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O TEMPO É SUPERIOR AO ESPAÇO: O PRINCÍPIO DAS MUDANÇAS SOCIAIS E ECLESIAIS, NO MAGISTÉRIO DE FRANCISCO

RESUMO

O artigo examina os quatro princípios norteadores da dimensão social da evangelização, em particular, da promoção do bem comum e da paz social, segundo o magistério do Papa Francisco, expresso em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: a) O tempo é superior ao espaço; b) A unidade prevalece sobre o conflito; c) A realidade é mais importante do que a ideia e d) O todo é superior à parte. Pretende-se suprir a uma lacuna interpretativa sobre o tema em questão, uma vez que os estudiosos têm se contentado em expor os princípios sem esclarecê-los ou mesmo os têm utilizado de forma indiscriminada e ambígua. A partir de conhecimentos sobre a reflexão filosófica a respeito do tempo, o autor desenvolve uma reflexão e interpretação filosófico-teológica que demonstra o alcance e o desafio que os quatro princípios apresentam para a vida social e o anúncio do Evangelho, o diálogo entre os povos e a paz mundial.

PALAVRAS-CHAVE
Tempo; Criatividade; Evangelização; Diálogo; Paz

ABSTRACT

The article examines the four guiding principles of the social dimension of evangelization, in particular the promotion of the common good and social peace, according to the teaching of Pope Francis, contained in his Apostolic Exhortation Evangelii Gaudium: a) Time is greater than space; b) Unity prevails over conflict; c) The reality is more important than the idea and d) The whole is superior to the part. It is intended to fill an interpretative gap on the subject in question, since scholars have been content to expose the principles without clarifying them or even have used them indiscriminately and ambiguously. Based on knowledge of philosophical reflection about time, the author develops a philosophical-theological reflection and interpretation that demonstrates the scope and challenge that the four principles present for social life and Gospel proclamation, the dialogue between peoples and world peace.

KEYWORDS
Time; Creativity; Evangelization; Dialogue; Peace

Introdução

O Papa FranciscoFRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: exortação apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Brasília: Edições CNBB, 2013., em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG), surpreendeu muitos leitores e leitoras ao elencar quatro princípios capazes de promover o bem comum e a paz social, mas cujo sentido pareceu misterioso para alguns, abstrato para outros e, no limite, distante de uma perspectiva teológica, bíblica e sapiencial. São eles: a) O tempo é superior ao espaço; b) A unidade prevalece sobre o conflito; c) A realidade é mais importante do que a ideia e d) O todo é superior à parte. Tecidos por dualidades que não são simplesmente enumeradas na exortação, mas formuladas com clara distinção de importância e prevalência, ganham o sentido de princípios norteadores, aplicados por FranciscoFRANCISCO, Papa. Visita Pastoral do Papa Francisco a Prato e Florença (10/11/2015): discurso aos participantes do V Congresso da Igreja Italiana. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/november/documents/papa-francesco_20151110_firenze-convegno-chiesa-italiana.html. Acesso em: 09 mar. 2022.
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ao âmbito da ação social. Mais do que dualidades, aliás, cada princípio é habitado por uma polaridade dinâmica, uma tensão entre dois elementos – tempo-espaço, unidade-conflito, realidade-ideia e todo-parte.

O presente estudo vale-se de conhecimentos ligados à reflexão filosófica sobre o tempo para aprofundar a compreensão dos quatro princípios, situando-os no contexto da “dimensão social da Evangelização”. Portanto, diversamente dos estudos que pude consultar sobre o tema, minha abordagem não se reduz a apresentar ou resumir a exposição de Francisco, tampouco a explicitar as influências e fontes que o marcaram. Em relação a este último tópico, as fontes inspiradoras do pensamento original de Francisco foram apresentadas, inicialmente, por Scannone, cuja pesquisa é integrada e ampliada por Borghesi, o qual, por sua vez, foi resumido por Prodi.1 1 Ver: SCANNONE, 2016; Borghesi, 2017 e Prodi, 2019. Destaco as duas fontes principais do Papa, no que concerne ao tema específico dos princípios ou polaridades, ou seja, o filósofo francês Gaston Fessard e o teólogo e filósofo alemão Romano Guardini. Mas também devem ser citados o polímata uruguaio Alberto Methol Ferré, a filósofa argentina Amelia Podetti, o filósofo e teólogo teuto-polonês Erich Przywara, o filósofo belga André Marc, o teólogo francês Henri De Lubac, o historiador francês Michel de Certeaux e o filósofo francês Maurice Blondel, este conhecido pelo jovem Bergoglio, indiretamente, nas exposições do Padre Miguel Ángel Fiorito, reconhecido como mestre no caminho do diálogo e do discernimento pelo agora Papa Francisco. Note-se o caráter contemporâneo dos autores e autoras com que Bergoglio dialogou em seus anos de juventude e maturidade intelectual. Todos os citados são autores cujo pensamento representa esforço admirável do diálogo da fé com o mundo moderno, e vice-versa. Todos estavam atentos às questões dos homens e mulheres que vivem os dramas cotidianos de nossas sociedades urbanizadas. Essa observação histórico-crítica destaca-se sobremaneira se recordarmos que a formação acadêmica do Papa Francisco ocorreu após o Segundo Concílio do Vaticano, momento em que a Igreja decidiu, finalmente, explicar-se e abrir-se ao diálogo com a modernidade, seguindo precursores como Blondel e Guardini. Bergoglio não hesitou em enfrentar esse desafio.

A formulação polar dada aos princípios – tempo-espaço, unidade-conflito, realidade-ideia, todo-parte – decorre da compreensão da estrutura do real, recolhida por Bergoglio em seu projeto de doutorado, quando conheceu a obra A Polaridade: ensaio de uma filosofia do vivente concreto, de Romano Guardini. Vale notar, no entanto, que a formulação definitiva, como se encontra na Evangelii Gaudium, é anterior à eleição papal do Cardeal Bergoglio, como se vê em seu discurso Hacia Un Bicentenario, de 2010. Portanto, estamos diante de um pensamento que foi gestado e testado por décadas de estudos, diálogos e prática pastoral. O estudo das fontes ajuda, pois, o estudioso do magistério de FranciscoFRANCISCO, Papa. Amoris Laetitia: exhortación apostólica postsinodal sobre el amor en la família. Madrid: Ediciones Palabra, 2016. a aproximar-se do horizonte hermenêutico do Bispo de Roma e a compreender o desafio que ele lança à Igreja atual, mas corre o risco de ocultar a originalidade de seu pensamento, que consiste em dinamizar a compreensão da ação evangelizadora da Igreja, colocando-a “a caminho”.

Por isso, desejo dar um passo além ao interpretar filosófica e teologicamente o pensamento do Papa, mostrando como os princípios condizem com a estrutura mesma de processos em curso nas sociedades e na Igreja, como se conectam constantemente com as Escrituras, além de esclarecer o alcance surpreendente e revolucionário do que se propõe nos números 217 a 258 da Alegria do Evangelho. Esta tarefa deveria iniciar-se por uma discussão a respeito de outras interpretações dadas ao tema, mas o fato é que elas, praticamente, não existem. Os autores consultados por mim, até o momento, valorizam os princípios, apresentam-nos com fidelidade ao texto do Papa, aplicam-nos a várias circunstâncias, mas não os esclarecem ou interpretam2 2 Na bibliografia, os leitores encontrarão as fontes consultadas. . Isso conduz a aplicações mais ou menos corretas, aliás. Outros, acusam Francisco de afastar-se da tradição e da inspiração das Escrituras, neste ponto específico que nos ocupa, de não ser suficientemente teólogo, mas, novamente, sem explicar o que os escandaliza. Parecem preocupados com a modernidade e a abertura da linguagem que reveste o magistério do atual Papa e não percebem a profundidade sapiencial de seu ensinamento3 3 Um resumo e exemplo encontra-se em MEIATTINI, 2016. . Mesmo Juan Carlos Scannone, o mais completo e capacitado intérprete de Francisco, ao tratar da primeira polaridade (tempo-espaço), declara que: “à primeira vista não parece claro o que pretende Francisco quando afirma a prioridade do primeiro sobre o segundo”, ou seja, do tempo sobre o espaço (SCANNONE, 2017SCANNONE, J. C. Il Vangelo Della Misericordia nello spirito di discernimento: l’etica sociale de papa Francesco. Vaticano: Librería Editrice Vaticana, 2017., p. 177). E na sequência de seu texto não esclarece o que “à primeira vista” obnubila o intérprete, mas apenas apresenta o princípio em questão, como o fazem os demais autores.

Uma resposta inicial aos críticos que consideram Francisco pouco inspirado nos ares da Escritura e da tradição sapiencial pode ser encontrada no contexto em que nasce o texto da Evangelii Gaudium. Entre os dias 07 e 28 de outubro de 2012, reuniu-se a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Ora, ao repercutir as conclusões daquela assembleia e redigir A Alegria do Evangelho, Francisco dá-lhe o subtítulo “sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual”. Esta simples mudança constitui considerável deslocamento de perspectiva. Não se trata somente de transmitir a fé, mas de anunciar o Evangelho e partilhar “alegria”, “um horizonte estupendo” e “um banquete apetecível”. Pois “a Igreja não cresce por proselitismos, mas por ‘atração’”, recorda o Papa nas primeiras páginas da Evangelii Gaudium, citando seu antecessor Bento XVI. O Evangelho, sem dúvida, será anunciado aos que se acercam da Igreja e desejam nela viver (catecúmenos), ou aos que dela se afastaram tendo um dia sido parte de seu corpo (batizados); ou no apoio dos que labutam para viver autenticamente a própria fé nas encruzilhadas da vida; mas, sobretudo, deve ser anunciado ao “mundo”. E se muitos não crerem, mas acolherem essa semente vigorosa, o Evangelho terá feito seu trabalho no coração dos povos. Ou, com outras palavras, o Verbo se encarna no âmago de um mundo hoje secularizado. E o Verbo se seculariza, indo até o final de seu movimento de entrega de si ou encarnação. A fé nascerá, por certo, como dom teologal, graça ou milagre, mas apenas à medida que for necessária para produzir novas sementes fecundas, novo e bom fermento transformador (MIRANDA, 2017MIRANDA, M. A reforma de Francisco: fundamentos teológicos. São Paulo: Paulinas, 2017., cap VII). Ora, isso nos leva a dois pressupostos importantes para entendermos bem o texto que logo analisaremos.

O primeiro é que a Igreja se encontra “no mundo”, aqui entendido como o espaço público ou a sociedade. Há, portanto, rejeição total da tese liberal e individualista que prescreveria o âmbito da “privacidade” ou do “coração” como único espaço disponível para a experiência religiosa na modernidade. O verbo prescrever, aqui utilizado, é fundamental. Com efeito, uma das formas de “secularização” no mundo contemporâneo é o caráter privado e individualista que a crença religiosa assume em diversas fatias da sociedade. Mas esta é uma questão de fato, não de direito. Ou seja, não há nenhuma razão, no âmago teórico da modernidade, que obrigue os crentes a se recolherem ao templo sagrado de suas consciências, para somente ali professarem a fé religiosa, seja ela compartilhada ou individualista. Ao contrário, os fatos mostram que as religiões se tornam cada vez mais públicas, nos contextos sociais democráticos da atualidade. A norma enunciada por FranciscoFRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti: carta encíclica do Santo Padre Francisco sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulinas, 2020. é clara, nesse sentido:

Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à intimidade secreta das pessoas, sem influência alguma na vida social e nacional, sem preocupar-nos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem opinar sobre os acontecimentos que afetam os cidadãos (...). Uma fé autêntica sempre implica profundo desejo de mudar o mundo, de transmitir valores, de deixar algo melhor em nossa passagem pela terra

(EG, n. 183).

A prescrição privatista, aliás, é em boa parte ideológica, pois deseja retirar do âmbito público qualquer instância crítica que leve a questionamentos de práticas contrárias aos valores multimilenares das tradições religiosas. Ora, é justamente na defesa desses valores que as Igrejas cristãs têm se destacado, crescentemente, nas últimas décadas. Basta pensar nos movimentos em defesa dos direitos humanos, dos povos indígenas, da democracia, do direito à vida, da justiça socioambiental etc4 4 A perspectiva aqui defendida encontra-se amplamente desenvolvida e documentada em CASANOVA, 1994 e 2019. . E isso nos leva ao segundo pressuposto, que completa e esclarece o que acabamos de dizer.

A Igreja Católica, num processo que já inteirou mais de um século, vem definindo-se, no que concerne à cultura pluralista hodierna, como um membro da sociedade civil, em colaboração com outros grupos e pessoas de boa vontade, na busca conjunta pelo bem comum e a justiça. O “mundo” em que ela se encontra não é mais a imaginada “cristandade”, mas o mundo dos Estados laicos, únicos capazes de assegurar a liberdade de culto, a pluralidade de valores e o valor da consciência pessoal, em qualquer contexto cultural. Portanto, não faz sentido, em nossos dias, sonhar com uma Igreja que seja religião de Estado, como no caso da Igreja Anglicana, ou com estados Teocráticos, como nos contextos islâmicos. Estas figuras, reais e com alguns exemplos respeitáveis, não são fontes de inspiração para a autocompreensão contemporânea dos católicos, cujo lugar público passou a ser a sociedade pluralista. E é nesse contexto que se deve anunciar o Evangelho.

Ora, como se vê pelo que acima afirmei, o recorte em que vou estudar a Exortação Apostólica é claro e bem definido. Meu estudo não se aplica, portanto, às culturas tradicionais e ancestrais, presentes, por exemplo, em nosso território, e que formam um outro conjunto de “mundos” onde também se pode e se deve anunciar o Evangelho. O “mundo” ao qual se dirige a exortação é limitado, embora sua força e sua influência transbordem fronteiras geográficas e invadam os outros mundos, de forma muitas vezes violenta e destrutiva. Anunciar o Evangelho no “mundo atual” converte-se, em consequência, em desafio e urgência de alcance universal.

Mas, uma vez esclarecidos esses pressupostos, em que os quatro princípios enunciados por Francisco podem ajudar? Colocados no contexto da “dimensão social da evangelização”, eles são fundamentais para um anúncio audível e compreensível aos cidadãos contemporâneos. E eles são ao mesmo tempo o guia da forma e do ritmo que esta evangelização precisa assumir, como nos diz A Alegria do Evangelho:

Há uma tensão bipolar entre a plenitude e o limite, (...) tensão entre a conjuntura do momento e a luz do tempo (...): o tempo é superior ao espaço. Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem obsessão por resultados imediatos. (...) assumir a tensão entre plenitude e limite, outorgando prioridade ao tempo. (...) Dar prioridade ao tempo é ocupar-se com iniciar processos, mais do que com possuir espaços. (...) O tempo rege os espaços, os ilumina e os transforma em elos de uma corrente em constante crescimento, sem caminhos de retorno

(EG, n. 222.223).

1 A dimensão social da evangelização

Definiu-se acima o que significa estar presente no “mundo atual”, para a Igreja Católica e, em geral, para os cristãos sintonizados com o processo cultural em curso na modernidade. Afirmou-se que a Evangelização constitui uma urgência e uma necessidade neste mundo. Mas evangelizar possui uma dimensão social? Sim, “o Kerygma tem conteúdo ineludivelmente social: no coração do Evangelho está a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem imediata repercussão moral cujo centro é a caridade” (EG, n. 177).

A dimensão social não é, pois, consequência da fé assumida individualmente, mas é dimensão do próprio ato de fé. Não se trata de uma “doutrina social” que seria deduzida como exigência segunda da fé, mas da estrutura do próprio Kerygma ou primeiro anúncio. Essa compreensão, aliás, convém ao título do documento, que fala da “alegria do Evangelho. O papa jesuíta recorda em seus títulos um dos temas centrais do discernimento, compilado de forma exemplar por Santo Inácio de LoyolaLOYOLA, I. Ejercicios Espirituales de San Ignacio de Loyola. Maliaño: Sal Terrae, 2017., em seus Exercícios Espirituais (EE). A “alegria” ou “consolação” é estado de plenitude ou “paz”, que acompanha o encontro e a relação com Deus e o próximo. Inácio ensina que alegria é relação; e tristeza, isolamento ou, para utilizar palavras de Francisco, “autorreferencialidade” e “amargura”. Ora, a alegria do Evangelho nada mais é do que o encontro com o Cristo e o sentido de vida e a força transformadora que brotam deste encontro. Estamos diante de evento único, com seus três momentos, nomeados na tradição como fé (encontro), esperança (sentido) e caridade (força). Fé em Deus e no próximo, esperança em Deus e no próximo, amor a Deus e ao próximo. Momentos inseparáveis da acolhida do Dom do Cristo, que é ele mesmo em nossas vidas (EE, n. 313-317). Não é verdade que Deus os criou homem e mulher, que se revelou a um povo e que redimiu a humanidade? O encontro com o Deus da revelação cristã não pode, pois, ser “individual”. No entanto, é profundamente “pessoal”, ou seja, ocorre com o ser humano integral, corpo, alma e espírito, vida de relações com o cosmos, o outro e Deus (VAZ, 2020VAZ, H. C. L. Antropologia Filosófica. São Paulo: Loyola, 2020., p. 353-443).

Mas há profunda ferida “no mundo atual”, ferida de muitos mundos ao longo da história humana e que, hoje, ganha forma especialmente dolorosa, como na exclusão de multidões do convívio social e na negação prática da dignidade humana. Desolação, solidão, abandono são realidades que desafiam o anúncio do Evangelho, como entendido acima. A caridade, o laço da amizade social e, sobretudo, o amor aos abandonados não são gestos pontuais da forma evangélica de vida, mas seu centro. Ora, caridade é comunhão, relação, valorização, responsabilidade, reciprocidade. Caridade implica doação, partilha, enfim, tornar-se pobre para enriquecer quem nada tem, com alimento, educação, oportunidade. O Cristo dos Evangelhos fala assim aos nossos corações: “Aprende a partilhar e, assim, entra em profunda relação comigo, presente no irmão”. O que ele nos pede não é “desapego interior”, mas efetiva doação do ser e do ter, real acolhida, profundos reconhecimento e consentimento ao outro (EE, n. 230-237). Não há outra forma de refazer a “dimensão social”, contexto inseparável da evangelização, a qual, por sua vez, fortalece e aprimora essa dimensão. Mas como?

Cada geração tem a missão de gerar “povo”, ou seja, “uma cultura do encontro numa pluriforme harmonia” (EG, n. 220). Eis como uma sociedade poderia unir-se e emergir no mundo para a ação, a partir de uma identidade tecida em longo processo histórico. Somente como “povo”, na semântica de Francisco, a sociedade alcança sentido, ou seja, significação e mesmo missão ou finalidade no seio da humanidade (SCANNONE, 2016SCANNONE, J. C. La filosofia blondeliana de la acción y la acción del Papa Francisco. Stromata. v. LXXI, n. 2, p. 211-226, jul./dez. 2016.). Por exemplo, o povo de Israel, no tempo dos profetas, compreendeu seu sentido e missão entre as nações: ser o servo sofredor, a própria encarnação da misericórdia divina (VOEGELIN, 2014VOEGELIN, E. Ordem e História I: Israel e a Revelação. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2014., p. 483-568). Tal missão é resultado de um processo e longa estrada. A dimensão social da Evangelização é esse processo e longa estrada. Para percorrê-la e realizá-lo, importa respeitar quatro princípios, que passamos a esclarecer abaixo: “o tempo é superior ao espaço”, “a unidade prevalece sobre o conflito”, “a realidade é mais importante que a ideia” e “o todo é superior às partes”. São princípios que brotam da doutrina social da Igreja, agora entendida como explicitação da dimensão social do Kerygma, sendo aptos a promover “a paz em cada nação e no mundo inteiro” (EG, n. 221). Eis o que está em jogo, quando refletimos, em companhia de Francisco, sobre a evangelização no mundo de hoje.

2 O tempo é superior ao espaço: a dimensão social em mudança

O primeiro princípio é o fundamento dos demais: a intuição do tempo. As questões ligadas ao tempo real e qualitativo, em oposição ao tempo abstrato e quantificável – irei explicar essa distinção em seguida – vinham sendo pesquisadas havia algumas décadas, quando Guardini, enfim, concebe A Polaridade: ensaio de uma filosofia do vivente concreto, um dos textos inspiradores do magistério de Francisco, quando trata da dimensão social da evangelização e dos quatro princípios. Na introdução à edição francesa de A Polaridade, Jean Greisch cita, como influências decisivas sobre a obra de Guardini, os filósofos Georg Simmel, Henri Bergson, Edmund Husserl e Martin Heidegger, nesta ordem (GUARDINI, 2010GUARDINI, R. La polarité: essai d’une philosophie du vivant concret. Paris: Cerf, 2010. (“La Nuit Surveillée”).). Curiosamente, Ser e Tempo de Heidegger foi publicado em 1927, dois anos após a publicação de A Polaridade. Trata-se de um lapso afetivo de Greisch? De qualquer forma, a presença de uma filosofia da vida, exposta em duração, é evidente na escritura de Guardini. Compare-se, por exemplo, a introdução de A Evolução Criadora, livro de Bergson publicado em 1907, com as primeiras páginas do capítulo II de A Polaridade. As convergências são impactantes. O pensamento de Francisco recolhe estas e outras fontes, mostrando que o Papa havia percorrido longa busca por compreensão e ação corretas, em seu ministério como padre jesuíta e bispo de Buenos Aires, antes de sua eleição como bispo de Roma. Eis o horizonte filosófico e teológico que deve ser levado em conta para interpretar e esclarecer o primeiro princípio, tal como se apresenta formulado por Francisco, o que passo a realizar.

A pergunta fundamental é: como compreender o tempo da vida? Em nossa linguagem cotidiana, falamos do tempo referindo-nos às horas do relógio, que são marcadas espacialmente e contadas numericamente, assim como os dias, os meses e anos. Este é o tempo abstrato e quantificável, repetitivo e sem registros qualitativos. Nele, uma hora é igual à outra, apenas uma quantidade de minutos – sessenta – que se repete e se soma até compor, por exemplo, um dia de 24 horas. Ao contrário, o tempo vivido é contínuo e indivisível, passa e não pode ser repetido. Nele, uma hora difere da outra, dura de modo distinto. Uma hora de alegria, por exemplo, não tem a mesma duração psicológica que uma hora de dor. Esse tempo qualitativo se acumula na memória e gera novidades surpreendentes enquanto passa. Não é apenas o tempo psicológico de uma consciência individual, mas a dimensão qualitativa e temporal de todas as realidades, que duram, cada qual, segundo um ritmo próprio. A passagem do tempo entrelaça uma multiplicidade qualitativa de estados e processos numa unidade, como no caso da existência pessoal, ou na história de um povo. Para uma pessoa, existir é passar e realizar-se, enriquecer-se ou empobrecer-se enquanto passa, sem jamais poder permanecer sempre a mesma, no que concerne a ações e conhecimentos, sentimentos e visões do mundo, embora sendo a mesma pessoa, em seu mistério inatingível. Existir é realizar-se, desdobrar o enigma que se é e tecer, assim, uma identidade refletida, que pode ser narrada e que os filósofos chamam de ipseidade (BRUAIRE, 2010BRUAIRE, C. O ser e o espírito. São Paulo: Loyola, 2010., p. 51-82). E devemos dizer o mesmo, embora de modo análogo, dos processos históricos das sociedades que, ao tecer a própria identidade, vivem o tempo e tornam-se “povo” ou nação. Épocas qualitativamente diferentes se acumulam na história dos povos. Tempos de crise e de bonança, de guerras e de paz, de encontros e conflitos formam a identidade de cada nação.

É verdade que visões estáticas e territorialistas da sociedade ameaçam os processos, pois encaram toda multiplicidade ou “diferença” como sinônimo de oposições e fragmentações. Os defensores da “unidade sem diversidade” equivocam-se, quando não consideram o fundo temporal da realidade vivente. E ao querer defender uma unidade estática, acabam reduzindo tudo ao cálculo e à previsibilidade, ao domínio e à manipulação, à produção e ao consumo. Parece-lhes que o tempo criativo e imprevisível da história social instauraria o caos, negando a necessária ordem. Mas na realidade, tudo o que conseguem é criar polaridades inconciliáveis e conflitantes no meio social, pois a unidade imóvel é sempre uma limitação que cria oposições de unidades. Ao contrário, o olhar temporal e o sentimento dinâmico da vida em sociedade consideram que há movimento, entrelaçamento e integração das diferenças, sem a necessidade violenta de reduzi-las a uma uniformidade. Por isso, sociedades que aceitam o “tempo” como realidade superior à limitação do “espaço” são chamadas de sociedades abertas5 5 Conceito cunhado por Henri Bergson, em seu clássico estudo de filosofia social, As Duas Fontes da Moral e da religião, em particular no capítulo IV, com a distinção entre sociedade aberta e sociedade fechada. Essa distinção fundamental, integrou-se ao vocabulário filosófico e teológico corrente e é largamente utilizada por Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti, nos capítulos I e III – “As sombras de um mundo fechado” e “Pensar e gerar um mundo aberto”. .

Se compreendemos o que está afirmado acima, torna-se clara a denúncia do Papa Francisco de que o “pecado da atividade sociopolítica” consiste em “privilegiar os espaços de poder em lugar dos tempos dos processos” (EG, n. 223). As consequências são deletérias: “Dar prioridade ao espaço leva ao enlouquecimento de ter tudo resolvido no presente, a tentar possuir todos os espaços de poder e autoafirmação” (EG, n. 223). Francisco denuncia essa loucura também presente no seio da Igreja em forma de “mundanidade espiritual”. Walter Kasper resume o problema de forma transparente, sobretudo no que concerne ao clero, “que confia nas posses, influência, privilégios, organização, planificação, segurança doutrinal ou disciplinar, consciência autoritária de elite ou estilo de vida socialmente esplendoroso” (KASPER, 2015KASPER, W. El papa Francisco Revolución de la ternura y el amor: raíces teológicas y perspectivas pastorales. Sal Terrae, 2015., p. 105). Ao contrário, “priorizar o tempo é ocupar-se com iniciar processos mais do que possuir espaços” (223). Aqueles que costumam citar essa última frase da Alegria do Evangelho em discursos políticos, institucionais ou homilias compreendem seu alcance e força transformadora, social e, inclusive, eclesial? Uma Igreja que se autoafirmasse sociedade perfeita, inquestionável, territorialmente organizada em espaços de comando, rigidamente hierarquizada, da cabeça aos pés, dos bispos às paróquias, não seria uma Igreja desejosa de autoafirmação e poder? Se há algo ou muito disso, nos vários “mundos” eclesiais, o magistério e o esforço sinodal de Francisco convertem-se em bom combate para colocar a Igreja a caminho, como povo de Deus peregrino.

Essa visão temporal e dinâmica não implica a negação e anulação do espaço, como seria o caso numa lógica da simples contradição. O que se quer indicar pela prevalência do tempo, na tensão entre os polos tempo-espaço, é que a necessária organização espacial da vida humana – o território, a cidade, as instituições fixas, as leis, os bens quantificáveis etc – não deve ser o critério último do bem comum e da paz em sociedade. Vivemos no espaço, mas quando orientamos nossas ações pela expansão ou conquista de maior território, riqueza, privilégios legais etc, fatalmente fechamos o coração ao outro, interrompemos as vias do diálogo, na mudez e fixidez das coisas. Ora, a vida é movimento e duração. A morte, parada e fim. Os polos interrompidos pela intervenção da contradição na realidade, normalmente implicam na exclusão e dominação ou mesmo na remoção e eliminação do outro. A organização do espaço para a vida e a convivência exigem o tempo, entendido aqui como duração e unidade de uma multiplicidade qualitativa e processual. Assim, a ideia dos polos em tensão, que se unificam num patamar superior, fornece o modo de pensar e agir que transpõe os limites da lógica meramente conceitual para propor uma autêntica lógica do real concreto e vital, como havia proposto, aliás, o filósofo Maurice Blondel em seu texto Princípio elementar de uma lógica da vida moral (BLONDEL, 1997BLONDEL, M. Principe élémentaire d’une logique de la vie morale (1900). In: BLONDEL, M. Oeuvres complètes II: 1888-1913. La philosophie de l’action et la crise moderniste. Paris: PUF, 1997. p. 365-385., p. 365-385).

Viver temporalmente não é adiar soluções, tampouco prevê-las e controlá-las em planejamentos estratégicos perfeitos, com prazos calculáveis. A temporalidade do princípio em questão não é a das horas, meses ou anos. Viver temporalmente é inaugurar soluções e delas participar, em duração, ganhando nova percepção da realidade como dinamismo, criação e mudança. Compreender que nossas ações se inserem em processos, que estes são formados por múltiplas forças em interação, que as interações de forças se modificam reciprocamente, para gerar novidades luminosas. Essa visão da realidade permite a proliferação das diferenças e dos múltiplos atores, uma vez que não pretende reduzir a multiplicidade a uma unidade de posição imóvel, mas integrar a riqueza do múltiplo em outra unidade: a do processo. Assim, sem pretender a uma transformação total e repentina das pessoas e das sociedades, a prioridade do tempo abre caminhos históricos e consistentes, rumo à plenitude ou realização de povos maduros e singulares, com novas possibilidades políticas, econômicas, laborais, culturais ou festivas. Esta visão não é utópica. Ela se verifica na atualidade, em que processos inauditos encontram-se em curso e nos convidam a entrar em suas correntezas. Cito alguns mais importantes, a título de exemplos.

É o caso das democracias, que são processos de governo e de tomadas de decisão, apesar dos riscos autoritários que sempre as espreitam. Se verificarmos com calma a história dos povos, veremos que o ideal ainda não realizado da democracia universalista é recente. A dos gregos, por exemplo, era, na realidade, uma democracia aristocrática e excludente, pois admitia a escravidão. A novidade democrática é um dos processos em curso no mundo de hoje. Pensar e viver em duração, segundo a prioridade do tempo, significaria mergulhar neste processo de construção democrática e dele participar ativamente. Mas há outros caminhos recentemente abertos e ainda mais amplos. Pensemos um instante a respeito da defesa da dignidade humana. Trata-se de um processo de convivência, um modo de existir em comum com outros, tão diversos em tudo, mas iguais em dignidade e direitos. Eis outra invenção recente da humanidade, profundamente enraizada no Evangelho, que se impõe como dever e combate diante de tantos inimigos que tudo transformam em espaço de dominação. Este desafio convoca todas as forças políticas, pois “ainda estamos longe de uma globalização dos direitos humanos mais essenciais. Por isso, a política mundial não pode deixar de colocar entre seus objetivos principais e irrenunciáveis o de eliminar efetivamente a fome (...) e o tráfico de pessoas” (FT, n. 189). E há mais. Considere-se ainda que o processo de integração socioambiental, como consciência ecológica planetária, encontra-se em curso. Contra imediatismos e ganâncias, levantam-se a afirmação de que “tudo está conectado” e a busca de convivência harmônica, de autêntico enraizamento nos ritmos da querida Terra, como argumenta Francisco em sua carta encíclica Laudato Si’ (LS).

O drama de uma política focalizada nos resultados imediatos, apoiada (...) por populações consumistas, torna necessário produzir crescimento a curto prazo (...). Esquece-se, assim, que ‘o tempo é superior ao espaço’ e que sempre somos mais fecundos quando temos maior preocupação por gerar processos do que por dominar espaços de poder. A grandeza política mostra-se quando (...) se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo

(LS, n. 178).

Neste caminho, no caso do “nosso mundo”, a ciência tem um papel importantíssimo. Ela mesma é um novo processo de conhecimento, que surgiu de altos ideais de serviço à vida e libertação humana do jugo natural. Ora, ao ampliar enormemente as forças e os campos de domínio da humanidade, a ciência e a técnica se colocam hoje como desafio à liberdade e à razão, pois o poder e o conhecimento científicos não captam, por limitação metodológica, o sentido da existência humana em sociedade. No máximo e no melhor dos casos, a tecnociência pode descrever o sentido, que vem de outras fontes, e interpretar sua função. Nosso mundo encontra-se, portanto, graças ao crescimento do campo da ação humana pela mediação da ciência e da técnica, em pleno processo de crescimento da responsabilidade. Novos problemas que os antigos não conheciam, decorrentes desta amplificação do campo da ação, desafiam-nos cotidianamente, como é o caso do uso das redes de comunicação virtual (PIMENTEL, 2015PIMENTEL, A. M. Racionalidades, Culturas e Globalização: a ação criativa e rearticulação dinâmica das culturas. Síntese, Belo Horizonte, v. 42, n. 133, p. 181-210, 2015.). Que sentido humano daremos, que resposta amadurecida formularemos a esta e outras mediações que nossos processos modernos de ação e de conhecimento nos apresentam?

Para responder a esta questão, Francisco nos convida a entrar nos caminhos em que o tempo é superior ao espaço, guiados pelo discernimento pastoral. Passos importantes, no que concerne ao magistério papal, foram dados nos anos subsequentes à edição da Alegria do Evangelho. O princípio da superioridade do tempo ilumina afirmações capitais da exortação apostólica Amoris laetitia (AL), quando Francisco comenta e aplica o “princípio de gradualidade” aos atos de liberdade, em situações conjugais que não representam o ideal objetivo da lei eclesial, mas que podem ser reconhecidas, com grande segurança, como a melhor resposta que os peregrinos do amor devem dar nesse momento de suas vidas e, em consequência, no seu caminho atual de santificação (AL, n. 301-306). Francisco reflete, portanto, sobre A alegria do amor, “recordando que o tempo é superior ao espaço”, para “reafirmar que nem todas as discussões doutrinais, morais e pastorais devem ser resolvidas com intervenções magisteriais” (AL, n. 3). Da mesma forma, na carta encíclica Fratelli Tutti, fazendo uso do vocabulário do “processo”, o Papa abre-nos ao fluxo criativo do tempo, pois “a cada dia nos é oferecida uma nova oportunidade, uma nova etapa” para “iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas” (FT, n. 77)6 6 Na Fratelli Tutti, Francisco adota de forma consistente a linguagem processual, para verter o primeiro princípio no campo da fraternidade e da amizade social. Ver: n. 51, 77, 151, 158, 143, 179, 180, 184, 196, 217, 225, 226, 266, 280, com destaque para o n. 231. .

3 A unidade, a realidade e o todo

A análise do primeiro princípio, sua fundamentação e aplicação já seriam suficientes para compreendermos a perspectiva adotada por Francisco, em que a dimensão social da evangelização no mundo atual pode e deve contribuir para a transformação das sociedades e a geração de “povos”, com identidade e atuação na história da humanidade. No entanto, os outros três princípios, apoiados neste primeiro, explicitam aspectos que o aclaram e o tornam mais preciso, como critério teológico-prático da ação da Igreja. Note-se que leituras abstratas dos princípios, adotando-os como parâmetros do método teológico, sem maiores explicações e aplicações, correm o risco de esvaziá-los (PASSOS, 2018PASSOS, J. Teologia de Francisco: método teológico. São Paulo: Paulinas, 2018., p. 56-59)7 7 Texto que se deve contrastar com a utilização correta, no meu entender, feita por PRODI (2019). . Ainda nesse sentido, a exposição completa e articulada, fazendo do tempo o fio condutor dos quatro princípios, parece-me fornecer uma interpretação mais segura e fecunda. Em seu discurso de 2010, Hacia Un Bicentenario, o então cardeal BergoglioBERGOGLIO, J. M. Hacia un Bicentenario en Justicia y Solidaridad 2010-2016: nosotros como ciudadanos, nosotros como pueblo. Discurso de 2010. Disponível em: https://pastoralsocialbue.org.ar/wp-content/uploads/2014/11/Nosotros-como-Ciudadanos-Nosotros-como-Pueblo.pdf. Acesso em: 09 mar. 2022.
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ordena os princípios em 3 conjuntos: a) Tensão entre plenitude e limite, que engloba o primeiro e segundo princípios (tempo X espaço e unidade X conflito); b) Tensão entre ideia e realidade, que corresponde ao terceiro princípio (realidade X ideia) e c) Tensão entre globalização e localização, que corresponde ao quarto princípio (todo X parte). Essa distribuição, no entanto, não anula minha intenção fundamental, que consiste em interpretar e articular os princípios a partir de sua dimensão processual e, portanto, temporal.

A unidade prevalece sobre o conflito? Que conflitos estão presentes na sociedade e que precisamos, com urgência, celebrar novos pactos para administrá-los, eis o que é patente. No entanto, uma visão social em que o conflito fosse descrito como o estado natural e originário das sociedades confundiria o realismo da constatação de conflitos estruturais, por um lado, com o fundamento da socialidade humana, por outro lado. Se os humanos podem celebrar pactos, há uma condição prévia inegável, ou seja, a socialidade humana é originária, somos seres sociais, desde o princípio ligados por laços que permitem resolver conflitos. Mas para entender isso é preciso retornar ao primeiro princípio e notar que a realidade é processo temporal, ou seja, a unidade em transformação de uma irredutível multiplicidade. Somente neste sentido, os grandes conflitos podem ser interpretados como oportunidade para, por assim dizer, rearranjar a unidade, na sociedade. Uma visão, tão comum na modernidade, de que o conflito é o dado irredutível inicial das relações humanas, leva, na prática, a considerar que a solução somente pode impor-se pela força, pelas políticas de hegemonia e dominação, pelas dialéticas entre senhor e escravo, pelas armas e pela guerra. Mas esta visão impede o surgimento do novo na vida social, pois fratura o povo e prega a polarização destrutiva, autoritária e, no pior dos casos, assassina. A unidade temporal da multiplicidade cede, pois, à tentação da unidade estática e uniforme da posição fixa e intolerante. Aliás, o coração humano é ainda mais vulnerável a essa imagem da guerra de todos contra todos. Pelos movimentos que ela inspira e dirige, a imagem da guerra despedaça qualquer futuro esperançoso, sobretudo para os jovens periféricos das sociedades, desprovidos desde a tenra idade das condições mínimas de florescimento. De fato, o crescimento no amor e na amizade, visto como caminho de discernimento e desabrochar da liberdade, constitui o principal desafio da vida relacional.

Os conflitos, desde que vividos no horizonte da empatia e da unidade, podem transformar-se em estradas abertas e em sentido de vida (FUMAGALI, 2019FUMAGALLI, A. Caminhar no amor: a teologia moral do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2019. v. 7. (A Teologia do Papa Francisco)., p. 57-74). O próprio Jesus enfrentou conflitos inesperados, em particular com sua mãe e parentes, mas percebeu neles a ocasião de propor ideais mais elevados, capazes de gerar a unidade (GALLI, 2018GALLI, C. M. Cristo, Maria, a Igreja e os povos: A mariologia do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2018. v. 5. (A Teologia do Papa Francisco)., p. 65). Ao contrário, o conflito irredutível conhece somente o instante em que é preciso vencer a qualquer custo. Quem nele sobrevive não tem projetos para a sociedade, pois deve reagir aos novos perigos que surgem a cada dia. Nega-se, em consequência, todo tipo de processo criativo. E a ação passa a guiar-se por estratégias de domínio territorial e expansão, de avanços e conquistas legais e financeiras. Somente quando a unidade temporal é assumida, “as tensões e os opostos podem alcançar uma unidade pluriforme que engendra vida nova” (EG, n. 228). Trata-se, sem dúvida, de uma unidade em tensão, única capaz de guardar todas as virtualidades em jogo, para que todas contribuam nos processos sociais em curso. Aplicações interessantes deste princípio, no sentido de uma unidade relacional e harmônica, encontram-se em Casula (2018, p. 64)CASULA, L. Rostos, gesto e lugares: a cristologia do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2018. v. 2. (A Teologia do Papa Francisco).; e, sobretudo, Coda (2019, p. 58-66)CODA, P. A Igreja é o Evangelho: nas fontes da teologia do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2019. v. 10. (A Teologia do Papa Francisco)., o qual situa o terceiro princípio como o primeiro passo de um conhecimento existencial de Deus, que transformaria o pensar teológico em “relacional e relacionante, eficaz e performativo” (p. 59). Igualmente, Rupinik (2019)RUPNIK, M. Segundo o Espírito: a teologia espiritual a caminho com a Igreja do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2019. v. 11. (A Teologia do Papa Francisco). descreve o caminho da vida espiritual no horizonte da estética e conclui “que o sentido da vida espiritual é tornarmo-nos belos” (p. 134), como aqueles que são imagem de Deus e o encontram em todas as coisas. Infelizmente, cabe ressaltar, a história de muitas sociedades (de todas?) encontra-se marcada por conflitos dolorosos que deixaram feridas e podem impedir a unidade. Faz-se necessário, em consequência, olhar além e ver esses fatos como dolorosos desvios, que podem ser sanados quando labutamos guiados pelo princípio da unidade.

É preciso, pois, deixar de lado ideias pré-concebidas e sondar a realidade em sua profundidade vital e espiritual, segundo o movimento da encarnação do Verbo e de nosso conhecimento relacional de Deus. Ver que a realidade, nesse sentido, é mais importante do que a ideia, como nos diz o terceiro princípio. Sim, a realidade se impõe e a ideia a reflete, “a realidade simplesmente é, a ideia se elabora” (EG, n. 231). A realidade nos circunda, nos envolve e, sobretudo, estamos nela, dela participamos numa comunidade de ser. O risco de pensar “descolados” da realidade conduz à geração de ideologias, formalismos, angelismos, imposições violentas que são autodestrutivas, por certo, mas que antes destroem e matam. Ora, o pensamento humano surge da realidade e deseja retornar a ela. É movimento que move, para iluminar, elevar, deslocar e criar vida. Participamos do todo, não como simples “partes”, mas como membros ativos, pensantes e livres, que somente no todo existem e vivem. O todo é superior à parte, diz o último princípio, como uma síntese do que se refletiu antes. “O todo é mais que a parte e também mais que a mera soma das partes (...). Não é nem a esfera global, que anula, nem a parcialidade isolada, que esteriliza” (EG, n. 235). O todo é interação, processo, história, sendo captado na originalidade de seu movimento, ritmo e singularidade. É nesse sentido que cada sociedade deve ser considerada um todo orgânico, vivo, belo, aberto e receptivo ao que vem. Ela é relação e pode ser imagem de Deus. A parte só pode permanecer parte fechando-se a qualquer mudança. O todo é a sociedade aberta, a parte, o movimento de fechamento e esterilidade, que, pensando ser o todo, ameaça a abertura.

Portanto, não se deve viver demasiadamente obcecado por questões limitadas e particulares. Deve-se sempre ampliar a mirada para reconhecer um bem maior que beneficiará a todos, mas é preciso fazê-lo sem evadir-se, sem desarraigar-se. É necessário afundar as raízes na terra fértil e na história do próprio lugar, que é um dom de Deus. Trabalha-se no pequeno, no próximo, mas com uma perspectiva mais ampla. Do mesmo modo, uma pessoa que conserva sua peculiaridade pessoal e não esconde sua identidade, quando integra cordialmente uma comunidade, não se anula, mas recebe sempre novos estímulos para seu próprio desenvolvimento

(EG, n. 235).

Entende-se que Francisco declare sua preferência pela imagem do “poliedro” em lugar da imagem da “esfera”, que ele claramente rejeita. A esfera é o símbolo clássico da perfeição, do último acabado e irretocável, do todo absoluto. Já o poliedro, sobretudo o irregular, não tem as propriedades homogêneas da esfera, em que, por exemplo, qualquer ponto da superfície se encontra à mesma distância do centro. Os lados diferentes e as diferentes medidas do poliedro simbolizam a irregularidade das pessoas e das situações reais. E essa sensibilidade de Pastor permite ao Papa integrar, tanto nos processos sociais, quanto na evangelização, as pessoas que erram, pois também elas “têm uma contribuição a dar, que não deve ser perdida” (EG, n. 236). Recorde-se, aliás, a constante denúncia que Francisco faz da presença de “pelagianos” e “gnósticos” no seio da Igreja, estes cuja soberba consiste em declarar como dignos apenas os membros de uma pretensa elite moral – pelagianos – ou intelectual – gnósticos (FRANCISCO, 2015FRANCISCO, Papa. Laudato Si’: carta encíclica do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas / Loyola, 2015.). Ora, ao contrário do que pensam as “elites”, é justamente uma imagem de Igreja não excludente a condição para se compreender em que sentido, muito específico, se pode e se deve falar da visada de totalidade inerente ao Evangelho. O caminho não corresponde à homogeneização de todos, mas à acolhida generosa, pois o Evangelho “não cessa de ser Boa Nova até que seja anunciado a todos, até que fecunde e sane todas as dimensões do homem, e integre a todos na mesa do Reino. O todo é superior à parte” (EG, n. 237). Trata-se, pois, de totalidade de dom, de universalidade de entrega de vida, acolhida e regeneração, que somente se realiza na história e, em consequência, no tempo intensivo da doação.

Conclusão

A perspectiva temporal abre a comunidade ao diálogo, como busca comum de reconhecimento e consentimento na sociedade. A duração dos processos, a atenção à realidade, a construção da unidade, o acolhimento de todos são dinâmicas que exigem profundo entendimento e, portanto, longos e constantes diálogos. Essa perspectiva inaugurada na Exortação Apostólica de 2013 encontrou desenvolvimento na Fratelli Tutti (n. 198-224), no capítulo em que Francisco trata do “Diálogo e da Amizade Social” como caminho cotidiano para o desabrochar de sociedades abertas. Ela mereceria um estudo à parte que pretendo realizar futuramente. Aqui, apenas ofereço uma chave interpretativa que permite compreender a natureza do processo dialogal. Em primeiro lugar, cabe notar que diálogos são abertos por essência. Dialogar não é, propriamente, debater ou confrontar argumentos, com a intenção retórica de mover uma assembleia ou interlocutor em determinada direção; e menos ainda com a intenção de vencer um adversário. Quem busca vencer ou convencer, fora dos jogos ou da publicidade, pressupõe conhecer a verdade, e, por vezes, chega a condenar seus interlocutores à prisão perpétua da caverna, capazes somente de captar sombras... No entanto, um olhar mais atento constata que vivemos todos no mundo, num campo sem trincheiras e sem pontos de vista privilegiados. Vivemos todos expostos, mesmo ao tentar nos ocultar. E somos seres expressivos, ainda que perdidos em alguma ilha solitária. Eis a nossa situação primordial. Se a dialética, que esclarece e conduz a argumentação, se a retórica, que convence e une em situações particulares, têm seu lugar na vida social, por causa da diferença de experiências e do tempo que torna alguns sábios e outros não, o diálogo não é por isso anulado. Ele se mostra em sua diferença, pois consiste na aposta, tantas vezes ganha na história, de que algo novo pode surgir quando há autêntico encontro e disposição recíproca de aprender e de descobrir em comum o que é bom, em sua força e beleza. No diálogo, o tempo como processo, a realidade viva, a unidade da multiplicidade e a totalidade como dom a todos oferecido guiam rumo à comunhão, à mútua compreensão, ao consentimento e à acolhida. Desconcertante acolhida, vivida em sua máxima intensidade na surpresa e revolução da bem-aventurança da misericórdia (KASPER, 2015KASPER, W. El papa Francisco Revolución de la ternura y el amor: raíces teológicas y perspectivas pastorales. Sal Terrae, 2015., cap. 4-5; SCANNONE, 2017SCANNONE, J. C. Il Vangelo Della Misericordia nello spirito di discernimento: l’etica sociale de papa Francesco. Vaticano: Librería Editrice Vaticana, 2017.). No diálogo, a abertura ao outro contagia e inspira. Tensões e conflitos podem ser assumidos e reunidos para gerar caminhos de mais vida. Ora, a boa notícia é que este ideal do diálogo não está longe de nós. Ele se realiza em muitos âmbitos que se devem enumerar (EG, n. 238-258).

Assim, por exemplo, no âmbito público, formado pela sociedade, o Estado e os poderes, os cristãos podem levar o Evangelho como sua contribuição própria na gestação de processos em que instituições e normas justas surgem para defender e promover a convivência, o trabalho e o florescimento do povo, em sua singularidade, mas também o florescimento dos cidadãos. No âmbito intraeclesial, a coragem de dialogar purifica o poder na Igreja e fortalece o povo de Deus em seu confronto com a vida de todos os dias. No âmbito ecumênico, o diálogo é testemunho, em processos que enriquecem a compreensão do mistério da fé compartilhado entre igrejas cristãs (TERRAZAS, 2019TERRAZAS, S. M. “A unidade prevalece sobre o conflito”: o ecumenismo do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2019. v. 6. (A Teologia do Papa Francisco).). No âmbito interreligioso, por fim, a valorização, a guarda e a promoção dos valores das diversas religiões testemunham a abertura humana comum a Deus, vivida como admiração diante da riqueza simbólica das mais diversas crenças. Em todos os âmbitos surgem, assim, possibilidades de colaboração entre os diferentes, pois todos e, em especial, os descartados do mundo, abrimos nosso destino na existência, tendo de lutar contra a sina que se nos impõe e que só pode ser humanamente enfrentada na comunhão fraterna.

O Papa Francisco não deixa de mencionar, constantemente, como os quatro princípios e o diálogo podem mudar a dinâmica da Igreja Católica, conduzindo-a a “assumir os processos possíveis e o caminho longo” (EG, n. 225), a viver na insegurança do tempo, na peregrinação e na saída, na abertura e no encontro. Caso isso ocorra, parece-nos que novidades nascerão no âmbito dos ministérios, na promoção da sinodalidade, nas formas de vida em comunidade e na inclusão agradecida e serena dos que erram (REPOLE, 2018REPOLE, R. O sonho de uma Igreja evangélica: a eclesiologia do Papa Francisco. Brasília: Edições CNBB, 2018. v. 4. (A Teologia do Papa Francisco).). Então, uma Igreja mais transparente ao mistério há de acontecer, transparente como “fonte” que rega, gratuitamente, as terras áridas de nossas sociedades em guerra com a água viva do Evangelho da Paz (VAZ, 1968VAZ, H. C. L. Igreja-reflexo vs. Igreja-fonte. Cadernos Brasileiros, n. 46, p. 17–22, abr. 1968.).

    Siglas
  • AL  Amoris Laetitia
  • EG  Evangelii Gaudium
  • FT  Fratelli Tutti
  • LS  Laudato Si’
  • 1
    Ver: SCANNONE, 2016SCANNONE, J. C. La teología del pueblo: raíces teológicas del papa Francisco. Madrid: Sal Terrae, 2016.; Borghesi, 2017BORGHESI, M. Jorge Mario Bergoglio: una biografia intellettuale. Milano: Jaca Book, 2017. e Prodi, 2019PRODI, M. Fonti, Metodo e Orizzonte di Papa Francesco a partire dai quatro principi. Applicazioni Pratiche per L’oggi. In: MANDREOLI, F. La Teologia di Papa Francesco: fonti, medodo, orizzonte e conseguenze. Bologna: Edizioni Dehoniane Bologna, 2019. p. 175-202..
  • 2
    Na bibliografia, os leitores encontrarão as fontes consultadas.
  • 3
    Um resumo e exemplo encontra-se em MEIATTINI, 2016MEIATTINI, G. Os quatro princípios do Papa Francisco: o debate continua (2016). Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/559644-os-quatro-principios-do-papa-francisco-o-debate-continua. Acesso em: 09 mar. 2022.
    https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/...
    .
  • 4
    A perspectiva aqui defendida encontra-se amplamente desenvolvida e documentada em CASANOVA, 1994CASANOVA, J. Public religions in the modern world. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1994. e 2019CASANOVA, J. Global religions and secular dynamics: the modern system of classification. Berkeley Center Religion, Peace and World Affairs. Georgetown: Georgetown University, 2019..
  • 5
    Conceito cunhado por Henri BergsonBERGSON, H. Les deux sources de la morale et de la religion. Paris: PUF, 2008. (Quadrige)., em seu clássico estudo de filosofia social, As Duas Fontes da Moral e da religião, em particular no capítulo IV, com a distinção entre sociedade aberta e sociedade fechada. Essa distinção fundamental, integrou-se ao vocabulário filosófico e teológico corrente e é largamente utilizada por Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti, nos capítulos I e III – “As sombras de um mundo fechado” e “Pensar e gerar um mundo aberto”.
  • 6
    Na Fratelli Tutti, Francisco adota de forma consistente a linguagem processual, para verter o primeiro princípio no campo da fraternidade e da amizade social. Ver: n. 51, 77, 151, 158, 143, 179, 180, 184, 196, 217, 225, 226, 266, 280, com destaque para o n. 231.
  • 7
    Texto que se deve contrastar com a utilização correta, no meu entender, feita por PRODI (2019)PRODI, M. Fonti, Metodo e Orizzonte di Papa Francesco a partire dai quatro principi. Applicazioni Pratiche per L’oggi. In: MANDREOLI, F. La Teologia di Papa Francesco: fonti, medodo, orizzonte e conseguenze. Bologna: Edizioni Dehoniane Bologna, 2019. p. 175-202..

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    10 Mar 2022
  • Aceito
    15 Set 2022
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