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Editorial

EDITORIAL

Claudia Regina Furquim de Andrade

Professora Titular, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Prezados leitores,

Nosso último Número de 2009. Esse Editorial e a reprodução do texto com a autorização do seu autor, Professor Maurício Rocha e Silva, Editor da Revista Clinics, intitulado "O NOVO QUALIS, QUE NÃO TEM NADA A VER COM A CIÊNCIA DO BRASIL. CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CAPES", têm como objetivo uma reflexão sobre a produção científica brasileira indexada.

O Professor Maurício descreve de maneira honesta e sincera o sentimento, acredito que de todos os editores científicos de revistas brasileiras, diante dos critérios adotados pela CAPES, para a composição do Qualis. O que sentir então, a editora da melhor e mais completamente indexada revista brasileira de uma ciência ainda não consolidada como a Fonoaudiologia, é isso que eu quero compartilhar com vocês agora.

Sobre avaliação de periódico, o Professor Maurício já falou tudo, eu quero falar, brevemente, sobre o fator de impacto dos autores da Fonoaudiologia nacional, agora passível de avaliação ampla, a partir da indexação da Pró-Fono no Scopus. O Fator H foi desenvolvidos nos EUA, há cerca de cinco anos, para consolidar a produtividade dos autores, tendo como base as citações de suas publicações. É um índice de performance e reconhecimento. As variáveis que influenciam esse índice são: área do conhecimento; tempo; número de citações de um texto e número de artigos. Embora seja de conhecimento que o Fator H só é justo e passível de comparação entre grupos similares e, que para as ciências emergentes e pesquisadores mais jovens o índice de impacto é evidentemente menor quando comparado ao de pesquisadores de áreas do conhecimento com altos números de publicações e citações, tem sido uma constante o uso do Fator H para valorizar algumas pessoas e ciências em detrimento de outras.

A Fonoaudiologia é uma ciência jovem, com poucos periódicos específicos indexados, com sub-áreas ainda nebulosamente definidas e poucos pesquisadores qualificados. Como forma de ilustração do índice de impacto de fonoaudiólogos, realizei um levantamento dos fatores de impacto de 41 pesquisadores brasileiros com relevância na área, sendo:

. o maior índice de impacto foi 4;

. comparando as sub-áreas (Linguagem, Audiologia e Voz/Motricidade Orofacial), nenhum pesquisador da área de Linguagem apresentou impacto 4, o maior impacto nessa área foi 3. Na área de Audiologia, houve impacto 4 para três pesquisadores e 3 para dois deles. Na área de Voz/Motricidade Orofacial, dois pesquisadores apresentaram impacto 4 e um deles impacto 3;

. 75,6% dos pesquisadores têm impacto até 2.

Bom, a explicação é essa mesma: área jovem, com poucos periódicos, a Pró-Fono com indexação recente. As sub-áreas mais fisiológicas (Audiologia e Voz/Motricidade Orofacial) apresentam melhores índices de citação quando comparadas à área da Linguagem (cuja limitação decorrente da Língua implica também numa limitação de citações). Aproveitando uma observação do Professor Maurício, se podemos citar um artigo internacional porque citaríamos um nacional? Agora essa é minha: se não nos citamos, ou seja, não reconhecemos o que fazemos em nosso país, devemos esperar que os estrangeiros o façam?

Bom, mãos à obra não é? Que em 2010 nós tenhamos como meta acreditar mais na produção nacional; que nós possamos valorizar mais os trabalhos dos nossos colegas, enfim....

Nesse Número da Revista estamos publicando 10 ARTIGO ORIGINAL DE PESQUISA.

Segundo Fortunato-Tavares et al. (2009), poucos estudos abordam a correlação entre o processamento temporal (PT) e os distúrbios de linguagem. Baseadas nesta constatação, os autores realizaram um estudo cujo objetivo foi analisar a correlação entre o PT (teste de padrão de freqüência - TPF) e o processamento lingüístico (complexidade sintática). Participaram do estudo dezesseis crianças com desenvolvimento típico de linguagem e sete crianças diagnosticadas com DEL. Os participantes foram submetidos aos testes TPF e testes de Compreensão de Complexidade Sintática (TCCS). Os resultados indicaram que o TPF está correlacionado positivamente com habilidades de complexidade sintática. Os autores sugerem que o baixo desempenho no TPF pode servir como um indicativo adicional sobre déficits em processamento linguístico complexo.

O objetivo do estudo apresentado por Magliaro et al. (2009) foi caracterizar os achados do potencial cognitivo P300 em indivíduos destros com lesão isquêmica do hemisfério cerebral direito, bem como comparar seus resultados aos obtidos em indivíduos normais. Para isso, foram realizadas anamnese, avaliação audiológica convencional e potencial cognitivo (P300), em 17 indivíduos com lesão do hemisfério direito (grupo pesquisa) e 25 indivíduos normais (grupo controle), com idades entre 20 e 70 anos. A partir dos resultados obtidos, os autores concluíram que indivíduos destros com lesão de hemisfério direito e limiares auditivos normais apresentaram resultados eletrofisiológicos da audição indicativos de déficit no sistema nervoso auditivo central. Foram observados comprometimentos nas regiões geradoras deste potencial (áreas subcorticais e corticais). Dificuldades auditivas não foram percebidas pelos indivíduos, sugerindo que, provavelmente, tal sinal possa estar relacionado à uma heminegligência auditiva.

Almeida et al. (2009) apresentaram uma pesquisa com o objetivo de verificar a sensação subjetiva do zumbido pré e pós-intervenção nutricional em pacientes com zumbido e com alterações metabólicas, por meio da comparação do Questionário de Gravidade do Zumbido. Os participantes da pesquisa foram 21 indivíduos de ambos os gêneros (40 a 82 anos de idade), cujo critério de inclusão na pesquisa foi apresentar zumbido e doenças metabólicas comprovadas por exames laboratoriais. Todos os participantes foram submetidos a um programa de intervenção nutricional, sendo realizadas avaliações audiológicas e aplicação do questionário de gravidade do zumbido antes e depois da intervenção nutricional. De acordo com os resultados, os autores concluíram que existe uma relação significativa entre o zumbido e alterações metabólicas, obtendo-se melhora significante do zumbido mediante intervenção nutricional.

A terapia fonológica em crianças com desvio fonológico foi o tema do estudo apresentado por Pagliarin et al. (2009), realizando uma comparação da eficácia de três modelos de abordagem contrastiva em três diferentes gravidades do desvio fonológico. Participaram do estudo nove crianças com desvio fonológico, avaliadas antes e após a terapia fonológica. Foram estabelecidos três grupos para o tratamento, sendo todos constituídos por três crianças. Cada grupo foi tratado por um modelo - Oposições Mínimas, Oposições Máximas/Empty Set e Oposições Múltiplas. Os resultados indicaram que todos os modelos de terapia testados foram eficazes no tratamento das diferentes gravidades do desvio fonológico, observando-se melhor desempenho das crianças com desvio severo e moderado-severo.

O objetivo da pesquisa apresentada por Quintas et al. (2009) foi relacionar o jogo simbólico e aspectos do desenvolvimento infantil em crianças deficientes auditivas com seus pares ouvintes. Os participantes da pesquisa foram 32 crianças, de ambos os sexos, que foram submetidas à Avaliação da Maturidade Simbólica e ao Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver II, sendo 16 deficientes auditivas neurossensorial de grau moderado a profundo (grupo pesquisa) e 16 normo-ouvintes (grupo controle). A partir dos resultados obtidos, os autores concluíram que os grupos apresentaram desempenho semelhante quanto ao jogo simbólico, entretanto, numa análise qualitativa, observaram que o GP apresentou brincadeiras menos complexas que o GC.

Miilher e Fernandes (2009) realizaram um estudo onde analisaram a evolução dos aspectos funcionais e gramaticais em crianças com transtornos do espectro autístico em três momentos distintos: avaliação inicial, após seis meses de terapia e após doze meses de terapia. Participaram deste estudo dez crianças do sexo masculino, com idades entre 2:7 e 11:2 anos, diagnosticados como portadores de transtornos do espectro autístico. Apesar dos resultados indicarem não haver diferença estatisticamente significante entre as variáveis estudadas ao longo de 12 meses de terapia fonoaudiológica, as autoras apontaram a existência de associações das variáveis entre si ao longo do período estudado, concluindo assim que houve relação entre o desempenho gramatical e o pragmático.

O objetivo do estudo apresentado por Medeiros et al. (2009) foi analisar a relação entre a duração do aleitamento natural, artificial e da sucção não-nutritiva com o desempenho motor orofacial. Para isso, participaram do estudo 176 crianças, de 6 a 12 anos de idade, que passaram por avaliação miofuncional orofacial. Após análise dos resultados obtidos, os autores concluíram que a duração do aleitamento natural mostrou efeito positivo sobre a mobilidade das estruturas orofaciais. Os efeitos deletérios da duração dos hábitos de sucção no controle motor orofacial foram confirmados.

Ávila et al. (2009) caracterizaram, segundo as variáveis rede de ensino e escolaridade, os tipos de erro na leitura de palavras isoladas, apresentados por 151 escolares típicos do ensino fundamental, considerados competentes por seus professores. Os participantes tinham idade entre oito e doze anos e eram matriculados do quarto ao sétimo ano do ensino fundamental das redes pública e particular. Os resultados demonstraram que os erros de leitura fazem parte do aprendizado das regras de decodificação ortográfica e são superados, progressivamente, com o aumento da escolaridade. O domínio da decodificação da ortografia, independente do contexto, ocorreu mais precocemente que o da decodificação dependente do contexto grafêmico.

O objetivo do estudo apresentado por Behlau et al. (2009) foi apresentar o processo de validação para o Português Brasileiro de três protocolos de auto-avaliação para voz: Voice-Related Quality of Life - V-RQOL, Voice Handicap Index - VHI e Voice Activity and Participation Profile - VAPP, que receberam os seguintes nomes respectivamente: Qualidade de Vida em Voz - QVV, Índice de Desvantagem Vocal - IDV e Perfil de Participação e Atividades Vocais - PPAV. Os três protocolos foram validados de acordo com os atributos sugeridos pelo Scientific Advisory Committee of Medical Outcomes Trust - SAC. As autoras concluem que as versões brasileiras dos protocolos QVV, IDV e PPAV mostraram ser instrumentos específicos para avaliar pacientes que apresentam problemas de voz, com validade, confiabilidade e sensibilidade comprovadas. Além disso, afirmam que tais instrumentos podem ser propostos para avaliação da qualidade de vida relacionada à voz, bem como para análise de resultado de tratamentos.

Para finalizar, Fernandes e Russo (2009) apontaram que, na realização da audiometria, determinadas situações dificultam a obtenção dos limiares para cada orelha separadamente, havendo a necessidade do mascaramento. Partindo dessa afirmativa, o objetivo do estudo proposto pelas autoras foi verificar a existência de diferenças entre os limiares auditivos por via aérea e óssea, utilizando-se os Métodos Platô e Otimizado. Participaram do estudo 40 indivíduos (de 15 a 65 anos), que apresentavam perda auditiva unilateral ou bilateral. Foram realizados os procedimentos de audiometria tonal por via aérea e óssea, para ambas as orelhas, com e sem a utilização dos dois métodos de mascaramento. Os resultados indicaram que o Método Platô pode ser utilizado para todos os padrões e o Otimizado é mais eficaz para os padrões unilateral e bilateral, não sendo indicado para o simétrico.

Bom Natal e Feliz Ano Novo, abraço.

Claudia

Ávila CRB, Kida ASB, Carvalho CAF, Paolucci JF. Tipologia de erros de leitura de escolares brasileiros considerados bons leitores. 2009 out-dez;21(4):320-5.

  • Almeida TAS, Samelli AG, Mecca FDN, Martino E de, Paulino AM. Sensação subjetiva do zumbido pré e pós intervenção nutricional em alterações metabólicas. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):291-6.
  • Behlau M, Oliveira G, Santos LMA, Ricarte A. Validação no Brasil de protocolos de auto-avaliação do impacto de uma disfonia. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):326-32.
  • Fernandes KCS, Russo ICP. Mascaramento clínico: aplicabilidade dos métodos platô e otimizado na pesquisa dos limiares auditivos. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):333-8.
  • Fortunato-Tavares T, Rocha CN, Andrade CRF de, Befi-Lopes DM, Schochat E, Hestvik A, Schwartz RG. Processamento linguístico e processamento auditivo temporal em crianças com distúrbio específico de linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):279-84.
  • Magliaro FCL, Matas SLA, Matas CG. Potencial Cognitivo P300 em pacientes com lesão isquêmica do hemisfério direito. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):285-90.
  • Medeiros APM, Ferreira JTL, Felício CM de. Correlação entre métodos de aleitamento, hábitos de sucção e comportamentos orofaciais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):315-9.
  • Miilher LP, Fernandes FDM. Habilidades pragmáticas, vocabulares e gramaticais em crianças com transtornos do espectro autístico. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):309-14.
  • Pagliarin KC, Mota HB, Keske-Soares M. Análise da eficácia terapêutica em três modelos fonológicos de abordagem contrastiva. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):297-302.
  • Quintas TA, Curti LM, Goulart BNG, Chiari BM. Caracterização do jogo simbólico em deficientes auditivos: estudo de casos e controles. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 out-dez;21(4):303-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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