Resumo
O presente trabalho procura refletir sobre a relação que se constrói entre as mulheres latinas migrantes e as práticas terapêuticas, de acordo com os papéis designados ou assumidos por elas nos processos de saúde/doença/cuidado. Uma pesquisa etnográfica foi realizada com mulheres caribenhas instaladas na Espanha, a fim de indagar sobre certas atividades curativas e cuidados exercidos por elas, tanto dentro como fora de casa. Além do componente descritivo, trabalhamos com narrativas e significados específicos elaborados em torno dessas ocupações. Sua análise permitiu identificar facetas conflitantes no desenvolvimento da identidade feminina e da experiência de migração. As atividades de cuidado como principal alternativa de trabalho evidenciam a desigualdade de oportunidades e áreas de impacto social acessíveis aos latino-americanos; ao mesmo tempo, refletem mecanismos de reprodução de esquemas essencialistas, que naturalizam a divisão do trabalho de acordo com "qualidades" étnicas e de gênero. Por outro lado, a gestão de conhecimentos específicos sobre cura, tratamento e assistência supõe para as mulheres a posse de um papel distintivo e potencialmente empoderador dentro da comunidade como continuadores de certos conhecimentos tradicionais.
Palavras-chave:
migração; medicina popular; práticas terapêuticas; cuidados; papéis de gênero