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Liderança política e intelectual

I – A Estética De Uma Vida

Liderança política e intelectual

Alberto Abib Andery

Paróquia Nossa Senhora do Carmo, São Paulo, Brasil

Apresento meu depoimento pessoal sobre a saudosa Dra. Sílvia T. Maurer Lane.

Tive a grata oportunidade de trabalhar quase que cotidianamente com ela na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), como professor do Departamento de Psicologia Social e também, na Diretoria do Centro de Ciências Humanas. Foi um longo período, desde 1970 até 1987, quando me aposentei e saí da Universidade Católica de São Paulo. Meu depoimento, portanto, abrange esse período.

Participei a seu lado de vários encargos importantes nos anos setenta-oitenta. O primeiro deles foi na comissão diretora da nova Faculdade de Psicologia da PUC-SP, surgida da fusão das antigas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras: São Bento e Sedes Sapientiae, que foram unidas por exigência da Lei de reforma universitária, numa única e nova Faculdade de Psicologia, com vários novos Departamentos.

Sílvia, eu e vários colegas docentes compusemos o novo Departamento de Psicologia Social cuja primeira tarefa foi enfrentar os desafios de uma nova definição da psicologia social face à crise do modelo funcionalista europeu e norte-americano.

Participamos também, nos anos setenta, da resistência dentro da PUC-SP à ditadura militar e à invasão do campus da Monte Alegre pela polícia em 1977. Esse grave incidente gerou, como resposta vigorosa dos professores, a fundação da Associação dos Professores da PUC-SP (APROPUC) e conduziu a universidade católica à prática da democracia interna com a eleição direta da Reitoria pelos professores, funcionários e alunos. Sílvia destacou-se na liderança do movimento dos Professores.

Na área docente, desde 1977 fui professor no núcleo de Psicologia na Comunidade, criado como espaço de estágio optativo para alunos do curso de Psicologia (nono e décimo período). Esse núcleo visava a aproximação entre os futuros profissionais psicólogos e a população operária e proletária nos extremos da periferia da grande São Paulo. Os estágios eram desenvolvidos no Jardim Santo Antônio, em Osasco, com a ajuda de uma equipe multiprofissional. Contamos também com a colaboração da colega Professora Odete Pinheiro. Sílvia Lane, na chefia do Departamento de Psicologia Social e depois Diretora do Centro de Ciências Humanas, deu apoio entusiasmado e críticas construtivas ao Projeto, enquanto ele durou.

Participei também com Sílvia e outros/as colegas da Psicologia Social da fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), em 1980, e trabalhei na edição dos Boletins da ABRAPSO com a Professora Brônia Liebsny até 1987, quando, por aposentadoria, sai da PUC-SP.

A convivência cotidiana nesse período com Sílvia fez-me descobrir sua pessoa extremamente afável e ética, sua capacidade acadêmica muito criativa e inovadora e mais, sua habilidade de liderança política e intelectual.

Mas a grandeza excepcional de Sílvia só vim a entendê-la em toda sua extensão muito recentemente, através do livro da Dra. Bader Sawaia sobre Sílvia Lane, publicado pela Imago Editora, em 2002, volume oito da coleção Pioneiros da Psicologia patrocinado pelo Conselho Federal de Psicologia.

Reconheço que, apesar de minha longa convivência com ela na PUC-SP, fiquei admirado pela sua biografia acadêmica, sua produção de idéias, de livros e escritos e o número e qualidade de novos pesquisadores de mestrado e doutorado que Sílvia apoiou e conduziu durante sua carreira universitária. Sou grato à Dra. Bader Sawaia pela sua sagacidade em captar e expor no seu livro acima citado o roteiro de produção e ressonâncias múltiplas da passagem de Sílvia pela universidade brasileira e latino-americana.

Refletindo hoje sobre sua saudosa pessoa e obra acadêmica, reconheço plenamente sua importância na transformação da práxis do psicólogo social no Brasil, nestes 40 anos de magistério enquanto filósofa, pesquisadora social e psicóloga eminente que foi Dra. Sílvia Lane na PUC-SP.

Neste depoimento, fico feliz por poder, mais uma vez, manifestar minha admiração pela pessoa e pela obra gigantesca em todos os sentidos da querida Mestra e amiga pessoal que tanto me incentivou e ajudou no departamento de Psicologia Social e no Centro de Ciências Humanas da PUC-SP.

Sua memória é inspiradora, para todos nós que com ela convivemos, para prosseguir sua trilha na construção do homem ou mulher em movimento, como ela própria denominou a aventura humana individual e coletiva, no título do seu livro, para mim muito caro, que organizou e conosco escreveu, em 1980.

Que Deus a tenha viva e presente na vida e na memória dos que como eu tivemos a felicidade de conhecê-la e estimá-la como querida amiga e Mestra.

São Paulo, 29 de maio de 2007.

Alberto Abib Andery é psicólogo. Ex-professor do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Padre da paróquia Nossa Senhora do Carmo. Endereço para correspondência: Rua Artur Farjado, 535, São Paulo, SP, 02960-000. www.arquidiocese-sp.org.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Out 2007
  • Data do Fascículo
    2007
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