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O Engajamento Paterno como Fator de Regulação da Agressividade em Pré-Escolares1 1 Artigo derivado da Dissertação de Mestrado da primeira autora, sob orientação da segunda, defendida no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, em 2011.

La Participación del Padre como Factor de Ajuste de la Agresividad en Pre-Escolares

Resumos

Este estudo teve por objetivo investigar o engajamento paterno como fator de regulação da agressividade em crianças de quatro a seis anos de idade. Cinquenta pais responderam a questionários sobre seu engajamento com os filhos e dados sociodemográficos e 26 educadoras responderam questionários acerca do desenvolvimento social das crianças. Foram realizadas análises descritivas e inferenciais. Constatou-se que os pais estão engajados com seus filhos e realizam com maior frequência atividades referentes a suporte emocional, disciplina e jogos físicos. O pai com maior jornada de trabalho é menos engajado e quanto mais ele se dedica aos cuidados básicos e às tarefas de casa, menos os filhos apresentam problemas de externalização. Políticas e programas de apoio ao envolvimento paterno são essenciais para a transformação e consolidação da responsabilidade masculina com relação aos filhos e para a prevenção da agressividade persistente.

envolvimento; paternidade; relações pai-criança; agressividade; pré-escolares


Este estudio tuvo como objetivo investigar la participación de los padres como un factor en la regulación de la agresividad en niños de cuatro a seis años de edad. Cincuenta padres respondieron cuestionarios sobre su relación con sus hijos y datos sociodemográficos; y 26 profesores respondieron cuestionarios sobre el desarrollo social de los niños. Se realizaron analices descriptivo e inferencial con la ayuda del software SPSS. Se encontró que los padres están comprometidos con sus hijos y realizan con más frecuencia actividades relacionadas con apoyo emocional, disciplina y juegos físicos. Los padres con más horas de trabajo son menos comprometidos y, cuanto más se dedican a la atención básica y a las tareas domésticas, menos problemas de externalización tienen sus hijos. Políticas y programas para apoyar la participación de los padres son esenciales para la transformación y consolidación de la responsabilidad masculina respecto a los niños y la prevención de la agresividad persistente.

envolvimiento; paternidad; relaciones padre-niño; agresividad; pre escolares


This study aimed to investigate paternal engagement as a factor related to aggressiveness regulation in four to six year old children. Fifty fathers answered questionnaires regarding their involvement with their children and sociodemographic data and 26 teachers answered questionnaires about the social development of the children. Descriptive and inferential statistical techniques were employed. It was found that the fathers were engaged with their children and more frequently performed activities related to emotional support, discipline and physical games. The fathers with more working hours were less engaged and the more the father involved himself in the basic care and household tasks, the less his child presented externalizing problems. Policies and programs to support paternal involvement are essential for the transformation and consolidation of male responsibility in relation to children and the prevention of persistent aggression.

involvement; fatherhood; father child relations; aggressiveness; preschool students


Estudos longitudinais que acompanharam crianças entre o período pré-escolar e o final da infância e adolescência oferecem evidências consistentes da estabilidade dos indicadores de externalização, tais como agressividade, impulsividade, opositividade e delinquência (Crick et al., 2006Crick, N. R., Ostrov, J. M., Burr, J. E., Cullerton-Sen, C., Jansen-Yeh, E., & Ralston, P. (2006). A longitudinal study of relational and physical aggression in preschool. Journal of Applied Developmental Psychology, 27(3), 254-268. doi:10.1016/j.appdev.2006.02.006
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; Pihlakoski et al., 2006Pihlakoski, L., Sourander, A., Aromaa, M., Rautava, P., Helenius, H., & Sillanpaa, M. (2006). The continuity of psychopathology from early childhood to preadolescence: A prospective cohort study of 3-12 year-old children. European Child & Adolescent Psychiatry, 15(7), 409-417. doi:10.1007/s00787-006-0548-1
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; Roseth, Pellegrini, Bohn, Van Ryzin, & Vance, 2007Roseth, C. J., Pellegrini, A. D., Bohn, C. M., Van Ryzin, M., & Vance, N. (2007). Preschoolers' aggression, affiliation, and social dominance relationships: An observational, longitudinal study. Journal of School Psychology, 45(5), 479-497. doi:10.1016/j.jsp.2007.02.008
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). Logo, crianças com comportamentos agressivos persistentes possuem grandes chances de se tornarem adultos agressivos e antissociais (Côté, Vaillancourt, Barker, Nagin, & Tremblay, 2007Côté, S. M., Vaillancourt, T., Barker, E. D., Nagin, D., & Tremblay, R. E. (2007). The joint development of physical and indirect aggression: Predictors of continuity and change during childhood. Development and Psychopathology, 19(1), 37-55. doi:10.1017/S0954579407070034
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;Gallo & Williams, 2005Gallo, A. E., & Williams, L. C. A. (2005). Adolescentes em conflito com a lei: Uma revisão dos fatores de risco para a conduta infracional. Psicologia: Teoria e Prática, 7(1), 81-95.; Gomide, 2003Gomide, P. I. C. (2003). Estilos parentais e comportamento anti-social. In A. Del Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões conceituais, avaliação e intervenção (pp.21-60). Campinas, SP: Alínea.; Mercer, McMillen, & DeRosier, 2009Mercer, S. H., McMillen, J. S., & DeRosier, M. E. (2009). Predicting change in children's aggression and victimization using classroom-level descriptive norms of aggression and pro-social behavior. Journal of School Psychology, 47(4), 267-289. doi:10.1016/j.jsp.2009.04.001
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; Pacheco, Alvarenga, Reppold, Piccinini, & Hutz, 2005Pacheco, J., Alvarenga, P., Reppold, C., Piccinini, C., & Hutz, C. (2005). Estabilidade do comportamento anti-social na transição da infância para adolescência: Uma perspectiva desenvolvimentista. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(1), 55-61. doi:10.1590/S0102-79722005000100008
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), pois é alta a probabilidade de que se envolvam em uma escalada de comportamentos desviantes como abuso de substâncias psicoativas, atos de violência, conflitos com a lei e delinquência (Tremblay, Gevais, & Petitclerc, 2008Tremblay, R. E., Gervais, J., & Petitclerc, A. (2008). Prévenir la violence par l'apprentissage à la petite enfance. Montréal, Canada: Centre d'Excellence pour le Développement des Jeunes Enfants.).

A noção de que a agressividade persistente na infância pode se transformar em um comportamento violento ao longo do tempo justifica a necessidade de que seja precocemente reconhecida (Dessen & Szelbracikowski, 2006Dessen, M. A., & Szelbracikowski, A. C. (2006). Estabilidades e mudanças em padrões familiares de crianças com problemas de comportamento exteriorizado. Paidéia (Ribeirão Preto), 16(33), 71-80. doi:10.1590/S0103-863X2006000100010
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) e de que, se necesssário, seja realizada uma intervenção o mais cedo possível no sentido de promover a saúde infantil (Pihlakoski et al., 2006Pihlakoski, L., Sourander, A., Aromaa, M., Rautava, P., Helenius, H., & Sillanpaa, M. (2006). The continuity of psychopathology from early childhood to preadolescence: A prospective cohort study of 3-12 year-old children. European Child & Adolescent Psychiatry, 15(7), 409-417. doi:10.1007/s00787-006-0548-1
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). No que se refere especificamente a crianças, ganha cada vez mais força a preocupação em controlar e minimizar o comportamento agressivo com vistas a evitar problemas futuros de comportamento. Tal preocupação é potencializada por resultados de pesquisas que indicam a agressividade como queixa prevalente em escolas e serviços de atendimento infanto-juvenil, principalmente em relação ao sexo masculino (Santos, 2006Santos, P. L. (2006). Problemas de saúde mental de crianças e adolescentes atendidos em um serviço público de psicologia infantil. Psicologia em Estudo, 11(2), 315-321.; Souza & Castro, 2008Souza, M. A., & Castro, R. E. F. (2008). Agressividade infantil no ambiente escolar: Concepções e atitudes do professor. Psicologia em Estudo, 13(4), 837-845. doi:10.1590/S1413-73722008000400022
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).

A agressividade geralmente é vista como uma inadaptação social, embora faça parte, muitas vezes, de um comportamento adaptativo e funcional, não podendo ser considerada, portanto, como um indício de comportamento antissocial (Pellegrini, 2008Perucchi, J., & Beirão, A. M. (2007). Novos arranjos familiares: Paternidade, parentalidade e relações de gênero sob o olhar de mulheres chefes de família. Psicologia Clínica, 19(2), 57-69. doi:10.1590/S0103-56652007000200005
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; Roseth et al., 2007Roseth, C. J., Pellegrini, A. D., Bohn, C. M., Van Ryzin, M., & Vance, N. (2007). Preschoolers' aggression, affiliation, and social dominance relationships: An observational, longitudinal study. Journal of School Psychology, 45(5), 479-497. doi:10.1016/j.jsp.2007.02.008
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). Convém distinguir a agressividade enquanto estado ou potencialidade e o comportamento agressivo objetivamente observável; ou seja, é necessário compreender até que ponto e em quais circunstâncias a agressão é maturativa e adaptativa para o indivíduo. Neste sentido, estudos acerca do desenvolvimento de comportamentos agressivos têm procurado evidenciar a importância da diferenciação entre manifestações agressivas transitórias e manifestações estáveis (Picado & Rose, 2009Picado, J. R., & Rose, T. M. S. (2009). Acompanhamento de pré-escolares agressivos: Adaptação na escola e relação professor-aluno. Psicologia, Ciência e Profissão, 29(1), 132-145. doi:10.1590/S1414-98932009000100011
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).

De acordo com a perspectiva do ciclo vital, toda a criança apresenta comportamento agressivo em uma fase determinada de sua vida e a tendência é de que tal comportamento vá se modificando e diminuindo ao longo do tempo (Bee, 1997). Com a intensificação do processo de individuação, em torno dos dois anos de idade, o sentimento de raiva e a agressividade aumentam em intensidade e frequência motivados pelo conflito entre manter a atenção para si e a necessidade de se tornar independente (Szelbracikowski & Dessen, 2005Szelbracikowski, A., & Dessen, M. A. (2005). Compreendendo a agressão na perspectiva do desenvolvimento humano. In M. A. Dessen & A. L. Costa Junior (Orgs.), A ciência do desenvolvimento humano: Tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 231-248). Porto Alegre, RS: Artmed.). Na maior parte das crianças, o recurso à agressão começa a diminuir a partir do momento em que adquirem certas aptidões, como a capacidade de controlar suas emoções, de se comunicar pela linguagem e de exprimir suas frustrações de maneira mais construtiva (Szelbracikowski & Dessen, 2005Szelbracikowski, A., & Dessen, M. A. (2005). Compreendendo a agressão na perspectiva do desenvolvimento humano. In M. A. Dessen & A. L. Costa Junior (Orgs.), A ciência do desenvolvimento humano: Tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 231-248). Porto Alegre, RS: Artmed.; Tremblay et al., 2008Tremblay, R. E., Gervais, J., & Petitclerc, A. (2008). Prévenir la violence par l'apprentissage à la petite enfance. Montréal, Canada: Centre d'Excellence pour le Développement des Jeunes Enfants.). Contudo, em certos casos, esse processo de modificação e diminuição da agressão não ocorre, de forma que algumas crianças apresentam, de forma consistente e intensa e desde muito novas, condutas agressivas, manifestações desproporcionais de raiva, comportamentos desafiadores e recusa à obediência (Tremblay, 2000Tremblay, R. E. (2000). The development of aggressive behaviour during childhood: What have we learned in the past century? International Journal of Behavioral Development, 24(2), 129-141. doi:10.1080/016502500383232
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).

Problemas de externalização têm sido amplamente investigados na etapa do desenvolvimento que compreende o final da infância e a adolescência. No entanto, apenas nos últimos anos, passou-se a considerar a relevância clínica dos indicadores de externalização apresentados por crianças com menos de seis anos como preditores de possíveis dificuldades futuras (Tremblay, 2000Tremblay, R. E. (2000). The development of aggressive behaviour during childhood: What have we learned in the past century? International Journal of Behavioral Development, 24(2), 129-141. doi:10.1080/016502500383232
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). Os anos pré-escolares constituem-se em um período crucial, durante o qual as crianças aprendem estratégias de substituição à agressão. Entre as idades de dois e seis anos, observa-se o maior declínio de agressão física no desenvolvimento humano (Tremblay, 2000Tremblay, R. E. (2000). The development of aggressive behaviour during childhood: What have we learned in the past century? International Journal of Behavioral Development, 24(2), 129-141. doi:10.1080/016502500383232
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; Tremblay et al., 2008Tremblay, R. E., Gervais, J., & Petitclerc, A. (2008). Prévenir la violence par l'apprentissage à la petite enfance. Montréal, Canada: Centre d'Excellence pour le Développement des Jeunes Enfants.), enquanto há um aumento marcante da competência social (LaFreniere et al., 2002LaFreniere, P., Masataka, N., Butovskaya, M., Chen, Q., Dessen, M. A., Atwanger, K., Schreiner, S., Montirosso, R., & Frigerio, A. (2002). Cross-cultural analysis of social competence and behavior problems in preschoolers. Early Education and Development, 13(2), 201-219. doi:10.1207/s15566935eed1302_6
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; Tremblay, Hartup, & Archer, 2005Tremblay, R. E., Hartup, W. W., & Archer, J. (2005). Developmental origins of aggression. New York, NY: The Guilford Press.).

A partir do entendimento da família como o sistema que mais influencia o desenvolvimento infantil na primeira infância, esta pode ser compreendida tanto como um ambiente que favorece a proteção quanto como um fator de risco para o desenvolvimento de problemas emocionais e comportamentais (Dessen & Braz, 2005Dessen, M. A., & Braz, M. P. (2005). A família e suas inter-relações com o desenvolvimento humano. In M. A. Dessen & A. L. Costa Junior (Orgs.), A ciência do desenvolvimento humano: Tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 113-131). Porto Alegre, RS: Artmed.). O sistema familiar se constitui em um fator protetivo quando os pais são sensíveis, atentos e criadores de um meio estruturante, já que estes estão mais propensos a educar crianças que serão bem adaptadas tanto no plano social quanto no afetivo (Tremblay et al., 2008Tremblay, R. E., Gervais, J., & Petitclerc, A. (2008). Prévenir la violence par l'apprentissage à la petite enfance. Montréal, Canada: Centre d'Excellence pour le Développement des Jeunes Enfants.). Acerca do desenvolvimento social da criança, pesquisas indicam que o pai tem um papel específico, e mais ativo em relação ao papel da mãe, na socialização e no controle da agressividade na fase da primeira infância (Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & Lamb, 2000Cabrera, N. J., Tamis-LeMonda, C. S., Bradley, R. H., Hofferth, S., & Lamb, M. E. (2000). Fatherhood in the twenty-first century. Child Development, 71(1), 127-136. doi:10.1111/1467-8624.00126
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; Paquette, 2004Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47(4), 193-219. doi:10.1159/000078723
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; Paquette, Carbonneau, Dubeau, Bigras, & Tremblay, 2003Paquette, D., Carbonneau, R., Dubeau, D., Bigras, M., & Tremblay, R. E. (2003). Prevalence of father-child rough-and-tumble play and physical aggression in preschool children. European Journal of Psychology of Education, 18(2), 171-189. doi:10.1007/BF03173483
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).

De acordo com a Teoria da Relação de Ativação (Paquette, 2004Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47(4), 193-219. doi:10.1159/000078723
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), as funções paterna e materna são complementares e permitem à criança se desenvolver de forma típica, desenvolvendo, por exemplo, habilidades de competição no contato com o pai e habilidades de cooperação no contato com a mãe. De acordo com esse modelo, é o pai o melhor situado para ensinar os filhos, particularmente os meninos, a socializar (regular) sua agressividade; ou seja, a desenvolver habilidades e confiança em si nas situações de competição, graças à simulação de tomada de risco, à disciplina e às brincadeiras de luta pai-criança (Paquette et al., 2003Paquette, D., Carbonneau, R., Dubeau, D., Bigras, M., & Tremblay, R. E. (2003). Prevalence of father-child rough-and-tumble play and physical aggression in preschool children. European Journal of Psychology of Education, 18(2), 171-189. doi:10.1007/BF03173483
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).

Nesse sentido, o engajamento paterno, este entendido aqui como a interação direta, a acessibilidade e a responsabilidade do pai em relação aos cuidados ao filho (Dubeau, Devault, & Paquette, 2009Dubeau, D., Devault, A., & Paquette, D. (2009). L'engagement paternel, un concept aux multiples facettes. In D. Dubeau, A. Devault, & G. Forget (Eds.), La paternité au XXIesiècle (pp. 71-98). Québec, Canada: Les Presses de l´Université Laval.), parece estar associado a um melhor ajustamento psicossocial na adolescência e na idade adulta (Flouri & Buchanan, 2003Flouri, E., & Buchanan, A. (2003). The role of father involvement in children's later mental health. Journal of Adolescence, 26(1), 63-78. doi:10.1016/S0140-1971(02)00116-1
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). Tais dados são endossados pela pesquisa de Cia e Barham (2009Cia, F., & Barham, E. J. (2009). Envolvimento paterno e desenvolvimento social de crianças iniciando as atividades escolares. Psicologia em Estudo, 14(1), 67-74. doi:10.1590/S1413-73722009000100009
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), a qual demonstrou que o envolvimento mais elevado do pai com seu filho está associado à menor percepção de hiperatividade e de problemas de comportamento exteriorizado na criança em idade escolar. Além das repercussões positivas para as crianças, graus elevados de intensidade e de reciprocidade na interação da díade pai-filho geram maior desenvolvimento também para o pai, já que as díades são sistemas de desenvolvimento recíproco, pois se um dos membros passa por um processo de desenvolvimento, então todos os envolvidos se desenvolvem (Bronfenbrenner, 1996Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: Experimentos naturais e planejados (M. A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed.).

Não obstante o reconhecimento, nas sociedades ocidentais, de que o pai exerce importante papel no desenvolvimento infantil e, mesmo que as transformações pelas quais vem passando o ideal de paternidade tenham aberto caminho para estudos na área (Souza & Benetti, 2009Souza, C. L. C., & Benetti, S. P. C. (2009). Paternidade contemporânea: Levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia (Ribeirão Preto), 19(42), 97-106. doi:10.1590/S0103-863X2009000100012
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), existe a carência de pesquisas que se proponham a investigar em que aspectos específicos do desenvolvimento infantil a figura paterna exerce influência significativa. Ademais, embora alguns estudos indiquem a associação entre o comportamento paterno e a agressividade infantil, ainda não se tem clareza acerca de quais são as atividades nas quais o pai se envolve que de fato auxiliam na regulação do comportamento agressivo dos filhos.

Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar o engajamento paterno como fator de regulação da agressividade em crianças de quatro a seis anos de idade. Hipotetiza-se que filhos de pais mais engajados em seus cuidados sejam menos agressivos na interação com pares, em comparação com filhos de pais menos engajados.

A presente pesquisa está inserida em projeto mais amplo realizado em convênio entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Québec em Montreal (UQÀM) e Universidade de Montreal (UM) intitulado: "A transmissão intergeracional da violência: a relação do conflito conjugal e parental com a agressividade entre pares de crianças de quatro a seis anos de idade". Nesse sentido, utilizou instrumentos e critérios metodológicos pertinentes ao referido projeto.

Método

Este estudo teve delineamento transversal, com natureza exploratória e descritiva. Caracterizou-se como correlacional e optou-se pela abordagem quantitativa de dados, a qual possibilita testar hipóteses estabelecidas previamente, além de oferecer um enfoque mais específico sobre pontos do fenômeno (Sampieri, Collado, & Lucio, 2006Sampieri, R. H., Collado, C. F., & Lucio, P. B. (2006). Metodologia de pesquisa (3a ed.). São Paulo, SP: McGraw Hill.).

Participantes

Participaram do estudo 50 pais (homens) que constituíam famílias biparentais, formadas pelo casal e pelo menos um filho entre quatro e seis anos de idade. O pai, biológico ou não, deveria estar vivendo junto com a mãe da criança focal, biológica ou não, há pelo menos um ano. Foram incluídos na amostra apenas pais que já haviam completado 18 anos quando do nascimento da criança-focal. Participaram também 26 professoras das crianças, pois, segundo Javo, Ronning, Handegard e Rudmin (2009), os professores são considerados melhores informantes que os pais para detectar problemas de atenção e externalização, já que testemunham a relação da criança com seus pares. É importante destacar que algumas professoras responderam por mais de uma criança.

O recrutamento dos participantes aconteceu simultaneamente, entre os meses de junho e agosto de 2010, em treze instituições de educação infantil - sete privadas e seis públicas - de quatro cidades litorâneas do Estado de Santa Catarina. Dentre as cidades participantes, uma delas caracteriza-se por possuir população superior a 420 mil habitantes, outra possui cerca de 210 mil habitantes e as outras duas contam com menos de 180 mil habitantes cada uma (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística {IBGE}, 2010Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo demográfico. Recuperado de http://www.censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa/
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).

Instrumentos

Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados:

Questionário Sociodemográfico: Formulado pelos pesquisadores a fim de caracterizar os participantes e identificar correlações entre as variáveis sociodemográficas, o engajamento do pai e a agressividade infantil.

Questionário de Engajamento Paterno (QEP): Construído pela equipe ProsPère e validado no Canadá. Possibilita a caracterização do envolvimento paterno e é composto por 56 itens que formam sete dimensões: Abertura ao Mundo, Cuidados Básicos, Disciplina, Evocações, Jogos Físicos, Suporte Emocional e Tarefas de Casa. Utiliza uma escala do tipo Likert que vai de "nunca" a "sempre" para avaliar com que freqüência o pai realiza determinadas atividades com seus filhos (Paquette, Bolté, Turcotte, Dubeau, & Bouchard, 2000Jablonski, B. (2010). A divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres no cotidiano do casamento. Psicologia Ciência e Profissão, 30(2), 262-275. doi:10.1590/S1414-98932010000200004
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). O QEP deve ser respondido pelo pai e o Alpha de Cronbach obtido no presente estudo foi de 0,89 evidenciando a confiabilidade do instrumento.

Escala de Comportamento Social do Pré-escolar - Formulário do Professor (PSBS-T): Foi construída por Crick, Casas e Mosher (1997Crick, N. R., Casas, J. F., & Mosher, M. (1997). Relational and overt aggression in preschool. Developmental Psychology, 33(4), 579-588. doi:10.1037/0012-1649.33.4.579
https://doi.org/10.1037/0012-1649.33.4.5...
) para avaliar o comportamento social de pré-escolares. É composta por 25 itens divididos em quatro dimensões: Agressão Relacional, Agressão Física, Comportamentos Pró-sociais e Afeto Depressivo. O instrumento contempla ainda dois itens referentes à aceitação da criança pelos pares em idade pré-escolar: um deles refere-se à aceitação por pares do mesmo sexo e o outro se refere à aceitação por pares do sexo oposto. Utiliza uma escala do tipo Likert de cinco pontos, que varia de 1 (nunca ou quase nunca) até 5 (sempre ou quase sempre). O instrumento deve ser respondido pelo(a) professor(a) da criança-focal e o Alpha de Cronbach obtido no presente estudo foi de 0,72.

Inventário dos Comportamentos de Crianças entre 11/2 - 5 anos - Relatório para Professores (TRF - Teacher Report Form for Ages 11/2 - 5): Compõe o Sistema Achenbach de Avaliação Baseada em Evidências (Sistema Achenbach System of Empirically Based Assessment - ASEBA), o qual se constitui em um conjunto de instrumentos desenvolvidos para avaliação empírica de síndromes diagnósticas que oferecem avaliações padronizadas de diversos aspectos do funcionamento emocional, comportamental e social de crianças e adolescentes. Utilizou-se nesta pesquisa a versão do TRF traduzida para o português pela equipe do Laboratório de Terapia Comportamental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O TRF está organizado em duas escalas totais, a Escala de Internalização e a Escala de Externalização. Nesse estudo, foi utilizada apenas a última escala, a qual é composta por duas subescalas: Problemas de Atenção e Problemas de Agressividade. Os respondentes são orientados a se basear em suas observações sobre a criança nos últimos dois meses para responder a 99 itens usando uma escala que utiliza três variáveis: item falso ou comportamento ausente; item parcialmente verdadeiro ou comportamento às vezes presente; item muito verdadeiro ou comportamento frequentemente verdadeiro. A questão de número 100 os solicita a relatar qualquer outro problema que não foi contemplado pelos demais itens e o Inventário ainda conta com três questões abertas. A avaliação do instrumento oferece também escalas orientadas pelo DSM-IV e os resultados são obtidos em termos de T escore ou escore padrão. Estes escores determinam as categorias: não clínica (abaixo do T escore 65), borderline ou limítrofe (T escore entre 65-70) e clínica (acima do T escore 70), para as escalas comportamentais (Achenbach & Rescorla, 2001Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2001). Manual for the ASEBA school-age forms & profiles. Burlington, VT: University of Vermont/Research Center for Children Youth & Families.). Na versão em português foram mantidos os mesmos pontos de corte (T escore) sugeridos pelo instrumento original. Além disso, os resultados são analisados segundo padronização do teste de acordo com o sexo da criança. O TRF deve ser completado por cuidadores regulares ou professores que interajam com a criança entre 11/2 a 5 anos em grupos de, no mínimo, 4 crianças.

Os instrumentos QEP e PSBS-T, os quais não possuem estudo de validação para o contexto brasileiro, passaram por um processo de avaliação semântica e pelo procedimento de backtranslation de forma que, após efetuadas as modificações indicadas pelos juízes, os instrumentos foram traduzidos novamente para a língua original a fim de verificar a equivalência com a versão em português.

Procedimento

Coleta de dados. As famílias foram recrutadas em 13 instituições de Educação Infantil, sete escolas pertencentes à rede privada de ensino e as demais seis, à rede pública. As entrevistas aconteceram no domicílio das famílias, de forma que o horário para aplicação dos instrumentos era negociado com as mesmas, sempre priorizando sua rotina e disponibilidade de tempo. Em relação à coleta de dados realizada com as professoras, estas foram contatadas somente após a participação do pai da criança.

Análise dos dados. A análise dos dados foi quantitativa por meio de estatísticas descritivas e inferenciais. Os resultados foram tabulados e submetidos a análises formais, com auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 18. Para cálculo dos escores referentes ao instrumento TRF utilizou-se o software Assessment Data Manager (ADM), o qual gera perfis (sob a forma de gráficos) da criança avaliada que situam seus escores em todas as escalas do instrumento preenchido, em relação à amostra normativa (Achenbach & Rescorla, 2001Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2001). Manual for the ASEBA school-age forms & profiles. Burlington, VT: University of Vermont/Research Center for Children Youth & Families.). Com relação à classificação Clínica, Limítrofe e Não Clínica, foram verificadas as porcentagens de crianças que apresentavam tais classificações. Os resultados do TRF oferecidos pelo ADM e obtidos em termos de T escore (escore-padrão) foram analisados com o auxílio do programa SPSS.

Considerações Éticas

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), protocolada sob o número 520/09. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram orientados quanto à participação voluntária e possibilidade de desistência em qualquer etapa da pesquisa.

Resultados

Caracterização Sociodemográfica da Amostra

A idade média dos pais foi de 37,20 anos (DP = 9,39) e a média de anos de escolaridade foi de 11,25 (DP = 3,14). Acerca da renda do pai, esta variou entre 510,00 e 8.000 reais, sendo a média de 2.092,40 reais (DP = 1.360,61). Embora variáveis como renda, escolaridade e idade não tenham sido adotadas como critérios de inclusão ou exclusão, a amostra caracterizou-se pela escolaridade e renda relativamente altas, bem como por pais com mais de 30 anos de idade.

A maioria dos pais (92%) relatou trabalhar fora de casa e possuir jornada de trabalho de até 40 horas semanais (54%), enquanto que 38% afirmaram ter carga horária superior a 40 horas semanais. A maioria dos homens (78%) compunha famílias nucleares com pai e mãe biológicos de todos os filhos. Em relação ao número de filhos, 32% dos participantes afirmaram ter um único filho no momento da coleta de dados enquanto que 68% tinham mais de um filho. No que concerne à criança-focal, a amostra foi formada por 29 meninos (58%) e 21 meninas (42%).

Engajamento Paterno

A média de engajamento geral do pai foi de 4,07 (DP = 0,49) em uma escala que vai de 1 a 5. Ao analisar a participação paterna no que se refere às esferas mais específicas de cuidado (dimensões) pode-se constatar que o pai se envolve com maior frequência com atividades referentes à Suporte Emocional (M = 4,48; DP = 0,44), seguido de Disciplina (M = 4,17; DP = 0,55), Jogos Físicos (M = 3,92; DP = 0,55) e Evocações (M = 3,78; DP = 0,82), do que com atividades que dizem respeito a Cuidados Básicos (M = 3,55; DP = 0,89), Abertura ao Mundo (M = 3,39; DP = 0,66) e Tarefas de Casa (M = 3,10; DP = 0,74).

O alto escore na dimensão Suporte Emocional revela que o pai está envolvido frequentemente com atividades como cuidar da criança, garantir que a casa seja segura, tranquilizar a criança, olhar quando ela brinca na rua, oferecer os primeiros socorros, acalmá-la, consolá-la, dizer à criança que a ama, incentivar e intervir quando ela apresenta alguma dificuldade ou desconforto. A dimensão Disciplina também obteve um escore elevado apontando que o pai privilegia atividades como corrigir comportamentos dos filhos, repreender e punir quando fazem algo de errado. A figura paterna aparece ainda envolvida em Jogos Físicos com a criança, ou seja, o pai costuma se envolver em brincadeiras de lutas, brinca com os filhos nas costas e faz a criança rir.

Não foi possível verificar correlações entre a idade e a escolaridade do pai e seu engajamento com os filhos. Quanto à relação entre engajamento paterno e jornada de trabalho, o teste de Mann-Whitney revelou que o engajamento paterno geral é significativamente maior quando a jornada de trabalho do pai é de até 30 horas (z = 2,78; p < 0,01) em comparação aos pais que trabalham 40 horas ou mais. Assim, quanto menor a jornada de trabalho do pai, mais ele realiza suporte emocional (z = 2,61; p< 0,01), abertura ao mundo (z = 2,58; p < 0,05) e evocações (z = 2,73; p < 0,01).

A análise descritiva mostrou que o engajamento paterno é diferente em função do sexo da criança, pois o pai parece se envolver mais com os filhos (M = 4,15) do que com as filhas (M = 3,95). Entretanto, na comparação das médias por dimensão do engajamento paterno em função do sexo por meio do Teste de Mann-Whitney, a única diferença significativa encontrada foi na dimensão Disciplina, ou seja, os pais disciplinam mais os filhos do sexo masculino (z = 2,12; p < 0,05).

Comportamento Social dos Pré-Escolares

As médias obtidas em cada dimensão do instrumento PSBS-T, em uma escala que vai de 1 a 5, foram as seguintes: Agressão Relacional = 1,98 (DP = 0,71); Agressão Física = 1,67 (DP = 0,76); Comportamento Pró-Social = 4,00 (DP = 0,59); Afeto Depressivo = 1,92 (DP = 0,63); Aceitação pelo Mesmo Sexo = 4,36 (DP = 0,83); Aceitação pelo Sexo Oposto = 4,18 (DP = 0,98).

Quando calculadas em função do sexo da criança, as médias apresentaram pequenas diferenças em relação àquelas supracitadas, de forma que a comparação das médias de meninos e meninas por dimensão do PSBST, usando o Teste de Mann-Whitney, não mostrou diferenças significativas. Por conseguinte, segundo as professoras, meninos e meninas apresentam comportamento semelhante e são pouco agressivos, pois tanto a agressão física quanto a relacional apresentaram escores baixos.

Por meio do instrumento TRF, constatou-se que a média do T escore da escala Problemas Externalizantes foi de 53,02 (DP = 7,56). A média da dimensão Problemas de Atenção foi de 54,98 (DP = 5,94) e a média da dimensão Problemas de Agressividade foi de 55,04 (DP = 5,45). Acerca das escalas orientadas pelo DSM-IV oferecidas pelo instrumento, apenas uma criança, um menino, ficou dentro da faixa clínica na escala Problemas Externalizantes e também na dimensão Problemas de Agressividade. Um menino ficou na categoria limítrofe tanto na escala Problemas Externalizantes quanto nas duas dimensões, Problemas de Agressividade e Problemas de Atenção. Uma menina e dois meninos ficaram na categoria limítrofe em Problemas Externalizantes e na dimensão Problemas de Atenção.

Com o auxílio do Teste de Correlação de Spearman, foi possível averiguar correlações significativas entre quase todas as dimensões dos instrumentos PSBS-T e a escala de externalização do TRF, o que sugere a confiabilidade dos mesmos. Na Tabela 01 estão representados os índices de significância.

Tabela 1
Correlações entre Dimensões do PSBS-T e Dimensões do TRF

Portanto, quanto maior o escore em Problemas Externalizantes, maiores os escores em Agressão Relacional e Agressão Física. Quanto mais elevados os escores em Problemas de Agressividade e Problemas de Atenção, mais a criança demonstrará comportamentos de agressão, física e relacional.Ademais, quanto mais elevados os escores em Problemas Externalizantes e suas duas dimensões, Problemas de Agressividade e Problemas de Atenção, menor será o comportamento pró-social da criança, bem como sua aceitação por pares do mesmo sexo e do sexo oposto.

Relação entre Engajamento Paterno e Comportamento Social da Criança

A Correlação de Spearman entre as dimensões dos instrumentos QEP e TRF revelou algumas correlações estatisticamente significativas, conforme verificado na Tabela 02.

Tabela 2
Correlações entre Dimensões do QEP e Dimensões do TRF

Percebe-se que quanto mais o pai realiza tarefas de casa, menos a criança apresenta problemas de atenção e problemas externalizantes. Ainda, quanto mais o pai realiza os cuidados básicos, menos seu filho apresenta problemas de agressividade e problemas externalizantes.

O teste de correlação entre os instrumentos PSBS-T e QEP indicou que, no que se refere a pré-escolares do sexo masculino, houve correlação negativa estatisticamente significativa entre Agressão Relacional e Cuidados Básicos (p < 0,05) e houve correlação positiva estatisticamente significativa entre a dimensão do PSBS-T Aceitação pelo sexo oposto e engajamento paterno geral (p< 0,05). Portanto, a agressão relacional é maior em crianças do sexo masculino cujos pais se dedicam menos aos seus cuidados básicos. Além disso, quanto maior o engajamento geral do pai, mais o menino é aceito por pares do sexo feminino. No que se refere às meninas, o Teste de Correlação de Spearman apontou correlação negativa significativa apenas entre Jogos Físicos e Comportamento Pró-Social (p < 0,01), ou seja, quanto maior o comportamento pró-social da menina, menos seu pai realiza jogos físicos com ela.

Discussão

Os dados do presente estudo evidenciaram que o pai se mostrou envolvido com seus filhos, visto que o escore de engajamento geral foi alto. Constatou-se que o pai se envolve com maior frequência com atividades referentes a suporte emocional, disciplina e jogos físicos, respectivamente, do que com atividades que envolvam evocações, cuidados básicos, abertura ao mundo e tarefas de casa. Chama a atenção o fato de a dimensão Suporte Emocional ter atingido o escore mais alto, maior inclusive do que a pontuação de engajamento geral, pois se esperava que atividades referentes à disciplina, jogos físicos e abertura ao mundo fossem as mais realizadas pelo pai, como apontam Lamb (1997Lamb, M. E. (Ed.). (1997). The role of the father in child development (3rd ed.). New York, NY: John Wiley & Sons.), Paquette (2004Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47(4), 193-219. doi:10.1159/000078723
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) e Prado, Piovanotti e Vieira (2007Prado, A. B., Piovanotti, M. R. A., & Vieira, M. L. (2007). Concepções de pais e mães sobre comportamento paterno real e ideal. Psicologia em Estudo, 12(1), 41-50. doi:10.1590/S1413-73722007000100006
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).

As transformações pelas quais vem passando a dinâmica familiar, impulsionadas especialmente pelo incremento da participação da mulher no mercado de trabalho, levaram à necessidade de reconfigurações nos papéis parentais, as quais incluem a exigência de um pai mais envolvido nos cuidados dispensados aos filhos (Jablonski, 2010Jablonski, B. (2010). A divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres no cotidiano do casamento. Psicologia Ciência e Profissão, 30(2), 262-275. doi:10.1590/S1414-98932010000200004
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; Perucchi & Beirão, 2007Perucchi, J., & Beirão, A. M. (2007). Novos arranjos familiares: Paternidade, parentalidade e relações de gênero sob o olhar de mulheres chefes de família. Psicologia Clínica, 19(2), 57-69. doi:10.1590/S0103-56652007000200005
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; Staudt & Wagner, 2008Staudt, A. C. P., & Wagner, A. (2008). Paternidade em tempos de mudança. Psicologia: Teoria e Prática, 10(1), 174-185.). Nesse sentido, a constatação de que o pai se envolve mais com atividades referentes a suporte emocional e disciplina demonstra o processo de transição pelo qual passa o exercício da paternidade em que se misturam o modelo do pai tradicional (disciplinador) com outro mais atual que abrange funções afetivas (Freitas et al., 2009Freitas, W. M. F., Silva, A. T. M. C., Coelho, E. A. C., Guedes, R. N., Lucena, K. D. T., & Costa, A. P. T. (2009). Paternidade: Responsabilidade social do homem no papel de provedor. Revista de Saúde Pública, 43(1), 85-90. doi:10.1590/S0034-89102009000100011
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; Staudt & Wagner, 2008Staudt, A. C. P., & Wagner, A. (2008). Paternidade em tempos de mudança. Psicologia: Teoria e Prática, 10(1), 174-185.).

Verificou-se que a jornada de trabalho interfere no engajamento paterno, ou seja, pais que trabalham mais horas se envolvem menos com seus filhos. Tal achado corrobora os resultados das pesquisas de Bronfenbrenner (2005Bronfenbrenner, U. (2005). Making human beings human: Bioecological perspectives on human development. Thousand Oaks, CA: Sage.), Souza e Benetti, (2009Souza, C. L. C., & Benetti, S. P. C. (2009). Paternidade contemporânea: Levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia (Ribeirão Preto), 19(42), 97-106. doi:10.1590/S0103-863X2009000100012
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) e Turcotte e Gaudet (2009Turcotte, G., & Gaudet, J. (2009). Conditions favorables et obstacles à l'engagement paternel: Un bilan des connaissances. In D. Dubeau, A. Devault, & G. Forget (Eds.), La paternité au XXIe siècle(pp. 39-70). Québec, Canada: Les Presses de l`Université Laval.), a partir das quais os autores concluíram que a participação do pai na vida familiar está relacionada ao número de horas que ele permanece em seu emprego e, portanto, o pai precisa de tempo para construir sua paternidade. Desta forma, quanto mais o pai investe tempo e energia em seu trabalho, menos ele se engaja ativamente na vida de seus filhos. Ademais, a constatação de que o trabalho do pai interfere em sua função paterna realça a noção de que nível de engajamento paterno é multideterminado, ou seja, resulta da interação dinâmica de fatores como as características dos contextos social e familiar do pai, características dos filhos e as suas próprias características.

De acordo com a análise descritiva, o pai parece se envolver mais com filhos do que com filhas, o que confirma uma ideia difundida pela literatura (Goldberg, Clark-Stewart, Rice, & Dellis, 2002Goldberg, W. A., Clark-Stewart, K. A., Rice, J. A., & Dellis, E. (2002). Emotional energy as an explanatory construct for fathers' engagement with their infants. Parenting: Science and Practice, 2(4), 379-408. doi:10.1207/S15327922PAR0204_03
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; Pleck, 1997Pleck, J. H. (1997). Paternal involvement: Levels, sources and consequences. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (3rd ed., pp. 66-103). New York, NY: John Wiley & Sons.). Todavia, a diferença entre o engajamento do pai com crianças do sexo masculino e feminino foi estatisticamente significativa apenas no que se refere à dimensão Disciplina, ou seja, o pai investe mais em disciplinar os meninos do que as meninas. A constatação de que o pai se envolve da mesma forma com os filhos, independentemente do sexo da criança, pode ser explicada pela ideia de que as novas gerações de meninas estão mais interessadas, devido à estimulação do meio, em brincadeiras privilegiadas pela figura paterna, as quais objetivam ativar a autonomia e o controle na assunção de riscos na exploração dos ambientes físicos e sociais (Paquette, 2004Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47(4), 193-219. doi:10.1159/000078723
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). Dessa forma, a tendência a uma maior aproximação entre pai e filho em decorrência da identificação sexual seria amenizada pela atitude das meninas no sentido de se interessar por brincadeiras antes mais associadas ao universo masculino.

No que tange ao comportamento social dos pré-escolares, os escores das dimensões Agressão Física e Agressão Relacional foram baixos e, em contrapartida, o escore de comportamento pró-social foi elevado indicando que as crianças foram percebidas como pouco agressivas pelas professoras. Tal fato é apontado como uma das limitações desse estudo, já que as famílias de crianças identificadas como agressivas provavelmente não foram incluídas na pesquisa, pois seus pais ou responsáveis negaram a participação.

Os resultados do presente estudo evidenciaram que há relação entre engajamento paterno e comportamento agressivo de pré-escolares, pois as crianças apresentaram menos problemas de comportamento externalizante quando seus pais participavam das tarefas de casa e se dedicam aos seus cuidados básicos. Em se tratando especificamente de crianças do sexo masculino, quanto mais o pai realizava cuidados básicos, menos seu filho praticava agressão relacional com seus pares. Além disso, quanto maior o engajamento geral do pai, mais aceito era seu filho por pares do sexo feminino.

Conclui-se que o pai que se envolve mais com a vida familiar, realizando mais tarefas de casa e cuidados básicos, é aquele mesmo pai que fica mais tempo com sua criança em função de possuir uma menor jornada de trabalho podendo, portanto, envolver-se mais intensamente com os filhos. A pesquisa de Cia e Barham (2009Cia, F., & Barham, E. J. (2009). Envolvimento paterno e desenvolvimento social de crianças iniciando as atividades escolares. Psicologia em Estudo, 14(1), 67-74. doi:10.1590/S1413-73722009000100009
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) corrobora tais achados, pois aponta correlações estatisticamente significativas entre envolvimento paterno e comportamento externalizante de crianças em idade escolar. Quanto maior a frequência de comunicação entre pai e filho e quanto maior a participação do pai nos cuidados ao filho e nas atividades escolares, culturais e de lazer, maior é o repertório de habilidades sociais e menor é o índice de problemas de comportamento externalizante da criança.

O alto envolvimento do pai com atividades de suporte emocional dos filhos contribui para a construção de um ambiente familiar acolhedor que favorece o comportamento pró-social e a socialização da agressividade, o que pode explicar o baixo escore de comportamentos agressivos apresentados pelas crianças. De acordo com Bohanek, Marin, Fivush e Duke (2006Bohanek, J. G., Marin, K. A., Fivush, R., & Duke, M. P. (2006). Family narrative interaction and children's sense of self. Family Process, 45(1), 39-54. doi:10.1111/j.1545-5300.2006.00079.x
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), um ambiente acolhedor prevê um padrão adequado de comunicação entre pais e filhos, o que por sua vez, auxilia na melhor interação social destes com os pares e na menor probabilidade de apresentarem problemas de comportamento.

Pesquisas ressaltam que o engajamento positivo de ambos os pais pode ser um fator protetivo no sentido da resolução esperada da agressividade da criança (Szelbracikowski & Dessen, 2005Szelbracikowski, A., & Dessen, M. A. (2005). Compreendendo a agressão na perspectiva do desenvolvimento humano. In M. A. Dessen & A. L. Costa Junior (Orgs.), A ciência do desenvolvimento humano: Tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 231-248). Porto Alegre, RS: Artmed.; Tremblay et al., 2008Tremblay, R. E., Gervais, J., & Petitclerc, A. (2008). Prévenir la violence par l'apprentissage à la petite enfance. Montréal, Canada: Centre d'Excellence pour le Développement des Jeunes Enfants.). No que concerne especificamente à figura paterna, este estudo evidenciou que seu envolvimento em atividades referentes aos cuidados básicos da criança e em tarefas de casa repercute no desenvolvimento dos filhos auxiliando-os a modular a agressividade de forma a apresentarem menos problemas de externalização. Ademais, a participação do pai na vida familiar está diretamente associada a sua jornada de trabalho. Portanto, é importante que o pai disponha de tempo para que possa estabelecer relações de qualidade com seus filhos.

Conclusão

Investigações acerca da contribuição do pai em aspectos específicos do desenvolvimento infantil direcionam a atenção para a importância da figura paterna na vida familiar e despertam a sociedade para que inclua o pai em assuntos referentes às crianças. Resultados de estudos acerca do engajamento paterno possibilitam o incremento de políticas públicas de apoio ao seu envolvimento com os filhos e podem embasar propostas de intervenção comunitária no sentido de incentivar a sua participação na rotina familiar e de favorecer a consolidação da responsabilidade masculina com relação aos filhos.

Ressalta-se o reconhecimento de que são inúmeras as variáveis intervenientes quando se pesquisa a relação entre família e desenvolvimento infantil e, portanto, pondera-se que a influência do pai no desenvolvimento da criança deve ser entendida levando em conta as inter-relações dos contextos, das características e do papel ativo da criança em desenvolvimento. Neste sentido, salienta-se a necessidade de ampliar a diversidade de contextos de estudo, assim como a importância de que sejam exploradas outras variáveis que podem interferir no engajamento paterno tais como o relacionamento conjugal, a percepção da esposa sobre o papel paterno e o favorecimento dela com relação à participação do pai nos cuidados à criança.

Estudos longitudinais e com amostras ampliadas seriam indicados para monitorar a influência do engajamento paterno na socialização da agressividade ao longo das diferentes etapas do desenvolvimento infantil. Ademais, recomenda-se a investigação dos fatores que contribuem para a modulação da agressividade em contextos de vulnerabilidade social, em famílias em que não há a presença de uma figura paterna e em famílias biparentais em que o pai é pouco engajado.

Este estudo, que se propôs a focar a díade pai-criança no contexto familiar, evidenciou que o pai contemporâneo está envolvido com suas crianças e que seu envolvimento repercute na modulação da agressividade infantil. Tais achados contribuem para o enriquecimento do corpo de conhecimento acerca da participação efetiva do pai na vida familiar, além de evidenciarem a importância da figura paterna no processo de socialização da criança. A identificação dos tipos de atividades nas quais os pais se envolvem que têm implicações para o desenvolvimento de seus filhos possibilita o delineamento de interações de qualidade na relação pai-criança que contribuam para o desenvolvimento infantil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    07 Dez 2011
  • Revisado
    06 Mar 2012
  • Aceito
    25 Jun 2012
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