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Apresentação

Esta edição da Pro-Posições traz uma entrevista inédita e exclusiva com o filósofo francês Michel Serres. Membro da Academia Francesa, é hoje um dos intelectuais mais prestigiados daquele país, autor de mais de cinquenta livros sobre variados temas, alguns deles traduzidos no Brasil.

Serres é um outsider na filosofia francesa contemporânea, razão pela qual sua carreira acadêmica foi construída em universidades norte-americanas, sendo a Stanford University a última em que ensinou. Sua formação foi transversal: graduou-se em Matemática na Escola Naval e serviu na Marinha Francesa; graduou-se em Filosofia na Escola Normal Superior, onde também realizou estudos literários. Fez seu doutorado sob a orientação de Gaston Bachelard, dedicando-se à epistemologia da matemática. Sua produção também é transversal: de sua tese, transformada em livro, tratando da filosofia da matemática em Leibniz, ao seu último livro, publicado em 2014, Yeux (Olhos), vemos desfilar uma multiplicidade de temas: história e filosofia da ciência, o problema da guerra, educação, ecologia, literatura, música, o corpo, os sentidos... E o estilo do filósofo é também inconfundível: um forte tom literário e metafórico, para enfrentar temas de densidade filosófica. Michel Serres é autor de belos livros, que se leem com prazer e encantamento pelo uso da língua, mas que também provocam o pensamento com intensidade.

Em meio à multiplicidade de assuntos abordados por Serres com suas ferramentas conceituais transversais, encontramos a preocupação com a educação. Le tiers-instruit (O terceiro-instruído), de 1991, publicado no Brasil em 1993 com o título Filosofia mestiça, é o principal deles. A partir da alegoria em torno dos personagens Arlequim e Pierrô, defende a ideia de educação como travessia, como atravessamento, como percurso. A bela metáfora: aprender é lançar-se ao rio, buscando, a nado, atravessar de uma margem a outra. Mas o que importa é lançar-se ao movimento, partir, iniciar o processo. É a travessia que conta, muito mais do que a chegada. E essa travessia é mistura, é mestiçagem, encontro fundamental com o outro, mas especialmente o processo de misturar-se com ele, confundir-se com ele. Ensinar e aprender não consiste em afirmar identidades, mas em perder identidades, produzir misturas e mestiçagens, lançar-se à aventura do desconhecido para, dela, surgir renovado. Um encontro com as diferenças, portanto.

Ainda que em várias obras a problemática educativa transpareça, foi em 2012 que Serres voltou diretamente ao tema. A partir de uma conferência que fez na Academia Francesa, publicou Petite Poucette (no Brasil, Polegarzinha, 2013), livro curto, mas muito potente, em que problematiza o contemporâneo. Polegarzinha é a personagem que sintetiza a nova geração de crianças e jovens que, com os polegares, percorrem as telas de seus tablets, smart-phones e outros equipamentos eletrônicos. Como estamos educando essas novas gerações? Quais as transformações das escolas, dos professores, dos formadores, para enfrentar esse mundo completamente novo? A proposta de Serres é clara: apenas um projeto de colaboração entre as gerações pode tornar viável a utopia da reinvenção da forma de viver em comunidade.

Esses dois livros são a tônica em torno da qual se realizou a entrevista que segue. Trata-se da edição de uma entrevista bastante longa, que, além da educação, focou também outros elementos do pensamento de Serres, realizada em duas sessões, em Paris, em janeiro de 2014. A entrevista foi realizada por Maria Emanuela Esteves dos Santos, doutoranda na Faculdade de Educação da Unicamp, que realiza uma tese sobre Michel Serres, em regime de cotutela com a Université de Rouen, na França. A doutoranda transcreveu, editou e traduziu o trabalho que apresentamos aos leitores de Pro-Posições.

Dezembro de 2014

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2015
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