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Editorial

EDITORIAL

Estamos chegando ao final do primeiro ano de atividades como editores da Psicologia & Sociedade. Nosso principal horizonte tem consistido em garantir a qualidade da revista e a ampliação do alcance da produção em psicologia social difundida pela mesma. Ao longo deste ano, o trabalho de editoria da Revista se concentrou na concretização de processos para alcançar objetivos propostos para o quadriênio 2012-2015 e destacamos alguns desses pontos que foram desenvolvidos durante o ano de 2012.

No que se refere à indexação, a Revista Psicologia & Sociedade pode ser encontrada, desde maio de 2012, no DIALNET, grande portal bibliográfico com acesso livre e gratuito, com ampla difusão junto à comunidade científica europeia, latino-americana e africana (especialmente junto aos países de língua portuguesa). Recentemente a Revista foi aprovada por unanimidade pelo Comitê Científico da Redalyc - Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal - para ser incluída em seu acervo, e em breve os números da revista (desde o ano 2000) estarão disponíveis na Redalyc. Alem disso, a Psicologia & Sociedade encontra-se em avaliação para possível indexação ISI. Estamos também fazendo levantamento e análise de outros indexadores localizados em países diversos, no sentido de ampliar o alcance das produções da revista em latitudes distintas, alargando as possibilidades de interlocução em psicologia social.

Além do empenho para ampliação dos indexadores da Revista, três ações principais foram realizadas visando à internacionalização:

- Lançamento de convocatória para número especial em inglês. A mesma foi lançada em junho de 2012 e recebeu número significativo de contribuições. Foi feita chamada para contribuições que realizassem, a partir do arcabouço teórico da psicologia social crítica, análises e reflexões acerca dos problemas e contexto das sociedades brasileira e latino-americanas. Entendemos que a proposta da publicação em inglês possibilita a manutenção das especificidades contextuais e também editoriais da Psicologia & Sociedade espelhada em outro idioma, com ampliação de seu alcance. Assim, pesquisadores e estudiosos no Brasil e América Latina poderão ter seu campo de interlocução ampliado e a produção brasileira em psicologia social, maior impacto.

- Busca de apoios e parcerias institucionais dentro e fora do Brasil. Além do forte apoio institucional e financeiro da Pró-reitoria de Pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, concorremos ao edital da FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais –, e fomos contemplados com apoio financeiro. Concorremos também ao edital da APA – American Psychological Association – direcionado às organizações em Psicologia de todo o mundo e recebemos grant para apoio à publicação do número especial em inglês. Avaliamos que esse é um importante apoio, já que amplia o campo de reconhecimento e interlocução da Revista, como prevê a proposta de editoria da Revista para o quadriênio 2012-2015.

- Ampliação significativa de pareceristas, de forma geral, e de forma mais específica, de pareceristas de outros países. Entendemos que o processo de avaliação editorial consiste em um importante espaço de interlocução científica e avaliamos que a inserção de maior número de pareceristas internacionais tem qualificado bastante as avaliações – não pelo simples fato de serem internacionais, mas pelo sentido que o olhar estrangeiro e "de fora" sobre a produção da revista tem ajudado os autores a preparar a comunicação de suas produções considerando interlocutores diversos.

Ao longo do ano de 2012, grande parte dos esforços da equipe editorial se concentrou também no exercício de tornar mais ágil o processo editorial em todas as suas etapas. As principais ações desenvolvidas foram:

- Avaliação preliminar rigorosa, que consiste na verificação do cumprimento das instruções aos autores disponibilizadas na página da revista, pelos autores. Manuscritos recusados duas vezes por inadequação às instruções aos autores não são novamente recebidos;

- Avaliação permanente dos pareceristas e ampliação do quadro de avaliadores tanto nacionais quanto internacionais. Essa renovação tem dado uma nova dinâmica à Revista, o que avaliamos como muito positivo.

- Elaboração e implementação de ficha de avaliação para pareceristas, com proposição bem demarcada dos itens que devem ser avaliados.

Nesse primeiro ano, o nosso exercício foi de apropriação dos elementos que um processo editorial de qualidade exige. Mas como uma ação não menos importante, nos dedicamos intensamente ao debate sobre o escopo da revista e sua posição no contexto nacional e internacional, e certamente esse exercício seguirá sendo central para os editores ao longo dos próximos anos. No XVII Encontro da ABRAPSO Minas, realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora, de 01 a 03 de novembro de 2012, a revista foi convidada a compor uma das mesas do encontro intitulada "Formação em Psicologia Social: política científica". Esse foi um momento frutífero para refletirmos e debatermos sobre os limites, possibilidades e desafios da produção acadêmica em psicologia social no Brasil contemporâneo, e parte dessas reflexões serão publicadas no livro do encontro que reunirá as contribuições das mesas-redondas.

Estamos contentes com o encerramento dessa primeira etapa, pelo percurso percorrido, pelos aprendizados e instigados e provocados pelos novos desafios que pudemos delimitar para os próximos três anos. Agradecemos a todos os pareceristas que contribuíram com o minucioso trabalho da avaliação dos artigos, a toda a equipe editorial na figura de nossa editora gerente, Ana Lidia Brizola, e em especial à Universidade Federal de Minas Gerais, que tem abraçado a revista de forma muito especial.

Neste numero da Revista Psicologia & Sociedade, o/a leitor/a encontrará textos instigantes, frutos de reflexões teóricas, pesquisas e pesquisas-intervenção, além de resenhas críticas. A invisibilidade e subalternidade dos indígenas e sua representação nos meios de comunicação; a análise dos efeitos da campanha de educação sexual realizada pelo Círculo Brasileiro de Educação Sexual da década de 1930; a construção da identidade de jovens desertores da guerrilha, no contexto do conflito armado que marca, há anos, a sociedade colombiana; o cotidiano de mulheres que incorporam a pombagira na umbanda e o significado de tais práticas na luta contra as opressões sociais são os temas abordados pelos primeiros textos publicados neste numero. São analisadas problemáticas tantas vezes secundarizadas e invizibilizadas quando pensamos a sociedade brasileira e outros contextos a partir do arcabouço da psicologia social e apontam reflexões relevantes para a compreensão crítica acerca do passado e presente desses contextos.

O/a leitor/a encontrará também estimulante reflexão acerca das influências da ideologia neoliberal na formação do pensamento social brasileiro contemporâneo através da análise dos discursos a favor da redução da desigualdade social que, segundo os/as autores, tem contribuído, de forma paradoxal, para a naturalização da pobreza no cotidiano. Ainda sobre o impacto dos discursos nas sociedades contemporâneas, no artigo seguinte, busca-se analisar as distintas perspectivas sobre internacionalização a partir dos paradigmas positivista e não-positivista e indica-se como, a partir da segunda perspectiva, a internacionalização no campo da psicologia do desenvolvimento pode promover uma frutífera interlocução entre distintas culturas.

A análise da relevância de se tomar a deficiência como categoria de análise nas pesquisas e na práxis da psicologia social é o foco do artigo seguinte. Os/as autores/as fazem isso de forma bastante original, apresentando o modelo da deficiência que toma a transversalidade da deficiência como ponto central e em articulação com outras categorias como gênero, raça, geração e classe social.

A tomada das questões de gênero de forma mais circunscrita pode ser identificada em três artigos que buscaram analisar, respectivamente, as propostas da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Governo Federal brasileiro para o atendimento psicológico de mulheres em situação de violência; as visões sobre maternidade e feminilidade de mulheres que optaram por não ter filhos e as representações sociais sobre gravidez na adolescência de adolescentes grávidas. Nessas contribuições, identificamos como as formas de abordar as questões de gênero podem ser distintas, indicando a heterogeneidade do campo, ao mesmo tempo em que ficam evidentes algumas mudanças significativas na realidade das mulheres que apontam para lugares de maior autonomia e igualdade.

A criação teatral, a identidade de artistas e a obra literária são tomadas como objeto de reflexão a partir da psicologia social em diálogo com outras disciplinas em outros três artigos deste número. A análise da produção de sentidos sobre os processos de criação de um espetáculo teatral em Curitiba; a análise das estratégias identitárias utilizadas por artistas em setores da cultura do Estado de São Paulo e as reflexões sobre identidade no conto "O espelho" de Machado de Assis apontam, de forma muito consistente, como a psicologia social, a partir do seu arcabouço teórico, pode contribuir para o campo das artes e da literatura de forma geral, dimensões fundamentais da cultura e de nossa sociedade.

A perspectiva sócio-histórica é tomada como campo teórico de reflexão nos dois artigos seguintes. No primeiro, a teoria das emoções de Vigotski é analisada possibilitando a retomada da contribuição desse autor na problematização de análises que tomam a dimensão cognitiva e emocional dos sujeitos como dimensões desconectadas, redefinindo, dessa maneira, o papel das emoções para a subjetividade. No segundo, o inconsciente e o consciente são analisados a partir da psicologia sócio-histórica com foco na relação dialética entre essas duas dimensões e na diferenciação entre alienação e inconsciente.

As produções seguintes tratam de elementos relacionados aos processos migratórios em dois contextos distintos: Chile e Espanha. No primeiro caso, a migração de mulheres sul-americanas na região de Antofagasta, Chile, foi estudada, e os/as autores/as propõem um modelo teórico para sua análise. No segundo estudo, os locutórios (lanhouses) são tomados como objeto de reflexão para indagar-se menos sobre os impactos das tecnologias nos processos migratórios, e mais sobre as dinâmicas geradas no interior de espaços como os locutórios onde aproximação e distância da comunidade de origem dos imigrantes, afetos compartilhados e elementos da vida cotidiana são dimensões bastante presentes.

O campo das políticas públicas de saúde e a interdisciplinaridade que marca o diálogo entre psicologia social e saúde são os elementos presentes nos trabalhos seguintes. A análise crítica da clínica psicológica no SUS a partir da ideia de clínica ampliada em Campinas, São Paulo; da relação entre os serviços sociais e de saúde com os idosos em Portugal; a análise das concepções populares sobre ocupação e a relação com terapia ocupacional entre estudantes de graduação e a cartografia realizada sobre as políticas de saúde no Brasil desde a década de 1970 indicam que a interlocução entre psicologia social e o(s) campo(s) da saúde tem sido bastante frutífera, apontando para a importância de se borrar as barreiras disciplinares diante de questões e problemas do contemporâneo que exigem reflexões não reducionistas acerca da sociedade. Tal constatação nos conecta ao próximo artigo, em que a formação do psicólogo e os sentidos da psicologia são problematizados a partir da realização de um estudo de caso com estudantes de graduação da UFPR.

Os dois próximos estudos tratam de questões relevantes e cujo interesse tem crescido no campo da psicologia social: no primeiro, as perdas e reações psicológicas vivenciadas pelas vítimas de uma enchente que ocorreu em Teresina/ PI no ano de 2009 são analisadas e, no segundo, em diálogo com a perspectiva psicanalítica, o esporte de alto rendimento é estudado em relação com a lógica do laço social.

O/a leitor/a encontrará também, neste número da Revista Psicologia & Sociedade, resenhas críticas das seguintes obras: "Suicídio e Trabalho: O que fazer?", de autoria de Christophe Dejours e Florence Bègue, e "Medicalização da vida: ética, saúde pública e indústria farmacêutica", organizado pela filósofa Sandra Caponi.

Na seção Convite ao Debate, publicamos a reflexão de Peter Kevin Spink apresentada no 16o. Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social, que aconteceu na Universidade Federal de Pernambuco em 2011, no espaço do Fórum Temático: "ABRAPSO 30 anos: psicologia social hoje". A comunicação do autor traz provocações interessantes para refletirmos acerca de elementos e lógicas complexas que têm atravessado a produção crítica em psicologia social no Brasil. Gostaríamos de retomar com mais frequência, dentro da revista Psicologia & Sociedade, esse espaço de interlocução e debate acerca de questões relevantes para a produção, formação, divulgação, avaliação e relevância da psicologia social no contexto contemporâneo.

Desejamos a todos/as uma ótima leitura e que as produções aqui publicadas possam contribuir com debates plurais no campo da psicologia social brasileira e também de outros contextos!

Claudia Mayorga

Emerson Rasera

Marco Aurélio Máximo Prado

Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    2012
Associação Brasileira de Psicologia Social Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Av. da Arquitetura S/N - 7º Andar - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50740-550 - Belo Horizonte - MG - Brazil
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