Acessibilidade / Reportar erro

Como Keynes e suas ideias chegaram ao Brasil

How Keynes' ideas were introduced in Brazil

Resumo

O objetivo do artigo é mostrar que as ideais de Keynes chegaram ao Brasil para um público mais amplo. O veículo de chegada de Keynes e suas ideias foi o jornal e isso ocorreu a partir do ano de 1920. Keynes e suas posições foram amplamente divulgados nos jornais brasileiros a partir da discussão do seu livro As Consequências Econômicas da Paz, publicado em 1919. O nome de Keynes e suas ideias estiveram sempre presentes nos jornais brasileiros durante a vida profissional mais ativa (1917-1946) do economista britânico. É enganoso imaginar que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil inicialmente para o público restrito de economistas. É também enganoso imaginar que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil após a publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, ou ainda durante as discussões que envolveram a reconstrução monetária mundial do pós-Segunda Guerra.

Palavras-chave:
Keynes; Keynes no Brasil; Keynes nos jornais

Abstract:

This paper aims to show that Keynes' ideas reached a broader audience when first introduced in Brazil. The vehicle was the newspaper, and it started in the year 1920. Brazilian newspapers widely publicized Keynes' positions with discussions of his book The Economic Consequences of the Peace, released in 1919. Keynes' name and ideas were a constant presence in Brazilian newspapers during the most active part of his professional life (1917-1946). It is misleading to imagine that Keynes' ideas were first introduced in Brazil for a restricted audience of economists. Or only after the publication of The General Theory of Employment, Interest and Money, in 1936. Or even during discussions involving the post-World War II monetary reconstruction.

Keywords:
Keynes; Keynes in Brazil; Brazilian newspapers

1 Introdução

É enganoso imaginar que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil inicialmente para o público restrito de economistas ou círculos acadêmicos. É também enganoso imaginar que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil após a publicação da sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, ou ainda durante as discussões que envolveram a reconstrução monetária mundial do pós-Segunda Guerra. O objetivo do artigo é mostrar que as ideais de Keynes chegaram ao Brasil, primeiramente, para um público mais amplo; e, portanto, muito além de somente economistas ou acadêmicos. Além disso, o veículo de chegada de Keynes e suas ideias ao Brasil foi o jornal e isso ocorreu a partir do ano de 19201 1 Pesquisa acadêmica realizada pelo autor junto a professores titulares de universidades públicas estaduais e federais, que se consideram keynesianos (ou pós-keynesianos), indicou que é inédito o conhecimento do fato que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil na década de 1920 e alcançaram um púbico mais amplo, letrado, leitor de jornais. A pesquisa está documentada em vídeo. , tal como será descrito no artigo.

Durante a vida profissional mais ativa de Keynes, ou seja, entre 1917 e 1946, as suas ideias eram conhecidas e discutidas amplamente nos principais jornais brasileiros. Keynes era mencionado de forma repetida por muitos jornalistas, entre eles, Assis Chateaubriand, que chegou a contratar o economista britânico como colaborador do seu jornal durante a década de 1920, tal como será visto à frente. O sociólogo Gilberto Freyre colocou Keynes numa galeria de “Grandes Homens” em artigo publicado no Correio da Manhã em 1940. Nas suas palavras, Keynes era um: “... grande economista (...) - o crítico detrator do Tratado de Versalhes” (Correio da Manhã, 1940, 30 de julho, p.2). O jornal Estado de São Paulo publicou matéria de capa em 1943 intitulada “Homens do Momento - Maynard Keynes” (ver Estado de São Paulo, 1943, 4 de junho, p.1).

Tal como será visto ao longo do artigo, as ideias de Keynes começaram a ser conhecidas no Brasil em 1920 por intermédio dos principais jornais. Contudo, cabe mencionar que o seu nome apareceu pela primeira vez nesses veículos com uma mera menção em 1917.2 2 Em veículos de circulação mais restrita, o nome de Keynes já havia aparecido. Por exemplo, o seu nome já tinha sido mencionado em publicação do Jornal do Commercio (RJ) de 1915 chamada Retrospecto Commercial (referente a 1914) que fazia uma detalhada descrição da economia todos os anos e que continha cerca de 450 páginas e tinha o formato de livro - não de jornal. Keynes e suas opiniões foram amplamente divulgados nos jornais brasileiros a partir da discussão do conteúdo do seu livro As Consequências Econômicas da Paz - quase sempre citado com o título em inglês. Formou-se basicamente um consenso nos jornais brasileiros em apoio às ideias centrais de que o Tratado de Versalhes era injusto e incorreto. Injusto porque tinha um sentido de vingança e incorreto porque dificultava a recuperação da Alemanha e da Europa. Enfim, Keynes passou a ser conhecido no Brasil não como um macroeconomista com suas ideias sendo conhecidas em restritos grupos acadêmicos, mas sim como um especialista que tratava de problemas econômicos e político-sociais e que influenciou jornalistas, escritores e uma parcela culta de leitores dos principais jornais brasileiros.

Para se chegar a esta consideração, foram pesquisados os arquivos dos dez mais importantes jornais brasileiros entre os anos de 1910 e 1946 (ano do falecimento de Keynes). Os jornais pesquisados estão listados na tabela 1. Dos dez jornais, o Estado de São Paulo, O Globo e o grupo Folha de São Paulo (Folha da Noite e Folha da Manhã) possuem acervos próprios, disponíveis na Internet; os demais têm seus arquivos disponibilizados pela Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). A tabela 1 mostra que o nome de Keynes apareceu pela primeira vez no Brasil em 1917 e que, além disso, o nome do economista britânico aparecia de forma recorrente entre 1917 e 1946 nos principais jornais brasileiros o que indica a relevância das suas ideias nas discussões quotidianas de um público letrado. Em aproximadamente 30 anos, a fase mais intensa da vida profissional de Keynes, seu nome teve 516 ocorrências (ou seja, notícias, artigos etc.) nos dez principais jornais brasileiros.

Tabela 1
Número de editoriais, notícias, artigos de opinião, colunas e anúncios de venda de livros que mencionaram Keynes nos principais jornais brasileiros do Rio de Janeiro e São Paulo entre 1917-1946

O artigo está organizado em duas seções principais, além das conclusões finais. Na seção 2, é apresentada uma visão geral da presença de Keynes nos principais jornais brasileiros. Nela, é mostrado que artigos acadêmicos de Keynes eram apresentados e discutidos nos jornais, entre eles, por exemplo, Os Meios para a Prosperidade. Destaca que intelectuais, tais como, Sergio Buarque de Hollanda, ou jornalistas como Assis Chateaubriand, faziam referência direta a Keynes e suas ideias. A visão de Keynes sobre o padrão-ouro e a necessidade de uma moeda com lastro também apareceram de forma frequente nos jornais brasileiros a partir da segunda metade da década 1920. Essa mesma seção revela também a importância dada pelos jornais às propostas de Keynes de reorganização do sistema monetário internacional e sua participação na Conferência de Bretton Woods. Na seção 3, é mostrado que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil através dos principais jornais a um público mais amplo, letrado, em 1920, a partir das ideias contidas no seu livro As Consequências Econômicas da Paz. Essa seção mostra também que as ideias de Keynes influenciaram de forma contundente os debates que ocorreram sobre as reparações referentes à Primeira Guerra nos jornais.

2 Keynes nos jornais brasileiros durante a sua vida: uma visão geral

Durante a vida profissional pública de Keynes, que vai dos anos 1920 até seu falecimento em 1946, suas posições políticas e econômicas eram referências para os colunistas de jornais e jornalistas brasileiros. Keynes era considerado uma personalidade no Brasil. Cabe mencionar que, em 1925, seu casamento com a famosa bailarina russa Lidya Lopokova foi vastamente anunciado nos veículos brasileiros. O jornal O Globo anunciou o casamento com a seguinte chamada “A Economia e Dança Unidas pelo Amor”. (O Globo, 1925, 31 de julho, p.3). Após o enlace, o jornal O Paiz noticiou que “[a]ssistiram ao ato grande número de homens de letras, jornalistas e artistas” (O Paiz, 5 de agosto, 1925, p.5).

Lidya Lopokova era também muito conhecida no Brasil. Ela tinha se apresentado em 1917 com a Companhia Russa de Ballet no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 1917, 20 de agosto, p.9) e de São Paulo (Estado de São Paulo, 1917, 31 de agosto, p.2). O jornal O Paiz noticiou o casamento de Keynes com a bailarina com a seguinte chamada “Lopokova Vai Casar” (O Paiz, 1925, 29 de julho, p.5). Em setembro, o mesmo veículo sugeriu que “Lopokova... [iria] abandona[r] a troupe Diaghitew e a cena para sempre. Vai ser feliz, no seu lar, sem público nem aplausos” (O Paiz, 1925, 23 de setembro, p.3). O jornal O Globo noticiou em 1926, um ano após o casamento, que “Lopokova Não Abandonou o Teatro” depois do seu casamento (O Globo, 1926, 25 de janeiro, p.8).

A indicação de Keynes para o prêmio Nobel da Paz de 1923, fato pouco conhecido no Brasil, também foi noticiada nos jornais. (ver Jornal do Brasil, 1923, 6 de setembro, p.12 e Keynes, 2013a, p.109). Mas não houve ganhador do prêmio nessa categoria naquele ano. Conforme descrito no testamento de Alfred Nobel, uma parte de seus recursos será dedicada "a pessoa que tenha feito mais ou melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz" (The Nobel Prize, 2021). No site oficial do Prêmio Nobel, o nome de Keynes aparece entre aqueles que foram “indicados que não são principalmente reconhecidos por suas atividades pela paz” (The Nobel Prize, 2021). Não há explicação por parte dos organizadores do Prêmio porque não houve vencedor(es) em 1923. Provavelmente, a indicação de Keynes foi decorrente das ideias expostas no seu livro As Consequências Econômicas da Paz; livro cuja repercussão nos jornais brasileiros será amplamente tratada na próxima seção.

Artigos acadêmicos de Keynes eram também resumidos e discutidos nos jornais brasileiros. Por exemplo, três dos seus mais importantes artigos: O Fim do Laissez-faire (de 1926), Os Meios para a Prosperidade (de 1933) e o Como Pagar pela Guerra (de 1940) apareceram inúmeras vezes nos jornais (principalmente os dois últimos). Em 1927, o veículo Estado de São Paulo publicou material de autoria de J.C. Muniz intitulado “Coletivismo contra Individualismo” (Estado de São Paulo, 1927, 27 de março, p.3) em que o autor defendeu o coletivismo (intervenção do Estado na economia) com base em um longo resumo das ideias contidas no O Fim do Laissez-faire3 3 Baseado numa palestra dada por Keynes em Oxford em novembro de 1924, The End of the Laissez-faire foi publicado como um panfleto em julho de 1926. Nesse panfleto, Keynes descartou o que ele chamou de socialismo marxista ou socialismo estatal, por um lado, e o capitalismo individualista ou capitalismo do laissez-faire, por outro. Como forma de superação do laissez-faire, Keynes propôs uma intervenção estatal organizada e direcionada na economia. (ver Keynes, 2013d, pp. 272-294) (ver também Correio da Manhã, 1944, 13 de fevereiro, p.4). Comentários, sempre elogiosos, ao artigo Os Meios para a Prosperidade apareceram inúmeras vezes em grande parte dos jornais pesquisados. Tais comentários apareceram, por exemplo, no Jornal do Brasil (1933, 7 de junho, p.10), Jornal do Commercio (1933, 5 de abril, p.3 e 1933, 12 de maio, p.4) e Folha da Noite (1933, 1 de julho, p.8). Todos os veículos deram ênfase à proposição feita por Keynes no seu Os Meios para a Prosperidade de que o governo deveria realizar gastos com obras públicas para combater o desemprego.4 4 O artigo The Means to Prosperity foi publicado em março de 1933 numa série de quatro ensaios no The Times, sendo, logo em seguida, transformado em panfleto. Esse artigo revelou ao público que Keynes tinha feito uma revolução intelectual e teórica. A política monetária foi colocada numa posição secundária (de suporte) com a ênfase tendo sido deslocada para a política fiscal de gastos em obras públicas como principal meio para reduzir o desemprego. (ver Moggridge and Howson, 1974, p.239) Muito importante ainda nesse artigo, foi a visão expressa por Keynes de que os problemas do capitalismo deveriam ser enfrentados com uma abordagem de economia política, como ele mesmo disse: “uma mistura de teoria econômica com a arte do estadismo” (Keynes, 2013d, p.336). E o Como Pagar pela Guerra apareceu, por exemplo, no O Jornal (1941, 9 de março) e no Estado de São Paulo (1940, 1º maio). Todos os jornais sintetizaram o artigo de Keynes utilizando termos tais como “economia compulsória” ou “economia obrigatória” se referindo aos empréstimos imperativos que o público deveria fazer ao governo durante a Segunda Guerra para evitar uma inflação de demanda. Keynes, no seu artigo, propôs tais empréstimos para reduzir a demanda do público na medida em que a demanda do governo necessariamente aumentaria com o evento da Guerra. Ao final da Guerra, o governo devolveria os recursos emprestados.5 5 Esse artigo foi publicado originalmente no The Times, em 14 e 15 de novembro de 1939, sob o título “How to Pay for the War”. Uma nova versão foi publicada em fevereiro de 1940 na forma de um livreto (ver Keynes, 2013d, pp. 367-439).

A discussão sobre a adoção/retorno ao padrão ouro após a Primeira Guerra, na Grã-Bretanha e em diversos países, inclusive no Brasil, apareceu também nos jornais brasileiros. No ano de 1925, a Grã-Bretanha retornou ao padrão-ouro. Keynes aparecia nos jornais como um ardoroso defensor da “moeda manipulada” (O Jornal, 1925, 30 de abril, p.4) e não da moeda conversível. De acordo com O Jornal, Keynes havia anunciado que “o aumento incessante da massa de desempregados” na Grã-Bretanha no ano de 1925 era um “corolário do reestabelecimento do padrão-ouro” (O Jornal, 1925, 30 de junho, p.4). Um ano mais tarde, Azevedo Amaral, correspondente brasileiro em Londres para O Jornal6 6 Azevedo Amaral era um famoso jornalista que se tornou um importante pensador sobre os problemas políticos brasileiros (Chaves, 2021). , escreveu que Keynes havia previsto “com grande lucidez os efeitos econômicos e os reflexos sociais da prematura volta ao padrão-ouro” (O Jornal, 1926, 11 de julho, p.1).

Na Grã-Bretanha, o debate sobre a adoção do padrão-ouro teve sua origem na controvérsia entre bullionistas e anti-bullionistas; no Brasil, a mesma discussão era feita de forma aproximada entre, respectivamente, metalistas e papelistas (ver Fonseca, 2008FONSECA, P. C. D. A controvérsia entre metalismo e papelismo e a gênese do desenvolvimentismo no Brasil. Anais do XXXVI Encontro Nacional de Economia, 2008., p.5).7 7 Embora não seja objetivo do artigo discutir tal controvérsia, valem ser destacadas as observações de Fonseca: “De certa forma se pode argumentar, do ponto de vista metodológico, que a polaridade absoluta seja entre bullionists e anti-bullionists ingleses seja entre metalistas e papelistas brasileiros constitui mais um recurso analítico, posto que não é difícil detectar, ao se mapear as nuanças do debate na pesquisa empírica, defensores tanto de posições intermediárias como participantes mais radicais e mais moderados dentro de cada corrente. É indubitável que sob a denominação de anti-bullionists incluem-se tanto defensores extremados da moeda fiduciária, ou a moeda-papel sem qualquer lastro metálico, até os que admitiam uma ancoragem em títulos públicos. De qualquer forma, todos parecem convergir no entendimento da moeda apenas como signo, sem valor intrínseco algum, até moderados como o banqueiro Thornthon, que mesmo defendendo a liberdade de emissão sem conversibilidade para atender as necessidades do mercado e, com isto, evitar ou minimizar os efeitos das flutuações exageradas e das crises de liquidez (o que se denominou “princípio bancário”), apontava para as precauções que a autoridade monetária deveria ter para evitar o inflacionismo.” (2008, p.5) Pode-se dizer que tais discussões buscavam na prática restabelecer as condições econômicas anteriores à Primeira Guerra; e no Brasil, essas condições incluíam também uma política de defesa dos preços do café (ver Franco & Lago, 2011FRANCO, G.; LAGO, L. A Economia da República Velha, 1889-1930. Texto para Discussão n.588, Pontifícia Universidade Católica/Rio de Janeiro, 2011., pp.39-49). Portanto, no centro do debate estava o arranjo monetário (moeda conversível ou “manipulada”), o nível da taxa de câmbio e “esquemas de defesa dos preços do café” (Franco & Lago 2011, p.39). Cabe mencionar que Keynes conhecia os esquemas de valorização do café praticados no Brasil e os considerava inevitáveis e defensáveis (ver, por exemplo, Keynes, 2013i, p. 126).

O debate entre papelistas e metalistas ocorria nos jornais brasileiros de forma muito pragmática (os focos eram o controle da inflação e a atividade econômica); e em muitos artigos e notícias aparecia o nome de Keynes e suas ideias. O Jornal reproduziu um longo trabalho de José Carlos Macedo Soares que considerava dispensável que a moeda doméstica fosse conversível em ouro (O Jornal, 1929, 1º de junho, p.7); Eugênio Gudin, em artigo de opinião, defendeu a estrita conversibilidade da moeda nacional em ouro a uma taxa fixa (O Jornal, 1929, 29 de junho, p.4). Esses dois autores defenderam ou atacaram diretamente as ideias de Keynes, citando o nome do economista britânico, para apoiar suas próprias posições, o que mostra a densa influência e a autoridade intelectual de Keynes nas discussões econômicas que apareciam nos jornais brasileiros àquela época.

Merecem destaque dois artigos de Sérgio Buarque de Hollanda no O Jornal no ano de 1930. Buarque de Hollanda fora contratado como enviado especial do veículo para visitar a Rússia, Polônia e a Alemanha. Os dois artigos eram sobre a Polônia e criticavam as previsões sombrias de Keynes sobre o futuro daquele país. O enviado ficou impressionado com o que viu na cidade de Poznan: monumentos restaurados, a maior estação ferroviária do país, o maior estádio de esportes, uma Escola de Ciências Econômicas, uma universidade com um departamento agrícola com mais de quatro mil alunos, além de indústrias pesadas e de bens de consumo. Os artigos faziam parte de uma série chamada “Um País que Ressurge”. No primeiro artigo, Buarque de Hollanda afirmou que a situação “... desmoralizar[ia] a ideia divulgada pelo economista J.M. Keynes em seu célebre livro As consequências Econômicas da Guerra [o correto é Paz] de que a república de Piłsudski8 8 Józef Klemens Piłsudski era o chefe de Estado da polônia entre 1926 a 1935. é[ra] uma impossibilidade econômica ...” (O Jornal, 1930, 1 de janeiro, p.4). No segundo artigo, escreveu: “Nada mostra mais claramente a inconsciência da frase de J.M. Keynes sobre a ‘impossibilidade econômica’ da Polônia...” (O Jornal, 1930, 12 de janeiro, p.1).

A Polônia tinha alcançado um crescimento da renda per capita entre 1920 e 1929 de 5,24% ao ano (com desvio padrão de 0,07) (Roses & Wolf, 2010ROSES, J.; WOLF, N. Aggregate Growth 1913-1950. In: BROADBERRY, S.; O’ROURKE, K. (editores). The Cambridge Economic History of Modern Europe. Volume 2, Cambridge: Cambridge University Press, 2010., p.188) - uma taxa extraordinária e consistente ao longo daqueles anos. Portanto, a percepção de desenvolvimento da Polônia era correta. Contudo, a frase de Keynes em seu livro foi parcialmente omitida nos artigos de Buarque de Hollanda. Keynes disse algo mais: “... se seus grandes vizinhos não forem prósperos e ordeiros, a Polônia é uma impossibilidade econômica sem indústrias...” (Keynes, 2013c, p.185). Os grandes vizinhos eram a Alemanha e a Rússia (que se transformou na União Soviética). No período 1920-1929, a Alemanha obteve um crescimento da renda per capita de 4,49% ao ano (com desvio padrão de 0,09) (Roses & Wolf, 2010, p.188) - uma taxa significante. Roses e Wolf (2010, p.188) indicam ainda que não existem dados disponíveis para a Rússia/União Soviética referentes àquele período. Entretanto, é de amplo conhecimento o desenvolvimento da União Soviética após a revolução de 1917, o que foi reconhecido pelo próprio Keynes.9 9 Em 1922, Keynes escreveu “Uma experiência extraordinária de socialismo está em curso de desenvolvimento [na Rússia Soviética]” (Keynes, 2013e, p.408). Em 1945, ele reconheceu que a Rússia foi bem-sucedida na superação da fome e na sua reconstrução em curto espaço de tempo. (Keynes, 2013f, pp.275-276) Ele acreditava que o comércio entre países europeus era vital para o continente. O intercâmbio de alimentos (trigo, por exemplo), equipamentos agrícolas, máquinas e técnicas, fortaleceria a todos, mas as locomotivas seriam obviamente os países grandes. E a Polônia prosperou; afinal estava localizada entre duas gigantes que prosperaram (não é, todavia, objeto do presente artigo tratar das causas que explicaram o crescimento e as dificuldades da Alemanha e da União Soviética nos anos 1920).

O veículo O Jornal, que pertencia a Assis Chateaubriand, contratou Keynes como um dos seus colaboradores. Em 1927, o veículo anunciou: “John Maynard Keynes Inicia a sua Colaboração Efetiva Amanhã no O Jornal” (ver documento 1 - O Jornal, 1927, 3 de fevereiro, p.4). A coluna inicial de Keynes no O Jornal foi publicada na primeira página do veículo e se intitulava “O Mundo de Willian Clissold”10 10 Esse artigo foi publicado originalmente no The Nation and Athenaeum, em 22 de janeiro de 1927 e republicado em Keynes, 2013d, pp.315-320. O artigo é um comentário sobre livro de Hebert G. Wells cujo título era The World of William Clissold. (ver documento 2 - O Jornal, 1927, 4 de fevereiro, p.1). Contudo, O Jornal de Chateaubriand unicamente publicaria o próximo artigo de Keynes em 21 de fevereiro de 1929 cujo título era “A Estabilização do Ouro”11 11 Esse artigo foi publicado em inglês sob o título Is There Enough Gold? The League of Nations Enquiry em 19 de janeiro de 1929 no The Nation and Athenaeum e republicado em Keynes, 2013h, pp.775-780. Nesse artigo, Keynes indicou que se a maioria dos países optasse pelo padrão-ouro não haveria ouro suficiente no mundo, mas além disso constatou que não haveria necessidade de o dinheiro em circulação ser conversível. Keynes disse ainda que a escassez de ouro poderia levar a uma contração de crédito. (ver documento 3 - O Jornal, 1929, 21 de fevereiro, p.1). E essa foi a última colaboração de Keynes ao O Jornal. Um outro artigo de Keynes foi publicado em 1º de março de 1936, mas pela Folha da Manhã (do Grupo Folha de São Paulo), intitulado “Será Fechado o Canal de Suez”12 12 Esse artigo foi publicado originalmente no The New Statesman and Nation, em 28 de setembro de 1935, sob o título “Economic Sanctions” (ver Keynes, 2013g, pp.370-372). O artigo era sobre a ameaça da agressão italiana a Abissínia e Keynes discutiu as sanções econômicas à Itália. (ver documento 4 - Folha da Manhã, 1º de março, 1936, p.6).

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, o livro mais importante de Keynes para os economistas, lançado em fevereiro de 1936, não teve grande repercussão nos jornais. Tal livro passou quase desapercebido nos veículos brasileiros: nenhuma resenha ou comentário específico - fato que pode ser considerado contraintuitivo. A Teoria Geral apareceu apenas três vezes. O Correio da Manhã mencionou que o Plano Woolton13 13 Lord Woolton foi Ministro da Alimentação e Ministro da Reconstrução da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra. se inspirou visivelmente nas ideias contidas no livro de Keynes (Correio da manhã, 1944, 10 de junho, p.4). A Teoria Geral apareceu mais uma vez no mesmo veículo pelas palavras de Eugênio Gudin. O Correio da Manhã reproduziu parte do discurso de Gudin na sua posse como presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política.14 14 “Em 1937 Gudin participou da constituição da Sociedade Brasileira de Economia Política, que reunia uma série de estudiosos interessados na criação de uma escola de economia no Rio de Janeiro. No ano seguinte seria fundada, em dezembro, a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, primeiro estabelecimento de ensino da matéria na então capital da República.” (Keller, 2021) Gudin fez referência despretensiosa à Teoria Geral, apenas mencionando que Keynes tinha tratado do problema do emprego em seu livro. Em 1943, Octavio Gouveia de Bulhões, em artigo estritamente teórico intitulado Contribuições à Política Monetária, mencionou a Teoria Geral afirmando que tal obra se destacava por ter a “preocupação de melhor integrar os problemas monetários nos problemas de suprimento e de procura” (O Jornal, 1943, 15 de outubro, p.2). A explicação de terem ocorrido raríssimas menções ao livro mais importante de Keynes pode ser que os jornais brasileiros, como esperado, tratavam de problemas quotidianos e a Teoria Geral é um livro basicamente de teoria econômica. Como será visto na próxima seção, As Consequências Econômicas da Paz, livro que tratava dos problemas do quotidiano decorrentes da Primeira Guerra, foi vastamente discutido nos jornais e teve inúmeras resenhas publicadas.

Nos anos 1940, as propostas de Keynes para reorganização monetária internacional que culminaram com as discussões que ocorreram na Conferência de Bretton Woods de 1944 foram amplamente apresentadas nos jornais. Por exemplo, a Folha da Manhã publicou artigo sobre as ideias de Keynes intitulado “A Super Moeda Internacional” sobre a proposta do bancor (Folha da Manhã, 1943, 9 de abril, p.4). Em julho de 1943, o mesmo veículo anunciou que faria uma série de matérias que resumiriam o “Plano Keynes” de organização monetária internacional (ver documento 5 - Folha da Manhã, 1943, 20 de julho, p.8).15 15 O volume 25 dos Collected Writings of John Maynard Keynes é dedicado às origens do que se tornou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, assim como traça as origens das ideias da criação de uma International Clearing Union e do bancor.

Em decorrência de problemas cardíacos, Keynes morreu em 21 de abril de 1946. Seu falecimento foi registrado em todos os principais jornais brasileiros. Em notas ou em longas matérias Keynes foi homenageado, por exemplo, na Folha da Noite (ver documento 6 - Folha da Noite, 1946, 22 de abril, p.1) ou no O Globo (1946, 22 de abril, p.3).

O aparecimento do nome de Keynes era bastante frequente nos jornais durante a sua vida, o que per se revela o seu reconhecimento e autoridade intelectual no Brasil - perante um público letrado - durante décadas. A próxima seção descreve como as ideias de Keynes chegaram e se tornaram presentes em um dos debates mais importantes da década de 1920, que foi a controvérsia em torno dos problemas das reparações referentes à Primeira Guerra. Nesse tema, as posições de Keynes se tornaram praticamente consensuais nas colunas, artigos e notícias dos jornais brasileiros.

3 A chegada: The Economic Consequences of the Peace e sua influência

O nome de Keynes apareceu pela primeira vez nos jornais brasileiros em 13 de setembro de 1917 (ver documento 7). O jornal A Gazeta anunciou a chegada de uma comissão de finanças britânica aos Estados Unidos “composta de Lord Reading, coronel Swinton, John Keynes”16 16 Inúmeras questões concernentes às finanças entre os Aliados eram discutidas durante a Primeira Guerra Mundial. Keynes chegou em Nova Iorque em 12 de setembro de 1917. (Ver Moggridge, 1992, p.276) (A Gazeta, 1917, 13 de setembro, p.6). No dia seguinte, essa mesma notícia apareceu nos jornais Estado de São Paulo e Jornal do Brasil (ver Estado de São Paulo, 1917, 14 de setembro, p.1 e Jornal do Brasil, 1917, 14 de setembro, p.8). Depois dessa primeira aparição, o nome de Keynes somente reapareceria em 1919 no jornal O Paiz. Foi reportado nesse veículo que Keynes era membro da comissão britânica de reparações referentes aos danos causados aos Aliados durante a Primeira Guerra Mundial (ver O Paiz, 1919, 28 de maio, p.1).

A publicação do livro The Economic Consequences of the Peace, em dezembro de 1919, divulgou mundo afora as ideias de Keynes concernentes às reparações da Primeira Guerra. No Brasil, Keynes se tornou uma referência sobre o tema para os debates e notícias de jornais (como poderá ser constado através do cotejamento das ideias do livro com o conteúdo dos jornais expostos a seguir). O livro foi escrito em seguida a desistência de Keynes, em 7 de junho de 1919, do posto de representante do Tesouro Britânico na Conferência de Paz realizada na França. As ideias de Keynes presentes no seu livro podem ser resumidas em alguns pontos:

  • (i) a Europa Continental estava mergulhada em uma profunda crise econômica e social após a Primeira Guerra (a fome, estava de volta);

  • (ii) a Europa Continental era considerada una - França, Alemanha, Itália, Áustria, Holanda, Rússia, Romênia e Polônia teriam somente uma estrutura e civilização - ao passo que a Grã-Bretanha era considerada um corpo fora da estrutura e cultura europeias;

  • (iii) a Alemanha era considerada o motor da atividade industrial do continente Europeu cuja força estava baseada na sua marinha mercante, suas exportações, seus investimentos estrangeiros, sua exploração de carvão e ferro e nas suas indústrias siderúrgica, química e elétrica;

  • (iv) o Tratado de Versalhes estabeleceu para a Alemanha o pagamento de indenizações e outros compromissos que enfraqueceriam a sua força econômica atingindo suas atividades que eram consideradas vitais, inclusive para toda Europa Continental;

  • (v) a solução adequada seria exigir da Alemanha um pagamento que não fosse tão economicamente avassalador, desde que fossem feitas concessões ao país derrotado, mas uma avaliação com método científico da capacidade de pagamento da Alemanha estava fora de questão - as intenções políticas principalmente da França para colocar a Alemanha em posição de submissão eram predominantes;

  • (vi) entre os exageros, foi estabelecido que a Alemanha teria de se comprometer a transferir para os aliados a sua marinha mercante em sua totalidade - uma parte considerável desses navios já se encontrava em mãos dos aliados antes da conclusão do Tratado de Paz;

  • (vii) se os aliados se dedicassem a promover o comércio e a indústria da Alemanha por um período de cinco a dez anos, concedendo-lhe grandes empréstimos e com ampla disponibilidade de alimentos, matérias-primas e meios de transporte marítimo, conseguindo mercados para os produtos alemães e aplicando todos os seus recursos e toda a sua vontade para torná-la a mais importante nação industrial da Europa, se não de todo o mundo, uma indenização substancialmente maior poderia depois ser obtida;

  • (viii) a Alemanha deixou de ser um povo e um Estado; passou a ser um simples empreendimento comercial, colocada pelos seus credores nas mãos de um administrador tal como uma massa falida, sem ter sequer a oportunidade de demonstrar o desejo de cumprir por conta própria as suas obrigações;

  • (ix) O Tratado de Paz não continha qualquer disposição orientada para a reabilitação econômica da Europa - nada que transformasse os países derrotados em bons vizinhos, nada que permitisse dar estabilidade à Europa; não promovia de nenhuma forma um pacto de solidariedade econômica entre os próprios aliados.

Os jornais brasileiros publicaram várias resenhas e comentários positivos sobre o livro de Keynes. Por exemplo, em 10 de março de 1920, o periódico O Jornal publicou uma resenha do livro se referindo a Keynes como sendo “uma autoridade universalmente reconhecida” para tratar daquele tema e que a sua palavra "está sendo devidamente comentada na imprensa, que unânime, enaltece o alto valor moral" do seu livro (O Jornal, 1920, 10 de março, p.5). O Correio da Manhã publicou um artigo de autoria de Gil Vidal intitulado “Um Livro Notável”, mas curiosamente Keynes foi chamado de Queynes (com Q) e Meynard (com e).17 17 No dia seguinte o jornal corrigiu o seu erro (ver Correio da Manhã, 1920, 12 de junho, p.2). Vidal escreveu: “Moço, pois conta apenas 36 anos de idade, o Sr. Queynes já é reputado um dos primeiros economistas ingleses” (Correio da Manhã, 1920, 11 de junho, p.2).

Em novembro de 1920, José Maria Bello publicou um longo artigo intitulado “O Livro de Keynes” no O Jornal. Ele se referiu ao Tratato imposto à Alemanha como “o monstruoso crime de Versalhes”. Bello fez um sumário do livro de Keynes e concluiu dizendo que “a obra de Clemenceau e Lloyd George18 18 Os representes dos Aliados com poder decisório nas negociações de reparações eram Woodrow Wilson, dos Estados Unidos, David Lloyd George da Grã-Bretanha, Vittorio Emanuele Orlando, da Itália, e Georges Clemenceau, da França. , abalada nas suas primeiras raízes, ruirá em breve. Das suas ruínas tristes, há de surgir a paz sem ódios e disputas...” (O Jornal, 1920, 5 de novembro, p.1). Bello era um advogado, político e jornalista; e foi conselheiro da delegação brasileira na Conferência de Paz realizada na França (Lopes, 2021LOPES, R. H. José Maria de Albuquerque Bello. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BELO,%20Jos%C3%A9%20Maria%20de%20Albuquerque.pdf). Acesso em 3 de Janeiro de 2021.
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/...
).

Assis Chateaubriand, em viagem pela Europa em 1920, onde visitou diversos países e regiões, escreveu um longo artigo sobre a crise econômica e social daquele continente. (ver Correio da Manhã, 1920, 30 de julho, p.2). Em artigo escrito em Berlim, Chateaubriand revelou que suas ideias eram muito semelhantes às ideias do livro de Keynes. O famoso jornalista escreveu que a Europa tinha adentrado "em uma hora crepuscular, em que as formas nítidas se cobrem de nuances de incertezas" ou ainda “Ninguém se reputa seguro do dia de amanhã”. Sobre a Grã-Bretanha, ele disse: “é um país insular, extra europeu, cuja a evolução se tem processado à parte...”. Para sustentar suas ideias, Chateaubriand escreveu: “um dos mais notáveis economistas ingleses [Keynes] acaba de dizer que as Ilhas britânicas não são da carne nem do corpo da Europa”. Sobre a Alemanha, ele disse, “A queda da Alemanha não será um baque singular, mas a de toda a estrutura econômica e política continental”.

Chateaubriand apresentou em seu artigo alguns argumentos para provar que a Alemanha tinha um papel crucial na economia do Continente, disse: “Keynes demonstra que não havia até 1914 nenhum país da Europa, cujo comércio não dependesse, no mínimo, em um quarto da sua atividade...”. E ele foi bem incisivo: “o Tratado ... impede-a [a Alemanha] de dar pão e trabalho a milhões de seus filhos”. Chateaubriand destacou que "O eminente economista inglês Keynes ... acaba[ra] de escrever, num livro de sensação e documentadíssimo..." que o Tratado de Versailles era uma violação. O jornalista concluiu seu artigo dizendo: “a paz [alcançada] está[va] dando os frutos venenosos, mais cedo que esperávamos".

Durante o período que o Tratado de Versalhes foi debatido nos jornais brasileiros, existiu somente uma manifestação contrária às posições de Keynes nos dez veículos pesquisados. O jornal Estado de São Paulo publicou um artigo de opinião intitulado “A Guerra e a Paz” de autoria de Bettencourt Rodrigues, datado de 14 de novembro de 1920. O autor criticou as posições de Keynes contidas no The Economic Consequences of the Peace. Rodrigues escreveu que Keynes tinha “…uma deveras extraordinária complacência [com a Alemanha], tratando-se como se trada de um inimigo implacável e bárbaro…” (Estado de São Paulo, 1920, 14 de novembro, p.2). Cabe mencionar que Bettencourt Rodrigues foi um médico português que viveu no Brasil entre 1892 e 1913. Posteriormente, retornou a Portugal e se tornou político servindo como Ministro dos Negócios Estrangeiros durante a ditadura militar de 1926 a 1930 naquele país (Carvalho, 2019CARVALHO, S. M. O Projeto de Diplomacia Económica de Bettencourt Rodrigues no Contexto pós- Primeira Guerra Mundial. Diplomacia Econômica - revista do IPRI, n. 61, pp. 33-45, 2019., p.35).

O Brasil foi um dos países Aliados durante a Primeira Guerra Mundial e também demandou indenizações/reparações da Alemanha. Segundo informação do Jornal do Brasil, diversos navios da marinha brasileira foram afundados por torpedos e tiros de canhões alemãs. Em consequência, o Brasil tinha direito a compensações que o País havia considerado justas e legítimas. O Jornal do Brasil criticou a França pelos exageros impostos à Alemanha e insinuou que durante as negociações, o representante brasileiro Raul Fernandes19 19 Era advogado, político e foi nomeado delegado à Conferência de Paz e representante do País na Liga da Nações durante as discussões sobre as reparações (em 1919-1920). (Pechman, 2021) adotou posições ponderadas semelhantes àquelas do “ilustre economista inglês Sr. Keynes” contidas em seu livro. (ver Jornal do Brasil, 1921, 26 de fevereiro, p.4). O veículo concluiu: “As reclamações pedidas pelo Brasil são um modelo de moderação e probidade” (Jornal do Brasil, 1921, 26 de fevereiro, p.4). O Brasil pediu como indenização a incorporação à frota nacional de 46 navios que pertenciam à marinha mercante da Alemanha que foram retidos nos portos brasileiros durante os anos do conflito - o Brasil foi atendido (Fagundes, 2021FAGUNDES, L. Participação Brasileira na Conferência de Paz de Versalhes. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PARTICIPA%C3%87%C3%83O%20BRASILEIRA%20NA%20CONFER%C3%8ANCIA%20DA%20PAZ%20DE%20VERSALHES.pdf. Acesso em 3 de janeiro de 2021.
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/...
).

Em 17 de março de 1921, o Jornal do Brasil publicou uma extensa matéria sobre o livro The Making of the Reparation and Economic Sections of the Treaty de Bernard Baruch, que foi membro da delegação dos Estados Unidos à Conferência de Paz. O periódico elogiou as posições de Baruch que foram consideradas semelhantes às ideias de Keynes contidas no seu livro20 20 Em 2 de dezembro de 1920, Keynes opinou sobre o livro de Baruch no Manchester Guardian e fez um ácido e polido comentário: “O Sr. Baruch se consola com o fato de que as partes do tratado, que ele odeia não menos do que eu, são vazias porque são impossíveis e inofensivas porque nunca poderão se efetivar. Mas feriram, no entanto, a fé pública da Europa” (Keynes, 2013a, 98) já que “O livro do Sr. Baruch pretende ser uma explicação de como e porque a delegação americana, sem ser tola nem desonrosa, veio a aceitar um tratado que era tolo e desastroso” (Keynes, 2013a, 91). (Jornal do Brasil, 1921, 17 de março, p.7). Essa matéria parecia representar as posições oficiais do Jornal do Brasil sobre o tema em debate.

Notícias, colunas e artigos de opinião continuavam a aparecer nos jornais brasileiros. A quase totalidade deles era favorável às posições de Keynes relativas ao Tratado de Versalhes, à Conferência de Paz, à agressividade da França contra os derrotados etc. Opiniões positivas sobre Keynes e o seu The Economic Consequences of the Peace tinham conquistado um largo espaço nos jornais brasileiros. Mais um exemplo de opinião favorável às ideias de Keynes apareceu no Correio da Manhã:

[...]The Economic Consequences of the Peace, publicado em 1920, foi a primeira voz que se elevou contra as resoluções de Versalhes; e os argumentos em que se apoiavam eram de tal modo irrefutáveis que imediatamente conquistaram a opinião dos que os ponderaram à luz da razão desapaixonadamente. Os acontecimentos confirmaram de tal maneira as previsões desastrosas para a Europa, encaradas nesse livro, que o podemos considerar uma verdadeira profecia” (Correio da Manhã, 1922, 27 de maio, p.1).

A penetração das ideias de Keynes nos jornais brasileiros pode ser também evidenciada pelas palavras de representantes dos interesses franceses. Notícia publicada no Correio da Manhã e no O Paiz, reportava que o dirigente político francês René Viviani havia publicado um artigo no jornal francês Le Petit onde ele afirmava que:

De tudo quanto se disse e publicou contra nós nos países sul americanos, nada nos foi tão nefasto como o livro de Keynes. Na minha viagem pelos países da América do Sul encontrei no Brasil, na Argentina, no Uruguai, certo movimento que me causou inquietação e do qual exalava uma espécie de veneno persistente. (Correio da Manhã, 1921, 30 e abril, p.2 e O Paiz, 1921, 30 de abril, p.2)21 21 René Viviani, que tinha sido primeiro ministro do seu país, havia também visitado os Estados Unidos e lá disse que “… não encontrei nas esferas norte-americanas nenhuma oposição ao ponto de vista francês: apenas vi alguns espíritos imbuídos das doutrinas falsas do livro de Keynes" (Jornal do Brasil, 1921, 8 de maio, p.7).

Uma outra notícia que pode confirmar esse cenário de hostilidade francesa contra as ideias de Keynes apareceu no Jornal do Brasil. Esse veículo noticiou que o jornal francês Le Figaro protestou contra uma suposta campanha de antipatia contra a França que estava se formando no mundo, inclusive no Brasil. A mesma notícia sugeria que as atitudes da França reforçavam o acerto das ideias de Keynes que estavam presentes em seu livro. (ver Jornal do Brasil, 1923, 1º de março, p.7).

Ainda como exemplos durante a década de 1920, tem-se que em 28 de setembro de 1926, a Folha da Manhã (do Grupo Folha de São Paulo) e o Correio da Manhã em 15 de junho de 1928, teceram reluzentes elogios ao livro As Consequências Econômicas da Paz. De fato, o livro de Keynes marcou a presença de suas ideias no Brasil através dos jornais. Assim, surpreendentemente as primeiras ideias do economista britânico que chegaram ao Brasil não eram relacionadas aos círculos acadêmicos, nem eram estritamente macroeconômicas, mas estavam sim no âmbito da economia política, uma vez que elas tratavam de teoria econômica e estadismo - tal como Keynes definiu a economia política no The Means to Prosperity (ver nota 3).

4 Observações finais

O conhecimento sobre Keynes e suas ideias no Brasil têm início a partir do ano de 1920 e estão relacionados à dimensão da economia política através das discussões sobre os danos econômicos e sociais decorrentes da Primeira Guerra Mundial. As ideais contidas no As Consequências Econômicas da Paz se transformaram quase em consenso absoluto nos editorias, notícias e artigos dos jornais. Ainda na década de 1920, as ideias macroeconômicas de Keynes críticas ao padrão-ouro também ocuparam vastamente as páginas dos principais jornais brasileiros.

As ideias de Keynes foram noticiadas e discutidas nos jornais durante toda a vida profissional mais ativa do economista. Seus artigos mais importantes eram resenhados e debatidos. A proposta de realização de obras públicas como política de combate ao desemprego era citada a partir da discussão sobre o famoso artigo The Means to Prosperity. Suas propostas relativamente à reconstrução monetária internacional pós-Segunda Guerra também apareceram de forma detalhada e ampla nos jornais brasileiros.

Keynes faleceu em 21 de abril de 1946. Onze dias após, dia 2 de maio, a Faculdade de Ciências Econômicas do Rio de Janeiro realizou uma sessão solene em homenagem ao economista, tal como noticiado pelo jornal O Globo (ver documento 8 - O Globo, 1946, 3 de maio, p.4). A Faculdade de Ciências Econômicas, criada em 1938, foi incorporada pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1946. Embora não seja objetivo desse artigo tal investigação, esse evento solene é um forte indicador que as ideias de Keynes eram conhecidas também na academia brasileira na década de 1940.

Referências

  • CARVALHO, S. M. O Projeto de Diplomacia Económica de Bettencourt Rodrigues no Contexto pós- Primeira Guerra Mundial. Diplomacia Econômica - revista do IPRI, n. 61, pp. 33-45, 2019.
  • CHAVES, L. G. Azevedo Amaral. CPDOC/FGV, 2021. Acesso em 3 de janeiro de 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/amaral-azevedo-do
    » http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/amaral-azevedo-do
  • FAGUNDES, L. Participação Brasileira na Conferência de Paz de Versalhes. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PARTICIPA%C3%87%C3%83O%20BRASILEIRA%20NA%20CONFER%C3%8ANCIA%20DA%20PAZ%20DE%20VERSALHES.pdf Acesso em 3 de janeiro de 2021.
    » http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PARTICIPA%C3%87%C3%83O%20BRASILEIRA%20NA%20CONFER%C3%8ANCIA%20DA%20PAZ%20DE%20VERSALHES.pdf
  • FONSECA, P. C. D. A controvérsia entre metalismo e papelismo e a gênese do desenvolvimentismo no Brasil. Anais do XXXVI Encontro Nacional de Economia, 2008.
  • FRANCO, G.; LAGO, L. A Economia da República Velha, 1889-1930. Texto para Discussão n.588, Pontifícia Universidade Católica/Rio de Janeiro, 2011.
  • KELLER, V. Eugênio Gudin Filho. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/Cpdoc/Acervo/dicionarios/verbete-biografico/eugenio-gudin-filho Acesso em 26 de janeiro de 2021.
    » http://www.fgv.br/Cpdoc/Acervo/dicionarios/verbete-biografico/eugenio-gudin-filho
  • KEYNES, J. M. Activities 1931-1939 - World Crises and Policies in Britain and America, In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XVII. Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013a.
  • KEYNES, J. M. Bibliography and Index. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XXX. Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013b.
  • KEYNES, J. M. The Economics Consequences of the Peace. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume III. Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013c.
  • KEYNES, J. M. Essays in Persuasion. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume IX. London: Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013d.
  • KEYNES, J. M. Activities 1920-1922: Treaty Revision and Reconstruction. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Vol. XVII, Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013e.
  • KEYNES, J. M. Activities 1940-1946: Shaping the Post-War World: employment and commodities. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XXVII, Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013f.
  • KEYNES, J. M. Activities 1920-1922 Treaty Revision and Reconstruction In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XXI. London: Macmillan; Cambridge: Cambridge University Press, 2013g.
  • KEYNES, J. M. Activities 1922-1929 - The Return to Gold and Industrial Policy. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XIX, London: Macmillan and Cambridge: Cambridge University Press, 2013h.
  • KEYNES, J. M. A Treatise on Money - the Applied Theory of Money. In: MOGGRIDGE, D; JOHNSON, E. The Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume VI. London: Macmillan and Cambridge: Cambridge University Press, 2013i.
  • LOPES, R. H. José Maria de Albuquerque Bello. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BELO,%20Jos%C3%A9%20Maria%20de%20Albuquerque.pdf). Acesso em 3 de Janeiro de 2021.
    » http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BELO,%20Jos%C3%A9%20Maria%20de%20Albuquerque.pdf
  • MOGGRIDGE, D. Maynard Keynes: An Economist’s Biography. London: Routledge, 1992.
  • MOGGRIDGE, D.; HOWSON, S. Keynes on Monetary Policy, 1910-46. Oxford Economic Papers, v. 26, n. 2, pp. 226-247, 1974.
  • PECHMAN, R. Raul Fernandes. CPDOC/FGV, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/fernandes-raul). Acesso em 3 de fevereiro de 2021.
    » http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/fernandes-raul
  • ROSES, J.; WOLF, N. Aggregate Growth 1913-1950. In: BROADBERRY, S.; O’ROURKE, K. (editores). The Cambridge Economic History of Modern Europe. Volume 2, Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
  • THE NOBEL PRIZE. 2021. The Official Website of the Nobel Prize. Disponível em: https://www.nobelprize.org/. Acesso em 30 de junho de 2021.
    » https://www.nobelprize.org
  • Códigos JEL:

    B20, B29, B31
  • JEL Codes:

    B20, B29, B31
  • 1
    Pesquisa acadêmica realizada pelo autor junto a professores titulares de universidades públicas estaduais e federais, que se consideram keynesianos (ou pós-keynesianos), indicou que é inédito o conhecimento do fato que as ideias de Keynes chegaram ao Brasil na década de 1920 e alcançaram um púbico mais amplo, letrado, leitor de jornais. A pesquisa está documentada em vídeo.
  • 2
    Em veículos de circulação mais restrita, o nome de Keynes já havia aparecido. Por exemplo, o seu nome já tinha sido mencionado em publicação do Jornal do Commercio (RJ) de 1915 chamada Retrospecto Commercial (referente a 1914) que fazia uma detalhada descrição da economia todos os anos e que continha cerca de 450 páginas e tinha o formato de livro - não de jornal.
  • 3
    Baseado numa palestra dada por Keynes em Oxford em novembro de 1924, The End of the Laissez-faire foi publicado como um panfleto em julho de 1926. Nesse panfleto, Keynes descartou o que ele chamou de socialismo marxista ou socialismo estatal, por um lado, e o capitalismo individualista ou capitalismo do laissez-faire, por outro. Como forma de superação do laissez-faire, Keynes propôs uma intervenção estatal organizada e direcionada na economia. (ver Keynes, 2013d, pp. 272-294)
  • 4
    O artigo The Means to Prosperity foi publicado em março de 1933 numa série de quatro ensaios no The Times, sendo, logo em seguida, transformado em panfleto. Esse artigo revelou ao público que Keynes tinha feito uma revolução intelectual e teórica. A política monetária foi colocada numa posição secundária (de suporte) com a ênfase tendo sido deslocada para a política fiscal de gastos em obras públicas como principal meio para reduzir o desemprego. (ver Moggridge and Howson, 1974, p.239) Muito importante ainda nesse artigo, foi a visão expressa por Keynes de que os problemas do capitalismo deveriam ser enfrentados com uma abordagem de economia política, como ele mesmo disse: “uma mistura de teoria econômica com a arte do estadismo” (Keynes, 2013d, p.336).
  • 5
    Esse artigo foi publicado originalmente no The Times, em 14 e 15 de novembro de 1939, sob o título “How to Pay for the War”. Uma nova versão foi publicada em fevereiro de 1940 na forma de um livreto (ver Keynes, 2013d, pp. 367-439).
  • 6
    Azevedo Amaral era um famoso jornalista que se tornou um importante pensador sobre os problemas políticos brasileiros (Chaves, 2021).
  • 7
    Embora não seja objetivo do artigo discutir tal controvérsia, valem ser destacadas as observações de Fonseca: “De certa forma se pode argumentar, do ponto de vista metodológico, que a polaridade absoluta seja entre bullionists e anti-bullionists ingleses seja entre metalistas e papelistas brasileiros constitui mais um recurso analítico, posto que não é difícil detectar, ao se mapear as nuanças do debate na pesquisa empírica, defensores tanto de posições intermediárias como participantes mais radicais e mais moderados dentro de cada corrente. É indubitável que sob a denominação de anti-bullionists incluem-se tanto defensores extremados da moeda fiduciária, ou a moeda-papel sem qualquer lastro metálico, até os que admitiam uma ancoragem em títulos públicos. De qualquer forma, todos parecem convergir no entendimento da moeda apenas como signo, sem valor intrínseco algum, até moderados como o banqueiro Thornthon, que mesmo defendendo a liberdade de emissão sem conversibilidade para atender as necessidades do mercado e, com isto, evitar ou minimizar os efeitos das flutuações exageradas e das crises de liquidez (o que se denominou “princípio bancário”), apontava para as precauções que a autoridade monetária deveria ter para evitar o inflacionismo.” (2008, p.5)
  • 8
    Józef Klemens Piłsudski era o chefe de Estado da polônia entre 1926 a 1935.
  • 9
    Em 1922, Keynes escreveu “Uma experiência extraordinária de socialismo está em curso de desenvolvimento [na Rússia Soviética]” (Keynes, 2013e, p.408). Em 1945, ele reconheceu que a Rússia foi bem-sucedida na superação da fome e na sua reconstrução em curto espaço de tempo. (Keynes, 2013f, pp.275-276)
  • 10
    Esse artigo foi publicado originalmente no The Nation and Athenaeum, em 22 de janeiro de 1927 e republicado em Keynes, 2013d, pp.315-320. O artigo é um comentário sobre livro de Hebert G. Wells cujo título era The World of William Clissold.
  • 11
    Esse artigo foi publicado em inglês sob o título Is There Enough Gold? The League of Nations Enquiry em 19 de janeiro de 1929 no The Nation and Athenaeum e republicado em Keynes, 2013h, pp.775-780. Nesse artigo, Keynes indicou que se a maioria dos países optasse pelo padrão-ouro não haveria ouro suficiente no mundo, mas além disso constatou que não haveria necessidade de o dinheiro em circulação ser conversível. Keynes disse ainda que a escassez de ouro poderia levar a uma contração de crédito.
  • 12
    Esse artigo foi publicado originalmente no The New Statesman and Nation, em 28 de setembro de 1935, sob o título “Economic Sanctions” (ver Keynes, 2013g, pp.370-372). O artigo era sobre a ameaça da agressão italiana a Abissínia e Keynes discutiu as sanções econômicas à Itália.
  • 13
    Lord Woolton foi Ministro da Alimentação e Ministro da Reconstrução da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra.
  • 14
    “Em 1937 Gudin participou da constituição da Sociedade Brasileira de Economia Política, que reunia uma série de estudiosos interessados na criação de uma escola de economia no Rio de Janeiro. No ano seguinte seria fundada, em dezembro, a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, primeiro estabelecimento de ensino da matéria na então capital da República.” (Keller, 2021)
  • 15
    O volume 25 dos Collected Writings of John Maynard Keynes é dedicado às origens do que se tornou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, assim como traça as origens das ideias da criação de uma International Clearing Union e do bancor.
  • 16
    Inúmeras questões concernentes às finanças entre os Aliados eram discutidas durante a Primeira Guerra Mundial. Keynes chegou em Nova Iorque em 12 de setembro de 1917. (Ver Moggridge, 1992, p.276)
  • 17
    No dia seguinte o jornal corrigiu o seu erro (ver Correio da Manhã, 1920, 12 de junho, p.2).
  • 18
    Os representes dos Aliados com poder decisório nas negociações de reparações eram Woodrow Wilson, dos Estados Unidos, David Lloyd George da Grã-Bretanha, Vittorio Emanuele Orlando, da Itália, e Georges Clemenceau, da França.
  • 19
    Era advogado, político e foi nomeado delegado à Conferência de Paz e representante do País na Liga da Nações durante as discussões sobre as reparações (em 1919-1920). (Pechman, 2021)
  • 20
    Em 2 de dezembro de 1920, Keynes opinou sobre o livro de Baruch no Manchester Guardian e fez um ácido e polido comentário: “O Sr. Baruch se consola com o fato de que as partes do tratado, que ele odeia não menos do que eu, são vazias porque são impossíveis e inofensivas porque nunca poderão se efetivar. Mas feriram, no entanto, a fé pública da Europa” (Keynes, 2013a, 98) já que “O livro do Sr. Baruch pretende ser uma explicação de como e porque a delegação americana, sem ser tola nem desonrosa, veio a aceitar um tratado que era tolo e desastroso” (Keynes, 2013a, 91).
  • 21
    René Viviani, que tinha sido primeiro ministro do seu país, havia também visitado os Estados Unidos e lá disse que “… não encontrei nas esferas norte-americanas nenhuma oposição ao ponto de vista francês: apenas vi alguns espíritos imbuídos das doutrinas falsas do livro de Keynes" (Jornal do Brasil, 1921, 8 de maio, p.7).

Anexos

Documento 1:
anúncio do início da colaboração de Keynes n’O Jornal (fragmento), de 3 de fevereiro de 1927, página 4

Documento 2:
a primeiro coluna de Keynes n’O Jornal (fragmento), de 4 fevereiro de 1927, página 1

Documento 3:
a segunda e última coluna de Keynes n’O Jornal (fragmento), de 21 de fevereiro de 1929, página 1

Documento 4:
artigo de Keynes publicado na Folha da Manhã (fragmento), em 1º de março de 1936, página 6

Documento 5:
chamada de série de matérias explicativas das propostas de Keynes para reorganização do sistema monetário internacional na Folha da Manhã, de 20 de julho de 1943, página 8

Documento 6:
anuncio do falecimento de Keynes na Folha da Noite, de 22 de abril de 1943, página 1

Documento 7:
a primeira vez que o nome de Keynes apareceu em um jornal brasileiro, A Gazeta, de 13 de setembro de 1917, página 6

Documento 8:
Homenagem solene à memória de Keynes realizada na Faculdade de Ciências Econômicas, O Globo, 3 de maio de 1946, página 4

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 2021
  • Aceito
    13 Dez 2021
Nova Economia FACE-UFMG, Av. Antônio Carlos, 6627, Belo Horizonte, MG, 31270-901, Tel.: +55 31 3409 7070, Fax: +55 31 3409 7062 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: ne@face.ufmg.br