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Questões de tradução para legendagem e aprendizagem de alemão como língua estrangeira: o caso das legendas da série Dark

Translation issues for subtitling and learning of German as a Foreign Language: the case of subtitles from the Dark series

Resumo

A partir dos resultados de uma pesquisa online realizada com aprendizes de alemão no Brasil sobre suas experiências com legendagem, na qual a série Dark se destacou como sendo mais conhecida, constatou-se que as legendas em português são consideradas pelos aprendizes um recurso útil para a aprendizagem autônoma fora do contexto de sala de aula. O presente artigo tem como objetivo analisar a tradução para legendagem e dublagem da primeira temporada da referida série a fim de constatar as diferenças entre elas e quais seriam as características do texto proposto pela legendagem, diante das discussões sobre as supostas perdas sofridas no processo de tradução para legendagem (FOIS 2020FOIS, Eleonora. Tradução audiovisual: Teoria e Prática da Dublagem. Tradução de Adauto Lúcio Caetano Villela e Pedro Bustamante Teixeira. RÓNAI. Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios. v. 8, n. 2, 217-234, 2020.: 222-223). Após a análise das traduções da série Dark e da discussão teórica sobre as diferenças entre tradução para dublagem e tradução para legendagem, concluiu-se que, apesar do caráter mais conciso e de menos oralidade da tradução para legendagem, as legendas podem ser uma base para a comparação com o texto do áudio original e auxiliar assim no trabalho autônomo de aprendizagem de vocabulário.

Palavras-chave:
Tradução; Legendagem; Ensino-aprendizagem de LE; Alemão como LE

Abstract

Based on the results of an online survey conducted with German learners in Brazil about their experiences with subtitling, in which the series Dark stood out as the most popular, it was found that subtitles in Portuguese are considered by learners a useful resource for autonomous learning outside the classroom context. This paper aims to analyze the translation for subtitling and dubbing of the first season of the aforementioned series in order to verify whether there are significant differences between them and what would be the characteristics of the text proposed by subtitling, in view of the discussions about the supposed losses suffered in the process of translation for subtitling (FOIS 2020FOIS, Eleonora. Tradução audiovisual: Teoria e Prática da Dublagem. Tradução de Adauto Lúcio Caetano Villela e Pedro Bustamante Teixeira. RÓNAI. Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios. v. 8, n. 2, 217-234, 2020.: 222-223). After analyzing the translations of the Dark series and the theoretical discussion about the differences between translation for dubbing and translation for subtitling, it was concluded that, despite the more concise character and less orality of the translation for subtitling, subtitles can be a basis for comparison with the original audio text and thus aid the autonomous work of vocabulary learning.

Keywords:
Translation; Subtitling; Foreign Languages Teaching/Learning; German as a Foreign Language

1 Introdução

O uso de recursos como música, vídeos e filmes no ensino de línguas estrangeiras não é algo novo. Sobre o tema música no ensino de alemão, p.ex., há trabalhos de vários pesquisadores e pesquisadoras, como Frith (1999FRITH, Simon. Musik und Identität. In: ENGELMANN, Jan (Org). Die kleinen Unterschiede. Der Cultural-Studies-Reader. Frankfurt am Main: Campus, 1999.), com seu trabalho sobre música e identidade e suas implicações para o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras (LE) e, no Brasil, Costa Pereira (2009PEREIRA, Rogéria Costa. Lieder und Musik im Unterricht Deutsch als Fremdsprache. In: Akten des Seminars Deutsch-Brasilianische Kulturbeziehungen und DaF, 2007. Disponível em: Disponível em: http://abrapa.org.br/congresso2009/6.html (07/06/2021).
http://abrapa.org.br/congresso2009/6.htm...
), que faz uma análise bastante minuciosa dos motivos para se utilizar música na sala de alemão como língua estrangeira (ALE), entre outros. Badstübner-Kizik (2007BADSTÜBNER-KIZIK, Camilla. Bild- und Musikkunst im Fremdsprachenunterricht: Zwischenbilanz und Handreichungen für die Praxis. Frankfurt am Main u.a.: Peter Lang GmbH, Internationaler Verlag der Wissenschaften, 2007.) apresenta não apenas discussões teóricas sobre o uso de música e imagens na aula de LE, mas também exemplos práticos para seu uso didático. Uma abordagem semelhante é apresentada por Wicke & Rottmann (2013WICKE, Rainer; ROTTMANN, Karin. Musik und Kunst im Unterricht Deutsch als Fremdsprache: mit Kopiervorlagen. Berlin: Cornelsen, 2013.), mas com o tema música e arte na aula de ALE. Bernstein (2014BERNSTEIN, Nils. Ästhetisches Lernen im DaF-/ DaZ-Unterricht: Literatur - Theater - Bildende Kunst - Musik - Film. Göttingen: Universitätsverlag, 2014.), por sua vez, aborda uma gama maior de possibilidades do uso de recursos “estéticos” [ästhetischesLernen] na aula de ALE, abrangendo música, literatura, teatro e filmes.

A lista de estudos teóricos e de cunho mais prático acerca do uso de música, pintura, vídeos e filmes na aula de LE, e mais especificamente na área de ALE, poderia ser aumentada aqui com trabalhos dos países de língua alemã, mas também do Brasil e de outros países. No entanto, o objetivo do artigo em tela não é discutir teoricamente ou apresentar dados empíricos ou propostas do uso desses recursos em sala de aula, mas sim analisar as características da tradução para legendagem, consumida fora de sala aula, já que o hábito de ver séries em alemão com legendas em português é uma forma de aprendizado autônomo.

Para tal, analisaremos as legendas de 5 episódios da primeira temporada da série alemã do canal de streaming Netflix® Dark, que foi lançada em 2017 e teve um grande

sucesso de público e crítica, o que levou à sua continuação, tendo chegado à terceira temporada, lançada em 2020. Foram analisadas tanto as legendas quanto a dublagem de 5 capítulos da primeira temporada a fim de compará-las e depreender eventuais diferenças em relação principalmente ao vocabulário, à morfologia e à sintaxe contidos nos dois textos. Os resultados serão apresentados e discutidos mais adiante. Para essa análise será usado o arcabouço teórico da tradução para legendagem e dublagem, levando-se em consideração as especificidades inerentes a cada um dos dois tipos de tradução e que poderão servir de instrumentos para a compreensão das diferentes escolhas lexicais, morfológicas e sintáticas encontradas pelos tradutores.

Com base no resultado de uma pesquisa qualitativa através de um serviço online de enquetes, procuramos então entender o papel de filmes e séries alemãs para o aprendizado autônomo de ALE no Brasil. O cruzamento dos dados obtidos nessa pesquisa e a análise das traduções da legendagem e da dublagem da série supracitada formam a base da discussão que será apresentada ao final. O objetivo final do artigo em tela é analisar se a tradução para legendagem, com todas suas especificidades e as supostas “perdas” ocorridas no processo de tradução para legendagem se comparada à tradução para dublagem (FOIS 2020FOIS, Eleonora. Tradução audiovisual: Teoria e Prática da Dublagem. Tradução de Adauto Lúcio Caetano Villela e Pedro Bustamante Teixeira. RÓNAI. Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios. v. 8, n. 2, 217-234, 2020.: 222-223), pode ser relevante para o aprendizado de ALE de forma autônoma.

2 Filmes e séries no processo de ensino-aprendizagem de ALE

2.1 Filmes e séries na aula de ALE

Como foi exposto acima, recursos tais como música, literatura, filmes e vídeos (musicais, de publicidade etc.) já vêm sendo discutidos e utilizados há bastante tempo na área de ensino de ALE. Gostaríamos de tratar aqui mais especificamente do uso de filmes e séries para o ensino-aprendizagem de ALE.

Burger (1995BURGER, Günter. Fiktionale Filme im fortgeschrittenen Fremdsprachenunterricht. In: Die Neueren Sprachen, v. 94, 592-608, 1995. Disponível em: Disponível em: http://www.fremdsprache-und- spielfilm.de/pdfs/FiktionaleFilme.pdf (26/07/2021).
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) afirma que filmes só foram reconhecidos como gênero textual adequado para o ensino de línguas estrangeiras no final dos anos 70. Desde então, foram publicados inúmeros trabalhos teóricos e práticos sobre o uso de filmes na aula de ALE. A literatura acerca do uso didático de longas e curtas metragens no ensino de ALE é bastante extensa e uma revisão da literatura seria demasiado longa para ser feita no âmbito do presente artigo. No entanto, o que se costuma destacar quando se fala do uso de filmes (curta ou longa-metragem) na aula de línguas estrangeiras é o fato de se tratar de um material autêntico - no sentido de que não foi produzido ou adaptado especificamente para a aula de língua - trazendo consigo várias informações culturais (relações humanas, gestos, linguagem corporal etc.) que não são por vezes passíveis de serem transmitidas através de textos escritos (LAY 2009LAY, Tristan. Film und Video im Fremdsprachenunterricht. Eine empirisch quantitative Erhebung zur didaktischmethodischen Implementierung filmspezifischer Arbeit im universitären Deutschstudium Taiwans. In: Zeitschrift für Interkulturellen Fremdsprachenunterricht, v. 14, n. 1, 1-47, 2009. Disponível em: Disponível em: https://ojs.tujournals.ulb.tu-darmstadt.de/index.php/zif/article/view/210/203 (26/07/2021).
https://ojs.tujournals.ulb.tu-darmstadt....
). Ainda que filmes sejam obras ficcionais e subjetivas, eles permitem a quem aprende uma nova língua uma espécie de “imersão” na nova cultura. Além disso, filmes podem ser utilizados para se treinar as 4 habilidades: ler, escrever, ouvir e falar, além de serem uma excelente base para a habilidade que Schwerdtfeger (1989SCHWERDTFEGER, Inge Cristine. Sehen und Verstehen. Arbeit mit Filmen im Unterricht Deutsch als Fremdsprache. Berlin: Langenscheidt, 1989.) definiu como Hör-Sehverstehen (compreensão audiovisual).

Na área de ALE no Brasil, podemos destacar os trabalhos de Marques e Rozenfeld (2018MARQUES, Lívia dos Santos. ROZENFELD, Cibele Cecílio de Faria. O uso de seriados televisivos no ensino de alemão: aspectos linguísticos, socioculturais, ideológicos e político-sociais em Deutschland 83. Pandaemonium Germanicum, v. 21, n. 33, 64-86, 2018.; 2019MARQUES, Lívia dos Santos; ROZENFELD, Cibele Cecílio de Faria. O Ensino Intercultural de Língua Estrangeira (Alemão) por meio do seriado Dark. Horizontes de Linguística Aplicada, v. 18, n. 2, 63-80, 2019.), Crespo e Rozenfeld (2018CRESPO, Arthur Heredia.; ROZENFELD, Cibele Cecílio de Faria. Protagonistas de séries voltadas para a aprendizagem de alemão: uma análise da representação de falantes interculturais Pandaemonium Germanicum, v. 21, n. 35, 170-201, 2018.) e Marques (2020MARQUES, Lívia dos Santos. Diálogos entre o eu e o outro: aspectos do ensino intercultural por meio de uma minissérie alemã. Dissertação (Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa) - Faculdade de Cicências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2020. Disponível em: Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/192767 (20/07/2021).
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) sobre o uso de séries alemãs na aula de alemão. Os três primeiros estudos (artigos) e a dissertação de mestrado de Marques (2020MARQUES, Lívia dos Santos. Diálogos entre o eu e o outro: aspectos do ensino intercultural por meio de uma minissérie alemã. Dissertação (Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa) - Faculdade de Cicências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2020. Disponível em: Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/192767 (20/07/2021).
https://repositorio.unesp.br/handle/1144...
) versam sobre a questão intercultural a partir de vários aspectos e como abordá-los em sala de aula com o suporte de séries em língua alemã, tratando inclusive no artigo de 2019 especificamente da série Dark. Lorke e Mariano (2020LORKE, Franziska.; MARIANO, Thiago Vitte. In der Kürze liegt die Würze! Curtas-metragens no ensino de alemão como língua estrangeira. In: PORTINHO-NAUIACK, Catarina; BOHUNOVSKY, Ruth; WRUCK, Virginia (Org). Ensinar alemão no Brasil: percursos e procedimentos Curitiba: Ed. UFPR, 2020.) discutem o uso de curtas-metragens na aula de alemão com o objetivo de fomentar letramentos múltiplos e não apenas como “[...] um adicional à aula efetiva de língua, quando sobra tempo ao final do curso.” (LORKE; MARIANO 2020LORKE, Franziska.; MARIANO, Thiago Vitte. In der Kürze liegt die Würze! Curtas-metragens no ensino de alemão como língua estrangeira. In: PORTINHO-NAUIACK, Catarina; BOHUNOVSKY, Ruth; WRUCK, Virginia (Org). Ensinar alemão no Brasil: percursos e procedimentos Curitiba: Ed. UFPR, 2020.:173)

Todos esses trabalhos são extremamente relevantes. No entanto, o nosso objetivo não é analisar, como já foi dito mais acima, o uso das séries dentro da sala de aula de ALE, mas sim o uso autônomo de quem aprende ALE fora da sala de aula e o papel da legendagem nesse processo.

2.2 Filmes e séries no processo autônomo de aprendizagem de ALE - o papel da legendagem

Kamila Chmielewska-Molik, em sua tese de doutoramento Fremdsprachenlernen mit Fernsehserien. Subjektive Lernertheorien (2019), analisa detalhadamente o gênero filme (mais especificamente as séries), suas características e seu uso dentro e fora da sala de aula de ALE na Polônia, bem como - e principalmente - as crenças de alguns alunos sobre seu próprio aprendizado em sua pesquisa qualitativa. No que tange ao papel da legendagem no processo de ensino-aprendizagem, Chmielewska-Molik chega à seguinte conclusão, após a discussão de diversos trabalhos sobre esse tema:

Die Ergebnisse der wenigen Studien belegen, dass dank einer Untertitelung nicht nur das Hör-Sehverstehen, Hören und der Wortschatzerwerb gefördert werden kann. Die teilweise widersprüchlichen Resultate in Bezug auf die implizite Grammatik-Aneignung sowie die unterschiedlichen Forschungsdesigns und Testverfahren sollten allerdings dazu anregen, diese Forschungsgegenstände näher zu untersuchen und die Ergebnisse vergleichbar zu machen. Besonders interessant und immer noch unterforscht scheint der Bezug zwischen der Rezeption und der sprachlichen Produktion zu sein, wobei Studien zur Fertigkeit Schreiben meines Wissens noch völlig fehlen. 1 1 Os resultados dos poucos estudos comprovam que, graças à legendagem, não apenas a compreensão auditiva, a audição e a aquisição de vocabulário podem ser estimuladas. Entretanto, os resultados parcialmente contraditórios em relação à aprendizagem gramatical implícita, assim como os diferentes projetos de pesquisa e procedimentos de teste, devem encorajar a investigar mais de perto esses temas de pesquisa e a tornar os resultados comparáveis. Particularmente interessante e ainda pouco estudada parece ser a relação entre recepção e produção linguística, sendo os estudos sobre a habilidade de escrita, ao meu conhecimento, ainda completamente inexistentes. (Tradução nossa). (CHMIELEWSKA-MOLIK 2019CHMIELEWSKA-MOLIK, Kamila. Fremdsprachenlernen mit Fernsehserien. Subjektive Lernertheorien. 2019. Tese (Doutorado) - Wydział Neofilologii, Universidade de Poznán, Polônia, 2019. Disponível em: Disponível em: https://bip.amu.edu.pl/ data/assets/pdf_file/0027/123399/Kamila-Chmielewska-Molik-rozprawa-doktorska_-Fremdsprachenlernen-mit-Fernsehserien.-Subjektive- Lernertheorien.pdf . (07/06/2021).
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: 172)

Na Europa, há distintas tradições no que se refere à prática da tradução audiovisual: alguns países (como a Holanda e os países escandinavos) preferem a legendagem, enquanto outros (como os países de língua alemã), usam preferencialmente a dublagem. Segundo Chmielewska-Molik, essas escolhas se refletem no grau de proficiência em língua estrangeira dos habitantes desses países:

Laut einer Studie der Media Consulting Gruppe und der Europäischen Kommission (2011MEDIA CONSULTING GROUP [MCG]. Study on Dubbing and Subtitling Needs and Practices in the European Audiovisual Industry: Final Report, 2007.) korreliert die Praxis der Untertitelung in einem Land mit den Sprachkenntnissen der Bevölkerung. In Ländern, in denen UT im Fernsehen und/oder im Kino eingeblendet werden, beherrschen die EinwohnerInnen nach subjektiven Einschätzungen eine oder zwei Fremdsprachen sehr gut (vgl. MCG 2011MEDIA CONSULTING GROUP [MCG]. Study on Dubbing and Subtitling Needs and Practices in the European Audiovisual Industry: Final Report, 2007.: 13). Auch Kinder, die häufig interlingual untertitelte Fernsehprogramme sehen, lernen inzidentell mehr Wortschatz als diejenigen, die das nur selten tun (vgl. KUPPENS 2010: 74ff.)2 2 De acordo com um estudo do Media Consulting Group e da Comissão Européia (2011), a prática da legendagem em um país está ligada aos conhecimentos de línguas da população. Em países onde as legendas são exibidas na televisão e/ou em cinemas, as pessoas parecem ter, segundo análises subjetivas, um domínio muito bom de uma ou duas línguas estrangeiras (cf. MCG 2011: 13). As crianças que assistem com frequência a programas de televisão com legendas interlíngues também aprendem mais vocabulário incidentemente do que aquelas que o fazem apenas raramente (Tradução nossa). (CHMIELEWSKA-MOLIK 2019CHMIELEWSKA-MOLIK, Kamila. Fremdsprachenlernen mit Fernsehserien. Subjektive Lernertheorien. 2019. Tese (Doutorado) - Wydział Neofilologii, Universidade de Poznán, Polônia, 2019. Disponível em: Disponível em: https://bip.amu.edu.pl/ data/assets/pdf_file/0027/123399/Kamila-Chmielewska-Molik-rozprawa-doktorska_-Fremdsprachenlernen-mit-Fernsehserien.-Subjektive- Lernertheorien.pdf . (07/06/2021).
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: 172).

Ainda que a autora se refira a uma avaliação subjetiva, há estudos que confirmariam que o hábito de legendar filmes tem uma influência positiva na habilidade da leitura da população, como é o caso da Índia, por exemplo (cf. BOECKMANN 2016BOECKMANN, Klaus-Börge. Lesen(d) lernen mit Untertiteln. ÖDaF-Mitteilungen, v. 32, n. 2, 6-16, 2016.: 2). No caso da proficiência linguística em língua estrangeira, parece haver realmente uma comprovação dos benefícios do consumo de filmes e séries em língua estrangeira segundo o estudo feito por Safar et al. levando em consideração os países da União Europeia (SAFAR et al. 2011SAFAR, Hayssam et al. Study on the use of subtitling. The potential of subtitling to encourage foreign language learning and improve the mastery of foreign languages, 2011 Disponível em: Disponível em: https://op.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/e4d5cbf4-a839-4a8a-81d0-7b19a22cc5ce (26/07/2021).
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: 9-13)3 3 No caso do Brasil, há de se considerar o fato de que a grande maioria da população só tem acesso à chamada “tevê aberta”, onde os filmes e séries são sempre dublados, diferentemente dos filmes no cinema onde geralmente são legendados. As “tevês fechadas” - a cabo ou satélite - configuram privilégio de poucos em nosso país, de modo que não podemos transplantar essas análises feitas em países europeus .

O uso do recurso da legendagem é considerado relevante para o ensino- aprendizagem de línguas estrangeiras por vários motivos, como pontuam Frumuselu et al:

Subtitles, on the other hand, are considered to play an important role both inside and outside the classroom (ANDERMAN & DÍAZ-CINTAS 2009ANDERMAN, Gunilla; DÍAZ CINTAS, Jorge. Audiovisual Translation: Language Transfer on Screen. England: Palgrave Macmillan, 2009.: 7). Reading the dialogue in context while listening to the original language stimulates learners to consolidate what they are learning, enriching their vocabulary and making them familiar with the culture of the foreign language in an authentic setting. Bravo (2008BRAVO, Maria da Conceição Coutinho. Putting the reader in the picture. Screen translation and foreign-language learning. 2009. Tese (Doutorado) - Departament de Filologia Anglogermànica; Universitat,Rovira i Virgili: Tarragona, Spain, 2009.: 89) claims that 'subtitles offer a written transfer of authentic contextualized language and not fabricated FL material', thus, students are exposed to authentic language and cultural information through several channels: visual, oral and written in an authentic setting4 4 As legendas, por outro lado, são consideradas como tendo um papel importante tanto dentro como fora da sala de aula (ANDERMAN & DÍAZ-CINTAS, 2009: 7). A leitura do diálogo em contexto enquanto se escuta a língua original estimula o aluno a consolidar o que está aprendendo, enriquecendo seu vocabulário e tornando-o familiarizado com a cultura da língua estrangeira em um ambiente autêntico. Bravo (2008: 89) afirma que "as legendas oferecem uma transferência por escrito de linguagem autêntica contextualizada e não fabricada em material LE", assim, os estudantes são expostos a informações linguísticas e culturais autênticas através de vários canais: visual, oral e escrito em um ambiente autêntico (Tradução nossa). . (FRUMUSELU et al. 2015FRUMUSELU, Anca Daniela.; DE MAEYER, Sven De Maeyer.; DONCHE, Vincent.; PLANA, María del Mar Gutiérrez Colón. Television series inside the EFL classroom: Bridging the gap between teaching and learning informal language through subtitles. Linguistics and Education, v. 32, Part B, 107-117, 2015.: 3-4).

O fato de as legendas não serem um mero recurso de compreensão do conteúdo é corroborado por Caimi:

Assistir a filmes legendados constitui-se em uma experiência comunicativa que perpassa o linguístico, já que a mensagem é simultaneamente transmitida pelos dois canais de comunicação mais comuns: falado e escrito. Consequentemente, os espectadores têm que exercitar habilidades de compreensão auditiva e leitura simultaneamente, apoiados pelos estímulos visuais e animados do enredo fílmico. (CAIMI 2009 apud SOUSA 2018SOUSA, Bill Bob Adonis Arinos Lima e. O uso de filmes legendados no ensino e aprendizagem de língua estrangeira: aquisição vocabular em língua inglesa. Revista Brasileira de Linguística. Aplicada, Belo Horizonte, v. 18, n. 1, 79-107, 2018. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982018000100079&lng=en&nrm=iso (10/04/2021).
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: 82)

Sousa (2018SOUSA, Bill Bob Adonis Arinos Lima e. O uso de filmes legendados no ensino e aprendizagem de língua estrangeira: aquisição vocabular em língua inglesa. Revista Brasileira de Linguística. Aplicada, Belo Horizonte, v. 18, n. 1, 79-107, 2018. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982018000100079&lng=en&nrm=iso (10/04/2021).
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) faz uma revisão teórica bastante extensa e aprofundada dos estudos acerca dos benefícios do uso de filmes legendados em sala de aula, mas sua pesquisa qualitativa se une a exercícios de tradução, que não são o escopo do presente artigo. Sousa e Borges (2020SOUSA, Bill Bob Adonis Arinos Lima e; BORGES, Vládia Maria Cabral. O estado da arte dos estudos sobre legendagem e ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. Organon, Porto Alegre, v. 35, n. 68, 1-22, 2020.) fazem um excelente apanhado dos estudos que se dedicam à prática da legendagem no ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, área que, apesar de interessante e relevante, tampouco faz parte do escopo do presente artigo.

Em seu estudo sobre os benefícios das legendas para o aprendizado de línguas estrangeira, Matielo, Oliveira e Baretta (2018MATIELO, Rafael; OLIVEIRA, Roberta Pires.; BARETTA, Luciane. Subtitling, Working Memory, and L2 Learning: A Correlational Study. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 18, n. 3, 665-696, 2018. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/1984-6398201812773 (07/06/2021).
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) afirmam que:

[...] the instructional use of subtitled video materials involves many benefits, some of which could be summarized as follows: (i) videos’ combination of sounds and pictures might enhance the relationship between words and meanings; (ii) videos have entertainment qualities that constitute a potential advantage over static

acriticamente para nossa realidade. Partindo do público específico deste trabalho, aprendizes de alemão, parece-nos plausível supor que a maioria terá pelo menos acesso à internet e com isso a algum site de streaming, gratuito ou não, que lhes permitam ver filmes e séries em versão original.

texts; and (iii) viewing could be perceived as a cognitively active experience - when suitable material is used [...] 5 5 [...] o uso instrutivo de materiais de vídeos legendados envolve muitos benefícios, alguns dos quais poderiam ser resumidos como a seguir: (i) a combinação de sons e imagens dos vídeos pode melhorar a relação entre palavras e significados; (ii) os vídeos têm qualidades de entretenimento que constituem uma vantagem potencial sobre os textos estáticos; e (iii) a visualização pode ser percebida como uma experiência cognitivamente ativa - quando material adequado é usado [...] (tradução nossa). . (MATIELO & OLIVEIRA; BARETTA 2018MATIELO, Rafael; OLIVEIRA, Roberta Pires.; BARETTA, Luciane. Subtitling, Working Memory, and L2 Learning: A Correlational Study. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 18, n. 3, 665-696, 2018. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/1984-6398201812773 (07/06/2021).
https://doi.org/10.1590/1984-63982018127...
: 2).

Os autores analisam o uso de legendas, tanto intralinguais quanto interlinguais. No presente estudo, analisaremos apenas as legendas intralinguais, pois nosso objetivo é constatar se os aprendizes de ALE que responderam ao questionário, que será discutido mais adiante, se utilizam do recurso legendagem em português ao ver filmes ou séries em versão original, em língua alemã, fora do contexto de sala de aula e o que eles creem que isso acrescenta a seu processo de aprendizagem do idioma.

3 Pesquisa entre aprendizes de ALE no Brasil

Para obtermos dados que pudessem ajudar a entender melhor o uso de legendas por aprendizes de ALE no Brasil, foi confeccionado um questionário online com a ferramenta Survey Monkey®, que continha perguntas relativas aos hábitos de assistir filmes e séries em alemão, bem como à percepção dos aprendizes acerca de sua utilidade, vantagens e desvantagens. Os formulários foram disponibilizados em outubro de 2020 por colegas professores de alemão em todo o Brasil. A divulgação foi feita principalmente por professores universitários, mas como foi um formulário aberto e anônimo, não pudemos detectar onde e em que nível os respondentes estudavam alemão à época. Recebemos um total de 220 respostas. O questionário consistia em 10 perguntas, sendo 4 fechadas e 6 semiabertas (com possibilidade de comentários) e que versavam sobre as experiências dos aprendizes com o uso de filmes e séries em língua alemã fora da sala de aula. O objetivo da enquete foi, então, duplo: saber que séries/filmes em língua alemã eram mais vistos e se os aprendizes lançavam mão das legendas em português e o que eles acreditavam que isso poderia lhes trazer de benefício na aprendizagem do idioma.

A primeira pergunta, fechada, era “Você costuma ver séries e/ou filmes em alemão?” e trouxe como resultado: 62,5% disseram que sim, 25% disseram às vezes e 12,5% afirmaram que não têm esse hábito. Perguntados, no item 2, se “Você costuma ver filmes e/ou séries em alemão com legendas ou dublados?”, 57,5% disseram que sempre em alemão com legendas em português, 2,5% sempre dublados, 7,5% às vezes dublados, 22,5% com legendas em alemão e 10% com legendas em outro idioma (inglês).

A pergunta número 3, semiaberta, (“Por que você prefere ver filmes e/ou séries em alemão COM legendas?”) recebeu as seguintes respostas: para ouvir o idioma original (47,5%), para poder comparar com o idioma original (27,5%), por costume (12,5%) e outros motivos (12,5%), a saber, resumidamente: “porque eu entendo sem legenda”, “pra recorrer à legenda quando não entendo”, “para facilitar a compreensão auditiva” e “porque quero ouvir as expressões e saber o significado em meu idioma”. Essas últimas informações corroboram os estudos citados anteriormente no presente artigo acerca da importância da legenda não só para o trabalho de vocabulário, mas também como auxiliar na compreensão auditiva.

A quarta pergunta, fechada, “Você considera que ver filmes e/ou séries COM legendas ajuda na aprendizagem de alemão?”, tinha o objetivo de focar mais na questão da consciência da autonomia do processo de aprendizagem pelos aprendizes. 100% dos respondentes afirmaram que sim, as legendas ajudam no processo de aprendizagem do idioma alemão.

A quinta pergunta, semiaberta, tinha o enunciado: “Se você considera que ver filmes e/ou séries em alemão COM legendas auxilia na aprendizagem de alemão, em que isso ajuda concretamente na sua opinião?” 32,5% dos respondentes afirmaram que seria no aprendizado de vocabulário, 17,5% consideram que auxilia no aprendizado da pronúncia, 5% consideram que auxilia no estudo da gramática, 30% creem que na compreensão auditiva e 15% citam outros benefícios, como “aprender o idioma de maneira geral”, “Ajudar na compreensão daquilo que é natural da língua, para além daquilo que os livros didáticos oferecem” e “Aprender sobre algumas decisões tradutórias interessantes.”

Instados na sexta pergunta, semiaberta, a citarem séries em língua alemã que assistiam (“Que séries/filmes você vê ou já viu recentemente em alemão COM legendas?”), 54% citaram a série Dark, 10% Cães de Berlim, 5% Oktoberfest e Perfume, 2,5% Babylon Berlin. Como se tratava de uma questão semiaberta, 20% citaram mais de uma dessas séries: Dark, Cães de Berlim, bem como outras: Freud e Como vender drogas online (rápido), além dos filmes A vida dos outros e Sissy.6 6 É importante ressaltar que a porcentagem dos que assistiram Dark é maior do que os 54% acima mencionados, já que o título aparece também em “outros”, pois alguns quiseram citar Dark e mais uma ou duas séries, o que o formulário não permitia. 70% dos respondentes viram essa série, se adicionamos as respostas de “outros”. Os números posteriores das respostas que se referem especificamente a Dark compreendem quase sempre apenas aqueles que viram a série, mas quando havia a opção “outros”, nota-se que alguns respondentes não deixaram a pergunta em branco, preferindo dizer explicitamente que não haviam assistido à série. Tal resultado foi o que nos levou à decisão de analisar as legendas da série Dark, por ser a série em língua alemã que tem atualmente o maior sucesso no Brasil. A sétima pergunta, fechada, “Se você assiste ou já assistiu Dark, o que achou?” teve como respostas: 49% gostei bastante, 29% gostei, 14% mais ou menos e 8% não gostei.

Em resposta à questão 8, fechada, acerca “Do que mais gostou na série Dark?”, 42% afirmaram que o tema foi o que mais agradou, 28% os diálogos teriam sido o diferencial, 20% gostaram das informações culturais relativas à Alemanha, enquanto 11% disseram que nada lhes chamou a atenção em especial - alguns afirmaram não ter visto a série.

A questão 9, semiaberta, focava na questão do papel das legendas, e era: “Se você assistiu Dark COM legendas, você acha que as legendas…” 78% dos respondentes afirmaram que as legendas ajudaram a entender bem a história, mesmo sem entender o alemão totalmente. Já 8% disseram que as legendas teriam sido insuficientes na ajuda ao entendimento. 14% deram outras respostas, que basicamente diziam que não haviam usado as legendas ou que não viram a série.

A 10ª e última questão, semiaberta, era “Você crê que as legendas da série Dark auxiliaram com…” e obteve as seguintes respostas: 78% com vocabulário, 6% com gramática e 16% deram outras respostas, basicamente “entendimento geral”, “não assisti à série”, “com vocabulário e gramática.”

Podemos concluir que os aprendizes de alemão que lançam mão de séries e filmes em alemão com legendas o fazem conscientemente e com a crença de que isso é benéfico para o seu processo de aprendizagem do idioma - principalmente no que tange ao estudo do vocabulário. A seguir analisaremos se as legendas de Dark, em contraposição ao texto da dublagem e ao texto original, podem servir de base para uma comparação eficaz com o original por parte daqueles que se valem desse recurso para adquirir vocabulário na língua estrangeira.

4 Legendagem e dublagem - dois processos distintos de tradução

A tradução para a legendagem e a tradução para a dublagem são processos que exigem conhecimentos distintos, posto que ambas lidam com elementos diferentes; o tempo e a extensão do texto na tela, no caso da legendagem, e, na dublagem, a fala, isto é, a sincronização da voz de quem dubla com o movimento labial de quem compõe a cena, fato esse que impacta muito na produção da dublagem, pois o movimento labial tem que estar em consonância com o que está sendo dito. Mas não somente isso, a dublagem “exige uma encenação de voz, a mimetização da dramaticidade do texto-fonte e não apenas uma locução do texto traduzido” (FRANCO & ARAÚJO 2011FRANCO, Eliana P.C.; ARAÚJO, Vera Santiago. Questões terminológico-conceituais no campo da tradução audiovisual (TAV). Tradução em Revista, n. 11, 1-23, 2011.: 9).

Por lidarem com questões dissímeis, as técnicas empregadas em ambos os processos também divergem entre si, até mesmo porque os códigos mudam, como explica Martinez (2007MARTINEZ, Sabrina Lopes. Tradução para legendas: uma proposta para a formação de profissionais. Orientadora: Marcia do Amaral Peixoto Martins. 100 f. 2007. Dissertação (Mestrado em Letras) - Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.: 36):

Na tradução de um texto escrito ou na interpretação simultânea, por exemplo, não ocorre uma mudança de código, ou seja, traduz-se do código escrito para o código escrito no caso da tradução de textos, e do código oral para o código oral no caso da interpretação (...). No caso da legendagem, além da língua, o código também muda, do oral para o escrito.

Essa mudança de código traz algumas complicações para o processo de legendagem em virtude das particularidades nele envolvidas. De acordo com Koglin (2008KOGLIN, Arlene. A tradução de metáforas geradoras de humor na série televisiva Friends: um estudo de legendas. 99 f 2008. Orientadora: Ana Cláudia de Souza. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.: 10),

Os legendadores realizam a tradução condicionados a algumas normas, tais como: limite de tempo - tanto de exposição da legenda na tela quanto de prazo para entrega da tarefa -, número de caracteres e de linhas pré-estabelecido, e sincronia entre imagem [som] e legenda. Além disso, os tradutores de legendas precisam lidar com a censura imposta pela distribuidora, que pode exigir que eles omitam ou abrandem enunciados com críticas, substituam palavras agressivas ou minimizem vocábulos obscenos.

Conforme os parâmetros estipulados pela Netflix (2018NETFLIX. Timed text style guide: general requirements. Scotts Valley: Netflix, 2018. Disponível em: Disponível em: https://partnerhelp.netflixstudios.com/hc/en-us/articles/215600497-Brazilian- Portuguese-Timed-Text-Style-Guide (21/07/2021).
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), a recomendação é para que sejam “17 characters per second as a reading speed and a maximum of 42 characters per line”7 7 17 caracteres por segundo como velocidade de leitura e um máximo de 42 caracteres por linha. (CAMPOS & AZEVEDO 2020CAMPOS, Giovana Cordeiro; AZEVEDO, Thais de Assis. Subtitling for streaming platforms: new technologies, old issues. Cadernos de Tradução, v. 40, n. 3, 222-243, 2020.: 235). Esse número de caracteres, entretanto, pode mudar de acordo com o canal e a empresa, variando entre 32 e 42 caracteres, mas tendo o limite de duas linhas. Tanto esse número de caracteres que aparecem na tela quanto o tempo disponível necessário para a leitura são apontados por Conceição e Santana (2018CONCEIÇÃO, Adriana G.; SANTANA, Christiano T. Os efeitos de sentido produzidos na legendagem e dublagem: o sujeito-tradutor e o processo tradutório. TradTerm, v. 31, 4- 24, 2018.), ao discutirem as questões mais práticas da legendagem, como duas limitações básicas que exercem influência direta em sua funcionalidade.

As características acima citadas limitam as possibilidades de combinações possíveis que possam, de maneira completa, ser uma representação do que está construído na cena, seja de maneira verbal ou não. Tais questões resultam em um ponto importante da discussão: o fato que “a legenda não é só a tradução do texto, mas de toda a imagem visualizada.” (CARVALHO 2006CARVALHO, Eliana Márcia dos Santos. Dublagem e Legendagem no cinema: Perdas ou ganhos? In: Vozes, Olhares, Silêncios - comunicações apresentadas no IX Seminário de Lingüística Aplicada e IV Seminário de Tradução. Editora da UFBA, 2006.: 1), pois ela não se limita apenas àquilo que é dito, mas sim a tudo aquilo que compõe a cena, como expressões faciais e os movimentos corporais, tendo todo um contexto a ser traduzido em um breve texto escrito.

Além dessas questões, há que se prestar atenção ao tamanho e à cor da fonte, para que não haja comprometimento na legibilidade das legendas. Além do mais, é importante ter em mente que “a legenda [é] a representação escrita da oralidade, que não a reproduz exatamente da forma que escutamos, por ser um texto escrito” (DUARTE 2011DUARTE, Maria Luiza. Uma Toy Story legendada e dublada. Língua, Literatura e Ensino, v. VI, 149-157, 2011.: 153), o que reforça, de maneira ainda mais clara, a diferença existente entre a legendagem e a dublagem.

De certa forma, no que concerne à dublagem, Carvalho (2006CARVALHO, Eliana Márcia dos Santos. Dublagem e Legendagem no cinema: Perdas ou ganhos? In: Vozes, Olhares, Silêncios - comunicações apresentadas no IX Seminário de Lingüística Aplicada e IV Seminário de Tradução. Editora da UFBA, 2006.: 7), assevera que o/a dublador/a “tem mais liberdade de expressão”. Isso porque a etapa primordial nesse processo é o sincronismo labial, portanto, há a possibilidade de adaptações, caso seja necessário algum ajuste, desde que o significado do original não seja distorcido (FRANCO; ARAÚJO 2011FRANCO, Eliana P.C.; ARAÚJO, Vera Santiago. Questões terminológico-conceituais no campo da tradução audiovisual (TAV). Tradução em Revista, n. 11, 1-23, 2011.). Ainda no que diz respeito a essa maior liberdade de expressão, o fato de não ter o texto original disponível torna a dublagem mais livre, uma vez que o espectador não tem contato com a fala original dos personagens, diferentemente da legenda que ocorre simultaneamente à fala, o que torna a comparação entre os textos mais fácil.

Por fim, outro aspecto que também exerce influência sobre as decisões do processo tradutório é o custo. A tradução para a legendagem é mais econômica e rápida, sem necessidade de aparelhos externos, enquanto a dublagem requer outros equipamentos, como um estúdio de gravação, no mínimo. Esses fatores são levados em conta por parte dos estúdios e das plataformas de streaming, o que explica o motivo de diversos filmes com línguas menos tradicionais no Brasil, como as escandinavas e asiáticas, decidirem se ater apenas às legendas e não (também) à dublagem.

5 Análise comparativa da tradução das legendas e do texto dublado

Nesta seção, vamos discutir algumas diferenças que encontramos entre as traduções para as legendas e para a dublagem dos 5 primeiros capítulos da série Dark. Não se pretende tecer juízos de valor, mas tão simplesmente constatar as eventuais diferenças entre os dois textos, analisando esse fenômeno à luz das especificidades de cada tipo de texto traduzido, como exposto mais acima, e discutir os efeitos que o texto da legendagem pode ter para quem se utiliza desse recurso como mais um instrumento no processo de aprendizagem do idioma alemão.

Uma das características mais marcantes da tradução para legendagem é, como foi discutido anteriormente no presente trabalho, a adaptação espaço-temporal aos limites impostos pela legenda. Por esse motivo, muitas vezes, o texto da legenda é mais econômico e conciso. Uma comparação entre a legendagem e o texto dublado mostra que por vezes há escolhas por tempos verbais mais sintéticos, uso de vocabulário e de pronomes mais curtos ou sua supressão; supressão também de artigos e verbos, partes de frases e mesmo de frases inteiras, como nos exemplos a seguir, onde essas diferenças estão em itálico:

Episódio 1: Áudio original: Wir vertrauen darauf, dass die Zeit linear verläuft. (00:22) Legenda: Acreditamos que o tempo decorre de forma linear. (00:22) Dublagem: Nós acreditamos que o tempo decorre de forma linear. (00:22) Áudio: Katharina ist da. (06:00) Legenda: Katharina estará lá. (06:00) Dublagem: A Katharina estará lá. (06:00) Áudio: Ja. Und du bist da. (06:03) Legenda: É, você também. (06:03) Dublagem: É, você também vai estar. (06:03) Áudio: Sollten Sie mir das als Therapeut nicht sagen? (08:25) Legenda: Como terapeuta, não deveria saber? (08:25) Dublagem: O senhor é meu terapeuta. Me diga o senhor. (08:25) Episódio 2 Áudio: Ich hab euch in der Schule gehört. (06:24) Legenda: Ouvi o papo na escola. (06:24) Dublagem: Ouvi vocês conversando na escola. (06:24) Áudio: Wöller koordiniert die Suche. (11:38) Legenda: Wöller coordenará a busca. (11:38) Dublagem: O Wöller vai coordenar a busca. (11:38) Áudio: Den Draht? Wir sind den Zaun abgelaufen. Nirgends eine beschädigte Stelle. (12:20) Legenda: De arame farpado? Vimos a cerca. Não havia nenhum buraco. (12:20) Dublagem: Por cima do arame farpado? Andamos todo o perímetro da cerca. Não há um único buraco. (12:20) Episódio 3 Áudio: Tronte Nielsen vom Tagesanzeiger ist da. Wegen dem Interview. (10:52) Legenda: Tronte Nielsen, do jornal, está aqui. Para a entrevista. (10:52) Dublagem: O Tronte Nielsen, do jornal, está aqui. Por causa da entrevista. (10:52) Áudio: So wollte ich das nicht sagen. (03:58) Legenda: Não foi o que quis dizer. (03:58) Dublagem: Não foi isso que eu quis dizer. (03:58) Áudio: Ich will zu meinem Vater. (11:55) Legenda: Estou procurando meu pai (11:55) Dublagem: procurando meu pai. (11:55) Episódio 4 Áudio: Bist du fertig? (04:21) Legenda: Colocou tudo na mochila? (04:21) Dublagem: Você colocou tudo na mochila? (04:21) Áudio: Ich rede nicht über Polizeiarbeit. (04:35) Legenda: Não discutirei isso com você. (04:35) Dublagem: Não vou discutir assuntos policiais com você. (04:35)

O caráter ambíguo, de entrelugar da legendagem fica patente nos exemplos acima, por se tratar de um texto escrito (DUARTE 2011DUARTE, Maria Luiza. Uma Toy Story legendada e dublada. Língua, Literatura e Ensino, v. VI, 149-157, 2011.) que corresponde a um texto oral. Por isso, temos por vezes formas mais frequentes na linguagem escrita, enquanto a dublagem tem um caráter mais coloquial, como vimos em alguns exemplos acima e o que fica mais evidente nos exemplos a seguir, pois não se trata de uma questão de resumir o texto por causa do espaço limitado, mas sim de registro mais escrito/culto encontrado nas legendas:

Episódio 1: Áudio: Kommst du heute zur Versammlung? (05:58) Legenda: Vai à reunião hoje à noite? (05:58) Dublagem: Você vai na reunião à noite? (05:58) Áudio: Ich seh ihn immer noch. (08:40) Legenda: Ainda o vejo. (08:40) Dublagem: Ainda vejo ele. (08:40) Áudio: Wir gehen heute Abend zu den Höhlen. (24:41) Legenda: Vamos às cavernas hoje. (24:41) Dublagem: Vamos pras cavernas hoje pra ver o que rola. (24:41) Áudio: Ich bin am Wochenende in Frankfurt [...] (25:05) Legenda: Vou a Frankfurt [...]. (25:05) Dublagem: Eu vou pra Frankfurt [...]. (25:05) Áudio: Bring du den wieder zurück. (31:48) Legenda: Leve-o de volta agora. (31:48) Dublagem: Leva ele de volta agora. (31:48) Episódio 2 Áudio: Lass mich rein. (22:59) Legenda: Deixe-me entrar. (22:59) Dublagem: Me deixa entrar. (22:59) Áudio: Aber vielleicht wissen wir das nie. (35:19) Legenda: Talvez nunca saibamos. (35:19) Dublagem: Talvez a gente nunca saiba. (35:19) Episódio 4 Áudio: Okay. Dann bringe ich Elisabeth zur Schule. (03:06) Legenda: Está bem. Eu levo Elisabeth à escola. (03:06) Dublagem: Tá bom. Eu levo a Elizabeth pra escola. (03:06) Áudio: Ich dachte, die wurde schon abgeholt. Legenda: Achei que já a tinham buscado. (33:34) Dublagem: Eu achei que já tinham buscado ela. (33:34)

A riqueza vocabular, principalmente no que diz respeito a expressões consideradas mais idiomáticas, é um dos elementos do texto oral que sofre alguma perda no processo de legendagem. Para ater-se ao espaço e ao tempo disponíveis para a legenda, quem traduz se vê por vezes obrigado a fazer concessões, utilizar um vocabulário eventualmente menos idiomático na língua de chegada para cumprir sua tarefa. Tal fato é de certa forma um empecilho para quem se fia na legenda para conferir o que ouviu ou para aprender vocábulos e expressões idiomáticas na língua estrangeira, como vemos nos exemplos abaixo:

Episódio 1 Áudio: Mama! Ich bin im Hungerstreik! Alle zehn Sekunden verhungert ein Kind. Ich fresse mich nicht voll. (11:21) Legenda: Mãe, estou em greve de fome. Não vou comer enquanto uma criança morre de fome a cada dez segundos. (11:21) Dublagem: Mamãe, estou em greve de fome. Eu não vou ficar enchendo a pança enquanto uma criança morre de fome a cada dez segundos. (11:21) Áudio: Wir gehen dahin und holen uns den Shit. Ganz easy. (24:07) Legenda: Vamos lá buscar aquela coisa. Moleza. (24:07) Dublagem: A gente vai até lá e pega o bagulho. Muito fácil. (24:07) Áudio: Aber ich hab die nie abgeschickt. Das hat sich alles falsch angehört. Und was letzten Sommer zwischen uns passiert ist… Ich... (30:51) Legenda: Mas nunca enviei. Todas pareciam erradas. O que aconteceu entre nós no último verão... Eu... (30:51) Dublagem: Mas eu nunca mandei. Tudo parecia errado. O que rolou entre a gente no verão passado... Eu... (30:51) Áudio: Was macht der Spasti hier? (31:55) Legenda: O que o idiota faz aqui? (31:55) Dublagem: O que o babaca tá fazendo aqui? (31:55) Áudio: Na dann los. (32:04) Legenda: Bom, vamos. (32:04) Dublagem: Então, vamo lá. (32:04) Áudio: So wie deine Schwester. Spasti, ey. (33:53) Legenda: Como a sua irmã. Idiota. (33:53) Dublagem: Igualzinho a sua irmã. Seu babaca. (33:53) Episódio 2 Áudio: Wo warst du letzte Nacht? Ich bin aufgewacht gegen Mitternacht, du warst nicht da. (08:44) Legenda: Onde estava ontem à noite? Acordei à meia-noite. Você não estava. (08:44) Dublagem: Onde estava ontem à noite? Eu acordei lá pela meia-noite e você não estava. (08:44) Áudio: Die können sich bei Rotation verirren. Da verlieren wir das Gleichgewicht. (04:21) Legenda: Podem se confundir como por uma rotação do corpo. E perdemos o equilíbrio. (04:21) Dublagem: Eles podem se confundir por exemplo, por uma rotação do corpo. E aí, perdemos o equilíbrio. (04:21) Episódio 3 Áudio: Verschlossen und versiegelt. (04:01) Legenda: Segredo guardado. (04:01) Dublagem: Eu vou ficar de boca fechada. (04:01) Episódio 4 Áudio: Halt dich fest. Der Vogel hat das Gleiche. (25:26) Legenda: Adivinha? O pássaro tem a mesma coisa. (25:26) Dublagem: Tá sentada? O passarinho tem a mesma coisa. (25:26) Áudio: Und was sagen wir wegen dem toten Jungen? (13:39) Legenda: E o que dizemos sobre o garoto morto? (13:39) Dublagem: . E o que a gente diz sobre o garoto morto? (13:39) Episódio 5 Áudio: Wenn du irgendetwas mit dem Verschwinden von Mikkel, Erik oder Yasin zu tun hast, dann sag es mir jetzt. (05:19) Legenda: Se tiver algum envolvimentocom o sumiço de Mikkel, ou do Erik ou do Yasin, diga- meagora. (05:19) Dublagem: Se você tem alguma coisa a ver com o sumiço do Mikkel, ou do Erik, ou do Yasin, me diga agora. (05:19) Áudio: Wenn ich dir ein Geheimnis verrate, erzählst du es dann keinem weiter? (13:19) Legenda: Se te contar um segredo? Posso confiar que não conta para ninguém? (13:19) Dublagem: Se eu te contar um segredo, eu posso confiar que ele morre com você? (13:19) Áudio: Du erzählst mir jetzt ganz genau, was du gesehen hast, okay? (35:34) Legenda: Vai me contar exatamente o que viu, certo? (35:34) Dublagem: Me conte direitinho tudo que você viu, ? (35:34)

A partir do exposto, percebe-se que existem diferenças no vocabulário e na sintaxe entre o que é apresentado na dublagem e na legenda. No entanto, o texto das legendas pode ainda assim servir de base para uma comparação com o texto original para os aprendizes que se valem desse recurso para aprender/aumentar vocabulário. Compreende- se que o texto da legenda tem de estar na tela tempo suficiente para que se possa assimilar simultaneamente o texto e o que ocorre na cena e isso não seria possível com legendas muito extensas e, por esse motivo, faz-se necessária a redução de elementos nas legendas. Acerca desse fator, Silva (2018SILVA, Janailton Mick Vitor da. Que espaço a legendista ocupa? Um estudo sobre estilo do tradutor. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.: 20-21) esclarece que:

A legendagem é uma reescrita, tendo em vista a necessidade de redução textual, pois nem tudo pode e deve ser legendado. Há dois tipos de redução, parcial e total, que podem ocorrer juntas. A redução parcial é observada quando o texto fonte (TF) está condensado e mais conciso, enquanto que a redução total é detectada a partir da exclusão ou omissão de itens lexicais (DÍAZ CINTAS; REMAEL 2007DÍAZ CINTAS, Jorge; REMAEL, Aline. Audiovisual translation: subtitling. Manchester: St. Jerome, 2007.; IVARSSON; CARROLL 1998IVARSSON, Jan.; CARROLL, Mary. Subtitling. Simrishamn: TransEdit, 1998.). Essas reduções são comumente justificadas por limitações espaço-temporais, mas outros fatores podem ser igualmente determinantes, tais como o contexto e o co-texto das cenas, o gênero da obra, a função retórica do discurso dos personagens, os elementos da oralidade, o público da cultura receptora, entre outros (DÍAZ CINTAS; REMAEL 2007DÍAZ CINTAS, Jorge; REMAEL, Aline. Audiovisual translation: subtitling. Manchester: St. Jerome, 2007.).

A escolha deste ou daquele vocábulo no processo de tradução para a legenda é feita levando em consideração a obra em questão, o público-alvo e os aspectos culturais da língua alvo, uma vez que as escolhas de quem traduz são influenciadas pela imagem que se faz do público, principalmente quando se trata de filmes ou seriados, onde texto e imagem se complementam e se faz necessário o uso de adaptações que facilitem o entendimento. (DUARTE 2011DUARTE, Maria Luiza. Uma Toy Story legendada e dublada. Língua, Literatura e Ensino, v. VI, 149-157, 2011.).

Outro aspecto observado foi que a dublagem exprime uma linguagem muito mais informal enquanto a legenda mantém a formalidade. Uma das explicações possíveis é que a dublagem é “normalmente caracterizada pelo naturalismo, ou seja, pela reprodução o mais fiel (natural) possível das situações reais da vida, incluindo a interação pela linguagem” (LOPES 2017LOPES, Natália Leite. A representação da identidade linguística brasileira nas dublagens nacionais. 2017. Monografia (Especialização em Revisão de Texto) - Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2017.: 3), e na legendagem “é preciso seguir normas prescritas pelos canais e empresas da área. Essas normas referem-se ao estilo de linguagem utilizada nas legendas” (TRINDADE 2003TRINDADE, Eline Alves. In: BENEDETTI, Ivone Castilho; SOBRAL, Adail. (Org). Conversas com tradutores: balanços e perspectivas da tradução. São Paulo: Parábola Editorial, 2003, 81-190.: 183).

De acordo com as recomendações do guia de estilo de texto da Netflix (2018NETFLIX. Timed text style guide: general requirements. Scotts Valley: Netflix, 2018. Disponível em: Disponível em: https://partnerhelp.netflixstudios.com/hc/en-us/articles/215600497-Brazilian- Portuguese-Timed-Text-Style-Guide (21/07/2021).
https://partnerhelp.netflixstudios.com/h...
) voltado para o idioma português do Brasil, no que concerne o estilo empregado nas legendas, fica especificado que “both language styles (i.e., educated norm and colloquial style) are acceptable, as long as they are appropriate to the nature of the program.8 8 Ambos os níveis de língua (i.e., norma padrão e linguagem coloquial) são aceitáveis, desde que sejam adequados à natureza do programa. ”. Há que se ter em consideração o que é relevante para o conteúdo. Sendo assim, “using the correct grammatical form should always be preferred, except for clearly established deviations from the norm that would otherwise imply an artificial sophistication not intended in the content”9 9 Deve sempre ser dada preferência à forma gramatical correta, exceto por desvios claramente estabelecidos da norma que de outra forma implicariam uma sofisticação artificial não pretendida no conteúdo. . Além disso, “contractions such as “né”, “pra”, and “tá” should be used only as needed to convey a high level of informality when appropriate for the content.”10 10 Contrações como "né", "pra" e "tá" devem ser usadas somente quando necessário para transmitir um alto nível de informalidade quando apropriado para o conteúdo. . No entanto, não se pode deixar de lado o público-alvo, portanto, recomenda- se sempre combinar “the tone of the original content, while remaining relevant to the target audience (e.g. replicate tone, register, class, formality, etc. in the target language in an equivalent way)”11 11 O tom do conteúdo original, mantendo-se relevante para o público-alvo (por exemplo, reproduzir tom, registro, classe, formalidade etc. no idioma de destino de forma equivalente) .

Nota-se que, apesar de certas inconsistências devido às limitações da modalidade “legenda”, há diversos aspectos positivos para quem recorre à legendagem buscando mais uma ferramenta de auxílio no processo de aprendizagem do idioma alemão, como poder ouvir a pronúncia das palavras ao se optar por ouvir o áudio original, conhecer algumas expressões do cotidiano que dificilmente serão aprendidas sem este tipo de contato com o idioma, ainda que o fato de a legendagem possuir um texto mais próximo do escrito apague por vezes as marcas de oralidade. Além de contribuir com a aprendizagem da língua estrangeira, assistir a séries e filmes com legendas também estabelece um diálogo entre as culturas de partida e chegada, haja vista que “levar um texto para o outro idioma é conduzi-lo e deslocá-lo para outro território e, com isso, colocá-lo em um novo meio geográfico, social, histórico e cultural” (DARIN 2020DARIN, Leila Cristina de Melo. A tradução cultural como metáfora. Revista Intercâmbio, v. XLIII, 47-66, 2020. Disponível em: Disponível em: https://revistas.pucsp.br/intercambio/article/viewFile/42785/31889 (21/07/2021).
https://revistas.pucsp.br/intercambio/ar...
: 52).

6 Considerações finais

Após o que foi apresentado e discutido no presente estudo, pode-se concluir que o uso de legendas pelos aprendizes de alemão como língua estrangeira ao verem filmes e séries no idioma original é uma prática de aprendizado autônomo que traz benefícios, pois possibilita que o aprendiz do idioma se exponha ao áudio no idioma original e possa comparar o vocabulário e aprender ou fixar vocabulário.

Apesar das limitações impostas pelo espaço e tempo destinados à legenda, não foram detectadas diferenças entre os textos da legenda e da dublagem no que tange ao conteúdo. Ainda que o texto da legenda seja realmente por vezes mais curto que o do texto falado, o entendimento do conteúdo das cenas é garantido pelas legendas.

O que se pôde observar, no entanto, é uma característica mais conservadora do texto da legendagem em relação ao texto oral. Tanto em questões gramaticais:

  • - Uso do pronome o para se referir à segunda ou terceira pessoa, ao invés de ele ou você;

  • - Uso dos pronomes o e a para se referir à terceira pessoa, ao invés do uso coloquial de ele e ela;

  • - Uso da preposição a na legenda e não de na ou pra para indicar movimento, que aparecem na dublagem;

  • - Supressão dos pronomes pessoais sujeitos na legenda.

Quanto em questão de léxico:

  • - O uso de termos menos coloquiais no texto da legenda, como p.ex. acontecer por “rolar”; idiota por “babaca”;

  • - Expressões idiomáticas que são traduzidas por verbos mais neutros, comer para “encher a pança”; coisa por “bagulho”.

Em razão do caráter intermediário entre o texto falado e o texto escrito da legendagem, o uso desse recurso pelos aprendizes de idiomas apresenta uma dicotomia. Por um lado, é uma boa base para se entender o que se diz no idioma original e tirar suas próprias conclusões e deduções quanto ao vocabulário. Por outro lado, por conta das limitações espaciais e temporais da legenda, torna-se por vezes difícil tirar proveito pleno da comparação entre o que se ouve e o que se lê. Se um aprendiz ouve o verbo simples “comer” na legenda em português, talvez não consiga depreender todas as nuances originais da expressão em alemão que ele vai ouvir e que é mais complexa (sich den Bauch voll fressen, traduzida mais idiomaticamente para a dublagem por “encher a pança”).

À guisa de conclusão e com perspectivas a futuras discussões surgidas durante a análise do corpus e da escrita do artigo em tela, cremos ser possível afirmar que as legendas são um recurso válido para o aprendizado autônomo de um idioma estrangeiro, na medida em que permitem a comparação do áudio original com a tradução para o português - ainda que ofereçam algumas limitações. Não pôde ser constatado em que medida a supressão necessária de alguns elementos do texto original falado no processo de tradução e adaptação e legendagem pode impedir, p.ex. o entendimento de fenômenos tão caros à linguagem oral em alemão como as partículas modais. Nem se pôde analisar em que medida o caráter de texto escrito que se refere a um texto oral do texto traduzido para legendas pode influenciar e até mesmo mascarar a percepção dos aprendizes de alemão acerca de fenômenos característicos do alemão falado. Tais questões mereceriam ser objeto de estudos futuros, bem como uma análise por nível de proficiência dos aprendizes.

Referências bibliográficas

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  • 1
    Os resultados dos poucos estudos comprovam que, graças à legendagem, não apenas a compreensão auditiva, a audição e a aquisição de vocabulário podem ser estimuladas. Entretanto, os resultados parcialmente contraditórios em relação à aprendizagem gramatical implícita, assim como os diferentes projetos de pesquisa e procedimentos de teste, devem encorajar a investigar mais de perto esses temas de pesquisa e a tornar os resultados comparáveis. Particularmente interessante e ainda pouco estudada parece ser a relação entre recepção e produção linguística, sendo os estudos sobre a habilidade de escrita, ao meu conhecimento, ainda completamente inexistentes. (Tradução nossa).
  • 2
    De acordo com um estudo do Media Consulting Group e da Comissão Européia (2011MEDIA CONSULTING GROUP [MCG]. Study on Dubbing and Subtitling Needs and Practices in the European Audiovisual Industry: Final Report, 2007.), a prática da legendagem em um país está ligada aos conhecimentos de línguas da população. Em países onde as legendas são exibidas na televisão e/ou em cinemas, as pessoas parecem ter, segundo análises subjetivas, um domínio muito bom de uma ou duas línguas estrangeiras (cf. MCG 2011MEDIA CONSULTING GROUP [MCG]. Study on Dubbing and Subtitling Needs and Practices in the European Audiovisual Industry: Final Report, 2007.: 13). As crianças que assistem com frequência a programas de televisão com legendas interlíngues também aprendem mais vocabulário incidentemente do que aquelas que o fazem apenas raramente (Tradução nossa).
  • 3
    No caso do Brasil, há de se considerar o fato de que a grande maioria da população só tem acesso à chamada “tevê aberta”, onde os filmes e séries são sempre dublados, diferentemente dos filmes no cinema onde geralmente são legendados. As “tevês fechadas” - a cabo ou satélite - configuram privilégio de poucos em nosso país, de modo que não podemos transplantar essas análises feitas em países europeus
  • 4
    As legendas, por outro lado, são consideradas como tendo um papel importante tanto dentro como fora da sala de aula (ANDERMAN & DÍAZ-CINTAS, 2009ANDERMAN, Gunilla; DÍAZ CINTAS, Jorge. Audiovisual Translation: Language Transfer on Screen. England: Palgrave Macmillan, 2009.: 7). A leitura do diálogo em contexto enquanto se escuta a língua original estimula o aluno a consolidar o que está aprendendo, enriquecendo seu vocabulário e tornando-o familiarizado com a cultura da língua estrangeira em um ambiente autêntico. Bravo (2008BRAVO, Maria da Conceição Coutinho. Putting the reader in the picture. Screen translation and foreign-language learning. 2009. Tese (Doutorado) - Departament de Filologia Anglogermànica; Universitat,Rovira i Virgili: Tarragona, Spain, 2009.: 89) afirma que "as legendas oferecem uma transferência por escrito de linguagem autêntica contextualizada e não fabricada em material LE", assim, os estudantes são expostos a informações linguísticas e culturais autênticas através de vários canais: visual, oral e escrito em um ambiente autêntico (Tradução nossa).
  • 5
    [...] o uso instrutivo de materiais de vídeos legendados envolve muitos benefícios, alguns dos quais poderiam ser resumidos como a seguir: (i) a combinação de sons e imagens dos vídeos pode melhorar a relação entre palavras e significados; (ii) os vídeos têm qualidades de entretenimento que constituem uma vantagem potencial sobre os textos estáticos; e (iii) a visualização pode ser percebida como uma experiência cognitivamente ativa - quando material adequado é usado [...] (tradução nossa).
  • 6
    É importante ressaltar que a porcentagem dos que assistiram Dark é maior do que os 54% acima mencionados, já que o título aparece também em “outros”, pois alguns quiseram citar Dark e mais uma ou duas séries, o que o formulário não permitia. 70% dos respondentes viram essa série, se adicionamos as respostas de “outros”. Os números posteriores das respostas que se referem especificamente a Dark compreendem quase sempre apenas aqueles que viram a série, mas quando havia a opção “outros”, nota-se que alguns respondentes não deixaram a pergunta em branco, preferindo dizer explicitamente que não haviam assistido à série.
  • 7
    17 caracteres por segundo como velocidade de leitura e um máximo de 42 caracteres por linha.
  • 8
    Ambos os níveis de língua (i.e., norma padrão e linguagem coloquial) são aceitáveis, desde que sejam adequados à natureza do programa.
  • 9
    Deve sempre ser dada preferência à forma gramatical correta, exceto por desvios claramente estabelecidos da norma que de outra forma implicariam uma sofisticação artificial não pretendida no conteúdo.
  • 10
    Contrações como "né", "pra" e "tá" devem ser usadas somente quando necessário para transmitir um alto nível de informalidade quando apropriado para o conteúdo.
  • 11
    O tom do conteúdo original, mantendo-se relevante para o público-alvo (por exemplo, reproduzir tom, registro, classe, formalidade etc. no idioma de destino de forma equivalente)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2021
  • Aceito
    13 Jan 2022
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