Resumo
Na contemporaneidade, estudos voltados à temática da transexualidade têm ganhado progressivo destaque na agenda dos pesquisadores de diferentes áreas, como Psicologia, Medicina, Direito e Ciências Sociais. No entanto, ainda é esparsa a literatura dedicada a investigar a vivência afetiva e relacionamentos conjugais em pessoas trans. Esta lacuna é expressão da condição discriminatória e da abjeção a que as subjetividades trans estão submetidas. Considerando essa insuficiência, este estudo buscou desvelar os sentidos atribuídos à conjugalidade por um casal cis-trans. O método empregado foi o Estudo de Caso Único, elaborado com base em entrevista narrativa episódica. Os resultados obtidos foram analisados adotando-se a perspectiva Queer como enquadramento teórico. A análise aponta que a relação conjugal entre pessoas trans e cisgênero é marcada pelo encontro de duas histórias de vida distintas no que diz respeito à aceitação social e passabilidade, mas que em algum momento se interseccionam por meio da formação de laço afetivo. Relacionar-se fora das normas culturalmente atribuídas aos gêneros e sexualidades envolve uma série de riscos e barreiras, uma vez que a vida e o corpo do indivíduo se tornam alvos de exclusão, violação de direitos e tentativas de eliminação pelos efeitos da necropolítica. Ao mesmo tempo, amar para além das normas também pode implicar em um processo libertário ampliado, uma vez que algumas das amarras da cultura heteronormativa se afrouxam. Quando existe apoio familiar e de amigos, o relacionamento tende a munir-se de recursos que favorecem o empoderamento e enfrentamento de situações adversas e potencialmente ameaçadoras, que poderiam resultar na dissolução da união.
Transexualidade; Conjugalidade; Teoria queer