Open-access A CULTURA DO LIVRO E A PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

BOOK CULTURE AND POSTGRADUATE STUDIES IN PHYSICAL EDUCATION

LA CULTURA DEL LIBRO Y EL POSTGRADO EN EDUCACIÓN FÍSICA

Resumo:

A crise na cultura do livro foi analisada com base em suas causas e implicações para a formação e avaliação na pós-graduação em Educação Física. Destacou-se a convergência entre a cultura do livro e a universidade de qualidade. Como forma de promover a cultura do livro propõe-se a noção de biblioteca como projeto de autoria considerando que a produção literária constitui um percurso formativo no qual se destacam a liberdade e a autonomia acadêmica.

Palavras-chave: Livros; Educação Superior; Educação de Pós-Graduação

Abstract:

The crisis in book culture was analyzed based on its causes and implications to academic studies and postgraduate evaluation in Physical Education. Convergence between book culture and university was pointed out. To promote book culture, the notion of library was proposed as a project of authorship, bearing in mind that production of academic literature is an educational pathway in which academic freedom and autonomy are main features.

Keywords: Books. Education; Higher. Education; Graduate

Resumen:

La crisis en la cultura del libro fue analizada en función de sus causas e implicaciones para la formación y evaluación en el postgrado en Educación Física. Se destacó la convergencia entre la cultura del libro y la universidad de calidad. Como forma de promover la cultura del libro, se propone la noción de biblioteca como un proyecto de autoría considerando que la producción literaria constituye un camino formativo donde se destaca la libertad y la autonomía académica.

Palabras clave: Libros; Educación Superior; Educación de Postgrado

1 INTRODUÇÃO

Foi Ptolomeu, soldado de Alexandre, o Grande, quem ordenou que fossem retidas todas as edições originais de livros, manuscritos e pergaminhos que se encontrassem nos navios que faziam escala em Alexandria, e que fossem copiados e traduzidos. Este foi o primeiro projeto de uma biblioteca universal no Século III b.C. Mais tarde, no ano 640 da Era Cristã, foi içada a bandeira de Maomé nas muralhas de Alexandria...o Emir Amr ibn Al declara: conquistei a grande cidade do ocidente. O Califa Omar consultado sobre os livros opina: se o conteúdo da biblioteca está de acordo com o livro de Alá, podemos dispensa-lo porque o livro de Alá é mais do que necessário. Se, pelo contrário, contém algo que não está de acordo com o livro de Alá, não há necessidade de conserva-lo. Quatro mil casas de banho receberam os livros da biblioteca para serem queimados em suas estufas. Foram necessários seis meses para queima-los. Em 1933, os nazistas alemães, instigados por Goebbels, assaltaram bibliotecas públicas e privadas da Alemanha e queimaram milhares de obras de autores que não eram benquistos pelo novo regime.

Nosso objeto é o livro e seu papel na formação acadêmica. O livro, esse pequeno objeto, às vezes grande, é definido por um maço de papel manuscrito, datilografado, impresso ou não, e envolto por duas capas. Para muitos o livro está no limite de sua existência: seu uso questionado, sua forma desafiada. Quem precisa dele quando a internet coloca “tudo” no alcance de um dedo que desliza sobre a tela. Na era digital, a sua forma física é obsoleta2. Todavia, o maior dos perigos para o livro é a perda de seu significado e sentido. Numa palavra, ou duas, o livro é sinônimo de autonomia e de liberdade. Espero ao final deste ensaio postar essa tese na mesa da leitora ou do leitor. A história da biblioteca de Alexandria e da perseguição e queima dos livros por regimes totalitários se repetiu muitas vezes na trajetória da humanidade. Talvez o principal motivo que incita o ataque aos livros é o medo do germe da autonomia e liberdade que ele costuma lançar na mente de quem o lê. Autonomia e liberdade são finalidades de uma formação, senão de toda formação e a formação acadêmica não é estranha a esse sentido. Ironicamente, enquanto escrevo o presente ensaio, a autonomia e a liberdade das universidades públicas são questionadas, e sob ataque, a autonomia é confundida com balburdia, a liberdade é sinônimo de libertinagem. Neste ensaio busco traduzir um pouco do que pode o livro, da potência de sua cultura, como forma de encontrar uma saída para os tempos obscuros que se anunciam. Falar de livro hoje, não por acaso, implica em falar das universidades, a luta pelos livros é a luta pelas universidades.

2 DA CULTURA DO LIVRO

Pensado durante as discussões do Fórum de Pós-Graduação das Áreas Sociocultural e Pedagógica realizado em Porto Alegre, RS, em novembro de 2018, o presente ensaio teve um catalizador no texto de 19 de dezembro do mesmo ano sobre a crise na cultura do livro do Professor Emérito José de Souza Martins da Universidade de São Paulo, no Jornal da USP 3. Os seus argumentos incidem, a meu ver, no tratamento dado ao livro na Pós-Graduação em Educação Física.

O Professor Martins vê o motor da crise no “livro-mercadoria” e contraposição ao seu papel como “instrumento de difusão da cultura”. Ele nos lembra que a disseminação social da cultura letrada, um dos marcos civilizatórios da humanidade, teve no livro um “instrumento que criou uma sociabilidade comunitária”. A criação da impressão com tipos móveis a partir do Século XV, e com ela a proliferação de livros, engendrou a ideia de infância como categoria social (POSTMAN, 1994). O argumento do Professor Martins é o de que as grandes livrarias se afastaram dessa tradição. Como ele diz: “apostaram mais no comprador do que no leitor”. O mercado editorial equivaleu o livro a um bem de consumo e, portanto, incentivou um consumo compulsivo e rápido. O livro como nos mostra o Professor Martins é:

[...] bem de uso, com uma durabilidade que não se confunde com a do que é consumível. Não é simplesmente produto, é obra, que com o sociólogo Henri Lefebrve, podemos assim definir para diferencia-lo enquanto meio de expressão da dimensão monumental da vida social, a do saber. (MARTINS, 2018) 4

José de Souza Martins nos fala de um diálogo silencioso (da leitura e conversa imaginária entre leitor e autor) mas não menos concreto (nos traços com que sublinhamos as linhas escritas do autor e nos comentários que lhe endereçamos nas margens do livro). Esse diálogo envolve um tempo diferente, distinto do imediatismo frenético dos bens de consumo. Ítalo Calvino já falou sobre os livros que nunca cessam de dizer o que tem para dizer, dos livros acerca dos quais “se ouve dizer: “Estou relendo...” e nunca “Estou lendo...” (CALVINO, 1994, p.9). Por isso, o Professor Martins enfatiza: “o livro pede um tempo lento de reflexão”.

Ele destaca ainda o espaço da livraria como “um lugar de encontro do leitor com o livro e não simplesmente como lugar de compra de livros”. MARTINS, 2018 5, Livrarias de ontem e algumas de hoje foram e são espaços de estar na companhia de livros e de quem gosta de livros, de conversar e refletir com eles e com todos os leitores. Livrarias constituem espaços de reunião de literatos, pontos de encontro de escritores, saraus para poetas e poetisas, para todos enfim apresentarem suas teses e desfrutarem da crítica da audiência6.

A livraria remete à biblioteca. Não há uma definição única de biblioteca, ora vista como local para armazenar livros e documentos escritos, ora como organização de toda cultura letrada que se espraia em estantes, paredes, mesas. Como nos mostra James Campbell e Will Pryce (2016), esses espaços existem desde a Antiguidade, muito antes, portanto, do livro existir no formato impresso. Eram locais de registro, organização e guarda do “saber”. As bibliotecas em seu percurso histórico tornaram-se espaços para transcendência pela leitura reflexiva de escrituras e textos sagrados e sábios, assim como para sua cópia e preservação como nos mosteiros dos Séculos XIII e XIV em diante. Elas também se tornaram locais requintados e sofisticados, meio de ostentação de poder e prestígio como as bibliotecas de monarcas e aristocratas entre os Séculos XVI e XVIII na Europa. A partir do Século XIX, inspirada pelo Pensamento Iluminista, muitas nações-estado instituem a sua biblioteca nacional: sítio de todo saber universal acumulado em livros, escrituras e documentos, como também daquilo que importa a sua cultura, com acesso livre a todos. As universidades mundo afora imbuídas desse espírito iluminista também criaram suas bibliotecas para colocar o patrimônio cultural da humanidade ao alcance de seus estudantes como alicerce para uma formação sólida.

O texto de Martins nos impacta ao mostrar o livro como um espaço para reflexão com duração e profundidade. Logo não é objeto de consumo, mas ferramenta de conhecer, de pensar, de refletir. Ele ao tratar da livraria não como um local de consumo, mas como espaço de encontro, diálogo e reflexão nos remete ao sentido de uma biblioteca. Voltaremos a ela mais à frente.

3 POR UMA CULTURA DO LIVRO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Muito já se falou sobre o sucesso da avaliação para o sistema nacional de pós-graduação. Todavia, ela tem sua parcela de contribuição, nada lisonjeira, na crise da cultura do livro em particular na Educação Física. A prática dessa avaliação levou ao quase banimento do livro enquanto obra de formação do estudante.

No II Fórum Permanente de Pós-Graduação do CBCE realizado em Florianópolis, SC, em 2007, o Professor Lucídio Bianchetti (UFSC) ao tratar da “Cultura do livro na pós-graduação” chamou atenção para os perigos que a avaliação com enfoque quantitativo poderia trazer para o próprio livro7.

Tratava-se de uma tragédia anunciada como mostrava Lindsay Waters (2006), editor executivo de uma das mais prestigiosas editoras universitárias do mundo: Harvard University Press. Ele argumentava que o livro, obra de autoria, formador do leitor e exigente de um tempo lento de reflexão, banalizou-se ao se tornar indicador de produção intelectual, para julgamentos de efetivação da estabilidade de cargos docentes nas Universidades Americanas. Waters afirma que há “um elo causal entre a demanda corporativa pelo aumento da produtividade e o esvaziamento, em todas as publicações, de qualquer significação que não seja gerar números” (WATERS , 2006, p.12). Mais adiante ele afirma: “Quando os livros deixam de ser meios complexos e se tornam, em vez disso, objetos sobre os quais quantificamos, então se segue que todos os outros assuntos que as humanidades estudam perdem seu valor” (p.12).

O livro como obra de autor e meio de reflexão, torna-se objeto de consumo, na pós-graduação quando se torna um item a ser classificado em estratos. Num excurso do que é uma produção acadêmica, não se discute o valor do livro, mas os pontos que gera. Produtividade no mundo universitário facilmente se transmuta em produtivismo que por definição é a produção intelectual desenfreada sem a devida reflexão sobre sua contribuição para conhecimento acadêmico e humano. As bancadas dos laboratórios tornam-se linhas de montagem onde estudantes de iniciação científica, de pós-graduação e pós-doutorandos são como um Carlitos8 desesperado por não dar conta de apertar parafusos e mais parafusos que correm pela esteira da produção, partes de uma engrenagem que eles não têm a mínima ideia do que se trata.

Coloque o livro na esteira do produtivismo que assolou a produção de artigos e temos os ingredientes para a crise que impera na cultura do livro. Se as grandes livrarias investiram no consumo e não no leitor, a avaliação da pós-graduação induz a produção em série de livros e capítulos de livros sem a preocupação com sua recepção pelo leitor, sobretudo acerca de como o livro forma e é formado pelo leitor. O livro só é livro se há o leitor, o leitor informado, civilizado na cultura letrada. Num ensaio escrito há doze anos (CARVALHO; MANOEL, 2007) destacamos o sentido formativo do livro para o estudante e as comunidades acadêmicas na Educação Física. De forma proposital, ilustramos esse papel com livros impactantes na história da Física e Biologia para denotar a importância do livro para além das Humanidades. Se a pós-graduação tem a missão de formar recursos humanos para ensino superior, estamos falando do docente que produz conhecimento e, portanto, que é autor. O docente seleciona, sintetiza, sistematiza e difunde conhecimentos, e nesses atos, sempre articulados, produz mais conhecimentos. No conjunto estamos falando de um docente reflexivo, autor e criativo, culto e civilizado na cultura letrada.

Quando o livro e o capítulo de livro são tratados como itens a serem pontuados temos o que José de Souza Martins denominou como livro-mercadoria. O que importa é a quantidade em que se produz o item e a voracidade com que é consumido. Embora a recepção do livro não seja objeto de indicadores de avaliação trata-se de uma conclusão lógica a de que a ênfase está na produção em série: a cada triênio ou quadriênio o docente deverá apresentar novos produtos, novos livros. A produção em série do livro se contrapõe à capacidade de sintetizar e sistematizar novas ideias que como nos diz Waters não é trivial quando se considera livros importantes na história das Ciências e Humanidades. A quantificação exacerbada da produção intelectual torna em material e efêmero o principal capital dessa produção: a imaterialidade que reverbera nas ideias e pensamentos dos estudantes e docentes de ontem, de hoje, de sempre.

O produtivismo nos livros opera numa lógica comum à dos artigos cujo tempo de vida raramente ultrapassa cinco anos. Artigos são produzidos e correm o risco de se tornar obsoletos ainda antes de sua publicação. As revistas eletrônicas trazem artigos dos números atuais e passados, mas também dos vindouros. Os livros eletrônicos já estão aí para agilizar o consumo. O formato do livro, cabe lembrar, tem sua história ligada ao desenvolvimento do códice (WATERS, 2006). O códice refere-se às placas de madeira usadas para o registro gráfico que deram origem ao livro em seu formato mais conhecido. Muitos argumentam que nada há de diferente no livro eletrônico, ele só é veiculado numa nova forma de placa: os “tablets”. O problema é a cultura que leva a esse tipo de produção e que nem sempre privilegia o que o Professor Martins se referiu como “tempo lento de reflexão”. O livro precisa ser lido de verdade, com rigor, com tempo, com duração. Se isso será feito numa placa de madeira, numa brochura ou num celular não é o maior problema.

A ênfase no produtivismo presente na aferição da produção intelectual por meio de livros é sintomática de uma crise mais ampla na cultura do livro. José de Souza Martins nos fala da importância dos espaços onde se guardam os livros, sobretudo nos espaços sociais em que os leitores se encontram. O estudante que vai a busca do livro numa biblioteca ou livraria acaba por esbarrar em outro livro, desconhecido, na estante9, mas tão interessante quanto o que ele procurava. A cultura digital faz com que o estudante de hoje não perca seu tempo indo até a biblioteca pois tudo ou quase tudo está disponível online. Se há vantagens nesse processo - como acessar obras raríssimas e há muito fora de catálogo - as livrarias e bibliotecas físicas desempenharam papel importantíssimo na formação do leitor, na formação de uma cultura letrada que dá valor ao tempo lento e refletido que os livros exigem. O espaço físico da biblioteca e da livraria guarda sempre a possibilidade da sociabilidade comunitária a que José de Souza Martins fez referência. Mas qual seria a solução para avaliação da pós-graduação, para a contabilização dos livros como produção intelectual? Nos Estados Unidos, a opção foi considerar as editoras e seus mecanismos de verificação da qualidade dos manuscritos (WATERS, 2006). Como na avaliação dos artigos, ocorre a terceirização da avaliação para as editoras.

Waters critica essa atitude exortando as comissões a exercerem seu papel avaliativo e de fato avaliar o que significa pura e simplesmente em “ler os livros”. Ler os livros com o olhar do que significa essa obra no contexto da cultura do livro e da pós-graduação, da formação de recursos humanos, e da produção de conhecimentos. Com preocupações operacionais, colegas envolvidos na avaliação costumam ponderar que isso levaria muito tempo, além de ser muito subjetivo. Não há saída operacional quando se considera a importância e a complexidade envolvida numa avaliação. Avaliar é um processo difícil e leva tempo. Se a intenção é avaliar bem não há atalhos. O ato de julgar não pode ser tomado levianamente, a implicação é dedicar tempo ao tempo de refletir e julgar. Ademais, avaliar é sim subjetivo pois consiste em julgar, em fazer juízo de valor. Atualmente, muitas comissões julgadoras na pós-graduação ou não, em nome de subtrair o subjetivo, eximem-se de avaliar, ao fazerem uso indiscriminado de indicadores, como se suas escolhas não fossem permeiadas e compromissadas com valores. Pessoas e comissões, no melhor de suas intenções, se desdobrarem na busca dos indicadores mais precisos e objetivos mas que pouco respondem a uma das questões fundamentais para qualquer avaliação que visa construir uma pós-graduação melhor: “[...] qual é a relação entre pensamento, erudição e publicação?” (WATERS, 2006, p. 83). A busca por indicadores é justa mas nunca pode substituir o ato humano de avaliar. Avaliar é refletir, é pensar, é construir a partir do presente o que é possivel alcançar num futuro imediato.

Em perspectiva, o desafio para todos os envolvidos na avaliação na pós-graduação não diz respeito à busca dos melhores indicadores ou de quantidades e números. Números numeram e computam, números não julgam, mas informam quem julga. Na mesma linha, a questão não é considerar as editoras e seus processos de submissão: análise editorial, análise de mérito dos textos, presença de corpo de consultores ad hoc gabaritados e reconhecidos. Nem mesmo os eventuais rankings de editoras. Assim como números numeram, rankings dão ordens de escala. Nem um, nem outro avaliam, ainda que informem o processo de avaliação. Eles informam melhor quando possibilitam a quem avalia mirar o mesmo objeto por diferentes angulos. Números e rankings subsidiam o ato de julgar, todavia não o substituem. A substituição do julgamento pelo indicador é onde repousa o grande problema expresso na idéia e crença de que é possivel terceirizar nosso ato de julgar para números e rankings. Esse é um sintoma de um problema maior na formação acadêmica e na cultura do livro. Julgar e avaliar requer um pensador reflexivo, alguém que não fuja à responsabilidade de julgar. Avaliar se conduz envolto num tecido urdido de valores, investido de uma missão, com um norte, com metas, num processo que é antes imaginar o que poderia ter sido, vislumbrar o que pode ser melhor. Avaliar, portanto, implica em desenhar cenários possíveis e escolher dentre eles o que pode ser o melhor.

Privilegiar o leitor, a formação do leitor. Garantir o tempo necessário para que o docente faça do livro uma obra de autoria e não um produto a ser contabilizado. Dar relevo ao tempo lento e refletido na leitura e apropriação da obra literária. Fazer tudo isso valorizando livrarias e bibliotecas entendidas como o tempo e o lugar para leitura e reflexão, para exposição e discussão de ideias e teses. Esses espaços sociais já mostraram historicamente seu papel formativo e civilizador da humanidade. A pós-graduação perde com a crise na cultura do livro, por perder sua principal dimensão: a humana.

A pós-graduação em Educação Física teria muito a se beneficiar de uma cultura do livro. Não sendo ciência strictu senso, a graduação nesse campo oferece poucas oportunidades de contato com disciplinas básicas e tradicionais dos campos cuja as orientações desenham a educação física como campo acadêmico. O acesso aos clássicos das ciências biológicas, das ciências humanas e sociais durante a graduação é esparso, a formação básica é superficial e fragmentada. Essas lacunas custam caro à formação. A revisão de literatura, por exemplo, necessita ser precedida de outra em que o estudante, docente, pesquisador tem a clareza de quais são as principais questões teóricas e metodológicas da temática em que se insere seus estudos e pesquisas (ALVEZ-MAZOTTI, 2002). Essa revisão é ampla em escopo e profunda ao abarcar as questões fundamentais das ciências. Todos nós da Educação Física, seja qual for a orientação que seguimos - das ciências naturais ou sociais - necessitamos realizar uma cartografia das obras clássicas e fundamentais das áreas e temáticas em que nos sustentamos. A dificuldade em realizar essa cartografia está na relação direta com uma cultura do livro pobre ou inexistente. A seguir, apresentamos uma proposta para suprir essas lacunas na formação acadêmica em Educação Física.

4 DA BIBLIOTECA COMO PROJETO DE AUTORIA

Como enfrentar a crise na cultura do livro? Proponho que se reconsidere o papel da biblioteca para a formação e produção acadêmica. A biblioteca teve uma história de altos e baixos como nos diz Crawford (2015). Elas foram construídas com muito gosto e esperança, mas também destruídas por preconceito ou negligência. Renasceram nos projetos de reconstrução de novas gerações. As bibliotecas são entidades orgânicas e em constante mudança. Já foram muitas coisas e tiveram vários sentidos como é listado por Crawford:

  1. Coleção de livros;

  2. Centro para estudos acadêmicos, filosóficos e teológicos;

  3. Memória universal;

  4. Labirinto;

  5. Repositório de conhecimento proibido e oculto;

  6. Santuário;

  7. Fortaleza;

  8. Espaço de transcendência/veículo de espiritualidade;

  9. Sítio de riqueza e ostentação;

  10. Máquina do tempo;

  11. Local para a busca da verdade.

Alberto Manguel (2006) nos fala da biblioteca como mito, espaço, ordem, oficina, mente, ilha, sobrevivência, imaginação, identidade, lar entre outros. Dessas possibilidades quero destacar duas: a biblioteca como ordem e como identidade.

A biblioteca como ordem sugere a organização dos livros por códigos. Manguel nos conta as inúmeras formas elaboradas para categorizar os livros de uma biblioteca, desde as suas caraterísticas físicas (tamanho, cor, etc.) até os assuntos por eles tratados. Quem frequenta bibliotecas está acostumado com as referências numéricas no lombo de cada livro que por sua vez remete a áreas e temas de conhecimento dadas pelo Sistema Dewey de catalogação. Todavia, a ordem na biblioteca vai para além desse e outros sistemas. Ordem, como nos mostra Manguel, refere-se a um modo de ver o mundo. Uma maneira de descrevê-lo - os dicionários, os de língua, os de ciências, de arte, etc. - de explica-lo - os livros de referência, os tratados - e com seus modos de interpretar como se descreve e explica - os livros de filosofia, de metodologia, de técnicas. A ordem também pode se referir à compreensão que uma pessoa tem de si e dos outros, de suas origens, história e contexto - os livros de ficção, de crônicas, de ensaios. Uma biblioteca pode mostrar em sua ordem não só um modo de ver e lidar com o mundo, mas de promulgar uma ideia, uma tese sobre o mundo, sobre as relações de um e de muitos sobre e com o mundo. É difícil imaginar um acadêmico, alguém que se ocupa de descrever, explicar e agir sem uma biblioteca com uma ordem particular, ordem da qual emana uma compreensão de mundo e dos modos de ação.

A biblioteca como identidade remete ao reconhecimento de que ela deveria abarcar obras que dizem de quem as colocou lá. Por exemplo, a constituição de bibliotecas nacionais nos Séculos XVIII e XIX teve como objetivo forjar a identidade de uma nação, de um povo, de uma cultura. Essas bibliotecas também buscaram revelar a diversidade que faz um país, um povo com não uma, mas muitas culturas. Ao constituir a minha biblioteca pessoal, eu também estabeleço a minha identidade. Os livros que escolho para compor a biblioteca revelam o leitor que sou. O leitor que sou diz de mim: dos meus valores, das minhas preferências, dos meus preconceitos, dos meus juízos.

Destacar ordem e identidade como instâncias de uma biblioteca tem a intenção de mostrar que nenhuma formação acadêmica pode prescindir da tarefa a que todo estudante deve se dedicar: formar sua própria biblioteca. Cada estudante necessita elaborar e levar a cabo o seu projeto de biblioteca como meio e fim de constituir sua visão de mundo - biblioteca como ordem - e seu perfil como futuro pesquisador e docente - biblioteca como identidade.

É de Antônio Cândido, Professor Emérito da Universidade de São Paulo, a ideia de que toda biblioteca é uma obra de autoria10 que se revela nos atos e escolhas que o colecionador realiza e faz na seleção de livros, na sua disposição em estantes, na amplitude de títulos presentes na biblioteca. Desse modo, o colecionador de livros torna-se autor de sua biblioteca. Talvez, venha daí o hábito de nos referirmos a biblioteca pelo nome de seu dono como a biblioteca de “Antônio Cândido”, de “José Mindlin”, de “Marilena Chauí”, de fulano ou de beltrano. Antes de indicar propriedade, destaca-se a autoria. Toda biblioteca pessoal é um projeto de autoria. Todo estudante só pode se constituir como autor ou autora na medida em que constitui a sua biblioteca. Quais são as ações formativas na pós-graduação no sentido de guiar e orientar estudantes para se tornarem autores de sua biblioteca? Sem tal projeto não há ordem na concepção de mundo do estudante, ele não constitui sua identidade e sobretudo não se torna autor.

A biblioteca como projeto de autoria relaciona-se a outra atividade acadêmica importante: a elaboração de memorial. Trata-se da narrativa docente sobre sua trilha de investigações e realizações. O memorial é a autobiografia intelectual do docente em que ele diz de suas escolhas teóricas e metodológicas. Se o memorial deve mostrar os achados, ele é antes a narrativa de uma busca. Percorrer os corredores e estantes de uma biblioteca incorre em fazer o percurso autobiográfico de seu autor. A biblioteca não só mostra uma ideia, mas denota o percurso formativo de uma ideia, de uma tese, de um projeto de conhecer e agir no mundo.

A exigências para titulação na pós-graduação em Educação Física referem-se ao cumprimento de créditos em disciplinas e na condução de pesquisa e redação da dissertação ou tese. A elaboração do projeto de biblioteca pelo estudante pode contribuir para uma formação acadêmica coerente, consistente e sólida. Com ele se pode vislumbrar o percurso formativo que o estudante traçou para si no emaranhando de áreas e temas a partir dos quais se desenha o campo acadêmico.

5 DO LIVRO COMO LIBERDADE E AUTONOMIA

A biblioteca como projeto de autoria é uma chave mestra para formar recursos humanos com autonomia para docência, para orientação na pesquisa. Luciano Canfora (2003) faz uma análise em que contrasta o papel da leitura de livros na Antiguidade e no romance clássico de Miguel de Cervantes “Aventuras do engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha” (1605/1607). Se na Antiguidade, o filosofo lia para contemplar e compreender o mundo, em Dom Quixote, o protagonista ao ler livros se vê impelido a agir no mundo, para transformá-lo desfazendo toda injustiça que nele viceja. O livro tem poder ao instigar a liberdade e autonomia do leitor. Não é por acaso que livros são indesejáveis para aqueles que tem como projeto de poder subjugar pessoas.

Voltamos, portanto, ao cerne da crise na cultura do livro. Por que é importante valorizar os livros? Porque sem eles não há como formar pessoas capazes não só de interpretar o mundo, mas também para agir na sua transformação. Interpretar o mundo e agir para transforma-lo são lados da mesma moeda do ser docente como nos mostra Noam Chomsky (1972). Não é tarefa fácil: ela exige formação. Em defesa da cultura do livro gostaria de apontar para o que a crítica literária brasileira tem se destacado em mostrar. Antônio Cândido foi pioneiro em mostrar como a obra literária se reveste de uma autonomia da realidade e como tal nos permite apreender sentidos ocultos na própria história de eventos, do contexto, de realidades de outrora mas que se repetem tornando as obras (clássicas) sempre atuais. Como é discutido por Cândido em seu livro “Formação da literatura brasileira” (2017, original de 1957), a constituição da literatura de um povo não se faz independente das condições estruturantes em que vivem, ou das ideias, conceitos e preconceitos que constituem suas atitudes. O estudante de pós-graduação não se faz enquanto estudante sem uma imersão na cultura do livro. Nela se pode apreender a rede de textos e contextos que balizam o pensamento, a maquinaria social de seu meio, os processos históricos de sua comunidade e sociedade. A imersão na cultura do livro ajuda o estudante a construir e configurar seus juízos e olhares críticos sobre processos e eventos, sobre o mundo.

O mundo se faz dos locais que longe dos nossos olhos se comunicam e intercomunicam urdindo a rede e desta o tecido de fundo do que se chama universo. A leitura de livros, a imersão na sua cultura nos embebe das situações, dos raciocínios, dos dilemas, das lógicas, das decisões, dos infortúnios de um mas também de muitos o que lhes dá, a um só tempo, o sentido do local e do universal. O que se passa em Itaguaí (cidade protagonista do conto “O alienista” de Machado de Assis) pode também ocorrer em São Paulo ou Nova York. Um ensaio de crítica literária como o “As ideias fora do lugar” de Roberto Schwarz (original de 1977, edição reimpressa de 2012) nos fala mais da história do Brasil do que um compêndio especializado. Schwarz ao analisar a literatura brasileira do Século XIX mostra como se estabeleceram paradoxos na sociedade brasileira presentes até hoje. Por exemplo, uma colônia que funda sua independência num projeto de modernidade, mas se mantém como sociedade escravagista. Depois adota um regime republicano sem abandonar as práticas da monarquia. As ideias fora do lugar são dramatizadas, satirizadas em romances e contos. O leitor ao se estranhar com elas se vê diante do espelho que revela sua face e na moldura o seu contexto.

Livros em sua maioria são projetos de autores ou mesmo de coletivo de autores. Autoria não é a indicação de quem fez o livro, mas o estatuto de suas ideias e teses que na maioria das vezes não tem compromisso com os donos do poder. A história de perseguições a livros e autores é longa e passa pelos radicalismos religiosos e políticos. Se na seção anterior falei da biblioteca como projeto de autoria é porque o objeto da biblioteca: a obra literária é um exercício de liberdade de ideias. Por consequência, torna-se igualmente a prática da autonomia. Como é possível falar de um autor sem que ele seja livre e autônomo?

O sentido crítico-reflexivo e de ação que os livros ensejam, que as bibliotecas estruturam e suportam, representa um perigo para quem tem ideias e índoles totalitárias. No início do presente ensaio disse que ele tratava da cultura do livro, mas incidia em outra crise: a das universidades. Liberdade e autonomia são dois ideais e finalidades caros às universidades. É longa a história de luta pela autonomia universitária. Primeiro para existir independente da Igreja. Segundo para ter autonomia de pensamento em relação aos dogmas de ideologia hegemônicas. Terceiro para existir e agir sem interferência do Estado ainda que a serviço dele. Nesse sentido, há uma convergência entre os desafios que a crise da cultura do livro coloca para a formação acadêmica e o ataque que as universidades publicas sofrem. Em ambos os casos o que está sob ataque é a liberdade de ideias e a autonomia de ser e agir. Não há liberdade e autonomia sem a formação voltada para autoria. O livro como a biblioteca podem não ser os únicos agentes na formação da autoria (e na constituição de alguém livre e autônomo), mas ambos são necessários e prementes para essa formação. Livros organizados numa biblioteca é a nossa resposta aos desafios do conhecer e da sociedade, para navegar num mundo de mares revoltos e traiçoeiros. Perder o livro, como perder a biblioteca, é abandonar a esperança da universidade pública, farol para driblar os recifes da injustiça social, da intolerância e da tirania.

REFERÊNCIAS

  • ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. A “revisão bibliográfica” em teses e dissertações: meus tipos inesquecíveis - o retorno. In: BIANCHETTI, L.; MACHADO, A. M. N. (Org.). A bussola do escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. São Paulo: Cortez, 2002. p. 25-44.
  • AQUARIUS. Direção: Kléber Mendonça Filho. Produção: Emile Lesclaux et al. Roteiro: Kléber Mendonça Filho. Produção: CinemaScopio; SBS; Globo, 2016. (2h25min), son., color., 35 mm.
  • CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos? São Paulo: Cia. das Letras, 1994.
  • CAMPBELL, James; PRYCE, Will. A biblioteca: uma história mundial. São Paulo: Edições SESC, 2016.
  • CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos 1750-1888. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul; São Paulo: FAPESP, 2017. [original de 1957].
  • CANFORA, Luciano. Livro e liberdade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra; São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
  • CARVALHO, Yara M. de; MANOEL, Edison de Jesus. O livro como indicador da produção intelectual da Grande Área da Saúde. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.20, n.1, p. 61-73, 2007.
  • CHOMSKY, Noam. Problems of knowledge and freedom: the Russell Lectures. London: William Collins, 1972.
  • CRAWFORD, Alice. (org.) The meaning of the library. Princeton: Princeton University, 2015.
  • DEL NERO, Ciro. A celebração do dia. São Paulo: Theatron, 2008.
  • MANGUEL, Alberto. The library at night. New Haven: Yale University, 2006.
  • MARTINS, José de Souza. Crise na cultura do livro. Jornal da USP, 19 dez, 2018. Disponível em: Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/crise-na-cultura-do-livro/ Acesso em: 19 mar. 2020.
    » https://jornal.usp.br/artigos/crise-na-cultura-do-livro/
  • NOVAES, Beatriz C.A.; GUIRRO, Rafael R. de J.; BRACHT, Valter. O livro na pós-graduação: uma metodologia para avaliação do livro. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 5, n. 10, p.226-249, dez. 2008.
  • POSTMAN, Neil. The disappearance of childhood. New York: Vintage Books, 1994.
  • SCHWARZ, Roberto Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012.
  • WATERS, Lindsay. Inimigos da Esperança: publicar, perecer e o Eclipse da Erudição. São Paulo: Editora da UNESP, 2006.
  • 1
    O livro reúne os textos apresentados pelo professor Cyro del Nero no programa de rádio da Rádio Cultura FM de São Paulo. Nesta citação não há páginas, mas a divisão se dá por textos referentes ao dia de cada mês. O autor leu este texto no dia 10 de maio de 2008.
  • 2
    No filme Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho, a protagonista Clara é entrevistada por uma jovem jornalista que lhe pergunta: vejo a sua casa repleta de mídia física (LPs de vinil, fita cassete, CDs), você não ouve música pela mídia digital, “streaming”? Clara responde sim mas conta uma estória. Levanta-se, vai até a estante pega o LP “Double Fantasy” de John Lennon de 1980, seu último antes de ser assassinado. Clara conta que comprou o LP num sebo em Porto Alegre (o seu ela emprestou e nunca devolveram), e ao manuseá-lo descobriu no encarte um recorte de jornal que ela retira e mostra à entrevistadora. Veja, diz Clara, é uma matéria do Los Angeles Times de final de novembro de 1980 em que Lennon fala de seus planos para o futuro. Clara pega o LP e o recorte e diz: veja essa matéria foi publicada semanas antes dele ser assassinado e do LP ser lançado. Elevando os dois, Clara diz à jornalista: Isso torna esses objetos muito especiais!! Imune ao que Clara acaba de lhe dizer, a jornalista pergunta: então você não é contra o MP3? Clara resignada olha para a jovem e diz: Isso (mostra o LP e o recorte juntos) é uma mensagem na garrafa! Exemplos em meus livros não faltam, comprados em sebos eles vem com os nomes de seu último dono, pessoas desconhecidas, mas que num tempo tiveram o mesmo interesse que o meu. As anotações que deixaram nas margens das páginas, os grifos que fizeram em sentenças e parágrafos são ecos de seus pensamentos e falas, numa espécie de túnel do tempo, dialogam comigo, chamam minha atenção aqui e ali do que para ela ou ele é (foi) importante. Eu, como Clara, fico imaginando como isso seria possível na mídia digital.
  • 3
    Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/crise-na-cultura-do-livro/ . Acesso em: 20 dez. 2018.
  • 4
    Disponível em: jornal.usp.br/?p=217286
  • 5
    Disponível em: jornal.usp.br/?p=217286.
  • 6
    Enquanto escrevo ouço no rádio o convite de uma livraria no Centro de São Paulo para exibição gratuita na própria livraria do clássico do neorrealismo, “Roma: Cidade Aberta” de Roberto Rossellini, seguida de bate papo sobre o filme.
  • 7
    Os perigos foram contornados (mas não eliminados) nos primeiros anos da avaliação conduzida pela Comissão do Qualis Livro ad hoc da Comissão Permanente de Avaliação da Área 21 conforme pode ser consultado na publicação Carvalho, Y M; Manoel, E. de J.; Novaes, B.C.A.; Guirro, R. R.de J.; Bracht, V. O livro na pós-graduação: uma metodologia para avaliação do livro. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 5, n. 10, p.226-249, dez. 2008.
  • 8
    Ver aqui essa cena clássica do filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, 1936, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HPSK4zZtzLI
  • 9
    Os espaços, corredores e estantes, da biblioteca reproduzem a organização do conhecimento.
  • 10
    Relato presente na mostra permanente sobre a constituição da Biblioteca Pessoal de José Mindlin no saguão da Biblioteca Brasiliana Guita & José Mindlin na USP.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2020
  • Aceito
    16 Mar 2020
location_on
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: movimento@ufrgs.br
rss_feed Stay informed of issues for this journal through your RSS reader
Accessibility / Report Error