Resumo
O presente artigo foi motivado por uma lacuna no campo das publicações baseadas na abordagem da Grounded Theory (GT), uma vez que pouco se avançou nas discussões referentes à aplicação da Análise Situacional (AS), proposta por Adele Clarke (2003, 2005) e Adele Clarke e outros (2018) nos estudos de gestão. Assim, neste artigo conceitual, buscamos situar a AS tanto nos aspectos ontológicos quanto epistemológicos, comentar suas formas de operacionalização e, por fim, apontar questões da AS que parecem relevantes para estudos de gestão. Nossa discussão jogou luz sobre aspectos relevantes da AS, os quais a colocam em uma posição que avança no sentido de priorizar métodos de pesquisa que contribuam para gerar políticas sociais mais justas e equitativas em diversos campos, além de atender demandas cotidianas da área de gestão. Como conclusão, a AS parece ter trazido novos direcionamentos para a GT depois da virada interpretativa, a saber: abordagens da cartografia, consideração de atores humanos e não-humanos e compromissos sociais, além de ter reunido estudos de discurso e agência, de ação e estrutura, de imagem, de texto e contexto, de história e do momento presente para analisar situações complexas de investigação.
grounded theory; análise situacional; grounded theory situacional; método qualitativo; gestão
Abstract
This paper aims at closing a gap in literature referring to academic publications that approach grounded theory, considering that little advance has been noticed in discussions that encompass the application of situational analysis (SA) proposed by Clarke (2003, 2005) and Clarke, Friese and Washburn (2018) in management studies. Thus, this conceptual paper seeks to address situational analysis considering its ontological and epistemological aspects, to investigate its operationalization forms, and, finally, to indicate relevant situational analysis issues for management studies. Our discussion sheds light on relevant situational analysis aspects, which helps prioritizing research methods that may contribute to create fairer and more effective social policies in several fields and meeting daily demands of the management field. As a conclusion, situational analysis seems to bring new guidance to grounded theory after the interpretive turn: cartographic method, consideration of human and non-human actors, and social commitments; in addition, situational analysis gathers discourse and agency studies, action and structure, image, text and context, history, and the present moment to analyze complex investigations.
grounded theory; situational analysis; situational grounded theory; qualitative method; management
Introdução
Nascida em 1967 pelas mãos dos sociólogos Barney Glaser e Anselm Strauss, a Grounded Theory (GT) tornou-se o primeiro manifesto do chamado renascimento da pesquisa qualitativa. Motivados pela teorização indutiva, esses autores sugeriram uma metodologia para construir concepções e modelos teóricos assentados em dados empíricos ( Denzin & Lincoln, 2006 ).
Levantamentos históricos permitem reconhecer que a evolução da GT pode ser subdividida em três gerações. A primeira, cujos maiores representantes são seus fundadores, Barney Glaser, Anselm Strauss e alguns de seus seguidores, defende a ideia de conduzir a GT através da coleta de dados por meio de entrevistas aprofundadas, observações etnográficas e diários de campo. Após os dados serem coletados, é feita uma análise por meio de um processo composto por etapas sucessivas de codificação, o que confere uma perspectiva positivista à abordagem.
A segunda geração da metodologia GT está atrelada às epistemologias construtivistas. Charmaz (2009) , uma das principais autoras dessa geração, entende que os fundamentos construtivistas da GT residem no uso de suas ferramentas para compreender mundos empíricos através de abordagens mais abertas, utilizando-se estratégias mais flexíveis e heurísticas. Sua base construtivista “... estabelece a prioridade nos fenômenos do estudo e vê tanto os dados como a análise como tendo sido gerados a partir de experiências compartilhadas...” ( Charmaz, 2009 , p. 178). A terceira geração, por sua vez, pode ser representada pela metodologia denominada Análise Situacional (AS) ou Grounded Theory Situacional.
A Análise Situacional (AS) foi proposta por Adele Clarke em 2003 , com o intuito de melhorar a compreensão sobre uma dada situação ao analisar as relações e ecologias envolvidas. Esse método recebeu novas contribuições da autora em 2005, e dos autores Clarke, Friese e Washburn em 2018 - essa última, através de seu livro “ Situational Analysis: Grounded Theory after the interpretative turn ”. De maneira geral, a AS possui raiz filosófica inspirada no pragmatismo, na sociologia da Escola de Chicago (que considera a teoria da agência, a linguagem e a epistemologia interpretativa) e no Interacionismo Simbólico. Ela também enfatiza a estrutura de mundos e arenas sociais de Strauss, além de ser considerada uma evolução da segunda geração da metodologia Grounded Theory , proposta por Glaser and Strauss (1967) .
A maior inovação trazida pela AS reside no fato de ela trabalhar com uma situação completa de investigação fundamentada em novas abordagens analíticas para “fazer justiça metodológica a insights particulares da teoria pós-estruturalista, especialmente do que tange a aspectos de autores como Foucault, Deleuze e Guattari” ( Clarke et al., 2018 , p. 55), que inspiraram parte do método. Assim, o foco analítico precisa ir além do sujeito portador do conhecimento e concentrar-se plenamente na situação da investigação (amplamente concebida), incluindo a vez do discurso ( Clarke, 2003 , 2005 ; Keller, 2017 ).
Nascido na área biomédica e frequentemente utilizado na área de enfermagem ( Martins & Burbank, 2011 ), o método qualitativo da AS almeja capturar complexidades, ao contrário de simplificar, de forma a clarear processos desiguais de mudanças, estabilidades, separar atores e posições, com o intuito de explicitar as contradições, ambivalências e irrelevâncias, incentivar o pesquisador a elucidar perspectivas marginalizadas e conhecimentos subjugados, os quais são, muitas vezes, considerados ilegítimos.
O foco fundamental da AS está na relação. A “relacionalidade” é analisada ao mapear-se e memorizar-se as ecologias das relações entre os variados elementos da situação (em mapas situacionais), os vários agrupamentos sociais (em mapas de mundos/arenas sociais) e discursos sobre a situação em estudo (em mapas posicionais) ( Clarke et al., 2018 ). Dessa forma, é preciso atentar-se para os objetos em situações de pesquisa, os quais podem ser: objetos culturais, tecnologias, mídias e coisas não humanas, animadas e inanimadas que também compõem as situações estudadas. Alguns desses são produtos da ação humana, o que torna possível estudar a produção de processos; outros, são interpretados como naturais, fato que possibilita o estudo de sua trajetória de construção ( Clarke et al., 2018 ).
Uma pergunta inicial a ser feita ao método reside no motivo pelo qual usa-se a palavra ‘situação’ ao invés de ‘contexto’. O uso da palavra ‘situação’ advém da percepção de que o contexto é aquilo que envolve algo na AS, mas que não faz parte de tal elemento. Assim, Clarke (2003 , 2005 ) traz para a AS o entendimento de “co-constitutiveness”. Optamos por utilizar o termo na língua original da autora, já que sua tradução exata para a língua portuguesa foi difícil de alcançar, conforme Bianchi and Ikeda (2006) afirmaram sobre o problema de traduzir-se determinadas expressões. De maneira geral, Clarke (2003 , 2005 ) entende “co-constitutiveness” como a relação que atores ou entidades possuem uns com os outros, e que produzir a própria “constituição” um do outro, como produto. Na AS, uma situação não é apenas uma unidade espacial ou temporal, ela envolve, geralmente, um arranjo de relações relativamente duradouras entre muitos atores ou entidades diferentes, ao abarcar tipos e categorias de elementos que possuem sua própria ecologia, os quais, frequentemente, incluem vários eventos com diferentes durações temporais, sejam elas curtas ou não ( Clarke, 2003 , 2005 ).
Levando em consideração a existência de um corpo de publicações consistente que adere-se à GT da primeira e segunda gerações ( Pinto & Santos, 2012 ; Uri, 2015 ; Kalenda, 2016 ; Cepellos & Tonelli, 2020) , é possível constatar que pouco avançamos em discussões referentes à AS, algo que torna-se mais claro quando observamos a área de gestão.
Em geral, entre alguns dos trabalhos que usaram esse método em diferentes áreas de conhecimento, podem ser observados, Pérez et al. (2015), que escolheram a teoria fundamentada construtivista como a abordagem metodológica mais adequada para explorar os significados associados e as implicações das modificações genitais femininas, narradas por mulheres que as praticam; Ralph, Birks and Chapman (2015) são autores que exploraram o dinamismo dos fundamentos da teoria fundamentada, como: interação entre as gerações e o contexto delas na formação de perspectivas filosóficas, as quais são congruentes com os métodos essenciais da teoria fundamentada. Timonen, Foley and Conlon (2018) apresentaram os princípios essenciais que sustentam as abordagens da teoria fundamentada; eles podem motivar um maior envolvimento das diferentes variantes da GT. Santana-Cordero et al. (2019) focaram os métodos que são até hoje empregados na ecologia histórica ao trabalharem com materiais qualitativos e gráficos. Além disso, exploraram as ligações entre esses métodos e aqueles geralmente usados na pesquisa qualitativa. Noortje (2020) escreveu que a análise situacional oferece uma forma de abordar-se problemas ao tornar uma situação heterogeneamente composta que envolve elementos sociais, técnicos e de mídia, uma unidade de análise computacional. Ele mostra como a análise situacional pode ser aplicada em estudos de caso ligados à vídeos do YouTube. Turnbull and Carr (2020) investigaram a colaboração em um serviço integrado de terapia antimicrobiana parenteral ambulatorial. Entrevistas e grupos focais foram usados para gerar dados; métodos de teoria fundamentada foram adotados para progredir no estudo por meio de análises comparativas constantes. Um modelo denominado “bússola de colaboração” foi desenvolvido para guiar a interação em situações colaborativas.
Alguns dos artigos no campo da gestão baseados na teoria fundamentada são: Suddaby (2006) , que discute equívocos comuns sobre o que a teoria fundamentada não é - a apresentação de dados brutos, ou aplicação perfeita ou rotineira de técnicas formuladas dos dados, não é ausência de metodologia, não é teste de teoria, conteúdo ou contagem de palavras -; Jones e Noble (2007) fazem três sugestões para aumentar a disciplina em estudos que envolvem a teoria fundamentada; O'Reilly, Paper and Marx (2012) desmistificam os principais princípios da GT, discutem os impactos problemáticos da adoção de uma abordagem à la carte para a GT, chamam a atenção para a GT como método rigoroso para pesquisa de negócios e defendem o aumento do uso da GT por mais pesquisadores sempre que apropriado; Cepellos e Tonelli (2020) apresentam como questões metodológicas não previstas no desenho de pesquisa proposto pelo GT foram superadas durante as fases de coleta e análise de dados.
Existem poucos estudos de gestão que utilizam a análise situacional, entre eles, podemos citar: Saraiva et al. (2011) , que utilizou parcialmente a análise situacional de Adele Clarke. O procedimento de análise situacional da Grounded Theory foi adotado para desenvolver a proposta de trazer à tona um conceito substancial de estratégia, o qual foi utilizado pela companhia de balé Grupo Corpo. Identificamos as práticas e relações construídas entre esses e os sujeitos que efetivamente os incluíam na organização em estudo. Assim, os autores supracitados estabeleceram um esquema relacional que envolve as práticas observadas e os atores individuais e coletivos.
Logo, as discussões descritas acima deram espaço para algumas questões que nos intrigaram: até que ponto a análise situacional poderia ser adequada para estudos de gestão? As novas abordagens incorporadas à GT, apontadas pela análise situacional, podem ser consideradas um avanço para os pesquisadores da área de gestão? Os fenômenos organizacionais dos diferentes campos poderiam ser avaliados sob a ótica da análise situacional?
É justamente nessa lacuna que insere-se a proposta deste artigo, que tem como objetivo apresentar a AS por meio da concepção de Clarke (2003 , 2005 ) e Clarke et al., (2018) . Dito de outra forma, o artigo tem o papel de trazer à tona uma abordagem de pesquisa que continua pouco conhecida por pesquisadores da área de gestão.
A motivação para trazer esse debate aos pesquisadores do campo da gestão assenta-se em algumas justificativas. Em primeiro lugar, os fenômenos organizacionais vêm exigindo que pesquisadores adotem novas abordagens onto-epistemológicas e ferramentas metodológicas que permitam analisar a situação de forma mais ampla e multidisciplinar. Em segundo lugar, vale dar ênfase à proposta da AS que amplia o foco analítico da GT de forma a incluir todos os elementos-chave que caracterizam a situação de investigação amplamente concebida. Uma busca nas bases de dados Web of Science e Scopus encontrou 99 artigos publicados sobre Negócios, Gestão e Contabilidade (2003-2021), os quais fizeram uso da análise situacional de Adele Clarke no todo ou em partes; contudo, apenas um deles publicado no Brasil. Os jornais que publicaram pelo menos 3 artigos que utilizaram essa metodologia são: Security Journal (17), International Journal of Retail and Distribution Management (3) e International Review of Retail Distribution and Consumer Research (3).
Sendo assim, julgamos adequado estruturar este artigo da seguinte maneira: em um primeiro momento, apresentamos a posição paradigmática da AS, a qual foi seguida por um breve debate sobre os principais pressupostos ontológicos. Na sequência, há uma seção que tece comentários acerca da operacionalização do método. Por fim, as considerações finais são elaboradas por meio de perguntas e respostas, com ênfase na indicação de como AS pode ser relevante para estudos de gestão.
Posição paradigmática da Análise Situacional
A visão interpretativa de interação social em oposição ao paradigma normativo, guia a condução metodológica da AS ( Bryant & Charmaz, 2018 ). Dessa forma, pesquisas interpretativas baseiam-se na percepção de que toda investigação humana está, necessariamente, envolvida na compreensão do mundo humano, com base em uma situação específica; tal situação, para a AS, é sempre simultaneamente histórica, moral e política ( Clarke & Keller, 2014) . Uma situação envolve, geralmente, um arranjo de relações relativamente duradouras e inclui eventos únicos ( Clarke et al., 2018) .
Clarke et al. (2018) destacam que a AS faz parte de uma corrente que emerge do ‘interacionismo’ relativo à assinatura do interacionismo crítico ( Clarke, 2019 ). O termo ‘interacionismo crítico’ foi sugerido por Sandstrom and Fine (2003) para descrever a convergência das duas perspectivas. O trabalho de Sandstrom e Fine é fruto da discussão sobre o trabalho de Hall: “ Meta-power, social organization, and the shaping of social action ”, de 1997, no qual que o autor debate o desenvolvimento de uma estrutura de análise interacionista crítica de poder, política e formação de políticas. Tradicionalmente, o interacionismo simbólico e a crítica têm sido entendidos como divergentes.De maneira geral, o interacionismo simbólico é considerado uma perspectiva advinda da Psicologia Social, enquanto a perspectiva crítica enquadra-se, solidamente, na Sociologia. Suas epistemologias são diferentes, assim como o foco adotado ( Denzin & Giardina, 2009 ). O interacionismo simbólico dedica-se a uma análise micro e individual, uma vez que a perspectiva crítica é guiada por uma análise macro e social. Essa diferença é refletida em alguns conceitos e princípios, bem como em seus objetivos e preocupações principais ( Athens, 2014) .
Para Charmaz (2016) , a pesquisa qualitativa de perspectiva crítica é (1) compatível com a filosofia pragmatista, (2) afasta epistemologias positivistas, (3) busca alcançar várias disciplinas para, igualmente, avançar a temática da justiça social e (4) promove o desenvolvimento da consciência social. Reunidos, tais pontos ultrapassam a importância das delimitações teóricas de cada disciplina e trazem o poder e a desigualdade para o centro do discurso, fato que faz com que muitas questões acerca dos dados e do contexto em que esses foram produzidos fluam dos pesquisadores.
Dessa forma, o interacionismo simbólico e a perspectiva crítica, têm semelhanças e diferenças, as quais são necessárias para estudar-se problemas complexos levando-se em consideração características micro e macro ( Martins & Burbank, 2011 ). Eisenhart and Jurow (2011) sugerem um modelo de ciência qualitativa interpretativo e prático; ao aproximar-se do pragmatismo, o interacionismo crítico afasta-se da questão sobre a existência, ou não, de uma realidade “lá fora” para, ao invés disso, procurar um conhecimento útil para a solução de problemas ( Burbank & Martins, 2009) . A epistemologia pragmática do interacionismo crítico concentra-se na resolução de problemas através da compreensão de, e da intervenção em, diferentes níveis, por meio da compreensão de significados carregados de valor, em nível individual e grupal, além de focar-se no estudo de estruturas repressivas em nível organizacional e social ( Clarke, 2019) . Assim, avançamos para a discussão acerca dos principais pressupostos ontológicos da AS.
Os principais pressupostos ontológicos da Análise Situacional
Os principais sustentáculos ontológicos da AS podem ser resumidos em sete pontos ( Clarke et al., 2018 ):
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(a) Reconhecer a singularidade da situação dos produtores de conhecimento e assumir que conhecimentos são simultâneos e múltiplos. Os autores afirmam que o envolvimento crítico em situações particulares é a inserção consciente do próprio indivíduo vulnerável em uma história continuamente construída. A inspiração aqui advém de Foucault; segundo Colapietro (2011) , Foucault incentivava o próprio envolvimento pessoal, físico e real do indivíduo, ao abordar problemas de forma concreta, precisa e definida com base em uma determinada situação. Tal envolvimento exigiria imersão e saturação - não transcendência ou distância.
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(b) Abandonar a matriz condicional de Strauss and Corbin (1990) e adotar uma matriz situacional empírica. A matriz condicional de Strauss and Corbin (1990) retrata condições estruturais como contexto, e adicionam elementos vinculados a uma ação central que parte da esfera local para a global, próxima do centro para distante dele. Posteriormente, Strauss and Corbin (1998) admitem que esses elementos poderiam espiralar o foco central da análise e adicionar certa fluidez ao diagrama; entretanto, o alcance micro e macro da conceituação é mantido. Clarke (2003) não acredita na suficiência das matrizes condicionais para o trabalho analítico, já que elas apresentam os dualismos ação/estrutura, do qual a autora tentou esquivar-se. Portanto, Clarke indicou que pesquisadores deveriam concentrar-se, empiricamente, na situação como um todo; qualquer distinção da situação deveria ser examinada empiricamente e, preferencialmente, a partir da perspectiva dos diferentes atores presentes e dos discursos que a circulam, e não serem avaliadas como categorias ou de acordo com a perspectiva do pesquisador.
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De acordo com a Análise Situacional endereçada por Clarke (2005) , é fundamental perguntar como tais condições aparecem, e fazem-se sentir dentro da situação empírica sob análise. Para Clarke et al. (2018) , a matriz situacional empírica representa o método da AS de maneira abstrata e faz com que os elementos sejam visualizados na ação e se tornem parte da situação. Assim, a dita matriz representa a situação sob investigação como um todo de maneira abstrata. A inspiração advém novamente de Foucault (1975): pessoas e coisas, humanos e não-humanos, campos de prática, discursos, regimes ou formações disciplinares ou similares, símbolos, controvérsias, organizações e instituições, todos podem estar presentes e decorrerem, reciprocamente, uns dos outros. Os atores nas situações tornam-se o que, efetivamente, são, por meio de seu relacionamento com outros atores. As condições da ação na AS estão incorporadas à situação, sendo ela estrutura e ação ao mesmo tempo, fato que exige a reunião de elementos nos níveis micro (interpessoais), meso (sociais/organizacionais/institucional) e macro (padrões históricos amplos, incluindo tecnologia, industrialização e globalização).
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(c) Investigação profunda/ampla da situação de pesquisa. Nesse ponto, Clarke et al. (2018) afirmam que o pesquisador não deve julgar elementos de maneira isolada, mas interpretá-los,em sua conexão com o todo. Não existem elementos isolados na AS, eles são sempre uma parte do todo, um aspecto de algo, já que coisas possuem significado relacionado à situação na qual são encontradas ou em que ocorrem. A sensibilidade do pesquisador é aqui convocada para ajudar na compreensão da situação como um todo. Entretanto, o pesquisador pode perder-se nesse processo, o que demanda a necessidade da construção de conceitos sensibilizantes. Aprofundar-se nessas questões exige levar em consideração o comportamento linguístico e sua função social de coordenar as mais diversas ações. Para descrever uma ação e descobrir seu significado, é preciso introduzir o cenário humano e material em que ela é realizada. Ainda, assumidamente, as perspectivas parciais são suficientes para AS ( Clarke et al., 2018 ).
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(d) Fazer análises situacionais ao longo do processo de pesquisa, incluindo a criação de mapas situacionais, mapas de mundos/arenas sociais e mapas posicionais. A AS tem como objetivo analisar uma situação por meio da especificação, representação, nova representação e averiguação posterior dos elementos mais importantes e de suas relações; isso faz com que a natureza e o grau da organização social se tornem questões empíricas. Os mapas são utilizados para elucidar tais análises por romperem com formatos mais comuns de trabalho e por instigarem um novo olhar sobre as coisas. Mapas funcionam como dispositivos discursivos que revelam assemblages e conexões, eles materializam perguntas, são ferramentas de controle, de apropriação e de expressão ideológica, são objetos de limite, compartilham uma interpretação, lidam bem com a multiplicidade, a heterogeneidade e a desorganização; formam bases de discussões, facilitam a colaboração, funcionam bem como expressão de narrativas espaciais e temporais, permitem mapear e (re)mapear facilmente, e seu conceito visual permite que o analista se mova de forma mais dinâmica do que no texto narrativo. Suas limitações residem no que pode ser visto, são um retrato do momento e do local. Contudo, os autores afirmam que nenhum método supera a situação de produção de criadores e usuários de conhecimento, podendo ser usados apenas para elevar a qualidade da pesquisa ( Clarke et al., 2018 ).
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(e) Incluir discursos narrativos, visuais e históricos encontrados na situação para expandir a compreensão sobre os domínios da vida social. O mapeamento proposto pela AS pode facilitar a análise de materiais discursivos de maneira isolada, comparada ou integrada de diferentes fontes de dados ( Clarke, 2005 ).
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(f)Abandonar a simplificação e a homogeneidade para abranger e apresentar as complexidades, diferenças e heterogeneidades da situação. As estratégias representacionais da AS, influenciadas por Deleuze e Guattari (1983) , exigem que pesquisadores concentrem-se nas diferenças, já que elas formam os limites que produzem o núcleo de pesquisa. A busca concentra-se no afastamento da normatividade para alcançar a ecologia e a cartografia ao serem criados mapeamentos multidimensionais interpretativos, os quais representem as situações vividas e as várias posições de ações e discursos humanos e não humanos dentro delas, incluindo a produção e o consumo de discursos como prática. Assim, torna-se importante destacar que tal modo relacional de representação não se prende à frequência, mas às posições e às suas distribuições por espaços situacionais de forma a não estruturar, mas construir mapas de processos sociais. A diferença torna-se um elemento significativo na AS, pois atua como protetora e promotora de direitos humanos e de justiça social. Levar em consideração as marginalidades é parte do método da AS ( Clarke et al., 2018 ).
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(g) Afirmar a suficiência analítica dos conceitos sensibilizantes e das análises teoricamente integradas. Para Clarke et al. (2018) , não faz sentido escrever uma grande teoria sobre algo que está em constante transformação, isso faz com que a Análise Situacional assuma um aspecto-chave de análise denominado theorizing: teorizar por meio de conceitos sensibilizantes e de análise integrada, ou seja, análises realizadas após a construção de tais conceitos. Os conceitos sensibilizantes na AS são colocados em comparação contínua com os dados. O produto dessa ação forma análises mais modestas e parciais, mas que não deixam de ser sérias, úteis e provocativas. Os pesquisadores precisam ter a compreensão sólida da teoria sobre os tópicos que desejam estudar para que o processo de análise seja exitoso; somente a partir daí serão capazes de determinar novos elementos e análises para o processo de pesquisa.
Conforme Clarke et al. (2018) , as propriedades interpretativas da Análise Situacional incluem como metodologia,
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(a) a noção de perspectiva, por meio da qual a parcialidade e a situação são admitidas. Os autores citados acima utilizam-se do conceito de perspectiva de Mead (1962) , o qual afirma que a noção de perspectiva é uma concepção múltipla e organizada da natureza, em seu sentido biológico; ademais, ele afirma que o uso da palavra ecologia designa um conjunto natural e organizado de múltiplas perspectivas. Entretanto, Mead (1962) apropria-se do uso da perspectiva como função social, construída por meio da linguagem, a qual possibilita o seu próprio compartilhamento para fazer-se entender e partilha para entender. Assim, o indivíduo entra nas perspectivas de outros, na medida em que é capaz de assumir atitudes ou de ocupar um lugar em seus discursos. Dessa forma, a perspectiva é sempre parcial à medida que é ocupada por aquele que a compartilha, ela domina a interpretação da realidade. A criação de significados está assentada em interpretações construtivistas e relacionais e nas múltiplas perspectivas das situações ( Clarke, 2003 ).
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(b) O construtivismo social materialista. Para os autores acima, o construtivismo é social e materialista. Muitas vezes, o construtivismo social é entendido como aquele que se preocupa apenas com o discurso, com a ideologia e com o simbólico. Contudo, o material é construído, interpretado e imbuído de significado, ele faz-se presente e deve ser considerado na análise. Objetos físicos e sociais compartilham a socialidade que os une ( Cefai, 2016 ), eles dão sentido ao humano, ao não humano e ao híbrido ao deixar de lado qualquer presunção epifenomenal ( Clarke, 2005 ).
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(c) Um primeiro nível de interpretação desconstrutiva por meio de códigos abertos com o apoio legitimado de várias leituras ou de interpretações simultâneas. Representar é diferente de analisar na AS, ainda que ambas as ações sejam importantes. A representação do objeto advém da narrativa de alguns indivíduos na GT. A AS, por sua vez, preocupa-se em analisar criticamente os dados para interpretar os processos sociais singulares que aparecem na linguagem. O primeiro passo da interpretação é orientado por codificação aberta; esse é um elemento processual formal que aproxima a GT construtivista da AS ( Clarke, 2005 ). “A codificação aberta indica que os dados estão abertos a múltiplas interpretações e códigos simultâneos. Não há uma leitura correta. Todas as leituras são temporárias, parciais, provisórias e prospectivas - situadas historicamente e geograficamente” ( Clarke et al., 2018 , p. 73), contudo, são influenciadas pela literatura incipientemente construída como teoria sensibilizadora ( Clarke, 2003 ).
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(d) O uso da abdução na teorização de dados. Para os autores supracitados, abdução “é o processo de pesquisa que se aproxima dos materiais empíricos de um estudo e tenta analisá-los e conceituá-los de maneira mais abstrata para fazer um conjunto abrangente de afirmações sobre o fenômeno” ( Clarke et al., 2018 , p. 74). Ainda que sejam utilizadas, a abdução, tida como terceira via, é normalmente contrastada através da indução analítica proposta por Glaser e Strauss (1967) e da dedução lógica. A indução, muitas vezes utilizada como prática única em gerações anteriores da GT, desenvolve-se com base no acúmulo de dados; tem como princípio alcançar e delimitar suas generalizações. Já a abdução avança e recua entre as especificidades dos dados e a formação conceitual que eles permitem elaborar. Com a repetição do processo ao longo do tempo, o pesquisador refina, seleciona, rejeita e conecta conceitos robustos para teorizar substantivamente. O ponto central aqui é a observação de dados que desafiam a ‘conceitualização’ já realizada, fato que reinicia o processo de abdução. Deve-se ir além do conhecido, além dos dados em si; contudo, os autores em questão alertam: “é preciso ter cautela em teorizar além dos dados, já que as ideias analíticas podem ser sedutoras e cegar o pesquisador no que se refere as contradições nos dados” ( Clarke et al., 2018 , p. 77). Por fim, a lógica da abdução é apresentada na Figura 1: A Análise Situacional exige que o pesquisador inicie sua trajetória de pesquisa com alguma base teórica pré-existente (teoria sensibilizadora); tal arcabouço deve ser examinado através das lentes da abdução. Para Clarke et al. (2018) , o caminho da abdução não é somente cognitivo, mas experimental. O pesquisador envolve-se com os dados e teoriza; essa teorização permanece válida enquanto faz sentido, caso contrário, é descartada para dar lugar a uma nova reflexividade ( Reichertz, 2007 ).
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(e) Orientação para a ação, análises processuais e negociações entre atores como antecipação às instabilidades. A AS é guiada por ações, análises processuais e negociações, já que um comportamento processual facilita a representação das instabilidades e contingências. Tal fato facilita o alcance de rupturas, pontos de virada e trajetórias que demonstrem momentos fatídicos e epifanias ( Denzin, 1992 ). Os autores mencionam que algumas conexões com as genealogias foucaultianas que constroem histórias do presente podem ser realizadas ao rastrearmos locais e momentos de mudança discursiva ( Clarke et al., 2018 ).
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(f) Diversidade de elementos como foco de análise, tais como os explicitamente significativos, os subestimados e suas diferenças. A diversidade na AS assume lugar de destaque para permitir a compreensão do panorama da variedade humana através das próprias ações humanas. Fazer com que diferenças sejam mais visíveis e ajudar o silêncio a falar são dois pilares importantes do método em questão ( Clarke, 2005 ).
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(g) O uso de mapas relacionais de mundos/arenas ecológicos. A sociologia ecológica da Escola de Chicago encontra suas bases em conceitos e em metáforas de território, em espaço geográfico, em mapas, em relações entre atores em espaços compartilhados dentre outros. O uso de mapas relacionais representativos destina-se ao estudo de diferentes atores e atividades que ali relacionam-se positivamente, confrontam-se ou fazem parte de cada uma dessas ações. Assim, a análise de mundos/arenas sociais e de outros enquadramentos mais gerais de ecologia e de cartografia, são metáforas essenciais para a AS ( Clarke, 2005 ).
Em síntese, Clarke (2003 , 2005 ) elaborou uma abordagem metodológica que leva em consideração as diferenças, o poder, a contingência e a multiplicidade. A autora almejava uma abordagem mais explicitamente crítica, que não apenas apagasse ou dissipasse as diferenças, mas que procurasse ativá-las ao abordar silêncio nos dados, silêncio de resistência, de proteção, de cooptação e de conluio. Por fim, dada a apresentação dos pontos que sustentam o método, sua operacionalização será apresentada a seguir.
Operacionalizando a Análise Situacional
Método de pesquisa
Os dados podem ser produzidos por diferentes métodos de pesquisa em AS, especialmente a entrevista em profundidade, a observação etnográfica e a análise documental ( Clarke, 2003 ). Entrevistas em profundidade assumem que o entrevistado possui a capacidade de falar sobre o tema a ser pesquisado ( Flick, 2004 ). Inicialmente, recomenda-se realizar perguntas livres, as quais são presumidamente relevantes para o tema em estudo ( Charmaz, 2009 ), por meio de questões que façam uso da teoria sensibilizadora como fonte de tópicos-guia ( Bauer & Gaskell, 2002 ). Ou seja, trata-se de uma revisão teórica inicial fundamental da literatura antes do início da pesquisa. Novas revisões são realizadas ao longo da análise e são incorporadas ao processo de análise de dados, à medida que a revisão inicial demonstra-se incapaz de continuar a fornecer subsídios para suportá-la ( Clarke et al., 2018) .
Além dessa, as vivências pessoais e profissionais do pesquisador também são fontes de sensibilidade aos dados (Strauss & Corbin, 1998). Conforme a evolução da coleta de dados ocorre, outras questões intencionalmente julgadas como oportunas precisam ser inseridas no instrumento de coleta dessas informações (o roteiro semiestruturado) para enriquecer a análise ( Charmaz, 2009) . De maneira geral, todas as entrevistas devem ser gravadas e transcritas (Strauss & Corbin, 1998), conforme recomendações realizadas pelos principais autores do método GT.
A inspiração advinda da observação etnográfica constitui-se como o segundo método de pesquisa recomendado. O trabalho de campo é o elemento mais característico da observação etnográfica, pois pressupõe a interiorização e integração do pesquisador ao grupo pesquisado ( Pinto, 2009 ). A observação participante inclui a participação real no cotidiano social do estudo, fato que faz com que o pesquisador enfrente situações vividas por um ator participante de tal cotidiano. A observação não participante, por sua vez, permite o contato com os atores do grupo pesquisado; entretanto, sem que o pesquisador o integre - isso faz com que o papel de espectador se faça presente. O diário de campo é o principal instrumento de coleta de dados do pesquisador nesse método, seja ele registrado em um manuscrito, em áudio ou vídeo ( Clarke, 2005 ). O pesquisador assume uma postura observacional participativa como parte da observação etnográfica, fato que permite uma análise oriunda da experiência vivida ( Clarke, 2003 ).
Sobre o último método de pesquisa mencionado diretamente, Clarke (2005) recomenda o uso de todo tipo de documento, também chamados materiais discursivos, que possa contribuir para a pesquisa, sejam tais documentos narrativos, visuais ou históricos, a saber: sites, imagens, objetos culturais e materiais, aparelhos tecnológicos, literaturas científicas e/ou outras especializadas, mídias sociais dentre outros. A pesquisa documental constitui-se de materiais que não foram analiticamente tratados ou que permitem a reelaboração de si mesmos de acordo com os objetivos do trabalho ( Beuren, 2006 ).
Corpus de pesquisa e amostra
A formação do corpus de pesquisa e a amostragem teórica entrelaçam-se. Em um primeiro momento, os pesquisadores definem um perfil de entrevistados e/ou documentos a serem analisados e/ou roteiro de condução de um processo etnograficamente inspirado. Contudo, à medida que os primeiros dados são analisados, o corpus de pesquisa tende a mudar, dados os caminhos descobertos e as demandas oriundas da própria análise. O importante aqui é descrever, especialmente por meio de notas de campo, o que motivou as frequentes alterações no corpus de pesquisa. A justificativa assegura e confere maior credibilidade à análise ( Clarke, 2005 ), especialmente porque a opção por estudar determinados públicos e materiais dá-se por livre iniciativa do pesquisador na GT ( Bauer & Gaskell, 2002 ).
As gerações da GT, incluindo a AS, fazem uso da amostragem teórica - isso significa que os elementos inicialmente inseridos como formadores do corpus de pesquisa poderão ser alterados à medida que novas preocupações teóricas apareçam ao longo do processo de análise. Torna-se importante ter em mente que a busca não é por representação, mas por novas fontes de dados que possam abordar de maneira mais eficiente as facetas emergentes e específicas do processo de análise. A amostragem teórica exige que a construção da amostra a ser utilizada seja realizada e repensada a cada nova coleta de dados, de forma a possibilitar o alcance da melhor sustentação possível para o processo de theorizing . Ou seja, a seleção de fontes de dados será gradual e ocorrerá por meio da seleção e da integração intencional de novos casos ( Denzin & Lincoln, 2006 ; Charmaz, 2009) . Assim, a metodologia tem como princípio priorizar dados com diferentes perfis, de modo a enriquecer a base de coleta.
A análise dos dados
A Análise Situacional faz uma clara distinção da análise de dados, conforme sua origem, ao delimitar uma análise muito parecida com o modelo construtivista de Charmaz (2017) para entrevistas e notas de campo, e ao exigir uma análise discursiva para materiais e documentos que conferem materialidade ao método. Assim, a codificação aberta ou inicial e a análise discursiva participam, ao mesmo tempo, do processo de theorizing ( Clarke et al., 2018 ).
Após a coleta dos dados de entrevistas e notas de campo; é preciso que seja feita uma análise deles através de um processo chamado ‘codificação aberta’. Essa etapa consiste em fazer com que o analista impute códigos ou rótulos a palavras ou trechos de dados, como primeiro reflexo interpretativo à análise ( Charmaz, 2014 ). “Codificar significa nomear segmentos de dados com uma classificação que, simultaneamente, categoriza, resume e representa cada parte dos dados” ( Charmaz, 2009 , p. 69). Essa etapa é idêntica à primeira fase de análise da GT construtivista de Charmaz (2014) . Pesquisadores devem começar a analisar assim que houver dados disponíveis, fato que afeta a maneira como as fontes de dados serão escolhidas. Logo, conforme o pesquisador recolhe e analisa os dados, ele escolhe novas fontes de informação, pois acredita que essas poderão contribuir para a melhor compreensão do fenômeno ( Charmaz, 2009 ). Esse procedimento é chamado ‘amostragem teórica’ e é adotado por todas as gerações da GT, inclusive a AS ( Clarke et al., 2018 ).
A organização analítica dos dados é consolidada pela construção de três tipos de mapas: situacionais, de mundo/arena e posicionais. O mapa situacional apresenta os principais elementos humanos, não humanos, discursivos, históricos, simbólicos, culturais e políticos, assim como outros elementos na situação de pesquisa, o que provoca a análise de relações entre esses elementos. Ainda, o mapa situacional aponta os principais elementos da situação em estudo, além de guiar o pesquisador durante a fase inicial acerca de quais dados coletar. Posteriormente, esse mapa é constantemente atualizado e usado para examinar a natureza das relações entre os diferentes elementos; esse é o mapeamento relacional. A partir desse ponto, o mapa situacional captura as complexidades da situação através de suas relações e trabalha contra a simplificação ( Clarke et al., 2018 ) - seu esquema inicial pode ser conferido na Figura 2 .
O mapa situacional ordenado pode ser compreendido através da reunião dos elementos que, inicialmente, irão guiar a pesquisa. A primeira versão ordenada do mapa situacional encontra-se descrita na Tabela 1 . Trata-se de um exemplo que busca compreender, de maneira incipiente, uma dada situação observada no mercado alimentar industrializado. Normalmente, esse mapa é apresentado como tabela; contudo, isso não se configura como regra. O foco analítico na AS é a ‘relacionalidade’, o mapeamento e a análise das relações entre elementos, uma de cada vez, de maneira sistemática, semelhante à codificação GT ( Clarke, 2007 ).
Os mapas de mundos/arenas sociais expõem todos os atores e áreas em que estão conjuntamente envolvidos em discursos e em negociações em andamento. Esses mapas configuram-se como cartografias ecológicas dos principais compromissos coletivos, das relações e dos locais de ação na situação; eles apresentam todos os principais grupos, organizações, instituições e outros atores coletivos, retratam seus tamanhos relativos e relações-chave. Tais mapas analisam de forma explícita as dimensões sociais, organizacionais e institucionais da situação, com base em suposições interpretativas ( Clarke et al., 2018 ) ( Figura 3 ). Um mapa de mundos/arenas sociais foi criado como exemplo, com base na figura anterior ( Figura 4 ).
Os mapas posicionais expõem as principais posições adotadas, ou não, em função dos dados discursivos encontrados na situação, com relação a eixos específicos de preocupação e controvérsia. Significativamente, os mapas posicionais não são articulados com pessoas ou grupos, mas buscam representar a gama de posições discursivas sobre questões particulares, o que permite demonstrar a articulação de várias posições adotadas, bem como de posições contraditórias mantidas por indivíduos e coletividades. Assim, os mapas posicionais detalham os principais debates da situação para revelar a gama de posições adotadas, ou não, de acordo com os dados. As complexidades são heterogêneas e os mapas posicionais procuram representá-las ( Clarke et al., 2018 ) ( Figura 5 ).
Apenas posições que se manifestam de forma explícita nos dados devem estar no mapa posicional. Uma posição só ganha lugar no mapa ao ser articulada com os dados, de onde os exemplos devem sair. Nesse ponto, algo que venha unicamente do pesquisador, não deve aparecer; isso pode levar à discussão sobre a visão própria, com as posições pragmaticamente explicitadas. Por vezes, a construção de uma discussão sobre quais posições estão ausentes no discurso e conjecturar sobre o motivo pelo qual isso está acontecendo, pode ser mais do que suficiente ( Clarke, 2003 , 2005 ). A ilustração do mercado alimentar de industrializados será exposto no mapa posicional apresentado na Figura 6 , conforme os mapas anteriores.
Juntos, os três tipos de mapas e as narrativas sobre eles constituem a análise geral de pesquisa em AS. Eles formam uma ecologia relacional da situação De acordo com os autores em questão: “os pesquisadores podem usar os mapas para projetar intervenções situadas com base em suas pesquisas” ( Clarke et al., 2018 , p. 171).
Os três mapas são fundamentais para a demonstração dos elementos não-humanos, inclusive dos discursos e da situação de investigação - como elementos ativos e como co-constitutiveness . O pesquisador deve especificar os elementos não humanos da situação ao confeccionar mapas situacionais iniciais, e tornar visíveis as materialidades e os discursos pertinentes desde o começo da pesquisa. Uma característica do segundo mapa encontra-se no fato de que ele funciona como mapa das arenas dos discursos, haja vista os mundos sociais constituírem-se como universos de atuação de diferentes discursos ao reproduzirem, continuamente, os elementos de preocupação sobre os outros mundos sociais inseridos na situação - e sobre os seus próprios mundos. Assim, discursos são desarticulados de seus locais de produção e proporcionam maior poder analítico à AS. Mapas situacionais realizam um tipo de inversão social ao tornarem visíveis as características sociais geralmente invisíveis ou incipientes em uma situação ( Clarke et al., 2018 ).
Mapas podem ser usados comparativamente com diferentes fontes de dados na AS, mapear uma fonte de dados por vez e comparar os resultados ( Clarke, 2003 ). Segundo Clarke (2003 , 2007 ), o enquadramento da situação permite que se tornem visíveis as contradições e os distúrbios em elementos que parecem coerentes e ordenados. O foco nas práticas reais dos atores permite ver a confusão nos documentos e narrativas dos representantes das organizações que parecem ordenados.
Todos os elementos-chave da situação e suas inter-relações; os mundos e arenas sociais nos quais os fenômenos de interesse estão inseridos; as posições discursivas adotadas e não adotadas pelos atores (humanos e não humanos) sobre as questões-chave; e os próprios discursos, como constitutivos da situação, constroem um trabalho pós-estruturalista baseado em filosofia pragmatista, interacionismo, estudos científicos, análise foucaultiana, rizomática e na assemblage de Deleuze e Guattari - todos eles são fontes de inspiração para o método. A Análise Situacional é útil por si só ou em combinação com a GT construtivista, para pesquisas pequenas ou grandes, baseadas em entrevistas, assim como para projetos de campo etnográficos e para vários tipos de análises do discurso ( Clarke et al., 2018 , p. 63).
Entretanto, existe um ponto da Análise Situacional que permanece obscuro em obras citadas como referência ao longo de sua constituição genealógica. Nos dezessete anos em que Clarke et al. (2018) construíram sua AS, eles afirmaram a importância de oferecer-se uma pesquisa que contribua para melhorar a vida das pessoas, que seja colaborativa, que apoie projetos inclusivos, que aumente a percepção de justiça social e aproxime a pesquisa da sociedade. Contudo, esses estudos não indicam como isso poderia ser feito. Depois de apresentar os pontos de sua operacionalização, podemos nos encaminhar para as considerações finais.
Considerações finais
Ao chegar ao final de nosso artigo, algumas indagações relevantes fazem-se presentes. Em primeiro lugar, o que a AS traz de contribuição para a pesquisa qualitativa? Para responder essa pergunta, deve-se considerar que, conforme reforçado por Clarke (2005) , a AS prioriza diferenças individuais e coletivas, a fim de gerar políticas sociais mais justas e equitativas nos campos da Educação, bem-estar, saúde, velhice ou deficiências entre outros. Uma pesquisa baseada em AS vai além da preocupação em fazer emergir do campo as categorias de análise, mas, de alguma forma, baseia-se em dar algum tipo de retorno para os públicos envolvidos. Ou seja, parte-se do pressuposto de que pesquisas precisam ser fundamentadas em empirismo para que possam contribuir de maneira efetiva através do conhecimento complexamente explicitado.
Em segundo lugar, o que a AS avança em relação às duas gerações anteriores da GT? Não se pode deixar de mencionar que a AS trouxe novos direcionamentos para a GT, depois da virada interpretativa. Vários desses avanços foram apontados ao longo desse artigo, eles alinham-se à noção de situação, ao assumirem algumas das abordagens da cartografia, tais como: mapas situacionais, mapas das arenas sociais e mapas posicionais. Ele leva em conta o papel dos não-humanos, e traz uma vertente crítica de justiça social para a investigação qualitativa através do aprofundamento em diversas discussões sociológicas. Além disso, é importante ressaltar que a AS permite aos pesquisadores reunir estudos de discurso e agência, de ação e estrutura, de imagem, de texto e contexto, de história e do momento presente para analisar situações complexas de investigação.
Em terceiro lugar, o que a AS traz de relevante para a pesquisa no campo da gestão? É possível afirmar que a AS é uma abordagem que contempla diversos elementos epistemológicos, teóricos e metodológicos que, conforme ressaltamos anteriormente, vêm ganhando protagonismo na pauta de discussões de pesquisadores da área de gestão. Tem sido cada vez mais discutido na área de marketing, por exemplo, que uma análise deveria conter elementos micro (aderentes ao consumidor) e macro, (resultado das interações institucionais de diferentes atores na sociedade) ( Nøjgaard & Bajde, 2021 ).
Por fim, quais são os desafios a serem enfrentados pelos pesquisadores do campo da gestão interessados em adotar a AS em seus desenhos de pesquisa? Pode-se dizer que não são poucos os desafios a serem enfrentados pelos adeptos da AS. Considerando-se que a GT, em suas duas primeiras gerações, implica uma mudança na forma de conceber-se o processo de pesquisa como algo mais flexível e focado nas investigações empíricas, a AS exige maior capacidade reflexiva e maior habilidade de abstração por parte dos pesquisadores para lidarem com toda a complexidade da dinâmica social. Ademais, ainda no campo da gestão, é desejável que o pesquisador desenvolva a competência de transitar por novas abordagens teóricas em busca de interdisciplinaridade.
Não obstante, vale retomar que o objetivo analítico principal da GT Situacional, ou AS, consiste em gerar os chamados conceitos sensibilizantes. Um conceito definitivo refere-se, precisamente, ao que é comum a um determinado elemento. Um conceito sensibilizante, por sua vez, fornece um senso geral de referência e de orientação na abordagem de instâncias empíricas. Enquanto os conceitos definitivos fornecem prescrições sobre o que se ver, os conceitos sensibilizantes sugerem orientações sobre onde fazer a procura (Strauss & Corbin, 1990; Glaser, 1992 ; Clarke, 2003) ; esse perfil torna esse método possivelmente útil em situações em que mudanças são constantes, tais como sistemas de informação de mercado, os quais são comuns na área de marketing; gestão de relacionamento com o cliente; gestão de riscos e crises; gestão de pessoas; dentre tantas outras possibilidades em que as situações precisam ser observadas e acompanhadas de maneira ampla e exploratória, considerando-se uma grande quantidade de elementos.
Sob esses e tantos outros pontos, tais como a possibilidade de atuar em questões sociais advindas da sociedade, e de outros atores, a AS aparenta ser um método promissor para ser aplicado, pragmaticamente, no cotidiano, por profissionais, pesquisadores, gestores públicos, organizações sem fins lucrativos, empreendedores sociais ou por estudantes, especialmente os de doutorado, que dispõe de mais tempo para elaborar análises.
Em resumo, após essa discussão e voltando às questões levantadas na seção introdutória, podemos dizer que: a análise situacional representa um avanço para além da teoria fundamentada “tradicional” ao incorporar uma série de outros elementos que acabam por trazer diversas possibilidades para pesquisadores da área da gestão.
Trabalhos futuros podem contribuir para o debate com a apresentação de estudos empíricos que utilizem a Análise Situacional. O presente estudo tem a limitação de apresentar apenas os fundamentos do método, de comentar sobre sua operacionalização e, por fim, de apontar questões sobre a AS que parecem ser relevantes para estudos na área de gestão. Ou seja, o objetivo desse estudo foi de abrir portas e de convidar outros pesquisadores a juntarem-se a nós para que, no futuro, possamos contar com a descrição dos resultados de pesquisas obtidos por meio da Análise Situacional. No mesmo sentido, será bem-vinda a discussão de como o método pode ser utilizado para melhorar a qualidade, e a abrangência, de estudos na área de gestão em seus mais diversos campos.
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Editora Associada: Josiane Oliveira
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Jul 2022 -
Data do Fascículo
Jul-Sep 2022
Histórico
-
Recebido
22 Jun 2021 -
Aceito
15 Fev 2022







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Fonte: Clarke, A. E.; Friese, C.; & R. S. Washburn (2018). Situational Analysis: Grounded theory after the interpretative turn. 2 ed. Los Angeles: SAGE.
Fonte: elaborado pelos autores.
Fonte: Clarke, A. E.; Friese, C.; & R. S. Washburn (2018). Situational Analysis: Grounded theory after the interpretative turn. 2 ed. Los Angeles: SAGE.
Fonte: elaborado pelos autores.