Open-access ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ: UMA NOVA ABORDAGEM *

Literary Structure of the Book of Job: a New Approach

RESUMO

Este estudo realiza uma análise sincrônica do livro de Jó, com o objetivo de demonstrar a tese das estruturas quadripartidas presentes na narrativa. A metodologia utilizada integra a abordagem canônica e a análise narrativa, examinando e estruturando o texto a partir de suas indicações sintáticas e temáticas. O foco está na identificação dessas estruturas quadripartidas nos blocos literários e capítulos, bem como na retórica quádrupla em perícopes e versículos. A pesquisa, fundamentada na análise do Texto Massorético (TM), investiga o quadrilátero ético (1,1b) que caracteriza Jó como “íntegro e reto, temente a Deus e que se afastava do mal”, e em 23,8-9, que revela a busca de Jó por Eloah nos quatro cantos do cosmos. Os resultados obtidos favorecem uma hermenêutica cosmológica que integra e ilumina o enredo completo do livro de Jó.

PALAVRAS-CHAVE
Livro de Jó; Estruturas quadripartidas; Hermenêutica cosmológica; Enredo literário; Quadrilátero ético

ABSTRACT

This study conducts a synchronic analysis of the Book of Job with the aim of demonstrating the thesis of fourfold structures present within the narrative. The methodology employed integrates the canonical approach and narrative analysis, examining and organizing the text based on its syntactic and thematic indications. The focus is on identifying these fourfold structures within the literary blocks and chapters, as well as the fourfold rhetoric in pericopes and verses. The research, grounded in the analysis of the Masoretic Text (MT), investigates the ethical quadrilateral (1,1b), which characterizes Job as “blameless and upright, fearing God and shunning evil”, and in 23,8-9, which reveals Job’s search for Eloah in the four corners of the cosmos. The findings support a cosmological hermeneutic that integrates and illuminates the entire narrative of the Book of Job.

KEYWORDS
Book of Job; Quadripartite Structures; Cosmological Hermeneutics; Literary Plot; Ethical Quadrilateral

Havia um homem…
íntegro e reto,
temente a Deus
e que se afastava do mal
(Jó 1,1b).

Introdução

A estrutura literária de um livro bíblico desempenha um papel fundamental na interpretação teológica, podendo torná-la harmônica ou paradoxal. Definir a estrutura do livro de Jó é uma tarefa complexa. Primeiramente, como observa Morla, abordagens diacrônicas frequentemente envolvem discussões contínuas sobre a autoria do livro (MORLA, 2017, p. 27), permanecendo incerto se foi escrito por uma única pessoa ou mais. Além disso, segundo Hartley, há uma ausência de conexão literária nítida entre a narrativa e a poética (HARTLEY, 1988, p. 21). Essas questões precisam ser abordadas para propor uma estrutura alternativa que não dependa de propostas de reorganizações conjecturais e que observe a Vorlage Hebraica1.

Orlinsky observa que o Texto Massorético (TM) está repleto de termos e passagens que desafiam a pesquisa, sendo marcado por hapax legomena2 e danos textuais que o tornam especialmente complexo (ORLINSKY, 1964, p. 57-78; HARTLEY, 1988, p. 3). Mazzoni destaca que essa complexidade impõe desafios significativos para a leitura e a tradução (MAZZONI, 2020, p. 33). Morla corrobora afirmando que “o texto do livro de Jó às vezes é de difícil tradução, sendo comum que algumas versões vernáculas classifiquem a tradução de algum termo como duvidosa ou ‘conjectural’, e não faltam estudiosos que hesitam em traduzi-lo” (MORLA, 2017, p. 25).

Embora o TM seja reconhecido como textus receptus e respaldado pelos principais códices antigos, como a LXX, a Vulgata, a Héxapla de Orígenes e Teodocião – nos quais não há um terceiro discurso de Sofar e o discurso de Baldad é brevíssimo, com apenas seis versículos –, os desacordos persistem. Para alinhar a estrutura do texto à teologia, Morla propõe uma reorganização de alguns textos, especialmente os capítulos 22–27, conhecidos como terceiro ciclo (MORLA, 2017, p. 713). John Gray, por sua vez, sugere que o capítulo 28, hino à sabedoria, deveria ser mais bem situado junto à teofania (GRAY, 2010, p. 340). A edição revisada e ampliada da Bíblia de Jerusalém (1998), uma das traduções críticas mais importantes, também reorganiza os capítulos 24–27 com ênfase nos discursos de Jó.

Embora haja um consenso sobre a estrutura do livro de Jó, persistem tensões quanto à sua estruturação detalhada. Enquanto há concordância sobre a existência de um terceiro ciclo de diálogos envolvendo Jó, Elifaz, Baldad e Sofar, há divergências quanto à sua extensão exata. Habel (1985), Alonso Schökel e Sicre Díaz (1983) e Clines (1989) sugerem que ele se inicia no capítulo 21. Em contraste, Pope (1988), Hartley (1988), Terrien (1994), Lévêque (1970), Dhorme (1967) e Morla (2017) argumentam que ele se inicia no capítulo 22. Por outro lado, Westermann (1981) propõe que o terceiro ciclo abrange apenas dos capítulos 22–23, enquanto Steinmann (1996) defende a sua inexistência.

Considerando a multiplicidade de abordagens e teorias sobre a estrutura do livro de Jó, bem como as incongruências nas propostas de reorganização, observa-se que muitas dessas propostas, apesar de buscarem harmonizar a estrutura do texto à sua mensagem, não aderem integralmente ao TM e carecem de respaldo nos códices antigos. Diante dos desafios incontestáveis na estruturação do livro de Jó, propomos uma nova abordagem que preserva o TM em sua disposição canônica3, rejeitando conjecturas e tentativas de reorganização textual que visam alinhar a estrutura do texto com uma hermenêutica específica e evitando ambivalências.

Nossa proposta segue as indicações internas do texto, como as diversas fórmulas de aberturas dos discursos, a sintaxe e a retórica quadripartida, que refletem uma visão cosmológica. A tese é desenvolvida com base em esquemas quádruplos e estruturas quadripartidas presentes em capítulos e blocos literários observados em textos-chave, bem como no uso do número “quatro”, que possui conotação cosmológica significativa.

O esquema quadripartido desempenha um papel modular no livro de Jó, não apenas como estrutura organizacional, mas também como uma influência hermenêutica significativa. Esse esquema sugere uma progressão narrativa que molda a compreensão do leitor sobre os eventos e o significado do sofrimento de Jó. O livro começa apresentando Jó em um estado de harmonia com Deus, com a natureza, consigo mesmo e com a sociedade (1,1-5). Em seguida, ele é abruptamente lançado no caos, enfrentando a perda de seus bens, família e saúde, não devido a qualquer injustiça pessoal, mas como parte de uma aposta entre YHWH e Satã (1,6–2,13)4. Após um extenso diálogo discursivo com seus amigos e com Deus (3,1–42,6), Jó encontra restauração e harmonia (42,7-17), evidenciando que sua integridade ética e religiosa não é motivada por interesses egoístas (1,8).

Os princípios das estruturas quadripartidas representam uma abordagem rigorosa e fiel aos critérios da leitura canônica. Por conseguinte, é importante destacar que a tese das estruturas quadripartidas não altera nenhuma linha ou termo do TM, nem mesmo com o intuito de harmonizar a mensagem teológica do texto ou elucidar possíveis ambiguidades, sejam elas de natureza teológica ou estrutural. Pelo contrário, se existem ambiguidades, devem ser compreendidas como elementos intrínsecos da composição da obra, refletindo a diversidade de perspectivas e o contexto histórico dos diferentes autores que contribuíram para a composição do livro ao longo do tempo.

Portanto, o texto canônico não ignora a complexidade textual; ao contrário, incorpora-a e harmoniza-a de maneira coesa. As possíveis ambiguidades não são consideradas como uma fraqueza textual, mas desempenham um papel crucial na retórica do texto, sendo empregadas de maneira irônica para reforçar a teologia de Jó e desafiar a teologia da retribuição.

Neste estudo serão apresentados os axiomas das estruturas quadripartidas no livro de Jó. Em seguida, será demonstrado, no texto, o emprego dessa estrutura e retórica quadripartida nas estrofes e perícopes em que ela se faz presente. O esquema geral servirá de guia, e serão indicados os blocos, os capítulos, as perícopes e os versículos quadripartidos, cada um em seu contexto literário.

1 Retórica quadripartida

Duas perícopes são fundamentais para comprovar a preferência por estruturas quadripartidas, que são resultado de uma visão cosmológica que está latente no texto.

1.1 Hermenêutica e cosmologia (Jó 23,8-9)

8a Eis, vou ao Oriente, e não [está]; 8b e atrás [Ocidente], e não o encontro. 9a À esquerda [Norte], onde ele age, e não o vejo 9b volto para a direita [Sul], e não o vejo5.

A cosmologia israelita está repleta de concepções ancestrais. Conforme delineado por essa mentalidade, o firmamento6 não é concebido como uma entidade etérea e imaterial, mas antes é descrito como sendo sólido, assemelhando-se a uma lâmina ou a uma chapa maciça e estável, uma estrutura que separa as águas (Gn 1,6; Jó 38,22) (EICHRODT, 1975, p. 100).

O firmamento repousa sobre as colunas que se estendem por toda a superfície terrestre, assemelhando-se a uma abóboda, comparável a um espelho (Jó 37,18; Is 40,22; Sl 104,2). Na profecia de Ezequiel, o firmamento repousa sobre quatro seres vivos, que possuem características humanas. Cada um desses seres tem quatro rostos, quatro asas e mãos sob suas asas, orientadas para quatro direções, acompanhando suas faces, e sustentam o firmamento sobre suas cabeças (Ez 1,5-23). Esses seres vivos, identificados como os quatro pilares e representando os quatro pontos cardeais, sugerem que o cosmos é sustentado por quatro pilares (Jó 26,11).

O número “quatro” é considerado, nos textos bíblicos, a base numérica que simboliza a totalidade do cosmos7 e faz referência direta aos quatro pontos cardeais: leste, oeste, norte e sul (Is 11,12; Mt 24,31); além disso, associa-se às estações do ano: primavera, verão, outono e inverno (Gn 8,22) e às fases da lua: nova, crescente, cheia e minguante (Sl 104,19). Portanto, como escreve Mckenzie, na numerologia bíblica o número “quatro” é interpretado como uma referência cosmológica (MCKENZIE, 2003, p. 661).

No livro de Gênesis, em 4,10, descreve-se que no paraíso havia quatro rios, simbolizando o cosmos como um paraíso. Já em Ezequiel 37,9, é convocada a Ruah, dos quatro ventos, para insuflar vida naqueles que foram mortos, e que estes revivam. Apocalipse 4,6-7 menciona os quatro seres viventes, que simbolizam o cosmos e os quatro extremos da terra8, similarmente descritos em Ezequiel 1,14. Esses seres possuem olhos na frente e atrás e estão diante ou no meio do trono de Deus, sendo simbolizados por quatro animais: leão, novilho, rosto humano e águia (RICHARD, 1996, p. 118).

1.2 O quadrilátero ético (Jó 1,1b)

1a Havia um homem, na terra de Us, seu nome [é] Jó. 1bα E era o homem, 1bβ íntegro 1bγ e reto, 1bδ temente a Deus 1bε e que se afastava do mal.

Em Jó 1,1b, a identidade ética e religiosa de Jó é descrita de maneira distintiva. A frase inicia-se com a proposição: e era o homem. Trata-se de uma proposição verbal que recupera a informação do v. 1a: havia um homem (NICCACCI, 1990, p. 36), que descreve Jó a partir de quatro adjetivos que o equiparam aos grandes personagens bíblicos (Ez 14,14.20). O primeiro par de adjetivos, íntegro e reto, caracteriza Jó como alguém com motivações puras, enquanto o segundo par, temente a Deus e que se afastava do mal, o retrata como um homem de fé (HARTLEY, 1988, p. 66).

Os adjetivos que descrevem a personalidade de Jó abrangem diversos aspectos de sua vida, incluindo suas relações sociais, éticas, psíquicas e religiosas. De maneira concisa, o narrador apresenta de forma peculiar com a fórmula: havia um homem, na terra de Us, seu nome [é] Jó (1,1a). O texto menciona o nome do protagonista e sua origem, sem detalhes geográficos ou temporais, o que confere à obra uma natureza atemporal e universal. Morla explica que a terra de Us refere-se a uma vasta área entre Edom e a Arábia (MORLA, 2017, p. 88; Gn 10,23; 22,21; 36,28; Lm 4,21). A condição de não israelita de Jó, mas de um homem do Oriente, rico e influente (1,3), sugere, como explica Mazzoni, que sua história transcende as fronteiras culturais temporais, tornando-se representativa da experiência humana em face das adversidades (MAZZONI, 2020, p. 33).

No Antigo Testamento, não é comum encontrar uma série de quatro adjetivos para caracterizar um personagem9. Entretanto, Jó 1,1b apresenta uma fórmula que desempenha o papel de tema-chave, o qual, na tese aqui defendida, define a estrutura e a mensagem do livro. Em primeiro lugar, a conexão entre as proposições íntegro e reto (Sl 25,21), interpretadas como uma hendíadis10, expressam a ideia de pessoa idônea (Gn 25,27; Sl 25,21; 37,37; 64,4[5]; Pr 3,7; 14,6; 16,6), como escreve Morla: Jó é “um homem eticamente inquestionável” (MORLA, 2017, p. 89), pois jamais se desviou do caminho da verdade (Jz 9,16.19) e vive em íntima comunhão com Deus (Gn 17,1). Em seguida, a conexão entre as proposições temente a Deus e se afastava do mal denota uma fé ativa e sólida, uma vez que aquele que teme a Deus demostra amor e devoção e, por isso, evita o mal. Pr 16,6b sustenta que “pelo temor ao Senhor viram-se as costas ao mal”, com o propósito de resistir a qualquer tentação ou queda. Esta é a conduta de Jó (31,1-12), que jamais depositou sua confiança em outros deuses ou objetos (31,24-28).

A retórica com quatro proposições para descrever a personalidade de Jó é uma caraterística exclusiva do livro. Esses quatro adjetivos funcionam como tema-chave, influenciando tanto a hermenêutica quanto a estrutura do texto. Essa escolha não é ocasional; o número “quatro” carrega uma conotação cosmológica no livro de Jó, sugerindo a harmonia presente na criação. Além disso, possui um significado ético, refletindo a sua integridade e a fé de Jó, o que enriquece a interpretação global da narrativa.

2 Estruturas quadripartidas no livro de Jó

A estrutura de um livro bíblico pode ser delineada por diversos caminhos11. O sumário fornecido pelo narrador guia o leitor, revelando o esquema subjacente da narrativa. No livro de Jó, a voz poética que permeia o texto identifica a origem de cada discurso por meio de fórmulas de abertura e declarações pontuais (32,1-5). Essa voz poética abrange tanto a parte narrativa quanto a poética do texto. Marguerat e Bourquin observam que a voz poética guia o leitor através do enredo e dos discursos, explorando o significado subjacente e apresentando os personagens e suas ideologias:

A composição narrativa é fruto de um trabalho do narrador, que enuncia sua história em função de um ponto de vista particular. De modo que a disposição adotada pelo narrador na composição da narrativa constitui uma escolha de retórica narrativa, quer dizer, uma escolha de significante narrativo

(MARGUERAT; BOURQUIN, 2009, p. 33).

Segundo Marguerat e Bourquin, “o enredo é uma estrutura unificadora que liga as diversas perícopes da narrativa e as organiza em uma história contínua” (MARGUERAT; BOURQUIN, 2009, p. 56). Tanto na prosa quanto na poética do livro de Jó, existe “um liame de causalidade” que assegura que o enredo é unificador. O esquema quinário articula o enredo em cinco momentos sucessivos: (a) exposição (situação inicial), que descreve o ambiente da narração; (b) complicação (), que desencadeia a tensão narrativa; (c) ação transformadora (clímax), situação que revela os enigmas do texto; (d) desenlace (resolução), que oferece uma solução do enigma por meio de uma ação transformadora; e (e) situação final, que representa um estado oposto à situação inicial (MARGUERAT; BOURQUIN, 2009, p. 58-59; VITÓRIO, 2016, p. 60-62). O esquema quinário, com sua capacidade de vincular casualmente os eventos e manter a coesão do enredo, é útil também para analisar textos retóricos. Embora a análise narrativa requeira atenção a esses momentos do texto, o objetivo deste estudo é apresentar as estruturas quadripartidas. Por isso, limitaremos nossa discussão à apresentação do esquema quinário, que serve como fundamento para a estrutura quadripartida na macroestrutura do livro.

Ao ler Jó, o leitor identifica que o texto está composto de um corpo narrativo e de outro poético. A narrativa é constituída por duas unidades que se complementam: (A) o prólogo (1,1–2,13) e (A’) o epílogo (42,7-17). Já os diálogos poéticos, que compreendem os capítulos 3,1–42,6, constituem o maior bloco literário do livro e estão estruturados em três partes: (B) os diálogos poéticos entre Jó e seus amigos (3,1–27,23), (C) o enigma sobre a origem da sabedoria (28,1-28) e (B’) os diálogos poéticos entre Jó, Elihu e YHWH (29,1–42,6) (ZENGER, 2003, p. 292). Essa estrutura articula o livro de Jó em um esquema concêntrico em cinco partes (A/B//C//B’/A’), como se observa abaixo:

A Prosa: Prólogo 1,1–3,1 B Poética: Diálogos I 3,1–27,23 C Enigma: onde encontrar a sabedoria? 28,1-28 B’ Poética: Diálogos II 29,1–42,6 A’ Prosa: Epílogo 42,7-17

A ocorrência de estruturas quadripartidas é observada tanto na macroestrutura quanto nas microestruturas do livro. Na macroestrutura, cada bloco literário, assim como alguns capítulos, pode ser segmentado em quatro partes, que podem ser distintas ou paralelas. Nas microestruturas, principalmente nos capítulos em que se deseja enfatizar alguma tese teológica, o texto recorre a formações quádruplas. Portanto, a preferência pelo número “quatro” não é arbitrária, e sim fundamentada na busca de Jó por Deus12. Jó busca a presença de Deus em todo o cosmos: Ah, se soubesse onde encontrá-Lo, eu chegaria a Seu trono (23,3). Essa busca é metaforicamente representada pela procura dos quatro pontos cardeais, conforme descrito na cosmologia antiga, a qual adotava uma visão geocêntrica do universo para se referir à totalidade do cosmos (23,8-9).

3 Esquema geral quadripartido

No esquema geral, o livro de Jó é composto de cinco unidades literárias, que se articulam em uma estrutura concêntrica (A/B//C//B’/A’). Cada bloco está estruturado em quartas partes distintas ou paralelas, dependendo da sintaxe do texto e das intervenções da voz poética, conforme pode ser observado no esquema a seguir:

A Prólogo: Sofrimento e integridade de Jó   1,1–3,1   I Introdução: A prosperidade de Jó 1,1-5     II As desventuras de Jó 1,6–2,10     II.a Primeira cena, celeste:YHWH x Satã 1,6-12     II.b Segunda cena, terrestre:Satã x Jó 1,13-22     II.a' Terceira cena, celeste:YHWH x Satã 2,1-7a     II.b' Quarta cena, terrestre:Satã x Jó 2,7b-10     III Conclusão: Jó e seus amigos 2,11-13   B Diálogos poéticos (I): O desespero de Jó   3,1–27,23   I Monólogo: As queixas de Jó 3,1-26     II Primeiro ciclo Elifaz: 4–5 6–7       de diálogos Baldad: 8 9–10       (4–17) Sofar: 11 12–13         Elifaz: 15 16–17     III Segundo ciclo Baldad: 18 19       de diálogos: Sofar: 20 21       (18–27) Elifaz: 22 23–24         Baldad: 25 26–27   C Sabedoria: Como encontrá-la?   28,1-28       B' Diálogo poéticos (II): Novos caminhos   29,1–42,6   I Monólogo: O testamento de integridade de Jó 29–31     II Discursos de Elihu (32–37) 1º: 32,1–33,33         2º: 34,1-37         3º: 35,1-16         4º: 36,1–37,24     III Teofania 38,1–42,6     Discursos de YHWH: Respostas de Jó:       a: 38,1–39,30 b: 40,1-2       a’: 40,6–41,26 b’: 42,1-6     A' Epílogo: A restauração de Jó   42,7-17   I Introdução:YHWH x os três amigos de Jó 42,7-9     II Restauração de Jó 42,10-16     II.a Restauração teológica 42,10a     II.b Restauração econômica 42,10b-12     II.c Restauração afetiva 42,13-15     II.d Restauração existencial 42,16     III Conclusão: Morte de Jó 42,17  

A seguir, serão analisados alguns elementos e textos que corroboram as estruturas quadripartidas e a retórica quádrupla nos diversos blocos literários do livro de Jó. O intuito é comprovar que a tese das estruturas não apenas enriquece a narrativa, mas também funciona como um recurso literário intencional, empregado no texto para reforçar e transmitir sua teologia.

3.1 O Prólogo (1–2)

O prólogo está dividido em três unidades literárias, sendo elas: (I) Introdução (1,1-5), (II) desventuras de Jó (1,6–2,10) e (III) conclusão (2,11-13). O esquema quadripartido e a retórica quadripartida são notados em todas as unidades. Na introdução, há a indicação dos quatro atributos que definem a personalidade de Jó. Além disso, o texto segue uma estrutura similar à de uma peça de teatro, com quatro cenas que se relacionam com um paralelismo espelhado (ab//a’b’): (a) primeira cena celeste (1,6-12), (b) primeira cena terrestre (1,13-20), (a’) segunda cena celeste (2,1-6) e (b’) segunda cena terrestre (2,7-10).

A introdução contextualiza e insere o leitor na história, apresentando o personagem central, Jó, com quatro proposições: havia um homem… íntegro e reto, temente a Deus e que se afastava do mal (1,1b). Suas posses são apresentadas com quatro proposições: Jó possuía, sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentas jumentas (1,3b). As quatro cenas que se seguem introduzem outros personagens, como os filhos de Deus, YHWH, Satã e a esposa de Jó, ao mesmo tempo em que expõem o caso e o problema de Jó e a aposta entre YHWH e Satã (1,8-11). Essa aposta resultará na destruição dos bens de Jó, de sua família e de sua saúde, desafiando sua fé. Finalmente, a conclusão apresenta o quarteto formado por Jó e seus três amigos (2,10-13).

Na primeira cena terrestre, observam-se quatro ataques contra os bens de Jó e sua família, resultando em três desgraças. Na primeira, Jó perde bens preciosos, seus pastores são assassinados e seu gado graúdo saqueado pelos caldeus (1,14-15). Em seguida, no segundo ataque, um “fogo de Deus” queima seu gado miúdo, juntamente com seus lavradores, e Jó, que antes era um homem bem-sucedido, agora é um empobrecido (1,16). Por fim, Jó recebe uma terrível notícia: uma ventania, vinda do deserto, irrompeu contra os quatro cantos da casa em que estavam seus filhos em um momento de celebração da vida, de modo que a casa desabou e todos seus herdeiros morreram (1,18-19). Na segunda cena terrestre, Satã aflige a carne de Jó, causando-lhe uma lepra maligna que cobre seu corpo de inflamações dos pés à cabeça e o priva de sua saúde (2,7-10).

Jó experimenta quatro tipos distintos de sofrimento, sendo atingido nas quatro áreas fundamentais da vida de um patriarca: (1) sofrimento econômico, devido à perda de todos os seus bens em um único dia; (2) sofrimento afetivo, pela morte de todos os seus filhos e filhas em uma tragédia natural; (3) sofrimento existencial, em razão da destruição de sua saúde por uma doença grave; e (4) sofrimento teológico, como resultado de uma perseguição divina.

A resposta de Jó também possui quatro ações verbais: Jó se levantou, “(1) rasgou seu manto, (2) raspou a cabeça, (3) lançou-se por terra (4) e adorou” (1,20), e sua oração possui quatro hemistíquios: “(1) Nu saí do ventre de minha mãe, (2) nu para lá hei de voltar, (3) YHWH deu e YHWH tirou. (4) Bendito seja o nome de YHWH” (1,21).

O prólogo é concluído com a dramática cena de Jó no meio das cinzas (2,8), ladeado por seus conterrâneos: Elifaz; Baldad e Sofar (2,11-13), formando uma reunião de quatro pessoas. Ao testemunharem o sofrimento do amigo, os três expressam sua consternação e solidariedade por meio de gestos simbólicos (1Sm 4,12), que também seguem o esquema quadripartido, ecoando as ações de Jó: (1) rasgam seus mantos, (2) lançam para cima um punhado de pó sobre suas cabeças, (3) assentam-se no chão ao lado de Jó, e (4) permanecem em silêncio “por sete dias e noites” (2,12-13; Sr 22,12-13; Ez 3,15), um tempo dedicado ao discernimento e ao luto pela perda de um amigo. No entanto, o silêncio externo de Jó contrasta com a turbulência de seus pensamentos, refletindo o sofrimento que o aflige em todas as dimensões de sua vida: física, psicológica, social e existencial.

Após esse período, Jó, que não suporta mais as dores e a incompreensão, diante de tantas desgraças, eleva sua voz para maldizer a sua vida, proferindo incontáveis queixas (Jó 3,1-26).

3.2 Diálogos poéticos I (3,1–27,23)

A definição desses textos como diálogos poéticos pode ser confusa para aqueles que não estão familiarizados com a poesia hebraica ou que desconhecem o livro de Jó. Segundo Alonso Schökel, os que concebem o “diálogo” como um gênero literário com falas breves e respostas igualmente breves podem ter dificuldades em classificá-los como diálogos (SCHÖKEL, 1993, p. 69-83).

Nos diálogos poéticos (I), ressoam as vozes de quatro personagens: Jó, Elifaz, Baldad e Sofar. Os quatro dialogam em discursos contrapostos, os três amigos proferem um discurso-provocação, que é seguido por uma réplica de Jó. O texto pode ser subdividido em três blocos: (I) monólogo de Jó (3); (II) primeiro ciclo de diálogos (4–17); (III) segundo ciclo de diálogos (18–27).

A autoria do discurso é definida pela fórmula de introdução: respondeu… e disse. Além disso, o texto apresenta um estilo diferenciado e típico do mundo oriental, caracterizado por discursos longos e circulares, nos quais os temas se misturam, criando confusão sobre a origem das ideias (MORLA, 2017, p. 164). No livro de Jó, como escreve Pikaza, as temáticas são repetitivas e seguem uma dinâmica de argumentos e contra-argumentos (PIKAZA, 2020, p. 51). Apesar disso, há um aprofundamento progressivo dos temas em movimento cíclico.

O monólogo de Jó (3) ocupa uma posição singular dentro da obra e está em paralelo com o monólogo dos capítulos 29–31. Na tese quadripartida, o capítulo 3 desempenha a função de introduzir os temas que serão aprofundados nos capítulos 4–27. Os dois monólogos estão inseridos na estratégia retórica do texto, servindo para antecipar as temáticas que serão desenvolvidas nos discursos subsequentes.

Na abordagem quadripartida, identificam-se dois ciclos, pois o esquema é organizado a partir das respostas de Jó. Assim, temos quatro provocações dos três amigos seguidas de quatro réplicas de Jó: (I) primeiro ciclo (4,1–17,16) e (II) segundo ciclo (18,1–27,23). Em ambos os ciclos, Jó atua como um advogado de defesa, enquanto seus interlocutores (Elifaz, Baldad e Sofar) assumem o papel de promotores da doutrina tradicional.

Propomos, portanto, um esquema quadripartido dos diálogos poéticos (I), argumentando que estão organizados em dois ciclos, cada ciclo com quatro atos (4 x 4), sem a necessidade de reorganização textual, interpretando esses textos como parte da retórica e compreendendo-os em seu contexto literário.

Nesse modelo quadripartido, Jó reage às provocações dos três amigos em vez de provocá-los, como sugere o texto 13,22: Chama-me, e eu responderei, ou, se falo, me respondes. Cada ciclo consiste em quatro discursos-provocação dos interlocutores, seguidos por uma réplica de Jó (4 + 4):

Primeiro Ciclo Segundo Ciclo (1) Elifaz x Jó 4–7 (1) Baldad x Jó 18–19 (2) Baldad x Jó 8–10 (2) Sofar x Jó 20–21 (3) Sofar x Jó 11–14 (3) Elifaz x Jó 22–24 (4) Elifaz x Jó 14–17 (4) Baldad x Jó 25–27

3.3 O lamento de Jó (3,1-26)

A importância do capítulo 3 reside na sua função inicial de apresentar o primeiro monólogo de Jó, possibilitando uma análise interna de sua condição. Esse momento de introspecção serve como ponto de partida para os discursos subsequentes (4,1–27,23). Sem essa base estabelecida, a coerência e as temáticas dos discursos posteriores seriam nulas, pois perderiam sua importância e o significado fundamental fornecidos pelo lamento de Jó.

O texto segue uma estrutura geral dividida em duas estrofes, subdivididas em quatro subestrofes. (I) A primeira estrofe (v. 3-10) detalha as maldições sobre o nascimento de Jó e segue o esquema de um quiasmo (ab//b’a’). (b) Os v. 4-6 abordam o tema da maldição do dia, e os v. 7-9 (b’) as maldições sobre a noite. O texto é emoldurado pelos v. 3 e 10, que formam um paralelo sinonímico. (a) O v. 3 apresenta o objeto da maldição, enquanto o (a’) v. 10 revela a causa da maldição. (II) A segunda estrofe (v. 11-26) está esquematizada em quatro partes paralelas (a/b/c/d). (a) Jó medita sobre o passado (v. 11-16), (b) examina o presente (v. 17-19), (c) discursa sobre a intervenção divina no sofrimento humano (v. 20-23) e (d) contempla a essência da vida (v. 24-26).

O v. 25 descreve a agonia física e mental que Jó enfrenta (HABEL, 1985, p. 112). O texto é um paralelismo sintético estruturado em forma de quiasmo, em que a proposição (a) terror aterroriza-me está paralela ao verbo (a’) temia-me, enquanto o verbo (b) me assombrava está em paralelo com a expressão (b’) agora me sobrevém. O objetivo é enfatizar o drama de Jó e de toda a humanidade. No v. 26, segundo Weiser, Jó resume sua desolação a partir de quatro proposições, revelando o enigma da vida humana (1975, p. 68). A desolação é apresentada em três proposições, evidenciando a total ausência de paz de Jó: não tenho paz; nem tranquilidade, nem descanso. Isso enfatiza a quarta proposição: mas chega a agitação, que domina a alma, transformando-a em um caos.

3.4 O confronto entre os quatro amigos 4–27

Nos diálogos entre Jó e seus três amigos, alguns capítulos ou discursos que podem ser subdivididos em quatro partes.

O primeiro discurso de Elifaz (4–5) está subdividido em quatro estrofes. Elifaz expõe os princípios do dogma da retribuição, argumentando que as tribulações enfrentadas por Jó são consequência de seus pecados, e o encoraja a se arrepender para obter o perdão de Eloah. Schwienhorst-Schönberger observa que os temas introduzidos por Elifaz nesse discurso serão explorados pelos três amigos nos discursos subsequentes (SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, 2011, p. 25).

A estrutura do discurso de Elifaz é quadripartida. O capítulo 4 está dividido em duas estrofes: (I) v. 2-11; (II) v. 12-21). (I) A primeira estrofe, subdividida em duas partes: I.a. uma exortação (v. 2-6); I.b. a doutrina da retribuição (v. 7-11). (II) A segunda estrofe também se divide em duas: II.a. a visão noturna (v. 12-16); II.b. o ser humano é efêmero (v. 17-21). O capítulo 5 consiste em duas estrofes: (I) v. 1-7; (II) v. 8-27. (I) A primeira estrofe está subdividida em duas partes: (I.a) uma exortação (v. 1-5); (I.b) a doutrina da retribuição (v. 6-7). (II) Na segunda estrofe, há duas subestrofes: II.a. um apelo (v. 8-17); II.b. uma promessa (v. 18-27).

Elifaz celebra as maravilhas de Deus (5,9-16). No v. 9 faz referências às grandezas insondáveis de Deus e às suas maravilhas, que excedem os números. Em seguida, cita quatro maravilhas: Na primeira, Deus controla a natureza e a fragilidade humana (v. 10). Na segunda, eleva os rebaixados e consola aqueles que estão de luto (v. 11), pois Deus não abandona aqueles que o procuram (1Sm 2,1-11). Na terceira, nos v. 12-15, Elifaz descreve a destruição dos estultos e dos espertos, condenados a viver nas trevas e na escuridão em pleno dia. E, nos v. 15-16, há uma síntese da justiça divina. Primeiramente, retoma-se o v. 11, citando que Deus salva os pobres, e, em seguida, descrevem-se as consequências: esperança para o fraco e amordaçamento da boca da maldade.

A resposta de Jó (6–7) está estruturada em quatro partes. No capítulo 6, são abordados dois conflitos entre Jó e seus interlocutores, enquanto, no 7, são duas meditações internas, que denominamos solilóquios, seguidas de dois diálogos com Eloah, que chamamos de teolóquios (PIKAZA, 2020, p. 70-73). Nos v. 5-6 do capítulo 6, observa-se a formação de uma pequena unidade composta de quatro perguntas retóricas, que estabelecem dois paralelismos sinonímicos: Orneja o asno selvagem junto à grama ou muge o boi ao lado da forragem? O que é insosso come-se sem sal? Encontra-se gosto na baba da malva? (v. 5-6).

O v. 5 compara o asno selvagem, um animal livre que não zurra junto à relva, ao boi, animal trabalhador, que não muge junto à forragem. E, como escreve Hartley, o v. 6 enfatiza a inadequação do consumo de alimentos insípidos sem adição de sal e a aversão de Jó ao sabor desagradável do néctar da buglossa, uma planta que, apesar de produzir grande quantidade de néctar e ser consumida na salada, não agrada o paladar devido ao seu sabor desagradável (HARTLEY, 1988, p. 133). Essa estruturação textual evidencia uma organização retórica cuidadosamente elaborada, utilizando perguntas retóricas e metáforas com o intuito de aprofundar a compreensão da situação de Jó e seu sofrimento.

Na resposta de Jó a Baldad (9–10), o primeiro narra seu próprio sofrimento (10,21-22) por meio de quatro termos que fazem alusão à vida após a morte: (1) trevas, (2) escuridão profunda, (3) treva e (4) escuridão. Para Jó, a morte é trevas e escuridão, uma terra de trevas e desordem, um lugar sombrio, desprovido de luz e esperança.

No discurso de Sofar (11), a linguagem quadripartida é empregada em dois momentos. Primeiro, em 11,7-9, Sofar descreve o ser insondável e incompreensível que é Eloah para o ser humano (MORLA, 2017, p. 364) utilizando a metáfora dos quatro pontos cardeais: (1) as extremidades de Shadday são inalcançáveis, mais que as alturas dos céus (v. 8a); (2) Eloah é mais profundo que o Sheol (v. 8); (3) ele é mais extenso que a terra (v. 9a); (4) e mais largo que o mar (v. 9b). Eloah é inacessível ao ser humano, e seus limites são comparáveis aos segredos da sabedoria (v. 6) (HABEL, 1985, p. 208). Nada pode escapar de sua presença. Diante disso, como um mortal da estirpe de Jó poderia analisar os desígnios divinos? Para Sofar, o pecador deve ser capaz de discernir a causa de sua tribulação e percorrer o caminho da conversão, que possui quatro etapas (11,13-14): (1) dispor o coração; (2) estender a Ele [Eloah] as tuas palmas; (3) afastar, para longe de tua mão, a iniquidade; e (4) não habite, em tua tenda, a injustiça.

Jó, em sua resposta a Baldad, emprega a linguagem quadripartida em dois momentos. Em Jó 12,13, utiliza quatro termos correlatos para confirmar que a plenitude do saber pertence a Eloah, que no texto é identificado pela terceira pessoa, com Ele (13a) e para Ele (13b). (1) A sabedoria, (2) o poder, (3) o conselho e (4) o entendimento pertencem a Eloah. Somente Eloah possui a sabedoria para planejar, a força e o poder para realizar Seus projetos (HARTLEY, 1988, p. 213). Por fim, em Jó 14,18-19, entrelaçam-se quatro imagens da natureza, configurando-se uma das caraterísticas do esquema quadripartido. Duas imagens sólidas: montanha e rocha (v. 18), e duas imagens líquidas: água e aguaceiro (v. 19). A montanha que cai e a rocha que se desfaz representam a tribulação de Jó, enquanto a água e o aguaceiro representam a ação de Eloah (MORLA, 2017, p. 462), que destrói a esperança do ser humano (v. 19c), independente de sua justiça (SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, 2011, p. 72).

Em seu segundo discurso (15), Elifaz acusa Jó de rejeitar as consolações de Deus e suas suaves palavras, e descreve o ressentimento de Jó (15,12-13) utilizando quatro termos antropológicos: coração, olhos, espírito e boca. Para representar o ser humano interior, utilizam-se o termo coração, entendido como “paixão”, e o termo vento, entendido como “furor”. Já o ser humano exterior é representado por dois órgãos da face: os olhos e a boca (MORLA, 2017, p. 492).

Jó, em sua resposta (16–17), após acusar os amigos de consoladores opressivos (16,2), expressa a percepção de que Eloah o entregou aos inimigos, os quais o perseguem com violência. Jó elenca quatro dos aliados de El que o agridem: (1) a fera, que range os dentes e lhe esmaga os queixos (16,9); (2) o combatente, que o esmaga (16,12); (3) o arqueiro, que transpassa seus rins com flechas impiedosas (16,13); e (4) o guerreiro, que o persegue, rasgando sua pele brecha por brecha (16,14). O clímax da violência divina ocorre em 16,12. Jó enumera quatro ataques injustos de Eloah contra sua vida: (1) Ele me esmagou, (2) agarrou-me pela nuca, (3) me destroçou e (4) me fez levantar, para Ele, como alvo.

Em seu terceiro discurso (22), Elifaz julga a conduta ímpia de Jó, afirmando que a maldade deste para com os pobres é a causa de suas desgraças. O texto enumera (v. 10-11) quatro imagens para confirmar a desgraça do ímpio Jó. Segundo Elifaz, o malvado está cercado pelo laço (22,10a; Js 23,13; Am 3,5; Sl 124,7; Pr 7,23); além disso, o terror o perturba (22,10b; Gn 31,42; Jó 3,25; 4,14; 13,11; 15,21; 21,9; 25,2; 31,23; 39,16.22). A escuridão impede Jó de ver (Jó 18,6; Is 5,30; 45,7; Sl 36,10), enquanto as águas caudalosas o cobrem (Nm 20,11; Jr 41,12; Ez 17,5.8), formando um cenário de desolação e morte, exatamente como está acontecendo com Jó.

A resposta de Jó a Elifaz (23–24) destaca um dos textos centrais para a tese das estruturas quadripartidas. Jó questiona: onde está Deus? (23,8-12). Contudo, Eloah permanece em silêncio, e, não importa a direção para onde Jó se volte, Deus não se revela em lugar algum. O capítulo 24 é uma reflexão sobre o sofrimento social. O texto pode ser estruturado em quatro partes distintas. Os v. 1-4 abordam o tema da violência contra os pobres. Nos v. 5-12, é retratado o imobilismo de Eloah diante do sofrimento dos empobrecidos. Os v. 13-17 abordam a conduta dos violentos, que são os opositores da luz. Os v. 18-25 formam um texto que, segundo Hartley, é de difícil interpretação (1988, p. 352), e, como escreve Grenzer, está repleto de propostas de reorganizações (HARTLEY, 2005, p. 66) e aborda o destino dos ímpios ou dos pobres. Quanto à retórica quadripartida, observam-se nos v. 2-4 os predadores cometendo uma série de atos criminosos contra os pobres e contra seus bens. O texto elenca seis crimes contra quatro grupos de empobrecidos: (1) os órfãos, (2) a viúva, (3) os indigentes e (4) os oprimidos da terra.

No capítulo 27, v. 20-23, última unidade do diálogo de Jó com seus interlocutores, o texto recorre à linguagem cosmológica, citando os eventos meteorológicos para falar dos terrores súbitos que atingem a vida do ímpio. São quatro terrores que o atacam: (1) alcançam-no como as águas, como um aguaceiro (v. 20a); (2) a noite o arrebata e atormenta, um calor que perturba o sono com pesadelos (v. 20b); (3) carrega-o o vento oriental, um vento quente do deserto (v. 21a; Ex 10,13; 14,21; Ez 19,12); (4) a ventania o arranca de seu lugar (v. 21b; Sl 50,3). O ímpio experimenta cada um desses terrores como se fosse a mão divina (v. 22b), um instrumento do julgamento divino.

3.5 Sabedoria: como encontrá-la? (28)

O capítulo 28 é considerado como intermediário, um texto que interrompe os diálogos entre Jó e seus interlocutores (MORLA, 2017, p. 909). Gordis, por outro lado, defende que o texto foi adicionado posteriormente e, por tanto, seria independente (GORDIS, 2011, p. 238) ou, como escreve Janzen, seria uma resposta de Jó aos temas abordados nos discursos anteriores (JANZEN, 2003, p. 245). No entanto, como defende a leitura canônica, esse capítulo deve ser interpretado em seu contexto literário original.

Na tese das estruturas quadripartidas, Jó 28 ocupa o centro da obra como um interlúdio e um primeiro clímax da narrativa de Jó. Um primeiro clímax porque começam a aparecer soluções para os discursos anteriores. A pergunta retórica: onde encontrar a sabedoria? (v. 12.20) funciona como um refrão e pode ser entendida como um retorno de Jó à fé (1,1).

Quanto à estrutura, o texto segue um esquema em quatro estrofes como um quiasmo (ab//b’a’): (a) apresentação do enigma: a sabedoria humana (v. 1-11); (b) primeira questão: a sabedoria, onde encontrá-la? (v. 12-19); (b’) segunda questão: a sabedoria, onde encontrá-la? (v. 20-22); e (a’) solução do enigma: a sabedoria divina (v. 23-28). Esse esquema corrobora a tese das estruturas quadripartidas.

A retórica quadripartida evidencia-se nos v. 23-24 por meio do emprego de verbos que delineiam a relação de Deus com a sabedoria. No v. 23, os verbos compreender, discernir, saber e conhecer revelam a onisciência divina, enquanto, no v. 24, olhar ou fixar os olhos e ver ressaltam um olhar penetrante que enxerga todas a coisas. Nos v. 25-27, a participação da sabedoria na obra da criação é elucidada por meio de quatro elementos da natureza: (1) o vento, (2) as águas, (3) a chuva e (4) o relâmpago. Foi a sabedoria quem mediu o peso do vento, fixou a medida das águas, que controla a chuva e indica o caminho do relâmpago. A retórica quadripartida prossegue no v. 27, enfatizando por meio dos verbos ver, descrever, discernir e perscrutar a relação íntima entre Eloah e a sabedoria, corroborando sua natureza divina e sua função no ordenamento cósmico.

3.6 Diálogos poéticos II (29,1–42,6)

Os diálogos poéticos II (29,1–42,6) constituem a quarta unidade literária do livro, a qual está subdividida em três partes distintas: (I) O segundo monólogo de Jó (29–31) serve como introdução à segunda rodada de discursos, os quais serão proferidos por Jó (II); seguem-se os discursos de Elihu (32–37); e (III) a teofania (38,1–42,6), na qual YHWH responde aos questionamentos de Jó (31,35-37). Esses três blocos corroboram a tese das estruturas quadripartidas.

3.6.1 O testamento de Jó (29–31)

Os capítulos 29–31 introduzem o segundo bloco de diálogos, que consiste em um monólogo, assim como o capítulo 3. Jó atua como um advogado defendendo sua integridade e temor a Deus (1,1). Trata-se de um discurso em quatro partes: (1) Na primeira, Jó reitera seu pedido para que Eloah lhe responda pessoalmente e faz uma retrospectiva de sua vida (29). (2) Em seguida, descreve seu presente (30). (3) Na terceira, projeta seu olhar para o futuro (31,1-34). Por último, (4) na quarta parte, expressa seu desejo de que Shadday, o Todo-Poderoso, responda pessoalmente às suas indagações (31,35-40).

No capítulo 29, a retórica quadripartida informa sobre a função social de Jó. Quando Jó adentrava a praça para ocupar seu assento, os presentes o recebiam com reverência. Os jovens saíam secretamente, e os anciãos (v. 8) se levantavam e permaneciam de pé. Os chefes silenciavam suas declarações, e os líderes (v. 9-10) emudeciam. Nos v. 12-13, há um paralelismo sinonímico, entrelaçando a vida dos empobrecidos com a crença e a postura ética de Jó. O texto identifica duas duplas de empobrecidos: a primeira dupla é formada pelo oprimido e pelo moribundo, representantes daqueles que são submetidos à miséria econômica e à opressão social (Dt 15,11). A segunda dupla, composta do órfão e da viúva, representa os abandonados, pessoas privadas dos recursos necessários para sobreviver, pois não contavam mais com a proteção de suas famílias, mas eram protegidas pela lei e por YHWH (Dt 24,17-19; 10,18; Sl 68,6).

Os v. 15-16 apresentam mais quatro grupos de empobrecidos. No v. 15, Jó se identifica com os olhos do cego e os pés do coxo. O v. 16 elenca outros dois grupos que requerem atenção jurídica: o ’ebyôn, substantivo que denota uma pessoa em situação de pobreza material, e a pessoa desconhecida, representante dos estrangeiros. O hemistíquio 16a representa o ápice das ações sociais de Jó, revelando seu caráter e comprometimento com a justiça social em relação aos empobrecidos. A expressão pai eu [era] para os pobres abrange todos os marginalizados mencionados no livro, destacando, assim, a abrangência e a intensidade do cuidado de Jó para com os pobres.

A estrutura do capítulo 30 é determinada por um pensamento quadripartido. Jó descreve sua experiência do presente embasada pela repetição do advérbio temporal e agora / mas agora, que introduz as três primeiras estrofes. (a) Na primeira (v. 1-8), Jó é ridicularizado pelos seus concidadãos; (b) na segunda (v. 9-15), é submetido a maus-tratos; (c) na terceira unidade (v. 16-23), ele é atormentado e desprezado até por Eloah. (d) A quarta estrofe (v. 24-31) é introduzida pela partícula enfática certamente, de fato, que reforça a oposição entre o passado e o presente (MAZZONI, 2020, p. 219). Jó, um homem justo, caminha em desgraça. O capítulo 30 é um lamento e assemelha-se ao capítulo 3, com a peculiaridade de que o adversário de Jó, embora não nomeado, é o próprio Eloah.

O capítulo 31 é o ápice dos discursos de Jó (FOKKELMAN, 2001, p. 279). Nele, o conteúdo principal é o juramento de integridade de Jó, enquanto a forma adotada é a retórica, caracterizada pela utilização da ironia. Nesse texto, Jó defende sua integridade com uma série de cláusulas de autoexcludente/autoimprecação, seguindo a fórmula ius talionis (WEISER, 1975, p. 319). Nessas cláusulas, a conjunção se é empregada como fórmula de juramento formal: Se eu tiver feito X (Jó 31,7.9.21.38)…, então mereço Y (Jó 31,8.18.22.40). Nesse discurso, identificamos quatro proposições condicionais seguidas de quatro maldições (HABEL, 1985, p. 430).

O texto está dividido em duas partes. Os v. 1-34 constituem a terceira parte do testamento de Jó, enquanto os v. 35-40, a quarta parte, e seu conteúdo é o desafio final de Jó a Shadday. O esquema geral dos v. 1-34 está dividido em três partes, que enfatizam a postura ética de Jó. (I) A primeira (v. 1-12) trata da integridade de Jó, sendo subdividida em quatro partes temáticas: Jó (a) declara que nunca cedeu à luxuria (v. 1-4), (b) que a falsidade e o engano não fazem parte de seu caráter (v. 5-6), (c) confessa que nunca cobiçou (v. 7-8) e (d) assegura que seu coração nunca se deixou levar pelos encantos de uma mulher ou se aproximou da porta de seu vizinho (v. 9-12).

(II) Jó é um homem justo. Os v. 13-23 enumeram quatro transgressões que Jó jamais cometeu: (a) ele nunca negou o direito a seus servos e servas (v. 13-15). (b) Os v. 16-23 apresentam Jó como defensor dos pobres; os v. 16a e 19 citam três adjetivos que são traduzidos por “pobres”: indigente, abandonado e necessitado. (c) O v. 16b menciona a viúva. (d) E, no v. 17, o órfão. Essa descrição é crucial para compreender a postura de Jó e sua relação com os empobrecidos de sua sociedade.

(III) A terceira unidade (v. 24-34) revela que Jó jamais cometeu idolatria. O texto aborda quatro temas que confirmam que Jó é um homem temente a Deus (1,1): (a) a idolatria (v. 24-28), (b) o mal direcionado ao inimigo (v. 29-30), (c) a hospitalidade ao estrangeiro (v. 31-32) e (d) a hipocrisia (v. 33-34).

Os v. 35-40, quarta parte, culminam com a apologia de Jó, o clímax de sua defesa e a expectativa por uma resposta de seu adversário. Jó desafia Shadday, exigindo que este apresente a peça jurídica oficial, redigida pelo seu oponente. O objetivo de Jó é que Shadday pondere seu caso e declare sua inocência. Na última frase, a voz poética declara, de forma objetiva: [estão] completas as palavras de Jó. No entanto, o verbo completar, concluir, nesse contexto sugere a ideia de integridade, perfeição e autenticidade. Dessa forma, qual seria a interpretação correta? (a) As palavras de Jó foram concluídas? Ou (b) são autênticas as palavras de Jó? Essa incerteza será esclarecida em Jó 42,7b.

3.6.2 Os discursos de Elihu (32–37)

Os quatro discursos de Elihu compreende os capítulos 32,7–37,24, sendo precedidos de um prólogo narrativo (32,1-6), que apresenta Elihu e o objetivo de seu discurso. Quanto à estrutura geral dos discursos, há uma conexão temática entre o primeiro discurso (32,6b–33,33) e o quarto (36,1–37,24), os quais abordam o tema do conhecimento. Por outro lado, o segundo discurso (34,2-37) e o terceiro (35,2-16) tratam do tema da justiça divina e da justiça humana. Dessa forma, observa-se uma construção em forma de quiasmo AB//B’A’. Cada discurso começa com uma fórmula de abertura distinta. (A) A primeira destaca a origem familiar de Elihu: respondeu Elihu, filho de Barakel, o buzita, e disse (32,6a). (B) Tanto o segundo discurso quanto o terceiro (B’) iniciam-se com a fórmula discursiva: então respondeu Elihu e disse (34,1; 35,1), o que causa estranheza, já que não há interrupções entre os discursos. (A’) Por sua vez, o quarto discurso começa com a fórmula: e continuou Elihu e disse (36,1), indicando uma continuidade direta com os discursos anteriores.

A estrutura quadripartida também pode ser observada na estrutura interna dos discursos, com exceção do primeiro. O segundo discurso é um monólogo em quatro partes. (I) Nos v. 2-9, Elihu introduz, no v. 4, o tema da justiça: vamos discernir o que é direito. Em seguida, estrutura os argumentos em três estrofes: (I.a) introdução, v. 2-9, (I.b) a justiça de Shadday, v. 10-15, (I.c) um juiz imparcial, v. 16-30 e (I.d) a insensatez de Jó, v. 31-37. O terceiro discurso apresenta um esquema quiástico (ab//b’a’). (a) introdução: declarações de Jó (v. 2-4); (b) primeiro argumento: olha o céu e vê (v. 5-8); (b’) segundo argumento: onde está Eloah? (v. 9-13); e (a’) conclusão: insultos de Jó (v. 14-16). No quarto discurso, Elihu aborda dois temas principais: no primeiro, afirma que o sofrimento enviado por Deus é pedagógico e, com isso, procura a conversão de Jó (36,2-25); no segundo, discute a majestade divina (36,26–37,24). Quanto à estrutura, os temas estão organizados em quatro seções: (a) introdução (36,1-4), (b) os caminhos disciplinares de Eloah (36,5-25), (c) a glória de Eloah (36,26–37,20) e (d) o esplendor divino (37,21-24).

3.6.3 A teofania (38,1–42,6)

Finalmente, YHWH responde às indagações de Jó (9,31; 13,21; 32,1-6); no entanto, seus discursos não possuem o caráter acusatório, como os discursos dos interlocutores de Jó e os de Elihu. Em vez disso, são repletos de perguntas retóricas dotadas de ironias, às quais são impossíveis de serem contestadas por Jó. O texto está estruturado em quatro partes: dois discursos de YHWH seguidos por duas respostas incisivas de Jó. Cada texto inicia-se com uma fórmula de abertura: respondeu… e disse (38,1; 40,1.6; 42,1), apresentando uma formação retórica espelhada (AB//A’B’).

(A) No primeiro discurso de YHWH (38,1–39,30), são apresentadas as maravilhas da criação como fenômenos superiores ao conhecimento humano, enquanto Jó é confrontado com suas próprias limitações. (B) A resposta de Jó (40,1-5) é um pequeno diálogo entre Jó e YHWH. (A’) O segundo discurso de YHWH, abrangendo os capítulos 40,7–41,26, está centrado nas figuras mitológicas do Behemot, uma grande fera terrestre, e, do Leviatã, uma fera aquática. (B’) A última parte da teofania é a resposta de Jó a YHWH (42,1-6) e combina elementos poéticos e prosaicos, um recurso literário presente em todos os blocos do livro.

O primeiro discurso de YHWH está dividido em duas partes. (I) Jó 38,1-3 é a introdução da teofania e revela a intenção divina de dirigir-se a Jó, composta do desafio e da convocação de YHWH. (II) Jó 38,4–39,30, segunda parte, é o discurso propriamente dito, no qual são apresentadas as obras criadas por YHWH. O texto está subdividido em três estrofes: (a) o cosmos (38,4-18), (b) os fenômenos meteorológicos (38,19-38) e (c) o reino animal (38,39–39,30). No entanto, cada estrofe está subdividida em quatro temas.

  • (a) A primeira estrofe descreve as quatro regiões do cosmos (38,4-18). (1) a terra (v. 4-7), (2) o mar (v. 8-11), (3) o amanhecer (v. 12-15) e (4) o submundo (v. 16-18). A estrutura da unidade é marcada pela repetição da fórmula relata se conheces (v. 4b.18b).

  • (b) A segunda estrofe aborda os fenômenos meteorológicos (38,19-38) e é composta de quatro estrofes, nas quais YHWH interroga Jó sobre o caminho dos fenômenos meteorológicos e a morada das plêiades: (1) a luz e as trevas (v. 19-21), (2) a força do tempo (v. 22-30), (3) as constelações celestes (v. 31-33); são citadas quatro constelações conhecidas pelos povos antigos: as Plêiades (Am 5,8; Jó 9,9), o Órion (Am 5,8; Jó 9,9; Is 13,10), a Mazzarot, a Ursa e seus filhotes. (4) A quarta unidade fala das tempestades (v. 32-38).

  • (c) Na terceira estrofe, YHWH questiona Jó sobre o reino animal. Embora o texto não siga uma sequência, menciona quatro famílias de animais: (1) a família felídea, citando a leoa (38,39-40); (2) a família avícola, citando o corvo (38,41), o avestruz (39,13-18) e as aves de rapina (39,26-30); (3) a família bovídea, mencionando as cabras, as gazelas (39,1-4) e o búfalo (39,8-12); (4) a família equídea, representada pelo asno, pelo jumento (39,5-8) e pelo cavalo (39,19-25).

No segundo discurso de YHWH (40,6–41,26), a retórica quadripartida é evidente ao descrever os métodos de pesca do Leviatã, um animal invencível. Não adianta atacá-lo, nem mesmo com armas militares, como (1) espada, (2) lança, (3) flecha ou (4) dardo, que são as quatro armas letais usadas nas guerras (v. 18-19). Também é inútil enfrentá-lo com (1) flechas de arco, (2) pedras de funda ou (3) clava; nem mesmo o (4) barulho das tropas o afugenta (v. 20-21), que são quatro técnicas de guerra.

A segunda resposta de Jó a YHWH (42,1-6) é breve, porém central, e pode ser considerada como um texto-chave para a interpretação de todo o livro. A perícope pode ser subdividida em quatro unidades temáticas, uma caraterística que corrobora a tese das estruturas quadripartidas: (a) reconhecimento (v. 2-3a), (b) confissão (v. 3b-c), (c) experiência (v. 4-5) e (d) consolação (v. 6).

No texto, o verbo saber desempenha uma função central (v. 2-3), pois define a estrutura e a teologia da perícope. Em primeiro lugar, o verbo saber é empregado como uma inclusão, ocupando a primeira posição da proposição 2aα e a última posição do v. 3c. Em segundo lugar, ele ocorre quatro vezes, três na primeira unidade (v. 2a.3a.3c) e uma quarta vez na segunda unidade, no v. 4b, na última posição (FOKKELMAN, 2001, p. 313).

No v. 2a, Jó afirma que YHWH detém todo saber: tu sabes que tudo podes (v. 2a). E Jó, por sua vez, não conhece (v. 3a), não entende (v. 3b) e não sabe (v. 3c), conclusões que alcançou após ouvir atentamente os discursos divinos. O verbo saber reaparece na última posição do v. 4b: e me fazes saber, sem objeto direto; nesse caso, sua função é destacar que Jó, de fato, não possui o saber.

3.7 Epílogo: a restauração de Jó (42,7-17)

O epílogo não se configura meramente como a conclusão narrativa do livro, tampouco como uma inclusão; ao contrário, representa a restauração da integridade de Jó e deve ser interpretado como conclusão abrangente de todo o livro, mesmo que, à primeira vista, sua teologia pareça contradizer o debate entre Jó e seus interlocutores. Em uma leitura que não abrange toda a obra, o epílogo parece defender a teologia da retribuição, e a restauração seria, nesse caso, um prêmio pelo arrependimento de Jó. Todavia, o tema central do epílogo é o restabelecimento de Jó, um homem de fé íntegra, que ocorre em quatro ações de YHWH. Observa-se, portanto, uma estrutura quadripartida, característica que confirma a tese deste estudo.

O epílogo retoma a narrativa do prólogo, pois a restauração de Jó ocorre na mesma sequência que as tribulações descritas no prólogo. O texto pode ser subdividido em duas unidades: (I) introdução, que compreende um diálogo de YHWH e os três interlocutores de Jó (v. 7-9); (II) a descrição da restauração de Jó e a informação de sua morte (v. 10-17).

Quanto aos elementos que corroboram a linguagem quadripartida, na primeira unidade YHWH reconhece Jó como meu servo, expressão que aparece quatro vezes: uma no v. 7d e três vezes no v. 8. Meu servo é um título de honra utilizado no Antigo Testamento para Moisés (Nm 12,7; Js 1,2) e Davi (2Sm 3,18; 7,5.8), principais líderes da história bíblica. Jó, para YHWH, é um servo, assim como o servo de YHWH em Isaías, pois também foi ultrajado e rejeitado por todos (Is 42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,12), apesar de ser íntegro, reto, temente a Deus e viver afastado do mal. Como servo de YHWH, Jó pode ser considerado um typos de Cristo13. Nesse contexto, seu sofrimento possui um caráter vicário, prefigurando o sofrimento redentor de Jesus, que sofre para redimir a humanidade. Além disso, a experiência de Jó demonstra que o ser humano pode agir de maneira gratuita, evidenciando que a fé e a integridade podem existir independentemente de recompensa ou reconhecimento divino (Jó 1,8).

A restauração de Jó é realizada por YHWH e não por mérito pessoal. Como escreve Habel, trata-se de uma dádiva divina e não apenas de um ato de fé de Jó (HABEL, 1985, p. 584). A restauração começa no v. 10a com a fórmula: e YHWH restaurou Jó14, e tem o sentido de mudar a sorte ou promover a restauração total do povo e da terra (Jr 30,3).

O texto narra quatro restaurações:

  • (1) A restauração teológica: YHWH restaura as funções patriarcais e sacerdotais (v. 10a). As funções sacerdotais de Jó são devolvidas quando, em profundo silêncio, oferece o holocausto de sete touros e de sete carneiros e intercede por seus amigos.

  • (2) A restauração econômica: os bens de Jó são devolvidos (v. 10b-12). O processo de restauração dos bens de Jó se iniciou no v. 10a, mas não foi automático, pois se estendeu ao longo de cento e quarenta anos. O v. 10 informa que a intenção de YHWH é multiplicar pelo dobro os bens de Jó.

  • (3) A restauração afetiva: nascerá dele uma nova família (v. 13-15). YHWH fez nascer, na casa de Jó, outros sete filhos e três filhas (v. 13). As filhas de Jó são nomeadas como sinal de sua riqueza e de seu status de patriarca. Conforme Pikaza, os nomes das jovens foram extraídos da natureza (PIKAZA, 2020, p. 317) e representam sua beleza (HABEL, 1985, p. 585). A primeira recebeu o nome de um pássaro, Yeminah, que significa “pomba”, símbolo da beleza e do amor nos cânticos (Jó 2,14; 5,2; 6,9). A segunda recebeu o nome de um vegetal, Qesiah, “cássia”, uma planta aromática usada como perfume (Ex 30,24; Sl 45,8). A terceira foi chamada de Qeren happuk, que significa “chifre de antimônio”, um tipo de rímel, um cosmético usado para embelezar o contorno dos olhos e cílios (1Rs 9,30; Jr 4,30). Contudo, Clines sugere que os nomes das três jovens evocam os quatro sentidos que definem a essência do ser humano, os sentidos das faces, no plural, para lembrar o múltiplo voltar-se do ser humano para seu interlocutor (WOLFF, 2007, p. 131): a audição, o olfato e sabor e a visão (CLINES, 2011, p. 1237). A beleza das jovens é destacada no v. 15a, que assegura: não havia mulheres em todo o país tão belas como as filhas de Jó.

  • (4) A restauração existencial: Jó viveu e viu a quarta geração. Os v. 16-17 narram a restauração da vida de Jó e sintetizam as ações de YHWH, que o abençoou com o dom da longevidade: e viveu Jó, depois disso, cento e quarenta anos (v. 16). O Sl 90,10 afirma que Setenta anos é, às vezes, a duração de nossa vida, oitenta, se ela for vigorosa. E Jó recebeu, sem contar os anos passados, o dobro de uma vida normal, o que está de acordo com o processo de sua restauração. Sua vida, assim como suas propriedades, também foi duplicada (v. 10) (GRAY, 2010, p. 507). E Jó teve a oportunidade de ver seus descendentes até quatro gerações, mais do que José do Egito (Gn 50,23) (MAZZONI, 2020, p. 307). Por fim, Jó foi abençoado por YHWH, recebeu a coroa dos avós até a quarta geração (Sl 128,6; Pr 17,6), teve, como os patriarcas (Gn 25,8; 35,29; 50,26), uma morte pacífica após uma longa existência e morreu idoso e saciado de dias (v. 17).

Considerações finais

A estrutura literária de um livro bíblico determina sua interpretação teológica. Iniciamos este estudo com essa afirmação para demonstrar que a insistência em interpretar o livro de Jó a partir de proposições teológicas externas, alheias ao texto e à sua unidade literária, acaba por ocultar a possibilidade de um outro esquema estrutural que considere o texto canônico. O livro de Jó é uma narrativa universal que transcende as fronteiras do mundo judaico-cristão e insere-se em todas as culturas, dialogando com todos os seres humanos em todos os tempos e lugares. Diante do sofrimento injusto, o ser humano exclama: onde está meu Deus? Essa questão atravessa a vida de Jó, que procura por Eloah pelos quatro cantos do cosmos: vou ao Oriente, ali não está; vou ao Ocidente, não o percebo. Está ocupado no Norte, não o descubro; escondido no Sul, tampouco o vejo (23,8-9). Essa visão cosmológica, embasada no uso do número “quatro”, fundamentou a tese das estruturas quadripartidas no livro de Jó.

Os quatro adjetivos que definem a personalidade de Jó – íntegro e reto, temente a Deus e que se afastava do mal (Jó 1,1.8; 2,3) – não constituem apenas um testemunho divino, mas fundamentam a tese das estruturas quadripartidas. Dessa forma, o quadrilátero ético oferece uma perspectiva estrutural e hermenêutica. Isso foi demonstrado tanto na macroestrutura, composta dos blocos, quanto nas microestruturas, composta dos capítulos, perícopes e versículos em diversos textos, baseadas no número “quatro”, que simboliza o cosmos.

A macroestrutura, fundamentada no modelo quinário, seguiu as incursões do narrador, que delimita, a partir de fórmulas de introdução ou de conclusão, cada discurso, bloco e perícope, revelando que o texto segue um esquema contínuo, unindo a narrativa e a poética como dois blocos que se complementam. Por isso, o texto de Jó deve ser analisado globalmente, e a interpretação das narrativas depende da interpretação poética.

Ao concluirmos a pesquisa, é importante reconhecer que podem surgir questões. No entanto, é preciso evitar representações equivocadas de que estamos retratando o livro de Jó como um monólito quadrado, o que seria impossível para qualquer livro bíblico. A abordagem em questão buscou demonstrar que a preferência pelo número “quatro” e sua representação cosmológica foram a base para a estruturação quadripartida e a inspiração para a identificação de esquemas quádruplos, como demonstrado na análise de Jó 1,1b e 23,8-9, que serviu de base para a identificação de esquemas semelhantes nos diversos blocos e capítulos do livro. A finalidade deste esquema quadripartido, como bem explorado e comprovado, foi explorar o uso retórico do número “quatro” e enfatizar essas características específicas de Jó.

  • 1
    O termo alemão Vorlage, que significa “cópia” ou “modelo”, é empregado na crítica textual para designar um documento utilizado como fonte ou referência em processos de transmissão textual.
  • 2
    A expressão grega hápax legómenon (do grego hápax, “uma única vez”, e legómenon, “dito”, “falado”) refere-se a uma palavra ou forma linguística que aparece apenas uma vez em um texto bíblico ou em um conjunto de textos.
  • 3
    A “abordagem canônica” estuda o texto bíblico em sua forma final e prioriza a interpretação dentro do contexto completo do texto canônico. Essa abordagem rejeita reorganizações estruturais e proposições teológicas externas, focando na disposição canônica do texto. A interpretação canônica busca compreender o significado do texto à luz de sua própria estrutura e finalidade, respeitando sua posição dentro da tradição bíblica. Dessa forma, abordagem canônica assegura que o texto seja interpretado com base em sua lógica interna e teológica, preservando sua coesão e integridade.
  • 4
    No prólogo do livro de Jó, Satã é retratado como um membro da corte celestial com a função de advogado de acusação, sem as conotações demoníacas que terá posteriormente na tradição judaica e na cristã. O termo há Satan, no hebraico, é sempre precedido pelo artigo e descreve uma função, significando “o acusador” ou “o adversário”. No tribunal de YHWH, essa figura questiona a fidelidade de Jó para testar sua veracidade (Zc 3,12). Na LXX, “Satã” é traduzido como ho diábolos, “o caluniador”, origem do termo “diabo” nas línguas latinas (MAZZONI, 2020, p. 41). No entanto, esse substantivo comum assume o valor de nome próprio em 1Cr 21,1 (TEB, p. 1366, nota “b” a 1Cr 21,1).
  • 5
    As citações bíblicas apresentadas são traduções minhas.
  • 6
    O termo traduzido por firmamento (do verbo RQ‘) significa originalmente: estender e endurecer uma lâmina de metal com marteladas para estendê-la como metal, fabricando uma chapa (Jó 37,18).
  • 7
    O termo grego kósmos refere-se a um conceito de ordem e abrange significados como ornamento, universo, e a criação visível, como referência a hermenêutica cosmológica. Em todos os seus usos o cosmos é contrastado dramaticamente com a desordem cósmica. Ele designa a totalidade da ordem cósmica, incluindo a Terra, e é utilizado para descrever o universo ou o mundo de forma abrangente. Exemplos desse uso são encontrados em Mt 25,34; Jo 17,5; At 17,24; Rm 1,20; 1Cor 8,4; Ef 1,4; 2,2; 1Pd 1,20; Ap 13,8; 17,8. Contudo, o termo “cosmos” não aparece na BH. A LXX traduz alguns termos hebraicos para transmitir conceitos de ordem e ornamento, e aspectos do mundo criado que refletem a ideia do universo como um cosmos ordenado por Deus. Termos como tehom, abismo (Gn 1,2); Shamayim, céus, uma referência à morada divina e à esfera celestial, e erets, terra, que designa o mundo habitado pelos humanos e ‘deyam, ornamento (Ex 33,6). O livro de Jó, há algumas menções ao cosmos. Em Jó 38,19, “De que lado mora a luz?”, e em 38,22, há referência aos “depósitos de neve”. Em Jó 9,6-7 são mencionados os pilares da terra, o sol e o lacre das estrelas. Jó 26,7 descreve o Norte como pendente sobre o nada e, o v.10, fala dos limites da luz, referindo-se ao horizonte como limite entre luz e escuridão. Em Jó 38,4-6 são citados os fundamentos da terra, de onde emergem os alicerces e a pedra angular. Finalmente, em Jó 36,27, discute-se o ciclo das águas que se filtram em chuvas e contribuem para o dilúvio (WALTON, 2018, p. 11-13).
  • 8
    Em Ap 6,1-8, ocorre a abertura do quarto selo, revelado na figura de quatro cavalos e quatro cavaleiros, que simbolizam a realidade de morte do Império Romano. Ap 7,1 afirma: “Vi quatro anjos de pé sobre os quatro cantos da terra”.
  • 9
    Noé é apresentado como um homem justo e íntegro (Gn 6,9).
  • 10
    Hendíadis é um recurso retórico que consiste em expressar uma única ideia por meio de dois termos coordenados, sejam substantivos sejam verbos, que na realidade são interdependentes e convergem para um significado unificado.
  • 11
    O modelo clássico, aristotélico, estrutura a narrativa, o enredo, como uma pirâmide, composta de três elementos fundamentais: (I) exposição, (II) complicação e (III) resolução. Essa estrutura piramidal pode ser observada no livro de Jó, no qual o prólogo se configura como a (I) exposição (1,1–2,13), os diálogos poéticos (3,1–42,6) constituem (II) a complicação e o epílogo (42,7-17) a (III) resolução (MARGUERAT; BOURQUIN, 2009, p. 57).
  • 12
    No livro de Jó, diversos epítetos divinos são utilizados. No prólogo e no epílogo, aparecem YHWH e Elohim, enquanto nos diálogos poéticos são empregados: El, Eloah, Elohim e Shadday (HARMAN, 1886). No entanto, essa variação de epítetos não é o foco deste estudo.
  • 13
    O termo grego typos significa “modelo” ou “arquétipo” e refere-se às figuras bíblicas que servem como prefigurações. Na tipologia, certos indivíduos e eventos ou imagens do Antigo Testamento são vistos como tipos que preanunciam e são cumpridos nas realidades do Novo Testamento. Assim, o primeiro elemento anuncia uma realidade futura, enquanto o segundo a concretiza. A tipologia é, portanto, uma abordagem que entende as figuras bíblicas como interligadas por uma relação de preparação e cumprimento. Nesse sentido, o sofrimento de Jó pode ser interpretado como um tipo de Cristo, demonstrando que o ser humano pode ser íntegro e fiel independentemente das circunstâncias, e que essa integridade encontra sua plenitude na figura de Cristo, que a confirma e realiza.
  • 14
    No texto hebraico está escrito: YHWH restaurou a restauração de Jó. A fórmula restaurou a restauração aparece vinte e cinco vezes no Antigo Testamento e expressa a ideia de restauração, como em Jeremias: restaurar a sorte ou realizar uma restauração (Jr 33,26), no sentido de mudar a sorte ou a restauração total do povo e da terra (Jr 30,3). Está presente no Antigo Testamento, principalmente na literatura profética (HARTLEY, The Book of Job, p. 540), e faz referência à restauração de uma nação cativa (Jr 30,3.18; 31,23; 33,11; Os 6,11; Am 9,14; Sl 14,7). Somente em Jó 42,10a é mencionada a restauração de um indivíduo e não de uma nação.
  • *
    O presente artigo sintetiza a tese doutoral Jó,homem íntegro e reto, temente a Deus e que se afastava do mal” (Jó 1,1b): análises narrativo-estruturais a partir do livro de Jó, defendida e aprovada em 25 de outubro de 2023 na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, com o apoio da CAPES. A tese está disponível em: https://faculdadejesuita.edu.br/wp-content/uploads/2022/05/Tese_Werlen-Lopes-da-Silva.pdf

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2024

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2024
  • Aceito
    05 Set 2024
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