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A Publicação Contínua e os modos de leitura dos periódicos científicos

Hoje há um número crescente de periódicos que publicam exclusivamente on-line e muitos afirmam que a publicação impressa de revistas científicas deve desaparecer no futuro próximo. Há também um consenso generalizado no meio das publicações científicas acerca de como os periódicos científicos são lidos hoje em dia, avaliando que os leitores acessam cada vez mais os artigos que lhes interessam de forma direta, em vez de navegarem pelos conteúdos (SciELO, 2019SciELO. Guia para Publicação Contínua de artigos em periódicos indexados no SciELO [on-line]. SciELO, 2019. Disponível em: <https://wp.scielo.org/wp-content/uploads/guia_pc.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2024.
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).

Trata-se, sem dúvida, de um cenário que vem mudando rapidamente e que abre importantes possibilidades para a pesquisa e a divulgação científica. A Nova Economia permanece em sintonia com essas mudanças e tendências, empenhada em cumprir sua missão editorial e em amplificar sua relevância entre as publicações da área. Há, todavia, um conjunto amplo de questões que devem ser pensadas toda vez que se discute o futuro das publicações científicas e que são escolhidas as mudanças a serem perseguidas. Como historiador das ideias econômicas, em diferentes oportunidades trabalhei com velhas coleções de periódicos (em volumes impressos), preservadas em bibliotecas mundo afora. Às vezes, a busca era por um artigo específico do qual eu já tinha notícia prévia de que havia sido publicado em um determinado número de certa revista, mas em outras circunstâncias o que interessava era captar um debate específico, o aparecimento de uma nova abordagem, o estado da arte de certas discussões no passado, ou mesmo inflexões nas opções editoriais de uma determinada publicação. Felizmente, o acesso hoje é mais fácil e, não só há cada vez mais coleções inteiramente digitais disponíveis on-line, mas também cada vez mais conteúdo digitalizado de materiais que foram outrora publicados exclusivamente na forma impressa. Não obstante, a forma que essas digitalizações muitas vezes são feitas, e segundo a qual os bancos de dados são organizados, acaba por responder a critérios atuais de consulta, revelando certo descuido no modo como os periódicos eram pesquisados e lidos em outros momentos. Isso é um exemplo do quanto concepções estreitas acerca de o que são e para que servem os periódicos podem cercear os usos possíveis desse manancial de conhecimento, limitando o alcance das reflexões possíveis a partir dessas coleções. Ou seja, para o primeiro caso de nossa ilustração (o da busca por um artigo específico), o acesso a uma reprodução digital do texto catalogado a partir da referência completa seria o suficiente, mas para o segundo caso (de questões que envolvem o próprio periódico como organizador do conhecimento) só a digitalização completa e bem-cuidada de cada número publicado com todos os seus detalhes (incluindo eventuais erros de impressão, aparatos gráficos etc.) seria um substituto viável. Vários projetos de digitalização de coleções antigas de periódicos, não obstante, têm pouca atenção a esses aspectos e eventualmente tornam difícil a recuperação do conteúdo completo de um número, suprimindo, muitas vezes, alguns elementos ou partes da publicação original.

Esta nota, algo pessoal, falando de um aspecto relacionado à pesquisa histórica direcionada às revistas científicas, serve para introduzir aqui um problema de repercussão mais ampla. Mudanças editoriais importantes em um periódico não devem ser orientadas somente pelas percepções presentes (ou previsões apressadas de como será o futuro) acerca das funções dos artigos científicos, de para que servem os periódicos ou de como esses são efetivamente lidos. Parece, assim, aconselhável alguma cautela e um olhar atento também para questões relacionadas ao passado e à preservação da memória (que naturalmente ultrapassa em muito a simples questão do arquivamento).

Mas isso tudo é mesmo para dizer que essas e muitas outras questões estiveram na mesa e foram longamente consideradas e meditadas no processo que, finalmente, suscitou a Nova Economia a adotar, a partir do presente volume (v. 34, 2024), o modelo de Publicação Contínua.

Nesse modelo, para o qual um grande número de revistas vem migrando nos últimos anos, assim que um artigo está pronto para publicação (ou seja, revisto pelos pares, aprovado pela Editoria, e após a revisão de linguagem, editoração e conferência pelos autores) ele é imediatamente publicado on-line já com os detalhes finais de citação, passando assim a ser a versão oficial de arquivamento do texto. Dessa forma, diferentemente do que já acontecia no modelo de publicação avançada de artigos (conhecida como Ahead of Print, ou Online First Publication), não será mais necessário esperar pela inclusão do artigo em um número fechado da revista para que possa ser obtida a citação completa e definitiva do texto. No modelo de Publicação Contínua cada artigo tem uma paginação de referência apenas dentro dele mesmo (e não uma paginação sequencial contida no número ou volume da revista) e, mais importante, passa a contar com um identificador eletrônico único, chamado de elocation-id, que se torna um elemento da referência completa. Em caso de dúvidas, nosso conselho para os autores e leitores é a consulta ao “como citar” disponível em cada artigo na página da revista na Coleção SciELO.

A Publicação Contínua trará também implicações importantes em relação à indexação, que passará a ocorrer no momento da publicação de cada artigo, e não na compilação dos números, tornando todo trabalho publicado na Nova Economia detectável mais cedo, o que é um ganho inequívoco para nossos autores. O esforço é todo no sentido de se reduzir o tempo de publicação dos artigos, mas de forma ampla há também uma contribuição direta para o avanço dos pressupostos da Ciência Aberta, facilitando o acesso aos conteúdos no meio digital.

A Nova Economia continuará, no entanto, com seu padrão editorial e processos de revisão de artigos efetivamente inalterados, e a manter um formato de publicação que, embora contínuo agora, será muito parecido com o que até aqui vinha seguindo em relação à organização dos conteúdos. Continuaremos a contar com três números anuais, abertos e fechados regularmente, que comporão os volumes anuais da revista, juntamente com eventuais números especiais (abertos em paralelo a outros dos números regulares e que poderão receber artigos em simultâneo). O conteúdo digital será disponibilizado tanto no site da revista quanto na Coleção SciELO, que é o repositório oficial da Nova Economia, e que vem exercendo destacada liderança na modernização dos processos editoriais dos periódicos que têm a honra de fazer parte da sua coleção.

O que nos parece fundamental, entretanto, é que essa mudança editorial representa a ampliação das possibilidades da Nova Economia, e não o contrário. Dessa forma, zelaremos para que o conhecimento produzido, organizado e disponibilizado nas páginas de nossa revista desde o seu primeiro número continue acessível e aberto a múltiplas formas de consulta e de leitura ao longo do tempo. Implica dizer que seguiremos mantendo a nossa publicação também no formato impresso, ainda que com algumas adaptações em relação à paginação, para que possamos espelhar efetivamente a forma do artigo, que passa a ser a versão on-line de arquivo no formato Publicação Contínua.

Seguiremos, também, a dedicar toda atenção ao projeto gráfico da revista e ao conjunto de elementos visuais e textuais, para além do conteúdo dos artigos que sempre marcaram nossas edições impressas, com o devido esforço para que todos esses elementos sejam, em breve, também transportados com abrangência para o universo digital. Reeditando nossos compromissos editoriais, com a excelência e a pluralidade, saudamos nossos leitores e leitoras esperando que apreciem os artigos que ao longo dos próximos meses publicaremos aqui para compor este volume 34, agora em Publicação Contínua, da Nova Economia.

Belo Horizonte, janeiro de 2023.

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2024
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