí a gente tem dois analistas de desempenho, um fica para um olhar mais interno, o outro é analista mais de mercado. (Gestora C)
As comissões técnicas multidisciplinares são fundamentais para atender às múltiplas necessidades das atletas, especialmente em um cenário de desenvolvimento do esporte. Estudos demonstram que a diversidade de profissionais dentro das comissões técnicas contribui significativamente para o desempenho das atletas, possibilitando um cuidado integral e especializado em diferentes áreas (Reid; Stewart; Thorne, 2004).
Quais os desafios para o futuro?
O objetivo dessa análise era demonstrar, a partir de dados científicos, como a evolução da competitividade entre as equipes está diretamente relacionada ao crescimento dos investimentos e do suporte dado às atletas e às estruturas de treinamento. Esses dados são fundamentais para desafiar a ideia de que o desempenho esportivo das mulheres é inferior devido às limitações biológicas ou estereótipos de gênero. Em vez disso, evidenciam que a competitividade e o desempenho das equipes estão diretamente ligados ao suporte organizacional e à infraestrutura oferecida a elas (Santos et al., 2024).
É importante ponderar que a continuidade da análise (diferença de gols ao longo do tempo) não se baseia mais em uma expectativa de linearidade. Ou seja, não se espera que a diferença de gols entre as equipes atinja zero, pois isso implicaria um número excessivo de empates, que não necessariamente refletiria uma competição atrativa. Em vez disso, o objetivo é manter ou reduzir a elasticidade dos placares, promovendo um campeonato competitivo em que as equipes tenham desempenho equilibrado.
Para isso, a criação de novas equipes precisa ser acompanhada de condições que permitam às jogadoras se dedicarem integralmente ao esporte, além de estabelecer categorias de base que promovam tanto a formação esportiva quanto o desenvolvimento humano das jogadoras (Pereira; Schimanski, 2024). Formar novas equipes sem uma estrutura de suporte adequada pode prejudicar a qualidade geral do campeonato. Assim, o foco deve ser não apenas em ampliar o número de equipes participantes, mas sim em garantir que cada novo time disponha de condições e estrutura para contribuir para um ambiente competitivo e sustentável no futebol de mulheres (Pereira; Schimanski, 2024).
3.3 TREINADORAS E COMISSÃO TÉCNICA
Quais foram os avanços?
A participação das mulheres como treinadoras ao longo das edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino é apresentada na Figura 4. Os dados apresentados em cinza correspondem àqueles já conhecidos antes desse estudo e antes da obrigatoriedade (Passero et al., 2020). Os dados em preto apresentam a participação das mulheres treinadoras depois da obrigatoriedade. Encontramos um aumento mais significativo das treinadoras a partir de 2019, ano em que as exigências foram implementadas.
Participação das mulheres como treinadoras no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino de 2013 a 2022.
Esse crescimento indica um avanço importante para a inclusão de mulheres em posições de liderança, promovendo uma representatividade maior e incentivando a formação de treinadoras no futebol brasileiro. Esse cenário tem surpreendido positivamente o contexto nacional, mostrando um caminho contrário ao que aconteceu nos Estados Unidos a partir da Title IX (Acosta; Carpenter, 2012). O gestor brasileiro também aponta uma maior participação de mulheres em cargos de liderança de forma geral, embora esse ambiente ainda seja majoritariamente ocupado por homens.
Te confesso que tem mais homens, mas acredito que ainda por essa troca essa mudança de cultura, inclusive, né. [...] Acontece, tem acontecido muito como no futebol masculino, que as atletas param e estão estão se qualificando, tão querendo entrar. Mas a gente já nota muito crescimento, principalmente, na área de saúde. As nossas duas fisioterapeutas, estagiárias de fisioterapia, são duas mulheres, a nossa fisioterapeuta do profissional é uma mulher. A nossa, ah desculpe, esqueci de falar também, da nossa nutricionista, né, que que atende tanto a base, quanto o profissional, é uma mulher. A preparadora física da base, mulher também. Então, ainda tem mais homens, né. E a gente tenta priorizar mulheres, eu sempre digo, que a hora que eu saí aqui, do Time Y, saí desse cargo tenho certeza que virá uma mulher. (Gestor D)
A crescente participação de mulheres em cargos de liderança no futebol brasileiro pode ser atribuída a diversas iniciativas de capacitação e incentivo promovidas por instituições esportivas. A FPF tem desempenhado um papel significativo nesse contexto, oferecendo programas como o "Programa de Formação de Treinadoras" e o "Programa de Liderança Feminina", ambos destinados a preparar e inserir mulheres em posições de destaque no futebol (FPF, 2024a). Além disso, a FPF passou a exigir a presença mínima de pelo menos uma mulher na composição da comissão técnica das equipes que participam no campeonato paulista de futebol feminino (FPF, 2024b). O Ministério do Esporte, por meio do programa Academia e Futebol, também lançou em 2024 o curso "Mulheres em Cargos de Liderança no Futebol", em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Esse curso, totalmente gratuito e online, visa capacitar mulheres para assumirem posições de liderança no esporte, contribuindo para a equidade de gênero no futebol brasileiro (Barreira; Galatti, 2024). Por fim, a CBF, por meio da CBF Academy, também tem oferecido descontos para mulheres interessadas em seus cursos de formação, buscando aumentar sua representatividade nas comissões técnicas e na gestão esportiva (CBF Academy, 2024). No entanto, algumas participantes relatam desconforto ao ingressar nesses ambientes predominantemente masculinos, indicando a necessidade de ações complementares que promovam um ambiente mais inclusivo e acolhedor para elas (Guimarães; Barreira; Galatti, 2023).
Além das iniciativas mencionadas acima, a própria conscientização e preocupação de gestores e gestoras em promover um ambiente favorável para a participação de mulheres tem colaborado com esse cenário, como mostrado abaixo.
Antes de, de verificarmos todas as possibilidades, vamos, vamos verificar todas as possibilidades de mulheres para posição primeiro [...] Não que a gente não possa, a gente pode contratar o homem. Mas a gente sabe que tem determinados currículos, que só estão na mesa, porque é futebol feminino, porque se a gente tivesse falando de qualquer categoria de base, profissional masculino, esses currículos nem chegariam na mesa. Então, se a gente não olhar com um pouco mais de carinho, né, essas mulheres não vão ter oportunidade. Porque quem tá fazendo futebol, na sua maioria é homem, então quando ele pensa em alguém, ele sempre vai pensar no outro homem, né. Então assim, da mesma maneira que a gente tem que abrir o espaço e a oportunidade às mulheres dentro de campo, a gente tem que se preocupar para que elas tenham a mesma oportunidade fora deles, né, em todas as áreas ali que envolve. (Gestora C)
A fala da gestora reflete uma preocupação em priorizar a contratação de mulheres para cargos de liderança, evidenciando a necessidade de uma abordagem proativa na avaliação de seus currículos. No contexto atual do futebol, predominantemente liderado por homens, essa prática se torna essencial para quebrar barreiras históricas e culturais que limitam o avanço das mulheres nesses cargos. Essa postura é uma resposta direta a achados de estudos anteriores, como o de Moss-Racusin et al. (2012), que mostram que homens são frequentemente percebidos como mais competentes que as mulheres e, por isso, contratados com mais facilidade, mesmo quando apresentam currículos similares. Essa ação consciente busca reduzir os vieses de gênero no processo de contratação e reconhecer o potencial das mulheres no esporte, criando condições mais equitativas e permitindo que elas tenham oportunidades de ingressar e progredir nas posições de liderança no esporte.
Quais os desafios para o futuro?
Embora as mulheres estejam conquistando cada vez mais espaço como líderes no futebol brasileiro, os desafios futuros para elas ingressarem e se manterem nesses cargos ainda são diversos (Barreira; Galatti, 2024). Entre eles, destacamos a necessidade de aumentar a participação em diferentes cargos de visibilidade e poder, possibilitando que elas representem pelo menos 50% desses profissionais. Nosso estudo identificou um aumento na participação de treinadoras, mas a igualdade numérica em cargos de liderança ainda não foi atingida, tanto nesse cargo quanto em outros. Para isso, é fundamental que as políticas de incentivo à formação de treinadoras e à ocupação de mulheres em cargos técnicos e gerenciais sejam mantidas e aprimoradas, proporcionando uma continuidade no desenvolvimento dessas profissionais.
Além disso, muitas mulheres enfrentam condições de trabalho precárias, violências no ambiente de trabalho e constante questionamento sobre sua capacidade de exercer funções de liderança (Novais et al., 2021). Para atrair e reter as mulheres em todos os níveis do futebol é necessário melhorar a qualidade das oportunidades profissionais oferecidas a elas.
Outro ponto fundamental é a necessidade de diversificar o perfil de mulheres que atuam nos cargos de liderança. Estudos internacionais mostram que os cargos de liderança no esporte são predominantemente ocupados por mulheres brancas de uma classe média-alta (Rankin-Wright; Norman, 2017). Nesse contexto, mulheres negras, com deficiência ou de baixa classe social continuam sub-representadas como líderes no ambiente esportivo. Essa sub-representação não apenas perpetua desigualdades históricas, mas também limita a pluralidade de perspectivas dentro da gestão esportiva, impactando diretamente o desenvolvimento da modalidade.
Reconhecer a importância das interseccionalidades de gênero, raça, classe social e demais marcadores identitários é fundamental para a criação de políticas esportivas mais inclusivas, que atendam as necessidades de profissionais com diferentes realidades e perspectivas. Isso implica em abandonar a visão universalista da categoria "mulher" e adotar um olhar mais atento às diferenças estruturais que moldam as oportunidades e desafios enfrentados por distintas mulheres no ambiente esportivo (Barreira, 2021; Kryllos, 2020). Construir um ambiente esportivo mais equitativo exige uma abordagem interseccional que vá além da simples inserção de mulheres nos espaços de decisão, contemplando as múltiplas dimensões que influenciam suas trajetórias e oportunidades dentro do futebol.
A promoção de uma liderança esportiva mais diversa requer políticas públicas e institucionais comprometidas com ações afirmativas, garantindo não apenas a presença de mulheres em cargos de gestão, mas também a criação de condições equitativas para sua permanência e ascensão (Dadswell et al., 2022). Iniciativas de federações, confederações e órgãos governamentais devem estar alinhadas a esse propósito, assegurando que a ampliação do protagonismo de mulheres na modalidade ocorra de maneira transversal e estruturada.
4 LIMITAÇÕES
Apesar das contribuições deste estudo para a compreensão das transformações no futebol de mulheres no Brasil, algumas limitações devem ser destacadas. Primeiramente, a análise abrangeu o período da pandemia de COVID-19, um momento que impactou significativamente a organização do futebol brasileiro, afetando o calendário de competições, a presença de público nos estádios e a estabilidade financeira de muitos clubes. No entanto, este estudo não se aprofundou na investigação de como esse contexto influenciou o desenvolvimento da modalidade, o que representa uma lacuna a ser explorada em pesquisas futuras. Além disso, a análise das comissões técnicas focou na presença de mulheres em cargos de liderança, mas não aprofundou a discussão sobre a composição e a atuação das equipes multidisciplinares dentro dos clubes. Uma abordagem mais detalhada sobre a interdisciplinaridade das comissões técnicas poderia contribuir para uma compreensão mais ampla das estruturas de suporte às atletas e sua relação com o desempenho esportivo. Outra limitação está relacionada ao recorte metodológico, que se concentrou em clubes da Série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Embora essa escolha tenha permitido um olhar aprofundado sobre os clubes da elite, não inclui a realidade das equipes das divisões A2 e A3, que enfrentam desafios distintos e podem apresentar dinâmicas diferentes no desenvolvimento da modalidade. Por fim, como este estudo teve um enfoque voltado para a análise de gênero, outras interseccionalidades, como raça, classe social e regionalidade, poderiam ser mais exploradas em futuras investigações, permitindo uma compreensão ainda mais abrangente sobre as desigualdades estruturais no futebol de mulheres no Brasil.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo analisamos as transformações promovidas no futebol brasileiro considerando os clubes de futebol e o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino desde sua criação até os dias atuais e direcionando particular atenção ao impacto das exigências da CBF e da CONMEBOL na estrutura da modalidade. Notamos que a partir das exigências, houve um aumento na participação de clubes tradicionais no futebol brasileiro. Entretanto, os achados revelam desafios preocupantes, especialmente no que diz respeito às disparidades regionais. A concentração de equipes na região Sudeste aponta para um desequilíbrio na distribuição de recursos e oportunidades, o que demanda políticas mais inclusivas para garantir o desenvolvimento homogêneo do futebol de mulheres em todas as regiões do Brasil.
A entrada das novas equipes foi acompanhada pelo aumento da competitividade no campeonato. Esses avanços refletem um suporte crescente para o desenvolvimento das jogadoras, evidenciado pelo fortalecimento da infraestrutura e maior formalização das condições de trabalho. Além disso, as equipes têm contado com comissões técnicas multidisciplinares que oferecem suporte e trabalham de forma integrada para promover a melhora de desempenho das jogadoras. Esse progresso possibilita desafiar a ideia de que o desempenho esportivo das mulheres é inferior devido às limitações biológicas ou estereótipos de gênero. Em vez disso, evidenciam que a competitividade e o desempenho das equipes estão diretamente ligados ao suporte organizacional e à infraestrutura oferecida a elas.
Outro ponto relevante é o aumento da participação de mulheres em cargos de liderança, como treinadoras. Entretanto, embora a representatividade tenha melhorado, a igualdade numérica e melhores condições de trabalho ainda não foram plenamente alcançadas. Além disso, ainda há pouca discussão sobre os diferentes caminhos seguidos por mulheres reconhecendo a influência das interseccionalidades de gênero, raça, classe social e demais marcadores identitários. A continuidade de políticas públicas e iniciativas de capacitação é fundamental para ampliar e consolidar a presença de mulheres em posições de liderança.
Este estudo reforça a importância de avanços estruturais e organizacionais no futebol de mulheres e aponta para a necessidade de esforços coordenados para enfrentar os desafios existentes. O desenvolvimento sustentável do esporte exige um compromisso contínuo com a equidade, promovendo condições justas para jogadoras e profissionais do futebol em todas as dimensões.
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FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
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ÉTICA DE PESQUISA
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Campinas, número do protocolo 82887118.3.0000.5404.
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COMO REFERENCIAR
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DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA
Os dados de pesquisa só estão disponíveis mediante solicitação.
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Editado por
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RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga* https://orcid.org/0000-0002-6881-1446Elisandro Schultz Wittizorecki* https://orcid.org/0000-0001-7825-0358Ileana Wenetz** https://orcid.org/0000-0002-3905-1900Mauro Myskiw* https://orcid.org/0000-0003-4689-3804Raquel da Silveira* https://orcid.org/0000-0001-8632-0731* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.** Universidade Federal do Espirito Santo (UFES). Vitória, ES, Brasil.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
10 Nov 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
10 Dez 2024 -
Aceito
22 Abr 2025 -
Publicado
13 Out 2025





Fonte: Elaborado pelas próprias autoras.
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Fonte: Elaborado pelas próprias autoras. Legenda: Os dados apresentados em cinza representam as informações já conhecidas e disponibilizadas por