RESUMO
O artigo oferece uma discussão teórica interdisciplinar do conceito de aspiração,considerando estudos das áreas da psicologia,sociologia e economia e refletindo sobre sua importância para as ciências sociais e aplicadas. Ao levar em conta tanto os fatores internos como externos de sua formação, apresenta a aspiração como um conceito amplo para a análise de temas que envolvem o desenvolvimento humano.
PALAVRAS‑CHAVE:
aspiração; expectativa; realização; ciências sociais; interdisciplinaridade
ABSTRACT
The article offers an interdisciplinary theoretical discussion of the concept of aspiration, considering studies in the fields of psychology, sociology and economics, reflecting on its importance for the social and applied sciences. By taking into account both internal and external factors in their formation, aspiration is presented as a broad concept for the analysis of issues involving human development.
KEYWORDS:
aspiration; expectation; achievement; social sciences; interdisciplinarity
POR QUE ESTUDAR A ASPIRAÇÃO?
Aspiração, desejo ou ambição são palavras com as quais somos confrontados cotidianamente ao longo de toda a nossa vida. No dicionário de língua portuguesa, aspiração significa: “vontade imensa de conseguir alguma coisa; sonho, ambição” (Aspiração, 2025). Ao nos depararmos com o tema da aspiração, veio-nos à lembrança um artigo de jornal da escritora Martha Medeiros intitulado “Há os que querem, e os que querem mesmo” (2017). Nele, ela discorria sobre a invejável vida do navegador Amyr Klink, que, diferentemente de talvez 99% da população brasileira na virada do século, viveria uma vida repleta de aventuras e glamour. Mas a autora lembrava que, por trás dessa vida invejável, havia muito suor, remadas e renúncia de muitas coisas para alcançar um sonho. Hoje, olhando para trás, vemos que Medeiros nos fazia, de forma provocativa e bem-humorada, a pergunta que queremos responder cientificamente: o que é a aspiração, ou seja, esse desejo forte de alguma coisa, e por que considerá-la é importante para as ciências sociais e aplicadas?
Já naquela época a autora chamava a atenção para o fato de que existe uma diferença entre “querer e querer mesmo”, explicada da seguinte forma:
Antes de alcançar os pontos mais indevassáveis da Antártida a bordo de barcos equipados com alta tecnologia, Klink remou bastante, não ficou em casa mentalizando seu sonho. Querer mesmo significa abrir mão de uma série de confortos, tomar muito chá de banco, ver inúmeras ideias darem errado antes de darem certo [...] Querer, a gente quer muita coisa. Mas quase sempre é um querer preguiçoso, um querer que não nos impulsiona a levantar da cadeira, ainda mais quando nosso projeto tem 0,5% de chance de sucesso. É difícil conseguir o que se quer. Só se torna menos difícil quando se quer mesmo... (Medeiros, 2017).
Para ela, há uma diferença entre o sonho que apenas mentalizamos e o sonho que concretizamos. No meio acadêmico, Travis Lybbert e Bruce Wydick (2018) denominaram esperança desejosa e esperança aspiracional esse “querer e querer mesmo” a que ela se refere. Segundo eles, enquanto a esperança desejosa faz referência a um otimismo em relação ao futuro que não implica agência, a esperança aspiracional significa o otimismo em relação ao futuro no qual os sujeitos agem para alcançar algo. Em outras palavras, as aspirações correspondem a uma esperança muito forte em relação a algo que nos faz mobilizar recursos para alcançá-lo. Há, assim, uma relação intrínseca entre aspiração e agência. O problema é que, assim como mencionado por Medeiros, queremos coisas que às vezes estão muito longe do nosso alcance e não as concretizar nos frustra. Se o sonho que projetamos estiver muito distante daquilo que podemos alcançar, a tendência é que ele volte a se tornar um sonho que apenas mentalizamos ou, na pior das hipóteses, um sonho do qual desistimos por completo, assim como destaca a economista Eliana La Ferrara (2019).
A aspiração como conceito científico data, ao que tudo indica, da primeira metade do século XX e foi utilizada primeiramente na área da psicologia e, mais tarde, no campo da sociologia e da economia. Dada essa trajetória do conceito, este artigo realiza uma discussão teórica interdisciplinar, considerando autores e estudos que se tornaram referência nessas áreas de conhecimento. A discussão foi sistematizada mediante revisão bibliográfica de trabalhos clássicos e atuais, publicados em revistas nacionais e internacionais. Reconstituímos a história desse conceito em cada uma dessas áreas de conhecimento, sinalizando seus desdobramentos teóricos ao longo do tempo, com destaque para as discussões atuais. Trata-se de uma discussão qualitativa na qual apresentamos um quadro geral atual do debate, sem a pretensão de exaurir a temática.
Além de reconstituir a trajetória e o significado do conceito de aspiração nas áreas supracitadas, nosso objetivo é refletir sobre sua importância para as ciências sociais e aplicadas a partir das possibilidades teóricas e empíricas que ele oferece na atualidade. Dessa forma, colocamo-nos a seguinte questão: qual é a importância desse construto para as ciências sociais e aplicadas e quais possibilidades teóricas e empíricas ele abre para essa grande área? No que concerne ao seu uso na academia brasileira, chama nossa atenção a carência de trabalhos que abordam teoricamente esse conceito. O presente artigo é um primeiro passo para o enfrentamento dessas limitações, além de uma contribuição para a discussão sistemática do conceito, apontando sua importância para os estudos em desenvolvimento humano - algo que, até onde sabemos, não encontramos nem em língua portuguesa nem inglesa.
A discussão se encontra estruturada da seguinte forma: cada seção faz uma breve retomada histórica da definição do conceito e de outros desdobramentos teóricos em cada uma das áreas relacionadas. Iniciamos pela psicologia, seguimos para a sociologia e a sociologia da educação, que serão abordadas de forma conjunta, dada as suas afinidades temáticas, e chegamos à economia. Finalizamos nossa discussão retomando as principais conclusões, a fim de refletir sobre as possibilidades que esse conceito oferece à pesquisa nas ciências sociais e aplicadas.
ASPIRAÇÃO E PERSPECTIVA TEMPORAL FUTURA
Das áreas de conhecimento acima relacionadas, a psicologia foi aquela que fez as primeiras análises experimentais sobre a aspiração: estas remontam à primeira metade do século XX e influenciaram os debates nas demais áreas. O objetivo dessas análises era compreender as estimativas dos indivíduos em relação ao seu desempenho futuro. Falava-se então de aspiração (Freitas, 1969) e o “nível de aspiração” era mensurado pela intensidade das estimativas.
Limitados a situações de laboratório e a uma análise comportamental do grau de esforço dos indivíduos em atividades escolares e laborais, os resultados desses estudos pouco contribuiu para a compreensão da aspiração como fenômeno social. A partir da década de 1930, graças a Kurt Lewin (1958), novos elementos foram incorporados à psicologia social e fatores que interferem no sucesso e no fracasso da ação humana e sua relação com a formação da aspiração passou a ser levado em conta.
Essa mudança epistemológica gerou importantes desdobramentos para o conceito de aspiração na psicologia. A aspiração passou a ser compreendida:
como meta ou propósito, que se almeja alcançar, [e] pode surgir em forma de desejo de realização, de ser ou possuir algo, ou ainda de atingir determinado status [...] Difere do simples desejo, por ser mais estável e permanente do que este, sendo funcional, no sentido de que o indivíduo, para atingi-la, necessita instrumentar-se para tal, ou seja, é um fim, um objetivo que o indivíduo idealiza e que só pode ser atingido utilizando-se de determinados meios. Apresenta-se em diferentes níveis, que variam de pessoa para pessoa, e cronologicamente também pode sofrer uma alteração numa mesma pessoa (Carvalho, 1988, p. 34).
Destaca-se o sentido de aspiração como uma meta ou desejo de fazer, ser ou ter algo, seja saúde, riqueza, carro, trabalho ou prestígio. Exige agir, lançar mão de determinados meios, mais concretamente, daqueles que estão disponíveis no ambiente social imediato do indivíduo, podendo esse objeto de desejo alterar-se com o passar do tempo. No processo de formação das aspirações, processos exógenos - como práticas, normas e valores ofertados por grupos de referência - ganham importância, na medida em que determinam os objetos de desejo e os meios de alcançá-los. Por outro lado, são caros ao campo da psicologia os processos endógenos das aspirações, assim como veremos mais adiante.
Como fenômeno psicossocial, a aspiração se forma ao longo do desenvolvimento humano, no contato com o mundo externo, e exerce forte influência sobre o comportamento dos indivíduos. De lá para cá, as pesquisas sobre a aspiração se multiplicaram na psicologia, abrindo caminho para abordagens que tratam direta ou indiretamente do assunto. Embora o conceito de aspiração apresente aqui um significado amplo, mantém-se na área um grande interesse pela aspiração à carreira profissional e à educação, especialmente do jovem. Atualmente, o conceito de aspiração é bastante discutido em estudos que tratam da perspectiva temporal futura.
A perspectiva temporal futura diz respeito a diferentes processos cognitivos e os estudos sobre ela têm como base teórica a noção desenvolvida por Kurt Lewin de que as percepções de passado e futuro do indivíduo impactam seu comportamento presente (Coscioni et al., 2020). Esses estudos se interessam pelos processos cognitivos endógenos e como possibilitam que uma pessoa tenha sucesso na realização de tarefas profissionais e/ou educacionais. Dessa forma, o conceito de aspiração é discutido paralelamente a fenômenos semelhantes, como expectativas, metas, objetivos ou projetos de vida. Embora reconheçam a importância das determinantes externas para a aspiração, esses estudos têm como foco os processos endógenos, ou seja, a relação entre aspiração e expectativa, bem como entre aspiração e realização. No caso do Brasil, há uma escassez de estudos sobre perspectiva temporal futura ou que ofereçam uma discussão teórica sobre esses diferentes processos, ao passo que é possível encontrar na literatura um interesse crescente pela utilização dos conceitos de expectativa e projeto de vida (Fleith et al., 2020; Costa; Alberto, 2021).
OS PROCESSOS EXÓGENOS DA ASPIRAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA SOBRE OS PROCESSOS ENDÓGENOS
As teorias desenvolvidas no campo da psicologia buscam explicar a influência dos processos exógenos e endógenos1 na formação da aspiração, embora pareça existir um interesse especial por estes últimos. Desenvolvemos desde a infância a capacidade de idealizar o futuro, projetar e postergar os desejos, ao longo de um processo de amadurecimento cognitivo que é fisiológico, mas também social (Carvalho, 1988). Através do brincar, a criança em idade pré-escolar aprende a idealizar e imaginar a realização de desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos, bem como o significado dos papéis sociais. O conteúdo do que é idealizado, a forma como é idealizado e o significado dos próprios papéis sociais dependem do olhar do outro, ou seja, dos indivíduos pertencentes ao meio social imediato da criança.2 O acesso a esse mundo simbólico e à percepção dos outros em relação aos objetos de significado configura a base do desenvolvimento da aspiração (Carvalho, 1988). A aspiração como representação cognitiva de futuro é influenciada pelas condições socioeconômicas, pela escolarização, pelos papéis sociais que variam de acordo com ocupação, gênero, raça, entre outros, e pelo comportamento de cuidadores percebido na interação entre pais e filhos (Coscioni et al., 2020; Ferreira, 2015).
Ao longo da vida, a compreensão da criança e, mais tarde, do jovem e do adulto de sua capacidade de alcançar os objetos de seu desejo, bem como a experiência prática do sucesso e do fracasso, influenciarão a formação de suas aspirações. Nessas representações encontram-se diferentes componentes cognitivos associados, como o locus de controle e a autoeficácia (Coscioni et al., 2020). O locus de controle se refere à percepção dos sujeitos sobre sua capacidade de administrar os eventos que ocorrem em suas vidas (locus internos), ou da falta dela (locus externos), cuja explicação residiria numa ideia de sorte, azar ou destino. Se a criança ou o jovem vivem a experiência repetidas vezes, na família ou na escola, de que não são bons em matemática e que estudar não é suficiente para alcançarem seus objetivos, podem acreditar que a falta de vocação ou até mesmo o dado de gênero poderiam ser responsáveis por seu insucesso. Estamos falando não apenas do modo como o próprio sujeito avalia sua capacidade de alcançar metas, mas também da construção dessa autoavaliação na interação social com a família, a escola e o trabalho e como essas metas refletem as expectativas sociais de grupos e indivíduos.
No campo da psicologia sociocognitiva, quem se dedicou a compreender a importância da autoeficácia para a realização de atividades foi Albert Bandura (1977). Para esse autor, a forma como os sujeitos avaliam sua capacidade de organizar e executar uma atividade a fim de atingir objetivos é fundamental para que estes sejam alcançados. A crença em si mesmo e na capacidade de realizar uma tarefa, mesmo que esta tenha ainda de ser adquirida, é para ele a base daquilo que denominou autoeficácia. Se o sujeito apresenta autoeficácia, ele tem maior chance de sucesso, seja em suas relações pessoais, seja em seus estudos, seja em seu trabalho. A autoeficácia é um importante componente dos processos endógenos.
A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS ENDÓGENOS PARA O CONCEITO DE ASPIRAÇÃO E OUTROS
Os processos endógenos das aspirações são um tema caro à psicologia. Embora a psicologia tenha integrado os fatores externos das aspirações as suas discussões, importa para este campo do conhecimento entender como esses fatores impactam no comportamento e na cognição, ou seja, naquilo que acontece no nível individual, fazendo com que o foco das análises recaía mais uma vez sobre os processos endógenos. Se as aspirações são compreendidas como representações cognitivas de futuro, como elas se diferenciam e se relacionam com outras representações, como as expectativas, os objetivos ou os projetos de vida? Embora certamente não exista unanimidade na academia sobre o significado desses diferentes componentes, consideramos a partir dos textos consultados que a aspiração se diferencia dos demais conceitos por configurar objetivos gerais de vida e metas altamente valorizadas, cuja realização pode ou não ocorrer (Coscioni et al., 2020). Isso as distingue, por exemplo, das expectativas, que fazem referência a algo factível. Nos últimos quinze anos, tem crescido o número de estudos em psicologia que analisam como fatores como gênero, nível socioeconômico e políticas públicas influenciam as expectativas profissionais dos jovens no Brasil (Fleith et al., 2020).3
A relação entre aspiração e objetivo também é discutida há muito tempo em psicologia. Como a aspiração é vista como meta final, os sujeitos precisam antes percorrer a uma espécie de conjunto de etapas, com pequenas e grandes metas a serem cumpridas (Carvalho, 1988). Essas metas intermediárias são essenciais para alcançar aspirações, mas também para ampliá-las, visto que sua realização é o que possibilita que os sujeitos aspirarem a outras coisas, coisas que antes não se encontravam em seu horizonte de possibilidades.
No Brasil, existem diversos estudos sobre as representações cognitivas de futuro que adotam o conceito de projeto de vida.4 Esses estudos fazem uso de métodos qualitativos e análises em profundidade. De modo geral, o conceito de projeto de vida envolve não apenas as metas, mas também as ações necessárias para que essas metas possam ser atingidas, e diferencia-se da aspiração na medida em que esta última engloba apenas as metas (Coscioni et al., 2020). Como veremos adiante, esse conceito se diferencia bastante daquele encontrado em economia a partir de autores como Arjun Appadurai (2004) e Debraj Ray (2006).
O conceito de projeto de vida é influenciado na psicologia tanto por autores internacionais como por estudiosos brasileiros, com destaque para o antropólogo Gilberto Velho (2013). A literatura nacional consultada enfatiza a dimensão racional do projeto de vida, visto que envolve escolhas, metas e prazos em um processo de permanente avaliação de objetivos e possibilidades, embora reconheça que o sucesso do projeto não depende exclusivamente do sujeito, mas dos grupos sociais aos quais ele pertence (Costa; Alberto, 2021).
O conceito de projeto de vida desenvolvido por Gilberto Velho (2013) oferece uma abordagem teórica ampla, que considera, na análise do desenvolvimento humano, a complexidade da vida dos indivíduos, no âmbito da experiência familiar, escolar e profissional. No entanto, o autor não aprofunda a relação entre o projeto e seus componentes internos, como a diferença entre projeto, fantasias (desejos abstratos) e expectativas. Assim, como veremos adiante, há muitas razões para presumirmos que tanto o conceito de aspiração quanto o de projeto de vida podem ser compreendidos como representações de futuro que envolvem simultaneamente um propósito e os meios de alcançá-lo, muito embora o conceito de aspiração seja utilizado tanto em pesquisas qualitativas como quantitativas e ofereça embasamento teórico à abordagem de projeto de vida para melhor compreendermos como se dá a construção desse projeto, considerando fatores externos e internos.
ASPIRAÇÃO E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Dentre as áreas estudadas, a sociologia e a sociologia da educação foram aquelas que apresentaram as discussões teóricas menos densas sobre a aspiração, de modo que encontramos trabalhos que ou expõem brevemente a diferença entre expectativas e escolhas (Costa; Rocha; Silva, 2018; Corrochano; Souza; Abramo, 2019; MacLeod, 2014) ou seguem adotando os diferentes conceitos como sinônimos (Almeida, 2011; Sales, 2010; Sposito; Souza; Silva, 2018; Mont’Alvão; Neubert; Tavares, 2015). Por isso optamos por abordar a sociologia e a sociologia da educação como campos que se influenciam mutuamente, compartilhando enfoques teóricos, temas e até mesmo um modus operandi que privilegia a relação entre aspirações, expectativas e escolhas. A aplicação do conceito de aspiração na sociologia remonta à segunda metade do século XX, em estudos sobre a estratificação social. Neles, autores como Archibald Haller e Irwin Miller (1963), bem como Peter Blau e Otis Duncan (2014), estavam interessados em compreender a relação entre origem e destino social não apenas a partir de suas determinantes externas, mas também de suas determinantes internas, como aspirações, expectativas e realizações. Esses autores desenvolveram modelos e teorias que combinavam análise sociológica com princípios da psicologia social e ficaram conhecidos como modelos psicossociológicos (Sales, 2010). Tiveram grande influência teórica as discussões de Georg Herbert Mead (2010) acerca do papel dos outros significativos para a constituição do self a partir da ideia de que as expectativas dos outros determinam diretamente o comportamento individual e a autoimagem.
No modelo de realização do status, Peter Blau e Otis Duncan (2014) oferecem um construto analítico da trajetória de realização ocupacional do indivíduo que considera tanto a ocupação de seus pais e o envolvimento destes em sua vida escolar, como também as expectativas e aspirações do próprio indivíduo. O objetivo dessas análises era compreender a dinâmica de transmissão do status ocupacional, ao passo que as expectativas educacionais e ocupacionais funcionaram como uma variável mediadora da relação entre origens socioeconômicas e resultados educacionais e ocupacionais (Mont’Alvão; Neubert; Tavares, 2015).
Como podemos perceber, as variáveis psicossociais de maior relevância nesses estudos foram as aspirações, expectativas e realizações. Baseado nos escritos de Archibald Haller e Irwin Miller (1963), Jay MacLeod (2014, p. 1.030) caracteriza as duas primeiras como “a avaliação dos indivíduos de seus desejos e habilidades”. Para ele, as aspirações fazem referência às “preferências de uma pessoa”, enquanto as expectativas seriam “moderadas pelas capacidades percebidas e pelas oportunidades disponíveis”. Sendo assim, como na psicologia e também na economia, como veremos mais adiante, as aspirações são compreendidas como um desejo que implica ou não em realização, enquanto as expectativas estariam alocadas no campo das realizações percebidas como prováveis. Apesar dessa diferenciação teórica, os estudos no Brasil tendem a fazer uso indiscriminado de “aspirações” no sentido de “expectativas”, embora a relação entre uma e outra não seja direta, assim veremos nas seções seguintes.
Assim como na psicologia, também na sociologia da educação o conceito de projeto de vida é utilizado em estudos qualitativos brasileiros que analisam as percepções de futuro dos jovens (Alves; Dayrell, 2015; Pereira; Souza, 2020). Quando conceituado, esse termo apresenta também na sociologia influências dos escritos de Gilberto Velho (2013). Esses autores destacam as dimensões socioculturais e individuais do conceito de projeto de vida, bem como as chances de escolha em um campo de possibilidades socialmente limitado (Alves; Dayrell, 2015; Pereira; Souza, 2020). À medida que o campo de possibilidades se modifica, o projeto de vida muda. Diferentemente do que vimos na psicologia, os autores dão menos ênfase ao componente racional do projeto e mais ao contexto social no qual ele se desenrola. Dessa forma, a relação entre o projeto e seus componentes internos (como desejos abstratos e expectativas) acaba não sendo discutida.
Dentre as diversas teorias da reprodução mobilizadas na análise do papel da aspiração para a estratificação social, destaca-se também o conceito de habitus, desenvolvido por Pierre Bourdieu (2007) e cuja relevância se justifica por contemplar os fatores externos e internos das aspirações, lançando novas questões sobre o papel da agência em sua formação. Na próxima seção apresentaremos alguns desdobramentos teóricos influenciados por Bourdieu nos estudos internacionais.
HABITUS E O PAPEL DA AGÊNCIA NA FORMAÇÃO DA ASPIRAÇÃO
A relação entre aspirações e expectativas educacionais e ocupacionais era tema recorrente nos estudos de Pierre Bourdieu (2007, ver também Bourdieu; Passeron, 2018; 2023). Na década de 1970, ele diagnosticou uma discrepância entre aquilo que o sistema educacional francês transmitia aos jovens como possibilidade de status e as oportunidades objetivas que de fato eram oferecidas a eles. Embora o sistema de ensino estivesse se ampliando, o mercado de trabalho sofria mudanças que não correspondiam às aspirações dos jovens. Ao longo do tempo, apesar de seus esforços, os jovens viram as carreiras escolhidas pelas gerações anteriores perderem valor de mercado, causando grande frustração e enganando uma geração com promessas que não podiam ser cumpridas. A desvalorização de certos diplomas estava relacionada, segundo o autor, tanto às mudanças ocorridas no mercado de trabalho (muitos diplomados, poucas vagas), como também às transformações no próprio sistema de ensino, que passou a diferenciar o valor dos diplomas. Em consonância com aquilo que discutiremos mais adiante no campo da economia, o aumento das aspirações, por si só, não é suficiente para melhorar a condição de vida. A relação entre aquilo que uma sociedade oferece em nível de aspiração precisa estar equilibrada com aquilo que ela oferece como recurso para a realização dessa aspiração.
Alguns estudiosos no Brasil e no exterior têm chamado a atenção para o papel das estratégias individuais, em especial da agência, como forma de calibrar a relação entre aspiração e realização, fazendo uso da teoria bourdieusiana da reprodução (Almeida, 2011; Dejaeghere, 2016; Soyalp, 2020). Isso não significa, porém, que a melhora das condições externas, como a oferta de políticas públicas, seja menos importante; pelo contrário, a ideia por trás da valorização da agência é de que esta deveria guiar essas ações. Quando utilizado o conceito de habitus de Bourdieu, este foi compreendido como “um filtro mental que molda as percepções, experiências e práticas de um indivíduo” (Soyalp, 2020, p. 3). Ao gerar e organizar práticas e representações, o habitus limita, todavia, o que é factível ou não.
Da mesma maneira que o habitus forma práticas, as práticas podem mudar o habitus, embora a teoria bourdieusiana apresente mais limitações para a compreensão dos processos de contingência do que a de reprodução. Autores como Lois McNack (apud Dejaeghere, 2016, p. 2) consideram que “o processo de incorporação do habitus abre um espaço teórico para a agência e para a explicação dos elementos de variabilidade e criatividade” que, por vezes, não fica claro na própria proposta apresentada por Bourdieu. Por outro lado, encontramos autores que entendem que o sociólogo já argumentava em seus escritos que os sujeitos adaptam suas escolhas às oportunidades objetivas dadas por suas condições de vida e que eles revisam suas disposições e aspirações com base nas possibilidades e impossibilidades associadas às condições do espaço social que ocupam (Soyalp, 2020). Dessa forma, as estruturas de oportunidade não apenas restringem a ação, como também abrem brechas para novas possibilidades capazes de provocar mudanças mais profundas. Por fim, cabe lembrar que o habitus é expressão tanto de estruturas (como classe) como de práticas, marcadas por estilo de vida, gostos etc., e ambas agem na formação da aspiração. E é nesse sentido que a aspiração pode ser vista como uma forma de compreender a estabilidade e as mudanças na estrutura social das diferentes gerações, enquanto “refletem as negociações que ocorrem entre as estruturas e os agentes. Essas negociações são usadas como uma estratégia pelos agentes para superar as estruturas sociais” (Soyalp, 2020, pp. 2-3; tradução nossa).
Para ilustrarmos melhor essas discussões, gostaríamos de trazer um exemplo de estudo que analisou a relação entre agência e aspiração inspirado na teoria de Bourdieu.
REPRODUÇÃO VERSUS TRANSFORMAÇÃO
Em um estudo longitudinal com meninas pequenas de uma área rural da Tanzânia, Joan Dejaeghere (2016) buscou compreender como elas articulavam aspirações e agência, ou seja, como colocavam em prática suas aspirações. Para tanto, realizou entrevistas em profundidade com meninas de nove anos de idade, professores de cursos profissionalizantes e pessoas da comunidade para compreender os constrangimentos e as oportunidades do contexto mais amplo. Com base nas entrevistas de duas meninas, chamadas Aisha e Sitti, a autora mostra como aspiração e agência estão inter-relacionadas, como são afetadas pelas estruturas de gênero, mas também como rompem com as normas. A autora chama a atenção para os elementos que explicitam os processos de reprodução, bem como para aqueles que apontam mudanças nas aspirações.
O exemplo de Aisha e Sitti (Dejaeghere, 2016, pp. 9-14) mostra como oportunidades educacionais e comunitárias podem alterar e ampliar as aspirações. Ambas as meninas puderam desenvolver roteiros profissionais concretos e, à medida que superavam dificuldades, criar novas expectativas e imaginar futuros alternativos para si. A ambas foram oferecidos cursos profissionalizantes em áreas consideradas tradicionalmente não femininas, o que ampliou suas representações de futuro tanto na vida profissional como na família. Considerando o caso de Sitti, a autora relata, por exemplo, que a jovem passou a atuar na construção civil após a conclusão do curso. Essa escolha permitiu não apenas que ela melhorasse sua renda, mas também que construísse de forma independente sua própria casa e ajudasse familiares a fazer o mesmo. Apesar dos constrangimentos que enfrentou nesse meio tipicamente masculino, ela desenvolveu estratégias de valorização de seu trabalho, valendo-se exatamente do fato de ser mulher - porque as mulheres são consideradas em geral mais confiáveis do que os homens.
O exemplo de Sitti evidencia a relação entre agência e aspiração e como a gradativa ascensão de práticas altera as representações alternativas de futuro e reforça o sentimento de autoeficácia, que, por sua vez, age sobre as aspirações. Não apenas as aspirações e escolhas ocupacionais de Sitti, mas também suas representações familiares futuras e comunitárias, tiveram relevância para o fortalecimento de seu autoconceito a partir da ideia de que seu trabalho era fundamental para o grupo. Isso atesta que “os adolescentes não se concentram apenas nas [suas] aspirações ocupacionais ao se prepararem para o futuro. O centro de suas aspirações pode ser diversificado” (Soyalp, 2020, p. 18). Dessa forma, estudos mais recentes vêm chamando a atenção para o papel dos diferentes tipos de aspiração na melhoria das condições de vida e colocando em prática um entendimento mais amplo do conceito de aspiração, assim como aquele encontrado nas demais áreas, como a economia.
ASPIRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO HUMANO
A economia tem se destacado como a área das ciências sociais que mais discute teoricamente as aspirações. Diferentemente da sociologia, que faz pouca referência ao conceito, a economia apresenta um quadro teórico robusto, especialmente no início do século XXI. Com base em teorias da área da psicologia e outras, estudos têm analisado diversos fenômenos ligados ao conceito de aspiração, com destaque para a pobreza.
O antropólogo Arjun Appadurai (2004) é referência nesse campo, conectando comportamento humano, cultura e processos econômicos. Com seu conceito de “capacidade de aspirar”, argumenta que a pobreza reduz a habilidade das pessoas de almejar um futuro melhor. Embora não elabore uma tipologia detalhada do conceito, Appadurai apresenta um arquétipo teórico complexo, associando aspirações ao desenvolvimento individual e coletivo.
Inspirado por autores como Amartya Sen e Charles Taylor, Appadurai define as aspirações como construções culturais desenvolvidas na interação social, entre normas e valores. Distingue objetos de aspiração e realização prática. O conceito de “capacidade de aspirar” abrange a habilidade de realização (capacity) e a escolha de objetos que proporcionem uma vida boa (capability), tornando-se um recurso cultural e social. As escolhas refletem o horizonte de desejos, como ter uma profissão de status ou realizar refeições diárias.
O problema é que a capacidade de aspirar não está distribuída de forma igualitária na sociedade. Mas o que isso significa? “Significa que quanto melhor você estiver (em termos de poder, dignidade e recursos materiais), maior a probabilidade de você estar consciente das ligações entre os objetos mais e menos imediatos da aspiração” (Appadurai, 2004, p. 68; tradução nossa). Sendo assim, o autor observa que os privilegiados têm maior consciência das ligações entre aspirações imediatas e de longo prazo, graças à maior familiaridade com o “mapa de navegação” social. Em contraste, os mais pobres, com menos acesso a oportunidades, apresentam aspirações mais frágeis e dificuldades em alcançar ou mesmo definir seus objetivos.
Baseando-se em Albert Hirschman, Appadurai discute como a população pobre lida com os valores culturais, oscilando entre respeito às normas (loyalty), rejeição (exit) e capacidade de questionar e participar criticamente (voice). Desenvolver esta última é, para ele, essencial para fortalecer a capacidade dos indivíduos de aspirar e melhorar as próprias condições de vida.
A abordagem proposta por ele visa não somente oferecer formas de compreender a formação das aspirações, mas também apontar um tipo de aspiração que os sujeitos precisam alcançar para melhorar de vida, ou seja, ter voz (voice). Nesse sentido, apresenta-se como uma teoria normativa que indica que existem tipos e níveis de aspiração (baixo ou alto) que se sobrepõem a outras formas. Fortalecer a capacidade dos pobres de aspirar é, para o autor, o caminho para a redução da pobreza. Ele mesmo discute em seus trabalhos formas práticas de fortalecer a capacidade de aspirar das pessoas de baixa renda a partir de coletivos sociais (Appadurai, 2004).
Debraj Ray (2006) aprofunda essa discussão com os conceitos de “janela de aspiração” e “lacunas de aspiração” e explica como as aspirações se formam, por que elas nem sempre são alcançadas e quais são as consequências do fracasso, como as “armadilhas da pobreza”. Argumenta que as aspirações emergem de contextos sociais imediatos e são multidimensionais. A “janela de aspiração” inclui indivíduos “semelhantes” e “alcançáveis” e dela extraímos nossas aspirações.
Assim como Appadurai (2004), Ray (2006) entende que a possibilidade de navegar depende do fluxo de informações disponível. As pessoas veem o mundo, percebem os acontecimentos ao seu redor e definem seu comportamento a partir das informações que possuem. Quanto maior a percepção de mobilidade, mais ampla é a janela. No entanto, se as aspirações forem excessivamente distantes, há risco de fracasso e frustração, especialmente entre os mais pobres, que enfrentam longos caminhos e baixo retorno no curto prazo.
Ray chama isso de “lacuna de aspirações”. Para o autor, há uma diferença entre a condição de vida que se aspira e o nível de vida que se tem. A depender do ponto de partida, o investimento para preencher essa lacuna será maior ou menor. No entanto, o investimento individual seria pequeno tanto no caso das grandes lacunas como das pequenas, se o incentivo é baixo para as pessoas que têm aspirações próximas às suas condições de vida ou se o caminho é muito longo para as pessoas que têm aspirações bastante distantes de seu padrão de vida. Se o caminho for longo demais, não vale a pena empreendê-lo. Em relação à pobreza: mesmo que as pessoas nessa situação aspirem a cargos mais altos, melhores salários ou estudar mais, se o caminho para chegar lá é muito longo, exigindo investimentos altos e retornos pequenos no curto e médio prazo, a tendência é de fracasso e frustração.
Segundo o autor, o “fracasso das aspirações” se manifesta de diferentes formas: procrastinação, desistência e, na pior das hipóteses, resignação. Independentemente da forma, o fato é que, à medida que nossas aspirações se formam, a possibilidade de sucesso influencia nosso comportamento. A lacuna e o fracasso das aspirações correspondem às limitações internas com os quais os sujeitos precisam lidar para melhorar sua condição de vida (La Ferrara, 2019). No que concerne à pobreza, esses limites acabam levando àquilo que ficou conhecido como “armadilha da pobreza”, ou seja, pessoas em situação de pobreza acabam muitas vezes voltando à estaca zero porque não conseguem superar a lacuna.
Se comparada à abordagem de Appadurai (2004), a abordagem multidimensional da janela de aspirações permite uma melhor compreensão do processo de constituição das aspirações. Ela não se apresenta como uma teoria normativa no sentido de que existiriam aspirações ou níveis de aspirações “ideais”, mas antes sugere que existe um processo de formação que possibilita que desejos se desenvolvam, se concretizem, possam inspirar novos ou mesmo substituir antigos. Empiricamente, importa compreender este processo: o que as pessoas aspiram é o que explica essas aspirações, que escolhas as pessoas fazem ou podem fazer para alcançar suas aspirações e o que sua realização ou fracasso pode causar. No que tange à pobreza, vale destacar, mais uma vez, que a expansão do horizonte de desejos não basta para que a condição de vida melhore; é crucial incorporar o conhecimento necessário para concretizá-los (Ray, 2006). No Brasil e no exterior, o conceito tem sido usado para analisar as escolhas educacionais e profissionais dos jovens (Costa; Rocha; Silva, 2018; La Ferrara, 2019; Uranga, 2019). A seguir, concentramo-nos em algumas dessas discussões e seus desdobramentos teóricos.
AS DETERMINANTES INTERNAS E EXTERNAS DAS ASPIRAÇÕES
A economista Eliana La Ferrara (2019) buscou compreender como fatores internos e externos contribuem para a formação das aspirações. Ao questionar se e como as aspirações podem ser mudadas, ela traz exemplos de intervenções recentes que mobilizam fatores psicológicos, estereótipos e normas, além de recursos materiais. Antes de entrar na análise propriamente dita, La Ferrara discute o conceito de aspirações e fenômenos correlatos de forma muito didática e com forte influência de Debraj Ray (2006) e de autores da psicologia do desenvolvimento.
O que são, portanto, as aspirações e como elas se formam, segundo essa autora? Como na psicologia e na sociologia, La Ferrara (2019) distingue a aspiração de outros fenômenos, como a expectativa, mas ainda inclui nela a dimensão da esperança. Para a autora, a aspiração pode ser compreendida como “uma esperança ou ambição de alcançar algo” (La Ferrara, 2019, p. 1.689; tradução nossa). Como esperança ou ambição, a aspiração é diferente das expectativas, pontua a autora. Podemos ter como objetivo ou esperança alcançar algo, mas não necessariamente esperar alcançá-lo de forma realista. Ou seja, expectativa é sempre algo mais concreto do que a aspiração.5 Aspirar significa desejar, sonhar, podendo esse sonho se concretizar ou não.
Outro termo importante para a compreensão da aspiração é o conceito de “objetivo”, que a autora define como “o objeto da ambição ou do esforço de uma pessoa” (La Ferrara, 2019, p. 1.689; tradução nossa). Como propõe a psicologia, La Ferrara entende os objetivos como metas mensuráveis que um indivíduo se coloca e alcança seguindo um determinado número de etapas e cuja realização permite que a aspiração possa, em última instância, ser concretizada. A aspiração estaria, assim, acima dos objetivos. Embora aspirar signifique ter esperança de alcançar algo, a autora ressalta a importância de se diferenciar no mínimo dois tipos de esperança: a esperança desejosa e a aspiracional. A partir de Travis Lybbert e Bruce Wydick (2018), La Ferrara compreende a esperança desejosa como o otimismo em relação ao futuro que não implica agência, enquanto a esperança aspiracional significa o otimismo em relação ao futuro na qual os sujeitos agem para alcançá-la. Considerando tal diferenciação, é possível dizer que a aspiração corresponde à esperança de alcançar algo que de alguma forma nos coloca em ação. Há, assim, uma relação intrínseca entre aspiração e agência, bem como um alto grau de envolvimento emocional dos sujeitos nesse processo, que pode variar entre satisfação e frustração.
Não foi em vão que dois conceitos oriundos da psicologia, fazendo referência às determinantes internas da aspiração, ganharam espaço nas discussões em economia: autoeficácia e locus de controle. Também na economia, eles são princípios básicos da formação das aspirações: para que a aspiração possa ser desenvolvida é necessário que as pessoas estejam convencidas de que têm capacidade de alcançá-las e possuem certo grau de controle sobre sua vida (Ray, 2006 apud Cazzuffi et al., 2020). Além da autoeficácia, outras determinantes internas são comumente relacionadas à formação da aspiração no campo da economia, como a adaptação de preferências (Uranga, 2019). Embora existam muitas interpretações desse conceito, ele sugere, de modo geral, que as pessoas adaptem seus desejos às suas condições sociais (Elster, 1993 apud Halleröd, 2006). Ao adaptar suas escolhas à realidade, os sujeitos também ajustam de forma gradual suas aspirações àquilo que é alcançável.
As implicações podem ser positivas, na medida em que a melhora das condições sociais faz com que os sujeitos tenham aspirações mais altas: por exemplo, uma melhora na renda pode impactar de forma positiva as escolhas educacionais e profissionais dos jovens em fase escolar (Uranga, 2019). Por outro lado, situações de privação podem levar a reduções de metas e quanto mais longa for a privação, maior a chance de um “não posso ter” tornar-se um “não desejo ter” (Halleröd, 2006). Mas como é possível desenvolver a autoeficácia em relação a determinadas áreas da vida para concretizar ou modificar antigas aspirações e/ou desenvolver novas? Para La Ferrara (2019), a resposta reside nas relações familiares e nas instituições de ensino, nas quais as crianças e os jovens internalizam modelos de papéis e de pessoas que funcionam como “espelho” em um duplo sentido: uma imagem que eles desejam imitar e, ao mesmo tempo, através dos quais eles querem ser vistos. Dessa forma, cuidadores e professores cumprem um papel decisivo no que tange à construção de uma autoimagem positiva, bem como à quebra de estereótipos, problematizando essas e outras manifestações das chamadas determinantes externas das aspirações.
Portanto, além dos fatores internos ou individuais, temos determinantes externas que assumem muitas formas, inclusive relações familiares, instituições como um todo, normas sociais, educação, renda, mercado de trabalho, desigualdade social etc. As determinantes externas mais comumente adotadas nas análises são família, trabalho, renda e educação (Costa; Rocha; Silva, 2018; La Ferrara, 2019; Uranga, 2019). Estudiosos da área de economia têm, entretanto, chamado a atenção para outros fatores, como bairro e localização da moradia (Cazzuffi et al., 2020).
ASPIRAÇÃO COMO UM CONCEITO INTERDISCIPLINAR E SUA IMPORTÂNCIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
Embora o conceito de aspiração tenha sido utilizado como conceito científico, primeiramente na psicologia, na primeira metade do século XX, ele pode ser considerado, hoje, indubitavelmente um conceito interdisciplinar. Cada uma das áreas aqui abordadas contribuiu e segue contribuindo para seu desenvolvimento teórico por meio de discussões e estudos empíricos, influenciando-se mutuamente. Como conceito interdisciplinar, seria uma contradição sugerir que existe um entendimento único e válido sobre esse fenômeno. Sem a intenção de reduzi-lo a um único construto teórico, gostaríamos, entretanto, de arriscar uma aproximação que sintetize um mínimo denominador comum entre as áreas analisadas, no intuito de contribuir para estudos futuros. Destarte, vamos considerar primeiramente as semelhanças das abordagens na psicologia, na sociologia e na economia e, num segundo momento, retomar algumas de suas diferenças a fim de respondermos à questão sobre a importância do conceito para as ciências sociais e aplicadas a partir das possibilidades teóricas e empíricas que ele oferece.
Mesmo utilizando entendimentos, em certa medida, diferentes, os estudos foram unânimes em compreender as aspirações como construções sociais que expressam desejos e metas de futuro a serem alcançados nas mais diversas áreas da vida, comportando não apenas as representações sociais de futuro dos sujeitos, mas também as formas de concretizá-las e/ou transformá-las pela ação. Esse entendimento ressalta, portanto, o processo interativo da formação das aspirações, que inclui não apenas as metas, mas também as ações necessárias para sua realização, se assemelhando ao conceito de projeto de vida (Velho, 2013).
Diferentemente da esperança desejosa, a esperança aspiracional é aquela que, segundo Travis Lybbert e Bruce Wydick (2018), nos coloca de alguma forma em ação, de modo que assumimos práticas em prol desse desejo, mesmo que sua realização seja menos concreta e factível do que a realização das expectativas, as quais, por sua vez, entram no rol das representações prováveis de serem concretizadas. Ao buscarmos alcançar nossas aspirações, lançamos mão de objetivos intermediários, cuja concretude e clareza aumentam ou diminuem as chances de alcançarmos nossas aspirações. A depender da origem social de um indivíduo, o caminho até a concretização das aspirações é mais ou menos claro, e isso está diretamente relacionado às dinâmicas de reprodução social encontradas nas sociedades, nas quais as classes mais bem posicionadas tendem a determinar não apenas os objetos de desejo, mas também a forma como estes devem ser alcançados (Appadurai, 2004; Bourdieu, 2007; Ray, 2006). Entendemos, portanto, que existe uma relação intrínseca entre origem social, aspiração e agência, bem como um grande envolvimento emocional dos sujeitos nesse processo. Como um conceito amplo, a aspiração inclui, portanto, desejos, expectativas, metas e escolhas.
De modo geral, todas as áreas do conhecimento chamaram a atenção para as determinantes tanto externas como internas da formação das aspirações, embora o peso que deram a uma ou outra tenha variado. A psicologia foi a área que apresentou as discussões mais profundas e detalhadas sobre os processos endógenos (internos), explorando a relação entre aspirações, expectativas, metas e realizações e, com isso, produzindo uma densa literatura sobre o assunto. Os estudos em sociologia e sociologia da educação, por sua vez, não fazem das aspirações um conceito central em suas discussões. Utilizaram-nas, entretanto, como forma de compreender processos de reprodução, dando pouca atenção à sua articulação com outros fatores internos. Por fim, os estudos em economia conduziram uma discussão pautada nas determinantes externas e internas das aspirações, mobilizando para isso autores e abordagens vindos da antropologia, da psicologia, da sociologia e da própria economia. Dentre os fatores internos frequentemente explorados, encontramos a autoeficácia e o locus de controle.
No que tange à aplicação empírica, o conceito de aspiração foi analisado, em todas as áreas, em estudos voltados aos fatores internos e externos que promovem ou limitam o desenvolvimento humano, com destaque para os jovens e os sujeitos pertencentes a grupos sociais de baixa renda. Nesse sentido, podemos dizer que as aspirações têm ocupado, em todas as áreas, uma dimensão intermediária entre indivíduo e sociedade, bem como entre estrutura e agência. Se comparado a outros conceitos como projeto de vida, as aspirações são utilizadas tanto em estudos quantitativos como qualitativos, além de complementar o conceito de projeto de vida, oferecendo um quadro teórico que considera não apenas os fatores externos, mas também os fatores internos ao longo do processo de construção do projeto.
Embora as áreas tenham demonstrado se manter fiéis às suas tradições científicas, foi possível observar diversos movimentos de abertura ao longo do tempo, especialmente na psicologia, quando esta passa a explorar também as determinantes externas das aspirações, e na sociologia, quando reconhece o papel da agência não apenas na reprodução das estruturas, mas também como forma de reconhecer as mudanças ocorridas em seu interior. Além disso, na sociologia e na sociologia da educação foi possível observar uma abertura mais recente ao papel dos diferentes tipos de aspiração na melhoria das condições de vida, como as aspirações familiares e comunitárias (Dejaeghere, 2016; Soyalp, 2020), e um entendimento mais amplo de aspiração, assim como aquele encontrado há mais tempo na psicologia social (Carvalho, 1988), na economia (especialmente Ray; 2006) e no próprio conceito de projetos de vida (Velho, 2013).
Embora a importância da análise processual e densa da formação das aspirações considerando seus elementos externos e internos tenha ganhado força nas três áreas, foi possível observar uma escassez de estudos que buscassem compreender não apenas a que os indivíduos aspiram, no sentido clássico de nível de aspiração (baixo ou alto), mas também como aspiram e as implicações desse processo para alcançar essas aspirações, explicitando a forma como a agência as determina. Como Debraj Ray (2006), entendemos que as aspirações não têm apenas impactos positivos na vida das pessoas. Pelo contrário, vivemos em uma sociedade que nos sugere diariamente que podemos alcançar todos os nossos desejos, sem nos ofertar, no entanto, os recursos de que necessitamos para realizá-los, e a realidade acaba por nos mostrar que não é bem assim. Vêm então a frustração, a depressão ou a resignação. No que tange em especial à questão da pobreza, embora isso valha para tudo o que envolva desenvolvimento humano, as discussões de Debraj Ray sugerem que a expansão do horizonte de desejos não é suficiente para a melhoria das condições de vida; tão importante quanto aquilo a que se aspira é como se aspira, ou seja, o processo de formação das aspirações, no qual se tornam visíveis os desejos, bem como os meios de concretizá-los e ampliá-los. Quando explorada de forma densa, a partir de estudos qualitativos, a análise da relação entre aspiração e agência permitiu não apenas a compreensão de processos de reprodução, mas também aqueles que implicam mudanças nas estruturas (Dejaeghere, 2016; La Ferrara, 2019; Soyalp, 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho esperamos elucidar a introdução e o desenvolvimento do conceito de aspiração nas áreas da psicologia, sociologia e economia, chamando a atenção para seu caráter inteiramente interdisciplinar e sua vocação para a análise de temas relacionados ao desenvolvimento humano. Finalizamos este artigo apontando, mais uma vez, a importância desse conceito para as ciências sociais e aplicadas, elencando de forma sistemática as possibilidades teóricas e empíricas que ele oferece hoje, como forma de contribuir com pesquisas futuras em nossa área. Sendo assim, a partir das discussões aqui apresentadas, concluímos que essa abordagem nos possibilita:
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o acesso a um instrumental teórico rico, que diferencia a aspiração da expectativa, da meta, das realizações e projetos de vida;
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o acesso a um conceito amplo para a análise de temas ligados ao desenvolvimento humano, uma vez que o conceito de aspiração inclui desejos, expectativas, metas e escolhas, além de considerar os fatores externos que as determinam. Pode ser utilizado tanto em pesquisas quantitativas como qualitativas;
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um importante complemento ao conceito de projeto de vida, por considerar tanto os fatores internos como externos das representações de futuro;
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a análise da relação entre origem e destino para além da estabilidade dos processos, identificando também mudanças no interior das estruturas a serem exploradas em estudos sobre a mobilidade social e o impacto das políticas públicas;
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a análise de temas que envolvem aspirações educacionais, ocupacionais, profissionais ou de carreira, mas também outros tipos de aspiração, como familiares, comunitárias ou de lazer;
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a análise da relação entre esses diferentes tipos de aspiração, ou seja, como eles se influenciam mutuamente e qual é a sua relação com as escolhas.
E, por fim, um convite para a análise processual e densa do processo de formação das aspirações, considerando seus fatores internos e externos no intuito de não apenas identificar a que os sujeitos aspiram, mas também como eles aspiram, explicitando a forma como a agência determina as aspirações.
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1
Embora Kurt Lewin (1958) tenha chamado a atenção para a influência dos processos exógenos sobre os endógenos, ou seja, da interação social sobre as representações de futuro dos indivíduos, ele não usava esses termos em suas discussões. Esses termos são usados comumente pela psicanálise, pelas abordagens cognitivas e pelas teorias behavioristas (Trommsdorf, 1983). Enquanto a psicanálise e as abordagens cognitivas dão destaque aos processos endógenos, as teorias behavioristas se voltam aos processos exógenos.
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2
Essa é a base teórica encontrada também nas reflexões de Georg Mead (2010) sobre o processo de constituição do self. Sobre o conceito de self, ver também o artigo de Lídia Suzana Rocha Macedo e Amanda Costa Silveira (2012).
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3
Para uma visão geral sobre esses estudos, ver a revisão de literatura realizada por Denise de Souza Fleith et al. (2020, pp. 223-5).
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4
Para ter uma ideia de como esses estudos aplicam o conceito de projeto de vida em psicologia, ver Cibele Costa e Maria de Fátima Alberto (2021).
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5
Esse entendimento da diferença entre expectativas e aspirações também pode ser encontrado em estudos realizados no Brasil sobre as prioridades e as aspirações educacionais e profissionais de jovens brasileiros. Para mais detalhes, ver Joana Costa, Enid Rocha e Claudia Silva (2018).
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
19 Mar 2024 -
Aceito
08 Maio 2025
