Resumo
Este trabalho examina os fatores que contribuem para o sofrimento entre pessoas trans e travestis, com foco especial no papel do trabalho sexual na marginalização, resistências e agenciamentos. Duas pesquisas etnográficas foram realizadas no Rio de Janeiro em 2019 e 2023. O estudo inicial examinou o material de uma “rede de cuidados trans em (des)construção” e as histórias de vida de quatro mulheres trans e travestis. O segundo estudo, baseado em observação participante, entrevistas e rodas de conversa, envolveu profissionais do sexo, ativistas, profissionais de saúde e ONGs. Os dados coletados nos dois estudos foram então integrados pelos autores, cujos resultados foram encruzilhados, a fim de identificar elementos e temas comuns, chegando a quatro categorias: itinerários de vulnerabilização, trabalho sexual, conhecimento situado nos serviços de saúde e itinerário de encruzilhamento. As pesquisas indicam que o sofrimento vivenciado por mulheres trans e travestis pode ser conceituado como uma forma de "sofrimento encruzilhado” sendo gerado na interseção de caminhos de vulnerabilização e encruzilhamento, que desafiam as noções binárias. Demonstram também que as práticas de autocuidado, as (in)redes formais de solidariedade estabelecidas por esses indivíduos desempenham papel crucial em suas vidas, destacando o papel do conhecimento situado nos ambientes de atendimento.
Palavras-chave:
Mulheres trans; Trabalho Sexual; Saúde Coletiva; Feminismo Decolonial; Resistência