Acessibilidade / Reportar erro

Self-management as a tool to organize counter-hegemony

Autogestão como instrumento para a organização da contra-hegemonia

Abstracts

The basic premise in this article is that human beings cannot exist outside the "community", that is, outside organization, and that organization organized why not organize counter-hegemony from the bottom and start inside the dominant regime itself? The purpose of this essay is to discuss a certain way of organizing that may contribute to the construction or organization of a counter-hegemony against the current regime. The Gramscian argument is here used, that is, the construction of a (counter) hegemony occurs through the organization of consent without resorting to violence or coercion yet through ideological construction with the understanding that it is in the ideology and through ideology that a class may exert its hegemony over the others, that is, it may assure adhesion and consent (GRAMSCI, 1978). The paper attempts to show that organizations with self-managing proposals essentially carry the germ cell of counter-hegemony because they are based on horizontal practices and democratic organizations that have broken the strong hierarchical, asymmetric and clientelistic relationships which prevailed for centuries.

Counter-hegemony; Self-management; Organization


A premissa básica deste artigo é que o ser humano não existe fora da "comunidade", ou seja, não existe fora da organização, e que a organização molda a vida humana na sua forma material e é moldada por esta (DUSSEL, 2002). A questão, portanto, é a seguinte: se somos ou estamos todos organizados de alguma maneira, porque não organizar a contra-hegemonia desde baixo e a partir de dentro do próprio sistema dominante? Discuto, portanto, neste ensaio, sobre a possibilidade de que o modo de organizar, ou de uma determinada forma organizativa, pode contribuir para a construção ou organização da contra-hegemonia ao sistema dominante. O argumento utilizado é gramsciano, ou seja, a construção da (contra)hegemonia se dá a partir da organização do consentimento, sem qualquer recurso à violência ou à coerção, isto é, pela construção ideológica, entendendo-se que é na ideologia e por meio da ideologia que uma classe pode exercer sua hegemonia sobre outras, ou seja, pode assegurar a adesão e o consentimento (GRAMSCI, 1978). O objetivo é mostrar que organizações com propostas autogestionárias já trazem o gérmen da contra-hegemonia, pois são pautadas por relações horizontais e democráticas que têm rompido com as relações hierárquicas, assimétricas e clientelistas que se mantiveram durante séculos.

Contra-hegemonia; Autogestão; Organização


ARTIGOS

Self-management as a tool to organize counter-hegemony

Autogestão como instrumento para a organização da contra-hegemonia

Joysi Moraes

Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professora do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense. Endereço: R. Saddock de Sá, 290/101. Rio de Janeiro/RJ. CEP: 22.411-040. E-mail: joysimoraes@yahoo.com.br

ABSTRACT

The basic premise in this article is that human beings cannot exist outside the "community", that is, outside organization, and that organization organized why not organize counter-hegemony from the bottom and start inside the dominant regime itself? The purpose of this essay is to discuss a certain way of organizing that may contribute to the construction or organization of a counter-hegemony against the current regime. The Gramscian argument is here used, that is, the construction of a (counter) hegemony occurs through the organization of consent without resorting to violence or coercion yet through ideological construction with the understanding that it is in the ideology and through ideology that a class may exert its hegemony over the others, that is, it may assure adhesion and consent (GRAMSCI, 1978). The paper attempts to show that organizations with self-managing proposals essentially carry the germ cell of counter-hegemony because they are based on horizontal practices and democratic organizations that have broken the strong hierarchical, asymmetric and clientelistic relationships which prevailed for centuries.

Keywords: Counter-hegemony. Self-management. Organization.

RESUMO

A premissa básica deste artigo é que o ser humano não existe fora da "comunidade", ou seja, não existe fora da organização, e que a organização molda a vida humana na sua forma material e é moldada por esta (DUSSEL, 2002). A questão, portanto, é a seguinte: se somos ou estamos todos organizados de alguma maneira, porque não organizar a contra-hegemonia desde baixo e a partir de dentro do próprio sistema dominante? Discuto, portanto, neste ensaio, sobre a possibilidade de que o modo de orga­nizar, ou de uma determinada forma organizativa, pode contribuir para a construção ou organização da contra-hegemonia ao sistema dominante. O argumento utilizado é gramsciano, ou seja, a construção da (contra)hegemonia se dá a partir da organização do consentimento, sem qualquer recurso à violência ou à coerção, isto é, pela construção ideológica, entendendo-se que é na ideologia e por meio da ideologia que uma classe pode exercer sua hegemonia sobre outras, ou seja, pode assegurar a adesão e o consentimento (GRAMSCI, 1978). O objetivo é mostrar que organizações com propostas autogestionárias já trazem o gérmen da contra-hegemonia, pois são pautadas por relações horizontais e democráticas que têm rompido com as relações hierárquicas, assimétricas e clientelistas que se mantiveram durante séculos.

Palavras-chave: Contra-hegemonia. Autogestão. Organização.

Texto completo disponivel apenas em PDF.

Full text avaliable only in PDF

Artigo recebido em 03/11/2008. Artigo aprovado, na sua versão final, em 28/10/2010.

  • ARISTÓTELES. Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988.
  • BAKUNIN, Michael Alexandrovich. A sociedade ou fraternidade internacional revolucionária. In: GUÉRIN, Daniel. Bakunin: textos escolhidos. Porto Alegre: L&PM Editores Ltda., 1980. p. 89-98.
  • BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
  • CUBEROS, Jaime. A organização específica parte II. Coletivo Luta Libertária, São Paulo, set., 2001. Disponível em <http://www.lutalibertaria.hpg.ig.com.br/ combate3.htm>. Acesso em: 12 jun. 2010.
  • DEMO, Pedro. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 1996.
  • DI FIORI, V. Paríendo nuevas prácticas. Red de Solidariedades Rebeldes, Buenos Aires, nov., 2003. Disponível em <http://www.solidaridadesrebeldes.kolgados. com.ar/article.php3?id_article=26>. Acesso em 18 jul. 2008.
  • DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
  • FAG (Federação Anarquista Gaúcha). Aspectos básicos da organização política. Boletim Interno da FAG, Porto Alegre, n. 0, dez. 1995. Disponível em <http://www.nodo50.org/ insurgentes/textos/org/19aspbasicos.htm>. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • FARIA, José Henrique. Relações de poder e formas de gestão. Curitiba: Criar Edições, 1985.
  • FELDFEBER, Myrian. La redefinición del espacio público: el caso de las escuelas autogestionadas en Argentina. Educação e Sociedade, v. 24, n. 84, p. 923-943, set., 2003.
  • FLORES, Toty. De la culpa a la autogestión: un recorrido del Movimiento de Trabajadores Desocupados de La Matanza. Buenos Aires: Ediciones Continente, 2005.
  • _______. Cuando com otros somos nosotros: la experiencia asociativa del MTD de La Matanza. Buenos Aires: M.T.D. Editora, 2006.
  • FREEMAN, Jo. The tyranny of structurelessness. The Struggle Site, London, dez., 1970. Disponível em <http://flag.blackened.net/revolt/hist_texts/ structurelessness.html>. Acesso em: 18 jun. 2010.
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia Saberes necessários à prática educativa. 8ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
  • _______. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
  • _______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
  • GENNARI, Emílio. Chiapas: as comunidades zapatistas reescrevem a história. Zapatistas Revolution, México, jan., 2000. Disponível em <http:// www.chiapas.hpg.ig.com.br/emilio_inicio.html>. Acesso em: 19 abr. 2010.
  • GIARRACCA, Norma; WAHREN, Juan. Territórios em disputa: iniciativas productivas y acción política em Mosconi, Argentina. Revista del Observatorio Social de América Latina, Buenos Aires, n. 16, 2005. Disponível em <http:// bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16GiarraccaWahren.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2010.
  • GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1978.
  • _______. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.
  • GRUPO AUTONOMIA. Teses para a formação de uma rede de indivíduos, grupos e organizações autônomas. Kaos, São Paulo, n. 9, 1997. Disponível em <http:// www.geocities.com/autonomiabvr/rede.html>. Acesso em: 18 mai. 2010.
  • GUIJT, I.; SHAH, M. Kaul. The myth of community: gender issues in participatory development. Londres: Intermediate Technology Publications, 1998.
  • EBEDE, Alem Seghed. Grassroots environmental organizations in the United States: a gramscian analysis. Sociological Inquiry, Portland/Oregon, n.75, v. 1, p. 81-108, 2005. Disponível em <http://sgboehm.googlepages.com/kebede.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2010.
  • LINERA, Alvaro García. La estructura de los movimientos sociales en Bolívia. Revista del Observatorio Social de América Latina, Buenos Aires, n. 5, 2001. Disponível em <http://168.96.200.17/ar/libros/osal/osal5/debates.pdf>. Acesso em: 13 set. 2010.
  • LUXEMBURGO, Rosa. Questões de organização da social-democracia russa. In:LÊNIN, V.I.; LUXEMBURGO, Rosa. Partido de massas ou partido de vanguarda: polêmica Rosa/Lênin. São Paulo: Nova Stella Editorial, 1985. p. 42-45.
  • MALATESTA, Errico. Anarquia e organização. Marxists.org, London, set., 1927. Disponível em <http://www.marxists.org/portugues/malatesta/1927/misc/anarquiaorganizacao.htm>. Acesso em: 15 fev. 2010.
  • MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.
  • MAZZEO, Miguel.  Qué [no] hacer. Buenos Aires: Antropofagia, 2005.
  • MÉNDEZ, Nelson; VALLOTA, Alfredo. Utopia coletiva y autonomia individual: la perspectiva anarquista de la autogestión. Indymidia.org, México, out., 2005. Disponível em <www.fsa.contrapoder.org.ve/documentos/autogestion.doc>. Acesso: 24 jun. 2010.
  • MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
  • MHAKNO, Nestor; METT, Ida; ARCHINOV, Piotr; VALEVSKY, Linsky. Plataforma organizacional dos comunistas libertários. Zabalaza.net, África do Sul, out.,1926. Disponível em http://www.zabalaza.net/pdfs/varpams/plataforma.pdf Acesso em: 10 jul. 2010.
  • MILANI, Carlos. O princípio da participação social na gestão de políticas públicas locais: uma análise de experiências latino-americanas e européias. Revista de Administração Pública (RAP), n. 3, v. 42, p. 551-79, 2008.
  • MISOCZKY, Maria Ceci Araújo; OLIVEIRA, Romualdo Paz de; PASSOS, Rafael Pavan dos. Reflexões sobre a autogestão a partir da experiência da Cidade das Cidades. In: Organizações & Sociedade, edição especial, v. 11, p. 183-196, 2004.
  • o &s - Salvador, v.17 - n.55, p. 585-604 - Outubro/Dezembro - 2010 www.revistaoes.ufba.br
  • _______; AMANTINO-DE-ANDRADE, Jackeline. Uma crítica à crítica domesticada nos estudos organizacionais. Revista de Administração Contemporânea - RAC, v. 9, n. 1, p. 215-233, 2005.
  • _______; FLORES, Rafael Kruter; BÖHM, Steffen. A práxis da resistência e a hegemonia da organização. Organizações & Sociedade, v. 15, n. 45, p. 181-194, 2008.
  • _______; MORAES, Joysi; FLORES, Rafael Kruter. Bloch, Gramsci e Paulo Freire: referências fundamentais para os atos da denúncia e do anúncio. Cadernos EBAPE (FGV), v. 7, p. 448-471, 2009.
  • MOTTA, Fernando Carlos Prestes. Burocracia e autogestão: a proposta de Proudhon. São Paulo: Brasiliense, 1981.
  • _______. Teoria das organizações: evolução e crítica. São Paulo: Pioneira, 1986.
  • NEGT, Oskar. Dialética e história: crise e renovação do marxismo. Porto Alegre: Editora Movimento, 1984.
  • PLATÃO. A república. São Paulo: Martin Claret, 2004.
  • RAMÍREZ, César Enrique Pineda. 5 sonhos do zapatismo, 5 sonhos para resistência. Midiaindependente.org, São Paulo, jul., 2005. Disponível em <http:// www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/03/310432.shtml>. Acesso em: 28 fev. 2010.
  • RAUBER, Isabel. Construcción de poder desde abajo: conceptos claves. Rebelión, Buenos Aires, dez., 2003. Disponível em <www.rebelion.org/docs/4524.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010.
  • _______. Sujetos políticos: rumbos estratégicos y tareas actuales de los movimientos sociales y políticos en América Latina. Colômbia: Ediciones desde abajo, 2005.
  • _______. Bolivia: una opción civilizatoria con rostro indígena. Código Rauber, Buenos Aires, ago., 2010. Disponível em <http://isabelrauber.blogspot.com/ 2010/08/bolivia-una-opcion-civilizatoria-con.html>. Acesso em: 13 set. 2010.
  • SANTILLÁN, Diego Abad de. Organismo da revolução: a autogestão na revolução espanhola. São Paulo: Brasiliense, 1980.
  • SITRIN, Marina. Horizontalidad: voces de poder popular en Argentina. Buenos Aires: Chilavert, 2005.
  • TRAGTENBERG. Maurício. Burocracia e ideologia. São Paulo: Editora Ática, 1980.
  • _______. Reflexões sobre o socialismo. São Paulo: Editora Moderna LTDA., 1986.
  • _______. Uma prática de participação: as coletivizações na Espanha (1936/ 1939). In: VENOSA, Roberto. Participação e participações: ensaios sobre autogestão. São Paulo: Babel Cultural, 1987. p. 21-60.
  • _______. Sobre educação, política e sindicalismo. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
  • TRIGONA, Marie. FASINPAT: a factory that belongs to the people. ZCommunicatios.org, Buenos Aires, abr., 2009. Disponível em <http:// www.zcommunications.org/fasinpat-a-factory-that-belongs-to-the-people-bymarie-trigona>. Acesso em: 18 set. 2010.
  • WALTER, Nicolas. Do anarquismo. Ateus.net, Rio de Janeiro, s/d. Disponível em <http://www.ateus.net/ebooks/> S/d. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.
  • _______. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2004.
  • WILDE, Oscar. The soul of man under socialism. 1998. The anarchist library, London, out., 1998. Disponível em http:// flag.blackened.net/revolt/hist_texts/wilde_soul.html>. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • WOOD, Ellen Meiksins. Democracia contra o capitalismo: a renovação do materialismo histórico. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    04 Sept 2014
  • Date of issue
    Dec 2010

History

  • Received
    03 Nov 2008
  • Accepted
    28 Oct 2010
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br