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GRAFITES QUE (CONTRA)DIZEM: GÊNEROS E SEXUALIDADES NA POLIFONIA DA CENA URBANA

GRAFFITI QUE (CONTRA) DICEN: GÉNEROS Y SEXUALIDADES EN LA POLIFONÍA DE LA CENA URBANA

GRAFFITI THAT (CONTRA)DICT : GENDERS AND SEXUALITIES ON URBAN SCENE'S POLYPHONY

Resumo

Pretendeu-se analisar a comunicação discursiva de grafites urbanos sobre mulheres, feminismos, gênero e sexualidade que foram inscritos em vias de circulação e construções públicas e privadas em bairros do centro urbano e histórico da cidade de Roma, Itália. Realizou-se um trabalho interdisciplinar entre a Psicologia Social e a Arquitetura em uma perspectiva discursiva dialógica, histórico-urbanística e histórico-arquitetônica. Fez-se, ainda, a geolocalização dos grafites; contatos com principais autoras/es dos grafites e análise das práticas discursivas dos grafites, considerando, portanto, o contexto social-histórico de produção dialógico, incluindo as redes sociais. Concluiu-se que a prática de inscrever grafites na paisagem urbana permite a compreensão dos discursos sobre a diversidade cultural marcada por gêneros e sexualidades que abriga os centros históricos e a paisagem urbana, a relação afetiva e política das mulheres com a cidade, além da produção de suas (micro)territorialidades.

Palavras-chave:
Grafite; Discurso; Paisagem urbana; Gênero; Sexualidade

Resumen

El objetivo fue analizar la comunicación discursiva de grafitis urbanos sobre mujeres, feminismo, género y sexualidad que se registraron en calles y edificios públicos y privados en barrios del centro urbano e histórico de la ciudad de Roma, Italia. Se realizó un trabajo interdisciplinario entre la psicología social y la arquitectura en una perspectiva discursiva dialógica, histórico-urbanística e histórico-arquitectónica. También se realizaron la geolocalización de los grafitis; contactos con los principales autores de grafitis y análisis de las prácticas discursivas de los grafitis, considerando así el contexto histórico-social de producción dialógico, incluyendo las redes sociales. Se concluyó que la práctica de inscribir grafitis en el paisaje urbano permite la comprensión de los discursos sobre diversidad cultural marcada por géneros y sexualidades que albergan los centros históricos y el paisaje urbano, la relación afectiva y política de las mujeres con la ciudad, además de la producción de sus (micro) territorialidades.

Palabras clave:
Grafiti; Discurso; Paisaje urbano; Género; Sexualidad

Abstract

This study aimed to analyze the discursive communication on women, feminisms, gender and sexuality of urban graffiti that were inscribed in circulation routes and on public and private buildings in neighborhoods of Rome's urban and historical center, in Italy. An interdisciplinary work was carried out between social psychology and architecture in a dialogical discursive, historical-urbanistic and historical-architectural perspective. Moreover, it was carried out the graffiti's geolocation; contacts with the graffitti main authors; and an analysis of graffiti discursive practices. This was carried out considering the social-historical context of dialogic production, including social networks. It was concluded that the practice of inscribing graffiti in the urban landscape allows the understanding of the discourses on cultural diversity as marked by genders and sexualities on the historic centers and the urban landscape. It also allows the understanding of women's affective and political relations with the city, as well as the production of their (micro) territorialities.

Keywords:
Graffiti; Discourse; Urban landscape; Gender; Sexuality

Introdução

Esta pesquisa pretendeu analisar a comunicação discursiva de grafites urbanos sobre mulheres, feminismos, gênero e sexualidade inscritos em vias de circulação e construções públicas e privadas no centro urbano da cidade de Roma, Itália, durante o período de agosto de 2018 a fevereiro de 2019. Diante da temática aqui apresentada, realizou-se um trabalho interdisciplinar entre a Psicologia Social e a Arquitetura em uma perspectiva discursiva polifônica/dialógica, no sentido bakhtiniano (Amorim, 2004Amorim, M. (2004) O pesquisador e seu outro. Bakhtin e as ciências humanas. São Paulo: Musa.), histórico-urbanística e histórico-arquitetônica, como resultado das atividades realizadas como professor visitante da autora junto ao Dipartimento di Storia, Disegno e Restauro Dell'architettura da Universitá Sapienza di Roma, situado em Roma-Itália, durante o período de 2018-2019.

Parte-se da premissa que a comunicação discursiva dos grafites permite compreender a diversidade cultural e a relação afetiva e política das pessoas com a cidade, bem como nos permite compreender os discursos que estão sendo produzidos pelos/as cidadãos/ãs em objetos, construções e prédios da cidade, ou seja, na dimensão urbanística-arquitetônica vivida.

Desse modo, a questão que se coloca é: como são produzidas as (micro)territorialidades de grafites presentes na paisagem urbana quando analisadas um uma perspectiva dialógica, histórica, de gênero, política, urbanística e arquitetônica? Uma questão provocada por diversos autores (Almeida, 2012Almeida, J. (2012). Textualidades contemporâneas. Palavra, imagem e cultura. Vitória: Edufes.; Clini, 2013Clini, M. M. (2013). As cores de Pastore: reflexões fenomenológicas sobre grafite e a arte de viver. Estudos e Pesquisa em Psicologia, 13(2), 646-676.; Furtado, 2012Furtado, J. (2012). Tribos urbanas: os processos coletivos de criação no graffiti. Psicologia & Sociedade, 24(1), 217-226.; Pino Da Costa, 2012) e tornada central na pesquisa aqui relatada e inicialmente realizada em bairros da cidade de Roma.

Constatou-se que ainda há poucos estudos e pesquisas específicos que tratam de grafites feministas, sobre a sexualidade ou gênero, ou que abordem questões de demandas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Trangêneros (LGBTT)1 1 Foram realizados levantamentos bibliográficos no Brasil e na Itália. Para estratégia de busca foram utilizados os seguintes termos: graffiti; grafite; streetart; pichação; e gênero; feminismo (s); sexualidade (s); LGBT, e suas respectivas traduções para as línguas italiana e inglesa. No caso da Itália, o levantamento bibliográfico sobre estas temáticas foi realizado principalmente durante os três primeiros meses de pesquisa, dando continuidade nos demais meses como temas mais específicos demandados pelo trabalho de campo, relativos às histórias urbanísticas e arquitetônicas dos bairros analisados por esta pesquisa. As bases de dados e acervos utilizados para a pesquisa foram: Catalogo del Servizio Bibliotecario Nazionale (OPAC SBN); Catalogo del Sevizio Biblioteche Sapienza (OPCA UNIROMA1); Biblioteca Centrale della Facoltà di Architettura; Biblioteca di Storia, Disegno e Restauro dell’Architettura; Biblioteca Archivi Centri Documentazione delle Donne (Casa Internazionale delle Donne); e Biblioteca Nazionale Centrale di Roma. No Brasil, o levantamento bibliográfico foi realizado pelas plataformas: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), Periódicos Capes e Scielo. Nos levantamentos foram inicialmente consultadas pesquisas realizadas nos últimos 10 anos e, depois, dos últimos 20 anos, para aprofundamento e amplitude histórica do material, compreendendo, portanto, um período de 1998 à 2018. , embora haja uma cena forte de movimentos e coletivos nos dois países (Brasil e Itália) e que se utilizam do grafite como estratégias de manifestação política e de resistência na cena urbana. Os estudos encontrados, de um lado, têm se centrado em diferenças de estilo e temas entre produções de grafite e/ou pichações de homens e mulheres, como foi identificado nos estudos sobre grafites de banheiros de instituições de ensino superior realizados por Teixeira e Otto (1998Teixeira, R. P. & Otto, E. (1998). Grafitos de banheiro: um estudo de diferenças de gênero. Estudos de Psicologia, 3(2), 229-250.) e Damião e Teixeira (2009Damião, N. F. & Teixeira, R. P. (2009). Grafitos de banheiro e diferenças de gênero: o que os banheiros têm a dizer? Arquivos Brasileiros de Psicologia, 61(2), 1-10.), por exemplo, ou em análises qualitativas sobre a presença, o protagonismo, trajetória de vidas e a prática de mulheres no cenário do grafite e pichação no Brasil (Hamann, Maracci-Cardoso, Tedesco, & Pizzinato, 2013Hamann, C., Maracci-Cardoso, J. G., Tedesco, P. C., & Pizzinato, A. (2013). Entre o público e o privado: discurso de mulheres em movimentos de grafite. Ex Aequo (Oeiras), 28(1), 45-58.; Mendonça-Magro, 2003Mendonça-Magro, V. M. (2003). Meninas do graffiti: Educação, adolescência, identidade e gênero nas culturas juvenis contemporâneas. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Recuperado de http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/252961
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), mas, por outro lado, são escassos os que analisam os discursos dos grafites produzidos e sua relação com a cena urbana.

Ao analisar comunicação discursiva de grafites urbanos com temáticas de mulheres, gênero, feminismos e sexualidade, como enunciados concretos, inscritos na cidade de Roma e em suas vias urbanas e construções arquitetônicas e históricas, pretendeu-se contribuir, portanto, para a compreensão da construção de uma certa memória social e urbana produzida na cidade vivida.

Assim, cada enunciado-grafite, ou seja, unidade de enunciado concreto produzido (Souza, 2002Souza, G. T. (2002). Introdução à Teoria do Enunciado Concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medvedev. São Paulo: Humanitas.), foi caracterizado neste trabalho pela valência da marginalidade e pelo imperativo comunicacional, inserido nas fronteiras e deslocamentos de suas inscrições. São práticas discursivas inscritas na cidade, mas que incluem também os espaços e tecnologias digitais (internet, blogs, redes sociais) (Mondino, 2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.; Silva, 2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ).

Esta pesquisa, portanto, fundamentou-se na hipótese de que estas experiências de mulheres, ou das pessoas que (contra) dizem e resistem às normas de gênero e sexualidade, e que fazem grafite, arte pública ou urbana, contribuem para uma compreensão da condição humana no contexto contemporâneo das cidades, ressaltando-se nelas o nomadismo dos processos de subjetivação (Braidotti, 1994Braidotti, R. (1994). Nomadic subjects: embodiment and sexual difference in contemporary feminist theory. New York, NY: Columbia University Press.) e de desejo de resistência, quando analisadas as suas produções discursivas.

Assim, o que se pretendeu neste estudo, no que se refere à análise dialógica/polifônica das práticas discursivas, não foi se restringir às palavras e frases ou aos significados ou significações que elas possuem, mas visar à compreensão também das relações de poder que perpassam os discursos e suas condições de produção na paisagem urbana.

Para alcançar o objetivo geral de analisar a comunicação discurso de grafites urbanos, foram produzidos mapas com geolocalizações dos grafites presentes em prédios, monumentos históricos, placas e muros de 4 (quatro) bairros da cidade de Roma e, em seguida, foram analisadas as práticas discursivas dos grafites geolocalizados como enunciados concretos.

Quando se abordam os grafites urbanos ou outras intervenções, das mulheres, ou dos corpos e desejos daquilo que chamam de sexualidade "dissidentes" nas normas (Miskolci, 2012Miskolci, R. (2012). Teoria queer: uma prendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica.), trata-se de experiências que transgridem e ocupam o espaço fincado pela bandeira da masculinidade hegemônica - o espaço público por excelência -, e tentam construir outros corpos no espaço urbano, desafiando as noções geográficas de centro/periferia ou noções do público/privado. Assim, o que se ressalta neste estudo é a relevância de pesquisas que possam ler a cidade por meio da produção discursiva de grafites realizados por mulheres e/ou sobre mulheres, gênero e sexualidade, visto que desafiam e produzem a paisagem urbana cotidianamente.

Grafite: histórico e definições

De acordo com definição de Silva (2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ), os grafites são inscrições urbanas em “muros”. A palavra “muro” está colocada pelo autor no sentido do latim - murus -, definido como o limite de uma cidade ou do lugar que é circunscrito por um limite.

O “muro”, nesta definição, se refere ainda a algo mais amplo, que o faz entender como o nome dado a todas as superfícies dos objetos da cidade física, mas também aos “muros midiáticos” e virtuais, como lugares de limites e fronteiras. Esses “muros midiáticos” são eventuais espaços de inscrição e representação de grafites. Por essa razão, redes sociais, blogs e sites da internet são utilizados para publicações e inscrições digitais de uma forma-grafite, tornando-se também fontes de consultas, estudos e pesquisas.

Essa definição e entendimento sobre o grafite corrobora com as definições encontradas nos estudos realizados na Itália, que, apesar de utilizarem mais frequentemente o termo "Street Art”, "Writting" ou mesmo “Arte Urbana” em suas pesquisas, seguem a mesma linha de descrição e compreensão (Arnaldi, 2014Arnaldi, V. (2014). Chi è Banksy? Roma: Mondo Bizzarro Press.; Brighenti & Reghellin, 2007Brighenti, A. & Reghellin, M. (2007). Writing. Etnografia di una pratica interstiziale, Polis, 21(3), 369-398. ; Cegna, 2018Cegna, A. (2018). Elogio alle tag. Arte. Witting, decoro e spazio pubblico. Milano, IT: Agenzia.; Cucchiarelli, 2017Cucchiarelli, C. (2017). Quello che muri dicono. Guida ragionata alla street art della capitale. Roma: Iacobelli.; Dal Lago & Giordano, 2016Dal Lago, A. & Giordano, S. (2016). Graffiti - arte e ordine publica. Bologna, IT: Il Mulino.; Lucchetti, 1999Lucchetti, D. (1999). Writing: storia, linguaggi, significati, tecniche e protagonisti in Italia. Milão, ITA: Castelvecchi.; Mania, Petrilli, & Cristallini, 2017Mania, P., Petrilli, R., & Cristallini, E. (2017). Arte sui muri della città -strret art e Urban Art: questioni aperte. Roma: Roud Robin.; Mininno, 2008Mininno, A. (2008). Graffiti Writing. Origini, Significati, Tecniche e Protagonisti in Italia. Milano, IT: Mondadori Electa.; Mondino, 2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.).

A palavra grafite tem como origem o italiano graffito que significa "rabisco", "ranhura", cujo plural é graffiti. Graffito também pode remeter à palavra “grafia”, o ato ou ação de escrever. Neste trabalho, porém, foi utilizado o nome na língua portuguesa - grafite (singular) e grafites (plural) -, seguindo também a recomendação de Silva (2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ).

O grafismo tem a intenção de registro gráfico em algum objeto físico e seu produto é o grafite. Não é por acaso que muitas/os que fazem grafites urbanos são (auto)denominados de escritoras/es de grafite (ou writers). Pode-se dizer, segundo historiadores/as, que o grafite seja o registro gráfico mais antigo da humanidade, encontrado desde as inscrições nas cavernas feitas na pré-história.

Além destas inscrições pré-históricas, há estudos que revelaram vestígios de imagens diversas desenhadas em paredes nas cidades de Pompei e Ercolano, na Itália, durante a antiguidade clássica, tendo conteúdo tanto político como de cunho sexual, mas também de gênero com representações do masculino e feminino (Benefiel, 2017Benefiel, R. R., Sypniewski, H., Helms, K., & Zimmermann, D. E. (2017). "Regio I - Latium et Campania: Fascicolo III -Pompeii et Herculaneum: Graffiti." TItalia Epigrafica Digitale, II(3), 1-856. Recuperado de https://scholarship.richmond.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1022&context=classicalstudies-faculty-publications
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; Feitosa, 2005Feitosa, L. C. (2005). Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Annablume; Fapesp.; Funari, 1998Funari, P. P. A. (1998). Cultura popular na antiguidade clássica. São Paulo: Contexto .; Macêdo, 2015Macêdo E. S. (2015). Leitura de imagem, dialogismo e graffiti: contribuições para o ensino da arte.Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito, Vitória, ES.; Ramos, 1994Ramos, C. M. A. (1994). Grafite, pichação & Cia. São Paulo: Annablume .; Varone, 1994Varone, A. (1994). Erotica Pompeiana. Iscrizioni d’amore sui muri di Pompei, Studia archaeologica, 71. Rome: L’Erma di Bretschneider. , 1999Varone, A. (1999). Le iscrizioni parietali Pompeiane indagini preliminari effettuate in vista della redazione di un nuovo fascicolo e degli indici computerizzati di CIL, IV. In XI Congresso Internazionale di Epigrafia Greca e Latina (pp. 609-616). Rome: Quasar. Recuperado de https://www.academia.edu/37675970/Le_iscrizioni_parietarie_pompeiane._Indagini_preliminari_effettuate_in_vista_della_redazione_di_un_nuovo_fascicolo_e_degli_indici_computerizzati_di_CIL_IV_in_Preatti_XI_Congr._Intern._di_Epigrafia_Greca_e_Latina_Roma_1997_pp._581-586_Atti_II_Roma_1999_pp._609-616_
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), o que aproxima estas inscrições daquilo que entendemos hoje como grafite.

Assim, como os estudos e pesquisas consultados, entende-se, pela análise de Baudrillard (1979 Baudrillard, J. (1979). “Kool Killer ou insurreição pelos signos.” Revista Cinema/Cine Olho, 5, 315-334. Recuperado de https://issuu.com/rizoma.net/docs/artefato
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), que a prática do grafite faz insurreição ou irrupção no urbano de signos que jogam com a arquitetura e a reciclam no imaginário, conservando e respeitando o seu suporte técnico e sua estrutura monumental.Os/as escritores/as de grafite fazem sua intervenção na cena urbana e arquitetônica, quando saem de guetos e regiões socioeconomicamente excluídas, e mesmo de seus grupos marcados pelas questões de gênero, sexuais e geracionais, atuam nos seus centros financeiros, históricos e políticos, mas não os destroem e, sim, os desvelam e os ressignificam em suas práticas discursivas.

Segundo Silva (2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ), o grafite é uma inscrição urbana que inclui textos degradados (contracartaz, manchas e borrões, pichações etc.), arte pública e intervenções em objetos urbanos, informações, manifestos e afresco mural, mas que não são recreativos ou para divertimentos, menos ainda cartazes e outdoors, anúncios e meios publicitários. O grafite se constrói sobre uma valorização negativa, própria de sua inerente proibição, marginalidade e espontaneidade.

Conclui-se também, destes estudos, que a cidade se produz em um traçado arquitetônico, com muros que demarcam e delimitam territórios, o dentro e o fora, o que pode ser integrado e o que deve ser excluído, permitido e proibido, o que é da elite e o que é marginal (Ramos, 1994Ramos, C. M. A. (1994). Grafite, pichação & Cia. São Paulo: Annablume .); ao mesmo tempo, é o espaço da indiferença e das disputas das diferenças (Baudrillard, 1979 Baudrillard, J. (1979). “Kool Killer ou insurreição pelos signos.” Revista Cinema/Cine Olho, 5, 315-334. Recuperado de https://issuu.com/rizoma.net/docs/artefato
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), das tensões e reivindicações de seus habitantes. Assim, os grafites possuem a dimensão “simbólica, paradigmática, sintagmática do urbano como espaço e tempo dos códigos da mídia, da cultura de seus habitantes” (Ramos, 1994, p. 33).

Metodologia

Realizou-se, durante o período de agosto a dezembro de 2018, a geolocalização (ou georreferenciamento) de grafites que foram inscritos na cena urbana (prédios, monumentos históricos, placas e muros) de quatro bairros da cidade de Roma com temáticas sobre mulheres, feminismos, gênero e sexualidade, mas não restritas a elas. Esta geolocalização se fundamentou no posicionamento de uma inscrição de grafite segundo um sistema de coordenadas geográficas com o objetivo de produzir informações para a realização das análises.

Foi utilizado, para a geolocalização, o programa Google My Maps. Esse é um serviço gratuito desenvolvido pela Google que tem o objetivo de criação de mapas, bem como o compartilhamento deles com outras/os usuários/as. Com o recurso do Google My Maps, foram realizadas as seguintes etapas da pesquisa:

  1. 1.

    Criação de mapas no aplicativo MyMaps onde foram realçados bairros do centro urbano de Roma para geolocalização dos grafites em prédios, monumentos históricos, placas e muros, com delimitação de quatro zonas de estudos: (a) Trastevere; (b) San Lorenzo;(c) Pigneto e (d) Tor Marancia. Esses bairros foram selecionados por se localizarem em zonas centrais e de destaque histórico-político-social e turístico da cidade e, o último deles, o bairro residencial Tor Marancia, também por abrigar um "museu a céu aberto" de “street art”, sendo referência nos estudos de revitalização de bairros e prédios com uso da arte urbana.

  2. 2.

    Fotografias dos grafites, considerando, portanto, o contexto de produção dialógico, incluindo as redes sociais. Foram realizadas constantes visitas a esses bairros para acompanhar as mudanças, apagamentos e as novas inserções dos grafites nos locais pesquisados e fotografados. Participou-se de eventos e manifestações ocorridas nesses bairros, vivenciando a dinâmica desses territórios. Para este estudo, foram privilegiados os grafites realizados em espaços abertos, ou seja, aqueles que podem ser visualizados publicamente nas ruas, praças públicas, paredes, portões, pontes, edifícios públicos e privados, suportes naturais (árvores, pedras), monumentos etc., com algum grau de anonimato e espontaneidade (ou seja, que não foram encomendados por corporações e empresas), individuais ou em grupos, realizados com todas as diversidades de recursos disponíveis, sem restrições.

  3. 3.

    Geolocalização no mapa do Google My Maps de 300 pontos de grafites e 30 pontos de referência no bairro de Trastevere; 100 pontos de grafites e 10 pontos de referências em San Lorenzo; 52 pontos de grafites e 6 pontos de referência em Pigneto; 20 pontos de grafites e 2 pontos de referências em Tor Marancia.

  4. 4.

    Pesquisa da história urbanística-arquitetônica dos bairros analisados.

  5. 5.

    Observação e conversas com grupos, coletivos e centros feministas e LGBTT de Roma que foram identificados e que puderam dialogar com as produções de grafite que foram analisados para a compreensão da pauta e demandas destas comunidades. Para esta etapa, foi criada uma conta da rede social Instagram chamada _Polifonia, pública e não comercial, para facilitar identificação e contato com escritores e artistas locais de grafite. Nessa conta, algumas fotografias de grafites tiradas durante o trabalho de campo eram postadas e divulgadas e, a partir delas, as autoras e autores dos grafites eram identificadas por usuários, colegas ou por elas e eles próprias/os, o que é uma prática comum entre os artistas e admiradores de grafites ou StreetArt nas rede sociais atualmente (Mondino, 2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.).

As imagens geolocalizadas tiveram descrições sobre contexto social e histórico e de autoria, sempre que foram possíveis, incluindo as impressões da/o pesquisadora/o e de outros/as interlocutores do ponto de vista expressivo e conceitual.

Estas imagens de grafites, como enunciados concretos, foram objeto de análise na perspectiva dialógica de Mikahil Bakhtim e seu Círculo, com base nas obras de Brait (1996Brait, B. (1996). Ironia em perspectiva polifônica. Campinas, SP: UNICAMP.), Souza (2002Souza, G. T. (2002). Introdução à Teoria do Enunciado Concreto do Círculo Bakhtin/Volochinov/Medvedev. São Paulo: Humanitas.) e Amorim (2004Amorim, M. (2004) O pesquisador e seu outro. Bakhtin e as ciências humanas. São Paulo: Musa.).

Enunciado concreto é um processo interativo entre o verbal e o extra-verbal presentes em uma dada situação e um contexto histórico, que se constitui de três fatores: (a) horizonte espacial comum dos interlocutores; (b) conhecimento e compreensão comum da situação por parte dos interlocutores; (c) a avaliação comum dessa situação. É um processo, portanto, de interação social entre participantes da enunciação, isto é, um enunciado dirige-se a alguém, está voltado a um destinatário, que pode ser um destinatário concreto definido, com vários perfis e dimensões, ou também um destinatário presumido (Brait & de Melo, 2005Brait, B. & De Melo, R. (2018). Enunciado/enunciado concreto/enunciação. In B. Brait (Org.), Bakhtin:conceitos-chave (pp. 61-78). São Paulo: Contexto.). No caso aqui, o grafite é um enunciado concreto verbo-visual.

O período de análise foi de setembro de 2018 a janeiro de 2019, portanto, sendo realizado de modo constante, concomitante à coleta das fotografias e processual à medida em que os grafites eram geolocalizados.

As análises das práticas discursivas dos grafites seguiram os seguintes momentos: (a) descrição da compreensão da unidade temática produzida; (b) descrição interpretativa de profundidade que pretendeu ampliar o contexto da análise do enunciado-grafite; e (c) compreensão ativo-dialógica que, por fim, visou a estabelecer relações dos conceitos presentes no texto com outros contextos.

Embora estejam colocadas como etapas distintas, cada etapa do processo analítico se deu em movimento dialético e dialógico de modo que se permitiu pensar as contradições da realidade discursivamente comunicada e compreendê-las em permanente transformação. Os resultados analisados foram discutidos em uma perspectiva feminista neomaterialista, bem como com referências psicossociais, históricas, políticas, urbanísticas e arquitetônicas.

Resultados e discussão

De acordo com o que foi exposto brevemente, define-se como grafite qualquer arte, ou inscrição urbana ou grafemas em muros, construções e prédios, ou intervenção artística, ou performance que se desenvolve na rua, ou seja, nos espaços públicos. O termo inclui técnicas como estêncil, sticker ou adesivos, pôsteres, pinturas e desenhos, intervenções artísticas, dentre outros (Carlsson, 2015Carlsson, B. (2015). Street art: técnicas e materiais para arte urbana. São Paulo: Gustavo Gili.; Silva, 2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ).

Foram registrados nesta pesquisa grafites em portas, janelas, meios de transporte e carros de limpeza, fachadas de casas residenciais e prédios públicos, em postes e placas. Nota-se, nesses bairros, que na composição da paisagem urbana (Settis, 2017Settis, S. (2017). Architettura e democrazia. Paesaggio, città e diritti civili. Torino, IT: Giulio Eunadi,) os rabiscos, desenhos, adesivos ou stickers, estêncil, tags, são elementos que a compõem juntamente com prédios históricos, igrejas e praças, parques, restaurantes e hotéis, lojas e museus, moradores, trabalhadores e turistas. Alguns destes grafites são objetos de interesse dos transeuntes que param, olham e os fotografam, como um “monumento" vivo da cidade, do mesmo modo que outros monumentos oficiais. E, ainda, como observado no chamado “museu a céu aberto de Tor Marancia” (Fig.1), é um ponto de encontro de turistas, admiradores da Street Art, arquitetos e urbanistas, que veem como um espaço de contemplação e estudo das potencialidades da arte urbana para a revitalização de bairros e territórios abandonados ou precários, ainda que com uma profunda controvérsia sobre sua eficácia, que requer análises mais aprofundadas.

Figura 1

Outro exemplo é situado em uma das pequenas ruas no bairro de Pigneto (Fig.2) com um grafite do famoso artista Maupal em homenagem a Pier Paolo Pasolini (cineasta italiano), realizado na rua onde foi filmado Accanto, um de seus filmes. Frequentemente, pessoas são vistas fotografando e fotografando-se com a imagem desse grafite. E nesse microterritório, sob os olhos de Pasolini, temas como sexualidade e homossexualidade, política e crítica às normas sociais e ao fascismo se encontram, visto que são temas de seus filmes, mas também de sua própria vida, encerrada ao ser assassinado em novembro de 1975. Esse é um bairro com uma história operária e de lutas da esquerda e ainda hoje uma referência para encontros de intelectuais, artistas, estudantes e militantes de esquerda, com presença visível da comunidade LGBT.

Figura 2

Diferentemente dos grafites analisados (Fig. 1 e Fig. 2), que foram autorizados e não anônimos, o que parece enfraquecer a potência transgressiva da prática de produção de grafites, destaca-se o mural encontrado (Fig. 3) próximo à praça da Igreja de Santa Maria de Trastevere, principal ponto turístico do bairro. Situado na Via della Lungaretta, este mural é local de observação, fruição e fotografias de turistas e moradores do bairro, já que a cada momento uma nova intervenção de grafite é realizada, compondo uma polifonia de temas, imagens, técnicas, cores, e, ao mesmo tempo, revelando desgastes e novidades.

Observa-se, a partir de imagens em blogs e contas de redes sociais, como por exemplo, a _Polifonia, que é também um lócus de encontro das que fazem e dos que fazem grafites, não apenas de Roma, mas de toda a Itália e de outros países. Não é por acaso que a artista feminista C_Ska, que fez o comentário na postagem da conta _Polifonia, é de Florença, e tem seus trabalhos de pôsteres e lambe-lambe em vários locais de Roma, chama este mural de “nosso grande mural” (our big wall). A artista traz, neste comentário, o discurso da apropriação de um microterritório em uma das vias mais históricas, culturais e turísticas do bairro.

Figura 3

Desse modo, como encontrado em outros muros e fachadas dos bairros pesquisados, demonstra-se que tais intervenções como dos grafites da Figura 3 se apresentam como mais ou menos compostas das seguintes valências: a marginalidade, o anonimato, a espontaneidade, a cenaridade, a velocidade, a precariedade e a fugacidade (Silva, 2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ). A cada visita na mesma rua, um novo adesivo ou escrito, estêncil ou pôsteres eram colocados ou apagados, rasgados ou escondidos embaixo de outros grafites.

No entanto, com as mídias sociais, a questão do anonimato é colocada em suspenso. Neste espaço das redes socais e blogs e sites, as autorias se revelam, podendo se identificar as autoras e autores destes interventos, quando elas e eles mesmas/as se marcam ou marcam colegas nas postagens. Parece haver, junto com isso, um interesse de permanência que também coloca a fugacidade das obras sob a necessidade da memória e da permanência no tempo.

Seguindo a premissa de desejo de memória e permanência, manifestas das redes sociais pesquisadas, revela-se também uma rede de solidariedade e apoio entre os artistas e escritores de grafites, produzindo encontros e acontecimentos, que os levam a fazerem estas intervenções coletivamente. Estas intervenções são frequentemente registradas em fotografias e vídeos postados em suas contas.

Do mesmo modo como já apontado por Silva (2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ), como se pode observar na paisagem urbana de Roma, em especial nos bairros pesquisados, o grafite é uma inscrição urbana que pode incluir tanto textos degradados (contracartaz, manchas e borrões etc.), como arte pública e intervenções em objetos urbanos, informações, manifestos e afresco mural. O grafite é, portanto, entendido como unidade de enunciado concreto constituído por relações dialógicas e, portanto, é uma construção composicional que realiza uma organização do material semiótico (verbal, visual, sonoro etc.) em um todo, onde as partes dirigem-se a um objetivo específico (Grillo, 2012Grillo, S. V. De C. (2012). Fundamentos bakhtinianos para a análise de enunciados verbo-visuais. Filolologia e Linguística Portuguesa, 14(2), 235-424.).

Diante dos resultados encontrados, há um diálogo com a iconografia e culturas da cidade, há uma bricolagem e hibridismo (natureza, cultura e tecnologia), onde as figuras humanas e animais, fantasmagóricas, estão presentes. Elas imprimem, na cidade, elementos oníricos e de fantasias em um centro histórico decadente e abandonado (Figura 3), mas também apropriado pelo consumo, turismo e poder (Figura 1). É o inconsciente da cidade (Mondino, 2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.), o desejo de resistência.

Desse modo, como constituídos por relações dialógicas, entende-se que o grafite é tanto uma organização do material verbo-visual (o conceito, a palavra, os traçados, a imagem e a técnica) em sua construção composicional como também uma materialização ou concretização do projeto discursivo de quem o produz. Com base na dialogia ou polifonia na abordagem bakhtiniana, o grafite inscrito na cidade é resultado da interação social entre o/a escritor/a do grafite, a pessoa que lê/vê o escrito na cena urbana e o tema de que trata o grafite. Assim, o grafite é analisado em sua polifonia ou dialogia em sua dimensão sócio-histórica. É polifonia porque o grafite como um enunciado concreto tem nele presença das várias vozes que participam do processo dialógico.

Diante do que foi exposto, e seguindo o estudo de Gándara (2005Gándara, L. (2005). Graffiti. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires.), afirma-se que a análise do grafite não deve se limitar ao material linguístico, mas deve ter como objeto, além de seu conteúdo e forma verbal, as imagens visuais, o trabalho significativo do suporte e material de escritura, o uso do espaço e as suas relações proxêmicas. Portanto, nesta perspectiva de análise dialógica, todo o contexto territorial, sua geolocalização e as relações sociais e históricas que envolvem o grafite devem ser analisados, além dos seus aspectos verbo-visuais específicos. Isso quer dizer que deve se levar em conta os diversos níveis de produção e interpretação do sentido do grafite enquanto enunciado concreto.

Desse ponto de vista, os grafites são analisados nos detalhamentos de sua composição, de seu estilo, de seu tema discursivo e sua expressividade dentro de suas esferas de produção, circulação e recepção, ou seja, considerando suas “influências extratextuais”. Conforme aponta Almeida (2012Almeida, J. (2012). Textualidades contemporâneas. Palavra, imagem e cultura. Vitória: Edufes.), o que se desvela nestas análises dos bairros é a diversidade da linguagem urbana na semiotização do espaço público pelo grafite, pelas produções de grafites produzidos por mulheres ou que sejam compostos pelos temas de gênero e sexualidade.

Assim, o discurso verbo-visual dos grafites estudados nos contextos específicos apresentados, mostra-se como um inacabamento próprio do grafite que o torna uma produção aberta, em tensão, sujeita a modificações ocasionadas pelo próprio movimento da cidade, das mudanças climáticas e da atuação de outros sujeitos que interferem na sua imagem, corroborando a análise de Macêdo (2015Macêdo E. S. (2015). Leitura de imagem, dialogismo e graffiti: contribuições para o ensino da arte.Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito, Vitória, ES.). É esta propriedade do grafite que o faz efêmero, mas que, simultaneamente, o configura como elemento repetível, reconhecível e transmissível, quando também registrados, postados e comentados nas redes sociais.

Além disso, vários adesivos, desenhos, pôsteres e estêncil com temas de gênero e sexualidade se repetem na paisagem urbana de Roma. Esses grafites podem ser compreendidos como marcas ou assinaturas de artistas que se espalham pelos bairros da cidade, assim como também são encontradas nos lugares menos esperados, como placas de metrô, janelas, cabines telefônicas etc. Os grafites com temas de gênero e sexualidade analisados trazem, portanto, este elemento de sua reprodutibilidade e circulação, como também de criação de microterritórios de coletivos e de resistência daquelas e daqueles que vivem a cidade e dialogam com ela, mas que frequentemente são dela excluídos e para ela invisíveis. Como pode ser visto em alguns adesivos (stickers) do mural da Figura 3.

É nesta possibilidade de criação que as mulheres que fazem grafite em Roma se organizam, criam uma rede de apoio, produzem juntas e compõem seus discursos coletivos e pessoais sobre e para o espaço público. Ressaltam-se as intervenções de duas artistas jovens (Fig. 4), atuantes na cidade, que têm suas produções frequentemente postadas juntas em diversos pontos dos bairros pesquisados. Essas produções versam sobre temas que falam de afetos, amor, relacionamentos e também temas políticos, como a xenofobia, racismo, machismo e homofobia, como podem ser constatadas no evento “No Hate: Vivi e Lascia Vivere” em que participaram inclusive da organização, e que aconteceu em fevereiro de 2019 em Roma, reunindo diversos artistas para exporem suas obras de street art com a temática do ódio na sociedade, em referência também ao momento político na Itália e no mundo.

Figura 4

Pode-se observar também que no Bairro de San Lorenzo encontra-se uma obra (Fig. 5) que a artista Elisa Caracciolo produziu contra o feminicídio, durante o Dia Internacional de combate à Violência contra a Mulher em 2012. A obra está em um muro ao longo da Via degli Enotri e Via dei Sardi e é composta por desenhos de 107 mulheres, de mãos dadas, com vestidos brancos, em memória das vítimas de feminicídio na Itália. Em cada desenho há o primeiro nome de cada mulher e o modo como foram mortas. Essa obra também representa um modo frequente de articulação entre as artistas de grafite ou street art e os movimentos sociais feministas, o que a faz, sob certa perspectiva, uma obra coletiva. Vale ressaltar que San Lorenzo é um bairro histórico pela luta democrática e de resistência antifascista em Roma, uma zona popular, operária e universitária da cidade, onde se situam L'Associazione Nazionale Partigiani, diversos coletivos feministas e da diversidade sexual.

Figura 5

Como se observou nos grafites analisados, as temáticas desenvolvidas articulam polifonicamente, de modo indissociável, experiências vividas individuais e temas coletivos e político-sociais da e na cidade - assim como no país e no mundo - relacionados aos direitos humanos e sexuais-afetivos.

A partir das análises dos grafites, o que se identifica são espaços na cidade onde a disputa pela afirmação, validação ou legitimação da voz política é um dos aspectos mais proeminentes de lutas desses grupos. Entendendo o grafite como o enunciado concreto, o que produz são ocupações de “lugar de fala” como uma ação própria de enfrentamento do poder tradicional, ocidental e hegemônico, marcadamente branco, masculino, judaico-cristão, economicamente privilegiado e hetero/cisnormativo. Tem se identificado, portanto, diversas estratégias desses grupos de contradizer o discurso hegemônico, de ódio, marcado pelas estereotipias (Gatti & Mendonça, 2018Gatti, M. & Mendonça, V. M. (2018). O estereótipo e a necessidade de (contra)dizerem tempos de conservadorismo político-religioso. Laplage em Revista, 4(1), 81-91.); o grafite parece ser uma destas.

Assim, os grafites urbanos ou outras intervenções das mulheres ou dos corpos e desejos e sexualidades "dissidentes" nas normas parecem tratar de experiências que não se encontram isoladas, mas dialogicamente inseridas em contingências, acontecimentos, relações com a outridade, com a cultura, a raça/etnia, com os aspectos socioeconômicos, afetivos, etários, ideológicos, cognitivos. São experiências que transgridem e ocupam o espaço fincado pela bandeira da masculinidade hegemônico - o espaço público por excelência -, e tentam construir outros corpos no espaço urbano, desafiando as noções geográficas de centro/periferia ou noções do público/privado (o pessoal, o privado é político). É um discurso produzido de apropriação de (micro)territórios tal qual a artista feminista produz quando chama de “nosso grande mural” (“ourbigwall") a composição de grafites da Figura 3 e do projeto evento “No Hate: Vivi e Lascia Vivere” das autoras do grafite da Figura 4.

Há, portanto, nestas produções de grafites de mulheres um embate sobre si, não como um núcleo estático, estruturado e cristalizado naturalmente, mas como possibilidade estratégica de reivindicar um lugar no mundo, ser reconhecida como ser que se expressa, cria, vivencia seus sentidos, modula sua própria voz e reivindica direitos. Marcam presença nas ruas, pelas cores, imagens e palavras, que são grafitadas nos muros, na arquitetura, na cena urbana, e que revelam a elas próprias no transitar pelo espaço público, afirmando uma existência vivida, material-discursivamente experienciada.

Há, nos grafite analisados, corroborando com Silva (2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ), uma “escritura desenhada coletivamente”, visto que o que se tem é um enunciador coletivo, uma multiplicidade de vozes, uma polifonia no sentido Bakhtiniano, que se sobrepõem na cena urbana e que permitem leituras de segmentos do imaginário social através da análise das práticas discursivas.

O que se encontrou nestes resultados foi a híbridização do espaço e o grafite como um discurso efêmero, mas arquivado (fotografias, blogs, redes sociais), o que permite a sua permanência. A fotografia apreende o grafite, registra o seu aparecer e o seu desaparecer, e o faz reaparecer por meio dela. É um discurso intertextual, interdiscursivo, intermediático, como o descreveu Mondino (2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.). Desse modo, os discursos contra-hegemônicos de gênero e sexualidade dos grafites, de algum modo, extrapolam a efemeridade de suas produções in loco e, assim, permanecem nos chamados “muros midiáticos” (Silva, 2014Silva, A. (2014). Atmosferas Urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. São Paulo: Edições SESC São Paulo. ) em redes sociais, mantendo a sua interminável eloquência polifônica nos arquivos digitais.

Aqui, porém, pode-se falar do discurso do grafite, mas também o discurso sobre o grafite. Ambos os discursos se influenciam mutuamente na sua contínua construção e redefinição (Mondino, 2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.). Desse modo está-se diante de um fenômeno que pode ser explicado pela semiótica do espaço, ou melhor, pelo estudo semiótico sobre o espaço e a espacialidade. Assim, há uma análise que se dá entre a cidade projetada, uma análise do cotidiano e do modo de fruir da cidade, que se relaciona com sua própria enunciação; e há a cidade vivida, com suas práticas individuais e coletivas, que são microtáticas que a leem e a reescrevem continuamente; ou ainda pode-se compreendê-la como uma composição de microterritorialidade (Pino da Costa, 2012Pino da Costa, B. (2012). As microterritorialidades das cidades: reflexões sobre as convivências homoafetivas e/ou homoeróticas. Terra Plural, 6(2), 257-271.), também apropriada por grupos contra-hegemônicos feministas, de mulheres, gênero e sexualidade. É bom ressaltar, no entanto, que a cidade reescrita está também nas redes sociais, nas fotografias, nos blogs, como, por exemplo, no Google street art project.

Nesse sentido, o grafite é entendido não apenas pela sua importância do ponto de vista estético ou histórico-artístico, mas também como tática de reapropriação dos espaços de grupos excluídos da cena urbana, tantas vezes silenciados e invisibilizados, como as mulheres e pessoas LGBT, revelando as relações entre a prática de fazer grafite e a política urbana. É, ainda, uma escritura que pode ser de protesto (Ferrara, Mondino, & Stano, 2013Ferrara, L., Mondino, M., & Stano, S. (2013). I graffiti della protesta. Street art, barriere artificiali e forme di espressione del dissenso, Lexia, 13-14. 161-205.) e que impõe ao território urbano a escrita ou assinatura de indivíduos e grupos mais diversos da sociedade, através de letras, frases, adesivos ou stickers, estêncil, pôsteres etc. Ou seja, é a (re)apropriação do espaço que faz a cidade ser vivida pelos seus cidadãos, ser pensada e repensada em sua estrutura, colocando em questão um debate entre paisagem urbana, arquitetura, urbanismo e democracia (Dal Lago & Giordano, 2016Dal Lago, A. & Giordano, S. (2016). Graffiti - arte e ordine publica. Bologna, IT: Il Mulino.; Mania, Petrilli, & Cristallini, 2017Mania, P., Petrilli, R., & Cristallini, E. (2017). Arte sui muri della città -strret art e Urban Art: questioni aperte. Roma: Roud Robin.; Settis, 2017Settis, S. (2017). Architettura e democrazia. Paesaggio, città e diritti civili. Torino, IT: Giulio Eunadi,).

Considerações finais

No trabalho de campo realizado e diante dos resultados encontrados pode-se compreender que os grafites sobre mulheres, feminismos, gênero e sexualidade constituem discursos que se constroem através de uma prática urbana precisa que se revela múltipla e com diversos atores, anônimos ou não. Podem também ser práticas de protesto e de crítica social, bem como práticas artísticas e de busca estética.

O grafite é uma “arte de fronteira”, ou melhor, é uma prática de fronteira, que se coloca na margem geográfica e na hibridização (cultura/natureza/tecnologia). Portanto, os grafites sobre mulheres, feminismos, gênero e sexualidade analisados estão nos muros, nas ruas, nas vias da cidades, mas se encontram também em exposição nas mídias sociais (blogs e redes sociais), fortalecendo suas produções como uma prática de fronteira e intersticial (Alinovi, 1982Alinovi, F. (1982). Arte di frontier. Flash Art, 107, 22-26. ; Brighenti & Righellin, 2007Brighenti, A. & Reghellin, M. (2007). Writing. Etnografia di una pratica interstiziale, Polis, 21(3), 369-398. ).

Há, ainda, uma espacialidade na linguagem produzida pelos grafites analisados, expressando o que Mondino (2016Mondino, M. (2016). Street art, spazi, media: pratiche di riscrittura urbana (Tesi-dottorato). Dottorato di ricerca internazionale in Studi Culturali Europe, Università degli studi di Palermo, IT.) denomina de “virada espacial”. Essa espacialidade significa que se revela o eu e o outro como classificações espaciais (ou territoriais). A autodescrição e a descrição do outro são entendidos, portanto, em sua configuração topológica, ou aquilo que se pode chamar, de modo geral, de “lugar de fala” de corpos/gênero/sexo/pele/região. Assim, adentra-se em uma perspectiva de produção de discursos e subjetividade nômades, que, em uma abordagem feminista e neomaterialista, conduz a uma política de localização em microterritorialidades de coletivo de mulheres e discursos contra-hegemônicos construídos na paisagem urbana.

Para compreender esse processo, as análises seguiram os pressupostos de Braidotti (1994Braidotti, R. (1994). Nomadic subjects: embodiment and sexual difference in contemporary feminist theory. New York, NY: Columbia University Press.), adentrando em sua metáfora, ou figuração, do que ela denomina de “subjetividade nômade”, inspirada, sobretudo, pelo pensamento feminista e neomaterialista. Braidotti (1994Braidotti, R. (1994). Nomadic subjects: embodiment and sexual difference in contemporary feminist theory. New York, NY: Columbia University Press., 2014Braidotti, R. (2014). Il Postumano - La vita oltre l´individuo, oltre la specie, oltre la morte. Roma: Polity Press.) sugere o surgimento das identidades/sujeitos em um estado constante de devir, um devir nômade. Essa prática é descrita como um "reassentamento estratégico", fundamentado em atividades intencionais e na experiência vivida, que tem como objetivo o resgate de experiências vividas e das memórias a contrapelo, que são necessárias para a construção de caminhos e atalhos de transformação de vidas no aqui e agora. Neste caso, caracteriza-se como um processo de afirmação de fronteiras fluidas, uma prática de intervalos, de interfaces e de interstícios, de contradições e de hibridização, o que materialmente se revela, na prática do grafite, por meio de grupos, redes de solidariedade nos espaços públicos e mesmo nas mídias sociais, na composição de marcas, assinaturas e discursos na paisagem urbana, dizendo e (contra)dizendo o discurso hegemônico da cidade ou até mesmo o reproduzindo.

Nesse sentido, na reivindicação de independência e de desobediência, há uma manifestação de liberdade criativa no interior do espaço urbano nos grafites analisados. Daí a necessidade de dialogar novamente com o estudo de Baudrillard (1979 Baudrillard, J. (1979). “Kool Killer ou insurreição pelos signos.” Revista Cinema/Cine Olho, 5, 315-334. Recuperado de https://issuu.com/rizoma.net/docs/artefato
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). Os grafites jogam com a arquitetura, com suas relações de poder e seus símbolos, e desafiam as vozes hegemônicas muitas vezes, mas nem sempre infringem as regras da estrutura arquitetônica onde são realizados.

Dos resultados encontrados, portanto, enunciam-se uma rede de solidariedade e apoio entre escritoras/es de grafite e artistas, de modo geral, e a relevante apropriação do espaço público-urbano pelas mulheres por meio dessa prática, em específico, como podem ser verificadas as produções das Fig. 3, Fig. 4 e Fig. 5.Constrói-se, desse modo, certa memória social e urbana de suas vidas, memórias estas que são tantas vezes silenciadas na história oficial (Carneiro, 2011Carneiro, S. (2011). Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro.; Davis, 2016Davis, A. (2016). Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo.; Hooks, 1995Hooks, B. (1995). Intelectuais Negras. Estudos feministas, 3(2), 464-478.; Perrot, 1989Perrot, M. (1989). Práticas da memória feminina. Revista Brasileira de História, 9(8), 9-18.; Pollak, 1989Pollak, M. (1989). Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, 2(3), 3-15.; Silva, 2013Silva, A. S. (2013). Por um Lugar ao Sol: construindo a memória política da homossexualidade (ou Homossexualidade: uma história dos vencidos?!). Revista Bagoas, 6(8), 77-102.).

Conclui-se, a partir desta apresentação sintética dos elementos de análises, que a prática de inscrever grafites na paisagem urbana, como pinturas, desenhos, pichações, lambe-lambe, adesivos e estêncil, permite a compreensão dos discursos sobre a diversidade cultural de gênero e sexualidade que abriga os centros urbanos, a relação afetiva e política das mulheres com a cidade, bem como, a compreensão da produção de suas (micro)territorialidades. Aponta-se, também para a necessidade de outras investigações e diálogos dos resultados encontrados e análises em outros centros urbanos e/ou históricos.

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    Foram realizados levantamentos bibliográficos no Brasil e na Itália. Para estratégia de busca foram utilizados os seguintes termos: graffiti; grafite; streetart; pichação; e gênero; feminismo (s); sexualidade (s); LGBT, e suas respectivas traduções para as línguas italiana e inglesa. No caso da Itália, o levantamento bibliográfico sobre estas temáticas foi realizado principalmente durante os três primeiros meses de pesquisa, dando continuidade nos demais meses como temas mais específicos demandados pelo trabalho de campo, relativos às histórias urbanísticas e arquitetônicas dos bairros analisados por esta pesquisa. As bases de dados e acervos utilizados para a pesquisa foram: Catalogo del Servizio Bibliotecario Nazionale (OPAC SBN); Catalogo del Sevizio Biblioteche Sapienza (OPCA UNIROMA1); Biblioteca Centrale della Facoltà di Architettura; Biblioteca di Storia, Disegno e Restauro dell’Architettura; Biblioteca Archivi Centri Documentazione delle Donne (Casa Internazionale delle Donne); e Biblioteca Nazionale Centrale di Roma. No Brasil, o levantamento bibliográfico foi realizado pelas plataformas: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), Periódicos Capes e Scielo. Nos levantamentos foram inicialmente consultadas pesquisas realizadas nos últimos 10 anos e, depois, dos últimos 20 anos, para aprofundamento e amplitude histórica do material, compreendendo, portanto, um período de 1998 à 2018.
  • Consentimento de uso de imagem: As fotografias foram de fonte da própria autora e de imagens públicas.
  • Aprovação, ética e consentimento: Não se aplica
  • Financiamento: Esta pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, Processo: 2018/03579-3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    23 Jul 2019
  • Revisado
    24 Mar 2020
  • Aceito
    24 Abr 2020
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