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A Delimitação da Escuta Psicanalítica com Referências a Aristófanes

Determination of Psychoanalytic listening based on Aristophanes

La Delimitación de la Escucha Psicoanalítica con Referencias a Aristófanes

Resumo

Apresentamos, neste texto, alguns elementos específicos da escuta psicanalítica para caracterizar, segundo modelo estrutural, sua posição a respeito da linguagem. Considerando indicações técnicas em diferentes momentos da obra de Freud e também os aportes de Lacan, descrevemos aspectos fundamentais da escuta clínica, assim como seus princípios linguísticos norteadores. Observamos a importância da reserva do analista - a abstinência de críticas -, avaliamos o papel da temporalidade no uso da língua e as duas figuras retóricas que são representantes fundamentais operadoras do psiquismo. Após esta delimitação, situamos a perspectiva da escuta numa dimensão histórica a partir da qual interrogamos o lugar do saber na maiêutica socrática segundo texto Teeteto de Platão. Posteriormente, abordamos aspectos antigos da escuta a partir das descrições feitas na comédia de Aristófanes, o que nos permite comprovar que elementos fundamentais da maiêutica ainda estão presentes na escuta clínica contemporânea, operando no discurso do analista, como um fator sincrônico possibilitado pela linguagem.

Palavras-chave:
Escuta; Psicanálise; Maiêutica; Atenção Flutuante; Aristófanes

Abstract

This text presents some specific elements of psychoanalytic listening to characterize its position regarding the language according to the structural model. Considering the technical indications at different moments in Freud’s work and in Lacan’s contributions, we describe the fundamental aspects of clinical listening, as well as its guiding linguistic principles. We observe the importance of the analyst’s reserve ─ the abstinence of criticism ─ and evaluated the role of temporality in the use of language and the two rhetorical figures that are fundamental representatives of psychism. After having established this, we situate the perspective of listening in a historical dimension from which we question the role of knowledge in the Socratic maieutic method according to Plato’s Theaetetus text. We then approach old aspects of listening based on descriptions made in Aristophanes’ comedy, which allowed to prove how fundamental elements of maieutics are still present in contemporary clinical listening, operating in the discourse of the analyst as a synchronic factor that was made possible by language.

Keywords:
Listening; Psychoanalysis; Maieutic Method; Suspended Attention; Aristophanes

Resumen

En este texto mostramos algunos elementos específicos de la escucha psicoanalítica para caracterizar, según el modelo estructural, su posición respecto al lenguaje. Considerando las indicaciones técnicas en diferentes momentos de la obra de Freud, y también los aportes de Lacan, describimos sus aspectos fundamentales, destacando la importancia de la reserva del analista y los principios lingüísticos orientadores de la escucha. Observamos la importancia de la reserva del analista - la abstinencia de críticas -, evaluamos el papel de la temporalidad en el uso del lenguaje y las dos figuras retóricas que son representantes fundamentales operadoras del psiquismo. Hecha esta delimitación, situamos la perspectiva de la escucha en una dimensión histórica y desde ella interrogamos el lugar del saber en la mayéutica socrática según la obra Teeteto de Platón. Posteriormente, abordamos los aspectos antiguos de la escucha a partir de las descripciones hechas en la comedia de Aristófanes, lo que nos permite comprobar qué elementos fundamentales de la mayéutica aún están presentes en la escucha clínica contemporánea, operando en el discurso del analista como un factor sincrónico del lenguaje.

Palabras clave:
Escucha; Psicoanálisis; Mayéutica; Atención Flotante; Aristófanes

Introdução

Considerando a situação da psicologia contemporânea, que - desdobrada em múltiplas áreas de conhecimento, seja com fins educativos, sociais ou clínicos - conta com o procedimento de ouvir o semelhante para reconhecê-lo e atingir suas metas, pretendemos questionar qual é a especificidade da escuta psicanalítica, descrever suas caraterísticas e rastrear seus antecedentes. Esta pergunta se torna pertinente pela relevância que a prática vem ganhando nas diversas áreas que possibilitam a presença do analista. O estudo do psiquismo reconhece a escuta como instrumento, e nesta perspectiva nos corresponde interrogar a questão no âmbito científico ou no exercício da profissão. Mais pontualmente, no campo da psicologia clínica, independente do enquadre teórico na qual se baseie, o labor se vincula com o reconhecimento de sofrimentos que têm causas a serem investigadas. De tal modo, seja com o objetivo de coletar dados, diagnosticar e propor um tratamento efetivo, seja para provocar uma fala sem restrições que permita uma análise do sofrimento, ouvir o outro, em sentido amplo do termo, torna-se uma condição prévia ao fazer psicológico. Neste sentido, pretendemos aqui reconhecer - do conjunto de situações na qual ouvir o semelhante se faz necessário - aquilo que se identifica como um traço particular na escuta analítica.

Método

Ao utilizar desde um referencial teórico psicanalítico e orientado pela utilização que Lacan fez do conceito de mito em A relação de objeto (1956/1995Lacan, J. (1995). A relação de objeto (Livro 4). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956)), neste estudo, observamos os procedimentos utilizados para a leitura e agrupamento de dados que encontraram inspiração inicial no modelo estrutural de Claude Lévi-Strauss (1955/1970Lévi-Strauss, C. (1970). Antropologia estrutural. Tempo Brasileiro. (Trabalho original publicado em 1955)). Consideramos esse método conveniente para abordar a hipótese da pertinência de um traço de escuta específica da psicanálise. Reconhecendo sua condição de perpassar o tempo histórico que é coincidente com a sincronia constituinte da língua, autoriza-nos à análise comparativa da escuta como objeto linguístico em diferentes épocas. Estes procedimentos nos permitem - também - indicar no percurso de leitura de textos gregos antigos, ao pé da letra, em que momento surge a posição do sujeito.

Assim como Saussure (1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916)) compôs o conceito de língua discriminando seus elementos constitutivos (fonemas, morfemas, semantemas) para unidades de sentido complexas que abarcam simultaneamente uma temporalidade cronológica e não cronológica, Lévi-Strauss (1955/1970Lévi-Strauss, C. (1970). Antropologia estrutural. Tempo Brasileiro. (Trabalho original publicado em 1955), p. 231) cunhou o termo “mitema”, e nele indicou uma unidade semântica que forma parte da história contada, que se repete e delimita seu valor por oposição das diferenças. Neste sentido Lacan (1956/1995Lacan, J. (1995). A relação de objeto (Livro 4). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956), p. 260) alertou que a formalização do mito isola elementos cujo funcionamento estrutural se repete sendo “comparável - sem, no entanto, lhe ser idêntico - àquele isolado pelo estudo da linguística”. No caso da psicanálise, essas unidades também são reconhecidas como mitemas, sendo adotadas para acompanhar o entendimento do caso clínico do pequeno Hans (Lacan, 1956/1995Lacan, J. (1995). A relação de objeto (Livro 4). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956), p. 262).

Não é nosso propósito situar o método da psicanálise como sendo similar ao estruturalista, somente estamos aproveitando o agrupamento e a diferenciação de elementos para reconhecer dados equivalentes em diferentes tempos.

Observamos - aqui - a escuta que, sem formar parte de um mito, mantém caraterísticas que pretendemos abordar desde sua sincronia, o que nos permitirá indicar como ela se sustenta com similaridades em diferentes períodos históricos, permitindo-nos refletir - inicialmente - a partir do procedimento estrutural. Desde esta perspectiva, começaremos pelos textos de Freud, identificaremos a proposta de Lacan, e chegaremos assim até um discurso imediatamente anterior à filosofia idealista de Platão, com o personagem Sócrates apresentado por Platão e Aristófanes.

Atenção! Sim, mas flutuante

Começamos retomando os textos que prefiguram nosso tema, nos quais encontramos indícios de como Freud acolhia seus pacientes. Ele expôs o que pretendia na primeira parte do capítulo sete do livro A Interpretação dos sonhos, numa descrição da atitude conveniente da escuta proposta para análise. Sua recomendação começa por afastar o intelecto: “trabalhar como uma besta” (Freud, 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. V). Imago (Trabalho original publicado em 1900), p. 554) pela persistência e despreocupação com o resultado. Ou seja, a exposição do material tinha que ser feita considerando qualquer tipo de conexão, sem preocupação pela significação e o sentido que as palavras podiam tomar. Desse modo ficava em suspenso o ato de valorização e, assim, nenhuma parte seria preferível a outra, abstendo-se de críticas por inclinações afetivas ou intelectuais. Ao paciente era dada licença para vagar de um pensamento a outro, passando por representações que podiam ocorrer sem motivo, parecendo involuntárias, dando total liberdade para ligar ideias fortuitas e sem meta alguma. No estilo de fala invocado, a proposição é abandonar as representações psíquicas com finalidade, aquelas que determinam a escolha de termos e construções de sentido, que Freud denominou “representações-meta”, para em seu lugar liberar o impulso sobre todas as outras possíveis ligações, inclusive aquelas que somente teriam relação com o momento presente e seriam projetadas na pessoa que escuta. Naquele tempo, além dos sintomas, também os sonhos foram acolhidos junto às falas que provocavam, como as formações do inconsciente, sem julgamentos, sem preocupação pelos resultados, sem pretensões, abandonando as metas e perambulando pelas ligações. A todo momento seguia o princípio de abster-se de críticas e favorecer à livre associação de ideias.

Essa regra indicada para o paciente pressupõe uma posição de Freud como analista, o que lhe permitiu estender seu ouvido, distanciando-se de significações imediatas e sentidos preconcebidos. Doze anos depois, em seus escritos de índole técnica, encontramos com maior clareza o reconhecimento da escuta que tinha lhe permitido elaborar a proposta de “associação livre de ideias” para invocar a fala incondicionada de seus pacientes. No artigo “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”, diz que seus conselhos se resumem num único preceito para impedir que o psicanalista acrescente “objeções lógicas e afetivas” (Freud, 1912/2006Freud, S. (2006). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago (Trabalho original publicado em 1912), p. 129) que o incitariam a escolher uma parte antes de ter à sua disposição todo o material que o paciente é capaz de oferecer, e, basicamente, suas recomendações situam o analista num estado de reserva.

Interrogando sua disposição para escutar, negligenciou por princípio qualquer modo de registro imediato que retivesse alguns ditos do paciente, e isto em favor de soltar suas ocorrências que, confiava ele, acompanhariam as associações livres. Aquilo a que Freud deu maior importância não era possível de expressar em termos de atenção focalizada, mas também sua escuta no podia ficar rejeitando todos os sentidos. Expressou esta oposição por oxímoro: “atenção flutuante”, ressaltando por um lado a atenção que apropriadamente é a concentração dos recursos psíquicos sobre alguma representação, e, por outro lado, sua flutuação, a descontração e a labilidade que permitem o deslizamento de nexo em nexo pelas correntes significantes. Em outros termos, sua vontade de atender o deslocamento foi crucial para o achado da técnica.

Das advertências que fez para quem pretende dedicar-se à análise, uma diz respeito à vontade de curar, considerando esse sentimento o mais perigoso (Freud, 1912/2006Freud, S. (2006). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago (Trabalho original publicado em 1912), p. 128). Advertiu seus colegas sobre a tendência subjetiva que faz ouvir preferentemente o que aparece em torno do mal-estar do paciente e a urgência que nasce em nós quando queremos aliviar a dor do próximo, mas essa tendência, longe de colaborar para a análise, acaba entorpecendo porque age como crítica, como argumento para a resistência do ouvinte, centralizando a atenção sobre uns poucos signos destacados pelo desafeto. Em outros termos, o furor por sarar, por fazer bem, faria escolher o que julgamos mais próximo da solução, sem dar espaço às reviravoltas e mudanças que foram as condições das produções sintomáticas que utilizaram ora uma coisa, ora outra, condensando o divergente na complexidade do sofrimento.

A segunda advertência para viabilizar a escuta é sobre a pretensão educativa (Freud, 1912/2006Freud, S. (2006). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago (Trabalho original publicado em 1912), p. 132). Lembrando que uma análise supõe em quem escuta um saber a mais, o paciente pode solicitar explicações, conselhos, indicações, demandar com direito, na relação profissional, uma resposta conclusiva para seu problema. Por nossa parte também podemos sentir vontade de expor os nossos recursos intelectuais e conhecimentos para dar um bom caminho a seguir, explicando possíveis causas, justificando a chegada dos sofrimentos e até oferecer soluções possíveis. Mais ainda, recomenda a reserva para não impor nem propor seus valores pessoais, crenças, preconceitos, como o bom caminho. A vontade de educar é perigosa, assim como a de curar, até porque sempre está pronta a aparecer em novos ninhos morais.

Quando chegou a hora de Freud caracterizar o oficio de analista, o indicado para seu modo de escuta era não submeter os casos a reflexões teóricas enquanto aconteciam. Ainda ele preferiu oscilar, indo de uma atitude mental sintetizadora de processos psíquicos (Freud 1912/2006Freud, S. (2006). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago (Trabalho original publicado em 1912), p. 128) a uma outra, de decomposição e análise. Esse movimento oscilante permite um controle conceitual e abstrato daquilo que compõe uma condição psíquica.

O que o analista deve para si e para o paciente: “Ele deve simplesmente escutar, e não se preocupar se está se lembrando de alguma coisa” (Freud 1912/2006Freud, S. (2006). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago (Trabalho original publicado em 1912), p. 126). A reserva de opinião implica, para Freud, um exercício de suspensão das críticas e dos valores pessoais e permite ao mesmo tempo a valorização das conexões entre ideias, desconsiderando tanto quanto seja possível suas próprias associações.

Escutar a letra

Essas primeiras descrições da técnica psicanalítica encontraram apoio na linguística, quando Jacques Lacan, em A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud (Lacan, 1957/1995Lacan, J. (1995). A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In J. Lacan, Escritos (pp. 496-533). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1957)), situou com precisão conceitual as condições de uma escuta. Assim, destacou, a partir dos exemplos de Freud, o que vinha perfilando realizar-se ao pé da letra. Para oportunizar um encontro clínico são prolíferas as noções derivadas do estudo da linguagem e, nesse aspecto, é necessário ter como princípio a noção de língua como aquilo que existe da linguagem para além do momento da fala. É determinante para a posição do analista que se abra a escuta a termos imprevisíveis.

Lacan valeu-se do conceito de língua de Saussure, em primeiro lugar, por indicar essa parte da linguagem que encontramos numa comunidade como um fato já dado no qual o sujeito se inclui passivamente. A língua é um sistema composto de palavras herdado das gerações anteriores, cujos valores funcionam como num contrato preestabelecido, adquirindo assim uma face individual e outra social no uso. As palavras que potencialmente temos e as que utilizamos compõem a singularidade do falante, incrementam seu estilo, mas também são supostas e corroboradas pelos outros membros de uma comunidade, de modo que quando escutamos alguém falar, sem desatender as palavras ouvidas, podemos também considerar que existem componentes da língua que permanecem latentes. Nesse sentido podemos distinguir que a linguagem tem por uma parte a fala com a qual se expressa e por outra parte um rico “tesouro” (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 172) de significantes disponíveis que um enunciado não mostra na hora, mas, como valores diferentes, sustentam in absentia os significantes que, sim, aparecem. O atender de modo flutuante considera ao mesmo tempo estas duas condições, soltando a abertura da escuta, que estaria dada quando resulta, nos termos de Saussure, na língua como presença da “linguagem menos a fala” (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 117).

Escutar na temporalidade da linguagem

O que escutamos, em termos de Lacan, são significantes, palavras ou grupos de palavras ordenados numa linha temporal em que a fala se desenrola num tempo linear e cronológico. Essa temporalidade permite organizar uma cadeia significante e reconhecemos nela a diacronia (palavra composta por “dia”, que indica fragmentação, e “Cronos”, que é o tempo eterno). Quando uma frase começa se articulam os sons e os silêncios, respeitando uma ordem de posições das palavras, e sabemos que esta organização já está pautada pela gramática da língua. Este aspecto é reconhecido como o caráter linear de uma cadeia de significantes. Mas a língua deixa virtualmente todas as palavras à disposição, o que nos permitirá ainda distinguir uma segunda abertura da escuta, como consequência do caráter atemporal da língua: a sincronia (em grego, “sun” é junção, do tempo eterno) pela qual permanece suspenso o tesouro dos significantes. Assim, compondo com palavras na linha da fala, a atenção pretende uma antecipação do sentido que nos mantém na expectativa do que está sendo dito (avant cup) e uma significação que só se consegue posteriormente (après cup).

Relações entre palavras

O dualismo temporal indicado nos permite ainda descompor o que sucede na fala quando diacronicamente se realizam operações psíquicas distintas, uma de seleção e outra de combinação de significantes. Equivale a dizer, na operação de seleção, que a escolha das palavras que proferimos implicou enlaces em que a posição das palavras será mais ou menos determinada e nunca situada arbitrariamente, e esta operação é possível por uma dimensão sintagmática (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 172). Por exemplo: Dizemos “o cachorro bravo” e não “bravo cachorro o”, ou seja, a ordem é relativamente flexível e podemos antecipar um adjetivo a um substantivo, mas não um substantivo ao artigo, e quando a ordem é alterada fora do normatizado, uma suspensão do entendimento emerge como equívoco.

Por outro lado, constatamos que o falante terá uma série de possibilidades de escolha na hora de selecionar um termo para construir alguma frase, e surgirão palavras como sinônimos do tesouro sempre disponível. Neste aspecto reconhecemos a dimensão associativa (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 174), a que se estende como uma rede feita de termos, que pode estar tecida pela sonoridade, pela significação, pela família de palavras, ou tantos laços associativos que podem ser nomeados por tipos de semelhanças.

Quem fala regularmente mantém sua atenção para se equilibrar no desfiladeiro do significante, e, ao menos enquanto fala, mesmo que operando com a rede de modo dinâmico, sustenta-se num sentido do qual é responsável pela coerência gramatical. Já quem escuta, diferente do falante, segue a linha temporal do significante e também se suspende voluntariamente em mais de uma dimensão dessa rede. Nesse sentido um bom ouvinte aspira entregar-se à sincronia quando pretende aumentar a abertura à rede de paradigmas, ainda que fique atendendo a linha do sintagma. Ao escutar atendemos naturalmente às leis da gramática e nos advertimos que as alterações podem indicar alguma desordem, por outro lado valorizamos os ditos numa abertura a diversas significações, e a insistência dos fonemas são indicativos tão importantes como as palavras formadas. Assim, enquanto a fala é um exercício individual da língua (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 45), a escuta, por ficar sempre à espera do outro, pressupõe dependência, é participativa partindo do princípio de situar-se no tempo do outro e secundária no processo de operação da linguagem.

Quando Lacan retomou de Saussure o signo linguístico bipartido, reformulou-o representando S/s, e nessa proposta traz para a psicanálise a formalização da qual Freud tinha se aproximado com sua metapsicologia ao distinguir a representação-coisa da representação-palavra (Freud, 1915/2006Freud, S. (2006). Artigos sobre a metapsicologia. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XIV). Imago (Trabalho original publicado em 1915), p. 206), no entanto o interesse da fórmula lacaniana está na neutralidade que evoca produzindo consequências clínicas. O significante em Lacan se distingue do proposto por Saussure, como o observaram Vicenzi (2009Vicenzi, E. (2009). Psicanálise e linguística estrutural: as relações entre as concepções de linguagem e de significação de Saussure e Lacan. Ágora, 12(1), 27-40. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982009000100002
https://doi.org/10.1590/S1516-1498200900...
) e Arrivé (2001Arrivé, M. (2001). Linguística e psicanálise. Edusp. (Trabalho original publicado em 1986)), autores que abordaram a relação entre o signo para a linguística e o significante para a psicanálise. Na proposta original de signo linguístico, foram estimadas suas duas caras, significado e significante, como as páginas de uma folha (Saussure, 1916/2014Saussure, F. (2014). Curso de linguística geral. Pensamento Cultrix. (Trabalho original publicado em 1916), p. 159), considerando-as como uma unidade na qual ambas faces participam do mesmo valor. Já Lacan desenha o significante sobre o significado ressaltando a separação por uma barra resistente à significação, e distingue duas ordens na qual o significado se desliza por baixo do significante, indicando a primazia deste com o S maiúsculo, aí onde a escuta se materializa no som.

Após a metáfora, escutar o desejo

Quando Freud estudou o psiquismo pelas manifestações da clínica, deparou-se com o relato do sonho e o considerou um ato psíquico com um sistema implícito trabalhando para sua formação (Freud, 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. V). Imago (Trabalho original publicado em 1900), p. 56). Por essa via régia para o estudo do inconsciente deveu considerar uma nova normativa subvertendo a gramática. As leis da lógica tradicional que sustentam o conhecimento foram um limite para prosseguir o entendimento, e a formação de sonhos como a dos sintomas era um enigma ao qual precisava responder. Nesse contexto a cena do sonho, composta por imagens e palavras que se misturam - “um barco no telhado, […] uma letra solta do alfabeto… um homem correndo, com a cabeça misteriosamente desaparecida (Freud, 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. V). Imago (Trabalho original publicado em 1900), p. 303) -, se apresentou para ele como uma formação pictográfica, meio palavra, meio imagem de coisa. A desfiguração tinha princípios, sendo estes a condensação e o deslocamento. Como as partículas de água se condensam nas nuvens antes da precipitação, também as representações psíquicas são plausíveis de tal junção, resultando na elaboração onírica como “uma massa dessas estruturas compostas” (Freud 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. V). Imago (Trabalho original publicado em 1900), p. 350).

Para que uma condensação seja possível, temos um movimento de intensidade que permite inicialmente a desfiguração, e logo estas representações se agrupam, configurando novas figuras compostas. Neste sentido, toda condensação implica previamente um deslocamento da magnitude das partes. O deslocamento é proposto por Freud como um processo parcial e anterior à condensação, em que se “despoja os elementos com alto valor psíquico de sua intensidade, […] e cria a partir de elementos de baixo valor psíquico, novos valores. […] assim sendo ocorrem uma transferência e deslocamento de intensidades psíquicas” (Freud, 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. V). Imago (Trabalho original publicado em 1900), p. 333, grifo do autor).

Da forma como Freud utilizou algumas imagens para figurar o psiquismo, também o linguista russo Roman Jakobson no capítulo “Dois aspectos da linguagem, dois tipos de afasia”, do livro Linguística e Comunicação (1935/1969Jakobson, R. (1969). Linguística e comunicação. Cultrix (Trabalho original publicado em 1935)), ao estudar as anomalias da fala, identificou que estas podem se diferenciar por classes de deficiências, correspondendo a dois polos da linguagem. Sendo um destes polos de seleção e outro de combinação, nomeou-os respectivamente de metonímico e metafórico.

Num enlace equivalente ao de Freud e ao de Jakobson, ao escutar desejos divergentes numa superposição de significantes, Lacan reconheceu a possibilidade de equivalência entre a formação de sintoma e a produção de uma metáfora, e para exemplificar nos apresenta: “O amor é um seixo rindo ao sol” (Lacan, 1957/1995Lacan, J. (1995). A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In J. Lacan, Escritos (pp. 496-533). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1957), p. 512), como metáfora do altruísmo narcísico. No instante em que aparece a centelha criadora ou a instalação de um sintoma, um significante irrompe no lugar de outro, no lugar daquele que não aparece na cadeia significante, e traz para quem escuta a interrogação que, na clínica, será reposicionada para o paciente desde o discurso do analista. A propriedade comutativa presente na linguagem é a que opera na hora da seleção ou troca de uma palavra e, sendo o sujeito afetado por diversas cadeias significantes, pode acontecer o momento de invenção como um múltiplo cruzamento numa vaga significante. Lacan assim nos indicou no instante poético a precipitação de sentido que se produz no não senso (ou no mínimo como suspenção de sentido), pela transposição da barra do signo, quando o novo significante se carrega de valor.

A outra figura retórica que apresenta uma ordem psíquica nas formulações de Jakobson e Lacan é a metonímia. A figura que toma uma parte, uma porção, algo com o qual se pode dar continuidade e passagem de uma ideia a outra e assim produzir um deslocamento de sentido. Quando dizemos “tomamos uma garrafa” não duvidamos que o bebido foi o conteúdo, a “quantidade” de conteúdo fica indicada metonimicamente na expressão. Observamos que na expressão tem ênfase um deslocamento como conexão e não substituição. Na medida em que se produz mudança por esta conexão de um significante com outro significante, o que chega mostrando uma modificação, opera tomando a parte pelo todo, sendo a supressão de uma dessas partes que produz o efeito de continuidade da falta. A diferença da metáfora com a metonímia está em que esta se dá por conexão de palavra a palavra, e não por permutabilidade, enquanto a metáfora, em lugar de continuidade, atravessa a barra e se enche de sentido pelo próprio efeito de substituição.

Prestando atenção nas figuras retóricas comprovamos que correspondem a formações do inconsciente e, muitos dos instantes criativos, patológicos ou não, operam por substituição. Deste modo, chistes, sintomas, sonhos, equívocos podem ser escutados além da surpresa imediata que provocam, com a condição de que se reconheça neles a propriedade de estarem constituídos por cadeias associativas que trabalham engenhosamente no decorrer de uma enunciação. Estas cadeias se formam por ligação, de significante a significante, e nessa corrente ilimitada podemos calcular que uma falta constitutiva garante o movimento. Enquanto está disposto o analista a escutar o desejo pela via metonímica, que insiste em apresentar a cada momento que o objeto faz causa, um movimento, a figura retórica varia e relança o sujeito ao polo oposto, balançando das explicações ilimitadas sobre o sintoma ao sofrimento enigmático que resiste às explicações.

Identificar quem escuta

Para favorecer a ação da escuta, em O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, Lacan situou a formação do analista num ideal no qual o ego estaria ausente, virtualmente ausente, porque não existe sujeito sem ego, porém ele visava obter da análise um sujeito afetado do outro lado do muro imaginário da linguagem (Lacan, 1955/2010Lacan, J. (2010). O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (Livro 2). Zahar. (Trabalho original publicado em 1955), p. 334). A presença do analista se dá inicialmente, desde que ele forma parte da comunidade dos falantes, está na linguagem, mas sendo seu ego favorável a uma condição de ausência, possibilita não agir especularmente, mas como um espelho vazio. Quanto mais o analista sustentar sua escuta, aceitando acolher esse vazio de sentido, abstendo-se de entender, mais a fala terá o ritmo e os percursos dos desejos de quem associa livremente. Essa atitude reservada do analista também é índice do seu desejo de acompanhar pelas vias dos significantes o movimento que interroga o sintoma ou outras formações enigmáticas que demandem uma análise.

Comportando-se diferente do erudito que sabe sobre determinado tema e se encontra no direito de interrogar, o analista manteria uma relação estável nesse processo de comunicação sem exibir conhecimentos nem tentar cercar a verdade com inquéritos, sua essência teoricamente estaria num discurso sem palavras. Em O avesso da psicanálise, trata-se de garantir com presença (Lacan, 1969/2007Lacan, J. (2007). O avesso da psicanálise (Livro 17). Zahar (Trabalho original publicado em 1969), p. 11) um modo de sustentar os significantes por vir, a partir de uma estrutura prévia, num discurso sem palavras que se monta no desejo, indicando seu movimento.

Distinguimos numa primeira perspectiva imaginária o paradoxo de identificar o analista pelo apagamento de seu Eu. Mas além disso, escutamos também que operam os dois polos no psiquismo, o metafórico que condensa o sentido do sintoma e o metonímico que permite o movimento. A flutuação da atenção de quem escuta o desejo na borda do desfiladeiro do significante não pousa num significado por estar advertido da armadilha da verdade. O que o analista teria para dar “é nada mais do que seu desejo, como o analisado, com a diferença que é um desejo prevenido” (Lacan, 1960/2003Lacan, J. (2003). A ética da psicanálise (Livro 7). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960), p. 353) de que não adianta se deter para avaliar intelectualmente, na hora da escuta, as cadeias associativas que está percorrendo o falante, mas acompanha ora uma, ora outra, com impasses e ziguezagues, porque a análise pousa sua técnica no movimento: “É a mudança como tal. Insisto, essa relação propriamente metonímica de um significante ao outro que chamamos desejo, não é o novo objeto, nem o objeto anterior, é a própria mudança de objeto em si” (Lacan, 1960/2003Lacan, J. (2003). A ética da psicanálise (Livro 7). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960), p. 344). O segundo aspecto é indicado na repetição do significante, sua sonoridade marca a perspectiva simbólica da escuta, já que depende de valores a serem escutados. A mínima diferença importa, mas para se dar conta deve o entendimento ceder espaço à escuta, assim um traço particular da escuta psicanalítica vai se ligando ao som, à materialidade da língua.

A escuta na antiguidade

Nas vias de delimitar elementos para a identificação da escuta chegamos à primazia do significante e à metonímia como figura do desejo. Acompanhando indicações clássicas sabemos que a interrogação aberta sobre o desejo é antiga, pois no texto O Banquete, de Platão, Lacan encontrou uma articulação original para vincular o laço sentimental amoroso estabelecido na clínica e o sinal de desejo que dá mobilidade à relação do analista e seu paciente, chegando assim a ler no personagem Sócrates um modo de agir em laço de amor, articulado pelo desejo. A função de Sócrates, indica Lacan, foi ter concebido o lugar do desejo, a partir dessa revelação até Freud, […] o desejo se manteve, durante um número respeitável de séculos, como uma função pela metade, a três quartos ou quatro quintos, ocultada na história do conhecimento” (Lacan, 1961/2010Lacan, J. (2010). A transferência (Livro 7). Zahar. (Trabalho original publicado em 1961), p. 157). Resgatando assim a dimensão do desejo no amor, que permanecia eclipsada numa figura agalmata, recuperando a importância do desejo, a dimensão de sua escuta também pode ser observada.

Do mesmo modo que acontece com o analista, em torno das descrições do fazer de Sócrates se encontra um tipo de escuta (akousmatos) com caraterísticas particulares. Utilizamos dois textos antigos que nos permitem conhecer o modo socrático: um é o Teeteto, também escrito por Platão (1990Platão. (1990). Teeteto. (M. Balasch, Trad.). Anthropos.), porque nele o tipo de procedimento dialógico que se descreve é o maiêutico que revela o lugar de Sócrates no discurso; e o outro é: As nuvens, de Aristófanes (1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural.), que apresenta as dicas para falar de modo conveniente ao exercício do maiêutico.

Para delimitar o contexto indicamos que nessa obra de Platão participam três personagens principais que orientam o diálogo, são eles: Teodoro, Teeteto e Sócrates. Inicialmente conversam os dois mais velhos, Sócrates e Teodoro, este último é o professor de matemáticas do jovem Teeteto. Eles chamam o rapaz a se aproximar e dialogar para assim reconhecer certa semelhança física ou intelectual que poderia existir entre o jovem e Sócrates, e nesse processo de reconhecimento buscam uma definição para a palavra “episteme”. Quem tem por oficio ensinar bem seu discípulo e, portanto, é mais propenso a mostrar-se portador de um saber, é Teodoro. Sócrates joga uma provocação às bases dessa relação quando diz que se Teeteto consegue responder de modo verdadeiro às questões mais complexas se tornará um sábio, e como tal dominará e mandará nos outros. Ante isso Teeteto se angustia, mas, pelas garantias da companhia de Sócrates, continua falando.

Num momento do diálogo Teodoro também é interrogado, mas ele não quer se submeter às questões que surgem na conversa, argumentando que é velho para esses exercícios intelectuais. Apesar das resistências colocadas, posteriormente, sim, irá se prestar para analisar o valor das sentenças do seu mestre, Protágoras, autor de um livro intitulado A verdade. Nesse contexto de sábios com verdades, lembra Sócrates, a condição de desamparo e a dependência prevalecem, quando há uma crise na guerra, uma tempestade do mar, uma epidemia de doença, circunstâncias em que sempre se buscam mestres ou chefes a quem se entregar na expectativa de que com sabedoria solucione os impasses e dificuldades. Sócrates interroga de modo a colocar alguma dúvida sobre esses domínios de verdades e indiretamente também interroga a quem situamos no lugar de sábio.

Ainda como no lado oposto da moeda, no que corresponde a ele mesmo, Sócrates, para operar com os pensamentos dos outros, mostra sua técnica sem apropriação de saber nem de opinião. Relata que tal arte lhe vem por herança da mãe, Fenarete, uma famosa parteira (maias) de Atenas, e como sucede com as parteiras que somente exercem seu oficio quando já não podem mais ter filhos e a inveja não conta, acontece o mesmo com ele (Platão, 1990Platão. (1990). Teeteto. (M. Balasch, Trad.). Anthropos., p. 86, Tee 150 c, d)1 1 Para as referências que indicam a localização de parágrafos ou termos do grego antigo nas obras de Platão e de Aristófanes, acrescentamos a numeração canônica, que permite conferir o texto grego original assim como diversas traduções. . A condição prévia para acompanhar os outros, com sua técnica de maiêutico, é ele mesmo não ter nada a dizer, nem tem o que falar por si mesmo, pois assim como as parteiras que não podem mais ter filhos, ele também não tem saber. Os atenienses lhe criticam porque está sempre interrogando os outros, sem dar ele mesmo uma resposta sobre nada. Reprocham-lhe justamente porque ele não sabe o que dizer. A causa dessa privação está no deus que o força (anagkaxo = por força, por necessidade lógica) a esta técnica, impedindo-lhe que ele mesmo produza algo. Ele não possui um saber, nem um dom, nem um produto que tenha saído de seu psiquismo. Dele mesmo nunca ninguém tem aprendido algo. Estes depoimentos nos levam a pensar que a essência da maiêutica é um discurso sem palavras próprias.

Ao contrário, observamos que Platão apresenta as coisas de modo que o jovem Teeteto responde a Sócrates o que ele questiona. As perguntas de Sócrates trazem prontos os argumentos a serem avaliados, ficando por optar se certos ou não, que é só o que resta a Teeteto com suas participações, ou seja, um modesto acompanhamento, porque as perguntas estão carregadas de ideias e direcionadas à busca por avaliar conhecimentos. Assim Sócrates interroga sobre variados temas: a memória, a experiência, a percepção, o psiquismo, a diferença na linguagem e muitos outros assuntos hoje considerados psicológicos. São as questões de Sócrates que compõem o diálogo, refutando ideias e construindo pressupostos.

Temos então duas caracterizações, um argumento em que Sócrates descreve seu discurso, análogo ao oficio das parteiras, no qual afirma que não interfere no que seu interlocutor quer procurar. Mas, por outro lado vemos que Platão também descreve essas conversações maiêuticas com uma participação de Sócrates massiva, num direcionamento do diálogo à verdade e, nesse sentido, a maiêutica seria a simulação de uma ignorância, um desenrolar de argumentos com um fim previamente suposto. É então quando encontramos uma antinomia, mesmo dando espaço ao outro, que estaria sendo regulada a posição de domínio, como o Mestre que se faz de vácuo para encher de sentido um diálogo que se esvaziará nas suas contradições. Entre diversos textos, Platão, aluno de Sócrates, se manteve como discípulo ao descrever seus conhecimentos adquiridos, deixando Sócrates em posse de um domínio, velando os aspectos técnicos de sua relação equívoca com a verdade.

Para tomar distância e tirar maior proveito desse clássico paradoxo da história da filosofia (Magalhanes-Vilhena, 1952/1984Magalhanes-Vilhena. (1984). O problema Sócrates. Calouste Gulbenkian. (Trabalho original publicado em 1952)) que fez alguns considerarem Sócrates como o maior sofista, apesar de que ele pretendia se diferenciar deles, podemos nos orientar pela proposta que oferece Sören Kierkegaard em O conceito de Ironia (1841/1991Kierkegaard, S. (1991). O conceito de Ironia. Vozes. (Trabalho original publicado em 1841)), porque, para atravessar a aporia, calcula-se a posição do personagem Sócrates por uma combinação das imagens projetadas nos textos que escreveram as pessoas que lhe conheceram e tiveram trato com ele. Entre estes contam, além de Platão, o militar Xenofonte e o humorista Aristófanes, que teve convívio com Sócrates e sobre ele fez uma comédia. Para Kierkegaard os diálogos de Platão mostram uma realidade trágica, em que os argumentos se enfrentam para culminar em um vazio, e os de Aristófanes, uma realidade cômica. Para efeitos do humor, Aristófanes reproduz em As nuvens (1987), algumas cenas em que se apresentam as regras de um jogo sem direção, e em torno destas regras encontramos elementos para situar um modo de escuta particular. Vamos considerar alguns parágrafos nos quais o personagem Sócrates e o coro, formado pelas nuvens, indicam a modalidade do falar maiêutico, que se desloca entre semblantes e significantes.

Foi também nesse sentido que a leitura de Lacan - em “Lituraterra” (Lacan, 1971/2003Lacan, J. (2003). Lituraterra. In J. Lacan, Outros escritos. Zahar. (Trabalho original publicado em 1971), p. 22) vinculando a psicanálise e a literatura -, considerando a aparição do semblante, n’As nuvens, de Aristófanes, retoma a proposta de um discurso sem palavras, que caracteriza o discurso analítico, num dispositivo que monta a estrutura de relações estáveis necessárias para o aparelho discursivo funcionar. Evoca-se a visão de Aristófanes, a partir do semblante das nuvens que desencadeia desdobramentos na língua e jogos de palavras, permitindo interrogar um dispositivo de discurso que, também, não seja semblante (Dunker, 2011Dunker, C. I. L. (2011). Estrutura e constituição da clínica psicanalítica: uma arqueologia das práticas de cura, psicoterapia e tratamento. Annablume., p. 237).

A escuta a partir d’As nuvens, de Aristófanes

Para contextualizar, lembramos que esta comédia tem como personagem o camponês Estripsíades, que, endividado por causa dos gastos de seu filho, busca desesperado a ajuda de Sócrates, pois acredita que, tomando suas lições, conheceria a arte da sofística, que nas contendas jurídicas o libertaria de suas dívidas. Chega assim ao frontisterion (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 95), palavra que foi traduzida por “pensatório”, que é uma choupana pobríssima onde Sócrates recebe seus discípulos e encontra um deles que abortou um pensamento formulado, fazendo referência à arte maiêutica. Logo encontrou Sócrates pendurado no alto, dentro de uma ciranda, que anda pelos ares, porque não teria encontrado as coisas celestes se não tivesse “suspendido a inteligência e não tivesse misturado o pensamento sutil com o ar, o seu semelhante” (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural. p. 179, AN 230). Se Estripsíades quer se tornar um discípulo, deve se relacionar com as Nuvens, as divindades socráticas, com elas conversar, e com esse fim passar por um ritual, deitando-se no divã sagrado, no texto grego, “ierón skímpoda” (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 250).

Na cena da comédia, as nuvens estão representadas por um grupo de atores que, fazendo coro, dialogam com Estripsíades. Elas são invocadas porque auxiliam na fala aos sofistas, aos adivinhos, aos médicos, aos charlatães. Estas simuladoras se transformam (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural., p. 184, AN 345) - efeito do que lhes transferem - em tudo o que desejam, no momento que ficam diante de seus interlocutores: ante os músicos ditirâmbicos se transformam em centauros, se estão ante um covarde tomam forma de veados, ante um afeminado tomam a figura de mulheres, ante o ladrão se figuram como lobo. Suas transformações dependem do turbilhão, o “Dínos” (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 380), que lhes dá movimento.

A respeito da técnica revelada pela descrição de Aristófanes, é pertinente destacar os parágrafos onde se instrui Estripsíades sobre como ele deve falar, pois descreve um modo específico. Para começar deve deitar-se (kataklunesis) (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 694-705) sobre o divã (tou skímpodos), e meditar e discorrer por todos os meios, concentrando o pensamento em si mesmo, e ainda indica Sócrates que seja rápido também quando cair numa aporia, encadear (em grego, “pedao”, significa encadear, ligar, atar) um outro pensamento de sua memória. “Pense, examine, concentre-se, revirando-se de todas as maneiras! Rápido, se cair num embaraço, salte para um outro pensamento de seu intelecto… Que o doce sono de seus olhos se afaste” (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural., p. 196, AN 700-705).

Embora disposto, pobre em ideias e falas, o camponês imagina artifícios para mostrar que o tempo não passa e não deve pagar juros pelo dinheiro que tomou e gastou na compra de cavalos para seu filho, dá respostas diversas e tão criativas quanto inúteis aos seus propósitos. Por sua parte, Sócrates nada ensina sobre como libertar-se das dívidas, só lhe propõe a falar, a procurar, a relacionar ideias e avançar ante as impossibilidades.

Em determinado momento da comédia o incita a esse modo de fala singular, distinguindo que, quando chega a uma aporia, deve buscar o movimento avesso (kineson authis) do pensamento: “Fique quieto! E se tiver alguma dificuldade nos seus raciocínios, deixe-a e passe adiante. Depois, movimente-a de novo com o pensamento e pondere” (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural. p. 197, AN 745). O que resta na comédia é um Sócrates preocupado com o modo em que o discípulo fala, porque quer conhecer seu entendimento, evitando aporias e ressaltando o movimento, o kinos da língua. Se chega a um atoleiro, indica que encadeie pensamentos e continue. Esta descrição, comparada à que Platão nos deixou nos diálogos, é radicalmente neutra, já que, de fato, Sócrates nada deixa de si mesmo e está ocupado somente no que Estripsíades pode produzir por ele mesmo para sair de seus problemas.

Decorrente das falas provocadas pelas nuvens, Aristófanes explora o equívoco que produz a língua, e assim nos permite distinguir como as palavras na comédia elevam a falha a primeiro plano. Pede-se para Estripsíades nomear animais quadrúpedes, ao que ele responde: “carneiro, bode, touro… pássaro” ((Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural. p. 194). Nomeia um bípede e o erro é notado por Sócrates, mas deslocado ao equívoco entre masculinos ou femininos, pretende então distinguir “Pássara e o outro passarão” (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural. p. 194, AN 665), e, desse modo, ante o erro, traz a temática do sexo, que os leva a interrogar sobre o gênero dos substantivos, com possibilidades de notar qualidades femininas. Num procedimento similar, considera os nomes próprios, assim o nome masculino “Anímia” (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., NA 685), que tem uma declinação em língua grega semelhante à dos substantivos femininos, permite-lhe criar uma confusão entre língua e gênero.

A partir de então é que outro sofrimento toma conta da cena, pois Estripsíades se queixa deitado, porque os percevejos do divã lhe devoram uma costela, em grego “pleuràs dardáptousin” (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 711), sugam sua psique (“tèn psykèn ekpínousin“) (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., p. 196, AN 712), sodomizam-no, castram-no: “Eu morro, infeliz de mim! Saídos do leito sagrado mordem-me os per… sianos, dilaceram-me o peito, devoram-me a alma, arrancam-me os testículos, perfuram-me o rabo e acabam comigo” (Aristófanes, 1987Aristófanes. (1987). As nuvens (G. M. R. Starzynski, Trad.). In Sócrates, Os Pensadores: Sócrates (pp. 171-222). Nova Cultural., p. 196, AN 710-715). Sócrates não se detém no sofrimento de quem se sente feminilizado, e ainda o estimula a achar o que deseja (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 735), mas pelos seus meios, pelo seu próprio pensamento.

Aristófanes mostrou que, para ser um iniciado e conseguir tornar-se um aluno, Estripsíades dialogou com o semblante das Nuvens, que imaginariamente se transformam em tudo o que elas querem, e também deveu adorar outros dois deuses, o Caos, que é vazio, e a Língua, a “glóssa” (Aristófanes, 1943Aristófanes. (1943). Les nuées. Librarie Hatier., AN 420), que como um deus também deve ter crédito por parte do discípulo. Existe um vínculo entre estas três invenções teológicas que correspondem aos fatos das cenas. O vazio conclusivo de alguns diálogos platônicos cronologicamente posteriores aparece aqui na forma de um deus, o Caos, em desordem real que movimenta. As Nuvens surgem como inconsistências que representam sujeitos, projeções imaginárias que provocam e movimentam formando remoinhos (dinos) em torno de um vazio. A Língua apareceu em primeiro plano, e aproveitando o meio cômico, o humorista destacou as modalidades do equívoco, assim, ao tempo que criou trocadilhos também provocou o elo associativo entre temas diversos, destacando que se tratava de uma fala que busca por enlaces simbólicos. Os três deuses invocados destacam aspectos diferentes do representado.

Figura 1
Terracota representando uma cena da comédia grega. Datada do século III a.C. achada pela arqueóloga Dorothy Burr Thompson, em 1933. Encontra-se atualmente no Museu da Ágora, em Atenas.

Aristófanes, na sua comédia, apresenta com Sócrates um personagem que não dá respostas nem soluções, mas pede para que se fale, que se movimente a psique com palavras, revirando-as. Em diversos momentos ordena continuar ligando ideias e não se deter. Dos erros de seu interlocutor, cria equívocos sobre o gênero, e o sofrimento de Estripsíades aumenta deitado no divã, sente-se feminilizado, sodomizado, castrado. Aristófanes apresenta um Sócrates de acordo com o ofício descrito no diálogo Teeteto, de Platão.

Conclusão

Os textos consultados nos permitiram reconhecer os traços de uma escuta singular que esperamos encontrar na escuta analítica, a qual se abstém de críticas, de oferecer opiniões, de procurar benevolências terapêuticas e lições educativas. No mesmo sentido, a partir da segunda metade do século passado, os psicanalistas definiram sua especificidade, até delimitar a singularidade de seu discurso, como discurso sem palavras que evoca o desejo. Estas características se definem quando se abordam textos antigos e mostram que, no século III a.C., o escutar se vinculou ao acolhimento de necessidades e afetos de desamparo, ao acompanhar a busca, sustentar interrogações, a partir do postulado inicial de não interferir. Escutar também se vinculou, de modo especial, com a língua, esperando dela elos associativos, distantes dos raciocínios precisos que ordenaram a lógica nos séculos seguintes. Esta escuta antiga foi possível quando a fala conseguiu aproveitar sua flexibilidade de sentidos partindo da abstinência de verdades universais e de saber.

O discurso de Sócrates aparece como paradoxo primitivo, permanecendo como um tema insistente de um questionador que convoca e ao mesmo tempo se diz sem pretensões de participar na gênese do produto. Uma escuta encorajadora da busca, que para ser efetiva, deveu partir de uma abstinência de qualquer produção. Lembremos que uma primeira condição foi ser como as parteiras que somente exercem seus ofícios quando não têm possibilidades delas mesmas parirem. Sem saber, sem conhecimento nem dom que permita produzir algo, a escuta começa a se delinear entorno de Sócrates.

A segunda condição reconhecida na escuta clássica é a proposta por dinamizar (dinos) a fala por elo de associações, considerando os equívocos, encadeando ideias (pedao), revertendo aporias. Montando uma cena com regras diferentes e contrárias às estabelecidas para o bom raciocínio, gerando uma nova ordem de discurso em que o vazio se propõe como movimento, junto às figuras transferenciais que mudam aparências e um lugar de deus também para a língua que sustenta a escuta.

Identificamos na Antiguidade um traço especial de escuta, que hoje podemos reconhecer no humor de Aristófanes, que Freud recuperou na fala de seus pacientes e na atitude dos analistas com disposição para escutar. Com inúmeras diferenças entre 24 séculos, devemos estar cientes de que seria um anacronismo extremo pensar uma análise do psiquismo no século III a.C. como se fosse uma psicanálise, ou colocar os gregos como origem da psicanálise contemporânea. Nesse sentido, somente encontramos traços nos textos antigos que se reconstituem ao disponibilizar um dispositivo de escuta moderno, que, como Freud, também partiu da abstinência de críticas e da associação de ideias.

Independente de qual seja a língua, e em qual momento histórico seja analisada, ela é constituinte da subjetividade e por ela transitam as possibilidades de fala e de escuta. Nela insistem posições de discurso que mantêm sua dinâmica, sendo identificáveis nestes casos por não precisar se erguer como um agente que sabe o que deve ser feito; e pela escuta, distinguir em silêncio como encorajar o desejo. Desdobra-se, assim, um discurso, acompanhando de modo sincrônico os traços que na história nos permitem identificar o ofício de escutar.

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  • 1
    Para as referências que indicam a localização de parágrafos ou termos do grego antigo nas obras de Platão e de Aristófanes, acrescentamos a numeração canônica, que permite conferir o texto grego original assim como diversas traduções.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2018
  • Aceito
    17 Mar 2020
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