Open-access AS RELAÇÕES DE GÊNERO NAS TRAJETÓRIAS DAS BRASILEIRAS GUIAS DE MONTANHA

GENDER RELATIONS IN THE TRAJECTORIES OF BRAZILIAN FEMALE MOUNTAIN GUIDES

LAS RELACIONES DE GÉNERO EN LAS TRAYECTORIAS DE LAS GUÍAS DE MONTAÑA BRASILEÑAS

Resumo

Para analisar as relações de gênero na trajetória de mulheres brasileiras guias de montanha, utilizamos uma amostra em bola de neve com nove participantes, as quais responderam a uma entrevista em profundidade, posteriormente, transcrita integralmente. Os resultados foram submetidos à análise de conteúdo com o auxílio do software ATLAS.ti 23. A partir disso, constatou-se que os preconceitos de gênero se tornaram evidentes quando as montanhistas migraram de praticantes para profissionais. No entanto, isso não foi impeditivo para elas atuarem como guias, sendo que foram destacadas algumas características consideradas normativamente femininas como diferenciais positivos para o desenvolvimento da profissão. A inserção das mulheres nesse ramo profissional é uma forma de empoderamento, demonstrando que as guias exercem o ofício com excelência e inspiram outras mulheres que buscam o montanhismo.

Palavras-chave
Montanhismo; Mulheres; Gênero; Empoderamento

Abstract

To analyze gender relations in the trajectories of Brazilian female mountain guides, we used a snowball sample method with nine participants, who took part in in-depth interviews that were later fully transcribed. The results were subjected to content analysis with the support of ATLAS.ti 23 software. From this, it became evident that gender bias emerged when the female mountaineers transitioned from amateurs to professionals. However, this did not prevent them from working as guides. Furthermore, some traits considered normatively feminine were highlighted as positive differentiators in the development of the profession. The inclusion of women in this professional field represents a form of empowerment, demonstrating that the guides perform their work with excellence and inspire other women who pursue mountaineering.

Keywords
Mountaineering; Women; Gender; Empowerment

Resumen

Para analizar las relaciones de género en las trayectorias de las guías brasileñas de montaña, utilizamos una muestra en bola de nieve con nueve participantes, quienes respondieron a una entrevista en profundidad, posteriormente transcrita en su totalidad. Los resultados fueron sometidos a un análisis de contenido con el software ATLAS.ti 23. A partir de esto, se observó que los sesgos de género se hicieron evidentes cuando las montañeras pasaron de practicantes a profesionales. Sin embargo, esto no les impidió actuar como guías, y algunas características consideradas normativamente femeninas fueron destacadas como elementos positivos para el desarrollo de la profesión. La inclusión de las mujeres en este campo profesional es una forma de empoderamiento, que demuestra que las guías ejercen su profesión con excelencia e inspiran a otras mujeres que practican el montañismo.

Palabras clave
Montañismo; Mujeres; Género; Empoderamiento

1 INTRODUÇÃO

A prática do montanhismo moderno começou a se delinear entre a metade do século XIX e início do século XX, predominantemente moldada por homens da elite inglesa. Essa modalidade se tornou uma forma de expressão de valores associados à virilidade (Gugglberger, 2015; Moraldo, 2013, 2020), destacando características como conquista e competição (Hall; Brown, 2022). A narrativa da masculinidade heroica, permeada por façanhas de exploração, conquistas de novos picos (Gugglberger, 2015; Moraldo, 2015) e demonstrações de coragem (Le Breton, 2009), era central nesse contexto, visando o reconhecimento entre os pares masculinos (Moraldo, 2015).

No entanto, esse cenário também serviu como um espaço onde representações e normas de gênero eram desafiadas e transgredidas (Humberstone, 2007; Mazel, 1994; Roszkowska, 2020). Ainda no século XIX, pioneiras como a francesa Henriette d’Angeville, a britânica Lucy Walker, e a polonesa Natalia Janothowna, escalaram picos elevados e conquistaram rotas desafiadoras (Mazel, 1994). É notável o exemplo da britânica Henry Warwick Cole, que ao escalar usando calças em vez de vestidos, desafiou o código vestimentar da Era Vitoriana1, inspirando outras montanhistas a seguirem o seu exemplo, como as estadunidenses Annie Smith Peck (Mazel, 1994) e Janothowna, no final do século XIX (Roszkowska, 2020).

Essas narrativas históricas visibilizam que, tanto no passado quanto no presente, as relações de gênero não apenas constituem, mas também atravessam o montanhismo. O conceito de gênero aqui empregado abrange diferenças percebidas entre os sexos e os significados sociais construídos com base nessas distinções, os quais variam conforme o tempo e cultura (Devide, 2005; Kimmel, 2022). Além disso, a expressão também se relaciona à desigualdade produzida pelas relações de poder, especialmente a dominação masculina sobre as mulheres (Kimmel, 2022). Ademais, há um conjunto de crenças que reforça características e comportamentos estereotipados sobre a formação de masculinidades e feminilidades (Wood, 2021).

Dessa forma, desde as primeiras incursões aos picos mais altos, o montanhismo tem sido um campo marcado por distinções de gênero (Moraldo, 2020). Em análise de dados estatísticos do Conselho Britânico de Montanhismo (BMC) de 2010, Moraldo (2013) constatou que apenas 20,3% dos seus membros eram mulheres. Ao mapear a Federação Francesa dos Clubes Alpinos e de Montanhismo (FFCAM), detectou que 36,4% dos membros eram mulheres. No Brasil, embora não existam pesquisas com dados oficiais sobre a participação das mulheres no montanhismo, um estudo realizado por Dias et al. (2009) durante a abertura oficial da temporada de montanhismo do Rio de Janeiro em 2007 revelou que 79% dos praticantes eram homens, enquanto apenas 21% eram mulheres. Esses números sugerem que o montanhismo ainda é uma prática amplamente dominada por construções de masculinidade padrão, mostrando-se pouco receptiva à inclusão das mulheres.

No contexto das pesquisas brasileiras, há uma notável escassez de publicações sobre o montanhismo. Gelly (2021) publicou um livro que narra histórias de mulheres montanhistas, explorando suas motivações, sentimentos e os desafios enfrentados ao se inserirem nesse cenário. Além disso, Pereira, Maior e Ramallo (2020) traçaram um perfil das mulheres escaladoras no Brasil, evidenciando que aumentou o número de praticantes e sugerindo que a superação experimentada na modalidade extrapola para as instâncias da vida em sociedade.

A sub-representação das mulheres no montanhismo torna-se mais evidente na profissão de guia de montanha. No Reino Unido, apenas 6% dos/as guias de montanha são mulheres (Hall; Brown, 2022). Estereótipos de gênero desempenham um papel significativo nesse cenário, uma vez que as mulheres menos incentivadas a se engajar em profissões relacionadas a esportes de aventura que envolvem risco, como a de guia de montanha – um campo que valoriza bravura, força, liderança, habilidade técnica e heroísmo (Martinoia, 2013; Hall; Brown, 2022). Essa escassez também é visível nas publicações nacionais, evidenciando uma lacuna nos estudos acerca da profissionalização como guias de montanha no Brasil, o que ressalta a relevância teórica desta pesquisa.

Além da relevância teórica, há uma justificativa prática significativa para este estudo, dado que a primeira autora é guia de montanha desde 2014. Iniciando com trekkings na região central do Rio Grande do Sul, sua experiência na modalidade e no ofício expandiu-se para trekkings de longa duração em outros lugares da região Sul e Sudeste do Brasil. Atualmente, ela atua em expedições de alta montanha no Chile e na Argentina.

Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo caracterizar o perfil e analisar as relações de gênero na trajetória das mulheres brasileiras que atuam profissionalmente como guias de montanha.

2 DECISÕES METODOLÓGICAS

A presente pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Santa Maria sob o Parecer Consubstanciado nº 5.820.256, caracteriza-se como um estudo qualitativo de abordagem exploratória-descritiva (Maia, 2020). A amostra foi selecionada por meio da técnica “bola de neve” (Sampieri et al., 2010). Inicialmente, foi identificada uma participante-chave, uma guia de montanha brasileira com atuação notória2. A partir dessa participante, foram indicadas outras possíveis colaboradoras que atendiam os critérios de inclusão estabelecidos pelo estudo: ser brasileira nata ou naturalizada, ter mais de 18 anos, atuar ou ter atuado como guia de montanhismo por mais de um ano, e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O critério de exclusão estabelecido foi não responder a entrevista completamente.

Algumas voluntárias indicaram mais de uma potencial participante, porém, nem todas as indicadas aceitaram o convite para participar da pesquisa. Ao final do processo, a amostra foi composta por nove participantes, momento em que as indicações se esgotaram.

Figura 1
Sequência da “bola de neve” das participantes da pesquisa, partindo da pesquisadora

As entrevistas, foram realizadas por videoconferência utilizando a plataforma Google Meet. Um link para o TCLE foi disponibilizado em formato digital via Google Forms, acompanhado de um questionário com perguntas objetivas para mapear dados sociodemográficos. Em seguida, foi solicitada a permissão das participantes para gravar a entrevista semiestruturada, que seguiu um roteiro previamente estabelecido. A escolha pela videoconferência deveu-se à dispersão geográfica das guias de montanha pelo país.

Os áudios das entrevistas foram transcritos em documentos, formando um banco de dados (Yin, 2016; Maia, 2020). As transcrições foram devolvidas às participantes para confirmações das informações registradas. Para preservar suas identidades, cada participante recebeu um pseudônimo composto pela letra “M” de “Montanhista” seguido de um número sorteado pelas pesquisadoras, não relacionado à ordem das entrevistas.

Após leituras exaustivas do material empírico, foi realizada uma análise de conteúdo (Bardin, 2016) com o auxílio do software ATLAS.ti 23, resultando na criação de categorias com base na similaridade dos itens, desde que dentro da proposta do estudo e associados a uma temática. Dados que não estavam diretamente relacionados aos objetivos da pesquisa foram desconsiderados e eliminados do processo de análise (Yin, 2016; Maia, 2020). Para as categorias foram utilizados sete principais códigos: “início no montanhismo”; “desafios”; “ser guia”; “trabalho ou ocupação”; “futuro”; “condições para ser guia”; e “gênero”. No código “gênero” foram criadas as subcategorias “estereótipo de gênero”; “preconceito de gênero”; e “empoderamento”. Em alguns trechos das entrevistas, houve a combinação de mais de um código. Para o presente estudo, buscou-se a combinação do código “gênero” e suas subcategorias com os demais códigos, para posterior análise. Em seguida, esse conteúdo foi interpretado e relacionado com o referencial teórico (Yin, 2016).

3 RELAÇÕES DE GÊNERO NA TRAJETÓRIA DAS MULHERES GUIAS

A seguir, apresentaremos o perfil dessas mulheres e os fatores que as influenciaram a se engajarem na prática do montanhismo, além dos desafios enfrentados ao longo de suas trajetórias.

3.1 PERFIL DAS ENTREVISTADAS

A idade média das entrevistadas é de 39,78 anos, com a participante mais jovem tendo 29 anos e a mais velha 53. A maioria reside na região Sudeste do Brasil. Quanto ao nível de escolaridade, cinco das colaboradoras possuem ensino superior completo; duas têm especialização; uma possui mestrado; e uma tem ensino superior incompleto. Todas as participantes se autodeclararam brancas e heterossexuais. Em relação ao estado civil, quatro entrevistadas são solteiras, duas são casadas, duas vivem em união estável e uma é divorciada. Apenas três voluntárias possuem filhos/as, sendo que duas têm um filho e a outra, dois filhos. Esses dados reforçam a ideia de que o montanhismo é historicamente praticado por uma elite burguesa, culta e branca (Moraldo, 2015). Tal perfil é corroborado pelos dados do IBGE, que mostraram que, no 2º trimestre de 2022, apenas 16,9% da população brasileira possui ensino superior completo, sendo a maioria branca (IBGE, 2023; IBGE, 2019). Esses resultados sugerem que, tanto no passado quanto no presente, a prática do montanhismo continua a ser fortemente marcada por componentes de raça e classe.

A iniciação na modalidade foi diversa: M4, M7 e M9 começaram no montanhismo através da escalada em rocha e do trekking. M6 e M8, também iniciaram com trilhas, mas concentraram a maior parte de sua prática na escalada em rocha. M2 começou no montanhismo por meio da mountain bike e da corrida em montanha, inserindo-se posteriormente no trekking. M1, M3 e M5 iniciaram e permaneceram no trekking. Além disso, M1, M2, M4, M5 e M9 possuem experiência em alta montanha.

Entre as entrevistadas, apenas uma não atua mais como guia de montanha. Das oito que continuam na profissão, duas trabalham em empresa do setor, duas são guias credenciadas em parques nacionais, três possuem suas próprias agências ou são sócias, e uma já atuou para uma empresa do ramo. Notavelmente, sete delas abandonaram suas antigas profissões para se dedicarem integralmente à carreira de guia de montanha. M3 optou por manter sua profissão de formação concomitante à atividade de guia, e M2 continua a atuar na parte administrativa da agência da qual é sócia e guia.

Esses dados apontam que as entrevistadas possuem elevado nível de escolaridade e já constavam com uma ocupação ou fonte de renda antes de optarem pela profissionalização como guias de montanha. Além disso, elas descobriram a possibilidade de inserção profissional neste ramo por meio da prática da modalidade. Esses resultados reforçam a percepção de que o montanhismo, em suas diversas esferas, permanece uma prática elitizada no Brasil.

3.2 INÍCIO NO MONTANHISMO

O esporte é uma área privilegiada de visibilidades e conquistas (Rubio; Veloso, 2019), repleta de simbolismo que desperta fascínio nas pessoas. Em competições esportivas, há sempre elementos de incerteza, seja em relação ao ambiente, seja em relação ao adversário. Nos esportes que envolvem aventura e risco, esses elementos de incerteza são transferidos para a natureza (Costa, 2000). A busca por essas modalidades é, em muitos casos, uma forma de escapar da monotonia da vida cotidiana, oferecendo uma nova dimensão de significado à existência (Le Breton, 2006). Nesse contexto, o presente estudo se propôs a identificar quais fatores conduziram as entrevistadas a se envolverem com o montanhismo.

Ao explorar a questão sobre a iniciação no montanhismo, destacamos alguns excertos das entrevistas que apontam as motivações das participantes:

[...] eu entrei para o mundo do trekking mais pelo contato com a natureza, por ser coisas onde não estava sempre cheio de gente (M1).

[...] o pessoal do teatro que me convidou para ir para a Montanha. Eu falei “nossa!”, aquele sentimento de que me achei na vida, achei o propósito de vida (M5).

Estava trabalhando no Rio e vi o pessoal escalando em rocha. Aí depois fui para a Espanha e fiz trekking em Serra Nevada que tinha lá. E aí voltei pro Brasil, fiquei com isso na cabeça e depois falei “eu vou fazer alguma coisa por mim”. E aí eu fiz um curso de Escalada em rocha [...] (M4).

[...] passei por vários problemas na minha vida, com relacionamento abusivo, com uma depressão muito profunda. Em um determinado momento resolvi que precisava fazer algo para mudar aquela situação. Peguei uma mochila e fui fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Foi aí onde tudo começou. E quando voltei, eu entendi que não podia mais ficar presa entre quatro paredes [...] (M3).

Nota-se que há uma pluralidade de motivações que levam as mulheres a se engajarem na prática de esportes de aventura. Entre elas, destacam-se o apreço por atividades em ambientes naturais, convites de amigos/as para fazer uma primeira incursão, a curiosidade pela modalidade, as experiências anteriores relacionadas ao trekking e a escalada e, até mesmo a necessidade de uma mudança significativa de vida. Esses achados corroboram o estudo de Schwartz et al. (2016), que identificou que os principais motivos para as mulheres aderirem a esportes de aventura são: o gosto pela modalidade, a identificação com ela, e a oportunidade de estar em contato com a natureza. Além disso, essas motivações convergem com as apresentadas pelas entrevistadas na obra de Gelly (2021), onde a maioria expressa o quanto apreciava estar na montanha e praticar a modalidade.

A participante M7, por exemplo, procurou a escalada com o propósito de adquirir novas experiências, buscando “fazer algo diferente”. Le Breton (2018) sugere que a busca intencional por atividades físicas e esportivas “extremas” é acompanhada, através do sofrimento, por uma provação pessoal e a busca pela alegria e sensação de existir. No caso da referida entrevistada, a escalada ofereceu uma oportunidade de envolver-se em uma atividade fora da rotina que proporcionava a fadiga desejada, funcionando como um meio de autoconstrução. De modo semelhante, embora movida por motivos distintos, M3 buscou uma atividade que exigia esforço físico prolongado, como uma maneira de vivenciar a sensação de existir, proporcionando-lhe alegria e bem-estar. Le Breton (2018) argumenta que, através de práticas como o isolamento, o silêncio, ou atividades intensas, o indivíduo busca uma suspensão benéfica do eu cotidiano, permitindo uma conexão com a própria vitalidade e interioridade. Essa noção emerge na prática do montanhismo na medida em que essas mulheres enfrentam ambientes hostis e desafiadores, exigindo afastamento total das demandas da vida cotidiana para focalizar na atividade presente. Nesse processo, elas podem vivenciar um reencontro com a sua própria existência, mediado pelo corpo, o ambiente e os limites pessoais

A família é apontada como a principal influência na participação de mulheres em esportes de aventura, seguida pelos amigos, especialmente figuras masculinas, que incentivam a continuidade na modalidade por meio da amizade e companheirismo (Schwartz et al., 2016; Gelly, 2021). No presente estudo, duas das nove entrevistadas indicaram que os amigos influenciaram sua inserção no montanhismo, embora não tenham especificado se essas figuras eram femininas ou masculinas. A família também aparece como um fator relevante, especialmente nas falas de M6 e M8, que relataram ter crescido em ambientes naturais, sugerindo que essa proximidade com a natureza pode ter sido determinante para o desenvolvimento do seu interesse pelo montanhismo.

As participantes M4 e M7 mencionaram que, embora desejassem se inserir na modalidade, enfrentaram dificuldades por falta de informações sobre a prática. Vejamos:

Então era, assim, sempre algo “ah é legal, eu quero ir, mas não sei, nem não sabia como começar”. Por isso que eu busquei um curso de Escalada em rocha (M4).

E aí nessa mesma época em que eu estava começando, quando eu tinha acabado de chegar no Brasil, eu procurei no Google. [...] Porque eu não conhecia ninguém que fazia o esporte, ninguém que era da montanha ou da escalada aqui. Aí encontrei uma agência e entrei em contato [...] (M7).

A busca por cursos configura-se como uma forma estratégica eficaz para mulheres se inserirem em esportes de aventura (Schwartz et al., 2016), permitindo-lhes adquirir conhecimentos necessários para a prática da modalidade (Amaral; Dias, 2008). Os relatos das participantes M4 e M7 sobre a procura por cursos, agências ou clubes especializados em escalada sugerem que elas inicialmente não faziam parte desse ambiente. Além disso, uma outra participante destacou a dificuldade em encontrar mulheres com quem compartilhar suas vivências na modalidade, como podemos observar no seguinte recorte:

O que eu mais achava complicado no trekking, quando eu comecei aqui no Brasil, era a falta de companhia. Por exemplo, eu nunca conseguia amigas para fazer trekking. Porque me parece que era uma coisa que não era tão frequente dentro do mundo feminino. [...] (M1)

A manifestação de M1 evidencia que estereótipos de gênero ainda operam como barreiras simbólicas, inibindo a participação feminina em modalidades entendidas como mais desafiadoras. Essa percepção impõe um conjunto de atitudes, crenças e generalizações sobre o que significa ser “homem” ou “mulher”, tentando enquadrar os indivíduos em modelos rígidos (Wood, 2021). Sob essa ótica, durante muito tempo, não se recomendava às mulheres a prática de atividades esportivas consideradas perigosas, sob o argumento de que tais atividades poderiam “masculinizá-las” (Figueira; Almeida, 2007; Goellner, 2016). Esse tipo de argumento limitava o encorajamento das mulheres para participarem de atividades esportivas (Goellner; Kessler, 2018). Assim, a experiência de M1 não é um caso isolado, mas a expressão cotidiana de uma estrutura social que define espaços de pertencimento a partir da identidade de gênero. Quando uma mulher não se vê representada, internaliza a noção de que a sua participação será tolerada, mas não plenamente legitimada. Esse vazio de representatividade perpetua padrões e reforça a ideia de que se menos mulheres praticam, esse lugar pode não ser adequado para elas. Romper com esse ciclo exige políticas de visibilidade e redes de apoio que normalizem a presença das mulheres nessa modalidade.

Embora as entrevistadas tenham destacado a importância da companhia de outras pessoas no início de suas trajetórias, a maioria mencionou que as dificuldades estavam relacionadas a fatores técnicos, decorrentes da inexperiência, ou a questões físicas, como evidenciam os seguintes fragmentos:

[...] dificuldade, assim, só a questão do condicionamento físico que sempre estava querendo melhorar para fazer a prova mais tranquila, ou em uma corrida de mountain bike (M2).

Quando eu comecei a escalar em rocha, um grande desafio para mim era uma questão física [...] (M9).

Dessa forma, observamos que a maioria das guias de montanha entrevistadas aderiram ao montanhismo devido ao gosto pela modalidade ou pelo desafio pessoal imposto por ela. Apesar de algumas das participantes entrevistadas terem tido dificuldades de encontrar, inicialmente, companhia para a prática do montanhismo, isso não as intimidou para que desenvolvessem as atividades, chegando à profissionalização.

3.3 RELAÇÕES DE GÊNERO E PROFISSIONALIZAÇÃO NO MONTANHISMO

A dominância masculina em cargos de liderança é um fenômeno amplamente observado em diversos esportes (Rubio; Veloso, 2019; Ferreira et al., 2015; Ferreira, 2012), e essa tendência também se reflete na profissão de guia de montanha (Martinoia, 2013; Hillman, 2019; Hall; Brown, 2022). Ao questionar nossas entrevistadas sobre como se inseriram na profissão, a maioria mencionou ter contado com o apoio de terceiros, majoritariamente figuras masculinas que já atuavam profissionalmente no ramo do montanhismo. Vejamos:

[...] e ele já era guia de montanha. Ele é meu esposo hoje. Comecei a ir com ele para a montanha como auxiliar de guia (M2).

[...] ele me convidou para trabalhar como guia assistente para ver se ia dar certo (M9).

A presença de uma figura masculina na iniciação da carreira de guia de montanha, mencionada pela maioria das entrevistadas, reafirma a noção de que o montanhismo moderno, desde o seu surgimento, tem sido um espaço de domínio masculino (Moraldo, 2013; Roszkowska, 2020). Entretanto, no caso das entrevistadas, observamos um acolhimento e estímulo por parte desses homens em relação à carreira profissional dessas mulheres. Em um dos poucos estudos com mulheres praticantes de escalada no Brasil, também foi notado um acolhimento por parte dos homens (Pereira et al., 2020).

Todavia, ao ousarem adentrar um campo predominantemente masculino, essas mulheres enfrentam o desafio de romper estereótipos de gênero, uma vez que a profissionalização como guia de montanha exige atributos e condutas que tradicionalmente não são valorizados nas mulheres. Como afirma a M1:

[...] não é uma profissão fácil. Nenhuma profissão é fácil, mas saber que vai sair um pouco do estereótipo da mulherzinha delicada, da unhinha pintada, da vaidade… Então, é essa coisa, assim, de estar disposta de abrir mão de uma vaidade, se tu não te importas em ficar vários dias sem tomar banho, cabelo horroroso, a cara queimada, a ruga começa a aparecer pela exposição (M1).

Esse depoimento evidencia a tensão entre expectativas sociais de feminilidade e as demandas da profissão guia de montanha. Ao abraçar o montanismo, M1 descreve um processo de desconstrução da noção de feminilidade padrão e exibe no corpo as marcas de uma prática que desafia as normas estéticas impostas às mulheres. Além disso, durante muito tempo no Brasil, as mulheres foram desaconselhadas e até impedidas de participarem em modalidades esportivas consideradas masculinas, seja pela suspeita de ameaça a sua capacidade reprodutiva (Mourão; Souza, 2007) ou ao questionamento de padrões de beleza considerados femininos, visto que o lugar esperado para elas ocuparem era aquele em que seus corpos eram tomados como “[...] objetos a serem vestidos, moldados, pintados”, com o objetivo de atrair olhares masculinos (Devide, 2005, p.52). Embora os estudos citados não focalizem a prática do montanhismo, uma vez que essas noções despontaram em análises realizadas acerca da presença das mulheres nas lutas e no futebol, é evidente que reverbera também no montanismo. As características da modalidade que exigem esforço físico extenuante, exposição as intempéries e diferentes desconfortos, tensionam a ideia de que o corpo feminino deve ser um objeto de contemplação e beleza. No montanhismo as mulheres se desprendem de padrões de beleza e ressignificam a própria feminilidade através de suas práticas e corpos.

Em suas narrativas, as entrevistadas descrevem o trabalho de guia de montanha como uma profissão que exige coragem, determinação, dedicação e autoconfiança. Além do preparo físico, a profissão demanda uma grande responsabilidade para garantir a segurança dos clientes. Essas características, apontadas pelas participantes, são frequentemente associadas a expressões de masculinidade (Martinoia, 2013; Hall; Brown, 2022), em contraste com atributos femininos estereotipados, como obediência e medo do perigo (Martinoia, 2013; Hall; Brown, 2022). Desse modo, as guias de montanha se tornam desviantes das normas sociais de gênero (Hall; Brown, 2022).

Quando as entrevistadas borram as fronteiras de gênero e se posicionam como guias profissionais de montanha, elas podem se tornar alvos de preconceitos e suspeitas sobre a sua competência. A seguir, analisaremos suas manifestações:

Nas primeiras vezes, assim, para mim foi bem desconfortável, inclusive porque eu imaginava que esse tipo de preconceito viria dos homens, mas não das mulheres. [...] Eu acho que isso aconteceu mais depois que eu comecei a guiar grupos sem ele. [...] (M9).

[...] Hoje ser mulher e guia não é mais um obstáculo, pelo menos não vejo mais como, porque eu acabei me tornando referência no mundo feminino, o que no início eu não queria(M3).

E acho que às vezes tem gente que tem preconceito, de que a mulher seja inferior em alguma coisa dentro da atividade, seja conhecimento, seja fisicamente falando. E aí, às vezes, você tem que mostrar que tem capacidade de estar ali coordenando, enfim (M4).

É um preconceito já preestabelecido que as pessoas têm: “ela é magrinha, baixinha, então não vai poder carregar uma mochila” [...] Eu até vejo que é bom, que vai rompendo um pouco com esses paradigmas que as pessoas têm. (M1).

As participantes M9 e M3, que iniciaram suas carreiras em uma época anterior às outras entrevistadas, expuseram o preconceito de gênero como um dos principais desafios em suas profissões. A entrevistada M9, que se considera uma das primeiras guias de montanha brasileiras, mencionou ter sofrido preconceito principalmente por parte dos/as clientes, tanto de homens quanto de mulheres. As guias de montanha M2 e M4 relataram que, em algumas ocasiões, sentiram que suas opiniões foram desconsideradas pelo simples fato de serem mulheres, e que suas ideias só foram levadas em consideração quando repetidas pelos guias homens. Outro aspecto levantado pelas colaboradoras foi a desconfiança dos/as clientes em relação à sua capacidade física, o que as levou a ter que comprovar suas habilidades na montanha.

Conforme Hall e Brown (2022), para que um/a guia de montanha demonstre autossuficiência e liderança, é necessário exibir sua força física e mental, bem como bravura. Nesse sentido, M9 aconselha outras mulheres a se qualificarem profissionalmente, tanto através de experiências quanto de cursos, como uma forma de garantir sua competência e não deixar dúvidas sobre sua capacidade profissional.

Apesar do preconceito e da constante necessidade de provar suas habilidades, algumas entrevistadas relataram que certas características padronizadas como femininas podem ser fatores que levam os/as clientes a optar por uma guia mulher. Vejamos:

E vejo que toda vez que os meninos que ficam para trás [...]. Os meninos sempre veem muito essa parte do carinho, do cuidado comigo. Eles se identificam muito porque eu vou lentinha com eles, dizendo como tem que respirar ou coisa assim, e dando a confiança de que ‘tranquilo, eu vou no teu ritmo. Tu não vais ficar sozinho’ (M1).

Acho que às vezes ela se preocupa mais com o acolhimento, dessa pessoa que está indo para um ambiente natural, procura entender mais a pessoa. E, às vezes, o homem não tem essa mesma visão. E acho que as pessoas gostam disso, dessa forma que a mulher tem de atender (M4).

“Ah, por ser mulher vai ser mais detalhista, vai ser mais técnica, vai falar com mais calma, dar mais atenção”, tanto pelo público masculino quanto feminino (M8).

Esses relatos estão associados à formação social de dita que os homens não devem expressar emoções, enquanto as mulheres são encorajadas a serem afetuosas e maternais (Kimmel, 2022), devendo ser cuidadosas, diligentes e sempre prontas para se sacrificar pelos outros (Connel; Perse, 2015). Tais qualidades são igualmente necessárias ao trabalho de guia de montanha (Martinoia, 2013; Irwin et al., 2023). O/A guia é uma/a profissional responsável pela segurança de seus/uas clientes, e para isso deve desenvolver tanto habilidades técnicas quanto não técnicas, incluindo habilidades sociais como trabalho em equipe, capacidade de comunicação, habilidades cognitivas, tomada de decisões, prontidão e gerenciamento de tarefas (Irwin et al., 2023). As habilidades sociais foram destacadas pelas entrevistadas como fator positivo em ser uma guia mulher.

Além disso, Martinoia (2013) ressalta que, no trabalho de guia, é crucial administrar as emoções dos/as clientes, o que impacta diretamente na qualidade do serviço prestado. Isso envolve a capacidade de reduzir a exposição ao risco, auxiliar os/as clientes a atingirem seus objetivos e melhorar a qualidade do relacionamento com eles/as. Desse modo, o/a cliente carece de uma proteção “maternal”, requerendo cuidados por parte da/o guia. E essas habilidades psicológicas e de cuidado são consideradas tipicamente femininas, confrontando o mito da masculinidade na profissão de guia de montanha.

Outro aspecto que emergiu nas entrevistas foi a maternidade. Entre as nove participantes da pesquisa, três são mães, mas apenas uma (M6) abordou essa temática durante a entrevista. M6 falou sobre a dificuldade de conciliar o trabalho fora de casa com a maternidade, uma realidade compartilhada por muitas outras mulheres brasileiras, que frequentemente não dividem as tarefas domésticas, incluindo o cuidado com os filhos, com outras pessoas (Piscitelli, 2009). Vejamos o que a colaboradora tem a dizer sobre essa questão:

[...] depois que eu comecei a ver que a dinâmica com a minha filha já estava me permitindo um pouco mais, acabei começando a guiar. [...] sempre tinha uma oportunidade ou outra para começar a trabalhar com isso, mas como a minha filha era pequena e eu me separei do pai dela, então eu não podia me ausentar muito [...] (M6).

Em seu relato, M6 revelou que conseguiu guiar apenas quando a dinâmica com sua filha passou a permitir, mas ela não considerou essa situação como um desafio profissional; abordou o fato no contexto de como se tornou guia. Ademais, M3 e M8, além de serem guias, são empreendedoras em suas próprias agências, o que as coloca em uma posição duplamente desafiadora, pois além de serem guias também são empreendedoras. Quando as mulheres abrem seus negócios no contexto esportivo, o fazem para ganhar autonomia sobre a agenda, indicando que o empreendedorismo pode ser entendido como uma estratégia em resposta às barreiras institucionais (Rubio; Veloso, 2019), em uma modalidade padronizada como masculina (Martinoia, 2013; Hall; Brown, 2022), sem renunciar à maternidade, cujo papel, muitas vezes, é considerado um fator impeditivo para a inserção de mulheres no âmbito esportivo (Devide, 2005). Embora os estudos apontem barreiras persistentes, os depoimentos de M3, M6 e M8 visibilizam pequenas rupturas que sinalizam fissuras na estrutura esportiva.

No contexto da atuação profissional, essas mulheres guias de montanha são constantemente desafiadas a romper com os estereótipos de gênero, demonstrando adaptabilidade, capacidade, força e bravura. Notamos que características normalizadas como femininas não impediram o engajamento dessas mulheres na profissão. Pelo contrário, alguns desses aspectos são fundamentais para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade, além de serem atributos frequentemente valorizados por clientes na escolha de uma/um guia.

3.3 EMPODERADAS E EMPODERANDO

A atuação profissional das entrevistadas se configura como um caminho de empoderamento para elas e para outras mulheres. No Brasil, a expressão “empoderamento” é utilizada para referir-se a práticas que visam melhorar as condições de vida e aumentar a autonomia de grupos e comunidades. O termo também se refere a ações que buscam promover a integração de pessoas excluídas ou carentes de bens e/ou serviços públicos (Kleba; Wendausen, 2009). Brauner (2015, p.736) define o empoderamento como um:

[...] aumento do poder, da autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais, principalmente daqueles submetidos a relações de opressão, discriminação e dominação social.

Desse modo, o empoderamento está intimamente relacionado à luta pela igualdade de gênero, buscando ampliar a presença das mulheres em espaços hegemonicamente dominados por homens, como o esporte (Brauner, 2015; Anjos et al., 2018). O esporte, portanto, torna-se um campo de resistência, onde as mulheres desafiam estereótipos de gênero e contestam o controle sobre o que os corpos femininos “devem” ou “podem” fazer (Adelman, 2004).

Como meio de promoção de autonomia, igualdade e empoderamento (Brauner, 2015), a participação de mulheres no esporte contribui para diminuir a desigualdade de gênero nessa área (Anjos et al., 2018). A inserção das mulheres em posições de liderança no esporte lhes confere poder de decisão e visibilidade, rompendo com a construção social que as restringe ao dever das tarefas domésticas e limita seu acesso ao espaço público (Goellner, 2016).

Da mesma maneira, a participação feminina no montanhismo também é uma forma de romper com as normas sociais de gênero, emponderando essas mulheres e encorajando outras a se engajarem na modalidade (Evans; Anderson, 2018). Ascender montanhas sem a supervisão de um homem é um modo de demonstrar capacidade e força, desafiando os mitos da fragilidade e da vulnerabilidade femininas (Ottogalli-Mazzacavallo; Boutroy, 2020), como destacado pelas mulheres guias:

[...] o que eu acho que é um grande aprendizado na minha jornada com montanhismo e escalada foi o momento em que consegui virar a chavinha e me tornar independente da figura masculina (M6).

[...] não se intimidar e pôr fé que nós mulheres, somos tão capazes quanto os homens, e acreditar nisso. E por isso mesmo se capacitar muito bem, sabe, não dar margem, não dar brecha. (M9).

Algumas entrevistadas revelaram que, no início, sentiam receios de sofrer preconceitos dentro da profissão, fruto de uma educação que diferenciava homens e mulheres, condicionando-as a não confiar em si mesmas. Em uma reflexão sobre essa questão, as entrevistadas M4 e M7 sugeriram que os homens são mais encorajados a se arriscarem, sendo incentivados desde cedo a desbravar, uma característica frequentemente associada à expressão de masculinidade (Penin apud Martinoia, 2013). Em contrapartida, as mulheres frequentemente são incentivadas a ter receios, a temer algum “perigo” (Hall; Brown, 2022).

Conforme relataram, essa insegurança foi diminuindo à medida que perceberam que as pessoas que as procuravam confiavam em suas competências. Assim, o montanhismo e a profissão de guia se tornaram ferramentas de empoderamento para essas mulheres. Rubio e Veloso (2019), afirmam que as mulheres ao garantirem a sua presença e ampliarem o campo de atuação no meio esportivo produzem um ato político de transgressão, dando início a uma jornada heroica que exige enfrentar resistências institucionais e simbólicas. Nesse protagonismo, elas redefinem os espaços que podem e querem ocupar. À medida que clientes e colegas passaram a confiar em suas competências, M4 e M7 converteram o montanhismo em ferramenta de empoderamento. Tal perspectiva, confirma o potencial do esporte para reforçar a autoestima e a autonomia feminina (Adelman, 2004). A autoconfiança também é abordada por M4, que apontou a possibilidade de mulheres se destacarem nesse ambiente, apesar de ele ainda ser predominantemente masculino:

Mesmo ainda sendo um ambiente dominado por homens, as mulheres que vão, acabam se destacando. Então, não desistam dos sonhos, que é possível (M4).

Desse modo, M4 relaciona a profissão de guia ao empoderamento individual, influenciado pela autoestima e as interações com o ambiente e com outras pessoas (Baquero, 2012). Na condição de guias de montanha, elas não apenas conquistam sua própria autonomia, mas também inspiram outras mulheres a se engajarem no montanhismo. Exemplos desse impacto podem ser observados nos trechos a seguir:

Aí nesse dia eu vi uma cordada feminina na face sul: duas mulheres penduradas, escalando com corda, com equipamentos … falei: “Caraca, que negócio é esse? (M8).

Mas eu acho que nem é voltado para mulheres, só que automaticamente é voltado para mulheres, porque você é uma mulher. Eu acho que faz sentido, assim, que as pessoas se identificam ou “puxa, que legal! Como que ela fez?”. (M7)

Sobre este tema, Gugglberger (2015) exemplifica o sucesso das expedições femininas nepalesas ao Everest nos anos 2000, que foram fundamentais para promover o empoderamento e a equidade de gênero, servindo como inspiração para outras gerações de mulheres se engajarem no montanhismo. Nesse contexto, a pioneira foi a polonesa Wanda Rutkiewicz, que nos anos 1970, organizou uma série de expedições ao Himalaia exclusivamente formadas por mulheres. Além de provar que as mulheres são capazes de liderar e conduzir expedições de grande porte, Rutkiewicz alcançou a impressionante marca de escalar o cume de nove das 15 montanhas mais altas do mundo (Gugglberger, 2017). No Brasil, a prática do montanhismo foi difundida por imigrantes na década de 1920. Entre esses imigrantes, estavam mulheres que recém haviam chegado do exterior ou que eram filhas de imigrantes, já praticantes da modalidade na Europa (Gelly, 2021).

Em seus relatos, as entrevistadas destacam o número crescente de mulheres no montanhismo, especialmente nos grupos que elas mesmas guiam. Além disso, o montanhismo pode servir como um meio de redescobrimento para as mulheres, proporcionando um novo sentido para as suas vidas. Conforme relato de M5 e M3:

[...] esse meu público é um público que está procurando uma transformação de vida, sente essa necessidade de ter essa autonomia…então, geralmente são mulheres que ou os filhos já estão grandes, ou estão passando por uma separação (M3).

[...] um público muito de senhoras que cuidaram a vida inteira dos filhos, dos maridos e agora chegaram em uma certa idade e falaram “Nossa, nunca fiz nada de diferente”. E quando vão pesquisar, acabam achando a montanha e guias (M5).

A partir desses trechos, observamos que a prática do montanhismo empoderou as clientes das entrevistadas, permitindo-lhes sentir-se independentes e capazes de controlar seus corpos e suas vidas (Lim; Dixon, 2017). Desse modo, as guias ganham visibilidade e encorajam outras mulheres a romperem com as normas de gênero e a aderir à prática do montanhismo (Lim; Dixon, 2017).

4 CONCLUSÕES

A presente pesquisa objetivou analisar as relações de gênero nas trajetórias das guias brasileiras de montanha. Para isso, buscou-se caracterizar o perfil dessas mulheres, bem como compreender suas inserções na modalidade e na profissão. O montanhismo é um esporte que valoriza expressões associadas à afirmação da masculinidade padrão, o que faz com que essas mulheres não apenas desafiem as normas de gênero, mas também abram fissuras na hegemonia masculina na função de guias de montanha.

A questão de gênero, entretanto, tornou-se evidente no exercício dessa profissão. A maioria das entrevistadas relatou ter presenciado ou vivenciado episódios de descrédito explícito em decorrência da condição de serem mulheres. E isso bastou para que a sua competência fosse questionada. Ainda assim, apenas duas delas relataram ter sentido esse preconceito como barreira decisiva e, mesmo nesses casos, a resistência foi temporária. Munidas de persistência e demonstrando competência e qualidade no trabalho, conseguiram superá-la. As participantes também destacaram algumas características socialmente atribuídas às mulheres, como o cuidado e o acolhimento, aspectos que muitas vezes são valorizados pelos/as clientes na escolha de uma mulher como guia. Todavia, essa naturalização do cuidado é produto de normas culturais e não mera preferência individual, o que deve gerar atenção e reflexão às mulheres guias de montanha.

Ao optar pela prática do montanhismo, visto que é um território historicamente masculinizado, e depois reivindicar nele um lugar profissional, essas mulheres realizam um duplo ato de transgressão que amplia as fronteiras do possível. Ao mesmo tempo, elas se transformam em referências para outras meninas e mulheres, tornando-se fontes de inspiração e criando condições para também empoderá-las.

A ruptura, contudo, não é total. Quando os clientes lhes reservam funções de cuidado e acolhimento, persiste a tentativa de reencaixá-las nos papéis tradicionais, suavizando o impacto de sua presença em posições de decisão. Reconhecer essa tensão é fundamental para que o empoderamento não se limite à celebração de casos de sucesso, mas se converta em transformação estrutural.

Tornar públicas as trajetórias dessas guias é uma forma de proporcionar visibilidade, mas também é um gesto político que amplia o repertório de narrativas femininas no esporte, evidenciando o empoderamento dessas mulheres. Dessa forma, os caminhos aqui traçados podem incentivar meninas e mulheres a se inserirem no montanhismo, seja como praticantes ou guias, bem como servir de estímulo para pesquisadoras que se dedicam a estudar as relações entre as mulheres e o esporte. Só assim a coragem dessas pioneiras deixará de ser exceção e se tornará expectativa.

Por fim, o estudo apresentou algumas limitações, como o pequeno número de participantes, reflexo do pouco número de mulheres guias, e a escassez de estudos sobre as relações das mulheres com o montanhismo. Sugerimos que outras pesquisas sejam desenvolvidas abordando mulheres que atuam como guias de montanha, especialmente, no Brasil. Questões relacionadas à profissionalização, aos marcadores de raça, classe, maternidade e deficiência, também indicam lacunas a serem investigadas.

DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

Os dados de pesquisa só estão disponíveis mediante solicitação.

  • 1
    Na Era Vitoriana, as damas deveriam usar vestidos longos de algodão, sapatos da moda e segurar um guarda-chuva, o que as montanhistas da época consideravam inadequado para a prática da modalidade (Mazel, 1994).
  • 2
    Refere-se a uma atuação ou desempenho que é amplamente conhecido, público e evidente. Nesta pesquisa, a participante-chave é reconhecida e admirada entre os/as guias de montanha do Brasil e, no momento da pesquisa, residia fora do país para consolidar a sua empresa e ampliar o escopo do seu trabalho.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • ÉTICA DE PESQUISA
    A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa Maria. Número do protocolo: 5.820.256
  • COMO REFERENCIAR
    MORO, Luciana Gomes; ARRUDA, Tanise Zeppenfeld; JAEGER, Angelita Alice. As relações de gênero nas trajetórias das brasileiras guias de montanha. Movimento, v. 31, p. e31045, jan./dez. 2025. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.142463

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Editado por

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Nov 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    12 Set 2024
  • Aceito
    09 Jul 2025
  • Publicado
    03 Nov 2025
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