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Ambiente, identidade e cultura: reflexões sobre comunidades Guarani/Kaiowá e Kadiwéu de Mato Grosso do Sul

Environment, identity and culture: reflections on communities Guarani/Kaiowá and Kadiwéu from Mato Grosso do Sul

Resumos

Desenvolvendo pesquisas que tinham como objetivo geral entender a configuração da identidade em populações infantis indígenas Guarani/Kaiowá e Kadiwéu, de Mato Grosso do Sul, reunimos dados sobre cultura, ambiente e identidade propriamente dita, para reflexões e comparações sobre os dois grupos étnicos. A Psicossemiótica nos forneceu uma base teórica e técnica de análise da produção artística infantil. O difícil acesso à reserva e sua preservação ambiental, a exuberância e originalidade de suas cerâmicas, entre outros fatores, favorecem uma maior homogeneidade na expressão e conteúdo dos trabalhos infantis Kadiwéu. Além da afirmação da identidade étnica, foi possível perceber papéis bem definidos do homem e da mulher quanto a trabalho e linguagem. O grupo Guarani/Kaiowá, ao contrário, está muito próximo à cidade, com severos prejuízos ambientais e perda do conhecimento e habilidades para produzir objetos artesanais. Observamos que os meninos e homens tendem a sair da reserva, buscando o trabalho e querendo ser da cidade, enquanto as meninas e mulheres permanecem na reserva com os filhos, como guardiãs de parte importante de seu patrimônio cultural do passado, o que provoca importantes reflexos nas investigações referentes a gênero, saúde mental e educação de referidas populações.

identidade; Guarani/Kaiowá; Kadiwéu; gênero; cultura


Developing studies that the main objective was to understand the identity constitution of Guarani/Kaiowá and Kadiwéu children population in Mato Grosso do Sul, we gathered data about culture, environment and identity itself, for consideration and comparison within these two ethnic groups. The Psychosemiotics gave us the theoretical and technical basis for the analysis of the children's artistic production. Despite of not having finished the project with the Kadiwéu, we can notice in the preliminary results that the difficult access to the reservation and its environmental preservation, the exuberance and originality of its pottery, among other factors, contributed largely to a greater homogeneity in the expression and content of the children's assignment analyzed. On the other hand, in the Guarani/Kaiowá group, the other studied reservation, the ethnical identification did not occur. This reservation is located very close to the city, with severe environmental damages and loss of knowledge and skills to produce handmade artifacts, that once were an important part of their cultural heritage from the past, and are now fading away. And this causes important influences in the investigations regarding gender, mental health and education of the referred populations.

Guarani/Kaiowá; Kadiwéu; gender; culture


Ambiente, identidade e cultura: reflexões sobre comunidades Guarani/Kaiowá e Kadiwéu de Mato Grosso do Sul

Environment, identity and culture: reflections on communities Guarani/Kaiowá and Kadiwéu from Mato Grosso do Sul

Sonia GrubitsI; Ivan Darrault-HarrisII

IUniversidade Católica Dom Bosco-MS

IIÉcole des Hautes Estudes em Sciences Sociales de Paris

RESUMO

Desenvolvendo pesquisas que tinham como objetivo geral entender a configuração da identidade em populações infantis indígenas Guarani/Kaiowá e Kadiwéu, de Mato Grosso do Sul, reunimos dados sobre cultura, ambiente e identidade propriamente dita, para reflexões e comparações sobre os dois grupos étnicos. A Psicossemiótica nos forneceu uma base teórica e técnica de análise da produção artística infantil. O difícil acesso à reserva e sua preservação ambiental, a exuberância e originalidade de suas cerâmicas, entre outros fatores, favorecem uma maior homogeneidade na expressão e conteúdo dos trabalhos infantis Kadiwéu. Além da afirmação da identidade étnica, foi possível perceber papéis bem definidos do homem e da mulher quanto a trabalho e linguagem. O grupo Guarani/Kaiowá, ao contrário, está muito próximo à cidade, com severos prejuízos ambientais e perda do conhecimento e habilidades para produzir objetos artesanais. Observamos que os meninos e homens tendem a sair da reserva, buscando o trabalho e querendo ser da cidade, enquanto as meninas e mulheres permanecem na reserva com os filhos, como guardiãs de parte importante de seu patrimônio cultural do passado, o que provoca importantes reflexos nas investigações referentes a gênero, saúde mental e educação de referidas populações.

Palavras-chave: identidade, Guarani/Kaiowá, Kadiwéu, gênero, cultura.

ABSTRACT

Developing studies that the main objective was to understand the identity constitution of Guarani/Kaiowá and Kadiwéu children population in Mato Grosso do Sul, we gathered data about culture, environment and identity itself, for consideration and comparison within these two ethnic groups. The Psychosemiotics gave us the theoretical and technical basis for the analysis of the children's artistic production. Despite of not having finished the project with the Kadiwéu, we can notice in the preliminary results that the difficult access to the reservation and its environmental preservation, the exuberance and originality of its pottery, among other factors, contributed largely to a greater homogeneity in the expression and content of the children's assignment analyzed. On the other hand, in the Guarani/Kaiowá group, the other studied reservation, the ethnical identification did not occur. This reservation is located very close to the city, with severe environmental damages and loss of knowledge and skills to produce handmade artifacts, that once were an important part of their cultural heritage from the past, and are now fading away. And this causes important influences in the investigations regarding gender, mental health and education of the referred populations.

Keywords: Guarani/Kaiowá, Kadiwéu, gender, culture.

Nossas pesquisas em populações indígenas, através de estudos de trabalhos de expressão artística infantil1 1 As duas pesquisas começaram com a realização de desenhos da casa, árvore, pessoa e família pelas crianças de 07 a 09 anos que freqüentavam a escola das respectivas reservas. Na análise dos referidos desenhos utilizamos os critérios de Grubits (1996). Seis crianças sorteadas nestes grupos trabalharam durante um ano, em sessões de modelagem, pintura, desenhos e bricolagem.. A pesquisadora viajava para as reservas onde realizou as investigações, mensalmente, com três alunas de iniciação científica. Ficava geralmente três dias, fazendo cerca de seis sessões. Contava com o consentimento e acompanhamento das lideranças, famílias e FUNAI. Sentiu durante todo o trabalho o grande interesse e aprovação das mães e pais das crianças, que geralmente visitavam a sala da escola onde as crianças trabalhavam para apreciar o os desenhos e demais produções dos filhos e trocar idéias com a pesquisadora. , na região centro oeste do Brasil, desde 1993, têm nos revelado e demonstrado de diferentes formas, a diversidade social e cultural destes povos. As duas últimas foram com crianças Guarani - Kaiowá e Kadiwéu. A primeira concluída em 2000 e a última em andamento, mas já com trabalhos que nos possibilitam comparações e reflexões preliminares importantes, em relação a tais diferenças.

O Estado de Mato Grosso do Sul, no centro oeste brasileiro, onde encontramos as duas etnias, possui um grande número de comunidades indígenas na área rural e uma grande quantidade de pessoas denominadas "sem terra",2 2 Os movimentos de "sem terra" atuantes e que têm estabelecido um diálogo com as instituições governamentais sobre o problema agrário de Mato Grosso do Sul pertencem ao "Movimento dos Sem Terra", MST, Central Única dos Trabalhadores, CUT e Federação dos Trabalhadores da Agricultura, FETAGRI. grupos organizados que lutam pela reforma agrária, enfrentando sérios problemas de disputa de terras, saúde e educação.

Nossa intenção no presente artigo é reunir uma série de informações, fruto das referidas pesquisas em torno da construção da identidade de crianças, em especial crianças indígenas, tentando refletir sobre as grandes diferenças que efetivamente existem entre grupos indígenas brasileiros e que muitas vezes são desconsideradas pela população de um modo geral. Não vamos, portanto relatar pesquisas já realizadas.

Nossos trabalhos situam-se na Etnopsicologia, área do conhecimento que vem integrando teorias e estudos referentes às questões étnicas, assim como na Psicologia Social, numa forma mais ampla e geral, quando tratamos da busca e configuração da identidade dos componentes de seus diferentes grupos indígenas, suas representações sociais e reflexões sobre gênero, oferecendo subsídios para outras áreas como Ambientalismo, Direito e Educação.

Adotamos também a Psicossemiótica,3 3 Utilizando a análise Semiótica nos desenhos, Darrault (1993) destaca o "actant" e "Destinateur" que pode constituir um obstáculo ou favorecer a afirmação, pelo sujeito, primeiramente de sua individualização, depois de sua integridade. Ainda nessa trajetória, Darrault (1993) utiliza a R(S, O), relação "actantielle" binária, sujeito - objeto, passando a uma relação ternária, R(D, S, O), introduzindo o "Destinateur". Essa relação Coquet (1989) apresenta como D/S. ou seja Semiótica aplicada à Psicologia, disciplina que explica os fenômenos resultantes do mundo natural: hipoteticamente, ação e significado, atos somáticos, e atos discursivos. Referida disciplina tem sido nosso referencial teórico para análise da produção artística infantil indígena.

Desde a pesquisa anterior, com a população Guarani/Kaiowá, já desenvolvemos análises semióticas da produção artística infantil, o que confirmou a pertinência dos referenciais teóricos e métodos para novas propostas de investigação.

Nas pesquisas com crianças Guarani/Kaiowá e Kadiwéu analisamos a busca e configuração da identidade, através de sua produção artística e expressiva, ou seja, desenhos, pinturas, modelagem e bricolagem. Reflexões sobre gênero nas duas etnias, principalmente Kadiwéu, acompanharam nossas discussões sobre o feminino e masculino nas suas respectivas organizações sociais.

Os recursos da Semiótica são muito pertinentes à Psicologia, mesmo com a disparidade, tanto em relação ao objeto, quanto à natureza e complexidade entre uma Semiótica que se ocupa dos mitos e contos e uma Psicossemiótica ligada ao comportamento global do sujeito. De acordo com Darrault4 4 DARRAULT-HARRIS, I. & KLEIN, J.P. Pour une psychiatrie de l'ellipse. Paris: Presses Universitaires de France 1993. p. 6. "A Semiótica se construiu progressivamente graças, paralelamente, a uma extensão remarcável de seu objeto, a uma complexificação correspondente da modelização". A Psicossemiótica tornou-se possível, portanto, numa extensão máxima programática do objeto, atingindo não só a descrição de ação nos discursos, mas também nos comportamentos reais.

Nos seus avanços, além dos discursos lingüísticos variados em textos religiosos, literários, poéticos, históricos, científicos, filosóficos, os semioticistas atingiram os textos não lingüísticos como a pintura, arquitetura, música e outros.

IDENTIDADE E GÊNERO

Para os semioticistas, a identidade não tem definição e opõe-se ao conceito de alteridade, sendo que a identificação permite decidir sobre traços ou conjuntos de traços comuns, entre dois ou mais objetos, enquanto que a distinção é a operação pela qual se reconhece a sua alteridade. O par porém é interdefinível, pela relação de pressuposição recíproca, e é indispensável para fundamentar a estrutura elementar da significação.

A identidade serve igualmente para designar o princípio da permanência, que permite ao indivíduo continuar o "mesmo", de "persistir no seu ser", ao longo de sua existência narrativa, malgrado as mudanças que ele provoca, sofre ou aquelas que podem ocorrer de forma mais inesperada e repentina.

Gênero é continuação da noção de corpo e sexualidade, implica numa evolução desde uma atenção dada ao sexo biológico e suas características, passando a um interesse pelo sexo e pelas categorias e subcategorias culturais e históricas a ele subjacente.

Os atributos psicológicos e sociais são conseqüência da própria ordem biológica, sendo que tais atributos se encontram, dicotomizados, com o objetivo de delimitar as esferas do masculino e do feminino. Como conseqüência desta concepção em todos os níveis, utilizou-se ao extremo o princípio biológico para explicar as relações interindividuais, considerando as diferenças psicológicas como medidoras entre o biológico e o sociocultural.

Por outro lado, o conceito de gênero que exige ou impõe uma forma plural de pensar, indica que as representações sobre a ordem biológica anatômica podem ser múltiplas e que diferem não apenas em cada sociedade, mas nos diversos momentos históricos, ao se considerarem as diversidades étnicas, religiosas, raciais, de classe, que as constituem.

Suárez5 5 Citado por Galvão L. e Díaz J. Saúde Sexual e Reprodutiva no Brasil. Relações de Gênero Corpo e Sexualidade. São Paulo: Hucitec Population Council, 1999. p. 183. relata "que gênero é a diferença primordial, por ser a primeira a ser experimentada pelo sujeito. Isto porque a constatação inicial de identidade que se faz, no momento do nascimento, é se a criança é menina ou menino e, conforme for, o recém-nascido passará a receber um tratamento específico de mulher ou de homem".

Pelo menos com respeito a seus potenciais intelectuais e emocionais, algumas teorias alternativas argumentam que homens e mulheres são basicamente semelhantes. Assim as diferenças entre mulheres e homens refletem fatores culturais, ou seja, espera-se que homens sejam de uma maneira e mulheres sejam de outra.6 6 Idem, Ibidem. p. 186.

É possível observar grandes variações de gênero em diferentes culturas no mundo. Para determinar sociedades, a divisão do trabalho por gênero é uma das maneiras-chave sobre as quais a atividade econômica está organizada, para outras, a divisão do trabalho por gênero é encontrada primariamente na esfera doméstica. Strey7 7 Idem, Ibidem. p. 187. afirma que "As diferenças entre sociedades onde o gênero é central à produção econômica e aquelas onde é secundário se refletem nas diferenças em todas as estruturas de autoridade."

Em nossas análises, gênero e identidade aparecem de acordo com determinantes socioculturais no desenvolvimento infantil, através das atividades de expressão artísticas.

AS PESQUISAS COM POPULAÇÕES INFANTIS GUARANI/KAIOWÁ E KADIWÉU

Apesar de constatarmos, nas análises preliminares dos desenhos, muitas semelhanças entre as crianças das duas etnias estudadas, no que se refere a desenvolvimento mental e aspectos emocionais, na análise semiótica de trabalhos de expressão artística, foi possível perceber que o fenômeno construção identidade se dá de forma diferente entre os Guarani/Kaiowá e Kadiwéu.

As crianças Guarani/Kaiowá, revelaram na sua produção, um ponto em comum, entre si. Uma trajetória na busca da identidade semelhante, começando num conflito entre as duas culturas, ou seja Guarani/Kaiowá e sociedade nacional envolvente, passando por momentos de representação muito individualizada de suas casas, família ou pessoas significativas. No final da pesquisa, revela em desenhos, pinturas, indicadores altamente significativos para nossas conclusões e discussões, alguns buscando ser Guarani/Kaiowá, outros configurando identidades de indivíduos da cidade.

As crianças Kadiwéu, do grupo em estudo, por outro lado, apesar de não termos concluído a análise de sua produção, representam desde de seus primeiros trabalhos, sua própria cultura, ambiente, relação com a flora, a fauna, sendo que seus signos e significados tem uma grande homogeneidade.

Procuramos então analisar alguns dados culturais, ambientais ou mesmo populacionais ou de localização, que juntamente com a produção das crianças estudadas, podem indicar os fatores importantes para a diferença na trajetória das duas populações infantis na configuração de suas respectivas identidades.

OS GUARANI/KAIOWÁ

A reserva Guarani/Kaiowá de Caarapó dista cerca de 15km da cidade mais próxima, também denominada Caarapó e tem cerca de 3594 ha, com um número aproximado de 556 famílias e 2500 habitantes na área.

As campanhas contra as queimadas e tentativas de recuperação ambiental do Programa Kaiowá/Guarani da Universidade Católica Dom Bosco, têm apresentado bons resultados, porém a região ainda evidencia diferenças em relação à paisagem do passado, com indícios de prejuízo ambiental.

Atualmente, na região de Caarapó, onde o grupo estudado está localizado, além de graves conflitos de terra com colonos, ocorrem problemas de suicídios8 8 Cerca de 284 Guarani cometeram suicídio no período de 1995 a 2002, no Mato Grosso do Sul, 47 em 2001 e 27 nos quatro primeiros meses de 2002, segundo Castro (2002). Nos anos de 1997 e 1998 Lacerda (2002) relata que ocorreram algumas denúncias e processos sobre a possibilidade de assassinatos de índios do grupo em questão, que porém não foram esclarecidos. que são, algumas vezes, denunciados como assassinatos.

Em relação à cultura, Meliá9 9 MELIÁ, S. J. B. A Terra Sem Mal dos Guarani. In: Revista de Antropologia, vol. 33. Publicação do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo, 1990. p. 33-34. relata que "a vida Guarani nunca se liberta nem abstrai da questão da terra", afirmando porém que a terra não é um dado fixo e imutável, que nasce, vive e morre com os Guarani, que após trabalhá-la dela se desprendem em ciclos que não envolvem apenas aspectos econômicos, mas também religiosos e sócio-culturais, lugar sempre ameaçado pelo desequilíbrio, entre a fartura e a carência".

Brochado10 10 BROCHADO, J.B. Desarrollo de la Tradición cerámica tupi guarani. In: Anais I Simpósio Nacional de Estudos Missionários. A experiência reducional no sul do Brasil. Santa Rosa, 1982. corroborando com Meliá, relata que a terra adaptada aos Guarani impõe-lhes condições e determina variações em seu modo concreto de viver. Assim, ocorrem variações nos padrões de povoamento, na dimensão de suas aldeias e na densidade de sua demografia, se há predomínio de milho ou se depende mais da mandioca, se os cultivos permitem grandes excedentes para a festa, ou se ficam limitados a quantidades menores, para o consumo familiar. Os Guarani, no entanto, não se deixam determinar inteiramente pelo ambiente, pois eles buscam sua terra, da qual têm conhecimentos experimentais consideráveis, escolhendo ambientes mais adequados, determinadas paisagens, com preferência por determinadas formações vegetais onde podem assentar-se e cultivar.

Meliá argumenta, ainda, que o Guarani conhece sua terra, a riqueza da língua Guarani para designar os diversos tipos de terra e solos, de mata, de espécies vegetais e as características ecológicas de um lugar, o que é um bom indicador de seus conhecimentos de agricultura e da ocupação da terra.

O autor relata que "existiu desde os tempos mais antigos uma agricultura – até poderíamos dizer uma agronomia – que o colono europeu acaba por ter de pedir emprestada do Guarani, como a mais adequada e a própria para essa terra. A agricultura de caráter Guarani foi a mais praticada pelos colonos dessas regiões com bons resultados, ainda quando a distorção do sistema econômico introduzido tende a desequilibrar as correlações ecológicas que o Guarani soube geralmente manter com a criatividade e dinamismo, emigrando inclusive, se fosse necessário. O Guarani não deixa desertos atrás de si."

A terra para o Guarani, não é um simples meio de produção econômica. Sua terra se identifica com o tekohá, teko é, segundo o significado que lhe dá Montoya,11 11 Apud. MELIÁ, S. J. B. op. cit, p. 36. "modo de ser, modo de estar, sistema, lei, cultura, comportamento, hábito, condição, costume..." O tekohá é o lugar onde se dão as condições de possibilidade do modo de ser Guarani. A terra, concebida como tekohá é, antes de tudo, um espaço sociopolítico. "O tekohá significa e produz ao mesmo tempo relações econômicas, relações sociais e organização político-religiosa, essenciais para a vida Guarani. Ainda que pareça um paralogismo, temos que admitir, juntamente com os próprios dirigentes Guarani, que sem tekohá não há teko", ou seja, um lugar onde vivem seus costumes, uma inter-relação de espaços físico-sociais. O Guarani vê a terra como possibilidade de coleta, caça e principalmente para agricultura.

"Entre os Guarani a terra é o lugar de morada, denominada tekohá espaço físico-político-símbolico, que remonta a mais um ato criativo dos deuses. Lugar estruturante e suporte de sua organização social; nele, o Guarani concretiza seu modo de ser. É nessa ambiência que ele realiza o diálogo com as divindades para que seu tekohá não venha a se transformar num tekohá vaí (ambiente mal). O tekohá, sistema fundante da vida Guarani, representa flexibilidade para absorver novos valores desde que estes não agridam seus elementos básicos. É aí também que se efetivam as atividades socioeconômicas e políticas, e onde circulam crenças, valores e normas".12 12 PEREIRA, M. A. da C. Uma Rebelião Cultural Silenciosa. Brasília: FUNAI, p. 83. 1995.

O tekohá onde para o Guarani não há espaçamento vazio, estéril, nem no presente, nem no passado, afigura-se, como um espaço legítimo para a realização dos rituais, cantos e danças – liturgias que produzem a cosmogenia na vida Guarani, sendo, portanto, reflexo de significados, o que não acontece fora do mesmo, não há vida Guarani.

Pereira13 13 Idem, ibidem. afirma que "para além do tekohá, há um lugar da imortalidade, a chamada Terra Sem Mal, yvy marã ey, espaço onde a condição humana é abandonada, para que no homem, possa realizar-se a condição de um deus. Espaço que transcende a um modo geográfico, situando-se num mundo figurado, fenomênico ecológico."

A autora concluiu no seu trabalho, "que todos os fatores relacionados ao suicídio inscrevem-se no quadro de debilitamento14 14 MELIÁ, S.J.B. Op. cit. P. 37. do tekohá, lugar de morada e elemento fundante da cultura Guarani."

Meliá15 15 Idem, Ibidem. cita em "Informe de um jesuíta anônimo", de 1620, que esclarece a estrutura fundamental do tekohá Guarani e o jogo de seus espaços. "Seja o monte preservado e apenas recorrido como lugar de pesca e de caça, seja o monte cultivado e seja a casa, muito bem definida como espaço social e político. São estes três espaços, simultaneamente, os que definirão a bondade da terra Guarani".

A terra vem então classificada por variedade de solo, tipos de vegetação e acidentes geográficos. A terra para eles também é um espaço habitável, um povoado e uma casa nos quais se concentra sua vida social e política, sendo que a mesma se converte em plenamente humana quando há uma casa e um pátio.

Todos estes aspectos da terra, nos quais economia e sociedade se mostram indissoluvelmente relacionadas são, também objeto de símbolos religiosos, reflexo de experiência religiosa.16 16 Idem, Ibidem. Podemos concluir portanto, que a agricultura, cultivo da terra e significados religiosos são relevantes para a sociedade Guarani/Kaiowá e conseqüentemente para construção da identidade infantil da referida sociedade.

Mesmo percebendo a pertinência de uma cultura e sistema de crenças muito estruturadas, não podemos deixar de lado o fato, muito relevante, que é o acesso aos meios de comunicação e proximidade das cidades da região, o que permite uma influência permanente no desenvolvimento da identidade das crianças da reserva e mesmo da população adulta.

Outra questão, que provavelmente determina o estilo de vida Guarani, é a necessidade de permanecer, pelo menos durante um período razoável de tempo, numa região pela sua vocação agrícola. Não podemos, no entanto, deixar de lado o fato dos mesmos se deslocarem, principalmente no passado. Um dos motivos mais freqüentes e citados em diferentes estudos, é a busca de "Terra sem Mal".

OS KADIWÉU

Os Kadiwéu por outro lado, estão numa reserva, na Bodoquena, com uma área de cerca de 538.000 ha., sendo que 158.000 estão atualmente em litígio com fazendeiros da região. A área é de muito difícil acesso e dista 48 km da cidade mais próxima, também denominada Bodoquena. Sua população é de 2008 habitantes. A notável exuberância da flora e fauna e sua preservação têm sido observadas por ecologistas e ambientalistas.

Quanto às suas origens, os Kadiwéu também denominados Guaicurú ou Guaycurú, Guaikuru, Aicurus, Aycurús, Uaicurús ou simplesmente índios cavaleiros, segundo Boggiani,17 17 BOGGIANI, G. Cartografía lingüística del Chaco por el Dr. Daniel G. Brinton. Revista del Instituto Paraguayo, Asunción, año II, n. 16, p. 112, 1899. no passado, juntamente com os Mbayá, compunham grupos caçadores-coletores-pescadores pedestres nômades, em constantes deslocamentos no Chaco.18 18 Planície que se estende desde o Sul da Bolívia até o norte da Argentina, a leste pelos rebordos do Planalto Brasileiro e a oeste pelos contrafortes das precordilheiras.

Os Guaicurú atacavam e assaltavam os espanhóis, a cidade de Assunção e as primeiras estâncias crioullas19 19 GUZMÁN, R.D. Citado por Heberts, Ana Lúcia, na dissertação de mestrado em História, Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material. Anales del Descubrimientos, Población y Conquista del Río de la Plata. Asunción: Ediciones Comunero, p. 89. 1980. em busca de alguns elementos culturais novos assimilados, como o metal para as pontas de flechas, as facas, os cavalos e cativos.20 20 SUSNIK, B. Dimensiones Migratorias y Pautas Culturales de los Pueblos del Gran Chaco y de su Periferia. p. 13. 1972.

Os períodos de hostilidades eram intercalados por momentos de paz, quando os Guaicurú vendiam ou trocavam seus produtos em Assunção, oferecendo peles e carnes silvestres, pescados e mantas,21 21 CABEZA DE VACA, A.N. Citado por Heberts, Ana Lúcia, na dissertação de mestrado em História, Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material. Naufrágios e Comentários. Trad. do texto Jurandir Soares dos Santos. Trad. da introdução Bettina Becker. Apresentação Henry Miller. Porto alegre: L & PM, 1987, 256 p. (Col. L & PM/ História, Série "os Conquistadores", vol. 3). p. 165. 1987. mas sempre sob suspeitas, porque muitas vezes eles faziam visitas amistosas para organizar um futuro ataque.

Relatos de Boggiani22 22 BOGGIANI, G. Os Caduveos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p. 86. 1975. que visitou aldeias Kadiwéu no final do século XIX, descrevem referidas aldeias como semi-sedentárias, com uma agricultura rudimentar e criação de alguns animais, continuando porém, a caçar, pescar e coletar produtos silvestres.

O autor registra também acampamentos que denominou temporários, de acordo com a abundância de frutos, caça ou mesmo áreas não inundadas na época das cheias. Boggiani23 23 BOGGIANI, G. Viajes de un artista por la América Meridional. Los Caduveos. Expedición al río Nabileque, en la región de las grandes cacerías de venados. Matogrosso (Brasil). Revista del Instituto de Etnologia de la Universidad nacional deTucumán, Tucumán, t. I, p. 495-556, 1929 (1930). também descreve a aldeia como um espaço limpo em frente das casas, utilizado coletivamente para atividades sociais, como festas, jogos, cerimônias e lutas. O terreno dos fundos era utilizado para tarefas domésticas como cozinhar e outras atividades. A fogueira se localizava no lugar em que cozinhavam.

Os funerais ilustram aspectos importantes da cultura Kadiwéu. Por exemplo, a construção do napiog, sob a qual eram enterrados os mortos, surge nos relatos a partir dos meados do século XVIII.

Sobre o napiog, pode-se perceber que era construído de modo semelhante a uma habitação Mbayá portátil, na maioria das vezes grandes construções divididas por postes pequenos ou estacas, em que, para cada capitania ou família, distinguia-se um espaço onde seus mortos eram enterrados. Assim também, surge outra modalidade como uma construção privativa para cada tribo ou família.

Associadas ao enterro, estão as armas do guerreiro, adornos de prata e também cavalos. Sobre as sepulturas colocavam esteiras, cântaros, utensílios domésticos, fusos, cuias e alimentos, que eram renovados, pois eles acreditavam na vida após a morte.

Também acorrem referências ao sacrifício e sepultamento de animais, no caso eqüinos, divergindo quanto ao fato de ser apenas um cavalo ou vários animais, que poderiam chegar ao número de seis, numa cova feita próxima a do morto.

A importância do cavalo da sociedade européia, grande elemento cultural assimilado pelos Mbayá-Guaicurú, explicaria o fato de ele ser morto e enterrado junto ao seu dono quando da sua morte e deveria servi-lo após a morte, como em vida o havia servido, conforme bibliografia, produzida a partir de meados do século XVIII, estudada e citada por Heberts.24 24 HEBERTS, Ana Lucia. Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material. Dissertação de mestrado em História, na área de Estudos Históricos Ibero-Americanos. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS, 1998.

As atividades relacionadas à subsistência dos Mbayá-Guaicurú, enquanto grupos nômades, como pedestres ou eqüestres, são sempre mencionados pelos autores, relacionadas à caça, à pesca e à coleta. Já o cultivo é registrado como inexistente nos séculos XVI, XVII e XVIII. O fato de não cultivarem não significa porém, que produtos cultivados não fizessem parte da sua alimentação. Obtinham muitos produtos junto a outros grupos indígenas. Apenas esses produtos não detinham o mesmo destaque na alimentação que os demais, como as caças e os produtos coletados.

Podemos portanto, entender a construção da identidade infantil Kadiwéu intimamente relacionada à grande área preservada onde habitam e as possibilidades de deslocamento, movimentação por toda região, sendo que a caça, pesca e pecuária ainda são as atividades predominantes. Acrescentamos a tudo isto, o difícil acesso aos meios de comunicação e cidades mais próximas.

GUARANI/KAIOWÁ E KADIWÉU

Os Kadiwéu são muito diferentes do Guarani/Kaiowá no que se refere à história, hábitos, uso do espaço e relação com a natureza. Cabe uma comparação e uma reflexão sobre a produção artística das crianças das duas reservas, para entender a construção e busca da identidade dessas nações nos seus respectivos contextos ambientais, socioeconômicos e culturais.

Sabemos que a busca e afirmação da identidade das crianças por nós analisadas envolvem uma construção na relação com suas famílias, a comunidade Guarani/Kaiowá de Caarapó e Kadiwéu, contatos e influências dos agentes da sociedade nacional envolvente.

Enquanto o Guarani/Kaiowá, na sua produção artística, revela grande influência da sociedade nacional envolvente, além da sua própria cultura, o grupo Kadiwéu, diferentemente, evidenciou uma trajetória homogênea, apenas com representações da natureza e cultura Kadiwéu, desde o início das atividades de expressão artística.

Os Guarani/Kaiowá representam principalmente o céu, as águas e a flora. Quanto aos Kadiwéu, toda produção infantil, desenhos, pinturas, modelagens, até agora analisadas, representam o ambiente natural, flora e fauna, principalmente, a fauna, com intensidade de cores diversificadas e a cerâmica, conhecida e divulgada nos meios acadêmicos e mesmo na mídia nacional e internacional.

Ressaltamos aqui a hipótese de que a cor, desenhos e objetos da cerâmica, trabalhos em couro e desenhos corporais, constituírem uma verdadeira marca, ou signo Kadiwéu, acompanhando a construção da identidade deste povo, presente em diferentes formas, não só nos trabalhos infantis, como na decoração da fachada da escola, camisetas dos alunos e mesmo já difundidos por todo Estado de Mato Grosso do Sul, não só os desenhos e pinturas, como também os nomes Kadiwéu e Guaicuru.

Todos estes fatos apontam para a exuberância e potencial da referida cultura e portanto sua influência determinante na auto-estima deste povo e sua população infantil.

A mulher Guarani/Kaiowá revela uma tendência para assumir o papel de guardiã da cultura, permanecendo na reserva, representando a cosmologia guarani, buscando a identificação com sua etnia, enquanto os homens saindo da reserva para procurar trabalho e meios de sobrevivência, vão construindo uma identidade de homem da cidade, conforme os trabalhos de expressão artística das crianças.

Nas representações das crianças Kadiwéu, percebemos que todos vão configurando a identidade de acordo com a etnia, porém refletem a divisão do masculino e feminino conforme a cultura, os homens caçadores, cuidando do gado, as mulheres como ceramistas, conforme seus desenhos e demais atividades artísticas.

Importante ressaltar também que em ambas as pesquisas, a Semiótica vem nos propiciando um recurso de análise da trajetória das referidas crianças, que nos conduziu a importantes conclusões sobre todo o processo proposto e nossas técnicas. Avaliamos produções artísticas, empregamos técnicas expressivas, observamos comportamentos, gestos, mímicas, verbalizações, ou seja, a Semiótica na Psicologia ou a Psicossemiótica.

As análises do material produzido pelas crianças indígenas vem indicando as tendências e a configuração da identidade de Guarani/Kaiowá e Kadiwéu, confirmando a pertinência da análise semiótica dos desenhos e trabalhos de expressão artística das referidas crianças para a configuração de suas identidades.

Todo esse trabalho de avaliação e intervenção nos conduziu a uma reflexão sobre as questões individuais de cada criança estudada, mas também atingimos, de certa forma no micro, o entendimento do macro problema de toda nação Guarani/Kaiowá e Kadiwéu.

Nas conclusões referentes às investigações com as crianças Guarani/Kaiowá, um fato relevante, percebido no final de nossas análises semióticas e discussão, foi uma tendência para uma situação inicial de evidente conflito entre duas culturas, ou seja, a cultura Guarani/Kaiowá e aquela da sociedade nacional envolvente, porém, no final de um ano de sessões regulares de trabalhos de expressão artística, configuraram-se identidades opostas, ou seja, ora de um indivíduo da cidade, ora de um indivíduo Guarani/Kaiowá, ou seja, na linguagem da semiótica, alguns querem, podem e sabem ser Guarani/Kaiowá, outros querem, podem e sabem ser indivíduos da cidade.

Em relação aos Kadiwéu, nas nossas conclusões preliminares, já que os trabalhos de campo estão ainda em desenvolvimento, sem conflitos ou divergências, individualmente, ou no grupo, configuraram a identidade de sua própria etnia.

Recebido: 14/5/2003

1ª revisão: 4/7/2003

Aceite final:11/7/2003

Sonia Grubits é PhD em Semiótica por Paris 8, Doutora em Saúde Mental pela UNICAMP, Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, Coordenadora do Programa de Mestrado em Psicologia da UCDB-MS

Ivan Darrault– Harris é PhD e pesquisador pela E.H.E.S.S., École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris. Autor de várias obras sobre Semiótica

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  • 1
    As duas pesquisas começaram com a realização de desenhos da casa, árvore, pessoa e família pelas crianças de 07 a 09 anos que freqüentavam a escola das respectivas reservas. Na análise dos referidos desenhos utilizamos os critérios de Grubits (1996). Seis crianças sorteadas nestes grupos trabalharam durante um ano, em sessões de modelagem, pintura, desenhos e bricolagem.. A pesquisadora viajava para as reservas onde realizou as investigações, mensalmente, com três alunas de iniciação científica. Ficava geralmente três dias, fazendo cerca de seis sessões. Contava com o consentimento e acompanhamento das lideranças, famílias e FUNAI. Sentiu durante todo o trabalho o grande interesse e aprovação das mães e pais das crianças, que geralmente visitavam a sala da escola onde as crianças trabalhavam para apreciar o os desenhos e demais produções dos filhos e trocar idéias com a pesquisadora.
  • 2
    Os movimentos de "sem terra" atuantes e que têm estabelecido um diálogo com as instituições governamentais sobre o problema agrário de Mato Grosso do Sul pertencem ao "Movimento dos Sem Terra", MST, Central Única dos Trabalhadores, CUT e Federação dos Trabalhadores da Agricultura, FETAGRI.
  • 3
    Utilizando a análise Semiótica nos desenhos,
    Darrault (1993) destaca o "actant" e "Destinateur" que pode constituir um obstáculo ou favorecer a afirmação, pelo sujeito, primeiramente de sua individualização, depois de sua integridade. Ainda nessa trajetória,
    Darrault (1993) utiliza a R(S, O), relação "actantielle" binária, sujeito - objeto, passando a uma relação ternária, R(D, S, O), introduzindo o "Destinateur". Essa relação
    Coquet (1989) apresenta como D/S.
  • 4
    DARRAULT-HARRIS, I. & KLEIN, J.P.
    Pour une psychiatrie de l'ellipse. Paris: Presses Universitaires de France 1993. p. 6.
  • 5
    Citado por Galvão L. e Díaz J. Saúde Sexual e Reprodutiva no Brasil.
    Relações de Gênero Corpo e Sexualidade. São Paulo: Hucitec Population Council, 1999. p. 183.
  • 6
    Idem, Ibidem. p. 186.
  • 7
    Idem, Ibidem. p. 187.
  • 8
    Cerca de 284 Guarani cometeram suicídio no período de 1995 a 2002, no Mato Grosso do Sul, 47 em 2001 e 27 nos quatro primeiros meses de 2002, segundo Castro (2002). Nos anos de 1997 e 1998 Lacerda (2002) relata que ocorreram algumas denúncias e processos sobre a possibilidade de assassinatos de índios do grupo em questão, que porém não foram esclarecidos.
  • 9
    MELIÁ, S. J. B. A Terra Sem Mal dos Guarani. In:
    Revista de Antropologia, vol. 33. Publicação do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo, 1990. p. 33-34.
  • 10
    BROCHADO, J.B. Desarrollo de la Tradición cerámica tupi guarani. In:
    Anais I Simpósio Nacional de Estudos Missionários. A experiência reducional no sul do Brasil. Santa Rosa, 1982.
  • 11
    Apud. MELIÁ, S. J. B.
    op. cit, p. 36.
  • 12
    PEREIRA, M. A. da C.
    Uma Rebelião Cultural Silenciosa. Brasília: FUNAI, p. 83. 1995.
  • 13
    Idem, ibidem.
  • 14
    MELIÁ, S.J.B. Op. cit. P. 37.
  • 15
    Idem, Ibidem.
  • 16
    Idem, Ibidem.
  • 17
    BOGGIANI, G. Cartografía lingüística del Chaco por el Dr. Daniel G. Brinton.
    Revista del Instituto Paraguayo, Asunción, año II, n. 16, p. 112, 1899.
  • 18
    Planície que se estende desde o Sul da Bolívia até o norte da Argentina, a leste pelos rebordos do Planalto Brasileiro e a oeste pelos contrafortes das precordilheiras.
  • 19
    GUZMÁN, R.D. Citado por Heberts, Ana Lúcia, na dissertação de mestrado em História,
    Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material.
    Anales del Descubrimientos, Población y Conquista del Río de la Plata. Asunción: Ediciones Comunero, p. 89. 1980.
  • 20
    SUSNIK, B.
    Dimensiones Migratorias y Pautas Culturales de los Pueblos del Gran Chaco y de su Periferia. p. 13. 1972.
  • 21
    CABEZA DE VACA, A.N. Citado por Heberts, Ana Lúcia, na dissertação de mestrado em História,
    Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material. Naufrágios e Comentários. Trad. do texto Jurandir Soares dos Santos. Trad. da introdução Bettina Becker. Apresentação Henry Miller. Porto alegre: L & PM, 1987, 256 p. (Col. L & PM/ História, Série "os Conquistadores", vol. 3). p. 165. 1987.
  • 22
    BOGGIANI, G.
    Os Caduveos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p. 86. 1975.
  • 23
    BOGGIANI, G. Viajes de un artista por la América Meridional. Los Caduveos. Expedición al río Nabileque, en la región de las grandes cacerías de venados. Matogrosso (Brasil).
    Revista del Instituto de Etnologia de la Universidad nacional deTucumán, Tucumán, t. I, p. 495-556, 1929 (1930).
  • 24
    HEBERTS, Ana Lucia.
    Os Mbayá-Guaicurú: Área, Assentamentos, Subsistência e Cultura Material. Dissertação de mestrado em História, na área de Estudos Históricos Ibero-Americanos. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS, 1998.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Jan 2003

    Histórico

    • Aceito
      11 Jul 2003
    • Revisado
      04 Jul 2003
    • Recebido
      14 Maio 2003
    Associação Brasileira de Psicologia Social Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Av. da Arquitetura S/N - 7º Andar - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50740-550 - Belo Horizonte - MG - Brazil
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