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Avaliação e autoavaliação de periódicos científicos

Assessment and self-assessment of scientific journals

Evaluación y auto-evaluación de revistas científicas

Periódicos científicos constituem importantes instrumentos de difusão do conhecimento científico, desenvolvidos em diferentes áreas, sob diferentes escopos e linhas de investigação, com a finalidade de tornar público e criticável o que se produz intelectualmente acerca do se conhece na realidade (Russell, 2001). Por outro lado, esses periódicos são considerados instrumentos políticos, sociais e científicos de avaliação da atividade científica dos pesquisadores, dos programas de pós-graduação, das instituições de formação de pesquisadores e profissionais, da qualidade e disponibilidade dos produtos do conhecimento e, ainda, do grau de desenvolvimento de um país.

Agências e instituições promotoras, reguladoras e mantenedoras das políticas e procedimentos de avaliação de periódicos científicos têm se debruçado acerca dos vários aspectos considerados salientes ao desenvolvimento e consolidação de uma agenda de produção e difusão do conhecimento que represente o cenário atualizado do que ocorre em termos de educação científica no país. Criar critérios e procedimentos visando instalar uma agenda dinâmica e permanente de avaliação da produção científica brasileira, por meio da avaliação das publicações científicas, é um cenário desafiador, de consensos e contradições.

Avaliar periódicos científicos é notoriamente uma tarefa difícil, seja do ponto de vista bibliométrico, da sua qualidade, ou, ainda, de sua relevância em termos de produção e avanço do conhecimento em suas respectivas áreas de abrangência. As várias tentativas de avaliação de periódicos científicos, implementadas especialmente nas duas últimas décadas por diferentes instituições especializadas, têm acentuado o papel das regras de padronização de forma, velocidade do processo de editoração, quantidade de indexações em bases de dados, internacionalização da revista, número de citações dos artigos, fator de impacto da revista e de seus artigos e pontuação da qualidade intrínseca dos artigos por especialistas na área, ou seja, pela revisão de pares, comissões especializadas, editores associados, dentre os principais.

Ao mesmo, tempo, concorrem com a implementação dos métodos mais eficazes e eficientes de racionalização dos sistemas de avaliação dos periódicos científicos variáveis extrínsecas, tais como, importância do periódico na área de conhecimento, qualidade da difusão, prestígio da revista, reputação dos autores e das instituições vinculadas, o que transforma qualquer tentativa de encontrar um padrão único de avaliação de periódicos científicos um empreendimento com pouca chance de sucesso.

Nesse cenário, bem conhecido por editores científicos, um aspecto interessante a se considerar é o processo de autoavaliação de periódicos científicos, ou seja, um conjunto de diretrizes, critérios e procedimentos de análise de pontos fortes e fracos da revista, visando melhorar sistematicamente o seu desempenho, condições de aprimoramento e repercussão da revista na comunidade científica e na população leitora em geral.

Autoavaliação pode ser definida como um processo de autoconhecimento, uma espécie de “conhecer-se a si mesmo”, em termos de potencialidades e limitações (Poon, McNaught, Lam & Kwan, 2009). Autoavaliar pressupõe um processo interativo entre produtores, processos e produtos ou, de forma específica, uma capacidade de apreciar um conjunto de informações em interação, visando compreender as suas características e estimular formas de agir (Tan, 2007). Nesse sentido, a autoavaliação pretende incentivar a crítica reflexiva dos envolvidos no processo de editoração científica, desde a submissão até a publicação de artigos.

Processos de autoavaliação enfatizam o potencial benéfico de dados autocoletados em termos de validade consequencial (Klenowski, 1995), assim como tende a contribuir como uma espécie de feedback sistemático acerca do desempenho das ações e indicadores da revista (McDonald & Boud, 2003). Nesse sentido, é importante conceber processos de autoavaliação em uma perspectiva longitudinal (McVarish & Solloway, 2002), no sentido de torná-la uma estratégia válida e confiável de avaliação ao longo do tempo.

É importante considerar, contudo, que o aparato metodológico de um processo de autoavaliação exige disponibilidade para identificar, reconhecer e refletir criticamente acerca dos dados e informações aferidas e interpretadas, independentemente das expectativas de rendimento e sucesso que se pretende alcançar em termos de resultados e repercussões da revista. A oportunidade de realizar processos de autoavaliação por parte dos periódicos científicos, ainda que não se transforme em um critério-padrão, pode ser uma estratégia importante de desestabilização de uma certa zona de conforto provocada pelas rotinas do processo de editoração e avaliação de periódicos, o que pode ser benéfico em termos de inspiração e envolvimento dos atores envolvidos no aprimoramento da produção e comunicação científicas. Com base nesse pressuposto, a autoavaliação pode ser um aspecto a ser considerado na implementação de uma agenda dinâmica e permanente de avaliação da produção científica brasileira.

Roberto Moraes Cruz
Universidade Federal de Santa Catarina Editor

Referências

  • Klenowski, V. (1995). Student self-evaluation processes in student-centred teaching and learning contexts of Australia and England.Assessment in Education: Principles, Policy & Practice, 2(2), 145–154.
  • McDonald, B., & Boud, D. (2003). The impact of self-assessment on achievement: the effects of self-assessment training on performance in external examinations. Assessment in Education,10(2), 209-220.
  • McVarish, J., & Solloway, S. (2002). Self-evaluation: creating a classroom without unhealthy competitiveness. Educational Forum Spring, 66(3), 253-260.
  • Poon, W. Y., McNaught, C., Lam, P., & Kwan, H. S. (2009). Improving assessment methods in university science education with negotiated self and peer-assessment. Assessment in Education:Principles, Policy & Practice, 16(3), 331-346.
  • Russell, J. M. (2001). Scientific communication at the beginning of the 21st century. International Social Science Journal,53(168), 271-282.
  • Tan, K. (2007). Conceptions of self-assessment: what is needed for long term learning? In D. Boud, & N. Falchikov (Eds.), Rethinking assessment in higher education: learning for the longer term (pp. 114-127). London: Routledge.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2015
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