Resumo
Este trabalho buscou analisar as relações de cuidado no campo da Atenção Psicossocial, atual política de assistência em saúde mental pelo SUS, na dimensão de sua familiarização e feminização a partir do processo de Reforma Psiquiátrica. Considerando que o Estado atua na cogestão do cuidado em saúde mental com o núcleo familiar, partimos da hipótese de que a sustentação desta estratégia de cuidado em âmbito comunitário reforça a histórica feminilização do cuidado, fortemente racializada e atravessada por desigualdades de classe e territórios. O objetivo da pesquisa foi analisar a relação entre gênero e cuidado a partir do trabalho etnográfico em um CAPS, observando o cotidiano de mulheres cuidadoras familiares nesse serviço. Entre os objetivos específicos, buscou-se investigar a gestão do cuidado em saúde mental, apontando para as discussões entre gênero, cuidado e trabalho, e observando aproximações e distanciamentos entre categorias êmicas e analíticas. A familiarização do cuidado na Atenção Psicossocial aponta para uma ocupação bastante desigual dos encargos do cuidado, que reproduz as bases de um modelo societário em que essa tarefa é delegada às mulheres que se encontram em condições vulnerabilizadas, contribuindo para seu duplo apagamento, tanto como cuidadoras sem o suporte adequado, como sujeitos que demandam cuidado.
Palavras-chave:
Mulher; Cuidado; Gênero; Reforma Psiquiátrica; CAPS