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PERSPECTIVAS FRANCESAS NA PSICOLOGIA DO TRABALHO: ANÁLISE DOS PROCESSOS DE APROPRIAÇÃO NO BRASIL

PERSPECTIVAS FRANCESAS DE LA PSICOLOGÍA DEL TRABAJO: ANÁLISIS DE LOS PROCESOS DE APROPIACIÓN EN BRASIL

Resumo:

A Psicodinâmica do Trabalho e a Ergologia, assim como disciplinas aderentes às Clínicas do Trabalho, têm sido apropriadas como referencial recorrente por pesquisadorxs brasileirxs. Sendo assim, este artigo pretende analisar os desenvolvimentos histórico-sociais dessa relação de centro e periferia, entre França e Brasil, considerando que tal apropriação deve ser avaliada de forma crítica. Assim, sob o objetivo de analisar as relações entre as perspectivas francesas da Psicologia do Trabalho e a historicidade dos processos de apropriação de tais ideias no Brasil, foram avaliados o cenário da emergência de estudos franceses e seus percursos no Brasil, a partir da disseminação da Psicotécnica. O estudo mostrou a importância de historicamente se identificar a forma assimétrica como as perspectivas francesas da Psicologia do Trabalho foram apropriadas, ora em consonância com o ideário liberal (nos anos 1920-1940), ora em oposição às correntes neoliberais (a partir dos anos 1980/1990).

Palavras-chave:
Condições de Trabalho; Ergonomia; Ergologia; Psicodinâmica do Trabalho; Psicologia Industrial

Resumen:

La Psicodinámica del Trabajo y la Ergología, así como disciplinas adheridas a las Clínicas del Trabajo, han sido apropiadas como referencia recurrente por investigadorxs brasileñxs. Por lo tanto, este artículo pretende analizar los desarrollos histórico-sociales de esta relación entre centro y periferia, considerando que tal apropiación debe ser evaluada críticamente. Así, con el objetivo de analizar las relaciones entre las perspectivas francesas de la Psicología del Trabajo y la historicidad de los procesos de apropiación de tales ideas en Brasil, se evaluó el escenario del surgimiento de los estudios franceses y sus caminos en Brasil, a partir de la difusión de la Psicotecnia. El estudio mostró la importancia de identificar históricamente la forma asimétrica en que se apropiaron las perspectivas francesas de la Psicología del Trabajo, ya sea en consonancia con las ideas liberales (en las décadas de 1920-1940), o en oposición a las corrientes neoliberales (de los años 1980/1990).

Palabras clave:
Condiciones de Trabajo; Ergonomía; Ergología; Psicodinámica del Trabajo; Psicología Industrial

Abstract:

The Psychodynamics of Work and Ergology, as well as disciplines adhering to Work Clinics, have been appropriated as a recurring reference by Brazilian researchers. Therefore, this article intends to analyze the historical-social developments of the relationship between center and periphery, France and Brazil, considering that such appropriation must be critically evaluated. Thus, aiming to analyze the relations between the French perspectives of Work Psychology and the historicity of the processes of appropriation of such ideas in Brazil, the scenario of the emergence of French studies and their paths in Brazil were evaluated, as from the dissemination of the Psychotechnics. The study showed the importance of historically identifying the asymmetrical way in which the French perspectives of Work Psychology were appropriated, either in consonance with liberal ideas (in the 1920s-1940s), either in opposition to neo-liberal currents (from the 1980s/1990s).

Keywords:
Working Conditions; Ergonomics; Ergology; Psychodynamics of Work; Industrial Psychology

Introdução

Em 19 de setembro de 2019, no Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ), foi realizado um encontro com alguns pesquisadores brasileirxs implicadxs no estudo das relações da atividade humana com o labor produtivo. A principal motivação do encontro era a presença do professor Yves Schwartz (1942- ), considerado como o responsável pelo desenvolvimento da Ergologia.

Nesse evento, Schwartz fez um apanhado geral da situação da disciplina e lamentou o encerramento das pesquisas no APST (Analyse Pluridisciplinaire des Situations de Travail - Département d’Ergologie - Université de Provence), que ocorrera definitivamente após um processo gradativo de descontinuidades ao longo dos últimos anos. Em função disso, fez uma declaração que é de especial interesse para o desenvolvimento deste artigo: “A Ergologia se desenvolveu mais no Brasil do que na França”.

No debate que se seguiu, um dos presentes lembrou que Christophe Dejours (1949 -), responsável pelo desenvolvimento da Psicodinâmica do Trabalho, teria dito o mesmo, ou seja, que sua abordagem originalmente elaborada no contexto francês, se desenvolvera mais no Brasil do que na própria França. Diante disso, Schwartz conjecturou que tal apropriação podia ser explicada pela forte influência intelectual que a França exerceu sobre o Brasil, desde o século XIX.

Anos antes, em uma entrevista, Schwartz já havia afirmado que existiam alguns aspectos que contribuíram para que o Brasil fosse um dos principais países a explorar a Ergologia e seus conceitos: “No caso do Brasil, há um interesse da cultura intelectual brasileira pela cultura europeia e francesa, da parte das ciências humanas, desde há muito tempo” (Schwartz, 2013, p. 334Schwartz, Yves (2013). Histórico e conceitos da ergologia: entrevista com Yves Schwartz. Entrevista por Moacir Fernando Viegas. Reflexão & Ação, 21(1), 327-340. https://doi.org/10.17058/rea.v21i1.3742
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).

Ora, toda essa discussão em torno dessas perspectivas francesas sobre o trabalho - é importante explicitar esse aspecto logo nesta introdução - diz respeito também ao campo da Psicologia Social. No Brasil, essa temática da Psicologia do Trabalho mantém, há décadas, atravessamentos diretos com a Psicologia Social de base mais crítica, fato constatável principalmente depois que Psicologia Social Cognitivo-Experimental, sob viés estadunidense, foi deixando de ser totalmente hegemônica na América Latina (Silva, 2019Silva, Gervásio de Araújo Marques (2019). A crise da psicologia social brasileira: apontamentos históricos. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 71(3), 48-63. http://dx.doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2019v71i3p.48-63
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). As transformações na sociedade brasileira, com o adensamento da resistência popular contra a ditadura e o consequente processo de abertura política de fins dos anos 1970, também afetaram a concepção da função social dx psicólogx, o que levou necessariamente ao questionamento do papel dessx profissional no mundo corporativo.

Naquele momento histórico, o interesse na construção de uma psicologia social crítica ensejou, então, a criação da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), em 10 de julho de 1980, na UERJ, durante a 32ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). É evidente que temas da Psicologia do Trabalho interessaram à ABRAPSO desde seu surgimento, pois já em 1984 seus dirigentes elegeram a Psicologia do Trabalho como tema do V Encontro Regional, realizado em São Paulo. De fato, na medida em que as reivindicações dxs operárixs da indústria se tornavam mais visíveis no cenário brasileiro, com muitas greves apesar da ditadura militar, foi ganhando mais penetração acadêmica a crítica de que as atividades da Psicologia do Trabalho eram intrinsecamente reacionárias.

Um livro publicado nesse mesmo ano de 1984, e republicado várias vezes posteriormente, é considerado até hoje como emblemático dessa expressiva transformação da Psicologia Social brasileira: “Psicologia social: o homem em movimento”. Essa obra rompia com a tradição norte-americana de Psicologia Social positivista e sua publicação serve para também comprovar, desde seu momento inicial, a relação de pesquisadores da ABRAPSO com a Psicologia do Trabalho, uma vez que Wanderley Codo, em um texto clássico tido como seminal (Codo, 1984Codo, Wanderley (1984). O papel do psicólogo na organização industrial: notas sobre o “lobo mau” em psicologia. In S. T. M. Lane & W. Codo (Orgs.), Psicologia social: o homem em movimento (pp. 195-202). Brasiliense.), problematizou, naquela época, a condição do psicólogo do trabalho como o Lobo Mau da psicologia porque supostamente era contratado pelo patrão para fazer frente ao interesse do operário. Desde então, a reestruturação produtiva, os impactos da tecnologia, a dinâmica homem-máquina (sistema que inclui o ser humano, a máquina e o ambiente) e muitos outros elementos da Psicologia do Trabalho despertam a atenção de psicólogos sociais.

Existe, no entanto, um outro motivo ainda porque o objeto desta pesquisa realmente interessa às análises da Psicologia Social. Além de se inserir no contexto das relações entre Psicologia do Trabalho e Psicologia Social Crítica, este artigo tem um enfoque epistemológico voltado à análise de condições histórico-sociais que favorecem a produção do saber e a difusão das ideias. Estudos sobre relações entre centros hegemônicos e periféricos estão ganhando mais proeminência em decorrência da percepção de que o conhecimento e a ciência legitimam-se como um campo de disputa e poder (Mazzetti, Rubin-Oliveira, Pezarico, & Wielewicki, 2019Mazzetti, Antônio Carlos, Rubin-Oliveira, Marlize, Pezarico, Giovanna, & Wielewicki, Hamilton de Godoy (2019). Relação Centro X Periferia: a universidade em debate. Educação em Revista, 35. https://doi.org/10.1590/0102-4698193459
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).

Em que pese a visibilidade de algumas disputas, é difícil, contudo, fazer uma afirmação categórica a fim de explicar por que motivo a Ergologia e a Psicodinâmica do Trabalho receberam atenção tão marcante no meio acadêmico brasileiro, em comparação com o meio de circulação original de tais formulações. Há entre as duas abordagens, no entanto, evidentes convergências. Muitxs autorxs, inclusive, se referem a um termo mais geral - as Clínicas do Trabalho - para representar um conjunto de abordagens que têm em comum a noção de trabalho como atividade e a ênfase especialmente voltada à subjetividade (Clot, 2011Clot, Yves (2011). Clínica do trabalho e clínica da atividade. In Pedro Bendassolli & Andrea Soboll (Orgs.), Clínicas do trabalho: Novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade (pp. 188-207). Atlas. ). Isso, consequentemente, inclui perspectivas tais como Ergonomia da Atividade, Psicossociologia, Psicodinâmica do Trabalho e Ergologia, que se caracterizam pela preocupação com a historicidade dos processos presentes em situações de trabalho (Castro & Leão, 2020Castro, Alexandre de Carvalho & Leão, Luís Henrique da Costa (2020). A metamorfose e o campo da saúde mental de trabalhadores: uma análise bakthiniana. Ciência & Saúde Coletiva, 25(9), 3615-3624. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.28652018
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).

De fato, tanto na atividade dx trabalhador/a quanto no desenvolvimento de campos de pesquisa há historicidades embricadas. Essa questão da historicidade de processos em Psicologia do Trabalho, aliás, é o que orienta o foco deste artigo. O foco não é nem a Ergologia, nem a Psicodinâmica do Trabalho, em si, mas a história social da Psicologia. O que se busca é indagar se o interesse da cultura intelectual brasileira pela cultura francesa se transformou efetivamente em iniciativas no campo da Psicologia do Trabalho, ao longo do período histórico em que tal área de estudo começou a ganhar contornos mais definidos.

Ainda que a partir de denominações de Psicotécnica, Tecno-psychologia ou Psicologia Industrial, existem muitos estudos em História da Psicologia que tratam da Psicologia do Trabalho. Esta investigação, todavia, tem uma contribuição distinta pelo seu recorte de perspectiva, que não é muito usual, pois se concentra em apropriações da psicologia francesa. O objetivo deste artigo, portanto, é analisar, no bojo dos estudos críticos sobre transferência de conhecimento entre centro e periferia, as relações entre as perspectivas francesas da Psicologia do Trabalho e a historicidade dos processos de apropriação de tais ideias no Brasil.

Uma investigação sobre os processos de institucionalização da Psicologia do Trabalho em dado país periférico, contudo, pode cair na simploriedade de se achar que a recepção de teorias e práticas psicológicas ocorre de forma acrítica, já que a psicologia se constituiria, para muitxs, como uma ciência hipoteticamente neutra, com métodos objetivos. O campo de estudos sobre as relações centro-periferia, no entanto, mostra justamente o contrário (Brock, 2014Brock, Adrian Charles (2014). What is a polycentric history of psychology? Estudos e Pesquisas em Psicologia, 14(2). https://doi.org/10.12957/epp.2014.12565
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;Gavroglu et al., 2008Gavroglu, Kostas, Patiniotis, Manolis, Papanelopoulou, Faidra, Simões, Ana, Carneiro, Ana, Diogo, Maria Paula, Sánchez, José Ramón, Belmar, Antônio García, & Nieto-Galán, Agustí (2008). Science and technology in the European periphery: Some historiographical reflections. History of Science, 46. https://doi.org/10.1177/007327530804600202
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). Assim, a visão deste artigo é ir além de perspectivas deterministas e estáticas, analisando o quanto a transposição do conhecimento científico de uma região para outra (supostamente enquadradas como “centro” e “periferia”) deve ser questionada em seus jogos de poder.

O caminho a ser desenvolvido aqui, portanto, não será o de ver se a Psicotécnica francesa (ou a Ergologia, ou ainda a Psicodinâmica do Trabalho) foi adequadamente adaptada, com respeito aos seus procedimentos técnicos e conceitos, a fim de avaliar o desempenho dos periféricos (no caso, os brasileiros) na incorporação das exigências do conhecimento científico importado dos Champs Élysées. O que se pretende é analisar eventuais alianças, confrontos e disputas locais que podem ter ocorrido dentro dos processos de recepção de todas essas influências francesas, uma vez que outras investigações sobre a emergência da Psicologia do Trabalho no Brasil averiguaram deslocamentos conceituais, divergências teóricas e resistências ideológicas (Castro, 2014Castro, Alexandre de Carvalho (2014). Mental test implementation in the National Technical School in the period between 1942 and 1959: An analysis from the questioning of the notions of center and periphery. Universitas Psychologica, 13(5). http://dx.doi.org/10.11144/Javeriana.upsy13-5.mtin
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; Dadico & Siqueira, 2021Dadico, Luciana & Siqueira, Rogério Monteiro (2021). Henri Piéron, Roberto Mange e a História da Psicotécnica no Brasil: representações em disputa. Revista História da Educação, 25. https://doi.org/10.1590/2236-3459/104764
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).

Cenário geral da emergência de estudos franceses em Psicologia do Trabalho

Em 2007, o professor Yves Clot, importante pesquisador ligado tanto a Yves Schwartz quanto a Christophe Dejours, apresentou, durante evento realizado na Universidade Federal Fluminense, uma conferência sobre a história da Psicologia do Trabalho na França, que posteriormente foi publicada. Esse material é particularmente relevante no escopo deste artigo porque reifica a cena enunciativa de um teórico francês falando sobre estudos franceses com coenunciadorxs brasileirxs.

Yves Clot (2010Clot, Yves (2010). A psicologia do trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de Psicologia, 22(1), 207-234. https://doi.org/10.1590/S1984-02922010000100015
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) distinguiu três gerações francófonas de analistas do trabalho. Nessa sua análise, procurou mostrar que a psicotécnica francesa, voltada à análise do trabalho, gradualmente se desviou do seu enfoque inicial, mais crítico. E aos poucos seguiu em direção a uma psicotécnica centrada na aptidão e adequação da pessoa em função do posto de trabalho, de acordo com proposições fundamentadas na Organização Científica do Trabalho, método difundido maciçamente na Europa e na América. Aportes mais críticos, também considerou, retornariam apenas anos depois.

A primeira geração de analistas do trabalho começou a atuar nos anos iniciais do século XX, precedendo a chegada do taylorismo nas fábricas da França. Nessa geração, tida como a dxs fundadorxs da psicotécnica do trabalho de língua francesa, destacam-se pelo viés crítico principalmente os nomes de Suzanne Pacaud (1902-1988) e Jean-Maurice Lahy (1872-1943). Em sua obra de 1916 - O sistema Taylor e a fisiologia do trabalho profissional (Le système Taylor el la physiologie du travail professionnel) - Lahy criticou explicitamente o sistema de Taylor (Tomás & Ianeva, 2017Tomás, Jean-Luc & Ianeva, Maria (2017). J.-M. Lahy crítico de Taylor, um recurso para pensar o trabalho hoje? Laboreal [online], 13(2). https://doi.org/10.4000/laboreal.341
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).

O destaque a esse contexto inicial se justifica porque esses autores da primeira geração, mais preocupados com a análise do trabalho do que com a adaptação dx trabalhador/a à dada função, acabaram sendo invisibilizados na história, segundo a avaliação do próprio Clot (2010Clot, Yves (2010). A psicologia do trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de Psicologia, 22(1), 207-234. https://doi.org/10.1590/S1984-02922010000100015
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). Os anos seguintes apagaram a ênfase dos estudos mais críticos em prol de um aporte mais funcionalista. Assim, mesmo na França, a psicotécnica ficou fortemente associada aos métodos de controle e modelagem do desempenho baseado nos conceitos tayloristas. O quadro histórico é paradoxal porque após uma crítica humanista inicial ao taylorismo, a psicotécnica tornou-se um dos maiores instrumentos a serviço do sistema econômico vigente. E, como veremos mais a seguir, foi essa psicotécnica francesa amalgamada com o Taylorismo que aportou, célere, no Brasil.

A primeira geração, portanto, foi a de uma Psicologia do Trabalho que se perdeu de seu curso inicial porque pensou que havia uma adequação desejável, enfim, um cruzamento entre as aptidões passíveis de serem encontradas nxs trabalhadorxs e a definição das necessidades do posto de trabalho. Consequentemente, nesse viés positivista, se voltou contra xs trabalhadorxs, ainda que tenha partido inicialmente de uma psicologia dx trabalhador/a.

A periodização arbitrada por Clot (2010Clot, Yves (2010). A psicologia do trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de Psicologia, 22(1), 207-234. https://doi.org/10.1590/S1984-02922010000100015
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) dividiu o que ele chamou de segunda geração em três correntes distintas, mas com um ponto em comum, pois essas correntes francesas desenvolveram uma postura crítica à psicotécnica caracterizada pelos testes de seleção, que então ganhara corpo na França. Uma dessas correntes é a psicologia cognitiva do trabalho de Jean-Marie Faverge (1912-1988) e Jacques Leplat (1921- ), atualmente conhecida como psicologia ergonômica, que destacou a diferenciação conceitual entre tarefa e atividade. Uma segunda corrente se refere à ergonomia, protagonizada por Alain Wisner (1923-2004), que cunhou os termos “trabalho prescrito” e “trabalho real”. Essa distinção entre trabalho prescrito e real, vale ressaltar, amparou conceitualmente a Ergonomia da Atividade de Wisner, abordagem que foi uma importante influência no surgimento da Ergologia na década de 1980 (Vieira & Santos, 2012Vieira, Paulo Roberto & Santos, Eloísa Helena (2012). A gênese da perspectiva ergológica: cenário de construção e conceitos derivados. Trabalho & Educação, 21(1), 83-100. https://periodicos.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/8729
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). A outra corrente, a terceira, inaugurada por Louis Le Guillant (1900-1968), enfatizou a função psíquica do trabalho e as questões de saúde mental dx trabalhador/a.

A terceira geração de analistas do trabalho, aquela em que ele mesmo, Yves Clot, se encaixa, reúne várixs pesquisadorxs contemporânexs. Clot (2010Clot, Yves (2010). A psicologia do trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de Psicologia, 22(1), 207-234. https://doi.org/10.1590/S1984-02922010000100015
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) considera que o aspecto que xs une é a busca por ações que transformem o trabalho, tendência presente na tradição francófona. Destaca a Clínica da Atividade, representada por ele, a Psicodinâmica do Trabalho de Dejours e a Ergologia de Schwartz, frequentemente aludidas como Clínicas do Trabalho.

A importância de se delinear um cenário geral da emergência dos estudos franceses em Psicologia do Trabalho é permitir a identificação de quais práticas discursivas foram apropriadas no contexto brasileiro, e a partir de quais pressupostos. Na França, a Psicologia do Trabalho não seguiu completamente as mesmas trilhas da “psicologia industrial à americana” (Clot, 2006Clot, Yves (2006). Entrevista. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 9(2), 99-107. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172006000200008&lng=pt&tlng=pt
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, p. 100). Assim, uma palavra ainda precisa ser dada acerca de como essas influências francesas foram se constituindo no Brasil, principalmente porque a tendência predominante em nosso país, em meados do século XX, foi a da psicotécnica francesa de viés mais positivista e funcionalista, fortemente marcada pela adequação de trabalhadorxs às necessidades do posto de trabalho.

Primeiros momentos da influência francesa na Psicologia do Trabalho no Brasil

Os primórdios da Psicologia do Trabalho no Brasil podem ser identificados já nas primeiras décadas do século XX (Castro, Facchinetti, & Portugal, 2018Castro, Alexandre de Carvalho, Facchinetti, Cristiana, & Portugal, Francisco Teixeira (2018). Técnicas, Saberes e Práticas Psicológicas na Primeira República (1889-1930). Psicologia em Estudo [online], 23. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v23.e37446
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), quando a industrialização no Brasil era incipiente e o país tinha posicionamento econômico periférico no contexto mundial. Nesse momento histórico, o processo de industrialização nos EUA e na Europa se encontrava muito mais avançado e se consolidavam práticas que aludiam a uma produção mais eficiente, com foco na adaptação do ser humano à máquina. Essas noções circulavam em um campo denominado, à época, de Psicologia Industrial. A publicação nos Estados Unidos, em 1913, de Psychology and Industrial Efficiency, de Hugo Münsterberg, indicava ênfases que se apoiavam no preceito taylorista da pessoa certa no lugar certo e levaram, na primeira metade do século XX, à implantação maciça de testes mentais e de aptidões, especialidade da abordagem disseminada como Psicotécnica, e desenvolvida a partir da influência da Organização Científica do Trabalho, proposta por Frederick W.Taylor (Baptista, Rueda, Castro, Gomes, & Silva, 2011Baptista, Makilim Nunes, Rueda, Fabián Javier Marín, Castro, Nelimar Ribeiro de, Gomes, Juliana Oliveira, & Silva, Marlene Alves (2011). Análise de artigos sobre avaliação psicológica no contexto do trabalho: revisão sistemática. Psicologia em Pesquisa, 5(2), 156-167. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472011000200008
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).

Naquele cenário histórico, essa disparidade na condição subdesenvolvida do Brasil, comparada à dos países desenvolvidos, resultou na importação de modelos prontos que visavam uma idealizada organização racional do trabalho. A influência dos Estados Unidos foi muito marcante, mas é importante mostrar que a despeito da forte hegemonia americana nesse campo, influências francesas na Psicologia do Trabalho também foram se constituindo em boa parte do século XX. Assim, a opção por uma perspectiva francesa não se constituiu em aspecto fortuito, mas, ao contrário, se inseriu numa tendência bem articulada.

Vale lembrar que, no início do século XX, a França exercia forte influência nos meios intelectuais brasileiros, bastando citar a criação em São Paulo de instituições franco-paulistas, a partir de 1908, que tinham o objetivo de proporcionar maior intercâmbio cultural entre a França e o Brasil. Muitos dos encontros dessas instituições aconteceram na redação do jornal O Estado de São Paulo e efetivamente fomentaram a contínua influência francesa no período ( Moraes, 1994 Moraes, Carmem Sylvia Vidigal (1994). A sistematização da política educacional dos liberais reformadores: o inquérito de 1926. Revista da Faculdade de Educação, 20(1-2), 81-106. Recuperado de https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33540/36278
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; Vercesi, 2010 Vercesi, Maria Elena de Abreu (2010). O Lyceu Franco-Brasileiro São Paulo [Dissertação de Mestrado, Programa de Educação: História, Política, Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo/SP]. ).

O interesse na psicotécnica aplicada ao trabalho surgiu no eixo Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Minas Gerais/MG, com ênfase francesa principalmente na capital paulista, que teve um papel importante nos estudos que ensejaram a temática. Isso porque São Paulo apresentava um maior desenvolvimento no processo de urbanização e industrialização no país. Um personagem de destaque nesse horizonte foi Georges Dumas (1866-1946), professor da Sorbonne, envolvido com a institucionalização da psicologia científica francesa, frequente colaborador de O Estado de São Paulo (com vários textos no período de 1923-1930), e um dos responsáveis pela criação do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura (em 1922), do Liceu Franco-Brasileiro/SP e do Instituto Técnico Franco-Paulista (ambos em 1925). O primeiro curso ministrado por ele na Escola Normal de São Paulo, em 1912, contou com diversas aulas sobre psicologia, e nos anos 1920 tais cursos foram ainda mais frequentes, com consequente publicação no jornal O Estado de São Paulo. Coube a Dumas, dada sua influência, a indicação de professores franceses para virem posteriormente ao Brasil (Consolim, 2017Consolim, Marcia (2017). Georges Dumas: psicólogo e embaixador cultural no Brasil. In Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Org.), Anais do 41º Encontro Anual da Anpocs. Caxambu-MG., 2021).

Muitos episódios convergentes, entretanto, ocorriam concomitantemente. Em 1924, Roberto Mange (1885-1955), engenheiro mecânico suíço, teve a iniciativa de implementar, na Escola Profissional de Mecânica (anexa ao Liceu de Artes e Ofícios), procedimentos de seleção e orientação profissional, tendo por base a aplicação da psicotécnica (Batista, 2013Batista, Eraldo Leme (2013). Trabalho e educação profissional nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil: análise do pensamento e das ações da burguesia industrial a partir do IDORT. [Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, SP].; Dadico & Siqueira, 2021Dadico, Luciana & Siqueira, Rogério Monteiro (2021). Henri Piéron, Roberto Mange e a História da Psicotécnica no Brasil: representações em disputa. Revista História da Educação, 25. https://doi.org/10.1590/2236-3459/104764
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). Posteriormente, Mange viria a ser responsável pela criação do Curso de Organização Racional do Trabalho e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

Nessa mesma época em que Mange se dedicava à aplicação de testes na escola de mecânica, mais precisamente em 1925, Lourenço Filho (1897-1970), educador brasileiro, reativou o Laboratório de Psicologia Experimental da Escola Normal de SP. Seus trabalhos no laboratório fundamentavam-se, sobretudo, em fontes da psicologia franco-genebriana: Alfred Binet (1857-1911), Théodore Simon (1872-1961), Édouard Claparède (1873-1940), Henri Piéron (1881-1964) e Léon Walther (1889-1963), dentre outros, alguns envolvidos com o Instituto Jean-Jacques Rousseau, sediado em Genebra, Suíça (Monarcha, 2001Monarcha, Carlos (2001). Lourenço Filho e a organização da psicologia aplicada à educação (São Paulo, 1922 a 1933) [Monografia, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Brasília, DF].). A proximidade de Lourenço Filho com renomados profissionais da Europa, especialmente da França e de locais que recebem a influência francesa, como é o caso de Genebra, possibilitou o desenvolvimento de estudos não só no terreno da educação como também orientados para a Psicologia do Trabalho, pautados essencialmente na Psicotécnica, acolhendo, assim, essas concepções francesas no país.

Tanto Roberto Mange quanto Lourenço Filho eram membros do chamado “Grupo do Estado”, um grupo de intelectuais paulistas que, sob o comando de Julio de Mesquita Filho (1892-1969), do jornal O Estado de São Paulo, comungavam de uma visão liberal. Impulsionados por esse grupo e em parceria com o Instituto Técnico Franco-Paulista, foram convidados especialistas franceses para realização de cursos, conferências e palestras. Indicado por Dumas, o primeiro convidado foi Henri Piéron (1881-1964), professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Paris. Piéron, em seus pronunciamentos, ressaltou a importância da psicotécnica nos processos de trabalho industrial e na remodelação das bases da educação popular (Moraes, 1994Moraes, Carmem Sylvia Vidigal (1994). A sistematização da política educacional dos liberais reformadores: o inquérito de 1926. Revista da Faculdade de Educação, 20(1-2), 81-106. Recuperado de https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33540/36278
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).

De julho a agosto de 1927, Piéron ministrou curso teórico-prático no Laboratório de Psicologia da Escola Normal, dirigida por Lourenço Filho, que transcreveu e publicou as palestras do professor francês na obra Psychologia e psychotechnica, editada pela própria Escola Normal de SP. Piéron, do mesmo modo, ministrou lições no Serviço de Seleção Ferroviário, dirigido por Mange (Augras, 1965Augras, Monique (1965). Henri Piéron (1881 -1964). Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, 17(2), 123-124.). Vale ressaltar que Henri Piéron teve uma atuação importante na psicologia francesa, substituindo Binet, em 1912, na direção do Laboratório de Psicologia Experimental da École de Hautes Études, vinculado à Sorbonne, originalmente criado por Théodule Ribot (1839-1916). Piéron também foi responsável pela criação do Instituto de Psicologia em 1921 na Universidade de Paris e pelo Instituto Nacional de Orientação Profissional - INOP, em 1928 (Ouvrier-Bonnaz, 2007Ouvrier-Bonnaz, Regis (2007). A psicologia em França de 1870 a 1940, de uma ciência aplicada a uma disciplina universitária. Laboreal, 3. https://doi.org/10.4000/laboreal.13016
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).

A presença de Piéron em SP é um bom exemplo da influência francesa. Ele já havia ministrado um curso de psicotécnica no RJ em 1923, por iniciativa da Academia Brasileira de Ciências, entidade vinculada estreitamente ao Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura. Sua vinda a SP, contudo, seguiu-se à fundação do Instituto Técnico Franco-Paulista, em 1925, órgão que viria a se tornar forte articulador da colaboração acadêmica entre França e Brasil, e efetivamente responsável por patrocinar tais cursos sobre psicotécnica na capital paulista (Dadico & Siqueira, 2021Dadico, Luciana & Siqueira, Rogério Monteiro (2021). Henri Piéron, Roberto Mange e a História da Psicotécnica no Brasil: representações em disputa. Revista História da Educação, 25. https://doi.org/10.1590/2236-3459/104764
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).

Diante da mise en scène desse contexto de debates sobre orientação científica do trabalho, a Associação Comercial de São Paulo também decidiu contratar, em 1929, um especialista de renome internacional na área da Psicologia do Trabalho. O escolhido foi o professor Léon Walther (1889-1963), psicólogo russo radicado na parte francófona da Suíça e ligado ao Instituto Jean-Jacques Rousseau (criado por Claparède), que foi chamado para dar cursos e auxiliar na criação de um Instituto de Organização Científica do Trabalho (Moraes, 1994Moraes, Carmem Sylvia Vidigal (1994). A sistematização da política educacional dos liberais reformadores: o inquérito de 1926. Revista da Faculdade de Educação, 20(1-2), 81-106. Recuperado de https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33540/36278
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). Ao que tudo indica, a intenção do grupo de intelectuais paulista era criar o Instituto nos moldes do INOP de Paris. Contudo, as contingências da época - a crise econômica de 1929 - adiaram o projeto por cerca de dois anos.

Léon Walther realizou uma série de conferências sobre administração científica do trabalho, sendo sua obra traduzida por Lourenço Filho e publicada ainda em 1929. A referida obra - La Technopsychologia du travail industrial, originalmente de 1926 - havia sido uma das primeiras publicadas em língua francesa a tratar dos campos da Tecnopsicologia aplicada ao trabalho industrial. Nessa vinda ao Brasil, contudo, Walther não se restringiu apenas a SP, antes, a convite do governo do Estado de MG, havia permanecido por três meses na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, onde contribuiu para a implantação do Laboratório de Psicologia (já iniciada por Théodore Simon). Anos mais tarde, em 1948, retornaria ao Brasil para atuar do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, na então capital, RJ (Antonini, 2001Antonini, Isabel Gontijo (2001). Walther, Léon (1889-1963). In Regina Helena de F. Campos (Org.), Dicionário biográfico da psicologia no Brasil (pp. 392-393). Imago.).

Um ponto de relevo no período foi a criação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), em 1931. A ideia da criação de um instituto dedicado à organização científica do trabalho foi sendo construída pelas sugestões dos professores franceses e, do lado brasileiro, por Lourenço Filho, junto com seu parceiro de trabalho, Roberto Mange, que foi destacado pelo IDORT para ser responsável pelo projeto de educação profissional. Foi a partir do IDORT e de seu congênere criado no RJ, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), que se discutiram muitas propostas para a qualificação profissional no país em anos seguintes (Antonacci, 2011Antonacci, Maria Antonieta (2011). Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT). In Ana Maria Jacó-Vilela (Org.), Dicionário histórico de instituições da psicologia no Brasil (pp. 290-291). Imago.).

Em 1948, junto com Léon Walther, que retornava, chegou ao Brasil para trabalhar no SENAC um outro psicólogo francês, Pierre Weil (1924 -2008), ex-aluno de Piéron e de Walther. A missão no SENAC consistia em implementar a capacitação das equipes que atuariam nas atividades de psicotécnica naquela instituição, recém-inaugurada na capital, RJ. O objetivo desse trabalho era adaptar, com ênfase no trabalho comercial, o que Roberto Mange estava fazendo no SENAI, instituição criada alguns anos antes, em 1942. Na função de Diretor da Divisão de Ensino do Departamento Nacional do SENAC, onde permaneceu por 10 anos (1949-1958), Weil desenvolveu várias pesquisas, tendo publicado muitos artigos na revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, do ISOP.

Essa breve trajetória, delineada da década de 1920 até fins da década de 1940, evidencia que a psicologia francesa que aportou em terras brasileiras, na primeira metade do século XX, foi justamente aquela criticada por Clot, predominantemente marcada pela psicotécnica que visava a adaptação do ser humano às funções do posto de trabalho, mediante seleções mediadas por testes de aptidão profissional (Clot, 2010). Tal psicotécnica francesa (também referida como tecnopsicologia) pretendia criar um campo significativo de aplicações práticas nas esferas escolar e do trabalho, servindo para uma suposta organização eficiente da atividade produtiva (Monarcha, 2001Monarcha, Carlos (2001). Lourenço Filho e a organização da psicologia aplicada à educação (São Paulo, 1922 a 1933) [Monografia, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Brasília, DF].).

A questão da Psicologia do Trabalho na relação centro-periferia

Há, sob o termo “indigenous psychology movement”, um movimento crescente que remonta aos anos 1980 (Sinha, 1984Sinha, Durganand (1984). Psychology in the Context of Third World Development. International Journal of Psychology, 19 (1-4), 17-29. https://doi.org/10.1080/00207598408247512
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), e se caracteriza pela preocupação em analisar o papel distinto que a psicologia assume em países periféricos, assim como os fatores subjacentes ao impacto local de teorias e conceitos psicológicos. Este movimento evoluiu para uma área temática de pesquisa reconhecida dentro da Cross-cultural Psychology (Adair, 1999Adair, John Glenn (1999). Indigenisation of Psychology: The concept and its practical implementation. Applied Psychology: An International Review, 48(4). https://doi.org/10.1111/j.1464-0597.1999.tb00062.x
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), e a análise do processo de recepção de teorias científicas em países vistos como periféricos tem sido objeto de interessantes pesquisas (Smith, 2005Smith, Peter (2005). Is there an indigenous European social psychology? International Journal of Psychology, 40(4), 254-262. https://doi.org/10.1080/00207590444000195
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). No contexto brasileiro, investigações em História da Psicologia permitem verificar que aquelxs que recebem certos conhecimentos não o fazem de modo passivo, mas, ao contrário, tendem a agir - ora assimilando, ora discordando das técnicas psicológicas - em função de configurações locais e conveniências autóctones.

A análise apresentada neste artigo problematiza os processos histórico-sociais de apropriação de perspectivas francesas na Psicologia do Trabalho no Brasil. Pesquisas sobre a incorporação da psicologia ocidental em países periféricos têm mostrado que há influências internas nos contextos de recepção que contingenciam a forma como dado saber é apropriado. Essas influências internas, configuradas em torno de disputas locais, muitas vezes são invisibilizadas, mas em última instância permitem perceber por que certas teorias são incorporadas de uma maneira e não de outra. Estudos realizados na Índia, por exemplo, mostram que técnicas psicológicas ocidentais foram incorporadas de modo aderente ao cenário geral de modernização do país (Sinha, 1998Sinha, Durganand (1998). Changing perspectives in social psychology in India: A journey towards indigenization. Asian Journal of Social Psychology, 1, 17-31. https://doi.org/10.1111/1467-839X.00003
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).

No caso das influências francesas na Psicologia do Trabalho no Brasil, é possível verificar que a apropriação de conceitos e categorias também foram mediados sócio-historicamente por demandas econômicas e sociais. Não foi a nostalgia da Belle Époque que fez com que Henri Piéron fosse convidado para proferir palestras na Escola Normal de SP. Dinâmicas internas dessa escola é que ensejaram o convite por conta do interesse na modernização do ensino e do prestígio que a Psicotécnica carregava consigo. Dados da época mostram que cerca de 40% das crianças em idade escolar encontravam-se fora da escola, aspecto indicador da indesejável discrepância entre a escolarização da população paulista e o projeto de industrialização idealizado (Dadico & Siqueira, 2021Dadico, Luciana & Siqueira, Rogério Monteiro (2021). Henri Piéron, Roberto Mange e a História da Psicotécnica no Brasil: representações em disputa. Revista História da Educação, 25. https://doi.org/10.1590/2236-3459/104764
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). O desenvolvimento econômico projetado para SP era interpretado como decorrente de necessárias reformas educacionais e adequação produtiva da mão de obra na indústria. O liberalismo econômico do período, por conseguinte, viu na psicotécnica uma importante aliada.

A discussão da influência francesa nos anos 1920-1940, portanto, somente faz sentido mediante a configuração de um quadro de relações no qual se percebe a ação de elites locais que visavam a elaboração de iniciativas voltadas ao desenvolvimento econômico. Ademais, intelectuais brasileirxs do período igualmente se beneficiavam politicamente da vinculação de seus nomes à notoriedade de eminentes professorxs estrangeirxs. Assim sendo, o sentido institucional da Psicotécnica se transmutava relativamente aos campos de produção, na França, e de apropriação, no Brasil.

Os meios intelectuais do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, ao contrário do que ocorria no meio universitário francês, estavam intimamente ligados ao Estado, uma vez que a grande maioria dxs eruditxs brasileirxs ocupava cargos públicos e algumas funções na administração começavam a demandar credenciais acadêmicas. Para xs entusiastas da Psicotécnica no Brasil, a recepção dessas técnicas também significava estabelecer vínculos que legitimariam sua ascensão social e profissional. Para xs francesxs, por outro lado, o mais importante era construir uma trajetória internacional de obtenção de reconhecimento científico no exterior, pois o momento era marcado por uma progressiva perda de reputação da psicologia francesa diante de suas congêneres anglo-saxônicas (Consolim, 2021Consolim, Marcia (2021). Circulação de intelectuais e recepção das novas ciências do homem francesas no Brasil: 1908-1932. Tempo Social, 33(1), 17-51. ).

Uma série de demarcações nas esferas políticas e econômicas, estimuladas pelos jornais da época, contribuíram para a inserção das propostas de Georges Dumas, Henri Piéron, Léon Walther e, posteriormente, Pierre Weil, acerca da racionalização do trabalho. Os dois principais institutos de promoção e financiamento dessa circulação foram os já citados Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura (criado em 1922) e o Instituto Técnico Franco-Paulista (criado em 1925), respectivamente no RJ e SP (Consolim, 2021Consolim, Marcia (2021). Circulação de intelectuais e recepção das novas ciências do homem francesas no Brasil: 1908-1932. Tempo Social, 33(1), 17-51. ), mas no jogo político do período também é necessário perceber que a elite paulista buscava referências distintas do que acontecia na capital do país, o Rio de Janeiro. Esse ponto parece ser fundamental para entender a singularidade de alguns desenvolvimentos da Psicologia do Trabalho em São Paulo.

As tensões entre a capital do país e SP culminaram, na década de 1930, em uma guerra civil com quase três meses de combates e milhares de mortos. Essa guerra civil - Revolução Constitucionalista de 1932 - ocorreu em um contexto no qual as elites paulistas buscaram reconquistar o protagonismo político que haviam perdido com a Revolução de 1930 e a chegada de Getúlio Vargas no poder.

A presença francesa, portanto, se dava em um período particularmente conturbado e de mudanças estruturais no País, ainda sob efeito da crise econômica de 1929. O próprio Claparède, quando esteve em visita ao Brasil - no RJ e MG -, acabou retido em Belo Horizonte quando estourou a revolução de 1930, e durante dias sentiu-se angustiado por ter ficado isolado de qualquer comunicação com o resto do Brasil e do mundo (Santos, Mignot, & Perdomo, 2021Santos, Daise Silva, Mignot, Ana Chrystina, & Perdomo, Selma Barboza (2021). À Beira do cais: um divulgador das ideias de Édouard Claparède em Minas Gerais. Educação em Revista, 37. https://doi.org/10.1590/0102-469824999
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).

Face à confrontação aberta, seria difícil, consequentemente, imaginar convergências operacionais entre São Paulo e o governo Vargas, o que talvez explique alguns distanciamentos ao longo dos anos, inclusive entre o IDORT e o ISOP, respectivamente em São Paulo e Rio, que tinham perfis muito parecidos, mas se articulavam em associações psicológicas distintas.

A emergência do interesse na Ergologia, na Psicodinâmica do Trabalho e nas Clínicas da Atividade, no entanto, se deu em um enquadramento totalmente diferente. No decurso da década de 1980, foi se firmando no Brasil o campo da saúde do trabalhador, sob a influência da epidemiologia social latino-americana e do movimento social de luta por saúde. Esse período de efervescência político-sindical implicou novos referenciais para a compreensão do processo saúde-doença, com destaque para Ambiente de Trabalho: a Luta dos Trabalhadores pela Saúde (livro-cartilha do movimento sindical italiano, publicado na Itália por Ivar Oddone em 1977 e no Brasil em 1986) e A loucura do Trabalho (de Cristophe Dejours, publicado no Brasil em 1987); obras que contribuíram com novas práticas de intervenção nos processos de trabalho. Em função de todo esse cenário, a Constituição Federal de 1988 ensejou políticas públicas voltadas à saúde do trabalhador, dentro de um conjunto de atividades com ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, conforme Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90 (Pessanha et al., 2022Pessanha, Luiz Phillipe Mota, Santos, Isabel Cristina dos, Henriques, Mayara Vieira, Andrade, Raquel Figueira Lopes Cançado, Vinagre, Rayana Ferreira, & Castro, Alexandre de Carvalho (2022). Tendências da pesquisa brasileira em Ergologia. Ciência & Saúde Coletiva, online first. http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/tendencias-da-pesquisa-brasileira-em-ergologia/18502?id=18502
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).

Realmente, em fins dos anos 1980, o país se distanciava do período de autoritarismo imposto pela ditadura civil-militar (1964-1985), e as ideias críticas podiam circular com mais facilidade. As universidades brasileiras - que nem existiam direito na década de 1920 - já estavam melhor estruturadas e xs professorxs já não mais se vinculavam majoritariamente aos órgãos da administração do governo federal. Assim, pesquisadorxs em Psicologia do Trabalho tinham liberdade para buscar os referenciais que julgassem adequados às suas pesquisas, sem qualquer direcionamento hegemônico.

Nesse período de virada dos anos 1980 para os anos 1990, o campo teórico da Psicologia do Trabalho já havia passado pelo que se convencionou a chamar de “crise da Psicologia Social brasileira” (Silva, 2019Silva, Gervásio de Araújo Marques (2019). A crise da psicologia social brasileira: apontamentos históricos. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 71(3), 48-63. http://dx.doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2019v71i3p.48-63
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), com a superação do modelo hegemônico estadunidense de base positivista-experimental, centrado em técnicas aplicadas. Assim, todas essas articulações autóctones contribuíram para a apropriação de perspectivas críticas tais como as das Clínicas do Trabalho. E nos anos 1990, o Brasil experimentava os ventos opressores do neoliberalismo que se voltavam contra xs trabalhadorxs, aspecto que tornou ainda mais relevantes os aportes dessas teorias francesas de cunho mais crítico. As universidades brasileiras estavam prontas para dar voos mais altos.

A dessimetria entre o ambiente universitário francês e o brasileiro, nas décadas finais do século XX (e até hoje em dia), entretanto, merece um olhar mais atento. No Brasil, houve uma abertura às dinâmicas transdisciplinares que não existia, do mesmo modo, na França. A Europa como um todo, aliás, é muito caracterizada por divisões disciplinares entre campos de saber e departamentos universitários, por conta de tradições muito antigas de institucionalizações de áreas do conhecimento. Uma epistemologia como a da Ergologia, por exemplo, fortemente marcada por visões transdisciplinares como as demais Clínicas do Trabalho, indicou demandas e exigências que foram desprezadas e mal compreendidas no meio universitário francês. Uma ideia como a de participar de equipes pluridisciplinares não ganhava muito espaço na carreira de um/a acadêmicx dentro de universidades francesas. No Brasil, esse tipo de dificuldade não ocorreu (e nem ocorre atualmente). Pesquisadorxs brasileirxs fazem travessias entre Psicologia do Trabalho, Engenharia de Produção, Linguística, Educação e Ergonomia com uma abertura teórica muito maior.

Todos esses enquadramentos problematizam as relações entre a influência francesa e a apropriação brasileira. O próprio Yves Schwartz, ao descrever algumas experiências interdisciplinares com pesquisadorxs e ex-alunxs brasileirxs, numa entrevista de 2016, fez declarações que permitem constatar relações de mão dupla, de ida e vinda, de contrafluxo, nessas relações de centro e periferia:

O descobrimento do Brasil - para nós da Ergologia era um pouco o descobrimento (risos) - foi uma grande sorte ao desenvolvimento da abordagem ergológica... Existe no Brasil uma abertura às dimensões transdisciplinares... A vantagem de se trabalhar com os amigos, colegas brasileiros, é essa abertura... Essa abertura é uma maneira de ampliar as reflexões da Ergologia em novos setores, novos conceitos, novas disciplinas, não inteiramente novas para nós, mas a cooperação aprofundou a nossa reflexão e por isso a nossa relação com o Brasil é bem rica e favorável para o desenvolvimento da abordagem ergológica. (Schwartz, 2016Schwartz, Yves (2016). Uma entrevista com Yves Schwartz. Entrevista por Maria da Glória Corrêa Di Fanti & Vanessa Fonseca Barbosa. Letrônica, 9. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2016.s.25359
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, p. 232)

Algo semelhante também pode ser dito acerca da Psicodinâmica do Trabalho. Ao ser indagado sobre divergências e convergências entre o cenário francês e brasileiro, em uma entrevista dada a uma pesquisadora brasileira no CNAM (Conservatoire des Arts et Metiers), em Paris, Dejours admitiu que, em decorrência de diferenças culturais entre Brasil e a França, há pesquisadorxs que realizaram adaptações variadas no contexto brasileiro (Macêdo & Heloani, 2018Macêdo, Kátia Barbosa & Heloani, Roberto (2018). A arqueologia da psicodinâmica do trabalho no Brasil. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 21(1), 45-59. https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v21i1p45-59
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).

A questão da Psicologia do Trabalho na relação França-Brasil não pode, portanto, ser vista de forma reducionista ou reificadora. Não é possível, por exemplo, dizer que houve colonização francesa na Psicologia do Trabalho brasileira, pois este estudo mostra o quanto as questões brasileiras nortearam a apropriação dos saberes importados. Se num momento inicial as elites intelectuais brasileiras viram a Psicologia do Trabalho francesa - a Psicotécnica - como uma chave que possibilitava abrir a porta do liberalismo econômico, anos mais tarde o que xs pesquisadorxs brasileirxs buscaram foi uma série de referências para jogar fora esse mesmo liberalismo maldito. Aspecto que mostra que não houve continuidades de processos, mas profundas rupturas.

Um olhar focado no horizonte diacrônico francês permite identificar relevantes cortes e descontinuidades. A perspectiva francesa nos anos 1920-1940 - oriunda do Laboratório de Psicologia Experimental da École de Hautes Études, do L’Institut Jean-Jacques Rousseau e do Institut National d’Orientation Professionnelle (INOP) - procedia do mainstream científico da França. As Clínicas do Trabalho - Ergonomia da Atividade, Psicossociologia, Psicodinâmica do Trabalho e Ergologia - se configuram, por sua vez, em polo diametralmente oposto, uma vez que eram, e são, correntes contra-hegemônicas.

Se o olhar se volta para a paisagem brasileira, contudo, personagens assimétricos também despontam em cena. O ambiente local de interlocução com as influências francesas indica atores sociais muito díspares. A perspectiva francesa dos anos 1920-1940 dialogava com empresários do eixo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e com intelectuais interessados no processo capitalista de industrialização no país. Os interlocutores brasileiros das Clínicas do Trabalho estão exatamente no espectro oposto do tecido social, interessados numa Psicologia do Trabalho apartada do campo hegemônico da Psicologia Organizacional, ou seja, uma Psicologia do Trabalho mais voltada à transformação dos contextos de trabalho e à emancipação do trabalhador, sem preconizar funcionalidades de processos de gestão orientados, em geral, por critérios de otimização em custos e lucro.

Considerações finais

A meta perseguida neste artigo foi a de pesquisar as relações implicadas na historicidade dos processos de apropriação de perspectivas francesas da Psicologia do Trabalho no Brasil. Para tal, o texto assumiu aspectos histórico-argumentativos, quase como um ensaio, em diálogo com os estudos críticos sobre transferência de conhecimento entre centro e periferia: o “indigenous psychology movement”.

Levantamentos bibliográficos e bibliométricos em Psicologia do Trabalho, no Brasil, apontam expressiva presença de aportes de disciplinas aderentes às Clínicas do Trabalho, mormente de origem francesa. Em linhas gerais, alguém até poderia dizer que o Brasil incorporou influências francesas em 1920-1940 e 1990-2020. Um olhar mais arguto, todavia, haverá de reconhecer que o Brasil não era o mesmo nesses dois períodos, e tampouco tais influências eram similares. O Brasil de Vargas não é o Brasil da redemocratização e Clínicas do Trabalho não são Psicotécnica. A ideia de uma apropriação homogênea, linear e estanque não faz sentido algum.

A tentativa de explicar tal fenômeno mediante conjecturas cumulativas parece fadada ao fracasso. Não é possível identificar, no decorrer das décadas, fatos que, agrupados descritivamente, permitam perceber como a influência do centro hegemônico foi se acumulando e solidificando no país periférico. Querer entender a historicidade dos processos de apropriação de perspectivas francesas da Psicologia do Trabalho de acordo com a sua suposta evolução no tempo é um equívoco, justamente porque a análise do período mostra uma série de descontinuidades. A Psicologia francesa foi apropriada de modo assimétrico e descompassado, ora em consonância com o ideário liberal (nos anos 1920-1940), ora em oposição a essas mesmas correntes liberais (sob alcunha de neoliberais, a partir dos anos 1980/1990).

Diante do cenário geral da emergência de estudos franceses e seus percursos em terras brasileiras, portanto, não há por que entender a noção de Psicologia francesa como conceito constitutivo de uma identidade reificada e fixa ao longo dos anos, no campo dos fatores humanos no trabalho. O que se mostra como mais pertinente e relevante é a análise de uma historicidade marcada pela heterogeneidade e irrupção de eventos autóctones, que suscitam adesões e insurgências, recepções e reprovações, desapropriações e acolhimentos. O impacto das perspectivas francesas, no fundo, sempre dependeu do estado das forças produtivas em determinado momento. Assim, há de se buscar um olhar capaz de ver os fatores subjacentes aos contextos de apropriação que contingenciam, ou não, a forma como a Psicologia do Trabalho brasileira se desenvolve.

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  • Financiamento A pesquisa contou com financiamento CNPq/Faperj (Edital Faperj APQ1 - Auxílio à Pesquisa básica e Edital CNPq Nº 04/2021 - Bolsas de Produtividade em Pesquisa)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Jun 2022
  • Revisado
    25 Out 2022
  • Aceito
    26 Out 2022
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