RESUMO
Proponho reflexão sobre as principais características dos agentes protagonistas da criação e do desenvolvimento do Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas, entre 1989 e 1995, analisados sobretudo como grupo de intelectuais e conhecidos mineiros, bastante experientes no período da redemocratização do país.
PALAVRAS-CHAVE:
Instituto Moreira Salles; Minas Gerais; Antonio Candido; Walther Moreira Salles; intelectuais
ABSTRACT
I propose a reflection on the main characteristics of the protagonists in the creation and development of the Moreira Salles Institute, in Poços de Caldas, between 1989 and 1995, analyzed mainly as a group of intellectuals and well-known people from Minas Gerais, very experienced in the period of the country’s redemocratization.
KEYWORDS:
Instituto Moreira Salles; Minas Gerais; Antonio Candido; Walther Moreira Salles; intellectuals
INTRODUÇÃO
Este artigo reflete sobre o estatuto da mineiridade - entendida como fenômeno cultural e político de atribuição de valores específicos ao povo mineiro, com vasta incidência sobre a vida intelectual brasileira do século XX - na fundação do Instituto Moreira Salles (IMS) e em seus primeiros anos de atividade (1989-95). Na análise do encontro de Antonio Candido, Francisco Iglésias, Jurandir Ferreira, Otto Lara Resende e Walther Moreira Salles na Casa de Cultura de Poços de Caldas, o epicentro da idealização do IMS, considero elementar a interação de duas variáveis específicas dessas trajetórias de vida, quais sejam, a origem regional desses intelectuais, todos de cidades diferentes de Minas Gerais, e a idade avançada deles quando estabeleceram vínculos como conselheiros da instituição, em um momento de consagração da cultura mineira e de valorização dos temas da memória. Apoiado em desenvolvimento da bibliografia, proponho uma reflexão acerca do modo como a significativa produção das ciências sociais sobre os mineiros, realizada em período contemporâneo aos primeiros anos de atividades do IMS, expressou o envelhecimento do tema da mineiridade na política e na cultura do país, em afirmação complementar da instituição cultural que despontava e com foco na roteirização da contribuição dos mineiros para futuras gerações. Dessa maneira, procuro estabelecer vínculos entre as trajetórias dos intelectuais protagonistas do IMS e a observação da mineiridade, nas décadas de 1980 e 1990. Reconheço nesse encontro, manifestações privilegiadas para a averiguação do tema, presente atualmente na bem-sucedida estruturação da curadoria dos assuntos da memória, realizada pela instituição, entre outros escopos.
De acordo com pesquisa empírica e bibliográfica, a reunião de intelectuais mineiros na fundação e nos primeiros anos do IMS ocorreu em circunstâncias de perdas materiais, simbólicas e afetivas representativas da produção cultural de Minas Gerais e de oportunidade de consolidação de vínculos entre carreiras com inserções diversas dentro e fora do estado, afastadas durante muito tempo, e jornalistas e gestores mais novos. Especificamente, busco a explicação mais aprofundada da primeira fase de existência do objeto empírico pesquisado em doutorado (Soares, 2023), com a análise das trajetórias dos intelectuais mineiros que o constituíram, em fase de crise e reelaboração da maior ideologia política e cultural que tiveram em comum.
IDEALIZADORES
Entre todos os agentes responsáveis pelas atividades do IMS durante o período de 1989 a 1995, podemos considerar Walther Moreira Salles e Antonio Candido as lideranças carismáticas que o propuseram, seguidos de outros colegas mineiros - que depois participaram da primeira composição do conselho de intelectuais do instituto - e especialmente de Antonio Fernando de Franceschi, cujo trabalho como superintendente do projeto coletivo até 2008 foi reproduzido e continuado depois. Em torno dessa disposição institucional encontrada entre eles, a apresentação dos intelectuais acabou favorecendo a incorporação de achados relevantes na pesquisa sobre os primeiros anos do IMS, bem como a organização do artigo de acordo com a sequência de eventos significativos para a sua emergência como instituição cultural. Ou seja, a observação de diferenças elementares entre esses conselheiros evidenciou a principal classificação vigente das práticas e dos pactos coletivos em torno do objeto do artigo.
Com o reconhecimento da hierarquia de importância dos agentes protagonistas da instituição, a análise expandiu a crítica do grupo de amigos ou conhecidos intelectuais mineiros para a evidência de uma divisão tácita de trabalho entre eles, entre idealizadores e apoiadores, ora mais explícita, ora mais implícita, na organização pública que produziram, construindo uma mesma instituição com diferentes padrões e níveis de consagração cultural dentro e fora de Poços de Caldas e de Minas Gerais.1
A pesquisa dos materiais que ensejaram essa observação foi iniciada com a descoberta de depoimento tardio de Antonio Candido (2012), depois entendido como o primeiro, o mais destacado e o mais longevo membro do conselho de intelectuais do IMS até 2008. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo com o título de “Minha verdadeira pátria”, por ocasião do centenário de Walther Moreira Salles e às vésperas do seu próprio aniversário de 94 anos, quando a morte do amigo já completava onze, o texto memorialístico e de obituário do crítico literário sublinha o encontro de ambos em Poços de Caldas em anos mais recentes e no início de vida. De saída, a expressão “Minha verdadeira pátria” chama a atenção pelo destaque aparentemente desproporcional oferecido à pequena e modesta Poços de Caldas de hoje em dia; entretanto, ela é reveladora de fenômenos importantes, concatenados por trajetórias que se cruzaram novamente na cidade em momentos avançados da vida de cada um. Em tom de afeto e reconhecimento, as memórias de Antonio Candido se referem à pujança política, econômica e cultural da cidade mineira entre as décadas de 1920 e 1930 e à importância da lembrança dessa época na organização do IMS, muitos anos depois.
Para a compreensão da participação de Antonio Candido na instituição, a descoberta desse texto incentivou a construção de uma hipótese de pesquisa que foi sendo aprimorada a respeito da sua interação com o IMS, a qual dependeu diretamente do contexto de aposentadoria universitária, em nova disposição intelectual com colegas conhecidos do estado e da cidade.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1918, mas oriundo de famílias tradicionais de Minas Gerais e com criação escolar entre São João da Boa Vista e Poços de Caldas, Antonio Candido teve privilegiada carreira acadêmica em São Paulo, com passagem por grandes cidades estrangeiras ao longo da vida. Retirou-se das atividades acadêmicas em 1992, com quase 75 anos. No IMS, pôde valorizar as experiências culturais da juventude no estado, ao lado dos colegas. Participou da fundação e da formação das primeiras atividades editoriais e arquivísticas do instituto. Destacou-se na divulgação de autores regionais também maduros, como Jurandir Ferreira, e acompanhou o seu desenvolvimento em outras cidades. Foi contemporâneo do lançamento pelo IMS, em 1996, dos Cadernos de Literatura Brasileira, material ambicioso de memória e análise de escritores brasileiros em atividade, maior expoente na pesquisa acadêmica da crítica literária. Associou seu prestígio intelectual à identidade de todo o projeto que iniciava. Sobrevivente da primeira composição de conselheiros, Antonio Candido retirou-se aos noventa anos de todas as suas funções no IMS, no início de profundas mudanças, as maiores desde a fundação do instituto, após a saída de Antonio Fernando de Franceschi, em 2008. Na época, mantinha participação apenas na unidade de Poços de Caldas, ao lado do também amigo Resk Frayha, engenheiro de minas e ex-prefeito da cidade, falecido também em 2008. Assistiu à morte de vários outros conselheiros: Otto Lara Resende, ainda em 1992; Jurandir Ferreira, em 1997; Francisco Iglésias, em 1999; e do próprio Walther Moreira Salles, em 2001.
Tempos depois, após a morte de Antonio Candido, em 2017, quando se iniciou a minha pesquisa de doutorado, a emergência de outros materiais e eventos em homenagem a ele favoreceram respostas mais aprofundadas sobre o seu vínculo com a instituição. Em 2019, o IMS realizou a maior exposição dedicada ao crítico literário: Antonio Candido em Poços de Caldas, baseada no acervo disponibilizado pela família ao Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo. Entre os documentos exibidos, destaca-se “Vida em Poços”, produzido em 2004, por solicitação da Academia Poços-Caldense de Letras. Nele, Antonio Candido descreveu sua juventude, o trabalho pioneiro do pai na edificação das conhecidas termas medicinais e turísticas da cidade, a formação ginasial em São João da Boa Vista, a breve experiência intelectual e política no jornal Ariel, além de inúmeros detalhes afetivos e memorialísticos (Candido, 2004), reiterando o antigo e o novo vínculo com Poços de Caldas. Contudo, mesmo diante do material disponibilizado, havia pouca informação relativa às circunstâncias em que havia se dado a sua participação na fundação do IMS.
Com o lançamento da biografia de Walther Moreira Salles, O banqueiro-embaixador e a construção do Brasil, pelo jornalista Luís Nassif (2019), pude constatar depoimento relevante que demonstrou a importância de Antonio Candido e Walther Moreira Salles, à frente de outros conselheiros, na idealização do IMS. Em descrição do livro, Antonio Candido, Moreira Salles e o então jornalista Antonio Fernando de Franceschi, além do próprio Luís Nassif, foram entendidos como agentes fundamentais desse momento. Foram os dois últimos os responsáveis pela reaproximação de Antonio Candido e Walther Moreira Salles, em 1989. Depois de homenagem a Moreira Salles na Câmara Municipal de Poços de Caldas, Franceschi e Nassif sugeriram que ele comprasse a casa da família Mello e Souza, mantida com dificuldade por Antonio Candido na cidade, e criasse um novo centro cultural, o que levou à formação de vínculos que podemos reconhecer também como precursores de práticas que se tornaram rotineiras na instituição nos anos seguintes, envolvida principalmente em atividades de homenagem e consagração de sucessivas gerações dedicadas à cultura de Minas Gerais.
Na época, os dois jornalistas formaram laços complementares com Antonio Candido e Moreira Salles, o que facilitou a reaproximação e a construção de um projeto em que ambos podiam ser considerados protagonistas, mas que foi organizado e executado por uma miríade de outros agentes. Enquanto Franceschi estava associado à administração dos empreendimentos da família na gestão da Revista IstoÉ desde o começo da década de 1980, como parceiro de Fernando Moreira Salles, o filho mais velho do empresário, Nassif era amigo de Antonio Candido, poços-caldense e interessado na investigação da memória local. Por intermédio deles, Fernando Moreira Salles concordou com a compra, desde que o futuro centro fosse uma homenagem a Antonio Candido, como combinado com seu pai, ideia posteriormente rejeitada pelo crítico literário, que se animou com a nova instituição cultural e com a reaproximação de Walther Moreira Salles, mas já havia prometido vender a casa familiar a outros. Entre encontros e desencontros, permaneceu a proposta de aquisição de uma residência tradicional na cidade para a formação da Casa de Cultura de Poços de Caldas: foi adquirido então o antigo Chalé Cristiano Osório, datado de 1894, símbolo do café. Antonio Candido tornou-se um dos principais conselheiros da instituição e do Unibanco, empresa associada.
Em visita ocorrida posteriormente a Poços de Caldas, pôde-se entender a demanda de construção da sede pela família Moreira Salles e pelo banco como tributária de preocupações e exigências que se acumularam durante toda a década de 1980, com vários esboços institucionais sem vicejo consistente. Em 1987, já havia ocorrido a formação do Instituto de Artes Moreira Salles, primeira unidade institucional de fomento às artes e à cultura em Poços de Caldas, associada ao Unibanco, com funções razoavelmente indefinidas. Em anos anteriores, a conversão de recursos corporativos para o fomento de projetos sociais havia sido experimentada de maneira estruturada com a fundação Instituto Unibanco, destinada inicialmente a causas várias e, depois, à educação. Eventualmente, o Instituto Walther Moreira Salles apoiou a publicação dos dois volumes de História geral da arte no Brasil, de Walter Zanini, em parceria com a Fundação Djalma Guimarães, braço social da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, empresa de Moreira Salles, sediada no município de Araxá. Mesmo com a repercussão positiva dessas iniciativas, havia dificuldade em atender as demandas específicas do banco, como a manutenção da coleção de obras de arte modernista reunida desde a década de 1960 para uso decorativo das empresas da família, e o desafio de reprodução permanente de atividades de relevância cultural.
No entendimento da pesquisa realizada no doutorado, a efetivação do projeto da Casa de Cultura de Poços de Caldas, em 1989, foi o mais bem-sucedido empreendimento cultural da família, entre outras tentativas relativamente limitadas na década de 1980, justamente porque ocorreu com a guarnição de um quadro permanente de intelectuais colaboradores, algo que se manteve cada vez mais estruturado e reproduzido no IMS nas três décadas seguintes. Ou seja, a parceria estabelecida da família Moreira Salles com agentes de formação, experiência e trajetória na vida intelectual mineira pode ser registrada como a estratégia mais assertiva, ou mesmo a primeira grande estratégia, do projeto que deu origem ao IMS, almejado de várias maneiras durante muito tempo. Ao lado ainda da empregabilidade de agentes mais jovens, com formação universitária específica, que prestavam homenagens a um conselho de intelectuais e profissionais experientes em outras inserções culturais da família naquele momento (editora, jornal e produtora de audiovisual), como vários jornalistas e executivos do Unibanco, a fundação da Casa de Cultura de Poços de Caldas representou um modelo importante de criatividade e de consolidação institucional, presentes nas décadas seguintes na expansão do IMS para outros estados e, mais recentemente, em outros projetos familiares, como o Instituto Serrapilheira e Ibirapitanga, entre outros (Soares, 2023).
Em reflexão sobre o impacto da fundação do IMS nas trajetórias intelectuais estudadas, o que se percebe é o quanto elas passaram a participar de algo mais abrangente, porém ainda disperso naquele momento, que foi a nova inserção cultural da família Moreira Salles no país, crescente a partir da década de 1990, tematizada na tese e em futuros artigos. Em poucos anos, Franceschi e Nassif iniciaram longas empreitadas em torno desse encontro: o primeiro como diretor-superintendente da instituição por dezesseis anos; e o segundo com a longa pesquisa sobre a trajetória empresarial e política de Walther Moreira Salles, que culminou na biografia de 2019. Da mesma maneira, Walther e Antonio Candido iniciaram nova fase de vida, aposentando-se praticamente juntos das atividades que os notabilizaram no país, como empresário e crítico, dedicando-se consideravelmente ao IMS, ao qual ofertaram grande atenção até o início da década de 2000. Com a companhia dos outros membros do conselho, estiveram com mais frequência na própria Poços de Caldas, da qual estavam afastados das atividades culturais por décadas, retomada por eles como espaço de convivência. Tratando-se especialmente do crítico, que logo se deparou com seu antigo imóvel familiar demolido, depois da venda, restando-lhe a Casa de Cultura como o principal vínculo com a cidade, devemos averiguar como a instituição cultural foi espaço propício para o desenvolvimento de suas atividades intelectuais a partir de então, tal como a participação na curadoria nascente do IMS e na arregimentação dos colegas intelectuais mineiros para ele.
Já para Walther Moreira Salles, a existência da Casa de Cultura reparou críticas que havia recebido, quando o Unibanco demoliu a casa da família, localizada na rua Assis Figueiredo e considerada um marco da pujança do mercado bancário mineiro na região. Na virada da década de 1970 para 1980, o recém-formado Unibanco substituiu o Banco Moreira Salles e todas as suas nomenclaturas, com marcas mais impessoais e modernizadoras. Em 1982, Moreira Salles chegou a inaugurar, em Poços de Caldas, homenagem ao pai em projeto ousado: a primeira obra arquitetônica relevante de Aurélio Martinez Flores, caracterizada pelo misto de agência e sede administrativa, construído no lugar da conhecida residência familiar desde 1918, que também fora sede da Casa Bancária Moreira Salles desde a sua fundação, em 1924. Com significativa rejeição dos munícipes ao projeto, dado o seu impacto, a dívida do banco e da família com a preservação do patrimônio histórico de Poços de Caldas começou a ser sanada apenas com a criação do IMS, uma década depois. Diferentemente da primeira solução oferecida, a arquitetura de Flores para a instituição cultural obedeceu a novos princípios, agregando prédio modernista à casa tradicional e demarcando a preservação desta.
O período entre 1989 e 1992, da iniciativa da Casa para a inauguração do IMS, foi marcado pelas principais mudanças que todos acompanharam, com a aproximação de outros intelectuais mineiros e a construção do pavilhão como complemento do Chalé Cristiano Osório. Com a galeria modernista de Aurélio Martinez Flores, foi erigido o novo espaço adequado à formação do centro cultural pretendido. Em 1992, como representação simbólica consolidada da nova instituição, começou a ser divulgado um famoso logotipo, na forma justamente de uma casa tradicional, dando guarida às iniciais IMS.
CONSELHEIROS
Em 1985, o sociólogo Fernando Correia Dias, então professor da Universidade de Brasília, especialista em cultura e história de Minas Gerais, escreveu artigo, no bojo dos acontecimentos das eleições presidenciais, intitulado “Mineiridade: construção e significado atual” (Dias, 1985), em que reflete sobre a valorização dos mineiros na conjuntura política da época, prolongada até o início da década de 1990. Na esteira das reflexões de Otávio Dulci (1983), Dias apontou as eleições dos governadores de 1982 como evento deflagrador dos interesses atualizados pela mineiridade, quando Tancredo Neves começava a despontar como liderança nacional da retomada democrática. Segundo os autores, o assunto - entendido como ideologia das elites dominantes de Minas Gerais na defesa da política da conciliação e do equilíbrio entre forças distintas no país - mereceria pesquisas sistemáticas nas ciências sociais (Dulci, 1983). Acompanhando essas reflexões, o estudo de Heloisa Starling (1986) arriscou observações ainda mais críticas, como a de que a mineiridade também fora apropriada por forças autoritárias, como ocorreu quando as alianças do estado se associaram ao golpe de 1964. Em dissertação mais recente, Walderez Simões Costa Ramalho (2015) produziu balanço profundo do tema, analisando como o próprio trabalho desses autores, continuado e complementado por outros, conseguiu observar a pujança e a decadência dos mineiros naquela época.
Na análise do IMS que empreendemos, as reflexões sobre a mineiridade esclareceram fases importantes das trajetórias envolvidas na sua fundação, redobrando as apostas na compreensão da conjuntura política e cultural da retomada democrática para a análise dos idealizadores da instituição e do seu primeiro corpo de conselheiros. Na transição democrática, o próprio Walther Moreira Salles e seu filho Pedro envolveram-se diretamente na campanha de Tancredo Neves para o governo de Minas Gerais, em 1982 (InFinanceInsper, 2014).2 Segundo Dias, as disputas políticas teriam ensejado a observação da pluralidade regional do país, destacando pelo Brasil a capacidade renovada de articulação das lideranças do estado, com incitação de novas mobilizações civis com objetivos nacionais (Dias, 1985). Ou seja, tendo como base supostas disposições culturais específicas dos mineiros, atribuídas a eles ou mobilizadas estrategicamente por suas elites intelectuais e políticas, a mineiridade passou a ser atrelada ao novo espírito do tempo, especialmente em rememoração à força que teve o povo mineiro no período democrático, na década de 1950, ou ainda na manutenção da unidade nacional durante toda a República. No entanto, com a morte do presidente eleito em 1985, a vida pública da família Moreira Salles, outrora associada às elites liberais e desenvolvimentistas, participante ativa do segundo governo de Getúlio Vargas, do governo Juscelino Kubitschek e do mandato de Tancredo Neves como primeiro-ministro, ficou impossibilitada de reprodução imediata no novo regime, na década de 1980, com exceção de pequenas atividades diplomáticas de Walther Moreira Salles para o governo Sarney. Em mais um revés, anos depois, a mineiridade voltou à cena política justamente nos três primeiros anos de existência do IMS em Poços de Caldas, quando Itamar Franco, outro mineiro, assumiu a Presidência da República, porém, com empolgação ideológica muito menor do que aquela envolvida nas eleições de Tancredo Neves. Entre um momento e outro, podemos reconhecer como o projeto do IMS merece ser observado como contemporâneo do governo Itamar, tributário e decorrente da organização dos mineiros na década anterior, mas efetivado tardiamente na década de 1990, quando já havia uma relativa dissociação entre a consagração cultural e a verificação da sua capacidade política. Do ponto de vista da história da mineiridade, a identidade difundida por esses agentes já estava consolidada nas ciências sociais como uma unidade mitológica, embora bastante reconhecida pela contribuição na tradição cultural do país, como assim mostrou a tese de Maria Arminda do Nascimento Arruda (1989).
Numa fotografia relevante a ser destacada da fundação oficial do IMS, relacionada à inauguração da Casa de Cultura de Poços de Caldas, em 8 de agosto de 1992 (Bezerra, 2022), averiguamos as preocupações do empresário, pertinentes à sua trajetória pública na conjuntura da redemocratização, como a sucessão das gerações e a reunião dos conhecidos de Minas Gerais. Seu empenho na vida pública ganhava finalmente outra forma na fase da aposentadoria, menos referida ao retorno à política e mais à conversão cultural e filantrópica dos seus interesses. Na imagem abaixo, proveniente do arquivo de Otto Lara Resende, podemos observar essa passagem.
Como informado no site da instituição, essa imagem foi produzida nos últimos meses de vida de Otto Lara Resende, que faleceu em dezembro de 1992, aos setenta anos de idade, provocando uma importante modificação na caracterização inicial do projeto. Em 1994, o IMS recebeu o acervo do autor e conselheiro como legado, ampliando pela primeira vez as possibilidades de desenvolvimento do trabalho com arquivos e documentos, para além das atividades precursoras de espaço expositivo e projeto editorial. Embora Resende tenha participado pouco da instituição já firmada, com mais experiência no projeto anterior da Casa de Cultura de Poços de Caldas, os impactos da sua decisão surtiram efeitos sobre os outros conselheiros e sobre o desenvolvimento da programação. Com decisão reproduzida por Jurandir Ferreira, Francisco Iglésias e de seus familiares, o acervo deles também foi para o IMS, num gesto de legitimação pública da instituição. Na última década, especialmente no campo literário, conseguimos notar curadoria bastante tributária desse primeiro acervo doado, como é o caso das plataformas Correio IMS, lançada em 2015, e Portal da Crônica Brasileira, de 2018, construída em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa: ambas receberam ainda materiais de outros amigos de Resende, como os correspondentes Clarice Lispector e Mário Quintana e os cronistas Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Ou seja, notamos a importância da participação de Otto Lara Resende no primeiro conselho do IMS, na medida em que o seu acervo oportunizou o início do trabalho com materiais e agentes oriundos e interessados na tradição do jornalismo no país, tal como a produção mineira da crônica, expressiva para a memória de certa sociabilidade cultural de escritores brasileiros na década de 1950.
Nascido em São João del Rei, em 1922, Otto Lara Resende manteve intensa atividade juvenil em Belo Horizonte, onde seu pai era proprietário do jornal O Diário. Formou-se em direito; e, como vários dos seus colegas jornalistas e escritores da região, vivia no Rio de Janeiro. Mudou-se para a capital nacional em 1945, e para lá também se deslocaram os amigos Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Fernando Sabino, reiterando a sua conhecida interação afetiva e intelectual. Juntos, o quarteto foi considerado responsável pela renovação geracional da crônica brasileira. Como mostrou Helena Bomeny (1994), tal como muitos escritores mineiros formados pelas gerações modernistas. Minas Gerais mantinha-se ainda conservadora na década de 1950, o que fez toda uma geração buscar trabalho nas instituições públicas e na imprensa da capital, especialmente naquelas vinculadas ao Ministério da Educação de Gustavo Capanema.
Otto Lara Resende, até a década de 1980, ocupou cargos públicos e em jornais cariocas - entre os quais se destaca O Globo, de Roberto Marinho e o jornal Folha de S.Paulo -, entrevistando, dirigindo redações e produzindo artigos. Redescoberto como parte da geração de cronistas mineiros inovadores, Resende conquistou uma legião de jornalistas e leitores mais jovens, concomitantemente à sua participação e adesão ao IMS. Entre os fatos mais expressivos dessa redescoberta está justamente à organização da exposição de inauguração da instituição, que logo deu origem ao livro Desatino da rapaziada: jornalistas e escritores de Minas Gerais (1920-1970), publicação de Humberto Werneck pela Companhia das Letras (1992). Depois da morte de Resende, o seu acervo na instituição recebeu pesquisa da escritora Ana Miranda, que publicou o livro O príncipe e o sabiá (1994). Idealizado pelo cronista, com perfis de políticos, amigos e intelectuais.
Para este artigo, tanto a exposição quanto às duas publicações foram, enfim, parte da constituição das primeiras disposições estruturantes do IMS, entre elas a divisão tácita, informal e mesmo imprevista da instituição na sua gênese, bastante observável, entre duas gerações de agentes, mais velhos e mais novos, distribuídos entre conselheiros e funcionários, especialmente entre intelectuais e jornalistas. Na ocasião do registro fotográfico, em que os primeiros conselheiros estão divididos em duas fileiras, já era possível a verificação de alguns componentes morfológicos da primeira estrutura dirigente do IMS: com exceção de Pérsio Arida, todos os sentados ao lado de Walther Moreira Salles são mineiros e considerados os primeiros intelectuais do instituto, enquanto todos os que estão de pé tinham vínculos burocráticos ou familiares com o empresário. No caso em especial da relação entre a instituição e a editora Companhia das Letras, a primeira grande parceira empresarial do IMS, além do Unibanco, e da presença de Resende e Moreira Salles na mesma foto, podemos esboçar também a complementaridade, naquela conjuntura, do investimento filantrópico da primeira geração e do empresarial da segunda, inclusive demonstrando certa divisão de trabalho entre o investimento cultural e o econômico. Enquanto Pérsio Arida e André Lara Resende, filho de Otto, despontavam no Unibanco e consolidavam a transição administrativa para a gestão de Pedro Moreira Salles, aproximando-se politicamente do governo Itamar Franco, os outros três filhos do banqueiro despontavam em carreiras culturais e investimentos relacionados à cultura.
A partir de 1989, a Companhia das Letras ganhou investimentos relevantes com o ingresso de Fernando Moreira Salles, depois de passagem por outras experiências no mercado editorial. Fundada em 1986, pelo jovem casal Luiz e Lilia Schwarcz - ele, editor de carreira, oriundo da prestigiada Brasiliense, formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, tal como Moreira Salles, e ela, historiadora e antropóloga, formada na Universidade de São Paulo -, a editora foi participante entusiasmada da fundação e dos primeiros anos do IMS. Ao descrever no site detalhes importantes do IMS, Elvia Bezerra cita Otto Lara Resende, que ofereceu informações precisas sobre a ambiência cultural do evento, com a presença dos bibliófilos José e Guita Mindlin, da mesma geração dele, e de Luiz e Lilia Schwarcz (Bezerra, 2022). Essas informações foram complementadas pela lembrança de outro jovem nome do mercado, o jornalista Matinas Suzuki Jr. (2022), que participava do evento e iniciava uma frequente colaboração com a instituição, mantendo, na época, estreita proximidade com Otto Lara Resende, para cuja revalorização editorial ele contribuía diretamente.
Em 1992, Suzuki Jr. migrava dos jornais para a Companhia das Letras, tornando-se figura proeminente da editora, depois de experiências na renovação do jornalismo cultural em vínculo com colegas universitários e diários paulistas. No ano seguinte, veio a ser o principal responsável pela publicação de Bom dia para nascer, coletânea das crônicas de Otto Lara Resende para a Folha de S.Paulo, onde ambos trabalharam juntos.
Nas três décadas seguintes, o destino desses jovens profissionais, tal como o de Franceschi, foi bastante associado a esses investimentos da família Moreira Salles no começo da década de 1990, e carreiras bem-sucedidas efetivaram-se na imprensa e nas instituições culturais brasileiras. Uma delas foi a de Humberto Werneck, nascido em Belo Horizonte, em 1945, e formado em direito.
Humberto Werneck iniciou a sua carreira no Suplemento Literário de Minas Gerais na década de 1960, por influência do contista Murilo Rubião, veterano dos jornais. Isso lhe possibilitou mudar-se para São Paulo, onde expandiu contato com colegas jornalistas conterrâneos, como Fernando Mitre e Ivan Ângelo. Posteriormente, na inauguração do IMS, estreitou os vínculos com o seu estado de origem, terminando a organização e a divulgação do trabalho poético de outro amigo de Resende, Hélio Pellegrino, que se notabilizara naquele período como psicanalista.
Para a pesquisa, a análise da trajetória de Humberto Werneck aprimorou uma segunda observação a respeito dos primeiros anos do IMS: enquanto no momento da sua fundação, em 1992, a instituição elegeu como protagonistas uma geração de conselheiros mais velhos, oriundo de diferentes cidades de Minas Gerais, suas atividades seguintes, até 1995, consolidou no entorno um grupo mais novo de especialistas culturais, em geral jornalistas, dedicados à obra e ao reconhecimento dos mais velhos. Nas décadas de 1990 e 2000, Werneck foi eleito para a Academia Mineira de Letras, o que consolidou o reconhecimento do seu trabalho com as expressões culturais da região; manteve-se colaborador frequente do IMS, dedicando-se a outras publicações a respeito da geração dos cronistas (Werneck, 2020). Em 2012, publicou novamente Desatino da rapaziada, em comemoração aos vinte anos do lançamento, em mais um investimento da Companhia das Letras nos autores mineiros, e pôde reafirmar a importante tese de que a literatura e a imprensa tiveram vínculos profundos com esses escritores, algo que ele mesmo também reproduziu na sua trajetória. Em 2018, deu outro passo no reconhecimento público da sua especialidade no assunto com o lançamento no IMS da plataforma Portal da Crônica Brasileira, da qual se tornou responsável e curador.
Para a análise da última dimensão estruturante do conselho do IMS nos seus primeiros anos, cabe reconhecer, por fim, a importância da trajetória singular de Jurandir Ferreira e de Francisco Iglésias e a sua aproximação no IMS, depois de anos de atividade em Poços de Caldas e Belo Horizonte. Mesmo que tenham sido considerados intelectuais eminentemente mineiros, ambos estiveram afastados por muito tempo, inseridos em sociabilidades culturais distanciadas, em cidades que se destacaram de maneiras diferentes na primeira metade do século, com rivalidade de outros centros urbanos de Minas Gerais. Na pesquisa, essa divisão foi constatada de diferentes maneiras: Antonio Candido, Walther Moreira Salles e Jurandir Ferreira estiveram vinculados a Poços de Caldas, enquanto Otto Lara Resende e Francisco Iglésias, a Belo Horizonte. Da mesma forma, a participação de Luís Nassif e Humberto Werneck, como segunda geração de agentes, jornalistas e colaboradores associados, pode ser observada como decorrente das mesmas diferenças. Aliás, a própria expansão da instituição no estado ocorreu com a construção de uma segunda sede em Belo Horizonte, inaugurada em 1997 e em atividade até 2009, reproduzindo dimensão antiga da mineiridade, a do reconhecimento de que Minas Gerais é composta por regionalidades que coexistem.
No caso de Jurandir Ferreira e Francisco Iglésias, mais um motivo os aproximava, especialmente a dependência de sua trajetória em relação a essas cidades. Jurandir Ferreira, nascido em 1905, era oriundo de uma família de classe média de Poços de Caldas. Ainda na juventude cursou Farmácia em Pouso Alegre, cidade do sul de Minas, onde nasceu Walther Moreira Salles. Ali viveu suas primeiras experiências na imprensa, na Gazeta de Pouso Alegre, e continuou por alguns anos o ofício em São Paulo, até se mudar novamente para a sua cidade natal, em momento de grande prosperidade local. Em 1929, abriu o que veio a ser um bem-sucedido empreendimento laboratorial, no qual exerceu por muitos anos a sua atividade principal, e na mesma cidade conheceu o jovem Antonio Candido e Luís Nassif. Na década de 1930, casou-se com aquela que seria a sua única esposa até o fim da sua vida, sem constituir herdeiros. A partir da década de 1940, o investimento na literatura aconteceu e foi consolidado com a criação, em 1958, do jornal Fronteira e, em seguida, com o lançamento do seu primeiro livro, o romance O céu entre montanhas, e depois Fábulas, uma antologia poética, o romance Telêmaco, entremeado de crônicas no Diário de Poços de Caldas. Nas décadas posteriores, dividiu-se entre a produção na imprensa regional e as tentativas de publicação e participação em concursos literários fora do eixo mineiro, sem, contudo, alcançar êxito significativo.
Em 1992, quando o IMS foi fundado, Jurandir Ferreira completava 87 anos e começou a viver o período de maior consagração intelectual, que durou até a sua morte, cinco anos depois. Ainda em 1992, o livro de crônicas que escreveu entre 1950 e 1980, Da quieta substância dos dias: crônicas, foi publicado pela Companhia das Letras em parceria com o IMS e com prefácio de Antonio Candido, mas sem novas edições. Em 1994, Um ladrão de guarda-chuvas, um romance guardado quarenta anos na gaveta, ganhou a sua primeira publicação, em rara parceria da mesma editora com a concorrente Nova Alexandria. Com o segundo livro publicado e repercussão nacional, Ferreira ganhou o Prêmio Guimarães Rosa de 1994, oferecido pelo governo de Minas Gerais, na categoria de autor revelação, o que poderia ser considerado incompreensível para um escritor com muitos anos de produção no próprio estado. Na esteira das suas atividades como conselheiro do IMS, vários dos seus antigos livros foram novamente publicados, recebendo condecorações e encomendas jamais feitas antes, como a obra dedicada à história de Poços de Caldas, solicitada pela prefeitura por ocasião da inauguração do Museu Histórico e Geográfico Municipal, em 1996.
Entretanto, depois da sua morte, em 1997, o vínculo entre as suas produções e a agenda editorial e expositiva da instituição arrefeceu. Diferentemente de Otto Lara Resende, cujos materiais ofereceram subsídios relevantes para projetos posteriores, o aproveitamento institucional da obra de Jurandir Ferreira enfrentou muitos desafios, conduzindo ao seu relativo esquecimento. Entre outras decisões tomadas, a sede de Poços de Caldas deixou de vender os livros do autor que não haviam sido publicados pela editora do IMS e, em anos mais recentes, a biblioteca legada por ele à instituição, e que levava o seu nome, foi fechada e os volumes foram destinados ao museu da cidade. Mesmo que, como autores poços-caldenses, eles tenham sido tema de atividades culturais relevantes na sede - como vimos na exposição sobre Antonio Candido, em 2019, e na exposição Retratos de Limercy Forlin, sobre esse destacado fotógrafo local, em 2021 - é inegável que a valorização da obra de Jurandir Ferreira se perdeu, depois da primeira metade da década de 1990.
Mais do que outros membros do conselho, a consagração de Jurandir Ferreira merece ser analisada em decorrência específica da participação no IMS, que lhe possibilitou visibilidade inédita depois de anos de dificuldade de inserção em espaços literários forâneos. Particularmente, os textos de Antonio Candido (1992; 2013) para os livros de Ferreira, que foram publicados pela primeira vez entre 1992 e 1995, auxiliaram na construção de uma hipótese acerca das características da obra, demonstrada também pela recepção do crítico Daniel Piza (1995) e pela dissertação de Huendel Junio Vianna (2006). Como explicaram esses autores, a produção de Ferreira foi vista quase sempre como provinciana, em termos elogiosos ou não, por fazer bastante referência a temas locais, muitas vezes em desprezo ou retração das grandes cidades. Em lembrança de momento difícil na carreira do cronista, Luís Nassif mencionou especialmente o sentimento de Ferreira em relação ao tratamento hostil que recebeu de Léo Gilson Ribeiro (Nassif, 2007), crítico de bastante prestígio em São Paulo na década de 1970, denotando algo comum que reconheço nos intelectuais mineiros que participaram do conselho do IMS: a sensação de envelhecimento. Para Ferreira, a forma jocosa como fora lido em São Paulo assemelhava-se à violência contra o idoso em cena do filme Laranja mecânica, marco setentista da representação da violência. No mesmo artigo, Nassif associou a publicação do amigo na década de 1990 a um exercício de resistência, em conjuntura de globalização, neoliberalismo e consequente padronização cultural. Entre 1992 e 1997, o teor positivo das críticas capitaneadas pelo aval de Antonio Candido e de vários desses jornalistas, muito em decorrência da fundação do IMS, ofereceu a ele a possibilidade de reconhecimento tardio, mas também de retificação do tratamento que recebeu fora de Minas Gerais durante a sua trajetória.
De outro modo, possivelmente Francisco Iglésias incorporou como nenhum outro a diversidade do grupo inicial do IMS, tamanha autonomia intelectual que conquistou no estado. Como historiador profissional, foi constantemente lembrado pelo estilo; como Jurandir Ferreira, manteve-se em Minas Gerais; como Antonio Candido, efetivou carreira acadêmica na universidade; como Otto Lara Resende, participou de celebrados círculos intelectuais de Belo Horizonte, estabelecendo inúmeros vínculos com os escritores modernistas; e como Walther Moreira Salles, não disputou ou criou disposições propriamente literárias, embora tenha sido reconhecido pelo domínio da cultura consagrada e cosmopolita. Diferentemente dos demais, Iglésias nasceu no norte do estado, no município de Pirapora, mudando-se logo para Belo Horizonte, onde se formou em história e geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Com longa carreira ancorada na cidade (1949-1999), podemos afirmá-lo como exemplo bem-sucedido da unidade e da independência dos mineiros, um dentre vários assuntos que pesquisou academicamente.
Outros aspectos o vinculavam ao conjunto, em especial aos desdobramentos do movimento modernista no estado. Na juventude, participou ativamente da oposição aos regimes fascistas nacionais e estrangeiros e da politização dos escritores na década de 1940, o que galvanizou diferentes agremiações intelectuais. Em 1946, participou da criação da revista Edifício, com Autran Dourado, Sábato Magaldi e diversos outros nomes filiados ao Partido Comunista, sem, contudo, consolidar grandes perspectivas e expoentes literários; mas permitindo sua aproximação do grupo com o quarteto de amigos um pouco mais velhos, os já conhecidos Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Fernando Sabino. Diferentemente destes, oriundos de famílias mais abastadas e que logo migraram, Iglésias preferiu permanecer em Belo Horizonte, com rápida passagem por São Paulo, onde trabalhou na livraria Jaraguá, e ali estreitou amizade com Antonio Candido. Retornou a Belo Horizonte para assumir importante cargo na universidade.
Na década de 1990, Francisco Iglésias reviveu a parceria com alguns desses amigos, como Otto Lara Resende e Antonio Candido, justamente com a fundação da Casa de Cultura de Poços de Caldas, quando já era reconhecido como expoente indubitável e esclarecido da identidade mineira, como muitas vezes defendeu no Suplemento Literário de Minas Gerais e em inúmeras cartas enviadas por ele - parte delas componentes relevantes do Correio IMS, como as que trocaram durante meio século com Otto Lara Resende, para quem também escreveu o prefácio do livro de crônicas organizado por Matinas Suzuki Jr. Falecido em 1999, em momento avançado de dispersão do tema da mineiridade no IMS, Iglésias recebeu pouca atenção da instituição depois da sua morte, tal como Jurandir Ferreira; a exceção foi o debate realizado pontualmente, em comemoração aos noventa anos do seu nascimento, com o historiador José Murilo de Carvalho e o crítico literário Silviano Santiago. No IMS, de todos os materiais disponíveis sobre ele, o que mais se destacou para este artigo foi o texto Feliz é Minas, que teve Drummond, de Elvia Bezerra (2020), publicado na revista de ensaios serrote, lançada então pelo próprio IMS, e no qual foram descritas as homenagens de Iglésias ao admirado poeta.3
Falecido em 1987, um ano antes da fundação da Casa de Cultura de Poços de Caldas e pouco depois da morte de Tancredo Neves, o Carlos Drummond de Andrade descrito por Francisco Iglésias pode ser considerado o principal agente ausente do conselho, dada a irrestrita vênia que lhe prestavam os conselheiros, nascidos uma geração depois. Para essa pesquisa, a correspondência de Iglésias, bem como a fotografia de inauguração da Casa de Cultura de Poços de Caldas, foi indicativa de uma etapa importante da consagração dos mineiros na primeira década da redemocratização do país, sobretudo da definição dos sucessores simbólicos da mineiridade. Na argumentação que propomos, a classificação de gerações é reconhecida como dispositivo bem difundido na cultura da mineiridade, percebemos como Drummond, logo após a sua morte, foi valorizado pelos intelectuais do conselho, na mesma medida que estes passaram a ser apreciados pela geração mais nova de jornalistas e colaboradores institucionais, como se todos fossem parte de uma mesma ancestralidade de preocupações e interesses, dada pela verificação de uma origem comum. Mais precisamente, entre as contribuições mais importantes deste artigo para o tema da mineiridade, a partir do IMS como estudo de caso, refere-se à produção e a definição de heranças intelectuais entre gerações que merecem ser levadas em conta na caracterização da mineiridade e da sua reprodução - e, por consequência, na caracterização do IMS como instituição que foi disposta como herdeira dessa cultura, seja no guarnecimento de seus representantes, seja na elaboração de uma agenda própria de valorização da memória e da crônica, vigente até os dias de hoje, mas frequentemente esquecida dos seus vínculos com os mineiros.
GESTOR
Em 1995, Antonio Fernando de Franceschi escreveu um pequeno artigo para a revista Manuscrítica: Revista de Crítica Genética, da Universidade de São Paulo, intitulado “Battleship em edição genética: o projeto editorial do Instituto Moreira Salles” (Franceschi, 1995), em que lista os dois primeiros conjuntos de publicações do IMS, datados principalmente dos seus primeiros anos. De maneira significativa, ele explicita a curadoria do projeto desde o início, mostrando a abertura para novas iniciativas, as quais viriam a ser realizadas naquele mesmo ano, com projetos de expansão para São Paulo e Rio de Janeiro. Embora sucinta, a apresentação de Franceschi explicitou dois fatos relevantes para este artigo: a evidência do enfoque mineiro da curadoria, em transição para uma agenda de apelo nacional; e o amadurecimento institucional do próprio autor, jornalista e poeta, que ascendia a um só passo como intelectual e executivo de toda a instituição.
Na pesquisa dedicada sobretudo à reunião dos conselheiros mineiros, a caracterização do paulista Franceschi incitou a análise da sucessão no IMS, principalmente na conjuntura de expansão institucional e do horizonte de possibilidades de novas lideranças intelectuais. Bem mais jovem, com experiência em gestão, o superintendente acompanhou o grupo em outras condições e foi o principal articulador da sua primeira grande transformação, depois dos primeiros anos de atividades.
Nascido em 1942, em Pirassununga, Antonio Fernando de Franceschi teve trajetória intelectual diversa, conformada em diferentes circunstâncias e vinculada sobretudo a São Paulo. Na década de 1960, graduou-se em filosofia pela Universidade de São Paulo e tornou-se conhecido pelo círculo de poetas chamados marginais, do qual faziam parte os amigos Cláudio Willer, Roberto Piva e Roberto Bicelli. Mais tarde, dedicou-se à imprensa, trabalhando com Fernando Moreira Salles, entre 1980 e 1984, como vimos, alcançando depois posições importantes na administração de associações de ensino e imprensa, enquanto recebia paralelamente grande consagração como poeta. Como superintendente do IMS, foi editor do grupo de conselheiros e construtor das primeiras exposições da Casa de Cultura de Poços de Caldas, assumindo também, momentaneamente, a direção do Masp, entre 1993 e 1994 (Rubin, 2021). Em 2008, foi dispensado de todas as suas atividades no IMS, depois de dezesseis anos de trabalho.
Em “Battleship em edição genética”, Franceschi forneceu informações sobre algumas estratégias editoriais que desenvolveu, como a busca de proximidade entre mostras e publicações e o desenvolvimento de edições de apelo e qualidade acadêmica. Segundo seu depoimento, João do Rio, um escritor entre duas cidades, exposição inaugural da instituição, ensejou livros posteriores, como A correspondência de uma estação de cura e A profissão de Jacques Pedreira, ambos referidos às experiências do cronista carioca em Poços de Caldas. Antonio Candido, que escreveu o prefácio do primeiro, ganhou talvez a mais celebrada homenagem editorial da instituição naqueles anos, com Dentro do texto, dentro da vida: ensaios sobre Antonio Candido, coletânea de textos de alunos e colegas organizadas por Maria Ângela d’Incao e Eloísa Faria Scarabôtolo, que atualizou para o seu aniversário de 75 anos, em 1993, a homenagem já realizada em Esboço de figura, por seus 60 anos, em 1978.
Além dessas obras e daquelas de Otto Lara Resende, Jurandir Ferreira e Humberto Werneck, outros livros publicados pelo IMS nos ajudam a entender o escopo específico da curadoria dos primeiros anos da instituição. Se não me falha a memória, de 1993, uma reedição comemorativa das memórias do político e jornalista mineiro Joaquim de Salles (1892-1962), fugiu um tanto do tom comum do catálogo, mas sua presença nas publicações fica mais compreensível quando sabemos da proximidade do autor do próprio embaixador Walther Moreira Salles, com quem conviveu no Rio de Janeiro. Balança, trombeta e battleship ou O descobrimento da alma, de Mário de Andrade, republicada em edição genética, aponta a aproximação do IMS com a pesquisa em andamento da universidade paulista, principalmente com o Instituto de Estudos Brasileiros. Para efeito de comparação, enquanto os intelectuais mineiros haviam incorporado vetores dominantes da instituição nos primeiros anos de atividades, os interesses do superintendente, em 1995, no artigo que redigiu, já indicavam passos importantes para a sua sucessão, como a valorização da moderna cultura nacional, mais distante do patrimônio mineiro, e a própria função de gestão, que passou a ser cada vez mais importante que o primeiro conselho de intelectuais. Entre as obras publicadas pelo IMS naqueles anos, cabe registrar que Franceschi não chegou a citar História do Unibanco: 1924-1994, escrito pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo, que mesmo tematizando parte da antiga vida econômica de Poços de Caldas, indicava o vínculo do IMS com o Unibanco, algo que começava a se perder a partir daquele ano.4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o término da pesquisa de doutorado, alguns motivos específicos me incentivaram à escrita deste artigo, dando-me oportunidade de análises que não pude fazer detalhadamente para a tese, tal como a observação da origem regional dos conselheiros e da importância dessa origem na conjuntura da abertura democrática, até a primeira metade da década de 1990.
Entre outros fatores que merecem reflexão, o mais importante é talvez a conjuntura da própria pesquisa, muito diferente daquela da fundação da instituição, especialmente em razão da crise da democracia de 2018 a 2022, quando parcela significativa da comunidade de pesquisadores das ciências sociais no país começou a trabalhar no projeto Minas Mundo: o cosmopolitismo da cultura brasileira, formalizado em 2020. Embora a minha pesquisa de doutorado já estivesse iniciada em 2018, a intenção de vários pesquisadores de promover debates acerca do caráter global e cosmopolita da cultura de Minas Gerais - e, por consequência, a incitação da revisão de leituras sobre a emergência do modernismo no Brasil nas comemorações dos cem anos da Semana de Arte Moderna (Minas Mundo, 2022) - trouxeram observações relevantes sobre reincidência política e intelectual do tema da mineiridade. Em plena valorização acadêmica dos mineiros, mais uma vez a atividade destes voltou a ser associada à vigência democrática do país, como percebemos, aliás, pelo manifesto eleitoral do Minas Mundo, com acentuada afirmação da cultura cosmopolita do estado em cenário conturbado do Brasil (Trevisan et al., 2022).
Nessas leituras recentes, muito bem condensadas no artigo “O balão, o serrote e o indivíduo: cosmopolítica do memorialismo modernista”, de André Botelho e Lucas Van Hombeeck (2022), o movimento modernista mineiro passou a ser observado pelas características que o fizeram singular, como a relação entre o indivíduo e a sociedade, ou, mais precisamente, a relação entre a formação do indivíduo e a estrutura de dominação tradicional, com consequências culturais a serem compreendidas. Entre as obras indicativas dessa experiência, as pesquisas do grupo refletiram em especial sobre as contribuições tardias de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Pedro Nava para o desenvolvimento do tema da memória, seja como gênero literário consequente dos seus últimos anos, seja como restituição e consolidação do próprio modernismo. Certamente uma das características fundamentais do IMS é ser uma instituição de memória (Soares, 2023), o que nos leva a indagar quanto a sua fundação foi um projeto erigido na esteira do amadurecimento do movimento modernista mineiro, ou em diálogo com ele, ou ainda mobilizado por agentes associados à sucessão dele.
Em termos bibliográficos e empíricos, busquei oferecer consistência para a experiência intelectual dos primeiros anos da instituição, ao pretender demonstrar classificações culturais mobilizadas entre os conselheiros e em vigência em torno deles. Nesse sentido, a fundação do IMS pode ser entendida como tributária do desempenho dos intelectuais mineiros memorialistas da década de 1970, mas relativamente prejudicada pela crítica à mineiridade nos anos de redemocratização e, por fim, pela morte de agentes bastante relevantes para a cultura e a política do estado, como Pedro Nava, Tancredo Neves e Carlos Drummond de Andrade, associados em geral aos movimentos de modernização de Minas Gerais.
Por fim, entendo que as atividades do IMS apresentaram um novo destino aos atributos culturais associados aos mineiros, funcionando como uma espécie de institucionalização de um patrimônio a ser preservado pelas gerações futuras, em situação de desbotamento das contribuições políticas e culturais da mineiridade entre o fim da década de 1980 e início da de 1990. Para as pesquisas de sociologia da cultura, ouso afirmar também que os mesmos agentes consolidaram uma experiência coletiva relevante no país de trabalho intelectual na velhice, vivida como momento oportuno para a consagração de suas trajetórias, para a retificação dos seus feitos passados e para a demarcação de suas heranças.
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» https://www.bpp.pr.gov.br/candido/pagina/entrevista-humberto-werneck
-
1
Para a análise das instituições, este artigo tem como referência a explicação clássica de Pierre Bourdieu (2007) sobre as igrejas, quando o autor descreveu o mecanismo de reprodução dos bens espirituais erigidos por profetas pelo corpo dos sacerdotes, em contraposição ao trabalho dos feiticeiros. Em análise crítica dos estudos weberianos sobre a rotinização do carisma, o texto é bastante elucidativo da composição, nas instituições culturais e políticas, de relações estabelecidas entre pelo menos duas categorias de agentes reunidos em disposições desiguais, como seus principais políticos e burocratas.
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2
Para outros depoimentos da história do Unibanco, seja de executivos, seja de familiares, ver Itaú Unibanco (2014).
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3
Na mesma edição, há outro texto de autoria de Elvia Bezerra, em comemoração aos trinta anos do IMS, escrito quando era coordenadora da área de literatura do instituto, cargo que ocupou de 2009 a 2019.
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4
Em 1995, um ano depois do lançamento do livro, o IMS já lançava bases mais sólidas para a independência administrativa do Unibanco.
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Declaração de Disponibilidade de Dados:
os dados de pesquisa estão disponíveis na página: https://ims.com.br/por-dentro-acervo/alicerces-do-ims-pocos-de-caldas-por-elvia-bezerra/
Disponibilidade de dados
os dados de pesquisa estão disponíveis na página: https://ims.com.br/por-dentro-acervo/alicerces-do-ims-pocos-de-caldas-por-elvia-bezerra/
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Out 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
26 Jan 2024 -
Aceito
24 Abr 2025


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