Acessibilidade / Reportar erro

O policiamento e a democracia

Resumos

A criminalidade e a violência alimentam o debate público e justificam a adoção de medidas na área do policiamento: policiamento comunitário; policiamento orientado para resolução de problemas; prevenção situacional; e tecnologias. Por outro lado, o policiamento tornou-se plural - as tecnologias e a multiplicidade de agentes institucionais que estão envolvidas na prestação de serviços de segurança. A fragmentação, a diversificação e a dispersão do policiamento impõem a interrogação sobre a prestação de contas das agências que se encarregam desse serviço. Como torná-las responsáveis e perante a quem elas serão responsáveis são questões importantes para a governança democrática.


Criminality and violence feed the public debate and justify the adoption of measures in the area of policing: community policing; problem-solving policing; situational prevention; and technologies. On the other side, policing has become a plural subject - the technologies and the multiplicity of institutional agents that are involved in the delivery of security services. The diversification, fragmentation and dispersion of policing bring about questions regarding the accountability from the part of the agencies in charge of this service. How to make them responsible and to whom they are accountable are important questions for democratic governance.


ARTIGOS ARTICLES

O policiamento e a democracia

Antonio Santos OliveiraI

IProf. FFCH/UFBA

RESUMO

Acriminalidade e a violência alimentam o debate público e justificam a adoção de medidas na área do policiamento: policiamento comunitário; policiamento orientado para resolução de problemas; prevenção situacional; e tecnologias. Por outro lado, o policiamento tornou-se plural - as tecnologias e a multiplicidade de agentes institucionais que estão envolvidas na prestação de serviços de segurança. A fragmentação, a diversificação e a dispersão do policiamento impõem a interrogação sobre a prestação de contas das agências que se encarregam desse serviço. Como torná-las responsáveis e perante a quem elas serão responsáveis são questões importantes para a governança democrática.

ABSTRACT

Criminality and violence feed the public debate and justify the adoption of measures in the area of policing: community policing; problem-solving policing; situational prevention; and technologies. On the other side, policing has become a plural subject - the technologies and the multiplicity of institutional agents that are involved in the delivery of security services. The diversification, fragmentation and dispersion of policing bring about questions regarding the accountability from the part of the agencies in charge of this service. How to make them responsible and to whom they are accountable are important questions for democratic governance.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

REFERÊNCIAS

BAYLEY, David. Comparative organization the police in english-speaking countries. In: TONRY, M. and MORRIS, N.(ed.). Modern policing. Chicago and London: The University of Chicago Press, p.509-545, 1992.

BRODEUR, Jean-Paul(ed.). How recognize good policing - problems and issues. California: Sage Publications,1998a.

_____________________. L'évaluation des programmes d'intervention sécuritaire. In: FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998b, p.13-21.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros. São Paulo: Edusp, 2000.

CAMPOS, Edmundo. Sobre sociólogos, pobreza e crime. Dados - Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 23(3):377-383,1980.

CLARKE, Ronald V. "Situacional" crime prevention: theory and practice. British Journal of Criminologie, 20(2): 136-147, 1980.

_________________ . Les technologies de la prevention situationnelle. Les Cahiers de la Sécurité Intérieure, 21:101-113, 1995.

COHEN, Lawrence and FELSON, Marcus. Social. Change and crime rate trends: a routine activity approach. American Sociological Review, 44:588-608, 1979.

CRAWFORD, Adam. Culture managériale de l'évaluation et responsabilités - quelques leçons de l'experience britannique des programmes locaux de sécurité. In: FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998, p.51-82

CUSSON, Maurice. La criminologie actuelle. Paris: PUF, 1998.

DU GAY, Paul. Making up managers: bureaucracy, entreprise and the liberal art of separation. British Journal of Sociology, 45(4):655-674, 1994.

EWALD, François. L'etat providence. Paris: Bernard Grasset, 1986.

FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998.

FOLHA DE SÃO PAULO, 11/02/2004, p. C.1

FROMENT, Jean-Charles. La surveillance électronique à domicile: une nouvelle économie du pouvoir de punir? Les Cahiers de la Sécurité Intérieure, 34:149165, 1999.

GARLAND, David. The limits of the sovereign state. British Journal of Criminologie, 36(4):445-471, 1996.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991.

GILL, Peter. Policing and regulation: what is the difference? Social & Legal Studies, 11(4):523-546, 2002. Human Rights Watch. Brutalidade policial urbana no Brasil. Nova York, 1997. ISTO É 09/04/1997 ISTO É 23/11/1998 ISTO É 07/07/1999 ISTO É 03/09/1999

JOHNSTON, Les. The rebirth of private policing. London:Routledge, 1992. ______________. Late modernity, governance, and policing. In: BRODEUR, Jean-Paul(ed.). How recognize good policing - problems and issues. California: Sage Publications, p. 193-214, 1998.

JONES, Trevor and NEWBURN, Tim. The transformation of policing? British Journal of Criminologie, 42:129-146, 2002. LAGRANGE, Hughes. La civilité à l'epreuve - crime et sentiment d'insécurité. Paris: PUF, 1995.

MINAYO, Maria Cecília de S. A violência sob a perspectiva da saúde pública. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 1(10):7-18, sup.1, 1994 MONET, Jean-Claude. Polices et sociétés en Europe. Paris: La Documentation Française, 1993.

MONJARDET, Dominique. Ce que fait la police - la sociologie de la force publique. Paris: La Découverte, 1996. PAIXÃO, Antônio Luís. A violência urbana e a sociologia: sobre crenças e fatos e mitos e teorias e políticas e linguagens e... Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, ISER, 15(1):68-81, 1990.

___________________. Segurança privada, direitos humanos e democracia. Novos Estudos Cebrap, 31: 131-141, 1991.

PROJETO POLÍCIA CIDADÃ, Polícia Militar da Bahia, 1998. PINHEIRO, Paulo Sérgio. Violência, crime e sistemas policiais em países de novas democracias. Tempo Social. São Paulo, USP, 9(1):43-52, 1997.

REINER, Robert. The politics of the police. Sussex: Wheashesf Books, 1985. ROCHÉ, Sebastian. Le sentiment d'insécurité. Paris: PUF, 1993. SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984. SHEARING, Clifford. The relation between public and private policing. In: TONRY,

M. and MORRIS, N.(ed.). Modern policing. Chicago and London: The University of Chicago Press, p. 399-434, 1992.

SHEARING, Clifford and STENNING, Philip. Private security: implications for social control. Social Problems, 30(5):493-506, 1983.

______________________________________ . Du panoptique à "Disney World" - permanence et évolution de la discipline. In: BRODEUR, Jean-Paul et MONJARDET, Dominique(dir.). Connaître la police. Paris: IHESI, p.397-415, 2003[1984] .

TITLE, Charles. Control balance - toward a general theory of deviance. Colorado: Westview Press, 1995.

VEJA 01/11/1995

VEJA 07/02/2001

VEJA 22/08/2001

VEJA 01/05/2002

WILSON, James Q. and KELLING, George L. Les vitres cassées. In: BRODEUR, Jean-Paul et MONJARDET, Dominique(dir.). Connaître la police. Paris: IHESI, p.229-255, 2003[1982] .

ZALUAR, Alba; NORONHA, José C. de; ALBUQUERQUE, Ceres. Pobreza não gera violência. Ciência Hoje, 20(115):62-68, 1995.

ZAUBERMAN, Renée. La peur du crime et la recherche. L'Année Sociologique, 32:415-438,1982.

1Para evitar interpretações errôneas, deve-se frisar que não se pretende estabelecer nenhuma relação, direta ou indireta, próxima ou remota, entre a democracia e a violência/criminalidade, apenas se sublinham fenômenos que ocorreram simultaneamente.

2Sabe-se que sentimento de vulnerabilidade e medo do delito não são a mesma coisa, o segundo é apenas um fator que nutre o primeiro, pois as pessoas sentem-se seguras ou inseguras por razões diversas que nada têm a ver com a transgressão penal; o sentimento de insegurança é dependente da inflação, do estado social precário, das condições ambientais em que se vive e de outros fatores, como sugerem Lagrange,1995; Roché,1993; e Zaubermann,1982. Contudo, acredita-se que o emprego dos termos sentimento de insegurança e medo do crime como intercambiáveis não altera a qualidade da discussão aqui travada.

3A denominação de bairro aqui apresentada não coincide com a da prefeitura, pois segue a adotada pela polícia civil, que parece empregar os nomes de bairros consagrados pelo uso público, assim, por exemplo, o bairro de Brotas refere-se ao setor que é popularmente conhecido por este nome, ficando fora dele as áreas que não são identificadas pelas pessoas como pertencentes àquele bairro, seja porque são áreas mais nobres que se auto-excluem, como o Horto Florestal, seja porque são setores mais pobres e marginalizados que foram excluídos pelos moradores mais antigos, como o Alto do Saldanha, e isto acontece com vários outros bairros; mas, graças a essas distinções, o documento produzido pela polícia criminal permite identificar de modo mais preciso as áreas mais violentas da cidade e, por causa disso, favorece a adoção de políticas preventivas e repressivas mais eficazes.

4A adoção das terminologias rico e pobre, neste artigo, deve-se ao fato de esses termos, não obstante serem coloquiais, estarem consagrados por esses cientistas sociais brasileiros, o que pode ser constatado nos textos citados.

5O ministro da Justiça do atual governo esteve no exterior para conhecer melhor o uso dos braceletes eletrônicos, segundo foi noticiado pela imprensa; mas nada foi dito sobre a responsabilidade pelo gerenciamento desse mecanismo, caso ele venha a ser adotado no país.

6Em 2002 e 2003, os policiais militares de São Paulo assassinaram 541 e 756 pessoas, respectivamente (Folha de São Paulo, 11/02/04, p.C1). Quanto às denúncias de tortura policial, não há registros oficiais que permitam coletar dados em forma de números, como nos casos dos homicídios; há, sim, relatos de torturas apresentados por organizações não governamentais, como a Human Rigths Watch (ver Brutalidade policial urbana no Brasil, Nova York, 1997), e através da grande imprensa: Isto É, 09/04/1997; 23/12/1998; 07/07/1999; 03/09/1999; Veja, 01/11/1995 (nesse número da revista, o tema foi a capa e foi apresentado como modelo brasileiro de investigação policial); 07/02/ 2001; 22/08/2001; 01/05/2002.

  • BAYLEY, David. Comparative organization the police in english-speaking countries. In: TONRY, M. and MORRIS, N.(ed.). Modern policing. Chicago and London: The University of Chicago Press, p.509-545, 1992.
  • BRODEUR, Jean-Paul(ed.). How recognize good policing - problems and issues. California: Sage Publications,1998a.
  • _____________________. L'évaluation des programmes d'intervention sécuritaire. In: FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998b, p.13-21.
  • CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros. São Paulo: Edusp, 2000.
  • CAMPOS, Edmundo. Sobre sociólogos, pobreza e crime. Dados - Revista de Ciências Sociais Rio de Janeiro, 23(3):377-383,1980.
  • CLARKE, Ronald V. "Situacional" crime prevention: theory and practice. British Journal of Criminologie, 20(2): 136-147, 1980.
  • _________________ . Les technologies de la prevention situationnelle. Les Cahiers de la Sécurité Intérieure, 21:101-113, 1995.
  • COHEN, Lawrence and FELSON, Marcus. Social. Change and crime rate trends: a routine activity approach. American Sociological Review, 44:588-608, 1979.
  • CRAWFORD, Adam. Culture managériale de l'évaluation et responsabilités - quelques leçons de l'experience britannique des programmes locaux de sécurité. In: FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998, p.51-82
  • CUSSON, Maurice. La criminologie actuelle Paris: PUF, 1998.
  • DU GAY, Paul. Making up managers: bureaucracy, entreprise and the liberal art of separation. British Journal of Sociology, 45(4):655-674, 1994.
  • EWALD, François. L'etat providence Paris: Bernard Grasset, 1986.
  • FERRET, Jêrome et OCQUETEAU, Frédéric(dir.) Evaluer la police de proximité? Paris: La Documentation Française, 1998.
  • FOLHA DE SÃO PAULO, 11/02/2004, p. C.1
  • FROMENT, Jean-Charles. La surveillance électronique à domicile: une nouvelle économie du pouvoir de punir? Les Cahiers de la Sécurité Intérieure, 34:149165, 1999.
  • GARLAND, David. The limits of the sovereign state. British Journal of Criminologie, 36(4):445-471, 1996.
  • GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade São Paulo: Editora Unesp, 1991.
  • GILL, Peter. Policing and regulation: what is the difference? Social & Legal Studies, 11(4):523-546, 2002.
  • Human Rights Watch. Brutalidade policial urbana no Brasil Nova York, 1997.
  • ISTO É 09/04/1997 ISTO É 23/11/1998 ISTO É 07/07/1999 ISTO É 03/09/1999
  • JOHNSTON, Les. The rebirth of private policing London:Routledge, 1992.
  • ______________. Late modernity, governance, and policing. In: BRODEUR, Jean-Paul(ed.). How recognize good policing - problems and issues California: Sage Publications, p. 193-214, 1998.
  • JONES, Trevor and NEWBURN, Tim. The transformation of policing? British Journal of Criminologie, 42:129-146, 2002.
  • LAGRANGE, Hughes. La civilité à l'epreuve - crime et sentiment d'insécurité. Paris: PUF, 1995
  • MINAYO, Maria Cecília de S. A violência sob a perspectiva da saúde pública. Caderno de Saúde Pública Rio de Janeiro, 1(10):7-18, sup.1, 1994 MONET,
  • Jean-Claude. Polices et sociétés en Europe Paris: La Documentation Française, 1993.
  • MONJARDET, Dominique. Ce que fait la police - la sociologie de la force publique. Paris: La Découverte, 1996.
  • PAIXÃO, Antônio Luís. A violência urbana e a sociologia: sobre crenças e fatos e mitos e teorias e políticas e linguagens e... Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, ISER, 15(1):68-81, 1990.
  • ___________________. Segurança privada, direitos humanos e democracia. Novos Estudos Cebrap, 31: 131-141, 1991.
  • PROJETO POLÍCIA CIDADÃ, Polícia Militar da Bahia, 1998.
  • PINHEIRO, Paulo Sérgio. Violência, crime e sistemas policiais em países de novas democracias. Tempo Social São Paulo, USP, 9(1):43-52, 1997.
  • REINER, Robert. The politics of the police Sussex: Wheashesf Books, 1985.
  • ROCHÉ, Sebastian. Le sentiment d'insécurité Paris: PUF, 1993.
  • SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
  • SHEARING, Clifford and STENNING, Philip. Private security: implications for social control. Social Problems, 30(5):493-506, 1983.
  • ______________________________________ . Du panoptique à "Disney World" - permanence et évolution de la discipline. In: BRODEUR, Jean-Paul et MONJARDET, Dominique(dir.). Connaître la police Paris: IHESI, p.397-415, 2003[1984]
  • TITLE, Charles. Control balance - toward a general theory of deviance. Colorado: Westview Press, 1995.
  • VEJA 01/11/1995
  • VEJA 07/02/2001
  • VEJA 22/08/2001
  • VEJA 01/05/2002
  • WILSON, James Q. and KELLING, George L. Les vitres cassées. In: BRODEUR, Jean-Paul et MONJARDET, Dominique(dir.). Connaître la police Paris: IHESI, p.229-255, 2003[1982]
  • ZALUAR, Alba; NORONHA, José C. de; ALBUQUERQUE, Ceres. Pobreza não gera violência. Ciência Hoje, 20(115):62-68, 1995.
  • ZAUBERMAN, Renée. La peur du crime et la recherche. L'Année Sociologique, 32:415-438,1982.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Out 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2005
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br