Logomarca do periódico: Psicologia: Ciência e Profissão

Open-access Psicologia: Ciência e Profissão

Publicação de: Conselho Federal de Psicologia
Área: Ciências Humanas
Versão impressa ISSN: 1414-9893
Versão on-line ISSN: 1982-3703
Creative Common - by 4.0

Sumário

Psicologia: Ciência e Profissão, Volume: 45, Número: spe2, Publicado: 2025

Psicologia: Ciência e Profissão, Volume: 45, Número: spe2, Publicado: 2025

Document list
Documents
Artigo
Interseccionalidade e Políticas Públicas: Alguns Deslocamentos das Psicologias Brasileiras Silva, Wanderson Vilton Nunes da Guareschi, Neuza

Resumo em Português:

Resumo O objetivo deste artigo consiste em problematizar o campo da Psicologia nas políticas públicas brasileiras, a partir dos estudos interseccionais destacados pela luta e construção de conhecimento das mulheres negras. Consideraremos o percurso histórico das psicologias no país e as construções epistêmicas dos movimentos sociais junto a este campo de conhecimento, destacando a ação das mulheres negras e sua relevância para a consolidação da interseccionalidade como conceito fundamental às psicologias no campo das políticas públicas. Para alcançarmos nosso objetivo, fizemos uma análise do conceito a partir de uma perspectiva genealógica, considerando a história do conceito e do campo científico a ele atrelado nas políticas públicas do país. As principais considerações remetem à relevância histórica deste conceito e do trabalho das mulheres negras para a consolidação da democracia brasileira e para a construção de conhecimento em Psicologia, bem como alguns riscos históricos do neoliberalismo para a intervenção junto ao campo dos marcadores sociais.

Resumo em Espanhol:

Resumen El objetivo de este artículo es problematizar el campo de la Psicología en las políticas públicas brasileñas, con base en estudios interseccionales que se destacan por la lucha y la construcción de conocimiento de las mujeres negras. Consideraremos la trayectoria histórica de la Psicología en el país y la construcción de movimientos sociales dentro de este campo, con énfasis en la acción de las mujeres negras y su importancia en la consolidación de la interseccionalidad como un concepto fundamental para la Psicología en las políticas públicas. Para lograr el objetivo, analizamos el concepto desde una perspectiva genealógica al considerar la historia del concepto y de este campo científico relacionado a las políticas públicas en el país. Las principales consideraciones se refieren a la relevancia histórica de este concepto y la labor de las mujeres negras para consolidar la democracia brasileña y construir el conocimiento en Psicología, así como algunos riesgos históricos del neoliberalismo para la intervención en el campo de los marcadores sociales.

Resumo em Inglês:

Abstract This study aims to problematize psychology in Brazilian public policies based on intersectional studies. We will consider the historical trajectory of psychology in the country and the construction of social movements within this field of knowledge, underlining the action of Black women and their importance in consolidating intersectionality as a fundamental concept for psychology in public policies. To achieve our aim, we analyzed the concept from a genealogical perspective, considering the history of the concept and this scientific field and public policies in Brazil. The main considerations refer to the historical relevance of this concept and the work of Black women to consolidate Brazilian democracy and to construct knowledge in psychology, as well as some historical risks of neoliberalism for intervention in social markers.
Artigo
Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Interseccionalidade: Contribuições Ético-Políticas à Psicologia Brasileira Duarte, Marco José de Oliveira Passos, Rachel Gouveia Brandão, Brune Coelho Silva, Lucas Moura Santos Roseiro, Maria Carolina Fonseca Barbosa

Resumo em Português:

Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar elementos que possibilitem reflexões e inquietações acerca do manejo da interseccionalidade como ferramenta analítica e prática no campo da Psicologia brasileira. Propõe-se uma discussão crítica que articule marcadores sociais como gênero, raça, classe, sexualidade e território na análise das desigualdades que atravessam os sujeitos e seus contextos. Além disso, destaca-se a concepção de saúde mental enquanto política pública e projeto societário, fundamentada nos princípios da reforma psiquiátrica brasileira e da luta antimanicomial, que defendem o cuidado em liberdade, a desinstitucionalização e a ampliação do acesso aos direitos. O artigo busca ainda retratar experiências concretas que adotam a interseccionalidade como componente do processo formativo, da atuação clínico-política e da gestão dos serviços, demonstrando a possibilidade da transformação social no cuidado em saúde mental, na perspectiva da produção de modos de cuidado plurais e implicados com os territórios. Assim, reafirma-se o compromisso ético-político da Psicologia na defesa de práticas profissionais alinhadas aos direitos sociais e à justiça social.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo pretende presentar elementos que estimulen reflexiones e inquietudes sobre la gestión de la interseccionalidad como herramienta analítica y práctica en el campo de la Psicología brasileña. Se propone una discusión crítica que articula los marcadores sociales como género, raza, clase, sexualidad y territorio en el análisis de las desigualdades que afectan a los individuos y sus contextos. Además, se destaca el concepto de salud mental como política pública y proyecto social con base en los principios de la reforma psiquiátrica brasileña y la lucha antimanicomial, que defienden la atención en libertad, la desinstitucionalización y la ampliación del acceso a derechos. Este artículo también busca retratar experiencias concretas que adoptan la interseccionalidad como un componente del proceso de formación, la acción clínico-política y la gestión de servicios, demostrando la posibilidad de transformación social en la atención a la salud mental, desde la perspectiva de producir modos plurales de atención que se involucran con los territorios. De esta manera, se reafirma el compromiso ético-político de la Psicología en la defensa de prácticas profesionales alineadas con los derechos sociales y la justicia social.

Resumo em Inglês:

Abstract This study aims offer present elements that enable reflections and concerns about the management of intersectionality as an analytical and practical tool in Brazilian psychology. It proposes a critical discussion that articulates social markers such as gender, race, class, sexuality, and territory in the analysis of inequalities that affect individuals and their contexts. It also highlights the concept of mental health as a public policy and societal project based on the principles of the Brazilian psychiatric reform and the anti-asylum struggle, which defend care in freedom, deinstitutionalization, and expanded access to rights. This study also seeks to portray concrete experiences that adopt intersectionality as a component of training, clinical-political action, and service management, showing the possibility of social transformation in mental health care based on the perspective of producing plural modes of care involved with territories. Thus, this study reaffirms the ethical-political commitment of psychology in defending professional practices in line with social rights and justice.
Artigo
Navegar pelas Diferenças, Criar Territórios Comuns: Relatos de uma Psicologia de Grupos Vitório, Marianna Rodrigues Gómez, Jesús Alejandro Cerón Terra, Ana Marcela da Silva

Resumo em Português:

Resumo Este artigo visa compartilhar a experiência da Navegantes Clínica Psi, construída em 2024 por três profissionais da psicologia: duas brasileiras e um mexicano. O objetivo inicial da Clínica consistia em realizar atendimentos grupais a pessoas migrantes brasileiras espalhadas pelo mundo. Usando metodologias grupais e inventando outras a partir das nossas vivências profissionais e militantes, nossa intenção era criar comunidades - mesmo que por meio de encontros virtuais -, na contramão do tão frequente sentimento de solidão, muito comum a quem migra. Ao longo do desenvolvimento do primeiro grupo realizado, apoiados nas reuniões semanais de debate sobre a clínica, fomos entendendo que nosso caminho na Navegantes era muito mais amplo. Muito além da migração, o que faz a nossa clínica existir são os grupos. Entendemos que desenvolver grupos como dispositivos terapêuticos é uma estratégia radical de encontro entre as diferenças - territoriais, culturais, de sexualidade, raciais, teóricas, entre tantas outras. Como escutar essas diferenças, organizar os encontros e desenvolver os grupos como espaços de trocas são alguns dos tópicos que exploraremos neste relato-ensaio de experiência. Com esta mirada, e colocando em discussão o conceito de interseccionalidade, analisamos as experiências grupais que temos desenvolvido e propomos um questionamento sobre as práticas individualizantes e excludentes da psicologia contemporânea, na esperança de fazer ressoar os encontros alegres e criativos que vivemos na diversidade e de impulsionar outras ousadias clínicas a partir do comum e dos coletivos.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo presenta la experiencia de Navegantes Clínica Psi fundada en 2024 por tres profesionales de la psicología: dos brasileñas y un mexicano. El objetivo inicial de la clínica era proporcionar atención grupal a migrantes brasileños en todo el mundo. Utilizando metodologías de grupo y generando otras a partir de nuestras experiencias profesionales y militantes, nuestra intención era crear comunidades - incluso mediante encuentros virtuales - en oposición al demasiado frecuente sentimiento de soledad, muy común entre quienes emigran. A medida que se desarrollaba el primer grupo con migrantes, en las reuniones de trabajo clínico nos dimos cuenta de que nuestro camino en Navegantes era mucho más amplio. Más allá de la migración, lo que hace que nuestra clínica exista son los grupos. Entendemos que desarrollar grupos como dispositivos terapéuticos es una estrategia radical de encuentro con las diferencias territoriales, culturales, sexuales, raciales y teóricas, entre muchas otras. Cómo escuchar estas diferencias, organizar encuentros y desarrollar grupos como espacios de intercambio son algunos de los temas que exploraremos en este informe de experiencia. Con esto en mente y discutiendo el concepto de interseccionalidad, analizamos las experiencias grupales que hemos desarrollado y proponemos un cuestionamiento a las prácticas individualizantes y excluyentes de la psicología contemporánea, con la esperanza de hacer resonar los encuentros alegres y creativos que hemos vivido en la diversidad e impulsar otras osadías clínicas basadas en lo común y lo colectivo.

Resumo em Inglês:

Abstract This study describes the experience of Navegantes Clinica Psi, founded in 2024 by two Brazilian and a Mexican psychologists. Its initial goal was to provide group care to Brazilian migrants around the world. Using group methodologies and generating others based on our professional and activist experiences, we aimed to create communities - including via virtual meetings - to counter the all-too-frequent feeling of loneliness, a common occurrence among migrants. As the first group with migrants, clinical work meetings showed that our path at Navegantes was much broader. Far beyond migration, groups make our clinic. We understand that developing groups as therapeutic devices configures a radical strategy for encountering territorial, cultural, sexual, racial, theoretical, among many other differences. How to listen to these differences, organize meetings, and develop groups as spaces for exchange are some of the topics we will explore in this experience report. Thus, and discussing the concept of intersectionality, we analyze the group experiences we have developed and propose a questioning of the individualizing and exclusionary practices of contemporary psychology, hoping to resonate with the joyful and creative encounters we have experienced in diversity and to foster other clinical ventures based on the common and the collective.
Artigo
Política da Infância ou Infancialização da Política? Produzindo Fissuras nas Políticas Neoliberais, Neoconservadoras e Familistas Schiavon, Amanda de Almeida Mombach, Carolina Machado Machado, Paula Sandrine

Resumo em Português:

Resumo Este artigo apresenta um estudo teórico sobre a ascensão da aliança neoliberal-neoconservadora, articulada por meio da extrema-direita, e o uso do familismo centrado na cisheteronormatividade como estratégia para sustentar a defesa de uma infância concebida como universal e sacralizada. As autoras argumentam que neoliberalismo e neoconservadorismo operam como atualizações do colonialismo, configurando um neocolonialismo. Para sustentar essa análise, recorre-se ao referencial da antropologia da infância e ao resgate histórico das políticas familistas, com o objetivo de problematizar a mobilização da infância como bandeira política do conservadorismo contemporâneo. Tal problematização parte da crítica à homogeneização das noções de infância e família, desconsiderando suas interseccionalidades e particularidades socioculturais. Essa lógica é interpretada como um processo de privatização da infância, o qual resulta na negação da agência política da criança e na consequente naturalização de sua condição como sujeito a ser, a uma só vez, monitorado e defendido. O estudo propõe, portanto, a produção de fissuras nas lógicas neoliberais, neoconservadoras e familistas, mobilizando, para isso, o conceito de infancialização, desenvolvido por Renato Noguera.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo presenta un estudio teórico sobre el ascenso de la alianza neoliberal-neoconservadora articulada por la extrema derecha y el uso del familismo centrado en la cisheteronormatividad como estrategia para sostener la defensa de una infancia concebida como universal y sacralizada. Se argumenta que el neoliberalismo y el neoconservadurismo operan como actualizaciones del colonialismo configurando un neocolonialismo. Para respaldar este análisis, se recurre al marco teórico de la Antropología de la infancia y a una revisión histórica de las políticas familistas, con el objetivo de problematizar el uso de la infancia como bandera política del conservadurismo contemporáneo. Esta problematización parte de una crítica a la homogeneización de las nociones de infancia y familia, al ignorar sus interseccionalidades y particularidades socioculturales. Esta lógica se interpreta como un proceso de privatización de la infancia, que resulta en la negación de la agencia política de niñas y niños, y en la consecuente naturalización de su condición como sujetos que deben ser, al mismo tiempo, vigilados y protegidos. Este estudio propone generar fisuras en las lógicas neoliberales, neoconservadoras y familistas, movilizando para ello el concepto de infancialización desarrollado por Renato Noguera.

Resumo em Inglês:

Abstract This theoretical study evaluates the rise of the neoliberal-neoconservative alliance the far-right articulated by using a familism centered on cisheteronormativity as a strategy to uphold the defense of a universalized and sacralized conception of childhood. It argues that neoliberalism and neoconservatism function as contemporary iterations of colonialism, constituting a form of neocolonialism. To support this analysis, it draws on the anthropology of childhood and a historical review of familist policies to critically examine the mobilization of childhood as a political banner of contemporary conservatism. This critique challenges the homogenization of notions of childhood and family, which disregards their sociocultural specificities and intersections. Such logic is interpreted as a process of the privatization of childhood, denying children’s political agency and naturalizing their condition as subjects to be simultaneously monitored and protected. This study proposes the creation of fissures within neoliberal, neoconservative, and familist logics, drawing on Renato Noguera’s concept of infancialização (infantilization of childhood).
Artigo
Resistências de Gênero e Sexualidades na Psicologia: Modos de Vida Dissidentes em Formação Roseiro, Maria Carolina Fonseca Barbosa Machado, Thiago Pereira Rodrigues, Alexsandro Andrade-Motta, Tammy

Resumo em Português:

Resumo O artigo analisa criticamente os processos formativos em Psicologia no Brasil, considerando os 50 anos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e as tensões entre normatividade e dissidência. Com base em análise documental e nos saberes situados, discute-se como currículos e práticas formativas se entrelaçam com os modos de vida dissidentes, especialmente aqueles atravessados por marcadores de gênero e sexualidade, na perspectiva das interseccionalidades. A formação em Psicologia é pensada como território de disputa, no qual epistemologias críticas - feministas, decoloniais, anticapacitistas e antirracistas - enfrentam dispositivos de normalização historicamente arraigados em práticas patologizantes e excludentes. Corpos dissidentes, ativismos e experiências minoritárias são intercessores na tessitura de conhecimentos e práticas que desestabilizam a lógica disciplinar. O currículo é compreendido como rede de saberes em constante negociação, na qual se produzem subjetividades e formas-forças de resistência. O texto também reflete sobre as conquistas normativas do CFP no enfrentamento às violências estruturais e na defesa dos direitos humanos, reconhecendo desafios da profissão frente às disputas ideológicas e políticas que marcam a história da profissão. Ao final, defende-se uma formação ética, crítica e situada, comprometida com a transformação social e a dignidade das subjetividades historicamente silenciadas.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo analiza críticamente los procesos formativos en Psicología en Brasil, considerando los 50 años del Consejo Federal de Psicología (CFP) y las tensiones entre normatividad y disidencia. A partir de un análisis documental y de saberes situados, se discute cómo los currículos y las prácticas formativas se entrelazan con modos de vida disidentes, especialmente aquellos atravesados por marcadores de género y sexualidad, desde una perspectiva interseccional. La formación en Psicología se concibe como un territorio de disputa, en el que epistemologías críticas -feministas, decoloniales, anticapacitistas y antirracistas- enfrentan dispositivos de normalización históricamente arraigados en prácticas patologizantes y excluyentes. Los cuerpos disidentes, los activismos y las experiencias minoritarias actúan como intercesores en el tejido de saberes y prácticas que desestabilizan la lógica disciplinar. El currículo es una red de saberes en constante negociación, en la que se producen subjetividades y formas-fuerzas de resistencia. Este texto también reflexiona sobre las conquistas normativas del CFP en el enfrentamiento a las violencias estructurales y en la defensa de los derechos humanos, reconociendo los desafíos actuales de la profesión ante las disputas ideológicas y políticas que marcan su historia. Finalmente, se defiende una formación ética, crítica y situada, comprometida con la transformación social y la dignidad de las subjetividades históricamente silenciadas.

Resumo em Inglês:

Abstract This study critically analyzes the formative processes in Psychology in Brazil, considering the 50th anniversary of the Federal Council of Psychology (CFP) and the tensions between normativity and dissidence. Based on documentary analysis and situated knowledge, it discusses how curricula and formative practices intertwine with dissident modes of life, especially those shaped by markers of gender and sexuality based on an intersectional perspective. Psychology training configures a territory of dispute in which critical - feminist, decolonial, anti-ableist, and anti-racist - epistemologies oppose normalization devices historically rooted in pathologizing and exclusionary practices. Dissident bodies, activism, and minority experiences intersect the weaving of knowledge and practices that destabilize disciplinary logic. The curriculum is understood as a network of knowledge in constant negotiation that produce subjectivities and resistant forms-of-life. This study also reflects on the CFP normative achievements in coping with structural violence, defending human rights, and acknowledging the ongoing challenges the profession face amid ideological and political disputes. This study defends an ethical, critical, and situated formation that commits itself to social transformation and the dignity of historically silenced subjectivities.
Artigo
“E sobre as Lésbicas?”: A Resolução CFP nº 01/1999 entre Silêncios, Disputas e Políticas de Cuidado Freitas, Rafaela Vasconcelos Santos, Priscilla Messiane Canto, Carla Isadora Barbosa

Resumo em Português:

Resumo Este ensaio questiona o lugar das lesbianidades nos debates propostos pela Resolução CFP nº 01/1999. Para isso, pontua a construção histórica e política da Resolução, a contribuição dos movimentos sociais LGBTQIA+ e a ainda incipiente presença do recorte das lesbianidades nas políticas públicas no Brasil. O texto tem como objetivo refletir sobre a importância da escuta ativa e da articulação com os movimentos sociais para o aprimoramento do exercício profissional e das políticas públicas voltadas às mulheres lésbicas. A partir de revisão bibliográfica e reflexão crítica, discute o papel da Psicologia como campo privilegiado e capilarizado, capaz de atuar em diversas políticas públicas e na clínica, espaços potentes para a escuta e elaboração das subjetividades dissidentes. Destaca que marcos normativos como a Resolução CFP nº 01/1999 são fundamentais, mas que a despatologização é um processo contínuo que deve atravessar a formação e a prática profissional. Conclui-se que a inclusão das lesbianidades nas políticas públicas, na formação em Psicologia e no debate sobre os direitos sexuais e reprodutivos é essencial para o enfrentamento das práticas heteronormativas e para a construção de uma Psicologia socialmente comprometida.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este ensayo cuestiona el lugar de las lesbianidades en los debates propuestos por la Resolución CFP 01/1999. Para ello, presenta la construcción histórica y política de la Resolución, la contribución de los movimientos sociales LGBTQIA+ y la todavía incipiente presencia del enfoque lésbico en las políticas públicas en Brasil. El objetivo de este texto es reflexionar sobre la importancia de la escucha activa y de la articulación con los movimientos sociales para mejorar el ejercicio profesional y las políticas públicas dirigidas a las mujeres lesbianas. A partir de una revisión bibliográfica y una reflexión crítica, discute el papel de la Psicología como un campo privilegiado y de amplia presencia, capaz de actuar en diversas políticas públicas y en la clínica, espacios potentes para la escucha y la elaboración de subjetividades disidentes. Se destaca que los marcos normativos como la Resolución CFP 01/1999 son fundamentales, aunque la despatologización es un proceso continuo que debe atravesar la formación y la práctica profesional. Se concluye que la inclusión de las lesbianidades en las políticas públicas, en la formación en Psicología y en el debate sobre los derechos sexuales y reproductivos es esencial para enfrentar las prácticas heteronormativas y construir una Psicología socialmente comprometida.

Resumo em Inglês:

Abstract This essay questions the place of lesbianities in the debates prompted by CFP Resolution Nº. 01/1999. For this, it outlines the historical and political construction of the Resolution, the contribution of LGBTQIA+ social movements, and the still incipient presence of lesbian perspectives in public policies in Brazil. This essay aims to reflect on the importance of active listening and articulation with social movements to improve professional practice and public policies aimed at lesbian women. Based on a literature review and critical reflection, this essay discusses the role of Psychology as a privileged and far-reaching field that can operate within multiple public policies and in clinical settings - spaces that are powerful for listening to and elaborating dissident subjectivities. It emphasizes that normative frameworks such as CFP Resolution Nº. 01/1999 are fundamental, but that depathologization configures a continuous process that must guide professional training and practice. It concludes that the inclusion of lesbianities in public policies in Psychology education and in the debate on sexual and reproductive rights is essential to oppose heteronormative practices and build a socially committed psychology.
Artigo
Psicologia e Aborto Legal: Uma Aposta na Psicologia Social Comunitária e Feminista Gonzaga, Paula Rita Bacellar Pereira, Lorena de Brito Marcelino

Resumo em Português:

Resumo A Psicologia, como ciência e profissão no Brasil, surge a partir dos paradigmas do Norte Global. Pautando-se por uma atuação clínica, privatista, subjetivista e elitista, manteve-se pouco implicada com as questões que afligem o povo brasileiro. Ao longo das décadas, passou a ser convocada para atuar dentro das políticas públicas, tendo certa centralidade em algumas delas, como é o caso das políticas para as mulheres vítimas de violência sexual no âmbito da saúde. Contudo, o processo formativo parece não acompanhar essa tendência, com os currículos de graduação ainda voltados para uma formação em que as psicólogas atuem apenas no espaço do consultório particular, o que leva a um descompasso e à possibilidade da realização de condutas inadequadas na esfera pública. Este artigo traz reflexões surgidas em pesquisa de mestrado que se propôs a conhecer as práticas e saberes de psicólogas dos serviços públicos de saúde de Belo Horizonte, com as mulheres vítimas de violência sexual que optam pelo aborto legal. Foram realizadas entrevistas narrativas com 10 psicólogas do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte (SUS/BH), contactadas por meio da metodologia bola de neve. Por meio das narrativas, conclui-se que existe certa dificuldade em exercer uma prática psicossocial e que as teorias clínicas tradicionais ainda são as mais utilizadas. Com base nos relatos sobre o que seria “psicossocial”, identificou-se que a Psicologia Social Comunitária encontra-se alinhada com os princípios do SUS, e sua utilização, associada à interseccionalidade, pode ser uma ferramenta valiosa para a atuação dessas mulheres.

Resumo em Espanhol:

Resumen La Psicología como ciencia y profesión en Brasil surgió de los paradigmas del hemisferio Norte. Se guio por un enfoque clínico, privatista, subjetivo y elitista, y se mantuvo poco involucrada en los problemas que afligen a la población brasileña. Con el paso de las décadas, comenzó a ser llamada a actuar en el marco de las políticas públicas, ocupando, en algunas de ellas, cierta centralidad, como es el caso de las políticas para mujeres víctimas de violencia sexual en el sector salud. Sin embargo, el proceso educativo no parece seguir esta tendencia, con currículos de grado aún enfocados en una formación en la que los psicólogos trabajan únicamente en consultorios privados, lo que genera un desajuste y la posibilidad de conductas inapropiadas en el ámbito público. Este artículo presenta reflexiones derivadas de una investigación de maestría que tuvo como objetivo comprender las prácticas y el conocimiento de psicólogos de servicios públicos de salud en Belo Horizonte (Brasil), con mujeres víctimas de violencia sexual que optan por el aborto legal. Se realizaron entrevistas narrativas con 10 psicólogas del Sistema Único de Salud de Belo Horizonte (SUS/BH), contactadas mediante la metodología de bola de nieve. Con base en las narrativas, se concluyó que existe cierta dificultad para llevar a cabo la práctica psicosocial y que las teorías clínicas tradicionales siguen siendo las más utilizadas. A partir de estos informes sobre lo que sería “psicosocial”, se identificó que la psicología social comunitaria se alinea con los principios del SUS; y su uso, junto con la interseccionalidad, puede ser una herramienta valiosa para trabajar con estas mujeres.

Resumo em Inglês:

Abstract Psychology, as a science and profession in Brazil, emerged from the paradigms of the Global North. Guided by a clinical, privatist, subjective and elitist approach, it remained little involved in the issues that afflict the Brazilian people. Over the decades, psychologists began to be called upon to act within public policies, having a certain centrality in some of them, as is the case of policies for women victims of sexual violence in the health sector. However, the educational process seems not to follow this trend, with undergraduate curricula still focused on training psychologists to work only in private practices, producing a mismatch and possible inappropriate conduct in the public sphere. This article presents reflections arising from a master’s degree research on the practices and knowledge of psychologists working in public health services, in Belo Horizonte, with women victims of sexual violence who opt for legal abortion. A total of ten psychologists from the SUS/BH participated in narrative interviews, who were contacted through the snowball methodology. These narratives revealed a certain difficulty in conducting psychosocial practice and that traditional clinical theories are still the most widely used. Based on these reports on what “psychosocial” would be, community social psychology showed itself aligned with the SUS principles and its use, together with intersectionality, can be a valuable tool for working with these women.
Artigo
Bissexualidade e Monodissidência na Perspectiva Interseccional Lemos, Mariana Schubert Pocahy, Fernando Altair Nardi, Henrique Caetano

Resumo em Português:

Resumo Este ensaio teórico discute a forma como a bissexualidade e a monodissidência têm sido estudadas, sobretudo pela Psicologia, embora não exclusivamente, a partir de uma perspectiva interseccional. Nesse sentido, apresenta-se uma análise das pesquisas no campo da diversidade sexual e de gênero, com foco na bissexualidade e na monodissidência enquanto orientações sexuais, bem como nas tensões políticas que envolvem tanto a academia quanto os movimentos sociais. Em seguida, discute-se a construção conceitual nesta seara e os debates contemporâneos que envolvem outras identidades, práticas e expressões, como o não binarismo e a pansexualidade, entre outras. Por fim, o estudo propõe pensar sobre essas expressões da sexualidade, ainda pouco debatidas academicamente, a partir de uma perspectiva interseccional. Conclui-se apontando para as problematizações a respeito das formas como a bissexualidade e a monodissidência têm sido tratadas pela Psicologia, ainda atravessadas pela heterocisnormatividade e pelas perspectivas binárias que constituem a norma. Nesse contexto, argumenta-se que esses mandatos normativos podem ser tensionados pelas análises interseccionais.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este ensayo teórico analiza cómo la bisexualidad y la monodisidencia han sido estudiadas, principalmente y no exclusivamente, por la Psicología desde una perspectiva interseccional. En este sentido, presenta un análisis de la investigación en el campo de la diversidad sexual y de género, centrándose en la bisexualidad y la monodisidencia como orientaciones sexuales y en las tensiones políticas que involucran tanto a la academia como a los movimientos sociales. Posteriormente, analiza la construcción conceptual en este campo y los debates contemporáneos que involucran otras identidades, prácticas y expresiones como el no binarismo y la pansexualidad, entre otras. Finalmente, propone considerar estas expresiones de la sexualidad, poco abordadas académicamente, desde una perspectiva interseccional. Concluye con énfasis en las problematizaciones sobre cómo la bisexualidad y la monodisidencia han sido abordadas por la Psicología, que aún está permeada por la heterocisnormatividad y las perspectivas binarias que permean y constituyen la norma. En este sentido, argumenta que estos mandatos normativos pueden cuestionarse mediante análisis interseccionales.

Resumo em Inglês:

Abstract This theoretical essay discusses how bisexuality and monodissidence have been studied primarily but not exclusively by psychology based on an intersectional perspective. It analyzes research in sexual and gender diversity, focusing on bisexuality and monodissidence as sexual orientations and the political tensions that involve academia and social movements. It then discusses the conceptual construction in this field and contemporary debates involving other identities, practices, and expressions such as non-binary, pansexuality, among others. Finally, it proposes considering these expressions of sexuality, which are rarely discussed academically, from an intersectional perspective. It concludes by highlighting the problematizations regarding the ways psychology has been treated bisexuality and monodissidence, which still includes heterocisnormativity and the binary perspectives that permeate and constitute the norm. Thus, we argue that intersectional analyses can challenge these normative mandates.
Artigo
Psicologia e Cuidado Ancestral: Tecendo Diálogos entre as Experiências do Conselho Federal de Psicologia com Povos de Terreiro e Quilombolas Fonseca, Fabiane Rodrigues Alves, Ivonete Aparecida Costa, José Augusto Silva Araújo, Jeanyce Gabriela Saraiva, Carolina

Resumo em Português:

Resumo Este artigo descreve relatos de experiências, apresentando uma articulação entre práticas institucionais da psicologia e saberes tradicionais que contribuem para a construção de uma psicologia antirracista, decolonial e territorializada no Brasil. As autoras e o autor, a partir de vivências em comunidades quilombolas, de terreiros e no Conselho Federal de Psicologia (CFP), discutem os impactos das ações institucionais e dos saberes ancestrais no cotidiano da vida, para a promoção da saúde mental, do cuidado e no enfrentamento aos epistemicídios. O texto valoriza a espiritualidade, a coletividade e o território como fundamentos essenciais para o cuidado a partir da lógica psicossocial, e propõe caminhos para a construção de uma psicologia ainda mais comprometida com os direitos humanos, a equidade e a justiça social. Ao entrelaçar práticas cotidianas, reflexões teóricas e vivências nos territórios, o trabalho contribui para o debate sobre políticas públicas e práticas psicossociais que estabeleçam diálogos com os modos de vida dos povos de terreiro e quilombolas, reafirmando a legitimidade de outras formas de saber e cuidado.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo describe relatos de experiencias con relación a las prácticas institucionales de la Psicología con saberes tradicionales que contribuyen a la construcción de una psicología antirracista, decolonial y territorializada en Brasil. A partir de vivencias en comunidades quilombolas, terreiros y en el Consejo Federal de Psicología (CFP), se discuten los impactos de las acciones institucionales y los saberes ancestrales en la vida cotidiana, en la promoción de la salud mental, del cuidado y en el enfrentamiento a los epistemicidios. Este texto valora la espiritualidad, la colectividad y el territorio como fundamentos esenciales del cuidado desde una lógica psicosocial, y propone caminos para la construcción de una Psicología aún más comprometida con los derechos humanos, la equidad y la justicia social. Al entrelazar prácticas cotidianas, reflexiones teóricas y vivencias en los territorios, este trabajo contribuye al debate sobre políticas públicas y prácticas psicosociales que dialogan con los modos de vida de los pueblos y de las comunidades tradicionales, y reafirma la legitimidad de otras formas de saber y de cuidado.

Resumo em Inglês:

Abstract This study describes experience reports, articulating institutional practices in psychology with traditional knowledge, contributing to the construction of an antiracist, decolonial, and territorialized psychology in Brazil. Based on experiences in quilombola communities, Afro-Brazilian religious of terreiros, and the Federal Council of Psychology, this study discusses the impacts of institutional actions and ancestral knowledge on everyday life, promoting mental health, care, and opposing epistemicides. This text highlights spirituality, collectivity, and territory as essential foundations for care based on a psychosocial perspective and proposes paths to build a psychology increasingly committed to human rights, equity, and social justice. By intertwining daily practices, theoretical reflections, and lived experiences in the territories, this study contributes to the debate on public policies and psychosocial practices that dialogue with the ways of life of traditional peoples and communities, reaffirming the legitimacy of other forms of knowledge and care.
Artigo
Colonialidades do Bem-Estar: Perspectivas Indígenas Karajá e Javaé e Não Indígenas Zanini, Daniela Sacramento Fernandes, Iorhana Almeida Nazareno, Elias Mendonça, Tamiris Maia Gonçalves Pereira

Resumo em Português:

Resumo Este estudo analisa as concepções de bem-estar entre homens e mulheres indígenas dos povos Karajá e Javaé e não indígenas da região Centro-Oeste do Brasil, considerando os efeitos do gênero na construção dessas percepções. Fundamentado em abordagens decoloniais e críticas à hegemonia dos modelos WEIRD de bem-estar, foram realizados seis grupos focais e um grupo operativo para validação com participação de indígenas estudantes da Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) e adultos não indígenas. As respostas às três perguntas norteadoras foram analisadas por meio de nuvens de palavras e redes de sentido. Os resultados indicam que, em todos os grupos, relações interpessoais e familiares aparecem como centrais para o bem-estar. No entanto, entre os indígenas, há ênfase nas relações comunitárias, cultura e espiritualidade; entre os não indígenas, sobressaem o autocuidado, conquistas individuais e estabilidade emocional. A análise de gênero revela a influência de papéis sociais distintos, especialmente entre mulheres indígenas, cuja percepção de bem-estar está fortemente ligada à família e à vida comunitária. As diferenças encontradas evidenciam a importância de considerar epistemologias plurais e contextos culturais na compreensão do bem-estar. Contribui-se, assim, para uma Psicologia Positiva mais crítica, inclusiva e sensível à diversidade de modos de vida.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este estudio analiza las concepciones de bienestar entre hombres y mujeres indígenas de los pueblos karajá y javaé, y personas no indígenas de la región Centro-Oeste de Brasil, considerando los efectos del género en dichas percepciones. Con base en enfoques decoloniales y críticas a los modelos hegemónicos WEIRD de bienestar, se realizaron seis grupos focales y un grupo operativo para validar la participación de estudiantes indígenas de Licenciatura Intercultural de la Universidad Federal de Goiás (UFG) y adultos no indígenas. Las respuestas a tres preguntas se analizaron mediante nubes de palabras y redes de sentido. Los resultados muestran que las relaciones interpersonales y familiares son fundamentales para el bienestar en todos los grupos. No obstante, entre los indígenas se destaca la vida comunitaria, la cultura y la espiritualidad, mientras que entre los no indígenas sobresalen el autocuidado, los logros individuales y la estabilidad emocional. El análisis de género evidencia la influencia de los roles sociales, especialmente en mujeres indígenas, cuyo bienestar se vincula a la familia y la comunidad. Estas diferencias revelan la necesidad de incorporar epistemologías diversas y contextos culturales en la comprensión del bienestar, para que así se contribuya a una Psicología Positiva más crítica, plural y respetuosa de la diversidad cultural.

Resumo em Inglês:

Abstract This study analyzes conceptions of well-being among Karajá and Javaé Indigenous men and women and non-Indigenous individuals in the Brazilian Midwest, examining how gender influences these perceptions. Grounded in decolonial approaches and critical perspectives on the dominance of WEIRD well-being models, six focus groups and a validation session were conducted with Indigenous university students at the Universidade Federal de Goiás Intercultural Education course and non-Indigenous adults. Participants responded to three guiding questions, and data were analyzed using word clouds and semantic networks. Findings indicate that interpersonal and family relationships are central to well-being across all groups. However, Indigenous participants emphasized community life, cultural traditions, and spirituality, whereas non-Indigenous groups highlight self-care, personal achievements, and emotional stability. Gender analysis showed distinct social roles, particularly among Indigenous women, whose well-being is deeply connected to family and community ties. The contrasts observed underscore the need to integrate plural epistemologies and cultural contexts in the understanding of well-being. This study contributes to a more critical, inclusive, and context-sensitive Positive Psychology, moving beyond universalist assumptions and embracing the diversity of life experiences and values.
Artigo
Interseccionalidades das Desigualdades Raciais e Socioeconômicas na Perspectiva Neuropsicológica: Entrevista com o Grupo de Trabalho de Neuropsicologia do Conselho Federal de Psicologia Nórte, Carlos Eduardo Miranda, Mônica Carolina Pires, Izabel Augusta Hazin

Resumo em Português:

Resumo Este artigo discute como o racismo estrutural e a pobreza multidimensional impactam o desenvolvimento humano a partir de uma perspectiva neuropsicológica crítica. A pobreza é compreendida não apenas como escassez de recursos financeiros, mas como um fenômeno complexo que envolve privações em saúde, educação, moradia e saneamento. Essas condições afetam diretamente o desenvolvimento cognitivo e emocional, especialmente na infância, ao comprometer a saúde mental dos cuidadores e a qualidade das interações parentais. O racismo, por sua vez, é tratado como um estressor crônico com repercussões neurobiológicas ‒ como ativação prolongada do eixo HPA, aumento de cortisol e alterações em estruturas cerebrais ligadas à regulação emocional e ao processamento da memória. Em contraponto ao reducionismo biológico da neuropsicologia hegemônica, os autores propõem uma abordagem dialética, na qual o psiquismo é concebido como resultado da cogênese entre o funcionamento cerebral e o contexto sociocultural. A entrevista com membros do Grupo de Trabalho de Neuropsicologia do Conselho Federal de Psicologia evidencia os limites do modelo biomédico e propõe caminhos para uma neuropsicologia crítica, antirracista e socialmente comprometida. Defende-se a incorporação das interseccionalidades de raça, classe, gênero, deficiência e território como dimensões constitutivas da subjetividade, e a urgência de uma formação neuropsicológica com letramento racial e competência cultural.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo analiza cómo el racismo estructural y la pobreza multidimensional afectan el desarrollo humano desde una perspectiva neuropsicológica crítica. La pobreza se entiende no solo como carencia económica, sino como un fenómeno complejo que incluye privaciones en salud, educación, vivienda y saneamiento. Estas condiciones impactan directamente el desarrollo cognitivo y emocional humano, especialmente en la infancia, al comprometer la salud mental de los cuidadores y la calidad de la parentalidad. El racismo se considera como un estresor crónico con efectos neurobiológicos -como la activación prolongada del eje HPA, el aumento del cortisol y las alteraciones en estructuras cerebrales vinculadas a la regulación emocional y la memoria. En contraposición al reduccionismo biológico de la neuropsicología hegemónica, los autores proponen un enfoque dialéctico que concibe el psiquismo como resultado de la cogénesis entre el funcionamiento cerebral y el contexto sociocultural. La entrevista con miembros del Grupo de Trabajo de Neuropsicología del Consejo Federal de Psicología pone en evidencia los límites del modelo biomédico y plantea caminos hacia una neuropsicología crítica, antirracista y comprometida socialmente. Se defiende la incorporación de interseccionalidades de raza, clase, género, discapacidad y territorio como dimensiones constitutivas de la subjetividad, así como la urgencia de una formación con alfabetización racial y competencia cultural.

Resumo em Inglês:

Abstract This article discusses how structural racism and multidimensional poverty affect human development from a critical neuropsychological perspective. Poverty is understood not merely as financial deprivation but as a complex phenomenon involving multiple forms of social exclusion, including lack of access to healthcare, education, housing, and sanitation. These adverse conditions directly affect cognitive and emotional development, particularly in childhood, by compromising caregivers’ mental health and the quality of parenting. Racism is addressed as a chronic stressor with neurobiological effects - such as prolonged HPA axis activation, elevated cortisol levels, and alterations in brain structures responsible for emotional regulation and memory processing. In contrast to the reductionist stance of mainstream neuropsychology, the authors advocate for a dialectical framework in which the psyche emerges from the co-genesis of brain function and sociocultural context. The interview with members of the Neuropsychology Working Group of the Brazilian Federal Council of Psychology highlights the limitations of the biomedical model and outlines pathways toward a critical, anti-racist, and socially engaged neuropsychology. The authors argue for the inclusion of race, class, gender, disability, and territory as structural dimensions of subjectivity and stress the urgent need for neuropsychological training grounded in racial literacy and cultural competence.
Artigo
Educação Inclusiva na Perspectiva da Interseccionalidade: Trilhando um Caminho Anticapacitista Figueiredo, Rosana Mendes Éleres de Ortega, Fabiola Regina Diello, Maria Luiza Silva, Edireusa Fernandes

Resumo em Português:

Resumo Este manuscrito tem como objetivo discutir acerca da interseccionalidade da deficiência, de modo a compreender seus efeitos na sociedade contemporânea e os impactos concretos na vida das pessoas com deficiência. A partir de um levantamento crítico da literatura especializada que aborda as temáticas da interseccionalidade e da deficiência, construiu-se este ensaio teórico, que visa apresentar e analisar os principais aspectos legais que fundamentam a política de educação inclusiva no Brasil, com ênfase no que subjaz à concepção e aos princípios norteadores dessa política. Adicionalmente, apresenta-se um breve histórico sobre as diferentes concepções da deficiência ao longo do tempo, com o intuito de subsidiar a discussão aprofundada sobre a interseccionalidade no contexto educacional inclusivo. Conclui-se pela defesa intransigente dos direitos humanos e pela adoção do modelo social da deficiência, aliado ao paradigma do desenho universal, destacando que o compromisso ético-político deve seguir orientando as práticas, os saberes e as formas de existência de todos que almejam uma verdadeira transformação da sociedade brasileira.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este texto tiene como objetivo discutir la interseccionalidad de la discapacidad, con el fin de comprender sus efectos en la sociedad contemporánea y los impactos concretos en la vida de las personas con discapacidad. A partir de una revisión crítica de la literatura especializada que aborda las temáticas de interseccionalidad y discapacidad, se elaboró este ensayo teórico que busca presentar y analizar los principales aspectos legales que sustentan la política de educación inclusiva en Brasil, con énfasis en los conceptos y principios orientadores de dicha política. Además, se realiza una breve visión histórica de las diferentes concepciones de la discapacidad a lo largo del tiempo, con el fin de fundamentar una discusión profunda sobre la interseccionalidad en el contexto educativo inclusivo. Las conclusiones abordan la defensa intransigente de los derechos humanos y la adopción del modelo social de la discapacidad junto con el paradigma del diseño universal, con énfasis en que el compromiso ético-político debe seguir orientando las prácticas, saberes y formas de existencia de quienes buscan una verdadera transformación de la sociedad brasileña.

Resumo em Inglês:

Abstract This text discusses the intersectionality of disability to understand its effects on contemporary society and the concrete impacts on the lives of people with disabilities. Based on a critical review of the specialized literature on intersectionality and disability, this theoretical essay presents and analyzes the main legal aspects underlying the inclusive education policy in Brazil, particularly its concepts and guiding principles. Additionally, a brief historical overview of the different conceptions of disability is provided to support an in-depth discussion of intersectionality in the inclusive educational context. The essay concludes by strongly defending Human Rights and advocating the adoption of the Social Model of Disability combined with the Universal Design Paradigm, highlighting that ethical and political commitment must continue to guide the practices, knowledge, and forms of existence of all those who seek a genuine transformation of Brazilian society.
Artigo
A Práxis Psicológica e o Enfrentamento ao Capacitismo para a Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência Marques, Ana Tereza da Silva Ribeiro Filho, Rafael Aragão, Laura Carolina Lemos de Hazin, Izabel

Resumo em Português:

Resumo O texto discute a evolução das concepções sobre deficiência e a necessidade de uma práxis psicológica anticapacitista. Critica o modelo biomédico, que reduz a deficiência a falhas corporais, e valoriza abordagens que consideram a deficiência como construção social, incluindo os modelos social e biopsicossocial. A trajetória histórica revela mudanças significativas na terminologia e no reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência no Brasil, impulsionadas por marcos legais e mobilizações sociais. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) é destacada por adotar uma perspectiva que reconhece a interação entre impedimentos e barreiras sociais. A Psicologia, enquanto ciência e profissão, é convocada a superar práticas excludentes e a comprometer-se com a escuta qualificada, a justiça social e o reconhecimento da diversidade funcional. O texto destaca a importância de ações concretas, como a Resolução CFP n0 09/2024, que estabelece diretrizes para uma atuação ética e inclusiva, construída com protagonismo das próprias pessoas com deficiência. Reforça-se que o capacitismo deve ser enfrentado como uma forma de opressão estrutural e que a Psicologia deve assumir uma postura crítica e transformadora, pautada por uma epistemologia da diferença, acessibilidade plena e interseccionalidade. Não basta simplesmente não ser capacitista; é necessário construir ativamente uma Psicologia anticapacitista.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este texto analiza la evolución de las concepciones sobre la discapacidad y la necesidad de una praxis psicológica anticapacitista. Se critica el modelo biomédico, que reduce la discapacidad a fallas corporales, y se valoran enfoques alternativos que la entienden como una construcción social, como los modelos social y biopsicosocial. La trayectoria histórica muestra cambios significativos en la terminología y en el reconocimiento de los derechos de las personas con discapacidad en Brasil, que son impulsados por marcos legales y movilizaciones sociales. Se destaca la Ley Brasileña de Inclusión (LBI) por adoptar una perspectiva que reconoce la interacción entre impedimentos y barreras sociales. La Psicología como ciencia y profesión es convocada a superar prácticas excluyentes y a comprometerse con la escucha cualificada, la justicia social y el reconocimiento de la diversidad funcional. Este destaca acciones concretas como la Resolución CFP 09/2024, que establece directrices éticas e inclusivas construidas con el protagonismo de personas con discapacidad. El capacitismo se identifica como una forma de opresión estructural, y la Psicología debe adoptar una postura crítica y transformadora, guiada por una epistemología de la diferencia, accesibilidad plena e interseccionalidad. No basta con no ser capacitista, es necesario construir activamente una Psicología anticapacitista.

Resumo em Inglês:

Abstract This study discusses the evolution of conceptions about disability and the need for an anti-ableist psychological praxis. It critiques the biomedical model that reduces disability to bodily impairments and highlights alternative approaches that understand disability as a social construct, such as the social and biopsychosocial models. Its historical trajectory shows significant changes in terminology and in the recognition of the rights of persons with disabilities in Brazil driven by legal milestones and social movements. This study emphasizes the Brazilian Law for the Inclusion of Persons with Disabilities to adopt a perspective that acknowledges the interaction between impairments and social barriers. Psychology, as a science and profession, should overcome exclusionary practices and commit itself to qualified listening, social justice, and the recognition of functional diversity. This study highlights concrete actions such as CFP Resolution no. 09/2024, which establishes ethical and inclusive guidelines stemming from the active participation of persons with disabilities. Ableism configures a structural form of oppression, and psychology must take a critical and transformative stance guided by an epistemology of difference, full accessibility, and intersectionality. It is insufficient to avoid ableism; psychology must be actively anti-ableist.
Artigo
Métodos Quantitativos Críticos: Reflexões e Propostas para uma Psicologia Justa e Interseccional Peixoto, Evandro Morais Romano, Amanda Rizzieri Silva, Maynara Priscila Pereira da Campos, Carolina Rosa

Resumo em Português:

Resumo Este artigo revisita os métodos quantitativos aplicados à Psicologia a partir de três abordagens teóricas críticas que propõem o redirecionamento da pesquisa para o compromisso com a justiça social, o antirracismo e a interseccionalidade. São discutidas: (1) a Teoria Crítica das Raças (Critical Race Theory - QuantCrit), com ênfase na centralidade do racismo estrutural e nas críticas à neutralidade dos dados e dos pesquisadores; (2) o movimento dos Métodos Quantitativos Críticos (Critical Quantitative Methods - CritQuant), que propõe práticas de mensuração sensíveis às desigualdades sociais; e (3) o modelo de validade orientada à justiça e ao antirracismo (Validity for Justice and Antiracism), que reposiciona a validade como uma construção política e situada. Ao final, é apresentado o uso do modelo MIMIC (Multiple Indicators, Multiple Causes) como exemplo de aplicação prática dessas perspectivas críticas, demonstrando como variáveis estruturais, como raça/cor, gênero e classe social podem ser incorporadas na modelagem estatística para evidenciar os efeitos das desigualdades e interseccionalidades na mensuração psicológica e, assim, produzir conhecimento e dar base para ações comprometidas com a transformação social. A proposta busca incentivar uma reflexão crítica sobre a produção de dados quantitativos em Psicologia, promovendo práticas de pesquisa e fundamentos para intervenções mais sensíveis ao contexto, eticamente orientadas e comprometidas com a justiça social.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este artículo revisita los métodos cuantitativos aplicados a la Psicología a la luz de tres enfoques teóricos críticos que proponen reorientar la investigación hacia el compromiso con la justicia social, el antirracismo y la interseccionalidad. Se discuten (1) la teoría crítica de la raza (Critical Race Theory - QuantCrit), con énfasis en la centralidad del racismo estructural y en las críticas a la supuesta neutralidad de los datos y de los investigadores; (2) el movimiento de métodos cuantitativos críticos (Critical Quantitative Methods - CritQuant), que propone prácticas de medición sensibles a las desigualdades sociales; y (3) el modelo de validez orientado a la justicia y al antirracismo (Validity for Justice and Antiracism), que replantea la validez como una construcción política y situada. Al final, se presenta el uso del modelo MIMIC (Multiple Indicators, Multiple Causes) como ejemplo de aplicación práctica de estas perspectivas críticas al mostrar cómo variables estructurales como la raza/color de piel, el género y la clase social pueden ser incorporadas en la modelización estadística para evidenciar los efectos de las desigualdades y de las interseccionalidades en la medición psicológica, y así generar conocimiento que sirva de base para acciones comprometidas con la transformación social. Esta propuesta pretende fomentar una reflexión crítica sobre la producción de datos cuantitativos en Psicología al promover prácticas de investigación y fundamentos para intervenciones que sean más sensibles al contexto, éticamente orientadas y comprometidas con la justicia social.

Resumo em Inglês:

Abstract This study revisits quantitative methods in psychology by the lens of three critical theoretical approaches that propose redirecting research toward a commitment to social justice, anti-racism, and intersectionality. It discusses the following: (1) critical race theory, emphasizing the centrality of structural racism and critiques of the presumed neutrality of data and researchers; (2) the critical quantitative methods movement, which defends measurement practices that are sensitive to social inequalities; and (3) the validity for justice and antiracism framework, which repositions validity as a political and situated construct. Finally, it describes the use of the multiple indicators, multiple causes as an example of the practical application of these critical perspectives, showing how statistical modeling can incorporate structural variables such as race/ethnicity, gender, and social class to show the effects of inequalities and intersectionalities in psychological measurement, generating knowledge and supporting actions committed to social transformation. This proposal aims to foster critical reflection on the production of quantitative data in psychology, promoting more context-sensitive and ethically grounded research practices and intervention frameworks that commit themselves to social justice.
Artigo
De Relatos de Luto a Rastros de Luta: Interseccionalidades em (Necro)políticas de Segurança Silva, Caíque Azael Ferreira da Anjos, Mykaella Moreira dos Bicalho, Pedro Paulo Gastalho de

Resumo em Português:

Resumo Este artigo propõe uma análise crítica dos efeitos da militarização das políticas de segurança pública na trajetória de vida de jovens negros e no cotidiano de suas famílias, com ênfase nas dinâmicas da violência de Estado no contexto urbano do Rio de Janeiro. A partir de uma perspectiva interseccional, investigam-se as inter-relações entre raça, gênero, classe social e territorialidade na produção de experiências de sofrimento psíquico e resistência, esta concretizada em ações de mobilização social. O estudo fundamenta-se metodologicamente na cartografia, privilegiando narrativas de mulheres, especialmente mães de vítimas da letalidade policial, que ressignificam o luto em ações políticas voltadas à memória, à justiça e à reparação histórica. As trajetórias dessas mulheres são compreendidas como formas de resistência ao genocídio da juventude negra, representando sujeitos políticos emergentes na luta por direitos. Finalmente, discute-se o papel ético da Psicologia nesse cenário, apontando para a necessidade de seu comprometimento ativo com a promoção dos direitos humanos, da equidade racial e da valorização da vida.

Resumo em Espanhol:

Resumen Este trabajo propone un análisis crítico de los efectos de la militarización de las políticas de seguridad pública en las trayectorias de vida de jóvenes negros y en el cotidiano de sus familias, con énfasis en las dinámicas de la violencia estatal en el contexto urbano de Río de Janeiro. Desde una perspectiva interseccional, se analizan las interrelaciones entre raza, género, clase social y territorialidad en la producción de experiencias de sufrimiento psíquico y de resistencia, esta última concretada en acciones de movilización social. Este estudio se fundamenta metodológicamente en la cartografía y prioriza las narrativas de mujeres, especialmente madres de víctimas de la letalidad policial, que resignifican el duelo en acciones políticas orientadas a la memoria, a la justicia y a la reparación histórica. Las trayectorias de estas mujeres se consideran como formas de resistencia al genocidio de la juventud negra al representar sujetos políticos emergentes en la lucha por derechos. Finalmente, se discute el papel ético de la Psicología en este escenario al señalar la necesidad de su compromiso activo con la promoción de los derechos humanos, la equidad racial y la valorización de la vida.

Resumo em Inglês:

Abstract This study critically analyzes the effects of the militarization of public security policies on the life trajectories of Black youths and the daily lives of their families, emphasizing the dynamics of state violence in Rio de Janeiro. Based on an intersectional perspective, this study investigates the interrelationships between race, gender, social class, and territoriality in shaping experiences of psychological suffering and resistance, the latter expressed by social mobilization. This study is methodologically grounded in cartography, prioritizing the narratives of women, particularly mothers of victims of police lethality, who reframe mourning into political action aimed at memory, justice, and historical reparation. These women’s trajectories are understood as forms of resistance to the genocide of Black youth, representing emerging political subjects in the struggle for rights. Finally, this study discusses the ethical role of Psychology in this context, highlighting the need for an active commitment to promote human rights and racial equity and value life.
location_on
Conselho Federal de Psicologia SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B, Edifício Via Office, térreo sala 105, 70070-600, Tel.: (55 61) 2109-0100 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revista@cfp.org.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro