Acessibilidade / Reportar erro

O QUE É BEM-ESTAR SUBJETIVO? ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO SUBJECTIVE WELL-BEING DE ED DIENER

¿QUÉ ES EL BIENESTAR SUBJETIVO? ANÁLISIS CRÍTICO DEL ARTÍCULO SUBJECTIVE WELL-BEING, DE ED DIENER

Resumo:

O artigo de Ed Diener “Bem-Estar Subjetivo”, fundamental para a consolidação desse objeto na Psicologia Positiva, foi analisado criticamente em sua consistência interna e em sua influência para essa nova área. Cada bloco textual do artigo foi avaliado quanto a sua fragilidade segundo três categorias: consideração teórico-filosófica, definição do conceito e suas partes, referências bibliográficas. Como resultado, destacamos que Bem-Estar Subjetivo (BES) e Felicidade são fragilmente definidos no artigo, dando margem a ambíguas interpretações que se prolongam até o presente; importantes perguntas, como a diferença entre a melhor vida e a vida boa, são ignoradas; importantes referências bibliográficas são utilizadas inconsistentemente. Todavia, reconhece-se que as fragilidades identificadas no artigo são coerentes com o projeto da Psicologia Positiva: enfatizar aquilo que é mensurável ao custo do rigor. Recomenda-se que pesquisas sobre BES resgatem a história dos conceitos centrais a fim de reconhecer seus próprios limites e solucionar problemas éticos do campo.

Palavras-chave:
Bem-estar subjetivo; Felicidade; Psicologia positiva; Filosofia; Ed Diener

Resumen:

El artículo de Ed Diener “Bienestar Subjetivo”, fundamental para la consolidación de este objeto en la Psicología Positiva, fue analizado críticamente en cuanto a su consistencia interna y su influencia en esta nueva área. Cada bloque textual del artículo fue evaluado por su fragilidad según tres categorías: consideración teórico-filosófica, definición del concepto y sus partes, referencias bibliográficas. Como resultado, destacamos que el Bienestar Subjetivo (BES) y la Felicidad están débilmente definidos en el artículo de Diener, dando lugar a interpretaciones ambiguas que continúan hasta el presente; se ignoran cuestiones importantes, como la diferencia entre la mejor vida y la buena vida; las referencias bibliográficas importantes se usan de manera inconsistente. Sin embargo, se reconoce que las debilidades identificadas en el artículo de Diener son consistentes con el proyecto de Psicología Positiva: enfatizar lo medible a costa del rigor. Se recomienda que la investigación sobre BES recupere la historia de los conceptos centrales para reconocer sus propios límites y resolver problemas éticos en el campo.

Palabras-clave:
Bienestar subjetivo; Felicidad; Psicología Positiva; Filosofía; Ed Diener

Abstract:

Ed Diener’s article “Subjective Well-Being”, fundamental for the consolidation of this objetcin Positive Psychology, was critically analyzed in terms of its internal consistency and its influence on research in this new area. Each textual block of the article was evaluated for its fragility according to three categories: theoretical-philosophical consideration, concept’s definition and its parts, bibliographic references. As a result, we emphasize that Subjective Well-Being (SWB) and Happiness are weakly defined in Diener’s paper, giving rise to ambiguous interpretations; important questions, such as the difference between the best life and the good life, are ignored; important bibliographical references are used inconsistently or not presented during central argumentation. However, we recognize that the weaknesses identified in the article are consistent with the Positive Psychology project: to emphasize what is measurable at the cost of theoretical rigor. It is recommended that research on Subjective Well-Being recover the history of its central concepts in order to recognize their own limits and solve ethical problems in the field.

Keywords:
Subjective well-being; Happiness; Positive psychology; Philosophy; Ed Diener

Introdução e Problematização

As pesquisas que fazem parte do movimento da Psicologia Positiva (PP) são marcadas pelo interesse nas chamadas experiências subjetivas positivas (Seligman, 1998Seligman, Martin (1998). Building human strengths: psychology’s forgotten mission. APA Monitor, january 2. https://doi.org/10.1037/e529932010-003
https://doi.org/10.1037/e529932010-003...
, 2002Seligman, Martin (2002). Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In Charles R. Snyder & Shane J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology. (pp. 3-12). Oxford University Press.), no funcionamento ótimo do ser humano (Snyder & Lopez, 2002Snyder, Charles & Lopez, Shane J. (2002). The future of positive psychology. In Handbook of positive psychology, (pp. 751-767). Oxford University Press.) e pelo contraste à investigação do adoecimento. Dentro desse universo de interesse, o Bem-Estar é possivelmente o objeto que recebe maior atenção. Martin Seligman, referido como principal fundador da PP (Linley, Joseph, Harrington, & Wood, 2006, p. 4Linley, Alex, Joseph, Stephen, Harrington, Susan, & Wood, Alex (2006). Positive psychology: Past, present, and (possible) future. The journal of positive psychology, 1(1), 3-16. https://doi.org/10.1080/17439760500372796
https://doi.org/10.1080/1743976050037279...
), escreveu mais de dez anos após a institucionalização da área: “I now think that the topic of positive psychology is well-being” (Seligman, 2011, p. 13Seligman, Martin (2011). Flourish: A visionary new understanding of Happiness and Well-being. Atria. https://doi.org/10.1177/0974173920160420
https://doi.org/10.1177/0974173920160420...
)

Contudo, apesar da centralidade do Bem-Estar no universo da PP, as pesquisas estão longe do consenso em relação a esse objeto. Em breve pesquisa, é fácil encontrar profusão de propostas, como Bem-Estar Subjetivo (Diener, 1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), Psicológico (Ryff, 1989Ryff, Carol D. (1989). Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 57(6), 1069. http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.43.4.653
https://doi.org/10.1037/0022-3514.43.4.6...
; Ryff & Keyes, 1995Ryff, Carol D. & Keyes, Corey L. (1995). The structure of psychological well-being revisited. Journal of personality and social psychology , 69(4), 719-727. https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.719
https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.7...
), Eudaimônico e Hedônico (Deci & Ryan, 2002Deci, Edward L. & Ryan, Richard M. (2002). Overview of self-determination theory: An organismic dialectical perspective. In Handbook of self-determination research (pp. 3-33). University of Rochester Press.), que favorece fronteiras turvas entre seus diferentes tipos. Miles-Jay Linton, Paul Dieppe e Antonieta Medina-Lara (2016Linton, Myles-Jay, Dieppe, Paul, & Medina-Lara, Antonieta (2016). Review of 99 self-report measures for assessing well-being in adults: exploring dimensions of well-being and developments over time. BMJ open, 6(7). https://doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010641
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010...
) identificaram, por exemplo, 196 constructos distintos sendo avaliados em 99 instrumentos de autoavaliação de Bem-Estar.

Assim, as principais críticas giram em torno das frágeis definições do Bem-Estar como objeto de pesquisa. Carol Ryff e Corey Keyes (1995, pp. 719-720Ryff, Carol D. & Keyes, Corey L. (1995). The structure of psychological well-being revisited. Journal of personality and social psychology , 69(4), 719-727. https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.719
https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.7...
) já relatavam surpresa diante do foco em pesquisas quantitativas sem a devida atenção aos aspectos teóricos: “The absence of theory-based formulations of well-being is puzzling given abundant accounts of positive functioning in subfields of psychology.” Como consequência dessa falta de atenção teórica, mais recentemente, pesquisas como as de Robert Biswas-Diener, Todd Kashdan e Laura King (2009Diener, Ed (2009). The science of well-being: The collected works of Ed Diener (vol. 37). Springer. https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-6
https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-...
) e Douglas MacDonald (2017MacDonald, Douglas (2017). Taking a closer look at well-being as a scientific construct: Delineating its conceptual nature and boundaries in relation to spirituality and existential functioning. In Nicholas J. Brown, Tim Lomas, & Francisco J. Eiroa-Orosa (Eds.), The Routledge international handbook of critical positive psychology (pp. 26-52). Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315659794
https://doi.org/10.4324/9781315659794...
) colocam em questão a falta de clareza sobre se esses diferentes tipos de Bem-Estar tratariam de objetos diferentes ou se seriam medidas de um mesmo objeto abrangente.

De todo o modo, Bem-Estar, enquanto objeto de pesquisa, continuou a crescer em importância, e as publicações se multiplicaram, levando inclusive a handbooks dedicados ao tema (Diener, Oishi, & Tay, 2018aDiener, Ed, Oishi, Shigehiro, & Tay, Louis (Eds.). (2018a). Handbook of well-being. DEF Publishers. www.nobascholar.com
www.nobascholar.com...
; Joar Vittersø, 2016Vittersø, Joar (Ed.). (2016). Handbook of eudaimonic well-being. Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/978-3-319-42445-3
https://doi.org/10.1007/978-3-319-42445-...
). Dentro desse prolífico universo, a proposta de Bem-Estar Subjetivo (BES), ou Subjective Well-Being (SWB), sistematizada por Ed Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) e definido como “an overall evaluation of the quality of a person’s life from her or his own perspective” (Diener, Lucas, & Oishi, 2018b, p. 1), é provavelmente a variação mais significativa pelo seu pioneirismo e pela sua influência no campo.

Na introdução da coletânea de suas pesquisas, o próprio Diener (2009, p. 4Diener, Ed (2009). The science of well-being: The collected works of Ed Diener (vol. 37). Springer. https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-6
https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-...
) escreveu sobre a importância de seu artigo de 1984:

the 1984 Psychological Bulletin article, which popularized the field among psychologists ... has become a citation classic, with over 1,400 citations by 2008. This citation count represents about 1/10th of the total 14,500 citations to my work. ... Since that article, the number of scholarly publications on subjective well-being has multiplied many times.

Uma busca na plataforma Google Scholar em 28 de outubro de 2021 retornava que o artigo de Diener, Subjective Well-Being, havia sido citado 18.989 vezes. Na “Encyclopedia of Quality of Life and Well-Being Research” (Michalos, 2014, p. 6437Michalos, Alex (Ed.). (2014). Encyclopedia of quality of life and well-being research. Springer Netherlands. https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-5
https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-...
), a entrada “Bem-Estar Subjetivo” é atrelada especificamente ao artigo de Diener: “The term SWB was first introduced by Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) … The scientific term ‘subjective well-being’ introduced by Diener (1984).

A proeminência do próprio Diener no campo fica nítida em seu papel como principal autor do “Handbook of Well-Being” (Diener et al., 2018aDiener, Ed, Oishi, Shigehiro, & Tay, Louis (Eds.). (2018a). Handbook of well-being. DEF Publishers. www.nobascholar.com
www.nobascholar.com...
) e como participante seleto no International Well-Being Summit realizado em Kyoto no Japão em agosto de 2019, para reformulação das perguntas envolvendo bem-estar e felicidade no Gallup World Poll (Lambert et al., 2020Lambert, Louise, Lomas, Tim, van de Weijer, Magot P., Passmore, Holli Anne, Joshanloo, Mohsen, Harter, Jim, Ishikawa, Yoshiki, Lai, Alden., Kitagawa, Takuya, Chen, Dominique, Kawakami, Takafumi, Miyata, Hiroaki, & Diener, Ed (2020). Towards a greater global understanding of wellbeing: A proposal for a more inclusive measure. International Journal of Wellbeing, 10(2), 1-18. https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037
https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037...
).

Em meio à contínua importância do artigo inaugural de Diener e ao caráter difuso do campo de pesquisa envolvendo Bem-Estar, levantou-se a hipótese de que os atuais problemas de rigor nas pesquisas já estariam presentes na sistematização apresentada por Diener, incorrendo em uma fragilidade sistêmica ao campo.

Método

O objetivo do presente artigo é oferecer uma revisão profunda e crítica do artigo de Diener, Subjective Well-Being (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), relacionando essa análise, quando pertinente, com as recentes publicações do campo. Diante desse objetivo, o artigo de Diener foi analisado, frase a frase, e as referências bibliográficas checadas. As frases que compunham um bloco de argumentação foram agrupadas e classificadas em “construção conceitual”, “suporte bibliográfico” ou “nda” (nenhuma das anteriores). Ainda, cada um dos blocos foi avaliado de um a três de acordo com o nível de fragilidade teórica (sendo “1” referente à baixa fragilidade e “3” à alta fragilidade). Quando os argumentos eram claros, com suporte preciso da bibliografia e coerentes com o restante do artigo, a avaliação atribuída era 1. Diante do inverso, a avaliação atribuída era 3. Quando identificadas, essas fragilidades foram apontadas em uma breve análise do bloco, conforme exemplo referente ao trecho “For example, Marcus Aurelius wrote that ‘no man is happy who does not think himself so’”, presente na página 543 (Diener, 1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
): “Referência bibliográfica não é apontada e a frase citada não é de autoria de Marco Aurélio, mas de Publius Syrus”.

Foi dada especial ênfase aos capítulos iniciais do artigo (pp. 542-544), uma vez que os argumentos utilizados nas páginas iniciais serviram como base para as subsequentes, ocupadas sobretudo em apresentar o histórico de pesquisas relacionadas com BES. A versão reduzida dessa análise, em forma de tabela, está disponível como material suplementar.

A partir da tabela produzida e da análise subsequente, três principais temas foram elencados para apresentação dos resultados: (1) consideração teórico-filosófica, (2) definição do conceito e de suas partes, (3) referências bibliográficas. Cada um dos três temas será aprofundado a seguir e relacionado com a literatura atual ao campo.

Consideração teórico-filosófica

A revisão histórica

Logo na primeira frase do resumo de seu artigo, Diener (1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) indica que irá apresentar uma revisão histórica de seu objeto central de investigação, Bem-Estar Subjetivo (BES): “The literature on subjective well-being (SWB), including happiness, life satisfaction, and positive affect, is reviewed”. E esse passo tem um papel importante no objetivo maior de sistematizar o campo de estudo e favorecer futuras pesquisas. É pela revisão da literatura que Diener pretende indicar o perímetro daquilo que faz e que não faz parte do campo.

Curiosamente, essa revisão parte de um terreno ambíguo. Em certos momentos, principalmente ao ecoar a conclusão de Warner Wilson (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), de que pouco avanço teórico havia sido alcançado sobre felicidade desde os gregos antigos, Diener demonstra tratar de um campo de estudo imaturo. Já em outros momentos, ele indica tratar de um campo razoavelmente maduro: “Satisfaction with life and positive affect are both studied by subjective well-being researchers” (Diener, 1984, p. 543). Campo maduro o suficiente para tratar de um objeto bem delimitado, seja ele referido como BES, “recent work on measuring and conceptualizing SWB is reviewed” (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), ou felicidade, “Perhaps the most important advance since Wilson’s [1967] review is in defining and measuring happiness” (Diener, 1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
).

Em relação ao BES, é difícil discutir o rigor do resgate teórico, pois são poucos os trabalhos anteriores ao de Diener que atribuíam esse nome a seu objeto de investigação e, desses poucos, não é possível encontrar uma definição precisa (e.g. Andrews & Inglehart, 1979Andrews, Frank M. & Inglehart, Ronald F. (1979). The structure of subjective well-being in nine western societies. Soc Indic Res., 6(1), 73-90. https://doi.org/10.1007/BF00305437
https://doi.org/10.1007/BF00305437...
; Wilkening & McGranahan, 1978Wilkening, Eugene A. & McGranahan, David (1978) Correlates of subjective well-being in Northern Wisconsin. Social Indicators Research, 5, 211-234. https://doi.org/10.1007/BF00352930
https://doi.org/10.1007/BF00352930...
). Por outro lado, em relação à felicidade, há um universo amplo de referências. Diener cita algumas delas (e.g. Chekola, 1975Chekola, Mark G. (1975). The concept of happiness. Tese de Doutorado, University of Michigan. https://worlddatabaseofhappiness-archive.eur.nl/hap_bib/freetexts/chekola_mg_1974.pdf
https://worlddatabaseofhappiness-archive...
; Jones, 1953Jones, Howard M. (1953). The pursuit of happiness. Harvard University.; Tatarkiewicz, 1976Tatarkiewicz, Władysław (1976). Analysis of happiness. Martinus Nijhoff. https://doi.org/10.1007/BF00461162
https://doi.org/10.1007/BF00461162...
) e escolhe adotar o posicionamento de Warner Wilson (1967Wilson, Warner (1967). Correlates of avowed happiness. Psychological Bulletin, 67(4), 294-306. ) já mencionado. Ao ecoar tal posicionamento, Diener exclui do debate célebres autores(as) da Roma Antiga, como Cícero, Lucrécio, Sêneca e Marco Aurélio, da Idade Média, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, e muitos outros. Diener acaba por se restringir à felicidade proposta por Aristóteles e ignorar, assim, a complexidade do tema que é tratado profundamente nas revisões que cita.

Tendo Aristóteles como principal referência filosófica, Diener (1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) oferece uma síntese do conceito de eudaimonia: “when Aristotle wrote that eudaemonia is gained mainly by leading a virtuous life, he did not mean that virtue leads to feelings of joy. Rather, Aristotle was prescribing virtue as the normative standard against which people’s live can be judged”. Deve-se atentar, entretanto, para uma transposição pouco cuidadosa de eudaimonia para o léxico da Psicologia, conforme advertem Biswas-Diener et al. (2009, p. 208Biswas-Diener, Robert, Kashdan, Todd B., & King, Laura A. (2009). Two traditions of happiness research, not two distinct types of happiness. The Journal of Positive Psychology, 4(3), 208-211. https://doi.org/10.1080/17439760902844400
https://doi.org/10.1080/1743976090284440...
). Por exemplo, a separação entre eudaimonia e emoções proposta por Diener não condiz com a proposta do filósofo grego. Diferente do que Diener escreveu, uma das interpretações da obra de Aristóteles é a de que a ação pode ser referida como virtuosa apenas quando é acompanhada de emoções positivas. Caso a ação virtuosa não seja acompanhada de, digamos, alegria, ela seria somente o resultado da reprodução mecânica de uma ação prescrita (Aristóteles, 1962, 1104b21-24Aristóteles. (1962). The Nichomachean Ethics. Loeb Classical Library. ).

Mesmo em publicações posteriores, Diener não demonstra rigor na revisão filosófica da felicidade e na escolha dos termos utilizados. No artigo de Diener, Jeffrey Sapyta e Eunkook Suh (1998, p. 32Diener, Ed, Sapyta, Jeffrey J., & Suh, Eunkook (1998). Subjective well-being is essential to well-being. Psychological inquiry, 9(1), 33-37. https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901_3
https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901...
) consta que: “Jeremy Bentham built [his] idea of the good society on the maximization of subjective well-being. Thus, the topic of subjective well-being has deep philosophical and religious roots”. Contudo, Jeremy Bentham definiu de modo particularmente preciso seus objetos de interesse: felicidade enquanto conceito abrangente e sofrimento e prazer como variáveis mensuráveis (Bentham, 1823, p. 1Bentham, Jeremy (1823). An introduction to the principles of morals and legislation. Clarendon Press.). O BES, enquanto objeto, passou ao largo da filosofia de Bentham.

Tal postura de Diener parece em sintonia com o desejo de evitar a complexidade do objeto “felicidade” e do debate filosófico, inaugurando um novo e menos polêmico objeto que facilite a mensuração. Diener (1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) escreveu sobre isso: “Unfortunately, terms like happiness that have been used frequently in daily discourse will necessarily have fuzzy and somewhat different meanings”, e complementou, logo em seguida, para evidenciar o caráter prioritário da mensuração: “Nevertheless, as measurement and other work proceeds, the most scientifically useful concepts will be those that can be measured and show, within a theoretical framework, interesting relationships to other variables”.

É fácil encontrar ecos da visão pouco rigorosa de Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) sobre a história por trás do BES na literatura do campo (Kesebir, 2018Kesebir, Pelin (2018). Scientific answers to the timeless philosophical question of happiness. In Ed Diener, Shigehiro Oishi, & Louis Tay (Eds.), Handbook of well-being. DEF Publishers. www.nobascholar.com
www.nobascholar.com...
; Michalos, 2014, p. 6437Michalos, Alex (Ed.). (2014). Encyclopedia of quality of life and well-being research. Springer Netherlands. https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-5
https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-...
), se tornando quase um senso comum. Inclusive, é curioso que em revisões sistemáticas (Diener, Suh, Lucas, & Smith, 1999Diener, Ed, Suh, Eunkook. M., Lucas, Richard. E., & Smith, Heidi L. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological bulletin, 125(2), 276. https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2.276
https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2....
; Diener et al., 2018bDiener, Ed, Lucas, Richard. E., & Oishi, Shigehiro. (2018b). Advances and open questions in the science of subjective well-being. Collabra. Psychology, 4(1). http://doi.org/10.1525/collabra.115
https://doi.org/10.1525/collabra.115...
) os apontamentos para futuras pesquisas não mencionem a necessidade de revisão ou de aprofundamento teórico-filosófico.

Relação entre felicidade e Bem-Estar Subjetivo

A articulação entre os conceitos de felicidade e BES é retratada de diferentes maneiras ao longo do artigo de Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) e, de modo geral, pode ser separada em dois tipos: como sinônimos e como felicidade sendo um conceito menor, um pedaço de BES.

Na redação do artigo, como em muitos outros que o seguiram, é fácil encontrar o uso fluido das palavras, dando a entender que são sinônimas: “Throughout history philosophers considered happiness to be the highest good and ultimate motivation for human action. Yet for decades psychologists largely ignored positive subjective well-being, although human unhappiness was explored in depth” (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
). Mais recentemente, no artigo de Andrew Jebb, Mike Morrison, Louis Tay e Ed Diener (2020, p. 293Jebb, Andrew T., Morrison, Mike, Tay, Louis, & Diener, Ed (2020). Subjective Well-Being Around the World: Trends and Predictors Across the Life Span. Psychological Science, 31(3), 293-305. https://doi.org/10.1177/0956797619898826
https://doi.org/10.1177/0956797619898826...
), isso fica ainda mais evidente: “the subjective-well-being construct (the scientific concept for ‘happiness’)”.

Ainda assim, em outros trechos do artigo, pode-se encontrar a palavra felicidade sendo referida como um pedaço de BES:

The literature on SWB is concerned with how and why people experience their lives in positive ways, including both cognitive judgements and affective reactions. As such, it covers studies that have used such diverse terms as happiness, satisfaction, morale, and positive affect. (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
)

Ainda que Diener vise à precisão, as variações na referência à relação entre felicidade e BES evidenciam a complexidade da primeira. O artigo de 1984 e muitos outros que seguiram ecoam a ideia de que felicidade é uma palavra problemática para a ciência por ser usada amplamente no senso comum e ter uma história de infindáveis variações (Diener, 1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
; Michalos, 2014, p. 6437Michalos, Alex (Ed.). (2014). Encyclopedia of quality of life and well-being research. Springer Netherlands. https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-5
https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-...
). Parece razoável, portanto, que o esforço para fazer da felicidade um conceito secundário em relação ao BES tenha ganhado força na PP. Kesebir (2018, p. 9Kesebir, Pelin (2018). Scientific answers to the timeless philosophical question of happiness. In Ed Diener, Shigehiro Oishi, & Louis Tay (Eds.), Handbook of well-being. DEF Publishers. www.nobascholar.com
www.nobascholar.com...
) explica:

As difficult as it may be to converge on a single definition of happiness, to be able to study it scientifically, we need to define and operationalize it. Psychologists pioneering the study of happiness dealt with this challenge by proposing the concept of “subjective well-being”.

Quanto a essa específica troca de felicidade por BES, Sonya Lyubomirsky (2008, p. 316Lyubomirsky, Sonya (2008). The how of happiness: A scientific approach to getting the life you want. Penguin Press.) explica:

Ed Diener, the most distinguished and most widely published researcher in the field of subjective well-being, told me once that he coined the term subjective well-being because he didn’t think he would be promoted with tenure if his research were perceived as focusing on something as fuzzy and soft as “happiness”.

Apesar das inerentes complexidades da felicidade, é curioso que Diener problematize a história desta e seu uso no senso comum, mas não o faça nem superficialmente em relação ao BES. Qual a história do Bem-Estar? Quais os sentidos em seu uso corrente?

Refletindo com Friedrich Nietzsche (2009, p. 63Nietzsche, Fredrich (2009). A genealogia da moral. Cia das Letras.), de que “definível é apenas aquilo que não tem história”, o distanciamento da palavra felicidade parece ter sido uma ação necessária para o projeto de uma ciência empírica sobre ela. Contudo, a contrapartida desse projeto seria tomar um outro objeto inerte, um objeto de pesquisa sem história.

A diferença entre a vida boa e a melhor vida

Diante da frágil fundamentação teórica de BES, destacamos um importante problema decorrente: desconsiderar a diferença entre investigar a vida boa e investigar a melhor vida. Por momentos em seu artigo, Diener (1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) indica estar investigando o problema da melhor vida possível: “Throughout history philosophers considered happiness to be the highest good and ultimate motivation for human action”. Já em outros, indica estar investigando a vida boa ou positiva: “Second, social scientists have focused on the questions of what leads people to evaluate their lives in positive terms” (Diener, 1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
). De todo o modo, a diferença entre essas pautas parece não ser considerada substancial na pesquisa do campo. Como exemplo, Todd Kashdan, Robert Biswas-Diener e Laura King (2008, p. 227Kashdan, Todd B., Biswas-Diener, Robert, & King, Laura A. (2008). Reconsidering happiness: The costs of distinguishing between hedonics and eudaimonia. The Journal of Positive Psychology, 3(4), 219-233. https://doi.org/10.1080/17439760802303044
https://doi.org/10.1080/1743976080230304...
) argumentam que a melhor vida possível não deveria ser objeto de estudo, já que seria a simples somatória de momentos bons.

Contudo, ao contrário do proposto por Kashdan et al. (2008Kashdan, Todd B., Biswas-Diener, Robert, & King, Laura A. (2008). Reconsidering happiness: The costs of distinguishing between hedonics and eudaimonia. The Journal of Positive Psychology, 3(4), 219-233. https://doi.org/10.1080/17439760802303044
https://doi.org/10.1080/1743976080230304...
), a diferença entre investigar a vida boa e investigar a melhor vida é mais significativa do que a intensidade ou quantidade do “sentir-se bem”. Investigar a vida boa consiste em uma empreitada ampla e parece condizente com a investigação de temas “positivos”. Ou seja, trata de objetos ou circunstâncias tomados genericamente como bons, desejados pelas pessoas em geral. A investigação se aproxima muito mais do “bom” segundo a média.

Já a investigação da melhor vida implica comparação e hierarquização. Não é qualquer bem (ou qualquer coisa boa) que fará parte da melhor vida. A melhor vida consistirá em uma específica combinação e medida entre coisas. Algumas combinações de coisas e eventos serão melhores do que outras, por exemplo. Aristóteles frisou a importância da medida certa (equilíbrio ou ponto médio) para a eudaimonia. Sêneca (1932Sêneca, Lúcio Aneu (1932). Moral Essays: volume 2 (John W. Basore, trad.). Heinemann.) reconheceu que a sorte e os prazeres eram bons, mas a vida feliz (vida beata) exigia uma combinação específica de ambos. Santo Agostinho (1867Santo Agostinho (1867). Confessions of Augustine (W. G. T. Shedd, ed.). Draper and Halliday.) apresentou elementos da vida boa, mas deixou claro que a felicidade (beatitude) consistia em estar com Deus no pós-vida. Esses autores, por meio das ideias de eudaimonia, vida beata ou beatitude, estavam ocupados em descrever um modo de vida superior a todos os outros.

Contudo, Diener evitou debruçar-se sobre a hierarquização de aspectos da vida por entender que se distanciam de um critério importante para ele: a subjetividade. Criticando o caráter normativo do conceito aristotélico de eudaimonia, Diener (1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
; Diener et al. 1998, p. 34Diener, Ed, Sapyta, Jeffrey J., & Suh, Eunkook (1998). Subjective well-being is essential to well-being. Psychological inquiry, 9(1), 33-37. https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901_3
https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901...
) propôs que não cabia aos(às) pesquisadores(as) investigar o “melhor”, mas simplesmente deixar que cada um avalie BES a partir de sua própria perspectiva daquilo que é “bom”.

Once scientists began to study subjective well-being, they focused less on trying to decide whether it is, in fact, the most desirable of all states, which was usually considered to be a philosophical question beyond science. Instead, they emphasized understanding the antecedents and consequences of subjective well-being, assuming that it was good regardless of whether it was the highest good. (Diener, 2009, p. 1Diener, Ed (2009). The science of well-being: The collected works of Ed Diener (vol. 37). Springer. https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-6
https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-...
)

Mas quais seriam os impactos de avaliar e medir o quanto as pessoas acham que suas vidas são boas ao invés de avaliar quão próximas as pessoas estão da vida que consideram ideal? Qual o impacto de, equivocadamente, pesquisar a vida boa como se fosse a melhor vida possível? Para Diener, parece não haver prejuízos, apenas ganhos de aplicabilidade e abrangência.

Se Diener abandonou “a melhor vida” por ser normativa, é curioso que não seja considerada a normatividade na escolha das partes constituintes de um instrumento de avaliação do BES e de seus respectivos pesos nessa avaliação. Poder-se-ia questionar, também, se a investigação da “vida boa” não deixaria de lado algum aspecto essencial da vida humana. O jornalista Jerome Taylor sugere isso em 2006Taylor, Jerome (2006). Denmark is the world’s happiest country-official. Independent. https://www.independent.co.uk/news/world/europe/denmark-is-the-worlds-happiest-country-official-5329998.html
https://www.independent.co.uk/news/world...
após a Dinamarca ser “premiada” com o primeiro lugar no ranking de países mais felizes do mundo conduzido pela Universidade de Leicester: “I’m not sure about theses studies and I really wonder about the suicide rates in DenmarkI mean, is it that we’re so happy we kill ourselves? I really wonder about that” (Taylor, 2006). Considerar essa diferença pode jogar luz sobre o fato de que alguns países com altos índices de BES, como Finlândia e Áustria, tenham também altos índices de suicídio (Andrés & Halicioglu, 2010Andrés, Antonio R. & Halicioglu, Ferda (2010). Determinants of suicides in Denmark: evidence from time series data. Health Policy, 98(2-3), 263-269. https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2010.06.023
https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2010...
; Daly, Oswald, Wilson, & Wu, 2011Daly, Mary C., Oswald, Andrew J., Wilson, Daniel, & Wu, Stephen. (2011). Dark contrasts: The paradox of high rates of suicide in happy places. Journal of Economic Behavior & Organization, 80(3), 435-442. https://doi.org/10.1016/j.jebo.2011.04.007
https://doi.org/10.1016/j.jebo.2011.04.0...
).

Definição do Bem-Estar Subjetivo e de suas partes

Logo no início do artigo de 1984, Diener (p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) escreve que definir BES é um de seus objetivos. Por outro lado, parece lógico que, dado o resgate filosófico frágil, a definição de BES sofrerá com essa fragilidade. Apesar de, no correr do texto, Diener tratar como se seu objetivo tivesse sido alcançado, na verdade a definição do objeto é apenas tangenciada.

A definição negativa de BES oferecida por Diener constitui exemplo da ausência de uma definição precisa do termo: “Notably absent from definitions of SWB are necessary objective conditions such as health, comfort, virtue, or wealth” (1984, p. 543). Outro exemplo é o fato de BES ser apresentado ora como um objeto já delimitado, ora como uma área de pesquisa, sendo que, entre ambas, é mais fácil identificar menções à sua característica como área: “Because the area of subjective well-being can no longer be reviewed in depth in a single article”;The area of subjective well-being has three hallmarks” (Diener, 1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
). Em alguns artigos posteriores ao de 1984 é curioso notar que a intenção de delimitar BES enquanto objeto, central para o artigo seminal, seja descartada: “Subjective well-being is a broad category of phenomena that includes people’s emotional responses, domain satisfactions, and global judgements of life satisfaction. ... Thus, we define SWB as a general area of scientific interest rather than a single specific construct” (Diener et al. 1999, p. 277Diener, Ed, Suh, Eunkook. M., Lucas, Richard. E., & Smith, Heidi L. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological bulletin, 125(2), 276. https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2.276
https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2....
).

Mais recentemente alguns trabalhos assumem o caráter “fuzzy and soft” de BES, como afirma William Tov (2018, p. 43Tov, William (2018). Well-being concepts and components. In Ed Diener, Shigehiro Oishi, & Louis Tay (Eds.), Handbook of well-being. DEF Publishers. www.nobascholar.com
www.nobascholar.com...
): “[a]n important development in this field over the past few decades is the recognition and growing acceptance that well-being consists of many aspects that it cannot be fully represented by any one measure”. Mas isso não significa que o campo incorpore tal posicionamento e reveja sua capacidade de mensuração. Isso fica claro quando se afirma em Diener et al. (2018b, p. 1Diener, Ed, Lucas, Richard. E., & Oishi, Shigehiro. (2018b). Advances and open questions in the science of subjective well-being. Collabra. Psychology, 4(1). http://doi.org/10.1525/collabra.115
https://doi.org/10.1525/collabra.115...
) que “[SWB is a] general term referring to the various types of subjective evaluations of one’s life, including both cognitive evaluations and affective feelings”; ou quando se afirma que “SWB researchers are interested in evaluations of the quality of a person’s life from that person’s own perspective” (p. 3).

Se a definição de BES não é precisa desde o seu artigo inaugural, não é de se estranhar que haja divergências quanto a se suas partes constituintes são independentes ou dependentes para representar o objeto maior. Essas partes geralmente são representadas por (a) avaliação cognitiva da própria vida, (b) intensidade e frequência de afetos positivos e negativos. Se aprofundar nessa discussão é central para tratar da capacidade de o BES ser mensurável.

No artigo de 1984 (p. 543), Diener se refere a essas partes como “componentes”, conforme os dois trechos a seguir ilustram: “In addition, work on measurement is helping to provide clearer definitions of the components of subjective well-being.”; “How these two components [positive affect e Life satisfaction] relate to one another is an empirical question, not one of definition”. Ao usar a palavra “componentes”, o autor dá a entender que cada um compõe o objeto maior (tal qual os componentes de um computador) e, portanto, representariam aspectos diferentes de BES. Ao investigar ambos, você compreende o objeto maior (BES).

Mas há artigos escritos por Diener em que essas partes são referidas de maneira distinta. Em artigo de Weiting Ng e Ed Diener (2019, pp. 157-158Ng, Weiting & Diener, Ed (2019). Affluence and subjective well-being: does income inequality moderate their associations? Applied Research in Quality of Life, 14(1), 155-170. https://doi.org/10.1007/s11482-017-9585-9
https://doi.org/10.1007/s11482-017-9585-...
), por exemplo, esses são mencionados como “tipos” de BES: “Second, it examined three types of SWB”. E, ambiguamente, algumas linhas depois: “the present research examined different SWB components (life satisfaction, positive feelings, and negative feelings)”. Ainda, em outros artigos, Diener se refere a diferentes “formas” de se avaliar BES, o que parece estar mais alinhado com a ideia de haver “tipos”: “In this review we examine the relation of different forms of SWB, such as life satisfaction, positive affect, optimism, and low negative affect, with health and longevity” (Diener, Pressman, Hunter, & Delgadillo-Chase, 2017, p. 134Diener, Ed, Pressman, Sarah D., Hunter, John, & Delgadillo-Chase, Desiree. (2017). If, why, and when subjective well‐being influences health, and future needed research. Applied Psychology: Health and Well‐Being, 9(2), 133-167. https://doi.org/10.1111/aphw.12090
https://doi.org/10.1111/aphw.12090...
). Cada forma ou tipo, portanto, configuraria um caminho para avaliar o mesmo objeto, BES (Diener, 2018bDiener, Ed, Lucas, Richard. E., & Oishi, Shigehiro. (2018b). Advances and open questions in the science of subjective well-being. Collabra. Psychology, 4(1). http://doi.org/10.1525/collabra.115
https://doi.org/10.1525/collabra.115...
).

Os trechos citados e a breve análise do campo indicam que a proposta de Diener em 1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
, de apresentar um objeto preciso, não se concretizou. A fragilidade em se investigar a felicidade parece continuar ecoando na pesquisa do BES já que não é difícil encontrar grande variação na forma com que pesquisadores(as) retratam esse objeto (indicando oportunidade para uma revisão minuciosa do acumulado de pesquisas). Ainda assim, apesar da variação, o “humor” da PP é tratar BES como objeto supostamente “inerte”, mensurável.

Referências bibliográficas: falta de suporte e uso impreciso

O artigo de Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) se refere de modo intenso à literatura, citando no correr do texto 255 referências. Não parece difícil imaginar que a organização de um número tão grande de artigos, livros, teses e dissertações seja particularmente difícil. Em meio às possíveis dificuldades e decorrentes fragilidades, surpreende que alguns argumentos importantes careçam, justamente, de referências bibliográficas que os suportem. Esses argumentos, em sua maior parte, dizem respeito à importância do objeto de estudo de Diener.

Por exemplo, Diener (1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) cita que “Although well-being from a subjective perspective has become a popular ideia in the last century, this concept can be traced back several millenia”, mas não faz uso de referência para suportar a popularidade de BES no século XX ou mesmo uma referência específica para suportar o uso específico do termo BES em milênios passados. Também não oferece uma referência clara sobre que tipo de busca retornou os mais de 700 estudos mencionados em: “Over 700 studies have been published since Wilson’s review” (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
). Ou então qual o critério de referência para afirmar sobre a grande quantidade de artigos voltados para o BES que foi publicada após a fundação da revista Social Indicators Research em 1974 (Diener, 1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
). Neste último caso, buscas específicas pela expressão “subject well-being” ou “subject wellbeing” no título de artigos publicados na revista ao longo de 10 anos, desde sua fundação até 1984, retornam apenas três (3) artigos, sendo que um deles é um comentário. Já buscas por “subject well-being” ou “subject wellbeing” no corpo do texto de artigos no mesmo período retornam 39 resultados.

É difícil saber se Diener acreditava que a importância do campo era algo autoevidente ou se seu entendimento de well-being era amplo demais para precisar de suporte teórico. De todo o modo, a falta de clareza gera dúvidas sobre quão proeminente era, de fato, esse campo de pesquisa ao qual Diener se referiu. Ainda, Diener (1984, p. 542Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) escreve que “For a comprehensive bibliography of the burgeoning SWB literature, see Diener and Griffin (in press)”, mas esse é um artigo que acabou não sendo publicado, deixando o leitor sem uma base confiável para rastrear a suposta efervescência do campo. Ainda, outros quatro dos doze artigos de Diener citados se encontravam em avaliação para publicação, mas mesmo assim formaram base autovalidadora para seu texto de 1984.

É relevante mencionar ainda dois outros casos sobre as referências bibliográficas utilizadas por Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) de modo impreciso. No primeiro desses, a frase “Marcus Aurelius wrote that ‘no man is happy who does not think himself so’” (Diener, 1984, p. 543Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) é especialmente problemática. Ao usar frase de um pensador posterior aos gregos antigos, Diener se contradiz, já que, no início do artigo, ele havia reforçado a conclusão de Wilson de que nenhum avanço relevante em relação à felicidade havia sido obtido desde os filósofos gregos. Além disso, uma busca pela referência (não oferecida no artigo de Diener) indica que a frase não foi escrita por Marco Aurélio, mas, na verdade, pelo escravo romano Publius Syrus (1856, p. 53 - frase 584Publius Syrus (1856). The moral sayings of Publius Syrus, a Roman slave: from the Latin (Darius Lyman, trad.). LE Bernard & Company. ).

O segundo dos casos de imprecisão é mais abrangente. Na apresentação da literatura referente ao universo do BES, Diener acaba por aproximar pesquisas que tratavam de diferentes objetos, sejam eles felicidade, satisfação com a vida, bem-estar e outros. Essas pesquisas se valiam de diferentes definições e objetivos, mas foram apresentadas como parte de um campo muito mais coeso do que era o caso. Diener (1984, p. 543) escreveu: “Because the area of subjective well-being can no longer be reviewed in depth in a single article the reader is also referred to other major works”, e cita três referências: Frank Andrews e Stephen Withey (1976Andrews, Frank. M. & Withey, Stephen. B. (1976). Social indicators of well-being: America’s perception of life quality. Plenum Press. ); Norman Bradburn (1969Bradburn, Norman M. (1969). The structure of psychological well-being. Aldine. ); Angus Campbell, Philip Converse e Willard Rodgers (1976Campbell, Angus, Converse, Philip E., & Rodgers, Willard L. (1976). The quality of American life: Perceptions, Evaluations, and Satisfaction. Russell Sage Foundation. ).

Andrews e Withey (1976Andrews, Frank. M. & Withey, Stephen. B. (1976). Social indicators of well-being: America’s perception of life quality. Plenum Press. ) trataram a satisfação com a vida como o conceito amplo a ser investigado sociologicamente, mas reduziram sua parte mensurável ao Bem-Estar (associando-o à preocupação social com o welfare). Bradburn (1969Bradburn, Norman M. (1969). The structure of psychological well-being. Aldine. ), em uma perspectiva psicológica, tomou o objeto Bem-Estar Psicológico ou felicidade como mais amplo e o avaliou a partir dos prazeres e desprazeres. Já Campbell, Converse e Rodgers (1976Campbell, Angus, Converse, Philip E., & Rodgers, Willard L. (1976). The quality of American life: Perceptions, Evaluations, and Satisfaction. Russell Sage Foundation. ) conduziram uma pesquisa exploratória na qual consideraram Bem-Estar como conceito mais amplo, avaliando-o com um leque diverso de medidas (satisfação com a vida, felicidade e através da associação da percepção da vida com uma lista de palavras - adjetivos e emoções).

Se há alguma convergência no uso de algumas expressões, como bem-estar, a construção do conceito central e a forma com que foi medido difere significativamente em cada trabalho. Esses aspectos são ignorados em Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), que os trata como complementares. Mais preocupante, contudo, é o fato de que a revisão proposta por Diener e a apresentação do frágil Bem-Estar Subjetivo, embora tenha seus méritos, continua sendo intensamente reproduzido até hoje.

Conclusão

De um modo geral, a imagem construída por Diener à época de sua importante publicação, de que o estudo do BES já configurava um campo coeso, não foi verificada, seja pela falta de evidências ou pela falta de consistência nas informações fornecidas para tal. Ainda que bem-estar, qualidade de vida e felicidade já fossem tomados como objeto nas Ciências Sociais, por exemplo, a definição errática que receberam até 1984 não suportaria a inauguração de um campo de investigação particular. Pode-se dizer, assim, que o objeto apresentado por Diener em 1984 careceu de lastro e a existência de um campo coeso foi uma ficção.

Ainda, no início deste trabalho, foi levantada a hipótese de que as fragilidades do campo de estudo do BES e suas variantes já seriam identificadas no artigo de 1984, o que pode ser confirmado pela análise detalhada do artigo de Diener e pelo cruzamento com a literatura do campo. Fragilidades no tratamento histórico-filosófico se mantiveram presentes, como a falta de clareza sobre se tratar da melhor vida ou se tratar simplesmente da vida boa.

De todo modo, parece que o estudo do BES enfrenta um dilema: investir no rigor teórico ou otimizar a capacidade de mensuração dos instrumentos já consolidados (sendo que um parece influenciar negativamente o outro). Diante desse dilema, a proposta de Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
) se mostra clara: a teoria deve estar subordinada à capacidade quantitativa; para ele só devem avançar as teorias que possibilitem ampla mensuração e aplicação na sociedade. Nesse sentido, a substituição da palavra felicidade por BES, com uma história muito menos conhecida e discutida, serviria justamente a esse propósito.

Contudo, esse esforço não eliminou os problemas da pesquisa do BES, que continuaram encontrando um campo com pouco consenso. Ao largo disso, como Lyubomirsky (2008Lyubomirsky, Sonya (2008). The how of happiness: A scientific approach to getting the life you want. Penguin Press.) confessa, a pesquisa ganhou uma aparência mais “científica”. É inegável que a apresentação de Diener (1984Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
https://ssrn.com/abstract=2162125...
), condizente ou não com a realidade da época, tornou-se popular. Sem dúvida, isso é mérito do esforço de síntese e narrabilidade diante de uma vasta e ambígua literatura. Por essa razão, como contraponto ao aqui exposto, pode-se argumentar que o objetivo central de Diener, o de apresentar um conceito suficientemente útil, mensurável e reproduzível, foi alcançado.

Mas isso não muda o fato de BES carecer de lastro e de que a pesquisa relativa ao BES se depara com seu limite: como compreender o paradoxo dos pobres felizes e dos milionários miseráveis (Graham, 2012Graham, Carol (2012). Happiness around the world: The paradox of happy peasants and miserable millionaires. Oxford University Press. https://doi.org/10.1111/j.1468-0335.2011.00884.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-0335.2011...
) ou como comparar indicadores de BES de comunidades muito distintas, como entre a população de uma metrópole e a população de uma comunidade indígena Guarani Mbyá? Essas questões indicam a necessidade de análise dos fundamentos do campo, de tratar a problemática da universalidade ou não universalidade de seu objeto e de suas implicações éticas. E esses não são aspectos tratados em publicações, como a de Lambert et al. (2020, p. 7Lambert, Louise, Lomas, Tim, van de Weijer, Magot P., Passmore, Holli Anne, Joshanloo, Mohsen, Harter, Jim, Ishikawa, Yoshiki, Lai, Alden., Kitagawa, Takuya, Chen, Dominique, Kawakami, Takafumi, Miyata, Hiroaki, & Diener, Ed (2020). Towards a greater global understanding of wellbeing: A proposal for a more inclusive measure. International Journal of Wellbeing, 10(2), 1-18. https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037
https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037...
), quando se referem ao futuro do campo. Em geral é mencionada a necessidade de ampliar a aplicação dos instrumentos ou aumentar a sua complexidade, agrupando, por exemplo, conceitos próximos ao BES, como Bem-Estar Psicológico.

Sugerimos que as pesquisas relativas ao BES e aos seus conceitos correlatos se debrucem mais intensamente nas bases teóricas do campo, resgatando os aspectos históricos sistematicamente negligenciados. Essa empreitada possibilitará o reconhecimento dos limites das pesquisas e de suas implicações éticas, além de permitir uma tomada de decisão verdadeiramente crítica sobre o futuro do campo.

Referências

  • Andrés, Antonio R. & Halicioglu, Ferda (2010). Determinants of suicides in Denmark: evidence from time series data. Health Policy, 98(2-3), 263-269. https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2010.06.023
    » https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2010.06.023
  • Andrews, Frank M. & Inglehart, Ronald F. (1979). The structure of subjective well-being in nine western societies. Soc Indic Res., 6(1), 73-90. https://doi.org/10.1007/BF00305437
    » https://doi.org/10.1007/BF00305437
  • Andrews, Frank. M. & Withey, Stephen. B. (1976). Social indicators of well-being: America’s perception of life quality Plenum Press.
  • Aristóteles. (1962). The Nichomachean Ethics Loeb Classical Library.
  • Bentham, Jeremy (1823). An introduction to the principles of morals and legislation Clarendon Press.
  • Biswas-Diener, Robert, Kashdan, Todd B., & King, Laura A. (2009). Two traditions of happiness research, not two distinct types of happiness. The Journal of Positive Psychology, 4(3), 208-211. https://doi.org/10.1080/17439760902844400
    » https://doi.org/10.1080/17439760902844400
  • Bradburn, Norman M. (1969). The structure of psychological well-being Aldine.
  • Campbell, Angus, Converse, Philip E., & Rodgers, Willard L. (1976). The quality of American life: Perceptions, Evaluations, and Satisfaction Russell Sage Foundation.
  • Chekola, Mark G. (1975). The concept of happiness Tese de Doutorado, University of Michigan. https://worlddatabaseofhappiness-archive.eur.nl/hap_bib/freetexts/chekola_mg_1974.pdf
    » https://worlddatabaseofhappiness-archive.eur.nl/hap_bib/freetexts/chekola_mg_1974.pdf
  • Daly, Mary C., Oswald, Andrew J., Wilson, Daniel, & Wu, Stephen. (2011). Dark contrasts: The paradox of high rates of suicide in happy places. Journal of Economic Behavior & Organization, 80(3), 435-442. https://doi.org/10.1016/j.jebo.2011.04.007
    » https://doi.org/10.1016/j.jebo.2011.04.007
  • Deci, Edward L. & Ryan, Richard M. (2002). Overview of self-determination theory: An organismic dialectical perspective. In Handbook of self-determination research (pp. 3-33). University of Rochester Press.
  • Diener, Ed (1984). Subjective Well-Being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575. https://ssrn.com/abstract=2162125
    » https://ssrn.com/abstract=2162125
  • Diener, Ed (2009). The science of well-being: The collected works of Ed Diener (vol. 37). Springer. https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-6
    » https://doi.org/10.1007/978-90-481-2350-6
  • Diener, Ed, Sapyta, Jeffrey J., & Suh, Eunkook (1998). Subjective well-being is essential to well-being. Psychological inquiry, 9(1), 33-37. https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901_3
    » https://doi.org/10.1207/s15327965pli0901_3
  • Diener, Ed, Suh, Eunkook. M., Lucas, Richard. E., & Smith, Heidi L. (1999). Subjective well-being: Three decades of progress. Psychological bulletin, 125(2), 276. https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2.276
    » https://doi.org/10.1037/0033-2909.125.2.276
  • Diener, Ed, Pressman, Sarah D., Hunter, John, & Delgadillo-Chase, Desiree. (2017). If, why, and when subjective well‐being influences health, and future needed research. Applied Psychology: Health and Well‐Being, 9(2), 133-167. https://doi.org/10.1111/aphw.12090
    » https://doi.org/10.1111/aphw.12090
  • Diener, Ed, Oishi, Shigehiro, & Tay, Louis (Eds.). (2018a). Handbook of well-being DEF Publishers. www.nobascholar.com
    » www.nobascholar.com
  • Diener, Ed, Lucas, Richard. E., & Oishi, Shigehiro. (2018b). Advances and open questions in the science of subjective well-being. Collabra. Psychology, 4(1). http://doi.org/10.1525/collabra.115
    » https://doi.org/10.1525/collabra.115
  • Graham, Carol (2012). Happiness around the world: The paradox of happy peasants and miserable millionaires Oxford University Press. https://doi.org/10.1111/j.1468-0335.2011.00884.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1468-0335.2011.00884.x
  • Jebb, Andrew T., Morrison, Mike, Tay, Louis, & Diener, Ed (2020). Subjective Well-Being Around the World: Trends and Predictors Across the Life Span. Psychological Science, 31(3), 293-305. https://doi.org/10.1177/0956797619898826
    » https://doi.org/10.1177/0956797619898826
  • Jones, Howard M. (1953). The pursuit of happiness Harvard University.
  • Kashdan, Todd B., Biswas-Diener, Robert, & King, Laura A. (2008). Reconsidering happiness: The costs of distinguishing between hedonics and eudaimonia. The Journal of Positive Psychology, 3(4), 219-233. https://doi.org/10.1080/17439760802303044
    » https://doi.org/10.1080/17439760802303044
  • Kesebir, Pelin (2018). Scientific answers to the timeless philosophical question of happiness. In Ed Diener, Shigehiro Oishi, & Louis Tay (Eds.), Handbook of well-being DEF Publishers. www.nobascholar.com
    » www.nobascholar.com
  • Lambert, Louise, Lomas, Tim, van de Weijer, Magot P., Passmore, Holli Anne, Joshanloo, Mohsen, Harter, Jim, Ishikawa, Yoshiki, Lai, Alden., Kitagawa, Takuya, Chen, Dominique, Kawakami, Takafumi, Miyata, Hiroaki, & Diener, Ed (2020). Towards a greater global understanding of wellbeing: A proposal for a more inclusive measure. International Journal of Wellbeing, 10(2), 1-18. https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037
    » https://doi.org/10.5502/ijw.v10i2.1037
  • Linley, Alex, Joseph, Stephen, Harrington, Susan, & Wood, Alex (2006). Positive psychology: Past, present, and (possible) future. The journal of positive psychology, 1(1), 3-16. https://doi.org/10.1080/17439760500372796
    » https://doi.org/10.1080/17439760500372796
  • Linton, Myles-Jay, Dieppe, Paul, & Medina-Lara, Antonieta (2016). Review of 99 self-report measures for assessing well-being in adults: exploring dimensions of well-being and developments over time. BMJ open, 6(7). https://doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010641
    » https://doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010641
  • Lyubomirsky, Sonya (2008). The how of happiness: A scientific approach to getting the life you want Penguin Press.
  • MacDonald, Douglas (2017). Taking a closer look at well-being as a scientific construct: Delineating its conceptual nature and boundaries in relation to spirituality and existential functioning. In Nicholas J. Brown, Tim Lomas, & Francisco J. Eiroa-Orosa (Eds.), The Routledge international handbook of critical positive psychology (pp. 26-52). Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315659794
    » https://doi.org/10.4324/9781315659794
  • Michalos, Alex (Ed.). (2014). Encyclopedia of quality of life and well-being research Springer Netherlands. https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-5
    » https://doi.org/10.1007/978-94-007-0753-5
  • Ng, Weiting & Diener, Ed (2019). Affluence and subjective well-being: does income inequality moderate their associations? Applied Research in Quality of Life, 14(1), 155-170. https://doi.org/10.1007/s11482-017-9585-9
    » https://doi.org/10.1007/s11482-017-9585-9
  • Nietzsche, Fredrich (2009). A genealogia da moral Cia das Letras.
  • Publius Syrus (1856). The moral sayings of Publius Syrus, a Roman slave: from the Latin (Darius Lyman, trad.). LE Bernard & Company.
  • Ryff, Carol D. (1989). Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 57(6), 1069. http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.43.4.653
    » https://doi.org/10.1037/0022-3514.43.4.653
  • Ryff, Carol D. & Keyes, Corey L. (1995). The structure of psychological well-being revisited. Journal of personality and social psychology , 69(4), 719-727. https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.719
    » https://doi.org/10.1037/0022-3514.69.4.719
  • Santo Agostinho (1867). Confessions of Augustine (W. G. T. Shedd, ed.). Draper and Halliday.
  • Seligman, Martin (1998). Building human strengths: psychology’s forgotten mission. APA Monitor, january 2. https://doi.org/10.1037/e529932010-003
    » https://doi.org/10.1037/e529932010-003
  • Seligman, Martin (2002). Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In Charles R. Snyder & Shane J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 3-12). Oxford University Press.
  • Seligman, Martin (2011). Flourish: A visionary new understanding of Happiness and Well-being Atria. https://doi.org/10.1177/0974173920160420
    » https://doi.org/10.1177/0974173920160420
  • Sêneca, Lúcio Aneu (1932). Moral Essays: volume 2 (John W. Basore, trad.). Heinemann.
  • Snyder, Charles & Lopez, Shane J. (2002). The future of positive psychology. In Handbook of positive psychology, (pp. 751-767). Oxford University Press.
  • Tatarkiewicz, Władysław (1976). Analysis of happiness Martinus Nijhoff. https://doi.org/10.1007/BF00461162
    » https://doi.org/10.1007/BF00461162
  • Tay, Louis, Chan, David, & Diener, Ed (2014). The metrics of societal happiness. Social Indicators Research, 117(2), 577-600. https://doi.org/10.1007/s11205-013-0356-1
    » https://doi.org/10.1007/s11205-013-0356-1
  • Taylor, Jerome (2006). Denmark is the world’s happiest country-official. Independent https://www.independent.co.uk/news/world/europe/denmark-is-the-worlds-happiest-country-official-5329998.html
    » https://www.independent.co.uk/news/world/europe/denmark-is-the-worlds-happiest-country-official-5329998.html
  • Tov, William (2018). Well-being concepts and components. In Ed Diener, Shigehiro Oishi, & Louis Tay (Eds.), Handbook of well-being DEF Publishers. www.nobascholar.com
    » www.nobascholar.com
  • Vittersø, Joar (Ed.). (2016). Handbook of eudaimonic well-being Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/978-3-319-42445-3
    » https://doi.org/10.1007/978-3-319-42445-3
  • Wilkening, Eugene A. & McGranahan, David (1978) Correlates of subjective well-being in Northern Wisconsin. Social Indicators Research, 5, 211-234. https://doi.org/10.1007/BF00352930
    » https://doi.org/10.1007/BF00352930
  • Wilson, Warner (1967). Correlates of avowed happiness. Psychological Bulletin, 67(4), 294-306.
  • Financiamento: Não houve

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    16 Nov 2021
  • Revisado
    15 Mar 2022
  • Aceito
    24 Abr 2022
Associação Brasileira de Psicologia Social Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Av. da Arquitetura S/N - 7º Andar - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50740-550 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: revistapsisoc@gmail.com