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Yakubinsky e o Círculo de Bakhtin: aproximações

Yakubinsky y el Círculo de Bakhtin: acercamientos

Resumos

O presente artigo teve por objetivo discutir a contribuição de Yakubinsky para o estudo da linguagem e a sua influência sobre o Círculo de Bakhtin. Descrevemos aspectos de sua formação acadêmica e do ambiente no qual estava inserido. Analisamos suas contribuições, relacionando-as com os pensadores do Círculo de Bakhtin. Analisamos, particularmente, o texto "Sobre a fala dialógica", ressaltando aspectos de suas propostas como a naturalidade do diálogo e a exigência do contexto social, a concepção do diálogo e do monólogo e o automatismo da linguagem nas interações com o outro. Destacamos, por fim, a importância de Yakubinsky para a compreensão do dialogismo e a sua atualidade.

diálogo; dialogismo (análise literária); linguagem; comunicação oral


Se discute la contribución de Yakubinsky para el estudio del lenguaje y su influencia en el Círculo de Bajtín. Se describen las facetas de su formación académica y el medio ambiente en el que trabajaba. Analizamos sus contribuciones, relacionándolos con los pensadores del Círculo de Bajtín. Analizamos particularmente el texto "Sobre el discurso dialógico", destacando características del trabajo de Yakubinsky tales como la naturalidad del diálogo y de su requisito para un contexto social, el concepto del diálogo y del monólogo y el automatismo de la lengua en la interacción con el otro. Acabamos acentuando el papel y la actualidad de Yakubinsky para la comprensión del dialogismo.

dialogo; dialogismo (análisis literaria); lenguaje; comunicación oral


This study discuss Yakubinsky's contribution for the study of language and his influence on Bakhtin Circle. We describe facets of his academic background and environment in which he worked. We analyze his contributions relating them with the intellectuals belonging to Bakhtin Circle. We particularly analyze the text "On dialogical speech", highlighting characteristics of Yakubinsky's work such as the natural character of dialogue and its requirement for a social context, the conception of dialogue and monologue and the automatism of language in the interaction with the other. We finish by emphasizing the role and actuality of Yakubinsky for the comprehension of dialogism.

dialogue; dialogism (literary analysis); language; oral communication


ARTIGO

Yakubinsky e o Círculo de Bakhtin: aproximações

Yakubinsky y el Círculo de Bakhtin: Acercamientos

Robson Santos de OliveiraI; Maria da Conceição Diniz Pereira de LyraII

IFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru, Caruaru-PE, Brasil

IIUniversidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria da Conceição Diniz Pereira de Lyra. Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Avenida Prof. Moraes Rego, 1235. Cidade Universitária. CEP 50.670-901. Recife-PE, Brasil. E-mail: marialyra2005@yahoo.com.br

RESUMO

O presente artigo teve por objetivo discutir a contribuição de Yakubinsky para o estudo da linguagem e a sua influência sobre o Círculo de Bakhtin. Descrevemos aspectos de sua formação acadêmica e do ambiente no qual estava inserido. Analisamos suas contribuições, relacionando-as com os pensadores do Círculo de Bakhtin. Analisamos, particularmente, o texto "Sobre a fala dialógica", ressaltando aspectos de suas propostas como a naturalidade do diálogo e a exigência do contexto social, a concepção do diálogo e do monólogo e o automatismo da linguagem nas interações com o outro. Destacamos, por fim, a importância de Yakubinsky para a compreensão do dialogismo e a sua atualidade.

Palavras-chave: diálogo, dialogismo (análise literária), linguagem, comunicação oral

RESUMEN

Se discute la contribución de Yakubinsky para el estudio del lenguaje y su influencia en el Círculo de Bajtín. Se describen las facetas de su formación académica y el medio ambiente en el que trabajaba. Analizamos sus contribuciones, relacionándolos con los pensadores del Círculo de Bajtín. Analizamos particularmente el texto "Sobre el discurso dialógico", destacando características del trabajo de Yakubinsky tales como la naturalidad del diálogo y de su requisito para un contexto social, el concepto del diálogo y del monólogo y el automatismo de la lengua en la interacción con el otro. Acabamos acentuando el papel y la actualidad de Yakubinsky para la comprensión del dialogismo.

Palabras clave: dialogo, dialogismo (análisis literaria), lenguaje, comunicación oral

Iniciamos este artigo a partir das considerações de Brandist (2006b, p. 82), que discute sobre a articulação de Bakhtin com os linguistas e estudiosos de sua época: "O trabalho de Bakhtin seguiu de perto as voltas e reviravoltas do conhecimento contemporâneo (...) requerendo mais pesquisa". De fato, Brandist tem se esforçado por desconstruir o mito das ideias de Bakhtin, sem com isso desmerecer seu amplo e inegável trabalho sobre o dialogismo, tanto nesse artigo como em outros (Brandist, 2003, 2004, 2005, 2006a).

Brandist e Lähteenmäkï (2010) corroboram esse olhar menos ortodoxo para o pensamento de Bakhtin e propõem uma atenção especial para o trabalho de Yakubinsky e, em dois outros artigos, Lähteenmäkï (2005, 2006) enfatiza a importância de Yakubinsky não apenas para a linguística soviética do início do século XX, mas, também, no Círculo de Bakhtin, reconhecido por Volochinov e pelo próprio Bakhtin. No Brasil, dois livros organizados por Brait - Bakhtin e o Círculo (2009a) e Bakhtin, dialogismo e polifonia (2009b) - também trazem contribuições a esse respeito, revisitando os principais textos do Círculo bakhtiniano e traduzindo textos inéditos que demonstram o diálogo de seus participantes com o pensamento linguístico soviético de então. Bubnova (2009) faz referência explícita ao trabalho de Yakubinsky, afirmando sua influência no Círculo de Bakhtin e, principalmente, no pensamento de Volochinov.

Um importante texto de Yakubinsky foi O dialogicheskol rechi, de 1923, que traduziremos por 'Sobre a fala dialógica' em vez de 'Sobre o discurso dialógico', corroborando o pensamento de Archaimbault (2000), para quem o vocábulo 'fala' tem um aspecto mais próximo ao pensamento do autor sobre uma 'língua viva' do que o termo 'discurso'. Yakubinsky e Eskin (1997), ao traduzir parte do texto O dialogicheskol rechi, informam que Yakubinsky permaneceu esquecido fora da Rússia, embora sua importância. Acreditamos que, também na Rússia, Yakubinsky ficou, por muito tempo, esquecido, devendo-se a Leontiev o papel de ser o primeiro pesquisador soviético a quem coube resgatar o trabalho de Yakubinsky, ainda que Ivanova (2009) faça críticas a esta contribuição de Leontiev por somente considerar o texto de 1923.

Para reafirmar nosso interesse por Yakubinsky e seu texto de 1923, considerado seminal para o dialogismo soviético, bem como sua importância para o Círculo de Bakhtin, trazemos a mesma pergunta de Bertau (2005) ao iniciar sua discussão na Conferência Interdisciplinar no verão de 2005, na Universidade de Munique: Por que Yakubinsky, por que começar com seu texto de 1923, recentemente traduzido para o inglês?. Esta autora, em todo o seu trabalho, vai construindo pontes entre o texto de Yakubinsky e possíveis aplicações para o estudo da linguagem, da aquisição da linguagem, resgatando alguns aspectos propostos no artigo Sobre a fala dialógica, tais como o automatismo e a função da linguagem nas suas formas de abreviação da fala, a naturalidade do diálogo e a análise da troca de turno durante a conversação. Nessa mesma Conferência, Friedrich (2005b) apresentou um workshop com o tema The use and function of the notion of dialogue in the Soviet-Russian discourse of the 1920ies, especially with Yakubinsky and Vygotsky, realizando uma revisão do texto Sobre a fala dialógica de Yakubinsky e destacando pontos importantes ao conectá-los com a teoria da linguagem de Bühler (1934-1990).

A relevância e 'redescoberta' de Lev Yakubinsky não foi apenas observada por pesquisadores na Universidade de Munique, mas também, e principalmente, ocorreu na Universidade de Lausanne, através do Centro de Pesquisas em Epistemologia Comparada da Linguística da Europa Central e Oriental (CRECLECO), que disponibiliza textos, anais de eventos, edições de revistas e diversos documentos originais de linguistas soviéticos do início do século XX.

Considerando o destaque conferido a Yakubinsky (1923) nos últimos anos, moveu-nos o interesse, igualmente, de pesquisá-lo e, sobretudo, analisar seu texto Sobre a fala dialógica, destacado e referido por diversos pesquisadores. Ao realizar tal projeto, deparamo-nos com outros campos de pesquisa e temas que mereceriam atenção, mas que fogem ao escopo deste trabalho: a política comunista sobre o conceito de língua e linguagem; o formalismo russo; os debates das ideias de Saussure, com características da Psicologia então predominante, por exemplo. Tais aspectos são revisitados por Ageeva (2009), Alpatov (2004), Archaimbault (2000, 2009), Bertau (2005, 2008), Brandist (2003, 2006a, 2006b), Brandist e Lähteenmäkï (2010), Friedrich (2005b), Gulida (2010), Ivanova (2003a, 2003b, 2008, 2009), Kyheng (2003), Lähteenmäkï (2005, 2006) e Romashko (2000), dentre outros. O presente artigo, assim, teve por objetivo discutir a contribuição de Yakubinsky para o estudo da linguagem e a sua influência sobre o Círculo de Bakhtin.

Lev Yakubinsky: Formação Acadêmica e Ambiente

Lev Petrovich Yakubinsky nasceu em 1892, em Kiev, onde fez seus estudos secundários, entrando na universidade em 1909 e transferindo-se para São Petersburgo, onde frequentou os cursos ministrados por Courtenay (Archaimbault, 2000), tornando-se particularmente interessado no estudo da fonética e da palavra do cotidiano ou 'palavra viva', juntamente com Scherba (1880-1944), Larin (1893-1964) e seus principais alunos e seguidores (Alpatov, 2004; Brandist, 2004, 2005, 2006a; Friedrich, 2005a; Gulida, 2010; Ivanova, 2008; Lähteenmäkï, 2005, 2006; Romashko, 2000).

Ivanova (2008), discutindo a importância do Instituto da Palavra Viva (IZhS), do qual Yakubinsky foi um dos fundadores, nos oferece uma perspectiva panorâmica do 'ar do tempo e do lugar', na virada do século XIX para o XX na URSS, para o estudo da linguagem e do pensamento, envolvendo linguistas, psicólogos, filólogos e filósofos que se preocupavam como os falantes usavam a língua e como construíam o seu discurso, incluindo aspectos psicológicos, contextuais e culturais nesta análise (Ivanova, 2003b). Esse grupo de pesquisadores, representado por Yakubinsky, Larin e Zirmunskii (Brandist, 2003; Lähteenmäkï, 2006), será reconhecido como Escola de Leningrado, na qual a concepção de linguagem era tomada como um ato da interação social, como um fato da vida cotidiana, constituindo-se um fenômeno dinâmico vivo e real (Ageeva, 2009), em oposição à Escola de Moscou, representada por Jakobson e seus seguidores. Alpatov (2004) afirma que a Escola de Leningrado teve grande interesse nas questões teóricas da linguística, evidentes no livro de Bakhtin (1929/2004b), Marxismo e filosofia da linguagem. Este registro é importante para podermos iniciar as aproximações entre Yakubinsky e o Círculo de Bakhtin por meio dos membros da Escola de Leningrado, considerando que o próprio Círculo de Bakhtin ocorreu durante um tempo nesta cidade, como apontam Clark e Holquist (1998), Faraco (2009) e Grillo (2009).

Merece também ser destacado o contexto da Psicologia de então que fortemente influenciou os textos de Yakubinsky. Este contexto é descrito por Ivanova (2003b), ao discutir a respeito das fontes da noção de diálogo deste linguista, informando a influência de Wundt (1832-1920), da psicologia funcional de James e do behaviorismo de Watson que, juntamente às aproximações com Pavlov, constituíam uma teoria aceita e debatida na comunidade científica russa de então (Ivanova, 2003b). Tais observações são reafirmadas por Kyheng (2003), Ivanova (2009) e Romand e Tchougounnikov (2008). Por sua vez, Brandist (2005) identifica a influência da psicologia popular (Völkerpsychologie) sobre a linguística russa dessa época, informando a influência de Lazarus (1824-1903), de Steinthal (1823-1899) e, principalmente, das ideias de Herbart (1776-1841), evidentes naquelas ideias de Wundt referentes à "apercepção" e "massa aperceptiva" (Honda, 2004) que Yakubinsky retoma. De igual modo deve-se destacar a influência de Tarde (1843-1904), que discutiu os modos de comunicação e formação social (Gulida, 2010) e os tipos de conversação nas diferentes épocas e esferas sociais, numa perspectiva da Psicologia Social (Ivanova, 2003b) que fizeram parte das referências de Yakubinsky (Archaimbault, 2000). Essas noções foram utilizadas por Yakubinsky em seu artigo de 1923 e foi sob esse enfoque psicológico, associando linguagem a comportamento, à fisiologia e aos aspectos sociais, que ele iniciou seu projeto de discussão dos aspectos linguísticos da língua falada.

Brandist e Lähteenmäkï (2010), Lähteenmäkï (2005, 2006) e Romaskho (2000) nos apontam que Yakubinsky sempre atuou como professor em instituições pedagógicas, engajando-se em vários projetos de pesquisas das línguas, desde a década de 1910 na URSS e, até a década de 1940, participou das principais instituições soviéticas de estudos da linguagem (GIRK, OPOIaZ, ILIaV). Entre 1916 e o início da década de 1930, quando Yakubinsky apresentou seus textos e se tornou um atuante linguista, observaremos os diversos entrecruzamentos dele com o Círculo de Bakhtin, principalmente por meio de Volochinov, que fora seu aluno e com ele trabalhou em diversos projetos (Alpatov, 2004; Brandist, 2003, 2004, 2006a; Gulida, 2010; Ivanova, 2003a; Lähteenmäkï, 2006).

Os Textos de Lev Yakubinsky no Círculo de Bakhtin

A partir do nosso levantamento bibliográfico, organizamos os textos de Yakubinsky em fases, segundo sua cronologia, mas também, segundo sua temática e ressonância nos trabalhos do Círculo de Bakhtin. Na primeira fase, seus artigos Sobre os sons da linguagem versificada (1916); A acumulação de líquidas idênticas na linguagem prática e na linguagem poética (1916); A realização da uniformidade de sons em obras de Lermontov (1916); Sobre a combinação de glossemas na linguagem poética (1919); De onde provem os poemas (1921) e A propósito do livro de V. Zirmunskii: A composição da poesia lírica (1922) apresentam uma ênfase na fonética da poesia, associando aspectos psicofisiológicos e linguísticos das formas de linguagem poética e da chamada linguagem cotidiana, além de realizar associações com as emoções. Ivanova (2009) realizou um estudo pormenorizado destes artigos, ficando impressionada com a mudança temática em 1923, no próprio formalismo, com o seu texto Sobre a fala dialógica (Ivanova, 2009). No Círculo de Bakhtin teremos Bakhtin e Medvedev (1928/1991) analisando alguns destes textos, ao discutir as fases do Método Formal (formalismo literário soviético): Sobre os sons da linguagem versificada; A acumulação de líquidas idênticas na linguagem prática e na linguagem poética e Sobre a combinação de glossemas na linguagem poética. Bakhtin e Medvedev apontam esta mudança temática no interior do próprio formalismo soviético, incluindo Yakubisnky e Tomashevski, representado uma tendência que procurava aplicar o método sociológico aos estudos da linguagem.

Na segunda fase, se destaca o texto Sobre a fala dialógica (1923), identificado por diversos pesquisadores (Alpatov, 2004; Archaimbault, 2000; Brandist, 2003, 2006a; Friedrich, 2005a, 2005b; Gulida, 2010; Ivanova, 2003a, 2003b, 2009; Kyheng, 2003; Lähteenmäkï, 2005; Romashko, 2000) como um texto inicial para o dialogismo, por enfatizar a importância do diálogo e apresentar a concepção de sua naturalidade em oposição à artificialidade do monólogo, além de apresentar outros aspectos relevantes, tendo como tese central as formas composicionais ou funções da diversidade discursiva. No Círculo de Bakhtin, este texto é citado por Bakhtin e Medvedev (1928/1991) no Método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica e por Bakhtin (1929/2004b) no Marxismo e filosofia da linguagem. Uma possível citação explícita de Bakhtin a Yakubinsky não existe, atualmente, nas versões publicadas de livros sob sua autoria. No entanto, Lähteenmäkï (2005) informa que uma nota de rodapé contendo o ponto de vista de Bakhtin sobre o ensaio de Yakubinsky (1923) poderia ter feito parte dos originais do artigo bakhtiniano Discurso no romance (Bakhtin, 1934-1935/2004a). Apoiado em Hirschkop (1999) Lähteenmäkï informa que estas notas de rodapé de Bakhtin, intituladas como 'Diálogo II', foram escritas em 1952, quando Discurso no romance ainda não fora publicado, chegando a afirmar: "Nesse sumário encontramos uma referência explícita ao texto de Yakubinsky, escrito em 1923, Sobre a fala dialógica, que sugere que esta observação também estava inserida no manuscrito original, mas foi editorialmente removida na versão publicada" (Lähteenmäkï, 2005, p. 53).

Na terceira fase, com seu artigo Ferdinand de Saussure on the impossibility of a language policy, de 1929, Yakunbinsky, representando a Escola de Leningrado, não se posiciona entusiasticamente em relação às ideias de Ferdinand de Saussure. Observamos aqui duas coincidências: (1) nesse mesmo ano, Bakhtin (1929/2004b) também publicou seu livro com uma crítica a Saussure em Marxismo e filosofia da linguagem, associando o linguista suíço à Escola de Genebra e ao 'objetivismo abstrato' em oposição ao 'subjetivismo; (2) Brandist (2003) ressalta que em 1929, na Rússia, ainda não se tinha a publicação do trabalho de Saussure, somente sendo traduzido para o russo em 1933, o que faz Kyheng (2003) sugerir que Volochinov e Yakubinsky traduziram o texto de Saussure para a construção de seus trabalhos de 1929. Estudos mais aprofundados e comparativos entre Yakubinsky e Volochinov sobre Saussure encontram-se nos artigos de Ageeva (2009), de Lähteenmäkï (2006) e de Reznik (2001).

Na quarta fase, sob o título A estrutura de classes da língua russa contemporânea, uma série de artigos de Yakubinsky foi publicada no jornal popular Literaturnaia ucheba nos anos de 1930 e 1931 (Brandist, 2003; Brandist & Lähteenmäkï, 2010; Ivanova, 2003a; Uhlik, 2008). Segundo Brandist (2006b, p. 69), esta série "constitui a base do relato sociológico e histórico da linguagem nos ensaios de Bakhtin dos anos 1930". Um estudo analítico e mais detalhado sobre a influência destes artigos de Yakubinsky em Bakhtin, especificamente sobre o texto Discurso no romance ou Discourse in the novel (Bakhtin, 1934-1935/2004a) pode ser encontrado em Brandist (2003, 2006b), Brandist e Lähteenmäkï (2010) e em Lähteenmäkï, (2005).

Ainda merece nota especial, em nosso estudo sobre Yakubinsky, o jornal Literaturnaia ucheba, onde não apenas Yakubinsky, mas também Volochinov e outros linguistas importantes da época, escreveram seus textos (Alpatov, 2004). Este era um periódico de cunho científico-popular, relacionada ao programa educacional para os novos escritores e orientando-os quanto aos princípios do socialismo (Brandist & Lähteenmäkï, 2010; Lähteenmäkï, 2005). Bakhtin, durante o seu exílio numa vila cazaquistã entre abril de 1930 e setembro de 1936, pela sua relação com o trabalho dos linguistas de Leningrado, deve ter tido acesso às publicações deste periódico (Brandist, 2003, 2006b). Além do mais, tanto Yakubinsky como Volochinov trabalharam juntos entre 1930-1931 neste jornal, segundo informa Gulida (2004). O fato é confirmado por Ivanova (2003a) quando afirma que Yakubinsky convidou Volochinov para trabalhar no referido jornal, lembrando que ambos escreveram artigos publicados em uma mesma edição (Ivanova, 2003a; Lähteenmäkï, 2005), como veremos adiante. Consultando os arquivos do Literaturnaia ucheba, encontramos vários artigos de Yakunbisnky e de Volochinov, dos quais destacamos Sobre o estilo não-técnico (Yakubinsky, 1931) e A construção do enunciado ou A estrutura do enunciado (Volochinov, 1931a) e A palavra e sua função social (Volochinov, 1931b).

No terceiro número do Literanurnaia ucheba verificamos a coincidência, numa mesma edição, de um artigo de Volochinov (1931a), A construção do enunciado, e um artigo de Yakubinsky e Ivanov (1931), Do estudo teórico do escritor. Ao realizarmos uma análise do texto de Volochinov (1931a), A construção do enunciado, identificamos ressonâncias diretas com o texto anterior de Yakubinsky, de 1923, Sobre a fala dialógica, as quais apresentamos na Tabela 1.

Embora não seja possível, neste presente trabalho, uma análise detalhada entre os textos de Yakubinsky (1923) Sobre a fala dialógica e de Volochinov (1931a) A construção do enunciado, defendemos a hipótese de que os capítulos do artigo de Volochinov, escrito quase dez anos depois daquele texto de Yakubinsky, trazem temas recorrentes (diálogo, monólogo, dialogismo) que Bakhtin (1929/2004b) incorporou também no seu livro, Marxismo e filosofia da linguagem, tais como: os aspectos do diálogo e do monólogo, os elementos extra-verbais da fala (gestual, entonação), a noção do contexto discursivo (situação), a concepção de entonação verbal, a fala coloquial ou os estereótipos cotidianos da conversação.

O Texto de Yakubinsky de 1923: Sobre a Fala Dialógica

Sobre a fala dialógica foi publicado em 1923 numa seção com 100 páginas dedicadas à análise da diversidade funcional do discurso (Ivanova, 2003b). Embora tenha trazido algumas das ideias de Yakubinsky já tratadas em artigos anteriores, como a perspectiva psicofisiológica sobre a linguagem, neste texto ele muda completamente o foco de sua pesquisa. Com a publicação de Sobre a fala dialógica, o objeto de estudo passou a ser a linguagem cotidiana, a "fala viva". Nele encontram-se ecos da sua formação sob a orientação de Baudouin de Courtenay, que enfatizava o primado da linguagem oral e sua existência a partir da palavra viva do cotidiano (Ivanova, 2003a, 2008, 2009), bem como a influência do seu colega Scherba (1880-1944) que propunha as oposições entre monólogo e diálogo (Friedrich, 2005a) e a concepção de diálogo como forma natural de expressão (Ivanova, 2003b; Romashko, 2000). Scherba editou e publicou o texto de Yakubinsky numa coleção intitulada Linguagem russa (Russkaja rec), realizando o prefácio a esta edição (Archaimbault, 2000). Para Archaimbault (2000), o artigo Sobre a fala dialógica se apresenta como um diálogo entre Yakubinsky e o leitor, similar a um curso ou uma aula lida.

Não possuímos ainda uma tradução completa do artigo de Yakubinsky para o português e não tivemos acesso à tradução alemã completa de Hommel e Meng (Jakubinskij, 1923/2004). Entretanto, acessamos diversas traduções parciais que, juntas, correspondem ao texto completo. Também, utilizamos a versão completa em russo disponível no arquivo eletrônico da Universidade de Lausanne.

A partir do original em russo observamos que o texto de Yakubinsky é constituído de 8 capítulos e 62 parágrafos, como se vê na Tabela 2. Verificamos, assim que Jakubinskij (1923/1977) traduziu os capítulos 2 a 5 para o italiano, Yakubinsky e Eskin (1997) traduziram os capítulos 4, 5, 6 e 8 para o inglês, Archaimbault (2000) e Kyheng (2003) traduziram para o francês os capítulos 1 a 3 e Kyheng (2003) traduziu partes do capítulo 5 e boa parte dos capítulos 6 a 8. Os parágrafos utilizados por Friedrich (2005a) foram tomados da tradução alemã de Hommel e Meng (Jakubinskij, 1923/2004) e traduzidos para o inglês por Sixtus Kage.

O texto Sobre a fala dialógica está baseado numa cuidadosa observação da fala cotidiana, das conversações com pessoas em casa e no trabalho e numa sutil introspecção, sendo, essencialmente, uma descrição dos processos da interação da fala em toda complexidade de categorias (Gulida, 2010). Yakubinsky (1923) as denomina de 'variedades funcionais' ou 'formas composicionais' do discurso, considerando os modos de realização e os limites situacionais, ou contextos. Esta concepção se relaciona, como um esboço, com a discussão de 'gênero' que Bakhtin e Volochinov posteriormente irão desenvolver. Partindo da concepção inicial de que a linguagem é um fenômeno múltiplo e que uma variedade complexa de fatores a determinam, compondo uma diversidade especializada do discurso (Yakubinsky, 1923), aquele texto apresenta questões sobre: como a interação verbal é socialmente organizada e culturalmente compartilhada; como a troca de informação é conduzida e quais fatores determinam sua execução; que características não-verbais de uma sentença são envolvidas em seu entendimento e quais as formas da fala são afetadas pelo estado emocional do falante (Gulida, 2010).

Yakubinsky já inicia seu texto com um subtítulo, Das variedades funcionais da fala, utilizando duas concepções interligadas que vão permear todo este trabalho: a noção de imediato e de percepção. Para ele, sem se levar em conta os vários e complexos fatores determinantes da linguagem "(...) não seria possível estudar a língua como algo dado imediatamente à percepção viva, nem (para) elucidar sua gênese, sua história" (Yakubinsky, 1923, p. 96, grifos nossos). Ele relaciona, portanto, linguagem à percepção e, no parágrafo seguinte, propõe:

A linguagem é um aspecto do comportamento humano. O comportamento humano como uma manifestação do corpo humano é um fato psicológico (biológico) e um fenômeno sociológico como uma manifestação de que depende a vida comum deste organismo com outros organismos, em termos de interação (Yakubinsky, 1923, p. 97, grifos nossos).

Destaquemos vários aspectos dessas primeiras afirmações yakubinskyanas sobre a linguagem, assim relacionados: (1) o comportamento humano; (2) seus aspectos psicofisiológicos; (3) seu caráter social; (4) a interação entre organismos; (5) um ambiente comum (contexto, situação). Tais proposições, embora nem sempre suficientemente aprofundadas ao longo do texto, carregam as sementes que serão desenvolvidas não apenas por Volochinov, mas também por Bakhtin nas suas contribuições ao dialogismo. Estão ainda relacionadas às peças básicas da pragmática discursiva que os conversacionalistas desenvolverão a partir da década de 1960 nos EUA como, por exemplo, Goodwin (1981) e Sacks, Schegloff e Jefferson (1974). Ivanova (2003b), a esse respeito, afirma que Yakubinsky foi o primeiro, na história da linguística, a considerar a questão do 'conhecimento comum partilhado' e o primeiro a aplicar a análise da interação verbal em linguística (Ivanova, 2003b).

Os princípios que o linguista russo apresenta relacionados ao diálogo, fundamentando uma perspectiva dialógica, são identificados por Ivanova: (1) diálogo como uma atividade mútua e interacional; (2) o fenômeno das respostas do outro ante o enunciado; (3) o caráter incompleto da afirmação; (4) o processo simultâneo da fala e da escuta do enunciado. Tais considerações sobre o diálogo são propostas como uma das funcionalidades discursivas do diálogo na condição imediata, considerada a forma natural, contrapondo-se ao monólogo, uma manifestação funcional da linguagem que não é imediata aos interlocutores. Gulida (2010) esquematiza as duas variedades distintas e básicas da fala dialógica que são identificadas por Yakubinsky: de um lado a forma natural da linguagem (diálogo) e do outro a forma artificial da linguagem (monólogo). A tese central do artigo de Yakubinsky (1923) é a naturalidade do diálogo e a artificialidade do monólogo. O diálogo caracteriza-se pela sua imediaticidade (situação atual), pela interação face-a-face, espontânea, rápida, cotidiana, quase automática. O monólogo apresenta-se, por sua vez, como uma interlocução distanciada, não espontânea, necessitando ser mais elaborada tanto na recepção quanto na resposta, considerando-se, sobretudo, a ampliação do espaço e do tempo entre os interlocutores. Como exemplos deste último, temos a carta ou a poesia.

O capítulo 2, Das formas de enunciação oral, é bastante breve, contendo apenas três parágrafos (§14-15), reafirmando alguns aspectos do capítulo anterior e correlacionando as formas imediatas da linguagem (percepção visual e auditiva do falante) à forma imediata das interações humanas (face a face), distinguindo-as das interações não imediatas como a forma escrita do enunciado. Assim, ele associa a forma dialógica à interação imediata e a forma monológica à interação não imediata entre os interlocutores.

Yakubinsky (1923) oferece vários exemplos de expressões dialógicas, como as conversas diretas do cotidiano, e também exemplos de expressões monológicas, como as cartas. Ele observa também os casos em que ocorre uma comunicação de forma imediata, mas imperfeita "quando diante do que é imediatamente percebido, estão ausentes as percepções visuais" (Yakubinsky, 1923, p.117), como é o caso da interação conversacional no escuro, por telefone, atrás das portas fechadas ou entre paredes. E ainda, antecipando os gêneros emergentes na tecnologia digital atual (e-mails, blogs, etc.), Yakubinsky observa os casos da comunicação escrita que apresentam características dialógicas, como nos bilhetes ou pequenos recados que são transmitidos entre participantes de uma reunião: embora escrita (monológica), é também imediata.

O capítulo 3, Da forma direta, traz relações com dois pensadores russos, Volochinov e Vigotski, inclusive com ideias incorporadas ao trabalho deles. Ivanova (2003b) defende a influência da concepção yakubinskiana de diálogo em Marxismo e filosofia da linguagem, de Bakhtin (1929/2004b), como também em Pensamento e linguagem, de Vigotski (1934/2001) em sua análise da 'palavra interior'. Também Bertau (2008), estudando Vigotski, deparou-se, inevitavelmente, com Yakubinsky.

Yakubinsky (1923) afirma neste capítulo que a percepção visual do falante consiste na apreensão de suas expressões da face e gestos corporais que são extensivos à fala, complementando-a. Nesse sentido, ele ainda dirá, neste capítulo 3 do artigo, que "mesmo num diálogo por telefone, quando não há percepção visual do interlocutor, expressões faciais e gestos estão frequentemente presentes" (Yakubinsky, 1923, p. 124). Estes aspectos serão observados a partir da década de 60 pelos conversacionalistas Sacks et al. (1974) nos estudos das interações comunicativas pelo telefone, por exemplo (Schegloff, 1979). Yakubinsky enfatiza a importância dos gestos durante uma conversação admitindo que chegam até mesmo a substituir a expressão verbal, dando 'tom' ou 'temperatura' a um diálogo. Tais observações são também uma breve antecipação dos estudos de Goodwin (1981, 2000, 2003), que, posteriormente, proporá a ideia de configuração contextual num ambiente de situação compartilhada pelos interlocutores.

É no terceiro capítulo que Yakubinsky utiliza um exemplo de Dostoievsky retirado de 'Diário de um escritor' ao relatar a cena dos seis bêbados que conversavam entre si e utilizaram uma mesma palavra com tons diferentes, obtendo-se diferentes significados. Esse mesmo exemplo é utilizado por Bakhtin (1929/2004b) e por Vigotski (1934/2001) para discutir a questão do tom da voz durante a fala num contexto imediato e compartilhado entre os falantes. Bakhtin defende a ideia de "entoação expressiva" determinada pela "situação imediata" (Bakhtin, 1929/2004b, p. 132, grifo nosso) e que estende para uma orientação apreciativa determinada pelo horizonte dos interlocutores "tanto no horizonte imediato como no horizonte social mais amplo de um dado grupo social" (Bakhtin, 1929/2004b, p. 135, grifo nosso). Vigotski, por sua vez, reutiliza o mesmo exemplo dado por Yakubinsky para tratar das abreviações da linguagem falada: "É perfeitamente compreensível que esses dois momentos, que facilitam a abreviação da linguagem falada - o conhecimento do sujeito e a transmissão imediata do pensamento através da entoação - sejam totalmente excluídos pela linguagem escrita" (1934/2001, p. 455, grifo nosso).

Além dos aspectos significativos dados aos gestos, às expressões faciais e ao tom da voz, considerando-se a situação imediata entre os interlocutores, Yakubinsky (1923) ainda introduz outro elemento: o aspecto emocional, que se constitui em uma rica fonte de informação para a comunicação direta. Com respeito aos estados emocionais e, sobretudo, à abreviação no diálogo, pesquisadores contemporâneos como Lyra (2007) e Lyra e Bertau (2008) apresentam contribuições que se relacionam às ideias de Yakubinsky.

O capítulo 4, Sobre a naturalidade do diálogo e sobre a artificialidade do monólogo, Yakubinsky (1923, p. 132) expõe a ideia de Scherba da artificialidade do monólogo e de que "(...) a verdadeira linguagem do ser é encontrada no diálogo". Yakubinsky propõe que, numa perspectiva psicofisiológica decorrente da psicologia de sua época, qualquer enunciado, ao se constituir no campo perceptual do ser humano, provoca uma reação (nossas atitudes, avaliação, etc.) que se exterioriza no discurso. Ele observa que, em uma conferência, mesmo sendo exigido silêncio dos ouvintes, a platéia tende a interromper para perguntas, conversar com alguém ao lado ou mesmo silenciosamente, parecendo conversar consigo mesmo, exibe expressões faciais, movimentos dos lábios, expressando a naturalidade ou espontaneidade do diálogo. Apresenta, então, vários exemplos do cotidiano, como as reuniões administrativas, as palestras, as conferências, ilustrando o diálogo como se constituindo de abreviações de palavras e interrupções contínuas.

Já o monólogo, para Yakubinsky, caracteriza-se por discursos longos, os quais necessitam de uma platéia silenciosa com mínima interrupção, como ocorre em cerimônias oficiais, rituais e/ou manifestações de cunho autoritário. Ele ressalta, mais uma vez, a força natural do diálogo, apontando que, mesmo diante da forma monológica da escrita (um livro, por exemplo), temos a vontade de responder e, devido a isto, fazemos anotações nas margens do texto.

No capítulo 5, Comentários sobre o diálogo em comparação com o monólogo oral e escrito, constituído de cinco parágrafos (§ 30-34), Yakubinsky (1923) apresenta alguns exemplos e características do diálogo: (1) interrupção contínua entre interlocutores; (2) brevidade dos enunciados e (3) abreviação de palavras. A respeito desta última característica, Yakubinsky exemplifica com o enunciado possível entre interlocutores A e B:

A: "Você está indo para uma caminhada?"

B1: "Sim" ('eu vou para uma caminhada')

B2: "Talvez" ('eu vou a pé mesmo').

Há, portanto, diversas possibilidades de resposta, sem que necessariamente o interlocutor B responda completamente utilizando toda a enunciação do interlocutor A. Esse é um exemplo típico da abreviação. Vigotski utiliza vários exemplos semelhantes de diálogo do cotidiano ou da conversa entre os personagens Kitty e Liévin, de um livro de Tolstoi (Anna Karenina), para ilustrar o que ele denomina de 'predicatividade' nas respostas durante uma conversação. Afirmações como "Sim", "Não", "Eu vou" e "Gostei" são predicativas, não necessitando a repetição do enunciado completo que esteve presente na pergunta ou no turno de voz do primeiro interlocutor. Vigotski (1934/2001, p. 447) afirma que esse fenômeno da linguagem ocorre em dois casos, inclusive citando Yakubinsky: "(1) numa situação de resposta e (2) numa situação em que o sujeito do juízo a ser enunciado é de conhecimento antecipado dos interlocutores". Mais adiante, Vigotski (1934/2001, p. 450) informa que "Yakubinsky tem toda razão, porque nos casos dessas abreviações trata-se de uma estrutura sintática original do discurso (...)" caracterizada pela simplicidade da sintaxe, formas condensadas de expressão, número mínimo de palavras, tendendo para a predicatividade do discurso.

O capítulo 6, O momento de apercepção na percepção da fala, é formado de 9 parágrafos (§ 35-43), nos quais Yakubinsky traz termos oriundos da Psicologia de sua época: apercepção e massa aperceptiva. Para Johan Friedrich Herbart (1776-1841) a apercepção é o processo perceptivo de assimilação das novas representações mentais que, ao serem acrescidas ao acervo das ideias já adquiridas, compõem a massa aperceptiva (Cabral & Nick, 2006). O psicólogo Wilhelm Wundt (1832-1920) também insistiu no caráter ativo da apercepção como o ato pelo qual um conteúdo psíquico é levado à compreensão mais clara, conforme afirma Honda (2004). Outros autores como Brandist (2005), Ivanova (2003b, 2009) e Romand e Tchougounnikov (2008) confirmam essa influência de Herbart e de Wundt sobre o linguista russo e a questão da apercepção. Yakubinsky (1923) conceitua massa aperceptiva como a percepção e compreensão do discurso dos outros sendo determinada não apenas por um estímulo verbal externo, mas pela experiência interna e externa anterior e, finalmente, pelo conteúdo mental percebido no momento da percepção.

Ao longo do sexto capítulo, Yakubinsky ilustrará o conceito de massa aperceptiva com diversos exemplos de diálogos abreviadas com recortes das falas de Kitty e Liévin em Anna Karenina, nos quais as reticências ou simplesmente a troca significativa de olhar entre pessoas conhecidas permitem dar continuidade ao diálogo.

Encontramos o paralelo dessa concepção yakubinskyana com o Círculo de Bakhtin em dois trechos de Volochinov e também em Bakhtin quando se referem à noção de apercepção para a compreensão da linguagem. No mesmo capítulo em que faz duas citações a Yakubinsky, Bakhtin (1929/2004b, p. 147) afirma que a pessoa que captura a enunciação de outrem não é um ser mudo, calado, privado da palavra, mas é um ser constituído de palavras interiores: "Toda a sua atividade mental, o que se pode chamar o 'fundo aperceptivo', é mediatizado para ele pelo discurso interior e é por ai que se opera a junção com o discurso apreendido do exterior" (grifos nossos).

Bakhtin (1979/2003, p. 302) afirma, por sua vez, que, ao construir um enunciado, a pessoa o faz de maneira ativa, ao mesmo tempo procurando antecipar o enunciado do outro e essa resposta antecipável exerce, por sua vez, uma ativa influência sobre o enunciado primeiro: "Ao falar, sempre levo em conta o fundo aperceptível da percepção do meu discurso pelo destinatário: até que ponto ele está a par da situação (...)" (grifos nossos).

O capítulo 7, O diálogo e os padrões familiares, é formado de 6 parágrafos (§ 44-49) e traz exemplos das conversações familiares e do cotidiano, ilustrando observações da massa aperceptiva entre pessoas que compartilham um mesmo ambiente (Yakubinsky, 1923). Kyheng (2003) informa que Yakubinsky faz a análise dos pares adjacentes de um diálogo como o fizeram Sacks et al. (1974). Yakubinsky traz a ilustração da piada dos surdos que se encontram no mercado e que revelam as rupturas dos pares conversacionais esperados numa conversação comum. Vigotski (1934/2001) incorpora esse mesmo exemplo da piada dos surdos no capítulo 7 do livro A construção do pensamento e da linguagem.

O capítulo 8, Diálogo e automatismo discursivo, possui 13 parágrafos (§ 50-62), nos quais Yakubinsky traz novas ilustrações de cenas cotidianas para enunciados diversos (falas mordazes e reticentes como também as expressões poéticas), para concluir pelo automatismo da linguagem dialógica: "Quando uma enunciação não exige uma exata e mais demorada atenção de palavras e escolha de palavras, então temos um discurso como que inconsciente e automático" (Yakubinsky, 1923, p. 182) e arremata: "A forma dialógica contribui para o desenrolar do discurso, como resultado de uma atividade automática" (Yakubinsky, 1923, p. 184).

Finalizando seu texto, Yakubinsky (1923) reconhece limitações na sua proposta, concluindo que o diálogo é um fenômeno especial do discurso, já se antecipando às futuras críticas como a de Emerson (2002), quando afirma serem as observações de Yakubinsky um tanto ingênuas.

Considerações Finais

A importância de Yakubinsky tem sido resgatada nos últimos anos e sua contribuição tem sido revista para os estudos da linguagem. No Brasil, Cunha (2005) discutiu Yakubinsky a partir do estudo de Kyheng (2003) e em duas teses acadêmicas (Severo, 2007; Souza, 2002) encontramos referências ao linguista russo, mas é no exterior que encontramos maiores referências a Yakubinsky. Bertau (2007), Bertau e Gonçalves (2007) e Lyra (2007) e, num mesmo volume do International Journal of Dialogical Science, utilizam-no como referência em seus artigos. Na Europa, ele tem sido o objeto de estudo e motivo de traduções do seu texto de 1923 por Archaimbault (2000, 2009), Bertau (2005, 2008), Friedrich (2005b), Jakubinskij (1923/1977), Kyheng (2003). Demais pesquisadores como Alpatov (2004), Brandist (2003, 2006a, 2006b), Brandist e Lähteenmäkï (2010), Gulida (2010), Ivanova (2003a, 2003b, 2008, 2009) e Lähteenmäkï (2005, 2006) têm revisitado a história dos arquivos da linguística soviética, resgatando informações importantes para o reconhecimento da contribuição de Yakubinsky, principalmente no contexto ocidental.

O trabalho pioneiro de Yakubinsky (1923), sobretudo seu texto Sobre a fala dialógica, está inserido no contexto soviético, berço do dialogismo, e exerceu uma influência marcante no Círculo de Bakhtin. Neste artigo tentamos abordar, sobretudo, as aproximações entre ambos. Reconhecemos, todavia, que as considerações mais amplas elaboradas por Volochinov e Bakhtin, tal como pontuamos em alguns trechos, instauram uma ampliação das ideias de Yakubinsky e, também, um distanciamento (Santos, 2010). Enfim, corroboramos o pensamento de Brandist (2006b, p. 83) de que "(...) não devemos nos contentar em concentrar nossas atenções especialmente em Bakhtin. Seu trabalho deve ser tratado como uma contribuição valiosa para um processo dialógico, cuja importância supera, de longe, a de seus próprios escritos".

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Recebido: 13/11/2009

1ª revisão: 08/09/2010

2ª revisão: 16/11/2010

Aceite final: 10/03/2011

Robson Santos de Oliveira é Professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru.

Maria da Conceição Diniz Pereira de Lyra é Professora da Universidade Federal de Pernambuco.

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  • Endereço para correspondência:
    Maria da Conceição Diniz Pereira de Lyra.
    Universidade Federal de Pernambuco.
    Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
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    CEP 50.670-901. Recife-PE, Brasil.
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Ago 2012

    Histórico

    • Recebido
      13 Nov 2009
    • Aceito
      10 Mar 2011
    • Revisado
      16 Nov 2010
    Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Av.Bandeirantes 3900 - Monte Alegre, 14040-901 Ribeirão Preto - São Paulo - Brasil, Tel.: (55 16) 3315-3829 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
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