Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

Editorial

A repercussão entre autores e leitores dos números anteriores 22 e 23 de Per Musi (qualificada com o QUALIS A1 na CAPES e indexada na base SciELO), dedicados aos estudos em música popular, motivou mais uma chamada sobre esse tema, que parece ser o que mais tem atraído a atenção de pesquisadores na história recente da pesquisa em música no Brasil. Devido ao grande número de submissões, os artigos aprovados foram divididos em três volumes - 28, 29 e 30 - que trazem um total de 46 artigos, 11 partituras e 6 resenhas. Este volume 29 de Per Musi traz 19 artigos, 2 partituras e 1 resenha.

A norte-americana Katherine Williams, em tradução de Fausto Borém, discute as oposições do popular versus erudito e da improvisação versus pré-determinação na música do gigante do jazz Duke Ellington, a partir de uma análise comparativa de performances do sax barítono de Paul Gonsalves e do piano do próprio Ellington. Para tal, utiliza de gravações históricas de 1937, 1953 e 1956 da música Diminuendo and crescendo in blue. Em seguida, a partitura do solo de sax barítono de Paul Gonsalves em Diminuendo and crescendo in blue de Duke Ellington, em transcrição e edição de Leonardo Barreto, é apresentada.

O norte-americano J. (Bill) William Murray, em tradução de Fausto Borém, apresenta um estudo panorâmico sobre o pianista e compositor de jazz Billy Strayhorn, braço-direito de Duke Ellington, discutindo a questão da autoria na Duke Ellington Orchestra. Ao mesmo tempo, o artigo revela as características estilísticas de Strayhorn, analisando 19 obras selecionadas em relação a andamento, métrica, tonalidade, forma, duração, ritmo harmônico, linguagem harmônica e outros detalhes relevantes.

A partir do conceito de "embreagem enunciativa", Luiz Tatit aborda as modulações na voz do intérprete de canções populares que, ao lado do conteúdo proposto pelo compositor e letrista, buscam e agregam valor oral à comunicação já prenhe de sentimentos. Na sua análise, recorre a nomes do nosso cancioneiro como Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues, Aurora e Carmen Miranda, Dorival Caymmi, Nara Leão, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jussara Silveira, entre outros.

Fausto Borém e Ana Paula Taglianetti apresentam dois artigos sobre a performance de Elis Regina. No primeiro, discutem o desenvolvimento cênico-musical de Elis Regina ao longo de sua carreira, abordando suas influências, implicações políticas e construção de sua expressividade no palco. No segundo, abordam em detalhe os construtos cênico-musicais (texto, música e corporalidade) de Elis Regina a partir da análise de gravações de vídeo históricas em duas canções de universos emocionalmente contrastantes: Ladeira da Preguiça, de Gilberto Gil e Atrás da porta, de Chico Buarque e Francis Hime. Finalmente, Fausto Borém propõe uma partitura da performance de Elis Regina em Atrás da porta, deChico Buarque e Francis Hime, em que se integram dados analíticos de texto, som e imagem, a partir de uma transcrição de um vídeo de 1973.

Marcos Napolitano se debruça sobre a relação entre cinema e música popular no Brasil dos anos 1950, revelando o olhar político da esquerda sobre dilemas sociais, estéticos e ideológicos, epitomizado nas contradições do negro versus branco, do popular versus erudito no filme Rio, Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos, de 1957.

Josely Teixeira Carlos aborda, sob a ótica do Círculo de Bakhtin, os discursos da literatura e da música popular brasileira, a partir de duas versões do poema Até logo, até logo, companheiro, de Sierguéi Iessiênin. A primeira, na tradução de Augusto de Campos musicada por Toquinho. A segunda versão, na adaptação de Belchior do mesmo poema na canção Até mais ver, que também dialoga com o poema In extremis, de Olavo Bilac.

Márcio Ronei Cravo Soares interpreta a conjugação dos textos verbal (letra) e musical (melodia, harmonia e ritmo) na canção Sobre todas as coisas, de Chico Buarque e Edu Lobo, emparelhando as conotações religiosas e sensuais, ancorado em uma leitura do poema O grande circo místico, de Jorge de Lima, e que deu nome ao disco que contém aquela canção.

Paulo José de Siqueira Tiné estuda o modalismo na música popular brasileira da década de 1960, estabelecendo paralelos entre as tradições étnico-musicais brasileiras e o jazz modal norte-americano. A partir da harmonização tonal de melodias modais que Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro realizaram nas décadas de 1940 e 1950, o autor categoriza diferentes procedimentos harmônicos modais em importantes autores brasileiros como Edu Lobo, Geraldo Vandré, Baden Powell, Moacir Santos, Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Caetano Veloso e norte-americanos como Miles Davis e Herbie Hancock.

Carlos de Lemos Almada propõe a aplicação de ferramentas da análise derivativa de Schoenberg na música popular, exemplificando com dois estudos de caso: Chovendo na Roseira, de Tom Jobim, e Something, de George Harrison.

Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas investiga como as mudanças de centro tonal pelo "círculo das 3as" - e não pelo tradicional círculo das 5as - permitiu uma expansão e uma renovação do tratamento harmônico na música popular brasileira na segunda metade do século XX. Ilustra sua tese com as canções Hino ao Sol (Billy Blanco e Tom Jobim), Setembro (Gilson Peranzzetta, Vitor Martins e Ivan Lins), Sapato Velho (Mú Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós), Dom de Iludir (Caetano Veloso), Choro Bandido (Edu Lobo e Chico Buarque) e Amazon River (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro).

Baseado nos conceitos semiológicos de Roy Wagner, George Manoel Farias estuda a consolidação da tópica nacionalista 5 - #5 - 6 na música brasileira e busca exemplos em O Guarani (Carlos Gomes), Carinhoso (Pixinguinha), Aquarela do Brasil (Ary Barroso) e É (Gonzaguinha).

Em um estudo panorâmico entre 1930 a 1980, Silvano Fernandes Baia discute a concepção de "música popular brasileira" em publicações de autores formadores de opinião e os valores associados à ideia de uma tradição da música popular no Brasil que está intimamente ligada a uma linhagem articulada em torno do samba carioca.

O argentino Tomás Andrés Frère Affanni, abordando o icônico disco Chega de saudade, argumenta como o tratamento do ritmo, melodia, harmonia e voz por João Gilberto responde aos ataques que tratavam a Bossa Nova como música "reacionária" e "burguesa".

Para exemplificar a contraposição do "Pessoal do Ceará" à Bossa Nova na década de 1970,Nelson Barros da Costa e Maria das Dores Nogueira Mendesanalisam as canções Berro e Abertura, de Ednardo, sob o ponto de vista da Análise do Discurso.

Eduardo de Carvalho Ribeiro analisa as múltiplas facetas do compositor, cantor e instrumentista Elomar Figueira Mello no seu cancioneiro e em suas óperas, revelando um hibridismo que combina cantoria nordestina, flamenco, seresta, tango, hinário cristão, música erudita e um dialeto regional do sul da Bahia.

A partir de 15 músicas selecionadas de Luiz Gonzaga das décadas de 1940 e 1950, Almir Côrtes estuda tópicas do baião canonizadas pelo mestre do gênero, com vistas à sua aplicação na apreciação, interpretação, composição, arranjo, análise musical e improvisação.

Em um estudo etnográfico, Alvaro Neder revela a eficácia da música popular na transformação social em Mato Grosso do Sul, ao demonstrar os vínculos existentes entre canções populares urbanas de Campo Grande e os conflitos que levaram à superação das oligarquias rurais no estado.

Por meio de análise fenomenológica, realizada a partir de gravações (áudio e vídeo) de Festivais da Música Popular no Brasil, ocorridos entre 1965 e 1969, Vanda Lima Bellard Freire e Erika Soares Augusto identificam algumas convergências em quatro canções selecionadas: A Banda (Chico Buarque), Roda Viva (Chico Buarque), Pra não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré) e Sinal Fechado (Paulinho da Viola).

Na Seção de Resenhas - Pega na Chaleira, Fausto Borém apresenta o livro Eu não sou cachorro, não, de Paulo Cesar Araújo, que trata das relações entre música cafona (ou brega) e a ditadura militar no Brasil.

Finalmente, Informamos que Per Musi está disponível gratuitamente nos siteswww.scielo.com.br e www.musica.ufmg.br/permusi. As versões impressas de quase todos os números da revista ainda podem ser adquiridas através do e-mail permusi@ufmg.br.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Maio 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014
Escola de Música da UFMG Escola de Música da UFMG. Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha. Cep: 31270-010 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: permusiufmg@gmail.com