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Um novo tempo e seus desafios

EDITORIAL

Um novo tempo e seus desafios

O número 42 do volume 19 da Paideia inaugura o ano de 2009 sob o signo da mudança. Um novo projeto gráfico está sendo consolidado, buscando dotar a revista de um padrão mais arrojado e sintonizado com as principais publicações na área, em âmbito nacional e internacional.

O mérito do trabalho de reconfiguração do projeto gráfico, que agora vem a lume, deve ser dividido com os membros do Conselho Editorial e os valorosos assistentes editoriais, que se envolveram na tarefa com dedicação e espírito colaborativo. Também deve ser mencionado o empenho conjunto dos autores, consultores ad hoc e leitores, bem como o apoio obtido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (SIBI).

No que concerne ao conteúdo, os trabalhos que enfeixam este fascículo continuam apresentando a salutar diversidade que caracteriza o campo da Psicologia, da Educação e áreas afins em nosso contexto. Há uma gama de pesquisas empíricas, teóricas e de revisão da literatura, que evidenciam o vigor e a vitalidade da produção do conhecimento científico na perspectiva de diferentes modelos teórico-metodológicos.

O fascículo é aberto com o trabalho Paideia: relatório de gestão - 2008, de Manoel Antônio dos Santos, Eduardo Name Risk e Vitor Hugo de Oliveira, no qual são apresentados os indicadores que permitem mapear, de modo objetivo e com riqueza de detalhes, os meandros do processo editorial da Paideia no ano passado. Além de apresentar um levantamento estatístico, esse relatório dá transparência à sistemática de arbitragem utilizada pela revista para a qualificação dos manuscritos submetidos à avaliação.

O conjunto de artigos que compõem esse número é aberto com o estudo internacional Parental control mechanisms and their reflection on identity styles of Turkish adolescents, de Hacer Nermin Çelen, da Maltepe University, e Muharrem Ersin Kuşdil, da Uludag University, Turquia. Por meio da aplicação de escalas específicas, os autores investigaram em que medida a autoridade parental reflete-se no estilo identitário de jovens turcos, partindo da hipótese de que diferenças qualitativas no poder parental resultam na promoção ou não da autonomia e comprometimento pessoal dos jovens.

Na sequência, o trabalho Aprendendo a gerenciar conflitos: um programa de intervenção para a 1ª série do ensino fundamental, de Dâmaris Simon Camelo Borges, da Secretaria Municipal de Educação de Ribeirão Preto, e Edna Maria Marturano, da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, aborda a eficácia de um programa de intervenção no ensino fundamental, a fim de melhorar a convivência entre alunos de uma escola pública, por meio da comparação de medidas de desempenho pró-social e a percepção de estressores entre grupos "experimental" e "controle". Diante da extensão do acesso ao ensino básico promovida nas últimas duas décadas no Brasil e da diversidade de problemas que a escola tem enfrentado, estudos desta natureza permitem alavancar propostas que procuram minorar as adversidades enfrentadas por esta instituição tão cara à Modernidade.

Dando continuidade às discussões no âmbito da Psicologia Escolar, o artigo Indicadores de atitude de estudantes e professores com relação à matemática, de Paulo Cézar de Faria, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brigido Viseu Camargo, da Universidade Federal de Santa Catarina, e Maria Lucia Faria Moro, da Universidade Federal do Paraná, pauta-se no conceito de atitude, a fim de perscrutar quais indicadores promovem identificação positiva e negativa em relação a esta disciplina, ao longo da trajetória escolar e universitária de graduandos e professores de matemática.

O trabalho seguinte, ainda no âmbito da interface Psicologia e Educação, intitulado Raciocínio moral e uso abusivo de bebidas alcoólicas por adolescentes, é da autoria de Rita Melissa Lepre e Raul Aragão Martins, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Esse estudo investiga a relação entre uso abusivo de álcool e raciocínio moral, conceito desenvolvido por Kohlberg a partir das idéias de Piaget. Os participantes, adolescentes que frequentavam ensino médio, foram selecionados a partir da aplicação de uma escala para avaliar níveis arriscados de ingestão alcoólica. Aqueles que apresentaram níveis de risco submeteram-se à aplicação da entrevista semi-estruturada de Kohlberg. Diante do apelo irresistível à premência da obtenção do prazer, marca da sociedade capitalista contemporânea, e das mudanças da vida social, com o incremento da individualidade proporcionado pelos avanços tecnológicos, este estudo pretende resgatar a importância do desenvolvimento da autonomia para a efetivação de propostas cidadãs.

O artigo Formação de classes funcionais de estímulos musicais, assinado por Alex Roberto Machado e Elizeu Batista Borloti, da Universidade Federal do Espírito Santo, objetivou verificar o efeito do treino discriminativo sobre a formação de classes funcionais de melodias em andamentos e modos diferentes. Como conclusão, os autores consideram que a arte musical constituiria uma forma especializada de comportamento verbal não vocalizado, o que depende do refinamento de várias definições analítico-comportamentais a serem perscrutadas por novas pesquisas.

Na sequência, o estudo Crianças e adolescentes com HIV/Aids: revisão de estudos sobre revelação do diagnóstico, adesão e estigma, de Camila Peixoto Pessôa Guerra e Eliane Maria Fleury Seidl, da Universidade de Brasília, discute a problemática da revelação do diagnóstico, adesão e estigma relativos a crianças e adolescentes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), a partir de um estudo de revisão bibliográfica. A consulta às bases de dados permitiu evidenciar que o estigma associado à enfermidade perpassa as dificuldades enfrentadas nas relações familiares dos portadores, assim como atravessa o trabalho dos profissionais de saúde. As autoras concluem que o estigma é uma categorização social perene e muitas vezes alheia a políticas que visem amenizá-lo, o que vai na contramão da sistematização e implantação de medidas técnicas que procuram aumentar a adesão ao tratamento.

A seguir, ampliando as discussões acerca do impacto psicossocial do vírus HIV, o estudo Vivência profissional: subsídios à atuação em HIV/Aids, de Joana Filipa Afonso Monteiro e Marco Antonio de Castro Figueiredo, da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, analisa elementos emergentes da relação terapêutica no sentido de subsidiar a concepção e implementação de programas de atendimento a pessoas com Aids. Para tanto, foram entrevistados profissionais que trabalhavam em um hospital-escola. Os autores consideram que o atendimento a pessoas com HIV/Aids prescinde de uma ação integrada, que contemple o conhecimento técnico-especializado e processos psicossociais.

O artigo Olhares de crianças baianas sobre família, de Lúcia Vaz de Campos Moreira, Elaine Pedreira Rabinovich, da Universidade Católica do Salvador, e Célia Nunes Silva, da Universidade Federal da Bahia, discute os significados que crianças baianas, pertencentes às camadas populares e médias, atribuem aos membros de sua família. Os resultados evidenciam que, para essas crianças, a família é agente de cuidado e apoio, na qual cada membro exerce funções diferentes, porém complementares, o que suscita a realização de novas investigações a fim de contemplar a influência de aspectos relativos ao gênero e às gerações na dinâmica familiar.

A seguir, o estudo Resgatando e atualizando os sentidos da autoridade: um percurso histórico, de Maria Carmen Euler Torres e Lucia Rabello de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, versa sobre a evolução do conceito de autoridade no Ocidente. As relações entre autoridade e hierarquia, autoridade e poder, autoridade e fundação são problematizadas à luz do referencial histórico e filosófico, levando ao questionamento das razões do recuo da tradição e do elogio ao novo, comum em certos segmentos de nossa sociedade, como no caso das relações familiares e de sociabilidade entre as camadas médias brasileiras.

As investigações do trabalho anterior deslindam-se nas transformações no exercício da paternidade, objeto do artigo Paternidade contemporânea: levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007, de Carmen Lúcia Carvalho de Souza, da Universidade Comunitária Regional de Chapecó, e Silvia Pereira da Cruz Benetti, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. As autoras, a partir de extensa consulta à literatura internacional e nacional pertinente ao tema, concluem que sua importância é crucial para a compreensão das relações familiares e planejamento de políticas públicas, assim como para as discussões sobre a constituição da masculinidade.

O artigo Triagem estendida: serviço oferecido por uma clínica-escola de Psicologia, assinado por Eliana Herzberg e Débora Chammas, da Universidade de São Paulo, São Paulo, discute a implantação de um serviço de triagem psicológica em uma clínica-escola. Por meio da análise das sessões de atendimento de dez pacientes, as autoras analisaram os seguintes indicadores: adesão às consultas, evolução da queixa, expectativas com relação ao trabalho do psicólogo e desenvolvimento do atendimento e encaminhamentos. Este estudo apresenta contribuições valiosas para a organização do atendimento psicológico em serviços-escola, fornecendo subsídios que permitem aprimorar a qualidade da assistência e da formação acadêmica do futuro psicólogo.

Na sequência, ainda no âmbito da Psicologia aplicada, o estudo Atenção psicológica clínica: encontros terapêuticos com crianças em uma creche, da autoria de Ana Paula de Sá Campos e Vera Engler Cury, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, investiga a potencialidade terapêutica do atendimento psicoterápico a crianças no contexto da educação infantil. Pautadas na abordagem da Ludoterapia Centrada na Criança e na construção de narrativas, as autoras discutem as dimensões intersubjetivas do encontro, sobretudo a importância da atitude compreensiva e facilitadora por parte do terapeuta, que possibilita às crianças expressarem seus confiltos e vivências internas.

Encerrando a seção dedicada aos artigos originais, o trabalho A construção de uma ferramenta social para promoção da saúde e dos direitos das mulheres, de Claudia Mara Pedrosa, da Universidade Federal de São Carlos, norteado pela perspectiva do Construcionismo Social, focaliza as mulheres envolvidas em situação de violência perpetrada pelo parceiro íntimo. O estudo discute estratégias de enfrentamento que possam oferecer apoio a essas mulheres e o trabalho realizado pelos profissionais da saúde. Diante da insidiosa permanência da violência de gênero e sua invisibilidade no mundo contemporâneo, ainda que vicejem em nossa sociedade práticas para enfrentar os efeitos deletérios do patriarcalismo, estudos desta natureza possibilitam que reflitamos sobre o impacto psicossocial dos vários tipos de violência contra a mulher que se disseminam em todas as camadas sociais.

O presente fascículo encerra-se com a resenha A criança como sujeito no processo de adoção, da autoria de Gisele Cristina Resende Fernandes da Silva, da Associação Valeparaibana de Assistência Médica Policial. A autora apresenta e discute o livro Conversando com a criança sobre adoção, de Lilian de Almeida Guimarães Solon, publicado pela Casa do Psicólogo, que apresenta uma instigante análise do fenômeno da adoção pelo olhar da criança.

Este número se encerra com as Normas de Publicação. Esperamos que os leitores possam emergir enriquecidos da leitura e que, ao findarem essa tarefa, sintam-se instigados a submeterem suas próprias contribuições à avaliação da Paideia.

Manoel Antônio dos Santos

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Ago 2009
  • Data do Fascículo
    Abr 2009
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