Resumo
A Psicologia, como ciência e profissão no Brasil, surge a partir dos paradigmas do Norte Global. Pautando-se por uma atuação clínica, privatista, subjetivista e elitista, manteve-se pouco implicada com as questões que afligem o povo brasileiro. Ao longo das décadas, passou a ser convocada para atuar dentro das políticas públicas, tendo certa centralidade em algumas delas, como é o caso das políticas para as mulheres vítimas de violência sexual no âmbito da saúde. Contudo, o processo formativo parece não acompanhar essa tendência, com os currículos de graduação ainda voltados para uma formação em que as psicólogas atuem apenas no espaço do consultório particular, o que leva a um descompasso e à possibilidade da realização de condutas inadequadas na esfera pública. Este artigo traz reflexões surgidas em pesquisa de mestrado que se propôs a conhecer as práticas e saberes de psicólogas dos serviços públicos de saúde de Belo Horizonte, com as mulheres vítimas de violência sexual que optam pelo aborto legal. Foram realizadas entrevistas narrativas com 10 psicólogas do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte (SUS/BH), contactadas por meio da metodologia bola de neve. Por meio das narrativas, conclui-se que existe certa dificuldade em exercer uma prática psicossocial e que as teorias clínicas tradicionais ainda são as mais utilizadas. Com base nos relatos sobre o que seria “psicossocial”, identificou-se que a Psicologia Social Comunitária encontra-se alinhada com os princípios do SUS, e sua utilização, associada à interseccionalidade, pode ser uma ferramenta valiosa para a atuação dessas mulheres.
Palavras-chave:
Psicologia Social Comunitária; Interseccionalidade; Políticas Públicas; Aborto Legal