Open-access Vozes femininas na tradução: uma análise histórica do contexto germânico

Female voices in translation: a historical analysis of German-speaking territories

Resumo

Este artigo tem como objetivo identificar o trabalho intelectual de mulheres na história da tradução a partir da discussão de questões históricas e culturais de regiões germânicas de meados do século XVIII a meados do XIX. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa interpretativista, recorrendo a trabalhos de literatura crítica publicados entre 1904 e 2024. O artigo está dividido em três partes, que buscam responder perguntas relativas à omissão ou exclusão do nome de tradutoras na História da Tradução e à contribuição intelectual de mulheres no contexto germânico, com ênfase em temas relevantes aos Estudos da Tradução e Filosofia. Foi abordado o caso de um grupo de cinco mulheres, conhecido como Göttinger Universitätsmamsellen (Senhoritas da Universidade de Göttingen). Elas estavam inseridas em círculos intelectuais proeminentes, fizeram traduções interlinguais e tiveram trabalhos publicados em uma época em que isso ainda não era comum às suas contemporâneas. Elas foram um exemplo excepcional. Entre os resultados do estudo, foi observado que o trabalho intelectual de mulheres contribuiu para a circulação de textos iluministas e literários na Alemanha pré-unificada, embora seus nomes não sejam tão rememorados quanto os de seus parceiros e familiares homens.

Palavras-chave
história da Tradução; estudos da Tradução; alemão; século XVIII; século XIX

Abstract

This paper identifies the intellectual work of women in the history of translation by discussing historical and cultural issues in German-speaking territories from the mid-18th to the mid-19th century. The research methodology is qualitative with an interpretive approach, drawing on works of critical literature review published between 1904 and 2024. The paper is divided into three parts, which seek to answer questions regarding the omission or exclusion of the names of women translators in the History of Translation and the intellectual contribution of women in the German context, emphasizing topics relevant to Translation Studies and Philosophy. The case of a group of five women, known as the Göttinger Universitätsmamsellen (the Misses from the University of Göttingen), is presented. They were part of prominent intellectual circles, carried out interlingual translations and had works published at a time when this was not yet common for their female contemporaries. They were an exceptional example. Among the results of the study, it was observed that the intellectual work of women contributed to the circulation of texts relevant to Enlightenment and Literature in pre-unified Germany. However, their names are not remembered as much as those of their male partners and family members.

Keywords
history of Translation; Translation studies; German; 18th century; 19th century

1 Introdução

Em disciplinas de Estudos da Tradução no Brasil, é comum a menção ao icônico ensaio Dos diferentes métodos de traduzir (Über die verschiedenen Methoden des Übersetzens), do filósofo Friedrich Schleiermacher, publicado em 1813, para abordar e problematizar marcos fundamentais do traduzir na Modernidade2. Nesse ensaio, ele reconhece a onipresença da tradução em diversas esferas sociais, distingue alguns tipos de tradução, evoca uma hierarquia valorativa entre eles e discute a desafiadora tarefa da pessoa que traduz, que consiste em fazer escolhas que nunca serão plenamente satisfatórias.

O ensaio de Schleiermacher recebeu especial atenção nos anos 1980 e 1990, quando foi abordado por Antoine Berman (1984) e Lawrence Venuti (1995). Mauri Furlan (2011: 70) também destacou esse trabalho, afirmando ser “o mais importante ensaio sobre tradução produzido no século XIX”. De fato, trata-se de uma obra singular, que alia Filosofia e Tradução, e que rende discussões ainda hoje. No entanto, pouca atenção se deu ao contexto macro em que Schleiermacher estava inserido, isto é, ao contexto sociocultural de regiões germânicas3 de meados do século XVIII a meados do XIX.

Considerando a efervescência intelectual europeia nesse recorte temporal, este artigo tem o objetivo de identificar o trabalho de mulheres na História da Tradução a partir do contexto germânico. Para isso, considera a perspectiva de Sergey Tyulenev (2010) acerca de tradução como interação intersistêmica (incluindo tradução como um subsistema de um sistema social mais abrangente) e discute questões históricas e culturais. Busca responder às seguintes perguntas: 1) Por que é relativamente incomum estudar a contribuição intelectual de mulheres na Tradução? 2) Qual é a relação do referido contexto germânico com a teorização e práticas de tradução? 3) Quais exemplos de mulheres tradutoras podem ser encontrados naquele contexto?

Identificar fatores socioculturais históricos que propiciaram a emergência de mulheres no campo intelectual, principalmente na tradução, é um exercício que pode contribuir para a compreensão de condições favoráveis para a educação e para o ofício de mulheres tradutoras. Durante o levantamento bibliográfico desta pesquisa, observei que um grupo de cinco mulheres, conhecido como Göttinger Universitätsmamsellen (Senhoritas da Universidade de Göttingen), é um caso excepcional do contexto germânico que merece mais visibilidade na academia brasileira, pois amplia debates acerca da contribuição das mulheres na História da Tradução.

O presente estudo seguiu o método qualitativo, com análise interpretativa de conteúdo. Para a coleta de dados, consultei artigos, livros, dissertações, teses e projetos de pesquisa que, em conjunto, abordam temas de tradução, filosofia, história e educação. Na seção a seguir, apresento um panorama de publicações e projetos que se dedicam à visibilidade do trabalho intelectual de mulheres. Na terceira seção, abordo aspectos que caracterizaram as regiões germânicas do período em questão. Na quarta seção, apresento algumas tradutoras e autoras germânicas, com ênfase no grupo Universitätsmamsellen.

2 A crítica feminista para a visibilidade do trabalho intelectual de mulheres

Por que é relativamente incomum estudar a contribuição intelectual histórica de mulheres na Tradução? É razoável pressupor que a omissão de nomes de tradutoras na História da Tradução seja multifatorial, mas estudos que versam sobre a exclusão sistemática de mulheres na educação e no cânone filosófico podem contribuir para pensar em um dos porquês desse cenário na Tradução e como mudá-lo. Esta seção convida docentes e discentes a se atentarem para a seleção de materiais abordados em sala de aula, pois a seleção exclusivamente tradicional pode perpetuar uma visão limitada sobre pessoas tradutoras na história. A abordagem da crítica feminista é um dos meios que possibilita maior visibilidade para o trabalho de mulheres.

Charlotte Witt e Lisa Shapiro (2021) expõem duas observações principais feitas por filósofas feministas: uma é o problema da exclusão histórica e a outra é a estereotipação feita por filósofos canônicos sobre a mulher ou sobre a filosofia feita por mulheres. Na Filosofia tradicional, é comum a interpretação enviesada de que não houve filósofas na história ou de que, quando houve, sua filosofia era irrelevante para o cânone. A emoção exacerbada e a irracionalidade são alguns exemplos de atributos negativos que a tradição inculcou à figura da mulher. Witt e Shapiro (2021) também ressaltam a crítica feminista frente a filósofos influentes como Aristóteles, Platão e Kant, cujos textos apresentam trechos sexistas e misóginos.

Desde a identificação da exclusão histórica e da estereotipação depreciativa, a crítica feminista vem trabalhando para destacar a participação das mulheres na Filosofia. Entretanto, esses esforços não são exclusivos do século XXI nem do XX. Sabrina Ebbersmeyer (2020), com ênfase no contexto alemão, compila criticamente uma série de obras que promoveram o nome de várias filósofas desde a Antiguidade até a Idade Moderna. Ela aponta que havia uma ampla discussão sobre o trabalho de filósofas antes do século XIX, mas que, após esse período, houve uma crescente tendência de relegar as mulheres para fora do meio acadêmico, principalmente do meio filosófico.

Fanny del Río (2018: 2) cita como exemplo dessa exclusão a primeira edição de uma das maiores enciclopédias em língua inglesa sobre filosofia, The Encyclopedia of Philosophy, editada por Paul Edwards e publicada em 1967. A obra tinha cerca de 900 entradas sobre indivíduos — dentre estes, nenhuma filósofa, nem mesmo as contemporâneas do editor, como Hannah Arendt, Ayn Rand e Simone de Beauvoir. Dois anos após o lançamento, Mary Hesse, uma das figuras mais proeminentes do século XX para a história e filosofia da ciência, segundo Steven French4, publicou uma resenha elogiando a enciclopédia de Edwards: ela qualificou a obra como um “sucesso inquestionável” (HESSE 1969: 263)5. Aparentemente, a exclusão das mulheres na Filosofia estava normalizada. Somente a partir de meados dos anos 1990, uma revisão histórica ganhou força (WITT & SHAPIRO 2021).

No âmbito dos Estudos da Tradução também ocorre a omissão da participação histórica de mulheres, sobretudo quando a área já enfrenta o especial desafio da invisibilidade do tradutor (cf. VENUTI 1995; ABES 2022). Considerando o que foi exposto no caso de Filosofia, é possível que a omissão, ou exclusão, da participação de mulheres na História da Tradução seja um reflexo da tradição acadêmica oitocentista, que tem como referencial preponderante o trabalho de homens.

No Brasil, a omissão de mulheres tradutoras na história vem sendo contestada com trabalhos como os de Maria Eduarda Alencar (2016), Dennys Silva-Reis e Luciana Carvalho Fonseca (2021 [2018]), e Fabiana Rodrigues e Maria Clara Oliveira (2018). Todos esses trabalhos versam sobre tradutoras nos séculos XIX e XX no Brasil, trazendo contribuições significativas para a visibilidade delas. Outro trabalho que contribui para a área é a tese de Naylane Matos (2022), que analisa o desenvolvimento dos Estudos Feministas da Tradução no Brasil. Quanto a trabalhos sobre tradutoras estrangeiras, ainda há poucos disponíveis em língua portuguesa.

Os motivos para a omissão de nomes de tradutoras históricas nas disciplinas acadêmicas podem ser de várias ordens: conteúdo programático extenso; pertinência dos temas de acordo com a ementa da disciplina; preferência por autores (homens) consagrados; escassez de trabalhos que versam sobre a história das mulheres na tradução; dificuldade de acesso a materiais e a pesquisas recentes sobre esse tema; entre outros. Entretanto, docentes que tenham a preocupação de dar visibilidade às muitas faces da história da tradução podem se engajar em abordagens mais inclusivas a partir de atividades que convidem a debates críticos.

Vera Tripodi (2017) aponta para questões de estereotipação da mulher na tradição intelectual ocidental e problematiza sua exclusão histórica no cânone filosófico, de modo a ressaltar a necessidade de práticas metodológicas e pedagógicas que valorizem a inclusão e pluralidade cultural. Nesse sentido, se mais estudos fossem realizados a partir da perspectiva de inclusão de grupos minorizados, mais recursos teríamos para uma melhor compreensão sobre a produção de conhecimento. Consequentemente, nossas percepções seriam mais condizentes com as realidades humanas e seus desafios inerentes, propiciando novas trajetórias de pesquisa.

Quando o trabalho intelectual de homens é abordado exclusivamente, limitamos nosso acesso a outros saberes. A já bastante conhecida Chimamanda Adichie (2019) atenta para os perigos de se restringir a uma história única, desprovida de perspectivas diversificadas e de vozes não hegemônicas. De acordo com a autora, “Assim como o mundo econômico e político, as histórias também são definidas pelo princípio de nkali: como elas são contadas, quem as conta, quando são contadas e quantas são contadas depende muito de poder” (ADICHIE 2019: sem paginação; trad. Julia Romeu). É preciso pensar a História da Tradução e de movimentos culturais por meio, também, dos trabalhos das mulheres a fim de promover uma formação educacional mais inclusiva e crítica.

Além da omissão ou exclusão, outro aspecto pertinente à discussão do apagamento das mulheres na História da Tradução incide na educação de mulheres, que também é pintada com estereótipos e preconceitos. Michèle Cohen (2005), por exemplo, atenta para as armadilhas do senso comum no que tange à educação histórica de homens e mulheres. Ela observa que há uma assimetria na representação da educação autodidata entre homens e mulheres: enquanto o autodidatismo de homens é visto como um indício de seu gênio criativo, o autodidatismo de mulheres é visto como desenfreado e assistemático (COHEN 2005: 224-225). Não é de todo absurdo entrever uma extensão dessa estereotipação também no ofício da tradução.

Observar criticamente e problematizar o que estudos tradicionais apresentam não só é proveitoso, como necessário para pensar em estratégias de pesquisa que melhor contemplem a realidade, que é complexa e plural. O discurso de que não houve mulheres tradutoras na história, ou de que não há trabalhos relevantes feitos por mulheres para a teoria ou História da Tradução, mostra-se como uma falácia. Trabalhos especializados que se dedicam à visibilidade de mulheres no campo intelectual são fundamentais para desconstruir crenças que se estabeleceram após séculos de subestimação feminina propagada por determinados autores. Na próxima seção, questões históricas e culturais referentes ao contexto germânico são abordadas criticamente e, na seção a seguir, exemplos de mulheres tradutoras germânicas são levantados.

3 A tradução no contexto germânico de meados do século XVIII a meados do XIX

Entender o contexto histórico de um marco para os Estudos da Tradução, como o ensaio de Schleiermacher, contribui para uma formação mais consciente dos aspectos socioculturais que permeiam a vida de uma pessoa tradutora, seja no passado, seja no presente. Circunstâncias políticas e educacionais, além de questões socioeconômicas e de movimentos culturais, interferem no surgimento e na manutenção de profissionais da tradução, incluindo teóricos. Nesta seção, alguns desses aspectos são abordados para ilustrar o plano de fundo em que se encontravam algumas tradutoras. Como a história das regiões germânicas é complexa, diversificada e dinâmica, o estudo apresentado sintetiza momentos mais relevantes para a discussão.

A história da Prússia é permeada de pluralidade, instabilidade e conflitos de várias esferas. Em vez de uma unidade geográfica nacional, a Prússia era um conjunto heterogêneo de políticas, religiões e populações, com fronteiras fluidas. No decorrer do século XVIII, a monarquia prussiana investiu fortemente em sua militarização e participou de guerras internacionais, obtendo vitórias que lhe concederam o status de uma das potências militares europeias. No entanto, isso demandou altos custos de recursos humanos e econômicos, que já eram escassos para o contexto prussiano, e, consequentemente, quase levaram a um colapso da Prússia em anos posteriores, durante as guerras napoleônicas (DWYER 2013: 2-4).

Reformas de teor político-religioso-educacional, como o sistema de recrutamento por cantão e parcerias administrativas entre o governo e o movimento pietista, estavam entre as estratégias adotadas pela monarquia prussiana nos esforços para aumentar seu poderio militar e rumar para uma consolidação nacional. Compreender esses fatores é fundamental para pensar o cenário em que Schleiermacher e outros tradutores estavam inseridos, pois essas circunstâncias afetaram diretamente suas vidas. A educação pública, por exemplo, era promovida por agentes religiosos e o pietismo foi usado como ferramenta governamental para um maior controle social, desempenhando um papel central na consolidação do poder institucional, moral e disciplinar, que favoreceu o Estado (DWYER 2013: 5-7). Schleiermacher, vale lembrar, participou do movimento pietista durante um período de sua vida, além de ter se tornado um teólogo, e os pais de algumas das Universitätsmamsellen eram filhos de clérigos ou professores de Teologia.

Karl Schleunes (1979: 315) comenta que uma das transformações revolucionárias que moldaram o mundo europeu do século XIX foi o desenvolvimento da sociedade escolarizada. Ele também discorre sobre como a experiência educacional da Prússia é particularmente importante para o entendimento da escolarização europeia, tendo servido quer como modelo a ser seguido, quer evitado, devido às calorosas discussões sobre o que os estudos proporcionam às classes menos privilegiadas e como isso se alinha aos interesses estatais (SCHLEUNES 1979: 316). Em uma época em que Estados estavam se consolidando, políticas educacionais que descentralizassem a formação dos cidadãos do monopólio da Igreja eram ora interessantes, ora ameaçadoras, já que proporcionariam mais autonomia ao setor público e, ao mesmo tempo, poderiam desencadear novos desafios para a unificação, senão a dissolução do regime monárquico.

Diferentemente dos modelos atuais de educação, o letramento promovido no século XVIII nas regiões germânicas tinha finalidade religiosa e geralmente se limitava à leitura de textos litúrgicos. A escrita era considerada uma habilidade separada da leitura e consistia principalmente de silabação, ortografia e caligrafia, sem grandes preocupações com semântica, sendo ensinada posteriormente para estudantes que persistiam nos estudos (MAYNES 1985: 27-8 apud BALL 2014: 400). Pode-se dizer, ainda, que os estudos não eram incentivados por famílias rurais, que precisavam priorizar o trabalho manual em vez da educação contínua (GRAFF 1987: 290; MAYNES 1985: 85-7 apud BALL 2014: 401).

O século XVIII também foi marcante para o gradual decréscimo da circulação do latim e a exponencialidade de traduções vernaculares em países europeus. Fania OzSalzberger (2006: 387) discorre que “Depois de 1750, os textos científicos não eram mais traduzidos para o latim para serem lidos internacionalmente” e que é perceptível “uma crescente conscientização das complexidades da tradução e tentativas de teorizar a tradução”6. O ensaio de Schleiermacher, sendo do início do século XIX, surge como um reflexo das preocupações intelectuais que já estavam em ebulição no século anterior.

Ainda no que tange às relações do contexto germânico com a tradução, observase também o impacto da indústria de livros, que se deu por meio de feiras. De acordo com Oz-Salzberger (2006: 392), “Os grandes centros de tradução da Europa eram Paris, Londres e, a partir de 1760, Leipzig e arredores — este último também era um centro importante de circulação por meio de sua feira de livros e suas conexões acadêmicas, literárias e jornalísticas”7. Nos arredores de Leipzig encontra-se Halle, que também ocupou um lugar de destaque nos movimentos culturais da época, como o pietismo e o Iluminismo, além de centro de comércio de livros, conforme apontado por Johan van der Zande (2013: 91): “Berlim e Halle tornaram-se centros importantes do comércio de livros. Mesmo em Halle, esse trabalho era dos livreiros em vez da universidade”8.

Konrad Schröder (2018) faz uma síntese socio-histórica acerca do ensino de línguas nas regiões germânicas da Europa Central no decorrer dos séculos e usa o termo foreign language training (FLT) em alguns casos, que é condizente com a proposta de estudos da época. No século XVIII, por exemplo, o FLT de inglês dedicava-se mais às habilidades linguísticas de tradução e leitura do que de compreensão e expressões orais (SCHRÖDER 2018: 34). Além disso, até 1770, aproximadamente, o inglês era uma língua estigmatizada pelas comunidades católicas e seu ensino estava mais restrito às regiões nas quais imperava o protestantismo (SCHRÖDER 2018: 33). Em contrapartida, os anos 1760–1780 também testemunharam uma crescente onda anglófila propulsionada pela tradução de obras de Shakespeare, que ganharam força com as traduções de Christoph Martin Wieland e Johann Joachim Eschenburg, e com o interesse de poetas germânicos expoentes, como Lessing, Schiller e Goethe9.

Além do cenário educacional, do comércio de livros e dos movimentos culturais (religiosos, filosóficos, científicos e políticos), uniões dinásticas também contribuíram para a proximidade de algumas instituições germânicas setecentistas com o letramento em outras línguas, principalmente com línguas não clássicas10. No caso do inglês, isso ocorreu com o Eleitorado de Brunswick-Lüneburg, também conhecido como Eleitorado de Hannover, que uniu dinastias inglesas com as germânicas. Tal Eleitorado fundou em 1737 a Universidade de Göttingen, que passou a ser considerada como “um grande centro de recepção de romances ingleses e da filosofia escocesa” (OZ-SALZBERGER 2006: 393)11. Foi dessa universidade que o grupo Universitätsmamsellen adveio.

Vários fatores constituíram a relação da cultura alemã com a tradução, tornandoa “historicamente a maior cultura-de-tradução na Europa” (BERMAN 2011: 89). Nesse processo, houve uma participação ativa de tradutoras, apesar de seus nomes e obras não serem rememorados com tanta frequência. Na seção a seguir, são abordados exemplos de tradutoras germânicas, a fim de contribuir para uma maior visibilidade do trabalho tradutório feito por mulheres.

4 Tradutoras e autoras germânicas

Esforços multidisciplinares são necessários para pensar em uma História da Tradução mais inclusiva. Nesse sentido, o Centro de Pesquisa Internacional para a História de Mulheres Filósofas e Cientistas (HWPS)12 colabora no levantamento de dados por meio do diretório de filósofas. Lá estão listados, até o momento, mais de 240 nomes de filósofas no decorrer dos séculos, incluindo suas biografias, fontes primárias e secundárias. Com pesquisas aprofundadas, é possível identificar quais delas fizeram traduções, além de mapear interesses tradutórios (isto é, escolhas e concepções de tradução) que podem ser discutidos em diferentes disciplinas acadêmicas.

Mais especificamente, um projeto que auxilia no levantamento de dados sobre tradutoras germânicas é o Mulheres intelectuais da Alemanha do século XVIII13, do Kant Research Group, vinculado à Universidade de Western Ontario (Canadá). Até a data da escrita deste artigo, esse grupo disponibiliza uma lista de 24 nomes de escritoras e tradutoras germânicas setecentistas, incluindo uma síntese biográfica e suas produções. Quem estuda o Racionalismo e o Pré-Romantismo Alemão deve reconhecer alguns dos sobrenomes lá listados, tais como Gottsched, Schlegel e Schelling, que servem de indício para o envolvimento dessas mulheres em grandes movimentos culturais alemães. Uma vez que os nomes de mulheres tradutoras são identificados, mais informações podem ser encontradas por meio de pesquisas no site da Neue Deutsche Biographie (NDB), um sistema central de informações histórico-biográficas14.

A Universidade de Western Ontario também sediou, em 2017, uma conferência homônima ao nome do projeto, que resultou na publicação do livro Women and Philosophy in Eighteenth-Century Germany (2021), editado por Corey Dyck. Esse livro é uma contribuição significativa para a visibilidade e o aprofundamento de pesquisas interessadas em discutir sobre o trabalho de mulheres na história da Filosofia, incluindo aspectos socioculturais de regiões germânicas no século XVIII. Para os Estudos da Tradução, essa obra também auxilia na bibliografia para identificar o trabalho de tradutoras e discutir as condições sociais atreladas ao ofício delas.

Quatro publicações que viabilizam o aprofundamento no tema de tradutoras e autoras germânicas são: The Making of Transnational Textual Communities: German Women Translators, 1800-1850, de Andrew Piper (2006); Das Universitätsmamsellen-Lesebuch (2015), publicado em acesso aberto pela editora da Universidade de Göttingen15; Universitätsmamsellen: Fünf aufgeklärte Frauen zwischen Rokoko, Revolution und Romantik, de Eckart Kleßmann (2017); e Vier Übersetzerinnen und ihre neun Ehemänner: Ehe und Übersetzung in der Romantik, de Kate Reiserer (2021).

Nos livros Das Universitätsmamsellen-Lesebuch (2015) e Universitätsmamsellen (2017), mais consultados para a escrita dos tópicos a seguir, encontram-se a biografia, cartas e alguns trabalhos do grupo Universitätsmamsellen. Há muitos exemplos de tradutoras e autoras no contexto germânico setecentista, como Luise Gottsched (1713–1762)16, Elisabeth Christine da Prússia (1715–1797)17, Elise Reimarus (1735–1805)18, Dorothea Mendelssohn-Veit-Schlegel (1764–1839)19, entre outras, mas esta seção concentra-se somente nas Universitätsmamsellen, que são menos conhecidas pelo público acadêmico brasileiro. A ordem de apresentação de cada uma delas foi organizada por ano de nascimento e os sobrenomes compostos sinalizam a mudança de sobrenome após o casamento.

4.1 Göttinger Universitätsmamsellen

As Universitätsmamsellen participaram de círculos sociais proeminentes que incluíram grandes nomes da literatura e filosofia alemã. Elas não somente tiveram acesso à educação e eram versadas em línguas estrangeiras, como também produziram textos literários e realizaram traduções em uma época em que isso ainda não era comum às suas contemporâneas. De acordo com Ruth Finckh (2015),

Todas as cinco vieram de famílias de professores universitários locais, viveram próximas umas das outras quando crianças, amaram, odiaram, apoiaram e zombaram umas das outras, desfrutaram de oportunidades educacionais excepcionalmente liberais e se tornaram personalidades muito peculiares (FINCKH 2015: 8).20

Como legado intelectual, seus trabalhos refletem aspectos dos movimentos culturais em que estavam inseridas, como o Iluminismo (Aufklärung), o Pré-Romantismo (Sturm und Drang), o Classicismo de Weimar, o Círculo de Jena (Jenaer Romantik) e o Estilo Biedermeier. Apesar de terem desfrutado de uma criação liberal para a época, suas personalidades diferiam entre si e seus trabalhos nem sempre coadunavam com percepções liberais sobre ser mulher. A ideia da submissão feminina, entre outras, pode ser identificada em algumas de suas cartas, que revelam também expectativas sociais e estereótipos seculares.

4.2 Philippine Gatterer-Engelhard (1756–1831)

Magdalene Philippine Gatterer (doravante Philippine), posteriormente conhecida como Philippine Engelhard, destacou-se pela poesia e musicalidade. Seus pais, Helene Barbara Schubart e Johann Christoph Gatterer, tiveram onze filhos e ela foi a terceira a nascer, quando moravam em Nuremberg. A julgar pelo teor de suas cartas e poemas, ela deve ter tido formação musical e se familiarizado com narração de histórias e contos de fadas por meio de sua convivência com empregadas domésticas (KLEßMANN 2017: 50). Seu pai foi professor de História da Universidade de Göttingen e tinha uma biblioteca de cerca de 4.000 volumes (KLEßMANN 2017: 51), o que pode ter contribuído para seu acesso a obras literárias e estudo de línguas estrangeiras.

A poesia de Philippine tornou-se conhecida com a publicação de três poemas — An den Schlaf, An den Mond e Lied — na edição de 1777 do Göttinger Musenalmanach e outros dois poemas — Die strafende Stimme e An das Klavier — na edição de 1778 do mesmo almanaque (KLEßMANN 2017: 57). Na segunda metade do século XVIII, era comum a circulação de poemas de vários autores em pequenas antologias como essa. Ewan West (1986: 38) explana que os almanaques também foram populares no contexto germânico e que os poetas Heinrich Christian Boie e Friedrich Wilhelm Gotter se inspiraram no Almanac des Muses, de origem francesa, para criar o Göttinger Musenalmanach.

Heinrich Boie precisou se mudar para Hannover e apresentou o poeta Gottfried August Bürger a Philippine (KLEßMANN 2017: 57). Eles trocaram cartas entre si de 1777 a 1794, e as cartas podem ser consultadas na edição organizada por Erich Ebstein (1921). De acordo com Bürger, em carta para Boie, “ela tem um grande talento poético, mas lhe falta capacidade de discernimento e ela precisa ainda mais de um polimento” (BÜRGER 1777 in EBSTEIN 1921: 19)21.

Sob outro prisma, Caroline Michaelis, em carta para sua amiga Luise StielerGotter, refere-se a Philippine como Musa e diz: “Nenhum profeta é reconhecido em sua pátria [...] Não se fala sobre ela aqui, não a admiram, apesar de sua mente vivaz, sua inteligência abrasadora” (CAROLINE 1780 in KLEßMANN 2017: 75)22. Caroline também observa que “para uma mulher, ela tem coragem demais, pensa e fala muito livremente, tem, portanto, pouquíssimo da suavidade feminina” (MICHAELIS 1780 in KLEßMANN 2017: 76)23. É rara uma análise literária atual do trabalho de Philippine, mas uma seleção de seus poemas, bem como detalhes biográficos e uma introdução ao seu trabalho, pode ser consultada na edição de Ruth Stummann-Bowert (2008).

4.3 Caroline Michaelis-Böhmer-Schlegel-Schelling (1763–1809)

Dorothea Caroline Albertine Michaelis (doravante Caroline), posteriormente conhecida como Caroline Böhmer, Caroline Schlegel e Caroline Schelling devido aos seus casamentos, foi a filha mais velha de Louise Philippine Antoinette Schröder e Johann David Michaelis, que tiveram nove filhos no total. O pai de Caroline estudou Teologia e línguas orientais na Universidade de Halle e tornou-se um influente professor de Filosofia na Universidade de Göttingen. Ele também exerceu outros cargos de destaque, obteve várias distinções e foi o segundo proprietário da Michaelishaus, na época, um local de hospedagem próximo à universidade, que contou com hóspedes renomados, como Lessing, Benjamin Franklin, Goethe e Humboldt.

Talvez o incentivo aos estudos e o acesso à biblioteca universitária, somados às condições favoráveis de que sua família lhe fornecia, tenham contribuído para que Caroline se tornasse uma das figuras femininas mais admiradas e influentes — e também mais difamadas e criticadas — do Romantismo Alemão. A família dela morava perto da casa dos Gatterer e, seguindo o conselho de Philippine, Caroline aprendeu italiano (KLEßMANN 2017: 77). Antes de se casar com Schlegel, sabe-se que ela já tinha um grande interesse por teatro e que em 1778 realizou a tradução de uma peça de comédia de Carlo Goldoni (KLEßMANN 2017: 77), renomado dramaturgo que difundiu o teatro italiano no exterior e propôs o estilo da commedia do carattere.

Além de italiano, Caroline também estudou inglês e francês e era uma ávida leitora de autores ingleses, como William Shakespeare, John Milton, Alexander Pope e David Hume (KLEßMANN 2017: 77). Em sua homenagem, a cidade de Jena concede a cada três anos o Prêmio Caroline Schlegel (Caroline-Schlegel-Preis) para jovens autores de língua alemã. Mais informações sobre a biografia e os escritos de Caroline podem ser encontradas em publicações específicas, como Caroline Schlegel-Schelling: Ein Lebensbild in Briefen, de Sigrid Damm (2009), ›Madame Lucifer‹ – Anmerkung zur Caroline-Rezeption, de Martin Reulecke (2010), e Caroline Schlegel-Schelling: Das Wagnis der Freiheit, de Sabine Appel (2013).

4.4 Therese Heyne-Forster-Huber (1764–1829)

Marie Therese Heyne (doravante Therese), posteriormente conhecida como Therese Forster e Therese Huber, foi a segunda filha de Therese Weiß e Christian Gottlob Heyne, que tiveram três filhos no total. Seu pai, quando jovem, obteve sua primeira renda com traduções do grego e sua diligência no estudo filológico de obras clássicas possibilitou que ele seguisse na carreira acadêmica, ocupando o cargo de professor de Eloquência na Universidade de Göttingen em 1763 (KLEßMANN 2017: 87). Ele participou da publicação de obras em língua inglesa e em línguas orientais e também atuou na administração da biblioteca universitária, de modo a contribuir para o aumento do acervo, que foi de 60.000 para 200.000 volumes durante a sua vida (KLEßMANN 2017: 88).

Após o falecimento da mãe de Therese, o pai dela casou-se com Georgine Brandes, com quem teve outros seis filhos. Essas mudanças fizeram com que Therese frequentasse um pensionato francês em Hannover, onde obteve sua formação. Ela teve acesso a obras de Voltaire, Rousseau, Goethe, entre outras, mas em carta para Karl August Böttiger, em 1816, ela revela que não se interessava pelos temas abordados e que não bajulava os “ídolos da moda” (Modegötzen); pelo contrário, sentia tédio e desprezo (KLEßMANN 2017: 95). Ela também comenta que obteve conhecimento de arqueologia, história natural, anatomia, medicina e história política a partir das conversas de seus familiares e colegas homens. Em 1783, acompanhando o casal Blumenbach em uma viagem para a Suíça, Therese teve a oportunidade de conhecer Goethe, Herder, Wieland, Lavater e Pestalozzi (KLEßMANN 2017: 95). Tais contatos sinalizam sua proximidade com círculos intelectuais proeminentes, decorrentes do trabalho de seu pai.

Em 1787, Therese colaborou com seu então marido Georg Forster na tradução inglês–alemão dos escritos de James Cook, capitão naval inglês que conduziu expedições para o Oceano Pacífico, embora Forster não tenha aprovado sua tradução (SCHREIBER 2022). De 1793 a 1794, foi publicado de forma seriada na revista Flora: Teutschlands Töchtern geweiht von Freunden u. Freundinnen d. schönen Geschlechts o primeiro romance germânico cujo enredo se passa na colônia penal australiana: Abentheuer auf einer Reise nach Neu-Holland, de autoria de Therese (O’CONNELL 2020: 348; MENSCH 2024: 192). Entre 1807 e 1827, Therese realizou mais de 400 traduções quando trabalhou como editora e ensaísta para o periódico Morgenblatt für gebildete Stände (WEIS 2023). Essa revista publicava artigos relacionados à História da Arte e Arqueologia. A editora responsável pela publicação era a já influente J. G. Cotta’sche, atualmente conhecida como Klett-Cotta24, que também publicava a revista Flora, uma das primeiras revistas germânicas voltadas para o público feminino.

4.5 Meta Wedekind-Forkel-Liebeskind (1765–1853)

Sophie Margarethe Dorothea Wedekind (doravante Meta), posteriormente conhecida como Meta Forkel e Meta Liebeskind, foi a filha mais nova de Sophia Magdalena Morrien e Rudolf Wedekind, que tiveram três filhos no total. Seu pai, assim como outros colegas de trabalho dele, estudou Teologia e Filosofia e assumiu o cargo de professor de Filosofia na Universidade de Göttingen em 1750. Meta teve uma educação planejada pelo pai e, em carta, alega: “Meu pai quis me dar uma formação científica; eu tive que aprender idiomas, música e desenho, e aprendi o primeiro com facilidade” (META 1778? in KLEßMANN 2017: 98)25.

Meta tornou-se uma tradutora profissional de francês e inglês e foi remunerada para traduzir inúmeras obras, dentre elas: os dois primeiros volumes de Histoire d’Elisabeth, Reine d’Angleterre, de Louise-Félicité de Kéralio (as traduções foram encomendadas por Johann Jakob Engel e foram publicadas em 1789 e 1790)26; A sketch of the reign of George the third from 1780 to the close of 1790, de Horace Walpole (a tradução foi publicada em 1791, sob o título Skizze der Regierung Georg des Dritten von 1780 bis zu Ende des Jahres 1790, mas não revela o nome de Meta; era comum a anonimização de tradutores)27; A Simple Story, de Elizabeth Inchbald (a tradução foi publicada em quatro volumes em 1792, sob o título Eine einfache Geschichte)28; Rights of Man, de Thomas Paine (a tradução foi publicada em 1792, sob o título Die Rechte des Menschen); e correspondências de Maria de Vichy-Chamrond, conhecida como Madame du Deffand (a tradução foi publicada em 1812, sob o título Anekdoten und Urtheile über merkwürdige Menschen).

Na esfera profissional, quem costuma acompanhar o nome de Meta é Georg Forster, em cujo ateliê ela trabalhou. Michael Schreiber (2018) distingue três fases do trabalho de Meta: 1) traduções do período anterior à sua colaboração com Georg Forster; 2) traduções que foram produzidas em colaboração com Forster ou sob a responsabilidade dele (de 1791 até 1793); e 3) traduções que foram produzidas independentemente do envolvimento de Forster ou após a saída de Meta da cidade de Mainz. Assim como Therese, Meta também trabalhou para o periódico Morgenblatt für gebildete Stände, de 1812 a 1821 (SCHREIBER 2018).

Meta exerceu seu ofício em um período favorável a demandas de tradução de obras em inglês e francês em regiões germânicas, contribuindo para a disseminação de textos literários e iluministas. Conforme apontado por van der Zande (2013: 91), “As traduções de autores franceses e, depois de 1770, gradualmente de autores britânicos também, tornaram o público alemão maior e mais familiarizado com as ideias da Europa Ocidental”29. O exemplo de Meta, assim como o das outras Universitätsmamsellen, mostra como a história da tradução — e, por que não, a história de tradutoras, se estendermos a perspectiva sociológica da tradução a partir de Tyulenev (2010) — é diversificada e oferece percepções mais compreensíveis de sociedade e de movimentos socioculturais quando é inclusiva.

Há trabalhos específicos a respeito de Meta, como a tese de doutorado de Monika Siegel (2001), que discorre sobre sua biografia e trabalho, e o livro Die deutsche Übersetzungskultur in der zweiten Hälfte des 18. Jahrhunderts: Meta Forkel-Liebeskind und ihre Übersetzung der Rights of Man, de Sophia Scherl (2014), que trata da cultura de tradução setecentista e aborda a tradução que Meta realizou de Rights of Man, de Thomas Paine, publicada em 1792. O artigo Maria: Eine Geschichte in Briefen: Ein Spiel herausgeberischer Simulationen?, de Florencia Sannders (2024), é uma contribuição recente e versa sobre duas estratégias de publicação do romance epistolar Maria: Eine Geschichte in Briefen, de autoria de Meta, publicado em 178430.

4.6 Dorothea Schlözer-Rodde (1770–1825)

Dorothea Schlözer (doravante Dorothea), posteriormente conhecida como Dorothea von Rodde, foi a filha mais velha de Caroline Friederike Roederer e August Ludwig Schlözer, que tiveram oito filhos no total. Seu pai estudou Teologia em Wittenberg e em Göttingen e tornou-se professor de História e Ciência Política na Universidade de Göttingen, onde ficou conhecido por suas publicações sobre a Rússia (KLEßMANN 2017: 104), incluindo a gramática Rußische Sprachlehre, publicada em 1763 e 1764, na qual estabeleceu comparações etimológicas entre russo e alemão. Helmut Keipert (2012) atenta para os problemas dessa gramática, que apresenta erros e expressa insultos à Rússia (KEIPERT 2012: 47)31. Na seara de publicações brasileiras sobre Schlözer, a atenção maior é dada às suas contribuições para a historiografia, e André Araújo (2015) discorre sobre o método histórico-crítico elaborado por ele.

Com o incentivo e planejamento pedagógico de Schlözer, Dorothea aprendeu desde muito cedo várias línguas: baixo-alemão (Plattdeutsch), francês, inglês, italiano, sueco, holandês, espanhol, latim, grego e hebraico, além de ter estudado História, religião, mineralogia, música, desenho e matemática (KLEßMANN 2017: 107; 109; 116; 120). Ela acompanhou seu pai em viagens para a Suíça e Itália, o que contribuiu para seus estudos, conhecimento de mundo e desenvoltura social. Em Roma, eles encontraram o autor e tradutor Wilhelm Heinse, com quem Schlözer discutiu questões de história moderna da Suécia e Rússia (SPIES 2012: 173; 180). Algumas pessoas, incluindo amigas, preocupavam-se com o quanto a formação de Dorothea a afastaria dos ideais femininos da época, mas as cartas dela mostram que ela prezava as oportunidades excepcionais que lhe eram oferecidas.

Como resultado de seus esforços e dedicação, à Dorothea foi concedido o título de Doutora em Filosofia pela Universidade de Göttingen, após três horas e meia de avaliação multidisciplinar (KLEßMANN 2017: 123). Ela também recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Estrasburgo e foi convidada para ser membra da Sociedade de Latim de Jena (Jenaische Lateinische Gesellschaft) (KLEßMANN 2017: 124). Ainda hoje, Dorothea é homenageada institucionalmente por meio de: uma placa comemorativa localizada no centro de Göttingen32; uma medalha de honra (Dorothea Schlözer-Medaille) que, desde 1958, reconhece o trabalho extraordinário de profissionais mulheres que se dedicam à educação de mulheres33; e o nome de um Programa de Pós-Doutorado da Universidade de Göttingen (Dorothea SchlözerProgramm), fundado em 2009, que oferece vagas para pesquisadoras de todas as áreas disciplinares34.

5 Considerações finais

Para a maioria dos homens — diz ela frequentemente — a tal da erudição é detestável em nós porque eles acreditam que nossas mentes não foram feitas para pensar em assuntos difíceis e profundos

(META 1784: 180)35.

Neste artigo, procurei oferecer um panorama de teor crítico e informativo a respeito da tradução no contexto da Alemanha pré-unificada (aproximadamente, 1750–1850), de modo a promover uma reflexão sobre a (in)visibilidade das mulheres na História da Tradução. Entre os temas abordados, há questões de história da educação, serviço público, trabalho de mulheres, publicação, tradução e circulação de vários gêneros textuais. O grupo Universitätsmamsellen foi abordado como um exemplo da contribuição intelectual de mulheres.

A tradução interlingual, por demandar contato com línguas e culturas distintas e, consequentemente, exigir conhecimentos específicos da pessoa que traduz, é em geral — mas não somente — praticada por um grupo de pessoas que tiveram acesso a determinadas condições educacionais, o que também pode se vincular a questões de classe social. No caso das Universitätsmamsellen e de Schleiermacher, por exemplo, isso não foi diferente. Suas preocupações intelectuais eram pertinentes aos movimentos culturais em que estavam inseridos e suas produções decorreram de uma combinação de circunstâncias sociopolíticas.

A partir do estudo realizado, é possível observar que a contribuição das mulheres na História da Tradução merece mais atenção acadêmica, especialmente no Brasil. São escassas as publicações disponíveis em língua portuguesa e são raras as ementas disciplinares que incluem a contribuição intelectual de mulheres para a área. Investigar relações históricas entre o comércio de livros, tradução, edição e jornalismo também mostra ser um campo pouco explorado na academia brasileira e sua expansão pode ser significativa para uma maior compreensão sobre acordos comerciais de publicação e respectivos impactos sociais, especialmente aqueles que envolvem o meio universitário.

  • 2
    Schleiermacher comunica esse ensaio em 1813 em uma palestra na Academia das Ciências da Prússia (Preußische Akademie der Wissenschaften), atual Academia das Ciências de Berlim. Apesar de sua íntima relação com o fazer tradutório, afinal, dedicara vários anos de sua vida à tradução das obras de Platão, ele não retorna mais à teoria da tradução — ao menos, não publicamente. Traduções sinóticas para o português brasileiro foram publicadas na revista Scientia Traductionis, n. 9, em 2011, realizadas por Margarete von Mühlen Poll (2001), Celso Braida (2007/2011) e Mauri Furlan (2011). Para um guia sobre a biografia e o trabalho de Schleiermacher, cf. Forster (2017) e Hermans (2019). Para uma edição recente do ensaio em alemão, cf. Schleiermacher (2022).
  • 3
    Recortes socioculturais históricos da Prússia e do Sacro Império Romano-Germânico integram a discussão na seção 3.
  • 4
  • 5
    “undoubted success” (HESSE 1969: 263). Todas as traduções de citações em notas de rodapé são de autoria própria.
  • 6
    “After 1750, scientific texts were no longer translated into Latin for international readership” (OZSALZBERGER 2006: 387); “a growing awareness of the complexities of translation, and attempts at theorising translation” (OZ-SALZBERGER 2006: 387).
  • 7
    “Europe’s great centres of translation were Paris, London and, from about 1760, Leipzig and environs— the latter also a major hub of circulation through its book fair and its academic, literary and journalistic connections” (OZ-SALZBERGER 2006: 392).
  • 8
    “Berlin and Halle became important centres of the book trade. Even in Halle, this was the work of booksellers rather than the university” (VAN DER ZANDE 2013: 91).
  • 9
    Especificamente, o tema da recepção e tradução de obras de língua inglesa por falantes de alemão no século XVIII já foi explorado em vários trabalhos, como: Lessing and Shakespeare (1904), de Frederick William Meisnest; The Reception of English Literature in Germany (1932), de Lawrence Marsden Price; English Books and Their Eighteenth-Century German Readers (1977), de Bernhard Fabian; e Shakespeare and Germany (2012), de Roger Paulin.
  • 10
    No contexto europeu, “línguas clássicas” refere-se ao latim e grego.
  • 11
    “a major reception centre for English novels and Scottish philosophy” (OZ-SALZBERGER 2006: 393).
  • 12
    The Center for the History of Women Philosophers and Scientists (HWPS), com sede na Universidade de Paderborn. Disponível em: <https://historyofwomenphilosophers.org/about/> (01/12/2024).
  • 13
    Women Intellectuals of 18th Century Germany, projeto do Kant Research Group. Disponível em: <https://publish.uwo.ca/~cdyck5/UWOKRG/women.html> (24/09/2021).
  • 14
    O site da Neue Deutsche Biographie (NDB) resulta do trabalho conjunto de equipes da Comissão Histórica da Academia de Ciências e Humanidades da Baviera (Historische Kommission bei der Bayerischen Akademie der Wissenschaften – HiKo), da Biblioteca Estadual da Baviera (Bayerische Staatsbibliothek – BSB) e da Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (Deutsche Forschungsgemeinschaft – DFG). Disponível em: <https://www.deutsche-biographie.de/ueber#ber1> (01/12/2024).
  • 15
    As informações disponíveis em Das Universitätsmamsellen-Lesebuch (2015) foram extraídas da Biblioteca Nacional da Alemanha e editadas por Ruth Finckh, Roswitha Benedix, Petra Mielcke, Ortrud Schaffer-Ottermann e Dagmar von Winterfeld.
  • 16
    Luise Gottsched traduziu várias obras satíricas do inglês e do francês. Para uma análise do lugar da sátira em seu trabalho, cf. Hilary Brown (2008).
  • 17
    Elisabeth Christine von Braunschweig-Wolfenbüttel-Bevern foi rainha consorte da Prússia de 1740 até 1772. Ela traduziu Geistliche Oden und Lieder do alemão para o francês, uma coletânea de textos sacros escritos pelo poeta e professor universitário Christian Fürchtegott Gellert e musicalizados por Bach, entre outras obras. Para mais informações sobre sua biografia e trabalho, cf. Gerhild Komander (2012).
  • 18
    Elise Reimarus traduziu: Die Freundschaft auf der Probe (1769), de Jean-François Marmontel, um autor e dramaturgo francês, conhecido de Voltaire; e Zayre: Ein Trauerspiel in fünf Aufzügen, de Voltaire (1787), que está disponível na seção de Teatro da Biblioteca Estadual e Universitária (SUB) de Hamburg <https://www.stadttheater.uni-hamburg.de/node/2611>. Para mais informações acerca de sua biografia, cartas e publicações, cf. Almut Spalding (2005). Para publicações mais recentes, cf. Reed Winegar (2020; 2021).
  • 19
    Dorothea (nascida Brendel) Mendelssohn-Veit-Schlegel escreveu cartas para Schleiermacher de 1798 a 1806. Essas cartas foram compiladas em uma edição de 1913, que foi digitalizada e está disponível no domínio da Biblioteca da Universidade Humboldt de Berlim <https://www.digi-hub.de/viewer/image/BV041252118/9/LOG_0000/>. Para mais informações sobre sua biografia, carreira intelectual e pressões sociais em sua vida, cf. Brigitte Sassen (2021).
  • 20
    “Alle fünf stammten aus lokalen Professorenfamilien, lebten als Kinder in unmittelbarer Nachbarschaft voneinander, liebten, hassten, unterstützten und verspotteten sich gegenseitig, genossen ungewöhnlich großzügige Bildungschancen und wuchsen schließlich zu sehr eigenwilligen Persönlichkeiten heran” (FINCKH 2015: 8).
  • 21
    “Sie hat großes poetisches Talent, aber an Beurtheilungskraft fehlts ihr und sie bedarf den Hobel noch gar sehr.” (BÜRGER 1777 in EBSTEIN 1921: 19). Nota de tradução: Hobel pode ser traduzido como “plaina”, uma ferramenta usada na carpintaria ou marcenaria para nivelar ou ajustar peças rústicas de madeira.
  • 22
    “Kein Prophet gilt in seinem Vaterlande [...] Hier redt man nicht von ihr, man bewundert sie nicht, ohngeachtet ihres lebhaften Verstands, ihres feurigen Wizes” (KLEßMANN 2017: 75).
  • 23
    “für ein Frauenzimmer hat sie zu viel Muth, denkt und redt zu frey, hat überhaupt so wenig vom sanften weiblichen Charakter” (KLEßMANN 2017: 76).
  • 24
  • 25
    “Mein Vater wollte mir eine wissenschaftliche Bildung geben; ich mußte Sprachen, Musik und Zeichnen lernen und ich lernte das Erstere leicht.” (META 1778? in KLEßMANN 2017: 98). A respeito da concepção de Bildung no contexto setecentista, cf. Jürgen Oelkers (1998: 50-51).
  • 26
  • 27
  • 28
  • 29
    “Translations of French, and after 1770 increasingly also of British, authors made a wider German public familiar with western European ideas” (VAN DER ZANDE 2013: 91).
  • 30
    O romance Maria: Eine Geschichte in Briefen (1784) pode ser consultado virtualmente na Sophie Digital Library, uma biblioteca de acesso aberto que reúne obras de autoras germânicas da Idade Média até o início do século XX, mantida pela Universidade Brigham Young (BYU). Disponível em: <https://scholarsarchive.byu.edu/sophiefiction/91/> (27/12/2024).
  • 31
    Keipert (2012: 52) também aponta que Schlözer apoiou-se na tradução alemã que Johann Lorenz Stavenhagen realizou da gramática russa de Michail Vasilʹevič Lomonosov, o que exemplifica o impacto de obras traduzidas na elaboração de gramáticas de línguas estrangeiras. Para um estudo sobre Lomonosov como teórico da tradução, cf. Keipert (1981).
  • 32
    Endereço da placa comemorativa: Lange-Geismar-Straße 49, Göttingen. Disponível em: <https://www.stadtarchiv.goettingen.de/texte/gedenktafeln_s.htm> (01/01/2025).
  • 33
    Disponível em: <https://www.uni-goettingen.de/en/113274.html> (01/01/2025).
  • 34
    Disponível em: <https://www.uni-goettingen.de/de/113209.html> (01/01/2025).
  • 35
    “Den meisten Männern – sagt sie oft – ist die so genannte Gelehrsamkeit an uns verhaßt, weil sie glauben, daß unser Verstand nicht dazu bestimmt ist, um über schwere tiefsinnige Materien nachzudenken” (META 1784: 180).

Declaração de Disponibilidade de Dados

Não se aplica.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Nov 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2025
  • Aceito
    22 Abr 2025
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